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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Minha impressão a respeito do resultado da última eleição




Não é de hoje que venho me pronunciando aqui neste espaço a respeito de um clima nada sadio do ponto de vista político. A questão da polarização entre PT e PSDB, esquerda e direita, comunismo e capitalismo, que tem dominado o cenário político da atualidade. Além de inúmeras confusões conceituais que se percebem, há ainda o clima de medo que impera em nosso meio.

Há quem vote em candidato x por medo que o candidato y transforme este país em uma versão do que é a Venezuela em na atualidade. Este ambiante vem dominando as discussões políticas desde a primeira eleição de Dilma, na qual o PT apostou no medo da volta do PSDB ao poder e na supressão das políticas assistencialistas do partido dos trabalhadores (algo que merece um post à parte). 

Mas foi neste último pleito eleitoral que apareceu um candidato que prometia ser exatamente o oposto de tudo o que o PT representava, e para infelicidade da nação, o oposto até naqueles pontos em que o PT acertou. este trouxe consigo um novo medo, o medo de que o Brasil se torne algo como a Alemanha Nazista, ou a Itália Fascista.

Eu sei das sucessivas tretas na internet a respeito das similaridades entre Nazismo, Fascismo e Comunismo, por conta do nome do partido de Adolph Hitler. Mas o fato inconteste é que tanto um quanto o outro ascenderam ao poder com o apoio da religião de seus respectivos estados, algo, que ao que parece não aconteceu em regimes comunistas, que a partir de uma leitura seletiva de escritos socialistas procuraram sufocar ao máximo a religião em seus estados, permitindo o funcionamento das mesmas quando tais não ofereciam uma crítica ao regime.

Voltando à nossa realidade o pleito eleitoral deste último domingo manteve a polarização acrescentando agora um elemento novo, um candidato que representa no mínimo um movimento reacionário de esquerda. Minha insatisfação é que há tempos o Brasil vem precisando de um candidato mais moderado, seja de esquerda, seja de direita.

O grande problema é que o brasileiro age de acordo com a cordialidade. O uso que faço deste texto aqui é etimológico, ou seja cordialidade vem de corda, ou se quiser kárdia, cujo sentido é o de corda, ou coração. Ao medo por mim apontado há alguns anos aqui soma-se agora uma série de sentimentos e de ressentimentos.

O reacionarismo de direita que estamos testemunhando decorre de uma série de ressentimentos criados pela manutenção do PT no poder, pelos erros cometidos e pela corrupção (que não é exclusiva do PT - algo que o Brasil ainda descobrirá à duras penas). E o maior problema que percebo a respeito deste ódio é que não adianta argumentar racionalmente com quem o nutre.

Aqui há que se ressaltar que não pretendo chamar a ninguém de burro. Não, não é este o caso. Aqui o que está em jogo é que nem eu e nem ninguém somos absolutamente racionais. Quando Pascal afirmou que o coração tem as suas razões que a razão desconhece, ele estava em pleno século XVII indo na contracorrente da modernidade e do iluminismo, que projetaram um homem puramente racional. Mas em termos de cordialidade o brasileiro ganha de lavada.

Ainda assim, saber que o aspecto racional equivale a menos de vinte por cento de nosso psiquismo, deveria, em tese, nos ajudar a controlar mais as nossas emoções. Mais ainda, identificar nossos medos é de fundamental importância para que os mesmos não nos dominem. 

Fato é que a nação sai do pleito eleitoral mais dividida do que nunca. E isto por si só, já é um prejuízo à democracia, uma vez que esta consiste em diálogo, pontuações, contrapontos, e um consenso. Democracia é reconhecer que nossas convicções e pensamentos são ponto de partida numa discussão, mas não de chegada. Do momento em que uma discussão se encerra com ofensas e palavras de ordem, a democracia já perdeu.

Por mais que se apresentem propostas nem Bolsonaro e nem Haddad estão no segundo turno das eleições presidenciais por conta da racionalidade das propostas, ou pelo desempenho no debate, mas pelo que ambas as figuras representam no imaginário popular, não havendo espeço de ambas as partes para autoexame e crítica pessoal. Mais do que isto estão pelo medo, e os xingamentos nas redes sociais dão o tom do debate. 

Minha expectativa é que para dois mil e vinte e dois a nação tenha aprendido que andar no encostamento não é a melhor das escolhas políticas. Caberia aqui falar do medo dos evangélicos, grupo do qual faço parte, de que o país se torne uma ditadura na qual a pregação seja impedida. Mas isto demanda um post inteiro à parte. 

Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Você sabe o que é democracia?



Uma das questões que tem me incomodado profundamente é a recorrente fala de que precisamos votar neste, ou naquele candidato porque o Brasil precisa de medidas enérgicas no combate à corrupção, ou ao crime organizado. Acontece que não existem soluções simples para problemas complexos, nem respostas imediatas para questões históricas. Isto posto passo ao objetivo do presente post, que é o d explicar o que é a democracia. 

O  leitor possivelmente esteja se perguntando: mas precisamos de um artigo de Blog que explique o que é a democracia? Ao que respondo: precisamos. e nas linhas subsequentes deixarei claro o porquê. Todos sabemos que a democracia foi um regime que surgiu na Grécia Antiga, o que nos escapa é que ela era exercida pelos homens livres (mulheres, escravos e artesãos não participavam das assembleias). 

Não sou defensor deste modelo de democracia, mas aprendo algo demasiadamente óbvio aqui. Primeiro sem participação popular nas tomadas de decisões não existe verdadeira democracia. Segundo, somente os que dispõe de tempo conseguiam participar ativamente do processo de discussão nas assembleias. Terceiro falar na ágora demandava o mínimo de conhecimentos e habilidade retórica, o que somente a educação poderia conferir, daí a ascensão dos sofistas e dos filósofos como instrutores na Grécia antiga. De igual modo a participação no processo político atual demanda que se saiba como se expressar politicamente. 

Por último, tanto a educação quanto o desenvolvimento da arte retórica demandam ócio, e creio que em tempos tão agitados aqui se encontre o maior inimigo da democracia. Há mais de dez anos atrás foram lançados os Parâmetros Curriculares do Ensino fundamental e um dos objetivos gerais do mesmo era a instrumentalização das disciplinas dos ciclos com vistas à construção da cidadania, algo que não se efetivou. 

As redes sociais trouxeram a possibilidade de que os brasileiros participassem de forma mais efetiva na democracia. Mas a persistência de uma política polarizada trouxe à tona uma herança nefasta da má educação. É visível a incapacidade de propor algo, no lugar de escolher entre polos opostos. Fato é que ser cidadão é muito mais do que votar neste, ou naquele candidato esperando que uma vez eleito o próprio resolva todos os problemas do país, principalmente se for o caso de corrupção, que não s resume às ações que amealham ou vilipendiam o erário público. 

Ser parte de um sistema democrático é assumir seu papel como protagonista no processo. Consiste em saber discutir, dialogar, lidar com o contraditório, fazer acordos e chegar a um consenso. Mas pela polarização que vejo estamos todos nós bem distantes disto. Em parte por conta da educação, em parte por conta de uma postura monárquica, em que todos se vêem como súditos de um soberano. 

Marcelo Medeiros. 

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Assim é a Igreja evangélica?! Assim como?!




A presente postagem é uma resposta ao que vi em redes sociais. Um post com Guilherme de Pádua, em que duas imagens são  associadas. A primeira é a da atriz Daniela Perez, morta à tesouradas pelo aludido, e a segunda dele como uma pessoa reabilitada e agora como pastor. O que me incomoda mais é a epígrafe do cartaz: ASSIM É A IGREJA EVANGÉLICA. Assim como?

Publiquei neste blog uma postagem em que criticava a indústria de testemunhos que a Igreja tem criado com vistas a se legitimar em mundo onde a religião não possui mais seu papel central na vida comunitária, e perde cada vez mais na vida privada. Daí a apresentação, o marketing fica por conta dos testemunhos. 

O primeiro problema que esta mesma indústria cria, é a distorção do sentido bíblico de testemunho. Este é a fala do Espírito a respeito da vida, morte e ressurreição de Jesus, com exceção de Paulo, que em juízo, e não no púlpito, abordou temas referentes à vida pessoal, a fim de reforçar a verdade da fé que ele professava. 

Um problema que vejo com a conversão de Guilherme de Pádua, conforme dito acima, dá-se pelo fato de que não temos como auferir a conversão de ninguém. Vemos as pessoas supostamente se decidindo, mas conversão, não há como atestar. São as novas atitudes que evidenciam, ou não, o arrependimento de uma pessoa. 

Arrependimento nada tem a ver com mero remorso, ou pesar, a palavra grega μετανοιας (metanoias), implica em mudança de mente, ou seja em ver seus maus atos anteriores de uma forma diferente. Ao arrependimento segue-se uma metamorfose (palavra emprega para indicar a transformação que ocorre em alguns seres que de larva se tornam belos insetos), que aqui indica mudança de caráter. 

Mas como aferir isto? Não dá para aferir como se afere o índice de monóxido de carbono na atmosfera. Mas há como observar quando o comportamento de uma pessoa é contrário à hipocrisia popular, quando a pessoa aborrece ao mal, seja em si mesmo, seja nos outros, quando ela busca estimar mais ao próximo do que se afirmar (e aqui a questão é bem profunda, porque às vezes nos afirmamos diminuindo os outros). 

Infelizmente ser cristão é algo que tem sido banalizado. Como resultado da banalização da fé cristã, o pastorado tem sido algo cada vez mais banal também. Mas a totalidade dos evangélicos deve ser julgada e colocada no mesmo pote que os produtores da indústria gospel? Creio que não, de forma alguma! Mas a resposta evangélica tem de ser dada com testemunho, ou no dizer de Pedro: Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; Como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus (I Pe 2. 15, 16). 

Confesso que vejo com suspeita tais conversões e tais testemunhos, mas admito que uma das marcas inerentes da religião, seja seu caráter salvacionista. Toda religião visa melhorar o ser humano, isto vai das seitas mistério gregas, até as religiões mais antigas da humanidade. Ao que parece o direito também traz esta marca, tanto que ao condenado que cumpriu pena e que não há mais reincidência, ou cometimento de crime em um prazo de até cinco anos (ver aqui), são garantidos os mesmos direitos de um cidadão que nunca praticou tais delitos. Percebo aqui o princípio de que a pena, de alguma forma redime, expia. 

Quanto aos atos dele, o perdão de pecados não anula a lei da semeadura. O homem planta e colhe o que plantou em medida e proporção maior algo da mesma espécie da semente que ele semeou. Mas cada colheita tem seu tempo. No mundo físico criamos técnicas que permitem antecipar a colheita de determinados frutos. Mas ao que parece o mundo espiritual não segue a mesma regra, e o humano, falo das dinâmicas relacionais, também não. 

Segue-se então que ele tenha direito de refazer a sua vida como ele quiser. Inúmeras hipóteses podem ser aventadas aqui, inclusive a de que ele use a religião como algum tipo de cobertura, mas conforme dito acima, não possuo os instrumentos que me permitam fazer tal avaliação. Mas creio que o tempo dirá, e a obra de cada um será manifesta. 

Mas a Igreja precisa urgentemente rever sua cultura de testemunho e de conversão. E igualmente evitar extremos que produziram desconfiança dos discípulos em Damasco por conta da conversão de Paulo, e a euforia que considera toda e qualquer pessoa agregada como convertida, com vistas à satisfação estatística. 

Marcelo Medeiros. 

sexta-feira, 22 de junho de 2018

COM MEDO DE SER FELIZ



O título desta postagem é uma referência a uma crítica esportiva do humorista Cláudio Besserman Viana, mais conhcido como Bussunda do grupo Casseta e planeta. Neste artigo ele aventava a possibilidade de que o Brasil, caso fosse campeão, o que de fato se deu, não o seria com o belo futebol. O curioso é que naquela época havia o Bebeto e o Romário. Zinho, Aldair, Márcio Santos, Leonardo, Branco, Jorginho, eram outros nomes que compunham o meio de campo da seleção, mas a reclamação se dava por falta de criatividade no meio de campo. 

Passados vinte e quatro anos do tetra, percebe-se o efeito das escolhas de Parreira na atual seleção. É verdade que a seleção possui Willian, Coutinho e Paulinho no meio campo, mas carece de um jogador cuja inteligência permita leitura do jogo e articulação de jogadas. O que não é perfil dos mencionados. 

Toda seleção produz aquela sensação de que alguém ficou de fora de forma injusta. Mas sinto falta de nomes como Hernanes, o profeta, e de Luan (que está voando, arrebentando). Muito estranho mesmo. Mas onde entra meu medo? Nas contusões recentes, na má forma física de Neymar, Fagner, e cia que se refletiu no Brasil ao ter aberto mão de jogar após o primeiro gol contra a Suíça. 

Sei que é normal a seleção canarinho colocar o pé no freio após o primeiro gol. Mas a pressão suíça foi excessiva, afinal permitida pelo Brasil, permitida por conta de sonolência, péssima forma física, relaxamento, e tudo o mais. O jogo contra a Costa Rica é visto como o termômetro de como será o Brasil nesta copa. 

Em noventa a vitória do Brasil foi de um a zero, e em dois mil e dois cinco à dois. A diferença? em noventa um meio campo brasileiro sem criação e um ataque de poucos gols. Em dois mil e dois o Brasil era arrasador da zaga ao ataque. Para o jogo de amanhã, não será aceita uma postura similar à do jogo contra a Suíça. A razão, ou razões? A defesa e o goleiro Taylor Navas. 

Sei dos problemas do meu país. Não sou alienado político. Logo, torço pela minha seleção, e busco manter este equilíbrio, mas confesso que estou com medo de ser feliz, e um medo ainda maior de ser infeliz. Falo como quem viu uma das maiores seleções serem eliminadas. Oitenta e dois, e dois mil e seis foram superadas apenas por dois mil e catorze. As duas primeiras tinham jogadores excepcionais, mas terminaram em frustração, que isto não se repita. 

Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 20 de junho de 2018

O MAL AMADO




Há algum tempo atrás escrevi em meu blog pessoal, um texto a respeito de uma frase similar a esta. Este, aliás foi o slogan de um candidato evangélico, cuja carreira e trajetória até admiro, mas da qual discordo. Otoni de Paula Jr. Mas ele não é assunto deste artigo, e sim o prefeito.
A revista, nada imparcial, Veja publicou uma matéria a respeito do índice de rejeição do atual prefeito da Cidade do Rio. Não é para menos. Sob a alegação da necessidade de rever as atitudes da gestão anterior, e com péssima comunicação com a população, provocou ira dos servidores ao fazer trocas equivocadas em alguns cargos de chefia, sem com isto diminuir significativamente pastas de algumas secretarias. Outro tiro no pé, foi o problema com uma creche institucional, mantida com recursos dos próprios servidores.
Não são claros seus critérios de corte de gastos, repito. O novo alvo é o famoso centro presente, um programa de integração entre a prefeitura, Estado e FECOMÉRCIO. Isto colocado, há que se analisar algo da trajetória de Crivella a fim de entender esta rejeição que o prefeito tem sofrido. Na verdade, ele nunca foi unanimidade.
Marcelo Crivella foi eleito após sucessivas tentativas ao governo do estado e à prefeitura do Rio de Janeiro. Sempre rejeitado não por conta de uma suposta inabilidade política, mas por sua ligação com Edir Macedo, e pela suspeita de um projeto de poder do grupo IURD (aliás, sempre bem explorada por seus adversários políticos).
No pleito atual ele venceu o outro rejeitado, Marcelo Freixo, por uma margem ínfima. Entre os dois uma margem significativa de votos nulos e abstenções, indicando clara rejeição das alternativas apresentadas (algo que apenas a mídia, à serviço do poder e os políticos teimam em não entender, mas que o leitor e observador atento percebe e muito bem). Não se faz necessário um QI acima de setenta para entender isto. Os que não entendem, não entendem por conta de total falta de esforço, aquilo que até Tico e Teco entenderiam.
Ainda sobre Marcelo Freixo há que se lembrar que a despeito de seu valioso trabalho na comissão de direitos humanos a ALERJ, e de sua atuação na anistia dos bombeiros militares que foram presos por conta de um justo movimento de oposição ao então governador Sérgio Cabral, não me agrada em nada a radicalidade de seu partido. Pior, como professor de História, sua participação nos debates foi pífia. Mas deixemos Marcelo Freixo de lado e consideremos novamente seu homônimo, o Crivella.
O que quer que tenha motivado Crivella a concorrer insistentemente o cargo de prefeito da cidade nada maravilhosa, projeto de poder de um grupo escuso, ou utopia político/evangélica, fato é que Crivella herdou contas de uma gestão passada nada clara e transparente e um povo sem memória, que se mostra cada vez mais insatisfeito e menos paciente e racional. Não é nada fácil para evangélicos e crentes históricos e católicos (para não mencionar umbandistas e candomblecistas), separar a figura do político da figura do Bispo. Daí que as críticas venham carregadas de um ressentimento cujo fundo é religioso.
Isto não quer dizer que eu esteja disposto a fechar meus olhos para as denúncias que Ricardo Mariano, apenas para exemplificar, tem feito há mais de dez anos para o projeto de poder de alguns grupos evangélicos. Deixar apenas a IURD neste barco é injusto, aqui todos temos de cortar a própria carne. Aqui cabe mais um parágrafo a respeito da visão estreita dos evangélicos.
Em boa parte, o público evangélico é formado pelos cristãos pentecostais. A maior marca destes é a ascese de bens materiais. Somente com a segunda onda pentecostal que ocorrerá o que se chama de ênfase no corpo e em si mesmo, o que relegará o céu a um segundo plano. O advento do neopentecostalismo, com a ênfase na aquisição de bens altera o plano, mas não a ponto de influenciar a mentalidade política.
Um fator agravador foi a síntese entre mentalidade monárquica e messianismo político. Quem já era nascido na década de noventa sabe o quanto se propalou nos púlpitos das Igrejas a respeito do advento de um presidente evangélico. Estamos tendo uma amostra grátis na figura do prefeito.
Quem é leitor de Jonh Stott sabe bem de suas severas críticas ao anti intelectualismo reinante no ambiente pentecostal. O resultado deste em termos políticos vê-se na eleição dos Marcos Felicianos da vida, dos Takayma e de uma série de gente que no púlpito enganava bem, mas que foi e tem sido uma tragédia nas tribunas legislativas, fora os interesses escusos. Falo isto considerando que a gestão nada transparente de Paes deixou uma herança infeliz para Crivella.
Todavia, mesmo vendo a herança de Crivella, a gestão suspeita de Eduardo Paes, a impaciência dos nossos cidadãos, a falta de senso histórico, nada disto justifica o atual prefeito, que quisesse de fato governar em favor do povo, teria traçado uma linha estratégica mais eficiente. Afinal uma boa gestão à frente da prefeitura seria o caminho para uma reeleição e quem sabe para sabe para pleitear o governo do Estado do RJ. Mas como ocorre todas as instâncias, Crivella não possuía e nem possui uma linha estratégica para driblar a crise. Apenas um modus operandos cuja base é a supressão temporária de direitos do funcionalismo público, com uma posterior volta dos mesmos. O que mostra uma profunda falha dos políticos evangélicos em geral: a confirmação com os esquemas consagrados pela política brasileira.
De nada adianta votar em candidato evangélico que acredita que a forma de governar do presidente é a correta, quando uma leitura dos profetas e da carta de Tiago aponta na direção contrária. Suprimir direitos de funcionários públicos é conformar-se com os esquemas do presente século. Neste caso, o famoso administramos mal?, e daí, o povo paga a conta.
Eu particularmente não alimento nenhuma ilusão com a política e os políticos, mas torço para que dê certo, gostaria de sugerir ao atual prefeito que crie um canal eficiente de comunicação com a população. Que neste canal informe à mesma a respeito da situação financeira da prefeitura, sem acusar o prefeito anterior. Justiça em relação a Eduardo Paes é uma questão de tempo, e que Crivella entenda que o mesmo se aplica à ele. Mas esta seria apenas uma entre uma série de medidas, dentre as quais uma estratégia para sanear as finanças, sem que a população sofra com isto.
O grande problema é que aqui a minha crítica não se prende exclusivamente ao prefeito mal amado, antes aplica-se às instâncias federal e estadual. CORTEM NA PRÓPRIA CARNE! Comecem pelos cargos de confiança que as pessoas ascendem sem que para isto sejam concursados. Estes são uma moeda de troca sempre usada para garantir apoio para eleição aos cargos públicos. Daí o crescimento exponencial de ministérios e secretarias de Estado e as municipais também. Não basta ser transparente com as contas da gestão anterior, é preciso ser com a própria gestão. Isto é ser simples como a pomba e prudentes como a serpente. Afinal, vida de crente na política, não é vida de profeta na corte.
Outro problema: está mais do que na hora de as igrejas pentecostais, a maioria neste país, abandonarem esta cultura contraria à intelectualidade e investir em seus jovens que possuem vocação para a política. O investimento consiste na ênfase na leitura dos clássicos e da boa parte da tradição política, e na síntese entre esta e a cosmovisão cristã. Um segundo passo seria a formulação de um projeto de sociedade, algo comum na perspectiva reformada, que não seja exclusivamente evangélico, mas que contemple a toda a população.
Não dá mais para associar evangelicalismo com fundamentalismo (na pior acepção do termo). Ser evangélico político é mais do que ser representante de uma Igreja, é propor o debate dos problemas sociais, em outros termos. É esta esperança que ainda me faz escrever sobre política neste espaço. Mas a esperança aqui não é otimismo a todo custo.
Marcelo Medeiros, escritor, 
teólogo especialista em Ciências da Religião.


quarta-feira, 13 de junho de 2018

Música Coral ou Cântico Congregacional




Não sei se vocês sabem mas sofro a influência de ambos, tanto do coral quanto dos grupos de cântico congregacional. Quando pequeno minha avó me levava para o ensaio do coral da igreja as 15 horas e algumas vezes dormia até o horário do culto da noite. Assim fui marcado pela cultura de canto coral.

Na pré-adolescência fiz aulas de canto coral com a professora Ana Campelo (hoje maestrina do coro Eclésia na primeira igreja Batista do Rio de janeiro), o que me levou a participar da gravação de um comercial que falava das garantias dos direitos de menores com a boca constituição. Isto se deu em 88.

Na juventude cantei nos corais da UFRJ e PUC. Assim que cheguei na assembleia de Deus em cidade nova assumi a regência do coral. Três anos após entreguei o cargo, voltando recentemente à convite do meu pastor. O trabalho pode ser acompanhado em vídeos no Facebook. Nós livros de II Sm e I Cr é a forma pela qual o louvor no santuário era ministrado. Foi na década de oitenta que vi a emergência de uma nova forma de ministração nas denominações templo/igreja.

O mais curioso é que na época um coro representava a elite evangélica. Os chamados ministros de louvor resgataram o cântico congregacional através de canções à uma só voz. Asaph Borba, Benedito Carlos Gomes, Alda Célia, Ludmila Ferber são alguns dos nomes que constavam nas primeiras comunidades. Eram grupos que emergiam com uma nova proposta, qual? A de uma vida de culto e adoração centrada não mais no templo, mas na comunidade.

Canções como canto de vitória, nosso louvor, fruto dos lábios e tantas outras reverberaram nas vozes de um grupo homogêneo. A diferença deste grupo era que além de cantar eles ministravam uma mensagem bíblica, que fundamentava os cânticos. Nesta época a maioria dos cânticos compostos traziam entre parênteses a base bíblica.

Com o crescimento da indústria gospel, estes cânticos foram perdendo em qualidade. Já não interessava mais às gravadoras canções como Pão da Vida, Graça e outras. Letras deram lugar ao balanço e aí a situação se agravou. Na minha denominação, raros são os jovens que entenderam a motivação e aplicaram corretamente o conceito à liturgia. Assim coral deficiente deu lugar a grupos ruins. Hoje a noção de louvor bíblico (do cântico como instrumento didático e pedagógico para transmissão da doutrina), basicamente se perdeu. O culto virou entretenimento.

Não se busca, nem escolhe uma música por conta da mensagem que ela tenha, da função litúrgica que ela possa exercer, mas por conta do gosto dos ministrantes, em regra um horror. Gente que deveria ouvir Asaph Borba, Ademar de Campos, Cláudio Claro, para aprender o que de fato é ministrar.

Tal quadro reflete o distanciamento da religiosidade cristã em relação à herança bíblica. O caminho de volta é bem longo, visto que mais do que treinamento, demanda conscientização, mas acreditar é a única alternativa. 

Marcelo Medeiros, boa tarde. 


sábado, 2 de junho de 2018

O inferno somos nós uma apreciação



Em Abril ministrei uma palestra no espaço monografarte em Campo Grande a respeito do inferno na perspectiva de C. S. Lewis, que foi a temática do meu TCC em Ciências da Religião. Neste período tive de fazer muita divulgação e nesta atividade percebi o quanto o brasileiro em geral (resguardadas as exceções), lida com aquilo que julga conhecer, e na verdade, não conhece. Pior, há uma preocupação com a manutenção da doutrina do inferno à todo e qualquer custo, mesmo que não se faça a mínima ideia do que os textos bíblicos queiram dizer. 

Por inúmeras vezes tive de repetir que a maioria dos textos não é e nem pode ser literal, que o Pentateuco não traz ideia a respeito da vida do homem após a morte, que se a questão fosse fechada não haveriam grupos que desacreditassem da vida após morte no tempo de Jesus, e que nossa percepção sobre o assunto baseia-se mais em Platão do que nas Escrituras. E o mais importante, que creio na dimensão existencial do inferno, EMBORA NÃO POSSA MAIS CRER NESTE COMO UMA REALIDADE GEOGRÁFICA

Na medida em que faz as suas escolhas pessoais, o homem torna-se seu próprio inferno pessoal. A leitura conjugada de Crônicas de Nárnia, Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, e O Grande Abismo sugere algo mais interessante do que a fábula mítica corrente. O que se faz inferno, não é um ser humano pleno, mas o que sobra de um ser humano sucessivamente desconstruído por suas más escolhas.  

Recentemente passei por uma experiência ainda mais intrigante. Postei a fala da Monja Coen em um grupo "cristão". Em primeiro lugar, sou cristão. Segundo, o fato de o ser não me impede de apreciar o pensamento de outras religiões (algo que todo leitor de Platão e Sócrates faz por tabela, uma vez que o primeiro tem claras influências do orfismo [uma seita de mistério da religião grega, que apontava o caminho para a quebra do ciclo de encarnações], e o segundo inicia sua missão como filósofo após a consulta de Querofonte ao oráculo de Delphos]). Terceiro, entendo que caminho na verdade, que é Cristo, mas que nem o Pai, e nem o filho me deram o monopólio da verdade. 

A última das razões é a Teologia da Imago Dei, que insistem em varrer para baixo do tapete. Todo ser humano, por mais caído que seja, representa o domínio de Deus sobre a natureza, o Reino Dele, ninguém escapa. Mas a Teologia Reformada afirma que por ser a imagem de Deus em algum momento ele pode afirmar a VERDADE DE DEUS, como o faz com a ética, e as leis justas. 

A postagem da fala de uma budista foi o suficiente para mostrar que não estamos preparados para a cultura de paz. E tudo por conta do medo. Medo de que alguém faça confusão entre Cristianismo e Budismo, ou que ache que ele, o budismo é uma coisa boa, ou uma opção viável ao cristianismo. Sei que ambas as visões são destoantes, não concordo com tudo que os budistas dizem e falam, mas isto não me dá o direito de silenciar a verdade quando ela é dita por alguém, só porque esta pessoa não joga no meu time de coração. Por outro lado reconheço que um Cristianismo com base em discernimento é um caminho demasiadamente estreito. 

O livro? Reconheço que de ótima qualidade, me espanta a percepção que ambos possuem daquilo que entendo como sendo a verdade. Me assombra o conhecimento de Karnal a respeito da tradição cristã católica ocidental, prometo ler outros livros dele, tal como fiz com os de Luís Felipe Pondé, e faço com os de C. S. Lewis. 

A construção de uma cultura de paz, passa pela construção de uma cultura de não medo (a despeito de o medo funcionar em algumas ocasiões como um sinal de alerta de um perigo eminente), de uma cultura de maior ênfase no diálogo, do que na agressão. E para o diálogo, necessário se faz ouvir o outro, coisa que honestamente, nós cristãos (não sem razão, é claro), estamos nos tornando indispostos, em razão da militância errada que se tem praticado. 

Acho impressionante a noção de pecado original presente em ambos, na verdade no Budismo isto é ate´mais radical, visto que o problema não é algo externo a cada um de nós, mas nós mesmos (o que se aplica à questão da violência em todo o livro, visto que nos mesmo se afirma que toda reação violenta contra a violência é uma faceta do mal que trazemos em nós). Confesso não fecho de todo nesta questão, mas vejo aqui um ponto de intercessão, que viabiliza o diálogo entre cristãos e budistas. 

De minha parte resta orar para que o Espírito prometido nos encha de discernimento e nos capacite a distinguir entre o que é bom e o que mal, indistintamente dos r´tulos e embalagens com os quais ambos se apresentem a nós. Somente assim se supera a cultura de violência e se estabelece uma cultura de paz. Esta não demanda que se pense igual, que haja homogeneidade, mas que haja hermonia. Em música Harmonia é a execução simultânea de três notas. A diferença de ambas é mantida, mas a execução simultânea dá um novo colorido à melodia e ao ritmo. A paz funciona assim. 

Sobre a questão do inferno, cabe aqui mais um esclarecimento. Platão entendia o inferno como parte de uma dimensão supra lunar e para elaborar suas ideias usou categorias órficas. Santo Agostinho fez uma síntese de neo platonismo e tradição cristã e apontou o inferno como sendo o fim do projeto humano, mas aqui o inferno passa a ser simbolo de uma vida distanciada e privada de Deus. Lewis confere dimensão existencial, psíquica e social ao inferno, embora não descarte a tradição popular sobre o assunto. 

Sarte em sua peça entre quatro paredes afirma que o inferno são os outros. Karnal e Coen apontam que são os outros, mas também somos nós mesmos com nossos medos. Gays com medo de que políticos evangélicos instaurem uma nova idade média, evangélicos com seus medos de que gays instaurem uma ditadura que não permita a eles o exercício da pregação do evangelho, capitalistas com medo de socialistas, estes com medo daqueles e a dinâmica do medo não cessa. 

Me preocupo seriamente com meu futuro, e necessariamente com a minha eternidade, mas sei que esta decorre daquilo que estou construindo agora. Tal como no xadrez, para usar uma imagem de Lewis, o resultado final se desenha já nas primeiras jogadas. Não creio que os que vivem em guerra aqui gozem a paz no além. O desafio do cristão é muito mais pesado, demonstrar com a vida presente a realidade do Reino futuro. 

Aos que desejarem ler o livro fica aqui a minha indicação e o desejo de uma excelente leitura. Que Deus os abençoe. 

Marcelo Medeiros. 

domingo, 13 de maio de 2018

Feliz dia das mães



Meus parabéns a todas as mães, que desempenham seus respectivos papéis na educação e formação de humana de seus filhos. Elas dão a luz, concebem. Concepção é uma palavra que pode significar o ato de dar a luz mediante o parto, e de forjar ideias. Politicamente correto, ou não, ainda vejo na mulher a figura de criatividade ímpar, que implica em um belo legado a ser transmitido. 

Que vocês possam conceber homens  e mulheres cuja criatividade ajude na transformação do mundo. Estes são meus mais sinceros votos nesta data, que apesar de marcada pelo comércio ainda é emblemática, tanto para os que possuem mães, quanto para os que não as tem mais em sua convivência (como eu), mas cujos ensinamentos ainda tenho na memória. 

Marcelo Medeiros. 

O Outro lado do Inferno



O encerramento da trama "O outro lado do Paraíso" coincide com o lançamento do livro de Leandro Karnal em parceria com a Monja Cohen, cujo título é: "O inferno somos nós". Foi por conta deste livro que optei por este tema para o folheto. Inferno é um assunto que tem me provocado profundas reflexões, por conta de minhas leituras em Homero, Platão, Virgílio, Sócrates, Dante, e Lewis. Mas o inferno aqui (aquele que é o outro lado do Paraíso) é algo bem mais concreto e real. 

O Brasil é um país em que o paraíso e o inferno estão lado à lado. É o país dos lugares paradisíacos, das mulheres cheias de predicados (bem definidos na literatura e no cancioneiro popular. Algumas se chamam Maria, outras Lígia, Ana Luíza, Beatriz, Conceição, Capitolina), da praia, do sol, do mar de Capacabana, da beleza que vai do Leme ao Pontal, das pedras preciosas, das riquezas naturais. 

O inferno é a dengue, chikungunya, Zika, das mulheres agredidas, violentadas, mortas; dos números alarmantes da violência; do trabalho escravo (conforme representado e superficialmente debatido na novela), onde nem sempre por vontade própria as mulheres são empurradas para a prática da prostituição; das riquezas que não são distribuídas, da corrupção, dos coronéis que usam do bem público como se donos fossem. Este é nosso inferno. 

Ao que saiba a novlea pretendia ser uma mistura de Conde de Monte Cristo com Revenge. Mas faltou à protagonista o arrependimento visto em Monte Cristo (Dantes), e Amanda Clarke (personagem representada por Emily VamCamp. O problema é que entre a satisfação demonstrada por Clara no capítulo final e as tramas anteriores fico com a frase do seu madruga: a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena

Tal como Lewis sei da dificuldade de se perdoar uma única transgressão quatrocentas e noventa vezes. Sei o que é o senso de reparação, a necessidade de que algo seja feito com quem nos fez mal, e não nos basta tocar a vida e viver. Mas às vezes isto é tudo o que tem de ser feito. Anastásia é uma animação de 1997,  que mostra o personagem Rasputim voltando do inferno para se vingar ao passo que o morcego o insta a desistir da vingança e seguir com a vida. 

É neste sentido que acredito que a vingança não é e nem pode ser plena. Ela mata tudo aquilo que é vital na pessoa e leva a mesma a deixar de viver a vida. Num folhetim as pessoas podem contar com o último capítulo para que suas vidas sejam devidamente resolvidas, o que nem sempre ocorre na vida real. Prefiro a filosofia do Bolaños. Ou a de Paulo que diz: Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor (Rm 12. 19 ACF).

E o que isto tem a ver com o inferno a ponto desta postagem merecer este título? Simples, o inferno é um lugar onde as pessoas não se comunicam, melhor perderam tal capacidade de tantos ódios e ressentimentos que acumularam em relação às outras. Daí a inviabilidade de melhorias reais no inferno. Daí que aqueles que odeiam não podem entrar no Reino dos Céus.

Abraço. 

Marcelo Medeiros. 

sábado, 12 de maio de 2018

ÉTICA CRISTÃ E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS



A Bíblia é produto de uma cultura pré científica. Como cristão creio que Deus se revela e deixa na mesma os princípios para a formação de uma cosmovisão que me permite a formação de uma ética. Logo, mesmo não vendo na Bíblia exemplos de doação de órgãos, posso ver na mesma os princípios que norteiam a minha conduta face a esta nova realidade. 

O princípio cristão apresenta Deus como autor, doador e mantenedor da vida. Esta lhe pertence. Daí que o modo como conduzimos nossa vida pessoal e de como nossas ações interferem positiva, ou negativamente na vida alheia, tem de ser considerada no campo da ética e da hamartialogia (sendo esta última bem mais complexa do que aquela). 

É em Deus e em Jesus Cristo que são encontrados os maiores fundamentos para a doação pessoal. Não se trata somente de doação de recursos, mas de tempo, da pessoa e da própria vida. Nos tempos apostólicos, tal entrega dava-se por meio da pregação do Evangelho. Todavia a compreensão daqueles tempos veio a abarcar bens. O senso de diaconia (leia-se serviço), ampliou tal conceito para a dedicação da vida. 

Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos (I Jo 3. 16 ACF). A palavra para vida aqui é a mesma palavra para alma (psiqué - ψυχην). 
Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5. 6 - 8 ACF). 
Em outras palavras o Cristo que doou a sua vida por nós é nosso modelo de doação pessoal. Esta mesma doação pode ser vista em Paulo quando este afirma:
Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos. Porque bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus. Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, e justa, e irrepreensivelmente nos houvemos para convosco, os que crestes. Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos e testemunhávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos; Para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama para o seu reino e glória. Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes (I Ts 2. 8 - 13 ACF). 
Ao invés de reivindicar seus direitos de ser sustentado, Paulo preferiu comunicar o Evangelho, e se preciso fosse a própria vida aos crentes de Tessalônica. Ora, se o princípio de dar é Bíblico e os órgãos podem ser incluídos neste, onde está o dilema ético, para que se possa iniciar uma discussão filosófica? 

Segundo Mário Sérgio Cortella dilemas éticos se estabelecem quando o dever conflita com o querer, ou um destes, ou ambos conflitam com o poder. Em termos práticos, o indivíduo quer ser doador de órgãos, mas não pode (seja por uma doença, ou pela idade biológica), ou quer e pode, mas sente que não deve (sejam por questões religiosas e pessoais). É sob tais circunstâncias que se estabelece um embaraço à ação de cunho ético. 

Um outro caso concreto que pode exemplificar ainda melhor a questão do dilema ético que se estabelece no tocante à doação de órgãos pde ser visto em um episódio da série "Sob pressão", em que o motorista de uma van é espancado até a morte pelo pai de um adolescente que foi supostamente atropelado por este motorista. Discussões à parte, sobre a autoria do criem. ou não, fato é que para que o jovem fosse salvo seria necessária uma doação. E aí se estabelece o conflito. 

A morte cerebral do marido foi constatada e mulher do motorista viu-se diante do dilema ético de doar, ou não o coração do seu marido ao filho do agressor do mesmo. Para tal ela teve de ser altruísta para poder perdoar o agressor de seu marido, e doar o órgão do marido clinicamente morto ao jovem. É aí que reside de fato o dilema ético. 

Há uma considerável quantidade de relatos em que pessoas clinicamente mortas se restabelecem. Familiares se apegam a estes relatos para manter acesa a esperança de que a pessoa retorne ao convívio familiar. Diante da constatação médica de falência cerebral, o que fazer, agarrar-se a esperança de um milagre, ou assinar os papéis da doação de órgãos?

Mas uma produção A ILHA pode ser discutida aqui. Este narra a história de uma empresa que produz clones, para que seus órgãos sejam doados. Aqui mais uma vez o dilema se estabelece. seres humanos são clonados para a doação de órgãos. Aqui o que tem de ser uma ação altruísta se torna uma indústria, e mais uma vez o conflito ético se estabelece. Queremos viver para sempre, para que tal se concretize, podemos encomendar clones, que ao final nos sirvam para doação de órgãos? Este é o dilema ético. 

Duas falas de Cristo são vitais para a reflexão. 
Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt 22. 37 - 40 ACF). 
Perceba que em Paulo  também ocorre a percepção de que a lei depende do mandamento do amor ao próximo. 
Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor (Rm 13. 9, 10 ACF). 
A palavra para cumprimento aqui tem a ver com plenitude. Visto que plerooma (πληρωμα) tem o sentido de plenitude. Com isto quer se dizer que sem o amor, a lei não se realiza. Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo (Gl 5. 14 ACF). Mas há uma outra expressão que Cristo emprega para resumir a lei e os profetas: tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas (Mt 7. 12 ACF). 

Este texto é a exegese do amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Ele não quer dizer que devo ter amor próprio para só então amar aos demais seres humanos. O amarás ao teu próximo tem sim, uma relação com o amor que tenho por mim, mas não é como o senso comum a entende. O que o texto quer dizer e aplicamos à presente discussão ÉTICA, é que devo tratar os demais como espero ser tratado caso me veja na situação, ou no lugar dele

Foi desta forma que o bom samaritano agiiu, e é assim que cada um de nós é compelido a agir. Em se tratando de doação de órgãos, precisamos nos colocar no lugar de um jovem, que tem toda uma vida pela frente, mas enfrenta uma falência renal, ou uma hepatite decorrente de uma transfusão de sangue, ou uma pancreatite, e fazer o que está ao nosso alcance. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

sábado, 14 de abril de 2018

ÉTICA E DIREITOS HUMANOS



Esta é uma reflexão inicia, ao invés de uma palavra final. 

Já foi visto neste espaço o conceito de Ética como sendo o emprego dos valores provenientes de uma cosmovisão na tomada de ações que afetam nossa convivência. É sob tais prismas que se pretende discutir os direitos humanos. Todavia este é um conceito que precisa ser revisto entre nós dado ao ressentimento mútuo nutrido por setores da sociedade. 

A noção de direitos humanos nada tem a ver com o protecionismo aos setores marginalizados em detrimento dos "cidadãos cumpridores dos seus deveres". Os Direitos humanos preconizam que todos os seres humanos são sujeitos de direito, e que os direitos fundamentais são: 

  1. A inviolabilidade da vida. 
  2. Liberdade. 
  3. Saúde. 
  4. Segurança. 
O fundamento de tais direitos são: 
  1. A dignidade inerente à todos os seres humanos. 
  2. O pressuposto da igualdade entre os mesmos. 
  3. A ideia de fraternidade entre os mesmos. 
  4. A noção de igualdade. 
Mas o que tais direitos tem a ver com a cosmovisão cristã? Esta é uma pergunta que merece a nossa consideração. Em primeiro lugar a inviolabilidade da vida fundamenta-se no conceito de a vida é sagrada. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem (Gn 9. 6 ACF). 

Até aos homicidas a garantia de inviolabilidade da vida era concedida, tanto que os vingadores de sangue eram autorizados a matá-los apenas após julgamento que comprovasse a culpa dos mesmos, conforme visto na citação abaixo transcrita:
Ou por inimizade o ferir com a sua mão, e morrer, certamente morrerá aquele que o ferir; homicida é; o vingador do sangue, encontrando o homicida, o matará. Porém, se o empurrar subitamente, sem inimizade, ou contra ele lançar algum instrumento sem intenção; Ou, sobre ele deixar cair alguma pedra sem o ver, de que possa morrer, e ele morrer, sem que fosse seu inimigo nem procurasse o seu mal; Então a congregação julgará entre aquele que feriu e o vingador do sangue, segundo estas leis. E a congregação livrará o homicida da mão do vingador do sangue, e a congregação o fará voltar à cidade do seu refúgio, onde se tinha acolhido; e ali ficará até à morte do sumo sacerdote, a quem ungiram com o santo óleo. Porém, se de alguma maneira o homicida sair dos limites da cidade de refúgio, onde se tinha acolhido, E o vingador do sangue o achar fora dos limites da cidade de seu refúgio, e o matar, não será culpado do sangue. Pois o homicida deverá ficar na cidade do seu refúgio, até à morte do sumo sacerdote; mas, depois da morte do sumo sacerdote, o homicida voltará à terra da sua possessão. E estas coisas vos serão por estatuto de direito às vossas gerações, em todas as vossas habitações. Todo aquele que matar alguma pessoa, conforme depoimento de testemunhas, será morto; mas uma só testemunha não testemunhará contra alguém, para que morra. E não recebereis resgate pela vida do homicida que é culpado de morte; pois certamente morrerá. Também não tomareis resgate por aquele que se acolher à sua cidade de refúgio, para tornar a habitar na terra, até à morte do sumo sacerdote. Assim não profanareis a terra em que estais; porque o sangue faz profanar a terra; e nenhuma expiação se fará pela terra por causa do sangue que nela se derramar, senão com o sangue daquele que o derramou. Não contaminareis pois a terra na qual vós habitais, no meio da qual eu habito; pois eu, o Senhor, habito no meio dos filhos de Israel (Nm 35. 21 - 34 ACF). 
Por liberdade entenda-se aqui o poder de agir livremente em uma sociedade organizada pela lei. A opção por tal definição parte do pressuposto que de a palavra em apreço é extremamente plástica, e isto, ao ponto de ter significados diferentes para os mais variados grupos. Liberdade aqui opõe-se à escravidão. 

Em temos bíblicos os povos em geral, eram tribais e sucessivamente escravistas. Em outras palavras escravos foram a garantia de produção e do ócio em sociedades como a egípcia, a grega e romana. Daí a ausência de uma palavra mais contundente contra a escravidão nos textos bíblicos. Contudo alguns elementos precisam ser considerados a fim de que uma reflexão séria e justa seja realizada no tocante à temática. 

  1. Não se pode confundir a escravidão dos tempos bíblicos com a escravidão decorrente do surgimento a modernidade. Haviam escravos decorrentes de guerra? Sim, mas também haviam os que por conta de falência vendiam a si mesmos como escravos, até terem autonomia financeira para a alforria. É sob esta luz que as palavras de Paulo precisam ser compreendidas. Foste chamado sendo servo? não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião (I Co 7. 21 ACF). 
  2. INFELIZMENTE SOMENTE OS FILHOS DE ISRAEL GOZAVAM DE TAIS PRERROGATIVAS. Quando também teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo. Como diarista, como peregrino estará contigo; até ao ano do jubileu te servirá; Então sairá do teu serviço, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família e à possessão de seus pais. Porque são meus servos, que tirei da terra do Egito; não serão vendidos como se vendem os escravos. Não te assenhorearás dele com rigor, mas do teu Deus terás temor. E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das nações que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas. Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas famílias que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vos serão por possessão. E possuí-los-eis por herança para vossos filhos depois de vós, para herdarem a possessão; perpetuamente os fareis servir; mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não vos assenhoreareis com rigor, uns sobre os outros (Lv 25. 39 - 46 ACF). 
  3. Um judeu não poderia ser posse de nenhum outro. 
  4. Entre os Hebreus a escravidão tinha tempo determinado. Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá livre, de graça (Ex 21. 2 ACF). 
  5. Do mesmo modo que aos senhores era ordenado o descanso, os servos, por força de lei era dado o mesmo direito. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; por isso o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado (Dt 5. 14, 15 ACF). Há que se perceber que em alguma instância o servo é colocado em pé de igualdade com seu senhor. 
  6. O Novo Testamento radicaliza este princípio ao colocar escravos e senhores em igualdade na comunidade cristã e evocar tratamento justo para os mesmos (Gl 3 28; Ef 6. 5 - 9; Cl 4. 1; Fm 16, 17). 
Nos tempos bíblicos não havia a noção de Estado (no sentido moderno da palavra). Sob a aliança a saúde é um bem decorrente da obediência e da sabedoria (Pv 4. 22; 12. 18; 13. 17; 14. 30; 16 24). O que fica implícito aqui é que doença e saúde estão para além do funcionamento correto do corpo. Saúde abrange a harmonia espiritual. A garantia de paz, educação,saneamento básico e outros direitos que influem na saúde é de competência do Estado. 

Este é visto em Filosofia como decorrente da vontade humana. Em outras palavras os homens abrem mãos de seus medos individuais para terem garantias como a proteção da violência, tão comum ao que Hobbes chama de estado de natureza (que é a violência inerente a todos os homens, que agora transferem a retribuição pelos seus maus atos, ao ESTADO). 

Na garantia da vida está implícito o direito á segurança É principalmente em relação a estes dois que o Estado tem falhado. Na verdade em não garantir a todos os direitos fundamentais, o Estado termina por propagar a violência que deveria combater. É aqui que nascem os espaços para o surgimento de grupos de defesa dos direitos humanos. 

O problema com relação a tais grupos é a ausência de protestos quando um joão ninguém morre. A imagem dos grupos de defesa dos direitos humanos tem sido associada aos infratores da lei, o que tem marginalizado tais grupos É necessário um trabalho que reverta esta péssima imagem. Por outro lado alguns candidatos tem assumido um discurso que vai na contramão da universalização dos direitos humanos. 

Tais se valem do lastro de insatisfação que tem havido em uma população em que mais de noventa por cento dos crimes de assassinato não são resolvidos, e que por estas e outra se vê cada vez mais refém da violência. Todavia, voltar-se contra direitos humanos não é a resposta. Se sob uma legislação e constituição humanitária tais crimes acontecem, imaginem o que ocorreria em caso de oficialização do estado de natureza?!

A doutrina da criação e da queda são os pressupostos para a crença na igualdade e fraternidade. Somos irmãos por sermos filhos de Deus. Somos iguais por que por excelentes que sejamos em determinadas áreas somos solidários em nossas idiossincrasias e por isto capazes dos mais nobres e mais vis atos. É a partir de tais prismas que a reflexão sobre direitos humanos precisa dar-se. 

Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Faltam dez dias para este evento


E O INFERNO NUNCA SAI DA MODA

Uma olhada em nossa Cultura mostra como o tema é atual. Perceba:
Filmes como Amor Além da Vida, e A Odisseia, fazem menções de descidas ao inferno (catabase). O que dizer do Nosso Lar (baseado no romance espírita de mesmo nome, escrito sob mediunidade, por Chico Xavier)?
A novela A Viagem ainda é uma dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira. As emoções fortes ficam por conta dos casos de obsessão (quando o espírito do revoltoso Alexandre começa a perseguir seus inimigos em vida). Mas quanto mais Alexandre persegue seus inimigos mais ele se aprofunda em seu inferno pessoal (representado por um pântano em que as pessoas menos evoluídas se encontram).
Tais elementos comprovam que o inferno permanece no imaginário popular por meio das mais diversas formas de arte, da literatura, música e dramaturgia. E Vale à pena falar sobre o assunto.

Marcelo Medeiros.

O Inferno no Pentateuco



Gênesis 37:35 E levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas, para o consolarem; ele, porém, recusou ser consolado, e disse: Na verdade, com choro hei de descer para meu filho até o Seol. Assim o chorou seu pai.
Gênesis 42:36 Então Jacó, seu pai, disse-lhes: Tendes-me desfilhado; José já não existe, e não existe Simeão, e haveis de levar Benjamim! Todas estas coisas vieram sobre mim.
Gênesis 42:38 Ele porém disse: Não descerá meu filho convosco; porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe suceder algum desastre pelo caminho em que fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza ao Seol.
Gênesis 44:29 se também me tirardes a este, e lhe acontecer algum desastre, fareis descer as minhas cãs com tristeza ao Seol.
Gênesis 44:31 acontecerá que, vendo ele que o menino ali não está, morrerá; e teus servos farão descer as cãs de teu servo, nosso pai com tristeza ao Seol.


Estes são algons dos versos de Genesis que falam a respeito da morte. Perceba que nada é dito a respeito do destino dos mortos. Tudo o que se pode inferir destes textos é que os que permanecem vivos seguirão o mesmo destino de quem morre.

Em todos estes textos a palavra "Seol" é traduzida por sepultura na versão Almeida Revista e Atualizada, é mantida como "Xeol" na Biblia de Jerusalém, e morada dos mortos na TEB.
Perceba também que em um dos textos Jacó se refere ao filho (que julgava estar morto), como *alguém que não existe mais*. Tal indica a ausência de uma crença na vida após a morte.
A expectativa de Jacó não era um encontro com José no Paraíso, ou em um mundo em que não houvesse mais morte, mas de ir para a morada dos mortos.
A ocorrência da expressão *descer as cãs (....) com tristeza ao Seol* merece consideração. Ela indica que as ultimas experiências da vida do homem indicam se ele foi feliz, ou não.
Para este seminário interessa explorar como C. S. Lewis lidou com este problema. Em pelo menos duas obras dele ele o disseca. Estas são: "Lendo os Salmos" e "Ética para Viver Melhor".
Lewis considera um erro o entendimento de que a crença na imortalidade seja o cerne da religião. Ele percebe Deus cortejando o homem, estabelecendo pactos, provando a obediência do povo, para só depois deste processo começar a falar sobre imortalidade, paraísos e coisas do tipo.
Daí a importância de uma profunda reflexão sobre a escatologia e a tanatologia sobre a ótica deste tão importante autor e apologeta. Aguardo você dia 21 de abril, seja no espaço físico, seja no ambiente virtual. A aula será transmitida via live no Facebook em grupo fechado para os inscritos até vinte de Abril. 
Marcelo Medeiros.

sábado, 7 de abril de 2018

Ética e Ideologia de Gênero


Boa tarde. Não disponho de muito tempo para elaborar um artigo complexo a respeito de Ideologia de Gênero e ética, dai que traçarei em breves linhas minha compreensão a respeito. Em razão do público a que me dirijo serei o mais simples possível,as teorias estarão presente, mas abordarei o assunto de forma direta. 

Quaisquer ideias abaixo esboçadas aqui neste espaço podem ser revisitadas e corrigidas mediante novas leituras, mas por hora este é o meu pensamento. 


  1. O nome Ideologia de Gênero é inadequado, o termo mais adequado seria questão de gênero 
  2. Ele foi cunhado por Simone de Beauvoir em seu célebre livro o segundo sexo. A questão que a autora busca tratar é o papel da mulher dentro da sociedade Burguesa. Às mulheres burguesas era reservado o direito de se casarem com um homem burguês e o governo da casa. Foi contra este papel que ele se revoltou. Tanto que de acordo com alguns biógrafos, ele vibrou, e muito quando sua família veio à falência. 
  3. A falência da família, sua progressão nos estudos, aliada à sua carreira como professora, lhe facultou a possibilidade de viver de acordo com seus desejos e seguir a carreira que tanto almejara. 
  4. A própria filosofia de Marx era uma revolta contra o estilo burguês. Sua crítica à religião precisa ser lida sob o contexto da filosofia de Hegel, para quem o Estado era a realização do Espirito Absoluto. 
  5. Marx aponta como o Estado e o Capital assumem o papel outrora reservado a Deus nas sociedades antigas. 
  6. A luta de Gramsci era contra o fascismo (um movimento que precisa ser estudado por nós). Feitas estas considerações convém que voltemos a Beuavoir. 
  7. Ela nada tinha contra quem quer que quisesse seguir uma vida nos padrões burgueses, desde que fosse livre para seguir a vida como desejasse e ser escritora. Também nunca colocou sua relação com o filósofo Jean Paul Sartre como padrão a ser seguido. 
  8. Neste aspecto, para que se entenda a Filosofia de Beauvoir, necessário se faz o entendimento da de Sartre. Para este o homem tinha de arcar com o peso da liberdade. Em outras palavras cada formulava para si sua própria noção de valores, a partir da qual constituiria sua Ética pessoal. 
  9. Em Filosofia isto não é muito novidade, uma vez que nenhum filósofo elaborou regras do tipo: faça isto e não faça aquilo. Nesta lista podem ser incluídos Platão, Aristóteles, Kant e Nietzsche. 
  10. A diferença é que nestes há espaço para que se pense em uma essência humana ao passo que no existencialismo a existência precede a essência, ou seja se Aristóteles afirma em sua ética que a felicidade do homem consiste em viver de forma racional, Sartre dirá que o homem não é essencialmente racional, mas se constitui como tal na sua existência. 
  11. A filosofia de Sartre é uma leitura da filosofia de Nietzsche. 
  12. Foi a pedagogia qeer que se apropriou da questão de gênero para forjar uma pedagogia que vise combater toda forma de preconceito contra mulheres, negros e gays. 
SOBRE A LIÇÃO EM SI

  1. O termo ideologia de gênero não é apropriado, questão de gênero é mais indicado. 
  2. Para nós cristãos a Bíblia é a fonte de reflexão ética dada autoridade que emana da mesma. Mas isto é para nós cristãos. Em alguns casos nem a Bíblia ocupa tal espaço, mas a tradição e a intuição (sempre atribuída ao Espírito Santo). 
  3. Embora creiamos que a narrativa de Gênesis e a percepção de Jesus da mesma em Mt 19 seja parâmetro para o casamento, vivemos em uma sociedade onde nossos pensamentos não devem ser impostos, ainda que precisem ser defendidos. 
  4. Concordo quando o autor fala de patrulhamento ideológico e no hábito de taxar e classificar o outro como homofóbico, fundamentalista, fascista, machista, misógino, reacionário e coisas do tipo. Mas há que se observar que estamos em uma democracia e que tais conflitos devam ser resolvidos com diálogo. 
  5. Tanto a sexualidade quanto o indivíduo resultam da equação entre sua característica biológica com sua interação com a cultura. Nem um nem outro podem ser desprezados. 
  6. Com isto quero dizer que EMBORA CREIA QUE DEUS FEZ A HUMANIDADE COMO MACHO E FÊMEA, PRECISO ENTENDER QUE O PECADO TRANSMUTOU ESTA CONDIÇÃO. 
  7. A NARRATIVA DE GÊNESIS DÁ A ENTENDER QUE UM ÚNICO HOMEM FOI CRIADO PARA UMA ÚNICA MULHER E QUE AMBOS FORAM COLOCADOS EM UM JARDIM (AMBIENTE EDÍLICO). MAS APÓS A ENTRADA DO PECADO TEMOS UM HOMEM CASADO COM DUAS MULHERES. 
  8. OS HOMENS ALTERARAM AQUILO QUE DEUS FEZ. DA MONOGAMIA ATÉ AS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS. MAS ESTA É UMA CRENÇA NOSSA COMO CRISTÃOS. E CÁ PRA NÓS DEUS VIU TUDO E POUCO INTERVIU. 
  9. Dos patriarcas de Abraão à Davi, apenas Isaque e José foram monogâmicos. Daniel e Jeremias, ao que conste não se casaram. Paulo não era nada fervoroso ou animando em relação ao casamento. E até afirmou que o celibato era um dom e de fato o é.
  10. Jesus alertou que os dias finais seriam como os dias de Noé, e como nos dias de Sodoma e de Gomorra, não por conta de depravação sexual destes tempos, mas pelo fato de que seriam dias de pouca, ou nenhuma preocupação com questões que ultrapassem a satisfação de seus desejos mais básicos. 
  11. O Ensino e a instrução precisam ser a arca para o povo de Deus neste momento final. Somente com ensino que as pessoas poderão discutir e viabilizar a paz no ambiente democrático, e cumprir o papel de sal e de luz do mundo. 
Marcelo Medeiros, Em Cristo. 

quinta-feira, 15 de março de 2018

Nota de Repúdio


Não sou muito fã do discurso daquilo que chamam de a esquerda brasileira. Mas venho aqui manifestar meu repúdio ao ato covarde que ceifou a vida desta vereadora, cuja trajetória intelectual, acadêmica e política foi tragicamente interrompida. Ato contínuo convido aos meus irmãos evangélicos e demais leitores deste blog a fazerem o mesmo. 

Por favor não me venham com aquele discurso do tipo: e as mortes de policiais e cidadãos comuns? Falo e protesto contra ambas aqui neste espaço. Morte alguma pode ser naturalizada, nem a de agentes de segurança, nem a do Zezinho da comunidade, da Paulinha da zona Sul e muito menos a da vereadora. 

Daí meu total alinhamento com a nota de repúdio da OAB. Não é hora de brincar de guerra fria, de proferir discursos maniqueisantes, de mensurar qual morte é mais importante. A hora é de solidariedade, de ruptura com o discurso e com ideologias que somente servem para aprofundar ainda mais a divisão social e inviabilizar um discurso que analise os reais problemas de nossa nação.

Aqui cabem as lições do mestre Paulo Freire, cuja proposta educacional passava pelo referencial dialógico. Uma das formas para se inviabilizar a revolução era dividir para comandar, ou governar. E uma das formas para dividir é alimentar o ressentimento e a paixão e com isto inviabilizar o diálogo, sem o qual não há verdadeira democracia.

Na medida em que reflito sobre os problemas políticos que me cercam, percebo que o fervor ideológico pode ser instrumentalizado para impedir o diálogo e mascarar questões comuns. A morte de Mariella representa um tiro no discurso de representatividade da mulher, do negro e do favelado? Sim. Mas é igualmente um tiro na ascensão social de quem vem de comunidades carentes e vê na educação um meio para tal.

Mas há um elemento que não podemos deixar escapar. O motorista também morreu, e antes que matassem uma vereadora cuja trajetória foi marcada por conquistas sociais, acadêmicas e políticas, mataram uma policial negra há alguns anos atrás (na verdade duas), e três mulheres na semana passada.

Não ignoro a possibilidade de crime político, embora não pretenda especular sobre nada aqui, apenas desejo reforçar fatores sociais e históricos que promovam algo do qual nossa sociedade e forma de fazer política carecem: SOLIDARIEDADE. Ou o entendimento de que estamos no mesmíssimo barco e daí, morte alguma possa ser naturalizada. 

O momento é de solidariedade, repito, pois se faz necessária. É tempo de ensaio de uma união, onde as diferenças político partidárias sejam colocadas de lado e o bem estar de todos os nossos cidadãos, bem como os direitos destes sejam pauta da discussão. Salomão fala que na morte os homens tendem à reflexão e por este motivo podem se tornarem mais sábios. Quem sabe?

Marcelo Medeiros

quinta-feira, 8 de março de 2018

Exegese, pra que exegese?????



Há algum tempo atrás falei aqui neste espaço a respeito de minha participação em um programa da TV BOAS NOVAS, cuja temática era versões de Bíblias. Versões não podem e nem devem de ser confundidas com aquelas Bíblias com recursos devocionais e teológicos. Mas não é sobre nada disto que pretendo falar neste breve post que preparo juntamente com meu café. Pretendo falar de exegese. 

A menção às versões de Bíblias dá-se por conta de uma necessidade de maior alcance, que por sua vez demanda uma maior revisão dos textos sagrados. A ideia que se tem é a de que exista uma palavra que encontre correspondência em todo e qualquer idioma. Ledo engano. No caso do português existe o exemplo da palavra saudade. Esta não expressa somente a ausência nostálgica do outro, ou de algo, mas também a aspiração por algo considerado positivo e benéfico. 

Quem conhece os hinos da HARPA CRISTÃ, sabe que seu segundo hino chama-se saudosa lembrança. Como ter saudade de um lugar que em tese não conhecemos (o mundo vindouro - novo céu e nova terra)? Neste caso saudade é uma expressão do desejo anelante por chegar a este lugar, chamado de regaço pela própria letra do hino. 

Junto das palavras há expressões em nossa língua que não possuem igualmente em língua alguma. Agora o leitor tente imaginar um livro originalmente escrito em Hebraico, com algumas partes em Aramaico e em Grego! Pense por exemplo, nas palavras Graça, Misericórdia, Benignidade, Amor, Amor Leal, elas podem, e de fato são empregadas para traduzir o vocábulo hebraico חסד (hesed). 

Sheol é uma expressão usualmente traduzida por inferno, que na verdade é o mundo dos mortos. Ao traduzir-se o Antigo Testamento para o grego, usou-se a Palavra αδη, que de fato possui equivalência com Sheol. Inúmeros problemas como este poderiam ser enumerados. Mas resultariam em um tratado e extrapolaria o propósito de tal post. Mas estes breves elementos comprovam que a exegese não é luxo, mas uma necessidade. 

Bom dia, Marcelo Medeiros. 


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