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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O Ecumenismo em que Creio


O presente artigo é um desdobramento das considerações feitas neste post aqui. A razão de ser do mesmo é a constante confusão conceitual entre termos como Ecumenismo e sincretismo religioso. Alister McGrath aponta em sua apologética que significativa parte do erro dos apologetas é entrar numa discussão com uma proposta intelectual e ignorar as questões emocionais que envolvem as querelas. Mas o que isto tem a ver com Ecumenismo mesmo? Por que faço estas perguntas?

O motivo é bem simples.Ao debater nas redes sociais a questão do Kleber Lucas ter ido a um terreiro de candomblé, o nome ECUMENISMO vem continuamente à boca dos interlocutores. Pior, sempre com um sentido distinto daquele que lhe é conferido pelas Ciências da Religião, ou pela análise etimológica da palavra em si. Confundem este com sincretismo religioso (este sim a mistura de Religiões de matriz deferentes em uma única). Mas de onde vem tal percepção distorcida?

Confesso que em muitos dos supostos debates me senti frustrado com a tentativa de explicar ao interlocutor as diferenças entre os termos acima mencionados. E mesmo depois de muita explicação, de gasto muito latim e verbete perceber que as pessoas preferem permanecer com o erro, a rever seus respectivos conceitos. E o pior, sem a mínima base bibliográfica. O que me leva a pergunta pela raiz do problema.

Simples. Qual criança ou adulto da década de setenta nunca esteve em contado com/as escatologias do terror (aqui e aqui). Quem no Brasil nunca ouviu a ideia de que o plano do Anticristo é produzir uma unificação das religiões ao redor do planeta, e infelizmente sempre se chamou isto de Ecumenismo. Daí que toda que se fala a palavra seu real sentido é ignorado.

A expressão Ecumenismo vem do grego οικουμενη (oikoymenen), que aparece na versão grega do Sl 24. 1 sendo traduzida por mundo em nossas versões. O mesmo sentido lhe é dado em Mt 24. 14; Lc 21. 26; Rm 10. 18; Hb 1 . 6. Os concílios católicos recebem este nome por serem concílios mundiais. Na verdade a mesma palavra designa o mundo grego e romano conhecido da época, unificado por uma única cultura, mas diverso em escolas de pensamento e em religiões de mistérios, mas tendo na língua grega um dos fatores que viabilizavam a comunicação e a troca de ideias. É pouco mas espero que tenha servido para dirimir as dúvidas.

Em finais do século dezenove, e meados dos século vinte, o catolicismo muda sua forma de entender sua missão no mundo e as Igrejas históricas seguem esta mesma tendência. O gatilho foram os anos de guerras e desentendimento teológico e filosófico. No lugar de esforços visando o convencimento o Catolicismo e o Protestantismo histórico se voltam para o serviço diaconal ao mundo. ISTO É ECUMENISMO.

O diálogo religioso é um termo que merece uma outra postagem aqui neste espaço. Mas tanto no catolicismo quanto no Anglicanismo e no protestantismo a ênfase recai sobre a fala e o compartilhamento de ideias desprovido de tentativas de convencimento. OU seja ninguém mais tem de fazer parte de uma única religião mundial, para somar esforços, o necessário é compartilhar o desejo de fazer algo pelo próximo.

Sigo uma teologia em que é plenamente possível que um kardecista, um umbandista, candomblecista, católico, budista e hinduísta, partilhem do mesmo desejo que tenho de trabalhar pelo bem estar do outro. NENHUMA ESCATOLOGIA BÍBLICA DEFENDE, OU LEGITIMA UM ENGESSAMENTO FACE ÀS NECESSIDADES DO OUTRO. NA VERDADE, TODA E QUALQUER ESCATOLOGIA ENGESSANTE TEM DE SER DESCARTADA. Creio que esta percepção ecoa nas palavras de Paulo, para quem:
Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho (Rm 2. 13 - 16 ACF). 
Partindo do ponto de que exista uma lei moral comum e que os mais diversos homens podem responder positivamente a esta lei nada me impede de somar esforços com os mesmos na prática do bem comum. Se você, leitor, entende que é pouco, veja quantos estrangeiros (gente que nada tinha a ver com povo de Israel), agiram de forma melhor do que o povo eleito. Raabe, Rute, Ebed-Meleque e outros, são exemplos que culminam no samaritano da parábola do Senhor em Lucas. 

Que Deus nos conceda o discernimento necessário para distinguir ECUMENISMO de SINCRETISMO, assunto este que terá sua devida consideração neste espaço. Que ELE nos dê a sabedoria para o desenvolvimento de uma escatologia integral mais afinada com a esperança cristã e com uma práxis social. E que desenvolvamos um ecumenismo de serviço baseado na IMAGO DEI, e na lei moral. 

Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Discordando de Jonh PIPER


Li  deste autor: Cinco Pontos e o Legado da Alegria Soberana. Concordo em quase cem por cento das colocações de ambos. De igual modo partilho das perspectivas a respeito de família, casamento. Infelizmente desconheço o documento que provocou a crise evangélica destacada neste artigo. Mas faço aqui duas ressalvas. A primeira é a de que estamos em um mundo caído. Logo, é mais do que normal que as pessoas se insurjam contra o modelo bíblico de casamento (falo de Gn 1; 2). A segunda questão é: por ser conservador em alguns aspectos, tenho necessariamente de comprar todo o pacote do conservadorismo, ou dá para selecionar aspectos válidos de ambos os lados? São estas duas questões que pretendo abordar em breves linhas. 

Textos bíblicos como (Gn 1. 26 - 28; 2. 24, 25; Mt 19. 1 - 12; I Co 7; Ef 5. 22 - 31; Cl 3. 17 - 4. 1), sugerem que o modelo bíblico familiar seja: marido,mulher, filhos e a figura do servo, que não existe mais na sociedade atual. Mas uma olhada para a vida de Abraão. Jacó, Davi, Salomão e para as recomendações de Paulo apontam que nem sempre as coisas foram assim, sob o ponto de vista prático. O primeiro é nosso pai na fé (leia exemplo de fé), o segundo, o homem que luta com Deus, o terceiro, homem segundo o coração de Deus, e o último, o mais sábio. 

Escrevo estas palavras cônscio de que em momento algum a Bíblia aprova o erro destes, muito pelo contrário, mais do que condenar aponta para as funestas consequências das escolhas de cada um. Por outro lado foram todos alvo da graça de Deus, antes, durante e após seus respectivos erros. Nem ao polígamos e idólatra Salomão Deus retirou a sua benevolência. É tendo isto em mente que enxergo a questão homoafetiva e questões de gênero. 

(Esta última bastante mal compreendida pelos meus consortes evangélicos. Nem todo homem hétero sexual se enquadra nos modelos de masculinidade.De igual modo nem toda mulher de orientação hétero sexual se enquadra nos modelos de feminilidade vigente na sociedade. Nem todo homem é másculo, e nem toda mulher é magra, alta e classificada como bonita. Este é um ponto da ideologia de gênero cuja validade, tem de ser considerada, por nós cristãos bíblicos evangélicos). 

Voltando à questão homossexual, é preciso levar em consideração os conceitos bíblicos de Pecado e Graça. A homossexualidade é uma condição (se social, inata, aprendida, não cabe o debate aqui), mas se considerada em termos de pecado, é tão pecaminosa quanto o desejo que qualquer pessoa sente, seja na esfera sexual, ou em qualquer outra esfera. Em termos de pecado, não é tão diferente da avareza. Mas por conta da visão que limita pecados à religiosidade e à sexualidade, ela choca mais. 

Para encerrar, posso optar por capitalismo e socialismo, por conservadorismo e progressismo, liberalismo teológico e calvinismo. O que não posso é confundir o Evangelho com tais posições, de forma a torná-lo inviável para quem pense diferente de mim. Claro que as questões pertinentes à sexualidade são importantes dentro de uma moral, mas o caso de Sansão, de Abraão e de tanta gente na Bíblia mostra que a moral, se não muda, varia de caso para caso.

Pecado não se vence com regras morais. Do contrário a cruz não seria necessária. Pecado só pode ser vencido no dia-a-dia e por meio da graça de Deus.Não há diferença entre o pecado de Davi com Bete-Seba e o pecado de um homossexual. Daí a necessidade da Graça, visto que somente esta pode ajudar ao homem a vencer seus desejos. Lógico que Graça não é permissividade, também é poder para sobrepujar a velha natureza, mas nem todos acessam a este tipo de Graça (chamada de especial). 

Acredito (e tenho o anglicano Jonh Stott ao meu lado nesta questão), na possibilidade de um diálogo que seja movido pela convicção de verdades bíblicas fundamentais, levando em conta que em última instância a verdade é o próprio Deus.Creio igualmente na capacidade de ouvir o outro tendo em conta a IMAGO DEI, e a possibilidade de no outro ocorra a manifestação da luz divina, e que esta possibilite acesso à verdade, ainda que em nível elementar. Creio que seja papel de todo o teólogo separar a verdade do erro e que toda ideologia humana tem seu aspecto verdadeiro e suas idiossincrasias. 

Acima de tudo creio que um cristão e pregador do Evangelho não possa ser nem conservador/reacionário e nem politicamente correto. Mas que deva e possa ser, em nome do Evangelho, conservador progressista, e biblicamente correto. E minha oração é a de que Deus ilumine cada dia mais a nós todos para que possamos seguir a regra do Pregador e fugir à tentação dos extremos. 

Abraços e bom dia. Marcelo Medeiros. 

domingo, 3 de dezembro de 2017

A Respeito das Últimas Polêmicas envolvendo Kléber Lucas


Particularmente sempre achei Kléber Lucas um excelente compositor, músico e cantor. As canções dele sempre me foram um marco. Paralelamente nunca o vi como um modelo e ícone do que quer que seja. Contraditório? Aparentemente sim. Mas na verdade não. Singles como Purifica-me, Aos pés da cruz, Deus cuida de Mim, Deus Forte, Jeová é o Teu Cavaleiro, Vou Deixar na Cruz, A cruz Vazia, são apenas alguns dentre os muitos exemplos de canções do repertório do referido cantor que comprovam a qualidade do mesmo. Mas como em tudo na vida existe aquele mas, aquela conjunção conjuntiva adversativa.

No tocante a Kleber Lucas as conjunções dão-se a partir do extremado amor que seu público tinha para com ele. Um amor que chegava às raias da adoração, o que para mim, nunca foi um problema. Mas amores extremados possuem em si um aspecto bem venenoso. No início é doce aos lábios, mas em algum momento chegarão a ter sabor de absinto. É isto que o cantor em apreço está experimentando no exato momento.

Por estes dias o referido músico foi a um terreiro de Candomblé e fez uma participação cantando uma música secular, por nome Maria, Maria. Pronto: candomblé e Maria, Maria, foi a mistura necessária para que as pessoas passassem do amor ao ódio deliberado. Minha percepção inicial é a de que por maiores que sejam os defeitos e incoerências do referido cantor, fazer uma atitude reparatória à depredação de um terreiro de candomblé não está entre elas.

Ainda mais quando se considera o contexto (um terreiro que foi depredado pela ação de traficantes "supostamente evangélicos" - que por sua vez não são distinguidos pelo público em geral dos verdadeiros evangélicos), e o estranho silêncio da comunidade evangélica em relação ao ocorrido. Aqui preciso observar que não me importa se os frequentadores são hostis, e quem começou esta guerra imbecil, ou se eles não querem o real diálogo, ou o Evangelho. Fato é que não posso coadunar com um crime, nenhum evangélico pode. O ensino do Evangelho é dar a outra face. 

Daí que veja a atitude do cantor como louvável. Mas onde está o centro nervoso da questão, no comportamento de Kleber Lucas, nos seus três casamentos? Creio que não. Embora o cantor tenha vindo à público expor estes elementos como suposta causa, e embora tenha lido na página social de um amigo que as reações contrárias tenham partido de pessoas que o invejam, tenho uma outra perspectiva. 

A visão limítrofe de pecado do povo evangélico é a raiz. Ouvir música do mundo é pecado, ser católico, umbandista, quimbandista, e candomblecista é pecado. Estranhamente desejar o mal dos outros, e até mesmo se alegar com a destruição de um concorrente não é pecado, ou pelo menos não é visto, ou percebido como tal. 

Na mesma proporção que o Fariseu da parábola do Fariseu e do Publicano, aprendemos a eleger determinados pecados, e nos esquecemos de outros, tais como os,listados aqui. Outro problema são os demônios que a ignorância cria. Não faltou quem dissesse que a atitude em tela neste post fosse um ato ecumênico, como se o ecumenismo fosse um tipo de sincretismo a ser evitado a todo que qualquer custo, quando na verdade não o é. 

Ecumenismo é o esforço decorrente de diálogo que resulta no somatório de forças das pessoas das mais variadas confissões, com vistas à diaconia. A verdade é que nada impede que no campo sócio político, um religioso de qualquer outra confissão tenha uma percepção similar à minha. E aí, deixo de lado a ação por conta da confissão religiosa? Minha resposta é não. Mas este é um assunto que merece outro post. 


Abraços, Marcelo Medeiros. 

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A Infância Perdida


Escolhi esta imagem para falar de um vídeo de dois menores, um de doze, e outro de catorze que aparecem em uma festa de aniversário, cuja temática homenageia uma drag queem. Os leitores me perdoem, mas embora norteado por uma ética de cunho cristão e por uma moral decorrente desta abandonarei a abordagem ético-moral a respeito desta questão. Minha pergunta é por que tanta exposição de duas crianças. 

Perceba que o vídeo de duas crianças, ou adolescentes, duas pessoas que não possuem a mínima autonomia, são expostas em sua sexualidade (diga-se de passagem precoce), parodiando uma música de aniversário, e pior numa versão recheada de palavrões e de frases apelativas e conteúdo sexual. Minha questão é: como os adultos que ali estavam puderam compactuar com toda esta exposição?

Acredito que a sexualidade é a mola que impulsiona toda a vida humana, ainda que não seja freudiano, mas acredito. Eros é uma energia que permeia toda a vida, onde há vitalidade ele está. Mas também sei (digo levo em conta a hipótese de) que a sexualidade infantil pode ser sublimada, ou livremente associada. 

Em outras palavras a energia que se desperdiça com sexo hoje, deveria ser canalizada para o crescimento e florescimento pessoal. Esta é a razão pela qual rejeito acintosamente o ensino de ideologia de gênero no ensino fundamental, época em que se constroem as competências para a aprendizagem contínua e sucessivo desenvolvimento. Mas ao que parece esta é uma fábula em que ninguém mais ousa acreditar. 

Minha percepção é a de que em um mundo onde sonhos e esperanças morrem à cada dia, a infância vai morrendo também e a de forma acelerada. E aí o que sobra é a exposição seja em função de uma cultura decorrente de leituras apressadas, ou da própria sexualidade. Esta é tão poderosa, enquanto ferramenta de marketing, que quase toda propaganda faz algum tipo de apelo sexual, para garantir a atenção de seus potenciais consumidores. Feita tal consideração, há que se admitir que os produtores e divulgadores do famigerado vídeo alcançaram seu objetivo: causar. Mas a custa de quê? 

Conheço muita gente boa que fala com propriedade que uma das ferramentas de dominação é a proibição o sexo. Mas há que se solicitar aos mesmos que considerem a excessiva liberação do mesmo modo. Se por um lado tenho 1984 de Orwell, por outro tenho A República de Platão (onde o sexo era uma forma de amansamento dos guerreiros), e tenho Admirável Mundo Novo, onde o mesmo é instrumentalizado para a distração das pessoas em uma sociedade onde tudo era liberado, exceto ter angústias. 

Na República de Platão o teatro e artes dionisíacas era proibido, em Admirável Mundo Novo a literatura e a religião o eram. Aos leitores de cunho mais progressista, venho afirma que não acredito nem em proibição, e nem em liberação. Acredito em sublimação. Acredito em uma educação em que famílias em conjunto com instituições de ensino formal e instituições eclesiásticas trabalhem em cooperação para o desenvolvimento pleno do ser humano, de forma tal a que este aprenda a trabalhar pelo bem estar próprio e de sociedade em que está inserido, seja de forma micro, ou macro. Para tal a sublimação e a não redução da energia vital ao sexo é de fundamental importância. 

Por ora deixo este texto incompleto aguardando os possíveis desdobramentos legais e filosóficos da questão. 

Marcelo Medeiros

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Um alerta à Igreja atual



Mas como verificar se um pastor é, ou não regenerado? Simples: a boca fala aquilo que o coração está cheio. Assim, podem até pregar um Cristo, mas será um Cristo caricato, segundo seus corações, e também pelos frutos, afinal Jesus disse: 
Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis Mt 7. 16 - 20 ACF. 

Marcelo Medeiros.  

POLÍTICA PRA QUE POLÍTICA??????


Os que acompanham meu perfil nas redes sociais, devem indagar a si mesmos a respeito das intenções de um pastor ao escrever sobre política. Recentemente compartilhei este post no whatsapp me disseram que política era coisa imunda. Há poucas horas vendo o Facebook, vi o post de alguém que afirma não adiantar reclamar de políticos, eles não vão mudar. Pensando bem concordo com ambas. Vou parar de escrever sobre política? De forma alguma. 

No primeiro caso, a politica é soma daquilo que os homens são em seu interior. Aristóteles definiu o homem como um animal político .Animal, eis o problema. A ambiguidade humana é tal que mesmo sendo um ser racional e produtor de cultura, o homem, às vezes, desenvolve um comportamento pior do que aqueles. Isto se reflete na forma de fazer política. Como teólogo, estou falando aqui de corrupção radical, ou depravação total. O problema é que se tenho de abandonar a empreitada política por conta da corrupção humana, terei de abandonar tudo o mais. 

A corrupção humana vai até onde o poder e a impunidade (falo da condição de fazer o que se quer independente de qualquer limite moral, e de preferência escapando a quaisquer sanções), permitem. A corrupção política interessa ao chefe que deseja ter o poder sobre o empregado para lhe dizer a porta da rua é a serventia da casa. Interessa igualmente aos que dela se beneficiam, ou seja, não é exclusiva dos profissionais da política, mas de comum à toda a pólis (leia-se cidade). Afinal, ser político é tratar dos interesses da cidade. E acredite: o que se decide nas câmaras municipais e federais e Assembleias Legislativas, nos afeta sim. 

Não acredito que políticos mudem. No caso dos brasileiros, eles possuem uma visão distorcida de que  os cargos que exercem não exercem para o bem público. Este conceito se quer existe na mentalidade deles, apenas em discurso. Quando falam em bem público, em crescimento do país, na verdade estão se referindo a classe que representam: o latifúndio, os banqueiros, empresários de grande porte. E como eles vão bem, mudar para quê? E escrever para quê?

A resposta é simples: quando posto algo aqui, no Facebook, ou no whatsapp, o que espero é deflagar um processo de conscientização cada vez maior. Para que políticos mudem, digo para que o congresso, as assembleias, as câmaras municipais, judiciário e executivo mudem, nós precisamos mudar. Cosmovisão, conceitos, prioridades, tudo precisa ser mudado. Um exemplo pode ser retirado da tensão entre interesse público e privado. 

É mais do que lógico que havendo a possibilidade de conciliação entre um bom salário e a possibilidade de prestação de serviços relevantes à sociedade em que estamos inseridos, isto é muito bom. Mas a tensão não se resolve tão bem assim. Às vezes um, ou outro, ou ambos, colocam o cidadão em rota de conflito com interesses previamente estabelecidos. Meu modo de ser político é escrevendo, tocando e até pregando e ensinando, É como sirvo minha pólis


Marcelo Medeiros, 

sábado, 18 de novembro de 2017

Quando a lei e a justiça se desentendem


Um dos fatos mais revoltantes desta semana, foi a ação da ALERJ, para a soltura dos deputados estaduais: Picciani, Paulo Melo e Albertarssi. Não pretendo discutir aqui ritos, legalidade, por uma razão bem simples. Não sou especialista na área. Outro fator a ser considerado: nem tudo que é corrupto é ilegal. 

Foi no mínimo estranho ver todos os deputados do PDT, votarem com Picianni. Nem PSOL e nem PT foram unânimes em seus votos. O que falar de Cidinha Campos e de Zaqueu Teixeira? Agora o mais curioso é o arguemento apresentado por eles, que pode ser resumido nas seguintes palavras: Votei em consonância com constituição. Mesmo? A constituição passou por mais de cinco mudanças ao longo da História. 

Ser legal não é o mesmo que ser Ético. A injusta morte de Sócrates, foi legal. Em outras palavras nem sempre lei e justiça se entendem de fato. E no Brasil já faz tempo que ambas estão dando lá as suas cabeçadas. No que toca ao combate à corrupção é que tal se faz sentir em sua visceralidade. Aqui se faz necessário recorrer à reflexão Ética, à Filosofia em si. 

Gosto muito da forma com a qual Mário Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Filho definem a corrupção. (Esta conceituação pode ser encontrada em livro que tem por título: Ética e Vergonha na Cara). Citando Mark Warren Clóvis propõe que:
A corrupção é a exclusão sistemática de certos grupos da real vida política de uma sociedade [...] é o desatendimento sistemático dos interesses contrário. A corrupção seria exatamente isto: a exclusão sistemática e permanente de certos seguimentos da sociedade em proveito de outros. E perceba qual é a graça desta definição: é que ela não vincula necessariamente corrupção ao ato de ilegalidade. É perfeitamente possível que tudo aconteça na mais perfeita legalidade. Mas todas as vezes que dentro de uma sociedade houver discriminação permanente de um grupo em detrimento de um grupo, ou de outros grupos que são sistematicamente beneficiados, há aí uma situação de corrupção. 
Mas em que situação isto se aplica ao evento da véspera desta postagem, ou às decisões da suprema corte em deixar por conta do próprio legislativo a prisão e soltura de deputados (aplicada no  Senando na soltura de Aécio, na câmara dos deputados, assembleias legislativas e nas câmaras municipais)? Seguindo a leitura pode se visualizar uma resposta retomando a fala de Clóvis de Barros Filho para quem 
essa sensação de que aqueles que detém o poder de decisão não estão levando o povo em consideração é uma sensação diretamente ligada à ideia de corrupção proposta pelo professor Warren - ideia que me pareceu destacar-se por apresentar algo diferente quando examinei as diversas definições de corrupção. 
A voz do povo nas ruas foi calada pelas bombas de efeito moral, pelas vozes dos que não conseguem enxergar para além da polarização politica e acima de tudo pela omissão de um povo que ainda vai demorar muito para aprender o quanto a corrupção é e pode ser nociva, independentemente do seu aparente caráter de legalidade.   

A cristãos como eu a opção do caminho da esperança equilibrista. Esperança que produz o esperança e que se traduz na expectativa de que a justiça e a paz se beijem algum dia, e de que a graça e a verdade se encontrem. Sabedor de que sem este encontro não haverá o famoso ósculo entre justiça e paz. 

Marcelo Medeiros

A coroa de espinhos de Francisco


Aquele que pretende ser um representante de Cristo aqui na terra precisa estar preparado para ser julgado de forma tão cruel quanto Cristo o foi. 

Há exatos três anos atrás, segundo o Facebook, escrevi este artigo aqui. Na ocasião julguei ofensivo o gesto das meninas. Com o passar do tempo e com as mais variadas manifestações empregando as imagens da crucificação, fui percebendo que como cristão não deveria ficar ofendido, neste post alcanço a presente compreensão. 

Mas reitero uma percepção que alcancei na época, a de que se quisermos, enquanto cristãos sermos relevantes no presente século, precisamos nos antecipar ao mundo no tocante às questões e reivindicações das minorias. Não se trata de ver o comportamento deles (inato, aprendido, ou socialmente construído), como correto, mas de não compactuar com quaisquer forma de injustiça. 

Segundo, precisamos aprender a lidar com mansidão diante das controvérsias. As respostas que temos nem sempre irão agradar. Existe gente impregnada com uma aversão tal pela religiosidade (aqui não pretendo entrar no mérito, a respeito do quanto estejam certas, ou erradas), que ainda que nós religiosos se posicionem contra toda forma de sexismo, opressão e injustiça, seremos cada vez mais alvo de oposição. 

Um problema grave é o posicionamento que pessoas religiosas estão tendo na esfera pública. Digo problema para uma sociedade secularizada cuja percepção a respeito da religião é a de que a mesma deve ser relegada à esfera privada. Não será um debate nada fácil. A opinião de alguns cristãos nada preparados para o debate e o crescente anti intelectualismo no meio pentecostal associado à eleição de vozes que representam esta parcela dos evangélicos agrava ainda mais o quadro. A Saída?
Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, Tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo. Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo mal. 1 Pedro 3:15-17

Marcelo Medeiros.  

domingo, 15 de outubro de 2017

A salvação e o Advento do Salvador



O termo salvação implica a noção de livramento, libertação. Para Stott, se no tempo de Jesus a salvação possuía correlação com vida eterna, no presente momento, ela se relaciona com a noção de liberdade. Edward  define como sendo a libertação da punição em consequência do pecado, e a admissão na vida eterna, e felicidade no Reino de Cristo, o salvador.


No novo Testamento, dois termos são empregados para expressar o conceito são σωζω (soodzo), e σωτηριον (sooterian, ou sooterion), empregados respectivamente para livramento temporal e espiritual. Tanto o léxico do Novo Testamento grego, de Edward Robinson, as notas exegéticas da Bíblia de Estudo Palavra chave, e o léxico do Novo Testamento grego de Gingrich e Danker, possibilitam o entendimento de que mesmo quando aplicados em relação aos perigos temporais, tais verbetes indicam que o fundo do problema é o pecado.


É sob este prisma que σωζω precisa ser compreendido, uma vez que os evangelistas o empregam para os relatos das curas de Jesus (Mt 9. 21 - 23; Mc 5. 23, 28, 34), livramentos temporais (Mt 8. 21 - 27), e salvação espiritual (Mt 18. 11; Lc 9. 56; 19. 10). Esta introdução se faz necessária em razão de uma maior concatenação entre a lição de escola bíblica e a exegese bíblica.

A razão de ser do advento de Jesus, cujo nome significa salvação, é a salvação dos homens de seus pecados. Isto é afirmado inicialmente no sonho de José, onde o anjo lhe explica a natureza da concepção de Maria.
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Que estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco. E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus (Mt 1. 18 - 25 ACF). 
Neste texto Jesus é ao mesmo tempo aquele que salva o povo dos seus pecados e por isto ele é Deus presente. As expectativas, outrora depositadas na descendência davídica, agora recaem sobre Jesus. Ele é o DEUS CONOSCO. Aqui o alvo da salvação é a nação de Israel, à nação judaica se destina a salvação (γαρ σωσει τον λαον αυτου απο των αμαρτιων αυτων -  porque ele salvará o seu povo dos seus pecados).

Em sucessivos textos dos Evangelhos Jesus identifica a salvação como sendo seu propósito maior.
Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus. Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido (Mt 18. 10, 11 ACF). 
Neste contexto a pergunta é a respeito de quem é o maior no Reino dos céus, o que faz com que Jesus pegue uma criança e a coloque entre os seus discípulos. Brennan Manning afirma que na época de Cristo, as crianças não eram vista de forma idealizada, mas com desprezo. Jesus identifica o desprezo direcionado às crianças com a situação do pecador perdido, e mais: diz que os que se identificam com os mesmos são o alvo de sua obra.

Neste contexto é inserida a parábola da ovelha perdida, sendo neste contexto cada pequenino uma ovelha e Jesus, o Pastor que vai em busca dos tais. Esta mesma fórmula se repete ainda mais duas vezes em Lucas. Na primeira, na ocasião em que os samaritanos opõem-se à passagem dele pelo seu território, e os discípulos propõe-se a clamar para que desça fogo do céu, ao que Jesus responde: que o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia (Lc 9. 56 ACF).

Lucas também narra a história de Zaqueu, um coletor de impostos que queria conhecer quem era Jesus, e para tal subiu em um pé de figueira brava. Convidado por Jesus para que descesse, ele recebe a Jesus com alegria e motivação de repartir seus bens com os pobres e restituir tudo o que ele havia defraudado alguém. Diante de tal reação Jesus diz: 
E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19. 7 - 10 ACF). 
A expressão para perdido é απολωλος (apoloolos) que vem do verbo απόλλυμι (hapólymi). O prefixo από denota intensidade, ao passo que όλλυμι denota destruição. A criança desprezada, a prostituta, e o publicano odiado foram terrivelmente afetados pelo pecado e destruídos intensamente pelo efeito do mesmo. Daí a necessidade de um salvador.  

Ao longo dos Evangelhos sinóticos σωζω será empregado para os eventos de cura, sempre acompanhado da expressão a tua fé te salvou (Mt 9. 22; Mc 5. 34; Lc 8. 48; 17. 19; 18. 42). Estas curas são sinal da presença do Reino, ser curado é indício de ser alcançado pela presença do Reino de Deus. 

Por último, 
E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele (Jo 3. 14 - 17 ACF). 
Quem crê em Jesus não perece, mas tem a vida eterna. Esta verdade é afirmada duas vezes no texto. Também é dito que Deus enviou seu filho ao mundo para que o mundo fosse salvo por ele. Estas palavras encontram eco na fala de Paulo a seu filho na é, Timóteo:
Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna (I Tm 1. 15, 16 ACF). 
A razão de ser do advento de Cristo, foi a salvação dos pecadores. Ele se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo (I Tm 2. 6 ACF). Esta verdade te, de ser mantida acesa em nossos corações e em nossas mentes. 

Marcelo Medeiros, em Cristo. 

sábado, 22 de julho de 2017

O SENHOR E SALVADOR JESUS CRISTO


Estudar a respeito da pessoa e Jesus Cristo é de suma importância. Os cristãos precisam ter em mente a resposta para a pergunta que Cristo fez aos seus discípulos: e vós quem dizeis que eu sou? Jonh Stott destaca a tendência ao longo da História da Igreja em criar personagens caricatas da pessoa de Jesus, sendo que a salvação é dada unicamente aos que creem em Cristo como dizem as Escrituras. 

por este motivo acredito que o estudo a respeito da pessoa de Cristo, precisa de ser precedido pelo estudo a respeito da autoridade da Bíblia. Somente a partir da inerrância das Sagradas Escrituras, posso acreditar que os Evangelhos façam um retrato fidedigno de Cristo. Não é difícil ver em Jesus a figura de um filósofo, de um poeta, de um comunista, conforme pode ser visto aqui

Por mais bela, inteligente, útil e sedutora que possa ser a construção do Jesus histórico da Teologia Latino Americana, por exemplo, e por mais que coadune em alguns aspectos, percebo que não posso perder de vista as afirmações de Lewis a respeito do Jesus histórico, para quem tais procedem mais da necessidade de adaptar Cristianismo como politica. Através do personagem Fitafuso, ele afirma: 
Você perceberá que muitos escritores e políticos cristãos pensam que o Cristianismo começou a dar errado bem cedo, afastando-se da doutrina do seu Fundador. Devemos fazer uso dessa ideia para encorajar mais uma vez o conceito de um "Jesus histórico", que só será encontrado se eles se livrarem dos "acúmulos e perversões", posteriores, para depois compará-los com a tradição cristã. Na última geração de seres humanos, nós conseguimos estimular uma interpretação do tal "Jesus Histórico" em linhas mais liberais e humanitárias; agora formulamos um novo Jesus histórico, em linhas Marxistas, catastróficas e revolucionárias. As vantagens dessas interpretações, que esperamos modificar a cada trinta anos mais ou menos, são inúmeras. Em primeiro lugar, elas tendem a direcionar a devoção dos homens para algo que não existe, pois cada "Jesus Histórico" não existe na história. Os documentos dizem o que dizem, e não podem ser alterados; cada novo "Jesus Histórico", portanto tem de ser criado a partir destes documentos, suprimindo certos aspectos e exagerando outros, e também fazendo certas suposições [...]
Em segundo lugar cada uma dessas interpretações confia a importância do seu "Jesus Histórico" a alguma estranha teoria que se supõe que ele tenha pregado. Ele tem de ser um grande homem, no sentido moderno da expressão - um homem no fim de uma linha centrífuga e desequilibrada - um excêntrico que vende uma panaceia. Desse modo conseguimos distrair a mente dos homens daquilo que Ele É e daquilo que Ele Fez. [...] fazemos dele um simples mestre, e depois escondemos a própria semelhança essencial que existe entre seus ensinamentos e aqueles de todos outros grandes mestres de moral (LEWIS, p. 115, 116, 2007). 
Lewis começa criticando o reducionismo da maioria das vidas de Jesus, ou buscas pelo Jesus histórico, visto que o quadro pintado por aqueles que seriam as testemunhas oculares da vida de Cristo pintam um quadro bem diversificado. Esta diversidade de olhares a respeito da pessoa de Cristo aponta para o problema de sua extrema complexidade. Jesus é plenamente Deus (Jo 1. 1, 2; 20. 28; Rm 9. 5; Tt 2. 13), homem perfeito (Gl 4. 4, 5; I Tm 2. 5), pastor (I Pe 2. 25), mestre (Jo 3. 2), apóstolo (Hb 3. 1), rei (I Tm 6. 16), juiz (Jo 5. 22), sacerdote (Hb 4. 14 - 16). 

A fonte para toda e qualquer busca a respeito da pessoa e obra de Cristo tem de ser a Escritura, com sua diversidade de olhares a respeito da pessoa e obra de Cristo, desde o Filho de Abraão e de Davi, até o REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES do livro do Apocalipse. A visão de Cristo como mero mestre de moral (tendência das percepções reducionistas), impede a percepção de que como tal Jesus seria mais um . dentre tantos outros que vieram. 

O presente estudo reflete, em termos, o terceiro artigo do cremos das Assembleias de Deus. Que assevera: cremos, 
No Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, plenamente Deus, plenamente Homem, na concepção e no seu nascimento virginal, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e em sua ascensão vitoriosa aos céus como Salvador do mundo (Jo 3.16-18; Rm 1.3,4; Is 7.14; Mt 1.23; Hb 10.12; Rm 8.34 e At 1.9). 
Este destaca: 1) o Senhorio de Cristo; 2) sua procedência do Pai; 3) sua divindade; 4) sua humanidade; 5) nascimento virginal; 6) morte expiatória e vicária; 7) ressurreição e ascensão, bem como sua posição como salvador, sendo intimamente ligadas uma à outra. Na perspectiva de Jonh Stott, tanto o senhorio quanto a divindade de Cristo estão intimamente ligados. Para este,
quando o Antigo Testamento veio a ser traduzido para o grego em Alexandria, cerca de 200 a. C., os devotos e estudiosos judeus não sabiam como lidar com o nome sagrado de Javé, ou Jeová. Eles eram reticentes demais em pronunciá-lo; não sentiam a liberdade para traduzi-lo, ou mesmo para transliterá-lo. portanto eles colocavam em seu lugar a paráfrase ho Kyrios, ("o Senhor"), razão pela qual Javé ainda aparece na maioria das versões como "Senhor" [....]
O que realmente é impressionante é que os seguidores de Jesus, sabendo que, pelo menos em círculos judaicos, ho Kyrios, era o título tradicionalmente dado a Javé, criador do Universo, e o Deus da aliança de Israel, não tinham escrúpulo de aplicar o mesmo nome a Jesus, nem viam nenhum mal em fazê-lo (OUÇA O ESPÍRITO, OUÇA O MUNDO, P. 98). 
Na perspectiva do autor era uma confissão de admissão da divindade de Cristo. Mais do que isto: falas tipicamente atribuídas a Iahweh são aplicadas à pessoa de Cristo no Novo Testamento. Então todo aquele que invocar o nome de Iahweh, será salvo. porque no monte de Sião e em Jerusalém haverá ilesos - como Iahweh falou - entre os sobreviventes que Iahweh chama (Jl 3. 5 Bíblia de Jerusalém [2. 32]). 

Este mesmo texto recebe um tratamento bem fundamentado de Stott. Minha pretensão é a de que apenas a confissão de Fé da Igreja primitiva sejam suficientes. Nesta o Senhorio de Cristo e sua obra de salvação se encontram explicitamente.
A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (Rm 10. 9 - 13). 
A confissão de Cristo aliada à crença na ressurreição dentre os mortos á condição para a salvação. Note que aqui Jesus é chamado de κυριον (Kyrion). Perceba que não se trata de mera aceitação do pecador a Jesus. Não é a admissão de seu senhorio que traz a condição para a salvação. Daí apos citar Isaías Paulo cita Joel associando Jesus à Iahweh.

Na perspectiva joanina, ele é o ο λογος (hó logos) criador, que participa da criação, com o Pai e com o Espírito. 
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (Jo 1. 1 -  5). 
Neste último texto a figura de Jesus é associada ao λογος, que por sua vez é a associada à sabedoria no judaísmo helênico, conforme destaca Esequias Soares em seu livro Cristologia lançado pela Hagnos. Em primeiro lugar, é afirmado aqui que λογος estava com Deus. E em outros momentos Jesus fala de uma glória que tinha junto ao Pai antes da fundação do mundo. 
E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo (Jo 17. 5, 24 ACF). 
Ele estava com Deus no princípio (Jo 1. 2 NVI).  Em segundo lugar λογος é Deus. Jesus é Deus pois tem o poder de fazer as mesmas coisas que o Pai, dentre as quais exercer o juízo, salvar e dar vida aos mortos, conforme de pode perceber neste texto. 
Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis. Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem. Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação. Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou (Jo 5. 19 - 30 ACF). 
Não bastassem tais elementos, à semelhança de Paulo, João afirma que Jesus é digno de semelhante honra que o PAI tem. Ainda que arianos e subordinacionistas amem textos como este, a verdade é que o judeu entendia perfeitamente bem que ao se afirmar FILHO DE DEUS, JESUS SE EQUIPARAVA AO PAI.

Em terceiro lugar à semelhança do PAI, λογος é fonte de vida. Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. E: como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo

JESUS É SENHOR E SALVADOR.  

quinta-feira, 20 de julho de 2017

A Santíssima Trindade: Um Só Deus em Três pessoas


O Estudo a respeito da doutrina da Trindade é um desdobramento do segundo artigo do cremos das Assembleias de Deus. Na lição de número dois há a abordagem a respeito do monoteísmo. O segundo artigo do cremos afirma que há um só Deus, que por sua vez subsiste em três pessoas: a do Pai, a do Filho, e a do Espírito Santo.

Não é um ensino que se possa embasar facilmente em textos isolados do Antigo Testamento. De forma alguma! É comum a recorrência aos textos que falam da criação, da torre de Babel, e outros do tipo, para fundamentar a doutrina da Trindade no Antigo Testamento. Mas há um problema com relação a este tipo de exegese: a resposta judaica. O texto bíblico versa:
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1. 26, 27 ACF).
Antes de apresentar a resposta judaica, preciso pontuar, explicar que sou cristão trinitariano. Acredito em trindade. Somente Deus poderia suportar o que Cristo suportou, e somente como Deus/Homem, Cristo pode socorrer perfeitamente todo aquele que o invoca. Somente Deus pode suportar a rebeldia nossa de cada dia, nossas resistências diárias e o Espírito o faz.

Mas o maior problema com relação à toda forma de rejeição da Doutrina da Trindade é que sendo Deus Espírito infinito a pessoalidade é o único ponto de contato possível entre este e o homem, conforme asseverado por Shaeffer em sua trilogia: O Deus que se revela, O Deus que intervém, A Morte da Razão. Mas como um Deus que é um só pode ser pessoal? Claro que aqui cabe o questionamento a respeito da aplicabilidade do termo a Deus. Mas fato é que mesmo a Hagadá de Gênesis 2 evoca um relacionamento de amor entre Deus e Israel, e entre aquele e a criação.

Logo, em consonância com o pensamento de Louis Berkhof, antes da criação do tempo Deus expressou sua personalidade em relacionamento de amor com seu Filho e de ambos com o Espirito Santo. Explicarei melhor este pensamento quanto postar aqui as citações de um livre pensador, que na minha opinião foi quem melhor soube expressar este pensamento: C. S. Lewis.

Meu propósito foi tão somente explicar que a despeito de ser cristão trinitariano não vejo o texto de Gn 1. 26, por exemplo como base para fundamentação do pensamento a respeito de Trindade, até porque a revelação a respeito de Deus é progressiva. Alguns exemplos: o nome de Deus, O Eterno não foi revelado aos patriarcas, foi a Moisés; não há espaço para uma angelologia elaborada em Gênesis (são seres espirituais? como comem, podem ser vistos pelos homens e desejados?); Abraão vê Deus, por que os demais não o podem? São questões que se respondidas conduzem ao caráter progressivo da teologia bíblica. Retornando ao pensamento da Hagadá.

A respeito de Gn 1. 26, eles afirmam:
É necessário explicar muito bem este versículo, porque a sua formação esconde muitas surpresas. Os idólatras defendem a existência de uma divindade múltipla e usam este texto como prova, porque nele se lê no plural: Façamos o homem [...]
No início da criação o Senhor deu vida a três artesãos: o céu, a terra, e a água. Confiou a cada qual uma tarefa e lhes deu a capacidade de lavá-la a bom termo. Deu ordens à água para que se juntasse e fizesse a parte enxuta, à terra para que desse origem aos corpos celestes que a iluminariam, e ao céu para que formasse o firmamento e separasse as suas águas. À água ordenou ainda que desse origem aos peixes e às outras criaturas. Desse modo, foram criadas todas as coisas, cada uma no seu dia mais apropriado, graças á esses três artesãos. No sexto dia todos se reuniram para ouvir o que o Senhor tinha para lhes dizer. 
Mas o Santo, Bendito seja, disse: "no dia de hoje quero criar a criatura mais importante do Universo, a qual chamarei Adão, homem. Nenhum de vós poderá realizar esta obra sozinho, muito embora tenhais contribuído para realizar o restante. Portanto deveis atuar juntos, e eu me unirei a vós. Vós havereis de prover os elementos para o corpo do homem, enquanto eu lhes darei uma alma santa e um espírito imortal". (Homem e mulher a Imagem de Deus - Hagadá de Gn 2).  
Desta perspectiva o termo façamos é uma junção poética por meio da qual o mesmo Deus que dera ordem à terra para que produzisse a relva e toda sorte de animais, e às águas para que produzissem répteis, aves e monstros marinhos, agora convoca a terra, o vento, as águas e tudo o mais para a composição do homem.

Uma outra perspectiva que aparece no próprio Hagadá é a de que a expressão Façamos seja na verdade aquilo que se chama plural de majestade.
Uma última razão é que o rei e as personalidades importantes muitas vezes empregam a primeira pessoa do plural para exprimir a própria majestade. Deus, por isso disse: Façamos o homem, para expressar a sua grandeza e onipotência. (Homem e mulher a Imagem de Deus - Hagadá de Gn 2).  
A mesma regra pode ser aplicada aos textos que falam da expulsão do Paraíso, da confusão das línguas na Torre de Babel (Gn 3. 22; 11. 6). Estas afirmativas não querem dizer que a trindade passa a existir do momento em que os pais cristãos passam a falar em Trindade. É o mesmo que afirmar que a lei da gravidade foi criada por Newton, pior passou a existir a partir do momento em que foi elaborada.

Um caso bem curioso que precisa ser pensado é o do famoso ANJO DO SENHOR, ou מַלְאַ֣ךְ יְהוָ֔ה, mala'k YHWH. Este fala como sendo o próprio Deus, mas na verdade é um mediador entre Deus e os homens. É assim nos casos de Hagar (Gn 16. 1 - 9); Abraão (Gn 22. 1 - 15ss); Moisés (Ex 3. 1 - 15), neste último texto percebe-se inclusive que o מַלְאַ֣ךְ יְהוָ֔ה arroga para si o nome do próprio Deus. Em Juízes se percebe que ele arroga para si ações que são exclusivas do próprio Iahweh.
E subiu o anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe à terra que a vossos pais tinha jurado e disse: Nunca invalidarei a minha aliança convosco. E, quanto a vós, não fareis acordo com os moradores desta terra, antes derrubareis os seus altares; mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso? Assim também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão como espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço. E sucedeu que, falando o anjo do Senhor estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo levantou a sua voz e chorou (Jz 2. 1 - 4 ACF). 
Aqui o מַלְאַ֣ךְ יְהוָ֔ה arroga para si a saída do Egito. Algo similar ao caso da sarça ardente, onde se diz que o מַלְאַ֣ךְ יְהוָ֔ה aparece para Moisés, mas depois se diz que Deus viu que ele se virou para ver o fenômeno, e que Deus fala. Juntando todas estes textos percebe-se aqui a mediação entre seres celestiais e o próprio Deus. Mas há uma diferença. 


Não se pode confundir a mediação dos anjos na apocalíptica judaica e em textos nos quais estes são portadores de algum tipo de revelação com a manifestação do anjo do Senhor (מַלְאַ֣ךְ יְהוָ֔ה). Aqueles não recebem adoração e nem o terror e o espanto comum por parte dos visionários. E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia (Ap 19. 10 ACF). 



Se anjos são espíritos ministradores que trabalhem em prol dos que hão de herdar a salvação (Hb 1. 14), se são conservos dos que guardam o testemunho de Cristo (Ap 19. 10), se são criaturas, ao invés de seres autônomos, como explicar que dentre os anjos que visitam a Abraão um deles aceite adoração. 



No livro Falsos Deuses Timothy Keller chama a atenção do leitor para um fator pouco observado. Na narrativa da luta de Jacó com um varão. Na medida em que a alva sob, ou que o dia nasce, o varão pede para que Jacó o libere. Keller afirma que a razão de tal é para que o patriarca não veja o rosto de Deus. O que fica claro no final do texto, que diz:  E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva (Gn 32. 20 ACF). 



O profeta Oséias fará uma significativa exegese deste texto ao dizer: 

O Senhor também com Judá tem contenda, e castigará Jacó segundo os seus caminhos; segundo as suas obras o recompensará. No ventre pegou do calcanhar de seu irmão, e na sua força lutou com Deus. Lutou com o anjo, e prevaleceu; chorou, e lhe suplicou; em Betel o achou, e ali falou conosco, Sim, o Senhor, o Deus dos Exércitos; o Senhor é o seu memorial (Os 12. 2 - 5 ACF). 
O profeta compara a contenda judicial com Israel (neste caso o Reino Norte), com a contenda que Jacó teve com o próprio Deus. Uma contenda que se inicia no ato do nascimento, na clara luta pela primogenitura, que se reflete na rivalidade com o irmão mais velho. É importante ter isto em mente, uma vez que a luta de Jacó com Deus no vau de Jaboc antecede a reconciliação deste com Esaú.

Tanto que quando se encontram Jacó afirma: se agora tenho achado graça em teus olhos, peço-te que tomes o meu presente da minha mão; porquanto tenho visto o teu rosto, como se tivesse visto o rosto de Deus, e tomaste contentamento em mim (Gn 33. 10 ACF). O encontro entre Deus e Jacó produziu reconciliação entre ele e seu irmão. Na verdade as trevas protegeram Jacó de ver Deus face à face.

Feita a exegese e interpretação mais básica do texto, convém apontar que para os interesses deste estudo basta a alternância entre as expressões Anjo (mala´k -  מַלְאַ֣ךְ), e Iahweh (יְהוָ֔ה). Primeiro se afirma que ele lutou com Deus, depois que lutou com o anjo e finalmente com o Deus dos exércitos. O pensamento de Keller reflete a ideia de que ninguém pode ver a Deus. 
Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá. Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar junto a mim; aqui te porás sobre a penha. E acontecerá que, quando a minha glória passar, pôr-te-ei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado. E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas; mas a minha face não se verá (Ex 33. 20 - 23 ACF). 
Por esta razão Gideão teme ao ver o Anjo do Senhor.
Porém o anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os pães ázimos, e põe-nos sobre esta penha e derrama-lhe o caldo. E assim fez. E o anjo do Senhor estendeu a ponta do cajado, que estava na sua mão, e tocou a carne e os pães ázimos; então subiu o fogo da penha, e consumiu a carne e os pães ázimos; e o anjo do Senhor desapareceu de seus olhos. Então viu Gideão que era o anjo do SENHOR e disse: Ah, Senhor DEUS, pois vi o anjo do SENHOR face a face. Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo; não temas; não morrerás (Jz 6. 20 - 23 ACF).
O mesmo dá-se com Manoá
Então Manoá disse ao anjo do Senhor: Ora deixa que te detenhamos, e te preparemos um cabrito. Porém o anjo do Senhor disse a Manoá: Ainda que me detenhas, não comerei de teu pão; e se fizeres holocausto o oferecerás ao Senhor. Porque não sabia Manoá que era o anjo do Senhor. E disse Manoá ao anjo do Senhor: Qual é o teu nome, para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos? E o anjo do Senhor lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso? Então Manoá tomou um cabrito e uma oferta de alimentos, e os ofereceu sobre uma penha ao Senhor: e houve-se o anjo maravilhosamente, observando-o Manoá e sua mulher. E sucedeu que, subindo a chama do altar para o céu, o anjo do Senhor subiu na chama do altar; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram em terra sobre seus rostos. E nunca mais apareceu o anjo do Senhor a Manoá, nem a sua mulher; então compreendeu Manoá que era o anjo do Senhor. E disse Manoá à sua mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto a Deus. Porém sua mulher lhe disse: Se o Senhor nos quisesse matar, não aceitaria da nossa mão o holocausto e a oferta de alimentos, nem nos mostraria tudo isto, nem nos deixaria ouvir tais coisas neste tempo (Jz 13. 15 - 23 ACF).
E Isaías
No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos (Is 6. 1 - 5 ACF). 
Na verdade, nem mesmo a Glória do Senhor pode ser vista em todo o momento.
Dize a Arão, teu irmão, que não entre no santuário em todo o tempo, para dentro do véu, diante do propiciatório que está sobre a arca, para que não morra; porque eu aparecerei na nuvem sobre o propiciatório (Lv 16. 2 ACF).
Deus não pode ser visto face à face por homem algum. Daí que na Teofania do Sinai, ele desça em nuvens espessas e em densas trevas. Stott afirma que somente em Cristo Deus pode ser visto sem criar temor e terror nos homens. Do contrário eles não suportam o peso da presença e da manifestação de Deus.

No Novo Testamento as aparições de Deus para Hagar, para os anciãos que vão ao monte com Moisés, e para Gideão, Manoá e Isaías ganham novo significado. Em primeiro lugar vê-se ali afirmação clara de que o λογος (LOGOS), identificando com a sabedoria divina no judaísmo helênico, e agora com Cristo é Deus.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (Jo 1. 1 - 5 ACF). 
De igual modo, entende-se no Novo Testamento que quem apareceu nas manifestações divinas foi o próprio Cristo.
Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles. E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele; Para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, entào Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure. Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele (Jo 12. 35 - 41 ACF).  
Em outro texto, as palavras de Iahweh para Isaías são atribuídas ao Espírito Santo.
E, como ficaram entre si discordes, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, Dizendo:Vai a este povo, e dize:De ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis;E, vendo vereis, e de maneira nenhuma percebereis. Porquanto o coração deste povo está endurecido,e com os ouvidos ouviram pesadamente,e fecharam os olhos,para que nunca com os olhos vejam,Nem com os ouvidos ouçam,Nem do coração entendam,E se convertam,E eu os cure (At 28. 25 - 27 ACF). 
Mas esta é uma percepção dos escritores e autores do Novo Testamento. Eles se tornaram convictos da divindade de Cristo, bem como de sua filiação divina a partir da ressurreição.  Foi assim com Tomé, que após tocar nas marcas dos cravos das mãos de Cristo disse: E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! (Jo 20. 28 ACF). Paulo afirma que Jesus nasceu da descendência de Davi segundo a carne, mas, foi declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 1. 3, 4 ACF).

Na percepção de Willian Lane Craig, foi a ressurreição de Cristo, o fator principal a fazer com que judeus monoteístas vissem Cristo como Deus. Mas como explicar a relação entre as três pessoas da Trindade, melhor, a dinâmica existente entre as mesmas? Se a pergunta for: o que vem antes deste Deus? a resposta é mais do que óbvia. Isto porque perguntar pelo que vem antes de Deus equivale a perguntar pelo que vem da letra a.

Por no mínimo três vezes o Apocalipse traz a declaração de que Cristo é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso (Ap 1. 8 ACF), E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida (Ap 21. 6 ACF), Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro (Ap 22. 13 ACF).

Em segundo lugar vem a questão a respeito de como um único Deus pode ser três pessoas, ou substâncias. Mais uma vez se faz necessário recorrer a C. S. Lewis, Franklin Ferreira e cia. A dificuldade de entender um único Deus em três pessoas, ou substâncias decorre do pensamento lógico matemático. No tocante a explicação da realidade tridimensional (espaço, tempo e matéria), tudo bem, mas quando se fala no além tempo - algo que não está na percepção humana, visto que não há quem tenha relação com a atemporalidade.

É aqui que reside toda, ou grande parte da  questão.
A diferença é a seguinte: na geração, o que foi gerado é da mesma espécie que o gerador. Um homem gera bebês humanos, um castor gera castorzinhos e um pássaro  gera ovos de onde sairão outros passarinhos. Mas, quando fazemos algo, esses algo é de uma espécie diferente. Um pássaro faz um ninho, um castor constrói uma represa, um homem faz um aparelho de rádio - ou talvez algo um pouco mais parecido consigo mesmo que um rádio; uma estátua, por exemplo. Se for um escultor habilidoso, sua estátua se parecerá muito com um homem. Mas é claro que não será um homem de verdade; terá somente a aparência. Não poderá pensar, nem respirar. Não tem vida. 
Este é o primeiro ponto que precisamos deixar claro. O que Deus gera é Deus, assim como o que o homem gera é homem. O que Deus cria não é Deus, assim como o que o homem faz não é homem.
É neste sentido que os crentes são chamados para serem filhos de Deus. Tanto que o Novo Testamento emprega duas linguagens para se referir ao fato de cristãos se tornarem filhos de Deus. A primeira é a da adoção, a segunda é a da geração. Mas mesmo quando Paulo fala de adoção na carta aos Romanos, ele fala de um processo de conformação à imagem de Cristo.

Pensar a Trindade hoje consiste em pensar relacionamentos. Somos seres relacionais porque Deus se relaciona dinamicamente por meio de três pessoas e o modo pelo qual tal se dá é a glorificação mútua entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Conhecer a Deus não consiste somente em ter informações a respeito de Deus, ou dedicar-se a uma ciência chamada Teologia. Não!

O conhecimento de Deus dá-se na via relacional. E somente é possível relacionar-se com Deus por meio de Cristo Jesus, e com este por meio do Pai e do Espírito. Mas a relação com Deus é convite para que o homem se relacione com o seu próximo, conforme visto na oração sacerdotal.
E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo (Jo 17. 20 - 24 ACF). 
Somente o teísmo trinitariano explica relacionamento. Em Cristo, Marcelo Medeiros.
  

sábado, 8 de julho de 2017

O Único Deus verdadeiro e a criação


Segundo James Crenshau os israelitas nunca fizeram a mais decisiva das perguntas a respeito do ser, eles dão a questão do ser como algo dado. E mais a identidade humana dá-se a partir da existência mais do que óbvia deste SER. Do mesmo modo há inúmeras declarações de que há um único Deus. Mas exatamente por darem a existência de Deus como um dado que não há demonstrações sistemáticas da existência do mesmo. 

Desde Santo Tomás de Aquino tem sido uma via normal tomar a natureza e a organização da mesma como prova da existência de Deus. Este é o caminho de apologistas evidencialistas como Norman L. Geisler. O próprio R. C. Sproul aponta a necessidade de uma escolha entre Kant e Aquino. Ele o faz em sua Filosofia para Iniciantes. A leitura destas palavras fez com que optasse por Pascal, para quem somente por meio de Jesus Cristo, Deus pode ser acessado e conhecido. Estas são algumas abordagens a serem feitas no presente post com a ajuda de Deus. 

Biblicamente falando a existência de um único Deus é temática predominante da teologia do Deuteronômio. Não entrarei em maiores detalhes a respeito de data e autoria. Mas ao que parece Israel sai do Henoteísmo (que é o serviço exclusivo à Iahweh, para o monoteísmo, e o texto que segue abaixo transcrito deixa isto muito claro. Em algum momento Israel creu que os deuses das demais nações fossem deuses. A confissão de fé deuteronomista solapa com esta crença. 
A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele [...] Por isso hoje saberás, e refletirás no teu coração, que só o Senhor é Deus, em cima no céu e em baixo na terra; nenhum outro há (Dt 4. 35 - 39 ACF). 
Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor (Dt 6. 4 ACF).
Saberás, pois, que o Senhor teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos (Dt 7. 9 ACF).
Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum deus há além de mim; eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão (Dt 32. 39 ACF).  
A criação é biblicamente ligada à eleição de Abraão, e ao fato de haver um único Deus.
Só tu és Senhor; tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e tu os guardas com vida a todos; e o exército dos céus te adora. Tu és o Senhor, o Deus, que elegeste a Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão (Ne 9. 6, 7 ACF). 
Mesmo admitindo a  existência de outros deuses, os poetas afirmam que nenhum deles é similar a Iahweh.
Entre os deuses não há semelhante a ti, Senhor, nem há obras como as tuas. Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor, e glorificarão o teu nome. Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus (Sl 86. 8 - 10 ACF). 
Neste texto ainda se admite a possibilidade de outros deuses, embora já exista o conceito de que os deuses das nações são obra das mãos dos homens.
são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta (Sl 115. 4 - 7 ACF).
Mas os profetas não deixarão margem para dúvida alguma. Pelo contrário, neles se afirmará:
Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador (Is 43. 10, 11 ACF).
Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus. Não vos assombreis, nem temais; porventura desde então não vo-lo fiz ouvir, e não vo-lo anunciei? Porque vós sois as minhas testemunhas. Porventura há outro Deus fora de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça  (Is 44. 6, 8 ACF). 
Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Assim diz o SENHOR: O trabalho do Egito, e o comércio dos etíopes e dos sabeus, homens de alta estatura, passarão para ti, e serão teus; irão atrás de ti, virão em grilhões, e diante de ti se prostrarão; far-te-ão as suas súplicas, dizendo: Deveras Deus está em ti, e não há nenhum outro deus (Is 45. 5, 6, 14 ACF).  
Esta mesma fórmula se repete no Novo Testamento.
Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor (Mc 12. 29 ACF).  
Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só (I Co 8. 4 ACF).  
Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós (Ef 4. 4 ACF).  
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem (I Tm 2. 5 ACF).  
Mas como ele se relaciona com a criação? Em primeiro lugar é biblicamente afirmado que Deus é o criador dos céus a da terra.
No princípio criou Deus o céu e a terra (Gn 1. 1 ACF).
Que foram feitos pela Palavra de Deus.
Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca (Sl 33. 6 ACF).  
Louvem o nome do Senhor, pois mandou, e logo foram criados (Sl 148. 5).
Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente (Hb 11. 3 ACF).
perceba que o entendimento de que os céus e a terra são obra das mãos de Deus procede de fé. Pela pura e simples razão não se alcança tal entendimento. Faço uso da expressão pela pura e simples razão, por entender que a fé não se opõe ao intelecto.  A expressão νοουμεν (noomen), advém do verbo νοιέω (noiéoo), cujo sentido é o de exercitar a mente, observar, perceber, entender, compreender. Na mentalidade dos autores bíblicos não existe oposição entre fé e entendimento. 


A Bíblia também dá a entender que Deus se distingue de sua criação, embora se faça presente na mesma, não se confunde com esta. Ele é eterno, mas a sua criação passará. 

Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim (Sl 102. 25 - 27 ACF).  
É igualmente afirmado que a criação é mantida e sustentada pelo próprio Deus. Na Teologia Sistemática de Berkoff o autor abre uma discussão a respeito da dinâmica de vida e morte na criação. Mas é com Adauto Lourenço que vem luz sobre a matéria. Por estar ligada ao tempo, a matéria é sujeita à mudança. Se é assim, como explicar a entrada da morte através do pecado, conforme se vê na cosmovisão bíblica. 

Adauto Lourenço afirma que a matéria, como toda a criação foi feita para ser sustentada por Deus. Assim, o norte estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre o nada (Jó 26. 7 ACF), faz subir os vapores das extremidades da terra; faz os relâmpagos para a chuva; tira os ventos dos seus tesouros (Sl 135. 7 ACF), Jeremias diz que: fazendo ele soar a sua voz, logo há rumor de águas no céu, e faz subir os vapores da extremidade da terra; faz os relâmpagos para a chuva, e dos seus tesouros faz sair o vento (Jr 10. 13 ACF). 

Deus não é somente criador, ele é mantenedor da natureza. Ele faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos (Mt 5. 45 ACF). O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas (At 17. 24, 25 ACF). 

Longe de me por contra a comunidade científica, há que se observar que do ponto de vista cristão é inviável a afirmação de que a natureza seja obra do acaso. Conheço alguns esboços de síntese entre pensamento cristão e científico, mas não abro mão do pressuposto de que o Universo exibe sim uma inteligência ímpar. Não há espaço para o acaso. Neste estudo faço algumas observações que julgo pertinentes a respeito da criação, mas citarei uma fala a respeito da inteligência da criação. 
Sir James Jeans, o famoso astrônomo britânico disse certa vez: “o universo parece ter sido desenhado por um matemático puro”. Joseph Campbell escreveu também sobre “a intuição de uma ordem cósmica matematicamente definível”. Contemplando a ordem da Terra, do Sistema Solar e do Universo estelar cientistas e estudiosos concluíram que o grande projetista não deixou nada para o acaso.A inclinação da terra, por exemplo, de 23 graus, produz as nossas estações. Os cientistas dizem-nos que, se a terra não tivesse a inclinação que tem, os vapores dos oceanos mover-se-iam para norte e sul cobrindo os continentes de gelo. Se a lua estivesse a 80 mil quilômetros da terra, em vez de 320 mil, as marés seriam tão enormes que todos os continentes seriam submergidos pela água – até as montanhas seriam afetadas pela erosão. Se a crosta terrestre fosse apenas três metros mais grossa, não haveria oxigênio, e sem ele toda vida animal morreria. Se os oceanos fossem uns poucos metros mais profundos, o dióxido de carbono e o oxigênio teriam sido absorvidos e nenhuma vida vegetal poderia existir. O peso da terra estimado em seis sextilhões de toneladas (isto é um seis seguido de vinte e um zeros). Ela tem, ainda assim, um equilíbrio perfeito, e gira com facilidade em torno do seu eixo. Ela revolve diariamente à razão de mais de mil e seiscentos quilômetros por hora, ou quarenta mil quilômetros por dia. Num ano isto dá mais de catorze milhões de quilômetros. Considerando o extraordinário peso de seis sextilhões de toneladas, girando a essa fantástica velocidade ao redor do seu eixo invisível, as palavras de Jó 26. 7 assumem significado sem paralelo: “Ele ... faz pairar a terra sobre o nada”. Jó nos convida ainda a meditar sobre “as maravilhas de Deus” (Jó 37. 14). Considere o sol. Cada metro quadrado da superfície do sol emite constantemente um nível de energia de cento e trinta mil cavalos força (isto é aproximadamente 450 motores de oito cilindros [...]. Ainda assim o sol é apenas uma estrela menor nos cem bilhões de astros que compõem a nossa via Láctea [...] quando tentamos apreender mentalmente as quase incontáveis estrelas e outros corpos celestes, encontrados na nossa Via Láctea, apenas, somos levados a ecoar o hino de louvor de Isaías ao poderoso criador: “Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exercito de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome, por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar (MANNING, 2005).
Norman L. Geisler aponta para uma infinidade de fatores em seu livro Não Tenho Fé Suficiente para ser Ateu. A perspectiva é tomista, visto que o autor é um tomista. A despeito da fala de Sproul, para quem há de se fazer uma escolha entre Santo Tomás de Aquino e Kant (que desestabilizou a maioria dos argumentos que demonstravam a existência de Deus). Para mim existe a via do meio: Pascal. 

Para Pascal a natureza só revela Deus para quem tem a luz da fé acesa em seu coração. Fora disto Deus só pode ser conhecido por meio de Jesus Cristo. Face ao que foi dito pelo autor, tudo o que posso dizer é que sem a graça a revelação da natureza se transforma em sensação estética. 

Sobre o Evolucionismo: não há como negar o surgimento e o desaparecimento de algumas espécimes, a mutação biológica também, ainda que não existam provas de que estas dêem origem a outras espécimes, mas a variações de uma mesma - é o que ocorre entre cachorros, por exemplo - mas este é um longo debate. 

Marcelo Medeiros, em Cristo.   
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