Pesquisar este blog

sábado, 15 de junho de 2013

Salário pastoral, mais uma reflexão



Uma das imagens que vi pelo facebook veio acompanhada de indagações provocantes. A Imagem traz uma dura crítica aos pregadores da atualidade e faz uma série de indagações a respeito dos cachês e do comportamento dos mesmos. Aqui se faz necessário considerar que diante dos abusos cometidos por alguns  pregadores, não faltam os que levantam a sua respectiva voz em protesto contra o modo de vida dos mesmos, mas pecam no que tange ao discernimento. Não faltam os que de imediato apelam ao exemplo de Paulo, que de acordo com um único relato de Lucas a respeito de sua estada inicial em Corinto, para defenderem que o salário pastoral é contraditório com a vida cristã, ou com o ministério cristão. Neste breve posto pretendo apresentar alguns argumentos bíblicos pró salário pastoral. Lembrando que não sou obreiro integrado na obra, e não cobro para pregar, logo, não tenho o mínimo interesse no salário pastoral, mas na verdade bíblica.
O primeiro argumento apresentado pelos que são a favor do voluntariado é que Jesus disse: "dai de graça, o que de graça recebeste". O problema é que neste mesmo contexto, o Mestre afirmou: Não levem nem ouro, nem prata, nem cobre em seus cintos; não levem nenhum saco de viagem, nem túnica extra, nem sandálias, nem bordão; pois o trabalhador é digno do seu sustento. "Na cidade ou povoado em que entrarem, procurem alguém digno de recebê-los, e fiquem em sua casa até partirem  (Mt 10. 9 - 11).  Para bom entendedor, ou bom intérprete de texto bíblico, Jesus está falando do salário do obreiro, cuja palavra aqui é τροφης, que pode igualmente ser traduzida por sustento, e em alguns textos traduz-se por mantimento. 
Alguns obreiros que são claramente contrários aos salário pastoral, apelam para o texto de Paulo, no qual ele fala de sua vida e exemplo como trabalhador da causa do Evangelho. Estes esquecem de notar que Paulo faz umas perguntas interessantes, tais como: Quem serve como soldado às suas próprias custas? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não bebe do seu leite? (I Co 9. 7 NVI). A finalidade do apóstolo dos gentios neste texto consiste em mostrar que o obreiro, à semelhança dos trabalhadores que ele toma como exemplo são dignos de serem sustentados pela obra. Mas não para aí, ele apela ao exemplo da lei que determinava não atar à boca ao boi que debulhava, a fim de que o mesmo pudesse se alimentar, deixando aqui um claro princípio de que quem emprega a sua força de trabalho, seja ela de cunho intelectual, seja física, tem o direito de participar dos resultados positivos. Aqui também entendemos que Paulo não era de todo contrário ao salário pastoral, mas que por convicções pessoais específicas, ele abriu mão do seu. 
Um último texto a ser analisado aqui é este: Os presbíteros que desempenham bem o encargo de presidir sejam honrados com dupla remuneração, principalmente os que trabalham na pregação e no ensino (I Tm 5. 17). Alguns exegetas têm proposto honra ao invés de remuneração, visto que a palavra grega διπλης τιμης (duples tumés), pode ser interpretada, ou traduzida como dupla honra, ou como duplicados honorários. Aqui cabe a aplicação de uma regra básica de Hermenêutica, quando uma mesma palavra têm mais de um sentido, o significado da mesma será definido pelo contexto, e contexto desta mesma passagem aponta para  o texto da lei que Paulo empregou para abordar o mesmo assunto na carta aos Coríntios. Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário (I Tm 5. 18), indicando com isto que Paulo está falando claramente de salário. 
Agora se avançarmos mais dentro do contexto da carta pastoral (I Tm), observaremos que o que Paulo acintosamente condena é o entendimento de que a piedade seja fonte de lucro e de enriquecimento (I Tm 6. 3 - 11). É este tipo de postura que produz pregadores e mais pregadores que não mais pregam o Evangelho, quiça Cristo! Mas somente a si mesmos na medida em que anunciam seus feitos, suas agendas (tudo para mostrarem o quanto são importantes) e sempre alguma doutrina exótica.
Minha conclusão se alinha com a do apóstolo Paulo. Não há nada errado em viver do Evangelho, em um pastor que se afadiga na Palavra e no ensino, receber um salário digno da função que ele exerce, o problema começa quando o suposto pastor, ou pregador começa a ver no Evangelho uma facilidade, um modo de viver a vida regaladamente, quando de acordo com o estudo que fizemos, o compromisso do Senhor conosco é com o nosso sustento. Nas palavras de Paulo, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro. A palavra para contentamento aqui é αυταρκειας ([autarkeias], de onde vem a palavra autarquia), cujo sentido é o de um viver cuja felicidade não se guia por situações, sejam favoráveis, sejam adversas. 
Tal como ocorre com todo mundo, o ministro do Evangelho vai viver uma vida sujeita a possibilidade de momentos de fartura alternados com momentos escassez, de abatimentos, com euforia, mas não importa, tudo podemos naquele que nos fortalece, Cristo Jesus, naquele que disse: no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo. A Bíblia diz que Cristo há de suprir as nossas necessidades, por Cristo Jesus, em glória. O texto diz: necessidades, não vaidades!

Em Cristo Jesus, naquele que nos supre em tudo, Marcelo Medeiros. 

2 comentários:

  1. Pastor Marcelo não sou contra um pastor ou pregador receber salário. O que sou contra é você vender a Palavra, ou seja, só explicar a bíblia se pagarem. Deus nos permite entender a bíblia com a finalidade de auxiliarmos uns aos outros, visto que a igreja é um corpo. Há pastores que só apacentam se a pessoa pagar ou for um membro com uma boa situação fiananceira.
    Acho que quem se dedica a obra e entendeu o que é ter um ministério deve receber um auxílio financeiro. Em muitos casos, a pessoa deixa de trabalhar para fazer a obra, sendo que se estivesse trabalhando, ganharia muito mais. Então por isso sou a favor do auxílio financeiro para pregadores e pastores.
    http://juremasouzamartins.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jurema,excelente comentário o seu, e, grato pela sua participação, lembrando que a mesma sempre é bem vinda. em tempo venho afirmar que creio que foi exatamente isto que expressei no texto acima. De fato um obreiro que se esmera na palavra deve sim ser ajudado em seu sustento, afinal, em nossa sociedade conhecimento custa caro, não é de graça. Mas, esta ajuda em momento algum pode ser confundida com fonte de lucro (I Tm 6. 5 - 10). Fortes e fraternos abraços em Cristo.

      Excluir

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.