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domingo, 29 de março de 2015

Jesus, o homem perfeito (o Evangelho de Lucas, o médico amado)



Estou de posse da nova revista da Escola Bíblica dominical editada pela Casas Publicadoras  das Assembleias de Deus. O tema é o mais maravilhoso possível, Jesus de Nazaré, o homem perfeito. O livro escolhido para tal abordagem é o de Lucas. Curiosamente, o tema surge em um momento que tenho por ímpar. Falo porque estou me dedicando à Cristologia, e para tal consultando algumas fontes sérias na área, passando por Stott e Boff, por exemplo, tendo como referencial, é claro, a teologia reformada. 

Os temas a serem tratados neste trimestre serão:


  1. O Evangelho segundo Lucas
  2. O Nascimento de Jesus
  3. A infância de Jesus
  4. A tentação de Jesus
  5. Jesus Escolhe os seus discípulos
  6. Mulheres que ajudam a Jesus
  7. Poder sobre as doenças e morte
  8. O poder de Jesus sobre a natureza e os demônios
  9. As limitações dos discípulos
  10. Jesus e o dinheiro
  11. A última ceia
  12. A morte de Jesus
  13. A ressurreição de Jesus


Que Deus abençoe cada aluno de Escola Bíblica Dominical dentro e fora do país, a fim de que cada um seja um cristão plenamente bem instruído na fé da qual é formado, e habilitado para falar com temor e tremor, defendendo a esperança e a fé do Evangelho. Em Cristo, 

Marcelo Medeiros. 

quinta-feira, 26 de março de 2015

Nova Polêmica em relação aos Gladiadores do Altar





A polêmica em relação ao grupo Gaudiadores do altar segue firme nas redes sociais, criando frenesi e falsas dicotomias. Primeiro, por conta de um trabalho de um cartunista que representou o grupo por meio de uma charge onde um membro deste aparece com um escudo e cravando uma espada em uma frequentadora de culto afro [leia aqui]. 

Já expressei neste espaço o meu ceticismo com relação a este modo de interpretar esta milícia. O extermínio em massa de umbandistas e candomblecistas acabariam com o público em potencial desta denominação os ex fraquentadores, e retiraria parte da identidade da mesma, que foi forjada a partir de uma antítese a estas religiões [aqui]. 

Gostaria de ressaltar que, o clima de mistério em torno do propósito deste grupo tem dado margem a especulações mais diversas que vão desde uma tentativa de criação de um estado paralelo antidemocrático, à formação de uma milícia eclesiástica (diga-se de passagem que não concordo com nenhuma das duas opiniões, mas discordo igualmente do caráter secreto, oculto deste grupo). 

Um segundo ponto é que tenho visto com frequência cartazes de pedidos de volta da ditadura. O que isto tem a ver com o tema proposto no presente post? Simples, ao que parece uma parcela significativa da população ainda nutre profunda admiração por militarismo, e o incorpora às praticas eclesiais. Daí minha crença de que se trata de uma forma de atrair um público há muito afastado desta, o jovem. 

As promessas de Igreja Universal não coadunam com pessoas de perfil de mais de quarenta anos. É uma fase em que cada vez menos as pessoas acreditem que suas vidas, seus problemas e dilemas serão resolvidos como que por um passe de mágica. Se tem dúvida veja as pessoas que aparecem nos comerciais dizendo eu sou a universal

Seja como for cresce entre os laicistas a ideia, em parte falaciosa, de que o avanço deste tipo de cristianismo pode vir a resultar nas destruição da laicidade estatal, bem como na criação de uma teocracia nos moldes islâmicos, que por sua vez redundaria em mortes de homossexuais, umbandistas, candomblecistas e ateus [leia aqui]. 

Partindo do princípio de que habito em mundo no qual as pessoas são capazes de praticar tanto ações boas como idiotices, visualizo más intenções de ambos os lados. Nesta Babilônia ideológica, cristãos autênticos precisam expor com clareza que não estão neste mundo para impor sua religiosidade goela abaixo de ninguém, que são capazes de afirmar a verdade e coexistir pacificamente com quem não acredita em nada do que estes afirmam. 

Este é o único caminho que entendo como parte do Evangelho de Cristo, uma vez que neste se lê que são bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus (Mt 5. 9). Em outras palavras ser da paz não significa sacrificar as próprias ideias. Todavia o revanchismo presente tem de ser superado, e a busca sincera pela paz é o caminho. Isto demanda paciência e acima de tudo responder ao mundo de forma diferente da atual. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros

O Boicote à Babilônia



Ao que parece o boicote à nova novela das nove, Babilônia já surtiu seus efeitos nas redes sociais, primeiro foi o deputado com nome de carro, depois uma representante do partido comunista do Brasil. O que eu acho disto? Simples, para mim o recado do mundo já está dado, mas a Igreja tem de dar o seu. Vou me explicar melhor nas linhas abaixo. 

Não creio em movimento algum da Igreja que possa frear o ideologismo das novelas da Globo, e não é na pressão, ou coerção que os cristãos devem influenciar a sociedade ao seu redor. Os atuais autores fazem aquilo que sua natureza pede que eles façam e qualquer ação coercitiva exterior constitui uma violência àquilo que eles entendem como sendo a sua essência. O resultado de tal ação estapafúrdia será maior ódio deles em relação ao cristianismo e à religião em geral. 

É mais do que previsto na Bíblia que cristãos seriam odiados pelo mundo e que nem por este motivo deveriam se maravilhar (espantar). Todavia, que o sejam pelo motivo correto. Nos Evangelhos há uma bem-aventurança para os que são perseguidos pela causa da justiça, ou seja, para aquele que são hostilizados pelo mundo em razão de serem como Cristo o foi. 

(É provável que você leitor não crente esteja dizendo para si mesmos, que se os crentes fossem como Cristo jamais seriam perseguidos. Balela! Na sociedade atual todo indivíduo, com personalidade própria é aborrecido, e por uma razão simples, as pessoas tendem a odiar aquilo que não pode ser enquadrado em esquemas, daí o ódio a Cristo, e a quem de fato pretenda ser seu seguidor). 

O Jesus das Escrituras nem sempre é encantador, ele tem junto de sua compaixão e misericórdia um lado austero. Quando tudo estava pronto para ele ser feito rei, Ele teve a audácia de proferir um discurso impopular, provocando evasão da população que estava pronta para a revolução. Jesus não é revolucionário. Também não é clericalista, afinal, mandou que seus discípulos fossem servos uns dos outros. Não era nem anarquista e muito menos conservador. Era capaz de discursar contra o pecado e no entanto comer com pecadores. Daí a fonte do ódio do mundo à pessoa de Cristo. 

Martin Lloydd-Jones alertou à Igreja da Inglaterra sobre o perigo de cristãos virem a serem perseguidos por causa de sua intransigência, por exemplo. pior do que tudo isto são as estereotipias em função do mau testemunho de algumas lideranças evangélicas, bem como do flagrante desalinhamento para com os ensinos de Jesus. 

Concordo com o boicote cristão à novela Babilônia por uma única razão. Cristãos precisam ocupar o pensamento com coisas mais excelentes, desenvolver hábitos de convivência familiar mais sadios e salutares do que o isolamento midiático que tem desagregado a família. E neste ponto não estou sozinho, mas trago comigo as intervenções filosóficas de ninguém mais que Mario Sergio Cortella. 

Face as colocações supra, se a Igreja tem algum motivo para abominar Babilônia e qualquer lixo global, que este não seja, em hipótese alguma o selinho das personagens representadas por Fernanda Montenegro, e por Natália Timberg. Primeiro, porque prostituir, chantagear, enganar, subornar, e uma série de outras ações mostradas na novela são tão pecaminosas quanto. 

Uma outra razão para que se boicote Babilônia é a noção de entretenimento, que pode ser a mesma que ilusão. Pascal advertiu que os divertimentos distraíam o homem privando-o de contemplar sua própria miséria. Creio que mesmo a crítica seja uma forma perigosa de divertimento a ser evitada, e na qual teimo por razões existenciais, mas por crer que possa contribuir. 

Por último, o boicote pode sim ser justificado mediante a aplicação maior à leitura, oração, meditação, e a coisas mais excelentes que podem e devem fazer parte da rotina diária de um cristão. Reafirmo que é ilusão esperar de pessoas com mentalidade pervertida, claramente anticristã, atitudes e valores cristãos. É igualmente absurdo boicotar a novela apenas pela exposição do beijo gay a suportar a injustiça sofrida pelo personagem representado por Camila Pitanga, bem como as distorções dos mecanismos do Direito que são usadas para perverter a justiça e perpetrar a maldade

Um forte abraço em Cristo, Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 17 de março de 2015

Será a falsa moralidade a causa da corrupção no Brasil?



A imagem acima possui uma mensagem clara, e até certo ponto bastante coerente. Me proponho a discutir a mesma em razão do caráter ambíguo do recado que a mesma passa, e da ligação desta com os últimos fatos. O momento é de ebulição política e ideológica, que pode se comparar com o fenômeno da Babel bíblica. Ninguém se entende e isto, em questões básicas. Daí a necessidade de que teólogos, filósofos e historiadores reflitam sobre o momento e tragam algum tipo de contribuição, que produza maior esclarecimento e orientação para o público que está indo às ruas. 

Em primeiro lugar é verdadeiro que os hábitos acima descritos indicam no mínimo uma distorção ética e social, mas mentira que possam ser comparados com a corrupção política. Na verdade fica difícil dizer se a corrupção política deriva de tais ações, ou se estas são inspiradas no exemplo que vem do governo, dos parlamentares e tantas autoridades investidas pelo poder público com fins de cuidar do que é público, mas que usam do cargo para cuidarem da causa pessoal. 

Segundo, ao que parece o autor que propões esta mensagem acredita que mudanças lentas, por parte do povo, resultarão em mudanças políticas. Embora reconheça que em algum grau a corrupção social está atrelada à política, não estou nada nada disposta admitir o contrário (que boas ações populares irão gerar bons políticos). Isto porque a sociedade é heterogênea, e quem ascende aos cargos políticos não são pessoas do povo, mas famosos jogadores de futebol (que há muito deixaram de ser povão), humoristas, apresentadores de programas de TV, artistas, cantores do mundo gospel, pastores há muito afastados de seu propósito e missão, e gente oriunda do latifúndio como é o caso da família Magalhães, Collor e dos Sarneys da vida. 

Um terceiro problema a ser colocado é o inconteste fato de que o perfil da classe política brasileira é de gente que, ou foi criada para pensar assim, ou em algum ponto de sua trajetória aprendeu a se ver como alguém que pode tudo. O poder é o maior corruptor. Alias este é o único ponto que vejo em comum entre os políticos e a sociedade. Pratica a corrupção quem tem algum tipo de poder, seja o financeiro (para subornar o guarda), seja o do conhecimento para obter aquele atestado daquele médico. Mas as possibilidades do poder político são exponencialmente mais corruptoras do que o que se descreve na imagem acima. 

(A esta altura o leitor já deve de ter percebido que não sou do politicamente correto. filosoficamente prefiro Hobbes à Rousseau. Teologicamente tenho predileção por Agostinho de Hipona, Lutero, Calvino e Edwards à Pelágio, Erasmo, Finney, e outros que desprezam a depravação total. Sim, creio que somente a graça de Deus promove ao homem escape da corrupção inerente à natureza do mesmo). 

Por último deficiências de caráter não podem ser usadas como meio de combate aos protestos que tem ocorrido em nosso solo. O povo brasileiro é tão pecador quanto o americano, o sueco, e será que por este motivo que brasileiros precisam e devem aturar os políticos que possuem? Creio que não! Ou será que o Brasil tem de adotar o ufanismo americano, ou a frieza européia para que se tenha aqui o mesmo nível de vida e dignidade que por lá se veem? 

Conforme implícito nas linhas acima, a causa da corrupção é o poder dado a certos homens, que como os demais possuem uma natureza pecaminosa, corrompida. A diferença entre aqui e as demais partes do mundo é que em decorrência da graça comum (que também se manifesta aqui e é perceptível na solidariedade diante de tragédias, por exemplo, no acolhimento às mais diversas pessoas), mecanismos de combate à corrupção são criados e respeitados. 

Diante do exposto nas linhas supra, de forma alguma posso acreditar que cumprir com as exigências do cartaz promoverá uma reforma política. Se isto fosse possível o farisaísmo teria promovido uma verdadeira revolução nos dias de Jesus, mas foi necessária o desenvolvimento de padrões do Reino, que somente podem ser cumpridos mediante a ação do Espírito de Deus. 

Aqui dirijo a minha fala aos crentes que atenderam á convocação de Silas Malafaia de demais lideranças religiosas. É preciso sabedoria e tato para sinalizar à atual sociedade que cristãos genuínos não pretendem de forma alguma construir e instituir uma teocracia neste país. Mas tão somente influenciar positivamente a sociedade. Que esta influência se dá por meio da ação como sal e como luz neste mundo. 

Mas do que enquadramento ético cristãos precisam serem vistos por suas boas obras e influência. Humildade, quebrantamento, mansidão (capacidade de suportar crítica), desejo espiritual, misericórdia, espírito pacífico, pureza de coração e paciência são as marcas dos que de fato influenciam o mundo. Na minha perspectiva somente a graça pode produzir tal caráter no homem e na mulher. E somente os que possuem todas estas marcas de fato influenciar à longo prazo a sociedade. 

Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Vem vamos embora que esperar não é saber




Neste artigo faço menção aos versos da canção pra não dizer que não falei das flores, popularizada por meio da inesquecível interpretação de Geraldo Vandré. Esta canção se tornou o hino nacional contra a ditadura. Faço menção à referida canção em razão dos protestos deste último domingo. Eles refletem o caldeirão cultural e a babilônia (falo no sentido de confusão das línguas ocorridas no evento bíblico Babel) ideológica que esta nação povoada pelas mais diversas etnias se tornou.

Nunca, assim creio eu, foi tão necessária a esta nação uma voz que traduzisse para os próprios manifestantes seus mais profundos anseios. Falo disto, porque não tenho como acreditar que o povo queira, de fato, intervenção militar, ou ditadura (diga-se de passagem que ambas são extremamente diferentes), mas inaceitáveis. O povo quer é retorno nos impostos, fim de regalias para políticos, melhorias na saúde, educação, segurança e demais serviços.

Enquanto governo e oposição discutem o teor das manifestações, e o fazem com o foco na polarização direita/esquerda, em conspirações contra a democracia (falo dos pedidos "populares" de impeachment), em golpismo, em corrupção do governo (como se esta fosse um problema da situação, ao invés da marca indelével desta nação); o grito permanece preso no coração das pessoas.

Vejo imagens em redes sociais de pessoas com faixas e nestas a cruz suástica, simbolo do nazismo cuja herança maldita ninguém quer de fato. Outras seguram faixas pedindo intervenção militar, alguns chegam ao cúmulo de solicitar a volta da ditadura. E onde a canção de Geraldo Vandré entra nisto? No simples verso quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

João Bosco, grande filósofo da MPB acertou em cheio quando disse que a esperança equilibrista sabe que o show do bom artista, tem que continuar. Particularmente creio que é a Esperança o gás que move professores a continuar ensinando mesmo em um país onde o governo corta gastos com educação e teóricos insistem em querer aplicar conceitos empresariais e meritocráticos à educação como se educar fosse similar à produção fabril, por exemplo.

É a esperança que move o homem a ser minimamente honesto, mesmo em meio ao lamaçal de este corrupção que este país tem se tornado. Mas perceba que o autor fala de uma esperança equilibrista, o que supõe um abismo a ser atravessado. Atravessar o abismo equilibrando na esperança é o desafio de quem sabe e faz a hora e não espera acontecer.

Aqui são mais do que válidas as palavras de Paulo Freire e frequentemente citadas por Mario Sérgio Cortella, é preciso esperar, mas esperar do verbo esperançar, em outras palavras, uma espera que não é passiva, mas que conforme atravessa o abismo do real em direção ao utópico, ao esperado, ao desejado.

Toda vez que vejo um Fora Dilma, Fora PT, e tantas outras palavras de ordem presentes nos protestos dos últimos anos me lembro das palavras acima, que somente agora consigo traduzir, mas que já as trago como anseio. O problema com a democracia no Brasil está na falta de percepção de que é preciso saber esperar, mas esperar do verbo esperançar, e que aí reside a sabedoria do esperar que é saber e que faz acontecer, não percebido por Vandré.

O brasileiro sofre de um mal, o de esperar o amanhecer de um pensamento, que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento, e com isto se entrega a toda e qualquer cruzada quixotesca. Não há mudanças que ocorram em um passem de mágica. A democracia à brasileira ainda é muito marcada pela herança nefasta da ditadura. A própria ausência de participação popular no processo democrático, nas cobranças ao governo, no uso politico consciente das redes sociais demonstra isto.

Por este motivo não atendi a solicitação de Malafaia, não coloquei camisa amarela, e não fui, e nem irei às ruas pedir a volta da ditadura. Me manifestarei sim contra a corrupção e contra a forma de se fazer política neste país. Todavia, o farei sabedor de que o momento atual ainda que não seja perfeito é democrático em sua essência e infinitamente melhor do que o retrocesso à ditadura. E mais, a precariedade de nossa democracia (bem como tudo o que reclamam em Dilma) a é consequência direta da nefasta herança ditatorial. 

Falo isto sabedor de que os militares deixaram o poder há mais de vinte anos e que já era o tempo em que o povo e os políticos deste país deveriam começar a acertar. Estes cumprindo a sua real missão, aqueles cobrando, mas esperançoso de que no caminho a ser percorrido ambos aprenderão por meio de erros e acertos. 

Ao povo que protesta nas ruas, eleitores de Dilma, ou não, foco. E o foco é a corrupção, que não é particular do PT e menos ainda do PSDB, mas da forma de se fazer política neste país. Aos políticos, chega de conchavos e protecionismos. Transparência nas ações políticas e no combate á corrupção são palavras de ordem. E acima de tudo, entendam que este é o real pedido do povo nas ruas. 

Marcelo Medeiros.

domingo, 15 de março de 2015

Vamos orar por Sóstenes Cavalcanti



O leitor assíduo do meu blog já deve de ter percebido que não tenho o costume de usar este espaço para falar mal de ninguém. Critico as ideias, tal como fiz com a posição pró homoafetiva de uma pastora inclusiva que esteve em um programa popular, ou como fiz quando Silas Malafaia resolveu criticar a doutrina da predestinação. Mas não faço ataques pessoais. 

Venho usar este espaço para pedir as orações em prol do Pastor Sóstenes Cavalcante, membro da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, escolhido para comandar a comissão que dará andamento ao estatuto da família, um projeto do deputado Anderson Ferreira (PR-PE), que tem por objetivo manter a definição atual de família como uma sociedade formada por um homem, uma mulher e filhos [leia aqui]. 

Peço oração por que esta é uma guerra extremamente complicada. A despeito de todo evangélico entender que a relação homoafetiva é pecaminosa, nem eu, nem evangélico nenhum tem coisa alguma contra homossexuais que resolvam assumir sua relação, adotar filhos e constituir núcleos societários. Perseguir os tais seria uma postura doentia, e qualquer pessoa lúcida crente, ou não percebe isto. 

O problema se dá quando a luta por direitos se dá por meio de falácias, tais como as que associam a violência e o preconceito sofrido pelos mesmos com a questão doutrinária, e não satisfeitos armam seus circo ideológicos com o intuito de calar toda e qualquer opinião contrária. Algo similar se deu com o conceito de família. Critiquem o quanto quiserem os defensores da causa gay, mas duvido que o projeto de Anderson Ferreira (PR-PE), não tenha sido motivado por algum boato, verídico, ou não, de algum projeto de mudança na concepção de família. 

Tudo bem que direitos civis sejam concedidos aos mesmos e até ampliados. Mas vejo como contraditória, e mais como ressentida esta atitude que afirma o diferente em detrimento do normativo. em outras palavras destroem e minam o conceito clássico, ou tradicional de família, com vistas a afirmação de novos grupos societários, e isto com direito à abolição das datas que comemoram dias de pais e de mães [aqui]. 

Contudo os desafios do caro Evangélico não param por aí, afinal, vida de crente na política brasileira, não é vida de profeta na corte. Crentes que pisem no congresso, nas câmaras, nas assembleias legislativas estaduais e nos cargos políticos, são como ovelhas no meio de lobos [aqui]. Marco Feliciano, que sucessivas vezes foi achincalhado pela mídia, e sempre em matérias, que ora distorciam a verdade, ora encobriam outros fatos, deve servir de exemplo para que se perceba o quanto o meio político é hostil aos evangélicos. 

Por último, não falta quem em seu surto de histeria não associe (de forma desonesta) a participação política dos evangélicos às tentativas de estabelecimento de uma teocracia neste país. O curioso é que não falta quem refute a ideia absurda de que a permanência do PT no poder esteja à serviço da criação de uma ditadura, pena que o mesmo critério não seja utilizado na análise da participação de cristãos na política. Daí que sem teorizar peço as orações dos santos por este parlamentar, a fim de que a atuação do mesmo na casa glorifique a Deus, e traga sal e luz ao ambiente tão contaminado pelos vícios. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

A polêmica em torno dos Gladiadores do Altar



Uma polêmica que ferveu nas redes sociais foi a criada por conta da criação de um grupo ligado à IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), o já famoso e polêmico Gladiadores do altar. Desde já cumpre observar que esta denominação sempre usou das famosas representações teatrais em sua liturgia. É isto que se vê nas campanhas dos trezentos de Gideão, dos setenta, nas fogueiras santas, então nada demais em criar os Gladiadores do altar. 

O grande problema é que os laicistas de plantão estão dispostos a tudo para a promoção de uma sociedade secularizada. Até aí nada demais, não fosse o referido processo frequentemente confundido a extinção da religião, ou a retirada desta para uma esfera privada. C. S. Lewis observou muito bem este fenômeno quando apontou que os que dizem que o fenômeno religioso é algo de foro íntimo, são os mesmos que cuidam para que o homem nunca esteja só. 

As redes sociais provaram o indivíduo do foro íntimo. No afã de estar sempre conectado, se comunicando, resta pouco ou nenhum tempo para aquela disciplina desenvolvida pelos monasticistas medievais, ou mesmo para comunhão nos moldes protestantes, cujo ápice se vê nos escritos de Banhoeffer. em outras palavras a religiosidade cristã tem se tornado inviável dada à agitação dos dias atuais que roubam do crente o tempo necessário à solidão, ao silêncio, à oração, leitura, meditação nas Escrituras e contemplação. 

Lentamente se estabelece no seio cristão a ideia errônea de que a religião é intrinsecamente má, quando na realidade as menções que a Bíblia faz da mesma são positivas, tanto que em Tiago mesmo a prática de visitar os órfãos e as viúvas em suas necessidades é definida como religião, o mesmo se pode dizer de quem refreia a sua língua. 

Não faltam nas redes sociais quem associe os Gladiadores do Altar com o filme "A Onda". Neste longa se vê a história de um professor que para ensinar aos seus alunos o regime autocrático, resolve viver a experiência de uma ditadura na classe. O Fenômeno vai para além das salas de aula e ganha as ruas. Resultado? Os jovens que fazem parte do movimento, diga-se de passagem totalmente dissociado de religião, agridem aos que não fazem parte do movimento. 

Mesmo sendo Evangélico, escrevo tais palavras com todo liberdade, porque sei que este perigo não é restrito á religião. C. S. Lewis avisa que a amizade criada em torno de causas comuns pode fomentar o pior tipo de orgulho e consequentemente aquele sentimento de que quem não pensa como pensamos não é tão digno como somos. Mas isto se vê também na política, nas causas inclusivas, religião e tudo mais. 

O corolário da suspeita em torno dos Gladiadores do Altar são as mais que conhecidas ambições políticas do grande chefe desta dita Igreja com pretensões de universalidade quase que católicas e cada vez mais distanciada da proposta de Reino de Deus exposta na Bíblia. Na verdade a IURD tem assimilado aquilo que ela pretende combater, misticismo, espiritismo, ocultismo, e sido cada vez menos aquilo que afirma ser. 

Face ao exposto, não sei o que pensar. Tenho diante de mim duas vertentes. A mais óbvia é a de que a despeito da imagem acima, a IURD  na verdade depende das seitas afro para afirmar e firmar a sua identidade como religião que combate os exús, e demais demônios, e que na ausência destas ela ficaria sem ter algo a se opor e vazia em sua identidade, embora a guerra com IMPD prometa. a segunda é a de que seja um meio de trazer militância jovem visando a renovação. 

Evangélicos e demais cristãos históricos precisam estar com o discernimento em alta, e isto com os olhos postos nos laicistas histéricos de plantão, e nas ambições de gente que une religião à política. Ambos precisam ser vistos com suspeita. Não há nada de mais desonesto do que a comparação do grupo com o Estado Islâmico (EI), até porque nada isenta os secularistas de jogarem cristãos do alto de uma ponte, ou decapitarem os mesmo como os terroristas do EI fazem. eu disse nada mesmo, e caso não percebam isto, tal se deve à crença ingênua de que não são capazes de serem intolerantes com quem pensa diferente. 

Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 10 de março de 2015

Babilônia



Babilônia é um nome cuja origem vem de Babel (confusão), e nos relato bíblico (visto como mitológico por alguns filósofos, teólogos, historiadores e cientistas); faz referência a um projeto de construção de uma torre cujo topo alcança os céus. Independente da visão dos antigos a respeito do universo, os céus eram compreendidos como aquilo que há de mais elevado, mais sublime. O projeto inicial fracassou, mas nem por isto os homens desistiram de construir suas torres particulares.

De acordo com o filósofo Luís Felipe Pondé, Babel se faz representar pelas constantes iniciativas de construção de uma vida feliz, e minha leitura das palavras deste pensador e do momento presente é que diante da falência os construtores estão se entregando às mais inovadoras iniciativas. Assim que diante da infelicidade proporcionada pelos modelos tradicionais de família, as pessoas buscam a felicidade nas uniões homoafetivas, na promiscuidade, na multiplicidade de parceiros.

Meu problema com isto é que tal atitude é tão racional quanto a atitude de alguém que por estar insatisfeito com sua profissão procura ter várias, e possivelmente não seja realizado em nenhuma. Não se trata do professor, por exemplo que em um ato de agregação de valores se torna palestrante, escritor, músico, não. Definitivamente não é uma questão de genialidade, mas de abrir mão da resiliência em prol de uma felicidade instantânea. Este é o foco do problema. 

Falo isto, porque concordo com Pascal e com os demais filósofos que afirmam a constante insatisfação humana, alguns por razões estritamente secularizadas, outros por entenderem com Pascal e Santo Agostinho que a única felicidade que o ser humano pode ter é a de se deleitar em Deus, aqui incluo o irlandês radicado na Inglaterra C. S. Lewis, para quem o prazer quando buscado como um fim termina por escravizar o homem, ao ponto de ele fazer as maiores peripécias por um prazer cada vez menor.

Babilônia é o título da nova novela das oito, que com certeza, passará às nove da noite, mas cujo enredo reflete bem esta tentativa de construção de uma sociedade cada vez mais difusa e confusa. Em nome da felicidade comportamentos da esfera privada, que em tese não interessariam à ninguém, serão motivo de militância política, e o mais esmagador em tudo isto, é que não há nada de novo debaixo do céu. 

Sim, porque pelo tom de mistério em torno sinopse do folhetim global pode-se esperar o que vem por aí. Adultério, licenciosidade, lesbianismo, prostituição, e bem lá no fundo alguma questão a ser tratada para dar um ar de relevância a uma trama que na verdade é cópia de cópia de alguma outra trama. No final, a crise de criatividade é tal que a Bíblia, ou a Babilônia desta ganham de lambuja. 

Marcelo Medeiros. 

sábado, 7 de março de 2015

Não furtarás



O oitavo mandamento traz a proibição tocante ao roubo. A expressão לֹ֣֖א תִּֿגְנֹֽ֔ב  (lo tiganeb),usualmente traduzida por não furtarás, advém do verbo גְנֹֽ֔ב (gãnab) e seus derivados. Na lição da Escola Bíblica Dominical ele é vinculado com a proteção da propriedade privada. Minha perspectiva é de que a preocupação aqui é com o sustento e a manutenção do próximo, uma vez que a Bíblia articula a ordenança em questão com o amor ao próximo (Rm 13. 9), indicando com isto que quem ama não expropria o outro dos meios de sobrevivência.

Contudo não há, na Bíblia, uma única palavra para roubo. É importante que se conheça os demais termos para roubo, ou furto, e com isto saber que não há uma única concepção de roubo. Há outras formas de roubo, tal como as cometidas pelos governantes, ou pelos que são nomeados por eles e se valem do cargo para roubar, para se apropriarem dos bens alheios, principalmente dos pobres, um quadro bem comum aqui no Brasil.

FUNDAMENTO EXEGÉTICO

O verbo גְנֹֽ֔ב (gãnab) e seus derivados é usualmente aplicado ao furto, que é a apropriação do bem alheio, sem o uso da violência executados em oculto, incluindo o arrobamento, geralmente feito á noite (Ex 22. 2) e o rapto (Ex 21. 6). O verbo é usado também de forma figurada, para descrever a ação do vento ao levar algum objeto (Jó 21. 18; 27. 20), a deserção de uma tropa (II Sm 19. 14), e enganar as pessoas, tal como feito por Absalão (II Sm 15. 6).

Para Robinson (2012), os termos Κλέπτης, ou κλέπτω são correspondentes de גְנֹֽ֔ב (gãnab), uma vez que de igual modo são empregados para a ação de furtar algo. Este ato consiste em apoderar-se de algum bem alheio sem o consentimento do dono, mas sem o uso da violência. A palavra cleptomania advém de kleptoo, e consiste na excentricidade de cultivar o hábito de cometer pequenos furtos sem motivação econômica.

Contudo o termo ληστης  aplica-se ao que usa de violência no ato de furtar. É traduzido por salteador, mas também era aplicado aos revolucionários zelotes, que empregavam o roubo e a violência como forma de promover uma revolução que possibilitasse a libertação de Israel do jugo de Roma. É notável que tais métodos eram condenados pelos rabinos.

Jesus avaliou o método destes revolucionários ao afirmar: em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante; o que entra pela porta é o pastor da ovelhas (Jo 10. 1, 2 Bíblia de Jerusalém), e: todos os que vieram antes de mim, são ladrões e assaltantes; mas as ovelhas não os ouviram (Jo 10. 8 Bíblia de Jerusalém). Aqui Cristo está dizendo claramente que seu ministério difere a ação revolucionária dos zelotas e de tantos outros que o antecederam.

AS EXIGÊNCIAS DA LEI

A lei de Moisés diz claramente: não roubarás (Ex 20. 15 Bíblia de Jerusalém), aparentemente a proibição está limitada ao ato de subtrair, sem violência um bem alheio, mas alguns textos abrem outras perspectivas. Ninguém dentre vós cometerá roubo, nem usará de falsidade ou de mentira para com o seu compatriota [...] não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás, o salário do operário não ficará contigo até a manhã seguinte (Lv 19. 11, 13 Bíblia de Jerusalém).

Na mesma proporção em que o furto é associado ao engano e à falsidade, o roubo é agregado às mais variadas formas de opressão. De modo que nos escritos de sabedoria se percebe isto com maior clareza e nitidez. Tanto que os sábios afirmam: O que tem parte com o ladrão odeia a sua própria alma; ouve maldições, e não o denuncia (Pv 29. 24 ACF).

O ímpio arma ciladas no esconderijo, como o leão no seu covil; arma ciladas para roubar o pobre; rouba-o, prendendo-o na sua rede (Sl 10. 9 ACF). Aqui se vê o roubo decorrente da opressão do mais forte sobre o mais fraco. É um quadro que se perpetua por causa dos que se omitem, mas também por causa dos que se associam ao ímpio em sua empreitada e com isto perpetuam este tipo de maldade.

A estes mesmos Deus diz: Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração (Sl 62. 10 ACF). E isto porque no fim, Deus julga a causa do que é roubado. Não roubes ao pobre, porque é pobre, nem atropeles na porta o aflito; Porque o Senhor defenderá a sua causa em juízo, e aos que os roubam ele lhes tirará a vida (Pv 22. 22, 23 ACF).

Os profetas também não poupam nenhuma forma de roubo, seja resultante da opressão, seja o simples furto. Para Oseias, o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro (Os 4. 1, 2 ACF).

A relativização da verdade, a perda das afeições naturais, e a ausência de sólidos relacionamentos com Deus, são fatores que fomentam a escalada da violência, contra qual Deus reage convocando um julgamento, uma vez que há uma contenda com os moradores da terra.

Por fim, Isaías decreta um ai para uma classe diferente de ladrões, aqueles que se valem da legalidade para roubar. Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão. Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos! (Is 10. 1, 2 ACF).

O MANDAMENTO E O NOVO TESTAMENTO

Tanto Jesus quanto os apóstolos se referiram ao oitavo mandamento. Um exemplo é o caso do jovem rico que ao perguntar o que poderia fazer para herdar a vida eterna, teve como resposta: Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há somente um que é bom. Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos. Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda? (Mt 19. 17 - 19 NVI).

Jesus reafirma aqui tanto a bondade da lei, quando a validade do oitavo mandamento. Sendo que mediante o contexto Cristo associa o que Miquéias chama de benevolência, ou beneficência, na verdade hesed [חֶ֔סֶד], que também pode ser misericórdia, com o bem revelado na vontade de Deus por meio do mandamento. Jesus disse para este jovem que caso este quisesse ser perfeito, deveria vender seus bens e dar aos pobres para então ter um galardão nos céus (Mt 19. 21, 22). 

Não basta deixar de lado o furto, é preciso associar a guarda do mandamento com a prática da justiça social. De sorte que Paulo recomenda: O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade (Ef 4. 28 NVI). No lugar de promover revoluções à moda Robin Hood, Paulo, o apóstolo recomenda o trabalho como forma de produção e distribuição do que pode gerar sustento próprio e alheio. 

É o amor ao próximo que leva à consumação do oitavo mandamento, como disse, e muito bem Paulo, 
Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei. Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "não matarás", "não furtarás", "não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei (Rm 13. 8 - 10 NVI). 
UMA APLICAÇÃO PARA O CONTEXTO ATUAL

Depois de Cristo e Paulo, creio que uma das mentes mais provocadoras em torno das ideias sustentadas ao longo deste estudo tenha sido o Padre Antônio Vieira.  Desde já quero explicar que minha base teológica é o Calvinismo, não concordo com o autor supra em termos de soteriologia. Mas reconheço que este jesuíta foi um fantástico pregador e que seus sermões são peças literárias de profunda beleza, e que ele sob a luz da graça comum soube captar a verdade divina. O Sermão da Sexagésima e o Sermão do Bom Ladrão são exemplos claros da percepção aguda do literato em questão.

Eu particularmente entrei em contato com o autor em apreço ainda quando me preparava para concursos, e quando cursei o ensino médio conheci o seu famoso Sermão do bom ladrão, cujas ideias pretendo expor brevemente aqui e com maior profundidade em uma postagem posterior. Mas o teor deste sermão pode ser visto no resumo que faço abaixo da referida obra, conforme se segue: 

  1. Há ladrões que são tolerados e os que não o são. 
  2. Dentre os que são tolerados estão os que assumem cargos públicos, mas não por sua capacidade e competência, mas por causa dos conchavos políticos, e pela bajulação. 
  3. Estes começam suas carreiras como ladrões ao ascenderem aos respectivos postos por meios nada legítimos, uma vez que não são capazes para tal. 
  4. A forma ilegítima de ascensão lhes dá respaldo para o exercício ilegal, o que fomenta a corrupção. 
  5. A definição de ladrão, em Vieira, não considera quem por sua miséria se vê forçado a roubar, mas os que se valendo do cargo público roubam. 
  6. Quem nomeia tais para os respectivos cargos acaba por ser cúmplice do roubo que os mesmos praticam. 
  7. À semelhança de Zaqueu que ao ser salvo se dispôs a restituir quatro vezes o que havia defraudado, tais ladrões somente seriam absolvidos se restituíssem o que haviam defraudado. 
Tenho razões de sobra para considerar tal mensagem mais do que atual. Primeiro, é mais fácil execrar o corsário, o pirata, e atualmente o que trabalha com produtos piratas, do que ver com o mesmo desprezo quem é nobre e rouba através de meios mais sutis. As observações dois, três e quatro são mais do que conhecidas de todos os leitores desta nação, e aqui posso me valer das palavras do próprio Vieira, para quem:
O que não entra pela porta, esse é ladrão e roubador (Jo 10. 1). A porta por onde legitimamente se entra se entra ao ofício é só o merecimento, e todo o que não entra pela porta, não só diz Cristo que é ladrão, senão "ladrão e ladrão". E por que é duas vezes ladrão? Uma vez porque furta o ofício, e outra vez porque há de furtar com ele. O que entra pela porta poderá vir a ser ladrão, mas os que não entram por ela já o são. Uns entram pelo parentesco, outros pela amizade, outros pela valia, outros pelo suborno e todos pela negociação. E quem negocia, não há mister outra prova: já se sabe que não vai a perder. Agora será ladrão oculto, mas depois será ladrão descoberto, que esse é, como diz São Jerônimo a diferença de "fur a latro" [o que furta do que rouba] (Vieira, 2009, pp 191
Feitas tais considerações, gostaria de me deter na definição que Vieira faz de ladrão
Suponho finalmente que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e a vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria, ou escusa ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: "não é grande a culpa de alguém que furtar para saciar a sua esfaimada alma" (Pv 6. 30). O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre, e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e predicamento distingue muito bem São Basílio Magno: "não são só ladrões, o que cortam bolsas ou espreitam o que vão se banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam povos (Vieira, 2009, p.p. 188). 
Nada pode ser mais atual do estas considerações feitas por Vieira, que além de se espantar com o esquema de roubalheira, se espantou com o silêncio dos pregadores diante de tamanhas maracutaias. Fico a imaginar qual seria a reação do mesmo diante do contrastante Brasil que manda para a cadeia ladrões que cometeram furtos visando matar a fome e até hoje estão presos e os ladrões que se valeram dos cargos comissionados, dos eletivos, e das indicações e nem de longe são tocados pelo braço da justiça. 
quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado a um carneiro, e no mesmo dia ser levado em trinfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? De um, chamado Seronato, disse com discreta consideração Sidônio Apolinar: "não cessa de punir, e de fazer ao mesmo tempo, furtos" (Vieira, 2009, p.p. 189). 
A leitura destas palavras me traz à memória o momento da cassação do mandato de Fernando Collor de Mello, em que os que lideraram a cassação de seu mandato logo foram associados à casos de corrupção. A austeridade neste caso foi uma capa, para a maldade e rapina existente na vida do indivíduo. 

Ao lado do processo de conscientização, gostaria de propor que a Igreja ore pela nação, a fim de que Deus exponha esta corrupção, mas que levante outros homens corajosos a fim de que julguem estes os responsáveis pelos mensalões, petrolões, e tantos outros que espoliam o povo. No momento atual se rouba ao preservar algumas pessoas que, a despeito do comprovado envolvimento, nas operações lava jato da vida, impõe-se uma condenação fajuta aos peixes pequenos, e pior se passa a conta a ser paga para o povo, quando os verdadeiros ladrões é que deveriam restituir. Oremos para que Deus intervenha com justiça. 

Marcelo Medeiros. 

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