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terça-feira, 28 de julho de 2020

O Covid e o Presidente





Há alguns dias veio a público a notícia de que o presidente da República federativa do Brasil havia contraído o COVID-19.  A notícia despertou duas reações antagônicas de um lado, o simpatizantes do atual chefe de Estado desejando as melhoras e de outro os militantes contrários desejando boa sorte ao vírus. Não tardou para que aparecesse na rede social (o Facebook) militantes pró governo se lembrando da moral cristã (outrora esquecida), para condenar os que (sendo ou não cristãos), estavam torcendo pelo vírus.

Analisar tal situação do ponto de vista filosófico demanda tempo, e paciência. Tempo por conta da leitura necessária para entender a questão da bio e necropolítica. Paciência para explicar algo que demanda racionalidade e senso filosófico, para pessoas inteiramente dominadas pela passionalidade e pelo personalismo. Mas o que busco analisar aqui é algo bem mais simples: a incoerência Evangélica, ou a incoerência política dos evangélicos.

Evangélico é todo aquele que acredita e busca pautar a vida pelo Evangelho. na verdade norteia a sua ética pelos valores do Evangelho. Quais Valores são estes? Justiça, Mansidão, Juízo, Misericórdia, Espírito Pacificador, Disposição em Sofrer pela causa da Justiça, Amor, etc... Um bom resumo da ética do Evangelho (se é que se possa falar nisto), é a regra de ouro: tudo quanto quiserdes que os homens vos façam fazei primeiramente a eles, por que nisto consistem toda lei e os profetas (Mt 7. 12), simples né?! Diante disto façamos um breve exercício.

Como gostaria que as pessoas agissem comigo diante do meu luto? Acredito que todos gostariam de ver solidariedade para com seu luto pessoal. Duvido muito que frases do tipo: "fazer o que? um dia todos iremos morrer", ou um "e daí?" não são as que esperamos que nos sejam ditas e nem as que diríamos aos enlutados com os quais demonstraríamos o mínimo de empatia. Falo aqui como cristão.

Não sem razão a Bíblia manda chorar com os que choram, e se alegrar com os que se alegram. E por quais razões o faz? No intuito de que aprendamos a empatia. O problema é que estranhamente este e todos os demais exemplos foram esquecidos por nós evangélicos e elegemos alguém cuja fala contraria tais valores. Não bastando isto, quando vieram as falas que demonstravam clara indiferença para com a os mortos e as famílias enlutadas, alguns setores justificaram tais falas.

Estranhamente diante da doença do presidente ungido sobejaram os pedidos de oração. Os mesmos pedidos ausentes quando se tratou das mais de setenta mil família enlutadas por conta da pandemia. Pesquisei o assunto na internet e confesso que me deparei com alguns sites de Igrejas com suas campanhas de oração em prol de famílias enlutadas, e me comovi com tal exemplo de solidariedade. Mas vi pouco em minha rede social.

Como cristão reconheço o meu dever de orar por todos os homens (I Tm 2. 1, 2). E sei que minhas preferências político partidárias não devem interferir nisto. Na verdade quanto maior minha aversão pelo objeto de minha intercessão mais filho de Deus sou quando oro por eles e o faço desejando o bem dos mesmos (Mt 5. 43 - 48). Mas não posso deixar de achar estranho o discurso dúbio de quem dizia ser o COVID um juízo de Deus por causa da imoralidade deste mundo (algo comprovadamente errado diante da morte de muitos crentes e servos de Deus), pedir oração porque aquele político de sua preferência, o "defensor da moral e da família" foi infectado.

Mais estranho ainda é a contradição entre ser cristão evangélico e contrário aos direitos humanos (algo que advém da visão cristã de mundo, e que foi apropriado pelo humanismo secular), sob o argumento de que bandido quando morre colhe o que plantou. Mas quando vê seu político de estimação sendo hostilizado se esquece de que o mesmo hostilizou e desejou a morte de seus adversários políticos. Pior, sequer suportam que tal seja trazido à memória! Exigem que não cristãos amem seus adversários, quando não têm o mínimo medo de expor seu ódio aos candidatos "de esquerda" nas redes sociais. 

Tais questões apenas comprovam que o COVID-19 manifesta aquilo que há de melhor, e o que há de pior em nós, e neste caso tem manifesto muito do que há de pior. A contradição, a incoerência, o vitimismo, a atração pelo non sense (neste caso o manifesto pelo gosto por teorias da conspiração, principalmente as narrativas em que a eleição do atual chefe de Estado da República é vista como uma estratégia para barrar o comunismo, seja lá o que isto signifique na atualidade). 

Marcelo Medeiros. 
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