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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Feliz Ano Novo

 
Neste momento em que nos despedimos do ano de 2013 e ansiosamente desejamos a chegada de 2014, gostaria de fazer uma reflexão à respeito do que ocorre no íntimo de boa parte das pessoas. Há um misto que euforia, nostalgia e profunda agitação no ar. Honestamente, me pergunto  porquê, visto que com o decorrer dos anos envelhecemos. Despedida, palavra que lembra o ato de mandar embora. Daí a agitação corrente. É como se as pessoas estivessem ansiosas para mandar embora tudo de ruim que aconteceu este ano, e ao mesmo tempo desejassem renovar o que aconteceu de bom. Por este motivo a espera ansiosa pelo ano que virá, visto que mesmo com o envelhecimento físico a esperança (grande combustível da humanidade), se renova. Que a esperança equilibrista, aquela nos ensina a sermos artistas da vida, venha a se renovar dia após dia durante 2014 e nos demais dias do ano. Que aprendamos com Jeremias a trazer á nossa memoria aquilo que nos pode dar esperança. Pois, a esperança não traz confusão, uma vez que o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.
 
FELIZ 2014, Marcelo Medeiros. Em Cristo.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Estado Intermediário, um nó da Escatologia



Tenho profundas dificuldades com a Escatologia. Palavra que é a transliteração de εσχατον (eschaton), ou εσχατη (eschatee), com o termo λογος (logos [palavra, tratado, estudo]). Dentro da teologia sistemática ela vem por último, e isto por uma razão lógica, ela é a conclusão necessária de todos os demais estudos dentro do Sistema, seja ele liberal, neo ortodoxo, ou ortodoxo. Quando a teologia dogmática, no lugar de ser uma ferramenta que viabilize o acesso do crente à Bíblia, se torna uma ferramenta de defesa do grupo religioso, temos comprometimento de toda teologia bíblica, bem como da própria interpretação que o crente fará da mesma.
Uma questão pontual é a Antropologia que se perde em discussões a respeito de dicotomia e tricotomia, quando na verdade o homem é um ser constituído de espírito, alma e corpo, sendo de uma natureza indivisível (note que somente a palavra de Deus e a morte separam, respectivamente, o espírito da alma, e a alma do corpo). Isto deveria encerrar a questão, mas não, e sabe por quê? Admitir o erro é uma nobreza, logo, não é comum a todos, embora devesse ser aos teólogos.
No campo da Escatologia esta Antropologia se reflete em questões em torno do estado intermediário. Afinal, o que acontece com os santos quando estes morrer, dormem (como boa parte dos textos bíblicos dá a entender), ou vão imediatamente à presença de Deus, como um raro texto aqui, ou ali, na verdade dois, dá a entender.
Esta questão foi trazida à tona por meio de um artigo na internet onde um expoente de uma denominação histórica reafirma o ponto desta mesma e contesta a teologia do sono da alma (aqui). Mais do isto, ele associa tal pensamento aos grupos sectários tais como: Adventistas e Testemunhas de Jeová. Ao meu ver tal associação por si só já é uma falácia, visto que a associação do ramo teológico com estes grupos já traz descrédito a qualquer teólogo que queira defender tal ponto de vista. Com tal atitude nobre se defende o dogmatismo denominacional, e engessa o pensamento teológico.
Para alguns a alma dorme durante o momento da morte. Este pensamento errôneo, diga-se de passagem possui, aparentemente, é claro, amplo apoio nas Escrituras, visto que boa parte dos textos que falam da morte retrata a mesma como um sono. Daniel descreve os mortos como aqueles que dormem no pó da terra (Dn 12. 2), ao receber a notícia da morte da filha de Jairo, Jesus disse que a mesma não estava morta, mas que dormia (Mt 9. 24), do mesmo modo, ao receber a notícia da morte de Lázaro (Jo 11. 11 - 14). Paulo também se vale do termo para descrever os mortos no Senhor (I Co 15. 6, 18, 20, 51; I Ts 4. 13 - 17). Sem o mínimo de esforço podemos encontrar na maioria dos escritos do Novo Testamento afirmações deste tipo. Logo, cabe a pergunta: onde está o erro?
O erro está em que quando a Bíblia usa o verbo grego κοιμαω (koimao), três verdades estão em questão, a do estado de inconsciência dos mortos (amplamente afirmado na Bíblia), a realidade do descanso dos mesmos (Ap 14. 13), e o fato de que a ressurreição para Deus é como o despertar de um sono. Todavia quando a Bíblia afirma a suposta inconsciência dos mortos, o faz em oposição aos negócios desta vida (Ec 9. 1 - 6), ou seja, os mortos não possuem nenhuma ingerência quanto aos assuntos deste mundo, o que não quer dizer que estejam os mesmos privados de experiências espirituais.
Outra questão a ser considerada é que a perspectiva da imortalidade da alma (vital para o pensamento opositor ao acima exposta), é tardia no pensamento judaico. Textos como o Jó e Eclesiastes (Jó 14; Ec 3. 19 - 21; 9. 1 - 6; na verdade trazem perspectivas contrárias ás desenvolvidas tardiamente pelos profetas e pelos apocalipsistas (leia-se escritores apocalípticos). Isto posto consideremos a ideia de que o crente vai imediatamente para o céu após a morte.
Ela se baseia em um único texto no qual Jesus promete ao ladrão que estaria naquele mesmo momento com ele no paraíso (Lc 24. 43).  
Os justos, ao morrerem, vão logo para o céu. Há pessoas que procuram contestar o ensino claro das Escrituras sobre o estado desincorporado dos mortos. Baseiam-se elas em textos bíblicos que nada lhes oferecem para escorar sua doutrina do "sono da alma", que é, especialmente, esposada pelos sabatistas. Em Lucas 23.43, se lê: "Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso". Para que sirva aos seus planos doutrinários, eles colocam dois pontos após a palavra hoje e, assim, fica o texto: "Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso". Deste modo, o texto fica totalmente modificado. Segundo essa leitura, um dia o crente irá para a bem-aventurança eterna. Mas não se sabe quando (aqui).
Se você já leu o que escrevi acima, não precisará se esforçar muito para entender o quão desonesta é esta ideia, visto que mesmo enganados os sabatistas, ao menos fazem suas afirmações com base em maiores evidencias do que os que defendem a bem aventurança imediata do justo. Mas vamos a analisar a suposta base deste último grupo. Para tal pegaremos o diálogo entre cristo e o ladrão na íntegra.
Então ele disse: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino.
Jesus lhe respondeu: Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso
(Lc 24. 42, 43 NVI).
Eu gostaria de chamar a atenção do nobre leitor do presente post para o  fato inconteste que o ladrão não pede a Jesus para entrar no paraíso, e menos ainda para ir para o céu, mas para entrar no Reino de Cristo. O termo empregado aqui é βασιλεια σου (basileia sou [teu reino]). Não sei se o ladrão conhecia a pregação de Cristo, o contexto indica que além da pregação o ladrão sabia da inocência de Cristo e do senso do seu pecado. A despeito de tudo isto precisamos admitir a hipótese a palavra do ladrão foi uma confissão de fé no mais improvável dos momentos, visto que o proclamador do Reino estava sendo crucificado.
Uma segunda consideração a ser feita é de que a promessa de Cristo foi uma resposta ao pedido do ladrão. Logo, παραδεισω (paradeisoo) embora sendo expressão equivalente ao Éden da teologia judaica, e ao mundo dos mortos da cultura helênica (que foi incorporada ao judaísmo palestino com o nome de αδης [ades] podendo equivaler ao seio de Abraão [Lc 16. 19 - 31]). Mas no contexto em que ocorre o diálogo entre Cristo e o ladrão é empregado como sinônimo do Reino.
A Bíblia não é a Ilíada e muito menos a Odisseia. Ela não é uma obra mitológica. Mas a estrutura de pensamento grego é bem presente nos que defendem que após a morte o crente vai para o céu. Longe de mim afirmar que o crente não vai para um estado de bem-aventurança. Na verdade ele vive neste estado aqui na terra, ao menos é o que Cristo disse no sermão da Montanha (Mt 5. 3 - 12). A primeira bem-aventurança se destina aos que são cônscios de sua miséria espiritual (não seria este o caso do ladrão da cruz?), no texto chamados de pobres de espírito, e a promessa feita aos mesmos é o Reino de Deus.
É estritamente neste contexto que entendo o texto de Lc 23. 42, 43 em que Cristo diz que o ladrão estaria, e creio que esteve, com ele em seu Reino, sendo que para reino, ele emprega o termo equivalente ao Éden, ou ao paraíso. O entendimento deste lugar aqui deve se dar á luz da pregação de Cristo a respeito do reino de Deus. Assim, compreendemos que não se trata de um lugar geográfico, nem o pode ser, mas existencial, pessoal, no qual a comunhão do homem com Deus (aquela que ele tinha no jardim), é restaurada. Este sim, é o ensino presente no judaísmo anterior. Pode ser visto nos
Salmos, que mais tarde vieram a ser interpretados como provas da imortalidade da alma.
Por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto; mesmo o meu corpo repousará tranquilo, porque tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu santo sofra decomposição. Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita (Sl 16. 9 - 11 NVI). 
O ponto chave aqui não é um paraíso post morten, mas a alegria da presença divina, e o salmista crê que nem a morte pode interromper a comunhão que ele tem com Deus. Este sim é o verdadeiro Éden. Esta verdade foi cantada por Oseas de Paula na canção Meu Éden de Amor (aqui).
Certa vez enquanto discutia com um renomado pastor batista, fui indagado a respeito do que acontece com o crente imediatamente após a morte. Respondi que o crente descansava, ao passo que o nobre colega disse que ele vê Deus imediatamente após morte. A opinião do mesmo venceu naquele ambiente familiar, mas o caso de Estevão me colocou uma pulga atrás da orelha. A Bíblia diz que enquanto Estevão era apedrejado, ele viu Jesus à direita do Pai, e após externar sua visão, ele orou por seus inimigos e adormeceu. O texto nos indica que uma Escatologia saudável mantém lado à lado ambos os elementos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.
 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Não vá no terreno do inimigo!


Escrevo este posto movido pela preocupação que tenho com a cultura do entretenimento que tem invadido os nossos meios cristãos. Um dos flancos nos quais esta mais se manifesta é a da música, que tem sido bastante confundida com louvor na atualidade. Cânticos e mais cânticos, com conteúdo teológico distorcido, tem sido introduzidos em nossas liturgias e inculcado conteúdos heréticos na cabeça de nosso povo. Uma destas canções é a famosa Eu Fui no Terreno do inimigo, ou se quiser, Debaixo do meu pé (aqui).
Há alguns anos atrás, nitidamente com a emergência do neopentecostalismo, surgiu o estranho de modismo de amarrar os demônios. Os defensores de tal prática se apegavam (como é de costume), a um único texto, fora de seu contexto. Ninguém pode entrar na casa do valente e roubar os seus bens, sem primeiro manietar o valente, isto virou um chavão nos lábios de inúmeros crentes. A leitura do contexto de Mt 12. 22 - 37 mostra-nos que esta frase faz parte de uma resposta que Cristo deu aos fariseus, quando estes o acusaram de expulsar demônios por Belzebú. Em outras palavras, os sinais e os atos de expulsão de demônios eram evidencias da presença do reino de Deus.
Não bastasse a prática fora de contexto, tem surgido em nossos dias músicas fora de contexto, uma delas é a canção interpretada pela Comunidade Internacional da Zona Sul, que diga-se de passagem já marcou profundamente o cenário evangélico com hits tais como: Ventos de Avivamento, Oferta Agradável, entre outros. Mas que infelizmente marcou negativamente com a infeliz letra debaixo do meu pé, que pode ser conferida aqui.
Eu fui no terreno do inimigo e eu...
Tomei tudo que me robou (3x)
Debaixo do meu pé (6x)
Satanás, debaixo do meu pé (bis)
Nenhum de nós esteve, e nem precisa estar no terreno do inimigo a fim de pegar qualquer coisa que ele tenha nos roubado. Inúmeras razões podem ser dadas, mas fico aqui com duas. Primeiro, a terra é do Senhor (Sl 24. 1, 2), e ela será dada em herança aos mansos (Sl 37. 11; Mt 5. 5). Segundo, porque mesmo que a Bíblia descreva o mundo atual como estando sob o poder do diabo (I Jo 5. 19), e isto ao ponto de chama-lo de príncipe deste mundo (Jo 12. 31; 14. 30; 16. 11), a grande verdade é que a terra ainda é posse divina e que Deus governa sobre todas as coisas.
Isto posto, quem de nós precisa ir ao terreno do inimigo a fim de tomar o que quer que seja? Quem fez isto foi Jesus e continua a fazer. O contrassenso deste hino não para por aí. Na verdade, a ver pelos restante do hino, o autor parece admitir isto, veja:
Você pode crer no que o Senhor já fez por mim (2x)
Curou, limpou, transformou minha vida.
E colocou meus pés na rocha firme
Você pode crer no que o Senhor já fez por mim (bis)
Veja o que Jesus fez (2x)
Meu corpo está curado
Minha mente está sarada
Eu fui salvo bem na hora
Eu vou louvar o seu nome
Nunca mais o mesmo serei
Venha louvá-lo, veja o que Jesus fez (bis)
Se foi Cristo quem fez, e a obra dele foi perfeita, devo entender que não se faz necessário que não se faz necessário pessoa alguma completar a obra dele. A Bíblia descreve Cristo descendo as profundezas, ao inferno e pregando aos espíritos em prisão (Ef 4. 8 - 10; I Pe 3. 19, 20; 4. 5), e derrotando a Satanás na cruz (Cl 2. 14, 15). Se ele fez isto ninguém precisa ir ao terreno do inimigo para tomar aquilo que ele supostamente tenha nos roubado.
Minha conclusão é de que esta música é em seu conteúdo uma completa heresia e sua única finalidade dentro dos nossos templos, e pior nos momentos de culto, é o entretenimento, afinal, o ritmo da mesma é bem movido e permite uma série de coreografias. Nossos pastores precisam atentar para tais fatores e intervir mediante diálogo junto à nossa juventude e demais ministros de música para que tais erros não se propaguem em nosso meio.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

sábado, 14 de dezembro de 2013

Lição da EBD n° 11: A ilusória prosperidade dos maus


A leitura de textos da lei (Lv 26; Dt 28) incutiu na cabeça dos santos do Antigo Testamento que a dinâmica da vida era regida por leis de causa e efeito, tal como ocorre na natureza. Daí o pensamento de que uma vez sendo justo o homem é recompensado em sua vida financeira pela sua justiça, e sendo mau, este é punido na esfera material por sua maldade. O livro de Provérbios, de certa forma, mantém este raciocínio tacanho ao colocar a prosperidade como algo decorrente da sabedoria (Pv 8. 18), ao passo que apenas insinua levemente que os ímpios prosperam (Pv 23. 17; 24. 1, 19). Eclesiastes vai na contramão deste pensamento de Provérbios, para pregador [ֹקֹהֶ֣לֶת (kohelet)] Ainda há outra vaidade que se faz sobre a terra: que há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade (Ec 8. 14 ARCF). Pior, para o pregador, não existe um suposto tratamento especial para os homens piedosos. Todos partilham um destino comum: o justo e o ímpio, o bom e o mau, o puro e o impuro, o que oferece sacrifícios e o que não oferece. O que acontece com o homem bom, acontece com o pecador; o que acontece com quem faz juramentos, acontece com quem teme fazê-los (Ec 9. 2 NVI). Esta realidade colocou os santos do Antigo testamento em crise.
 
I) A prosperidade dos maus
 
Um dos textos bíblicos em que se percebe a revolta para com a prosperidade dos maus é um salmo didático, cuja autoria é atribuída à Asafe, vejamos o texto:
Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei.
Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios.
Eles não passam por sofrimento e têm o corpo saudável e forte.
Estão livres dos fardos de todos; não são atingidos por doenças como os outros homens.
Por isso o orgulho lhes serve de colar, e se vestem de violência.
Do seu íntimo brota a maldade; da sua mente transbordam maquinações.
Eles zombam e falam com más intenções; em sua arrogância ameaçam com opressão.
Com a boca arrogam a si os céus, e com a língua se apossam da terra.
Por isso o seu povo se volta para eles e bebem suas palavras até saciar-se.
Eles dizem: "Como saberá Deus? Terá conhecimento o Altíssimo? "
Assim são os ímpios; sempre despreocupados, aumentam suas riquezas.
Certamente foi-me inútil manter puro o coração e lavar as mãos na inocência,
pois o dia inteiro sou afligido, e todas as manhãs sou castigado.
Se eu tivesse dito "falarei com eles", teria traído os teus filhos.
Quando tentei entender tudo isso, achei muito difícil para mim (Sl 72. 2 - 16 NVI).
Para Asafe, a prosperidade dos ímpios se manifesta por meio de:
  1. Uma saúde invejável, visto que além de possuírem um corpo invejável e forte não são atingidos por doenças. A imunidade dos ímpios se manifesta em seu aparente estado psicossomático. A aparente ausência de fardos é a causa de não possuírem doenças.
  2. A prosperidade dos ímpios aqui descrita á a base do orgulho dos mesmos, bem como da insistência na prática do mal. Neste ponto o pensamento de Asafe coaduna com o de קֹהֶ֣לֶת (kohelet), visto que para este Quando os crimes não são castigados logo, o coração do homem se enche de planos para fazer o mal (Ec 8. 11 NVI).
  3. Em razão da natureza pecaminosa, o coração dos homens é voltado para a prática do mal (Gn 6. 5; 8. 21), no caso dos ímpios tal se agrava, visto que ele não é punido por sua maldade, antes sua prosperidade o engana, produzindo uma percepção falsa de que ele está em segurança.
  4. O mais interessante aqui, é a estranha aceitação popular pela qual passam. Safe afirma que o povo se volta para eles e bebem suas palavras até saciar-se (Sl 72. 10). Em nossos dias, estas palavras são mais atuais do nunca, visto que tudo em nossa sociedade é mensurado pelo ter. As pessoas associam a riqueza à benção e aprovação de Deus. Daí que o ímpio próspero tenha mais credibilidade do que o justo. Aqui cabe observar o que Cristo disse: Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas (Lc 6. 26 NVI).
  5. A prosperidade do ímpio faz com que ele desconsidere a Deus. Jó chega a expressar tal verdade por meio das seguintes palavras: Passam a vida na prosperidade e descem à sepultura em paz. Contudo, dizem eles a Deus: ‘Deixa-nos! Não queremos conhecer os teus caminhos. Quem é o Todo-poderoso, para que o sirvamos? Que vantagem nos dá orar a ele? (Jó 21.13 - 15 NVI). O texto nos revela uma sensação de autossuficiência tal que o homem chega a declarar com ações e palavras sua independência de Deus.
  6. O maior problema para homens justos como Jó e Asafe, não é a prosperidade dos maus, sendo concreta, ou ilusória, mas a contraditória punição imediata do justo. Certamente foi-me inútil manter puro o coração e lavar as mãos na inocência, pois o dia inteiro sou afligido, e todas as manhãs sou castigado (Sl 72. 15 NVI).
  7. Mesmo constatando a prosperidade dos maus Asafe não se sente à vontade para negar a Deus. Esta misteriosa pressão interna tem de ser causa de estudo para os teólogos. Todavia não são poucos os que motivados por esta contradição abandonam a integridade e a fé.
 II) O caráter ilusório da prosperidade dos maus
 
Se o texto de Asafe tivesse terminado por aqui, mas o salmista prossegue afirmando:
até que entrei no santuário de Deus, e então compreendi o destino dos ímpios.
Certamente os pões em terreno escorregadio e os fazes cair na ruína.
Como são destruídos de repente, completamente tomados de pavor!
São como um sonho que se vai quando a gente acorda; quando te levantares, Senhor, tu os farás desaparecer (Sl 73. 17 - 20 NVI). 
Este entendimento de Asafe é similar ao de Jeremias, veja:
Tu és justo, Senhor, quando apresento uma causa diante de ti. Contudo, eu gostaria de discutir contigo sobre a tua justiça. Por que o caminho dos ímpios prospera? Por que todos os traidores vivem sem problemas? Tu os plantaste, e eles criaram raízes; crescem e dão fruto. Tu estás sempre perto dos seus lábios, mas longe dos seus corações.
Tu, porém, me conheces, Senhor; tu me vês e provas a minha atitude para contigo. Arranca os ímpios como a ovelhas destinadas ao matadouro! Reserva-os para o dia da matança! (Jr 12. 1 - 3 NVI). 
Aqui, precisamos entender que:
Há um destino certo para os ímpios, independente do quanto eles prosperem, como o capim logo secarão, como a relva verde logo murcharão (Sl 37. 2 NVI), pois, o Senhor aprova o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição! (Sl 1. 6 NVI).  
Eles estão em terreno escorregadio. A mim pertence a vingança e a retribuição. No devido tempo os pés deles escorregarão; o dia da sua desgraça está chegando e o seu próprio destino se apressa sobre eles (Dt 32. 35 NVI).
Eles vivem uma destruição repentina, visto que quem insiste no erro depois de muita repreensão, será destruído, sem aviso e irremediavelmente (Pv 29. 1 NVI).  
A prosperidade do ímpio funciona, devido á atitude do mesmo para com Deus, e para com o seu estado, como o processo de engorda. No final, a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá (Pv 1. 32 NVI). Fato é que de nada vale a riqueza no dia da ira divina, mas a retidão livra da morte (Pv 11. 4 NVI). Sim, o ímpio pode até prosperar, mas quando este morre, sua esperança perece; tudo o que ele esperava do seu poder dá em nada (Pv 11. 7 NVI).
 
III) A loucura da graça
 
ֹקֹהֶ֣לֶת afirma que: ao homem que o agrada, Deus recompensa com sabedoria, conhecimento e felicidade. Quanto ao pecador, Deus o encarrega de ajuntar e armazenar riquezas para entregá-las a quem o agrada. Isso também é inútil, é correr atrás do vento (Ec 2. 26 NVI). Não se afirma aqui que o homem que agrada a Deus sempre será rico, mas que indiretamente desfrutará da riqueza acumulada pelos pecadores.
Já falei a respeito de graça comum aqui neste espaço. Ela aparece na música (aqui), no futebol (aqui), na estrutura de pensamento cristão revelado no cinema (aqui), e mesmo na manifestação de dons sobre pessoas indignas (aqui), ressaltando que indignos todos somos. Esta graça coloca em xeque a nossa teoria da meritocracia, visto que no contexto da mesma, todos nós, justos ou injustos, felizes e realizados, ou não experimentamos as dadivas que Deus nos dá no presente (Ec 9. 7 - 9), e experimentaremos o mal da morte. Na visão do pregador, a morte iguala o homem feliz e o infeliz, o rico e o pobre.
Assim sendo, a saída do pregador é que o homem desfrute dos prazeres diante de Deus, consciente de que a sua vida é vaidade, e de que a mesma não é regida por leis de méritos. Afinal,
Todos partilham um destino comum: o justo e o ímpio, o bom e o mau, o puro e o impuro, o que oferece sacrifícios e o que não oferece. O que acontece com o homem bom, acontece com o pecador; o que acontece com quem faz juramentos, acontece com quem teme fazê-los. Este é o mal que há em tudo o que acontece debaixo do sol: O destino de todos é o mesmo. O coração dos homens, além do mais, está cheio de maldade e de loucura durante toda a vida; e por fim eles se juntarão aos mortos (Ec 9. 2, 3 NVI). 
e mais,
Os velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre triunfam na guerra; os sábios nem sempre têm comida; os prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre têm prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos. Além do mais, ninguém sabe quando virá a sua hora: Assim como os peixes são apanhados numa rede fatal e os pássaros são pegos num laço, também os homens são enredados pelos tempos de desgraça que caem inesperadamente sobre eles. Também vi debaixo do sol este exemplo de sabedoria que muito me impressionou (Ec 9. 11 - 13 NVI).
Nos Evangelhos Jesus ratifica a mensagem pregada pelo pregador, afirmando que o Pai que está nos céus. [..] faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos (Mt 5. 45 NVI). Esta é a base na qual Deus trata os seres humanos,  A GRAÇA.
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Futebol em luto


Sou botafoguense, mas não me considero um torcedor fervoroso. Talvez seja justamente este o motivo maior de ser torcedor do glorioso. Freud explica, me sinto solitário, nada mais coerente do que torcer pela estrela solitária, contanto que eu mesmo não seja um astro errante, como uns e outros por aí. Explicações à parte, minha grande ligação com o futebol advém não do futebol em si, mas da arte, antes comum. Em outras palavras: sei do caráter ideológico do futebol, do quanto ele incentiva a nossa cultura de massa (aqui), mas não posso deixar de apreciar a arte que via em Garrincha, Rivelino, Gerson, vi em Romário, Ronaldo Fenômeno, e vejo em Ronaldinho Gaúcho, Neymar, e entendo o que eles fazem como claro sinal da graça comum, um fenômeno mais que evidente em um mundo caído como o nosso e num futebol sujo como o nosso.
Creio firmemente que a catarse é o fenômeno que deveria acontecer com maior ocorrência em nossos estádios. Segundo Aristóteles, catarse é a "purificação" experimentada pelos espectadores, durante e após uma representação dramática. O poder amansador do futebol está justamente aí, e ao que tudo nos indica não é somente em nosso país que tal ocorre. Ingleses, franceses, espanhóis principalmente experimental e vivem tal fenômeno. Mas o leitor já deve ter percebido que ele está ligado à arte.
Uma séria distorção tem ocorrido quanto à cultura e a prática do futebol no mundo, e garotos como Neymar, que podem ser vistos aos montes em nossas peladas, não se firmam com frequência no futebol. Resultado, a arte está cada vez mais em baixa, e a catarse tem cedido o seu lugar à barbárie. Estádios que antes eram verdadeiros templos da arte cujos sacerdócio era exercido por nada mais, nada menos do que Zico, Júnior, Falcão, Alemão, Mauro Galvão, Romário, (para não falar naqueles que nenhuma habilidade possuíam, mas que a graça era tal sobre a vida deles que se tornaram  xodós da torcida), agora são verdadeiros coliseus, onde feras atacam covardemente pessoas indefesas.
Confesso que me senti muito chateado com a crítica feita por Johan Cruyff á seleção de Dunga (aqui), até porque a Holanda de 2010 nem de longe se compara à de 1974 e 1978, ou 1990, 1994, 1998, o carequinha que fez a diferença é um caso à parte no cenário atual. Mas hoje percebo que as palavras do mago holandês, eram proféticas. Num universo futebolístico onde a "eficiência" e o "resultado" são colocados acima da arte, garotos talentosos são preteridos pelos altos e fortes, dribles são substituídos por troca de passes (que tantos cabeças de bagre quanto craques podem fazer), o que se vê é uma torcida à altura do futebol que é apresentado nos estádios.
Longe de mim defender, ou justificar a violência vista no jogo Vasco X Atlético PR, (violência esta que começou com a falta de educação do povo para o espetáculo que o futebol tem de ser, prosseguiu com adoção de uma filosofia futebolística que privilegia a "eficiência", ao invés da arte culminou com a clara omissão dos envolvidos na organização do jogo que não colocaram policiamento no estádio), mas cada futebol tem o torcedor que merece. Em outras palavras o futebol, que além de não primar pela arte ainda promove o inexplicável ódio velado (sob o manto do humor e da secação), entre flamenguistas e vascaínos resulta no que vimos no último domingo.
Não é a minha intenção aqui dizer que a brincadeira, e a gozação, (que se levadas de forma sadia, podem fazer parte do processo de catarse), tem de acabar, ou que se ninguém encarnar em mais ninguém o problema da violência nos estádios seria resolvida. Não até porque tal pensamento é ingênuo demais. Falo sim, de uma educação que permita a cada pessoa fazer uma analise de si mesma e expurgar de si os ressentimentos que redundam em barbáries como a vista neste último domingo.
A lei diz não matarás, na verdade vai além, a lei ensina a não odiar, mas a amar o próximo como a si mesmo. Jesus foi além da lei e ensinou que atos como o visto nas imagens do jogo de domingo são fruto da ira e do ódio que carregamos dentro de nós. Do ponto de vista cristão afirmo que precisamos de mais arte e graça nos gramados, a fim de sermos purgados do ódio.
 
Marcelo Medeiros
 

domingo, 8 de dezembro de 2013

Morre Nelson Mandela, mas vive um ideal.

 
 
A morte de Nelson Mandela foi capa de jornal e notícia em informativos televisivos esta semana. Da minha perspectiva, Mandela foi, ao lado de Ghandi, Martin Luther King, e Banhoeffer uma das figuras mais proeminentes do século passado. Mandela lutou severamente contra o apartheid (regime de segregação racial na África do Sul). Tenho a consciência de que Mandela foi um ser humano e que este seu lado foi muito bem pontuado no blog belverede, em sua trajetória existem falhas consideráveis, tal como se pode verificar nas vidas dos homens acima citados. Contudo, há homens que, à despeito de suas respectivas falhas parece carregar o peso da humanidade nas costas, e a despeito do quanto se tenha trabalhado na construção de um mito em torno da imagem de Mandiba, o preço que ele pagou por sua luta humanitária, pela não omissão foi alto. O resto pode ser entendido como prova da incontestável humanidade de Mandela.
 
Marcelo Medeiros

sábado, 7 de dezembro de 2013

Cumprindo as obrigações diante de Deus


A ausência de tempo não me permitiu fazer um trabalho de exegese mais profundo deste texto, mas ainda assim gostaria de compartilhar minha percepção a respeito do texto empregado na revista de Escola Bíblica Dominical da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, a respeito do tema em epígrafe. Para tal convido o leitor à leitura:
Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras. Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votares e não cumprires Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos? Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Deus (Ec 5. 1 - 7 ARCF).
O que podemos extrair do texto em termos de obrigações do homem para com Deus?
  1. A questão da reverência 
  2. A questão do ouvir a voz divina
  3. A restrição no falar
  4. O lugar e a validade dos sacrifícios
  5. O reconhecimento da supremacia e da sabedoria divina
  6. A questão dos votos
  7. A questão do Temor do Senhor
I) Reverencia na casa de Deus

Na lei observamos a seguinte ordem: Guardareis os meus sábados, e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o Senhor (Lv 19. 30 ARCF). É mais do que sabido que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas (Is 66. 1, 2), e que sua habitação é o seu povo (Ef 2. 20 - 22). Mas o tabernáculo foi construído com a intenção de ser uma clara representação da presença de Deus no meio do seu povo (Lv 26. 11), tanto que um profeta se expressou da seguinte forma: Mas o Senhor está no seu santo templo, cale-se diante dele toda a terra (Hc 2. 20 AC).
A reverencia é uma forma de dizermos que não banalizamos o sagrado. Deus pode vir a nós como veio á Moisés, no meio de lixo do deserto, mas sua presença jamais pode ser vulgarizada por nós, pois ele é santo. E sempre que ele se manifesta ele diz: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa (Ex 3. 5 ARCF).
Esta reflexão é mais do que atual, visto que em nosso tempo temos visto a popularização e midiatização do sagrado, que por sua vez tem sido transformado em mercadoria e bem de consumo, o que produz um tratamento errôneo,  principalmente por parte dos nossos jovens, que são os mais expostos ao midiatismo moderno (aqui).
 
II) O ouvir
 
Já falei neste espaço a respeito da curiosa observação feita por Rubém Alves a respeito da procura pelos cursos de oratória, quando deveríamos estar procurando cursos de escutatória. O ouvir espiritual, de igual modo está sendo muito prejudicado. Quando olhamos para a sabedoria, o que mais vemos é o apelo ao ouvir. Se na criação observamos a Palavra de Deus associada ao agir criador, aqui, esta está ligada à atitude humana. Deus nos deu a sua palavra para que nós as colocássemos em prática (Sl 119. 4), e para colocarmos a mesma em prática, precisamos ouvir atentamente o que Deus está querendo dizer para nós. Não é sem razão que a confissão judaica de fé começa com o apelo para o ouvir, pois está escrito:  שְׁמַ֖ע יִשְׂרָאֵ֑ל(Shemá Isharel), Ouve ó Israel Yhwh é único Deus. Sem o ouvir não o saberemos (aqui). 
Assim: Como pendentes de ouro e gargantilhas de ouro fino, assim é o sábio repreensor para o ouvido atento (Pv 25. 12 ARCF). Filho meu, ouvindo a instrução, cessa de te desviares das palavras do conhecimento (Pv 19. 27 ARCF). Aplica o teu coração à instrução e os teus ouvidos às palavras do conhecimento (Pv 23. 12 ARCF). O ouvir implica em restrição quanto ao falar
 
III) A restrição no falar
 
Semanas atrás falamos a respeito do cuidado no uso da língua (aqui), e na ocasião pontuamos que nas muitas palavras não falta ofensa, quem retém os lábios é prudente (Pv 10. 19 Bíblia de Jerusalém). De igual modo afirmamos, por meio da exegese que a palavra hebraica para ofensa, é פָּ֑שַׁע (pescha), a mesma palavra para transgressão, mal, maldade. Tanto que a Almeida Revista e Corrigida fiel traduz פָּ֑שַׁע (pescha) como pecado literalmente. Este mesmo termo é traduzido pela Bíblia de Jerusalém como falsidade neste texto: Na falsidade dos lábios há armadilha funesta, mas o justo escapa da penúria (Pv 12. 13). A versão Almeida Revista e Corrigida Fiel, traduz este mesmo texto assim: O ímpio se enlaça na transgressão dos lábios, mas o justo sairá da angústia (Pv 12. 13).
Isto posto, nos mostra a necessidade de moderarmos ao máximo nossa fala  diante de Deus, tanto na vida secular como um todo, quanto no momento litúrgico mesmo. Aqui cabe considerar a fala de Jesus, para quem: toda palavra sem fundamento que os homens disserem, darão contas no dia do Julgamento. Pois, por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado (Mt 12. 36, 37).
Jesus ainda ensinou aos seus discípulos a que em oração não multiplicassem as palavras. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes
(Mt 6. 7, 8 ARCF). Nossa reverência no santuário tem de se refletir também na forma com que nos expressamos a Deus em nossas orações.
 
IV) O lugar e a validade dos sacrifícios
 
O livro de Levítico estabelece um rígido sistema de leis sobre ofertas e sacrifícios, mas com o passar do tempo os profetas e os sábios em Israel foram alterando o seu entendimento a respeito da forma de cultuar.
Ouve, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu protestarei contra ti: Sou Deus, sou o teu Deus. Não te repreenderei pelos teus sacrifícios, ou holocaustos, que estão continuamente perante mim. Da tua casa não tirarei bezerro, nem bodes dos teus currais. Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo. Se eu tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e toda a sua plenitude. Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes? Oferece a Deus sacrifício de louvor, e paga ao Altíssimo os teus votos. E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás (Sl 50. 7 - 15 ARCF).
O que fica claro neste texto é que Deus é o dono e Senhor de toda a terra, e que ele não precisa que homem algum lhe dê nada. Neste contexto os sacrifícios são expressão de reconhecimento de que tudo pertence a Deus por direito, e somente com esta motivação os mesmos são aceitos. Como o próprio Davi reconheceu ao afirmar: Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus (Sl 51. 17 ARCF).
Para קֹהֶ֣לֶת (kohelet), sacrificar não nos traz vantagem alguma, com isto a cultura pagã, que acreditava poder dobrar as divindades por meio de sacrifícios cai inteiramente por terra. Esta cultura que lentamente tem se instalado no cristianismo tem de cair por terra, e para isto vale à pena lembras as palavras do pregador
Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento. Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto vivem, e depois se vão aos mortos (Ec 9. 2 - 3 ARCF).
Para קֹהֶ֣לֶת (kohelet), melhor do que sacrificar, é saber aproveitar bem a vida (Ec 9. 7 - 9).
 
V) Deus é superior
 
A Bíblia descreve Deus como habitante do céu. Com isto estamos muito longe de dizer que o espaço seja um tipo de morada geográfica, mas que ele está acima de nós, não sem motivo, Jesus afirma que o céu é o trono de Deus (Mt 5. 34), de sorte que qualquer juramento que era feito pelo céu, incluía aquele que estava assentado no trono, a saber, o próprio Deus (Mt 23. 22). Fazer um juramento por alguém que fosse superior era algo natural. Apenas Deus jura por si mesmo (Hb 6. 13). Mas o não cumprimento do juramento se traduz em profanação. Daí a recomendação bíblica: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão (Ex 20. 7 ARCF). Isto nos leva á consideração a respeito do voto.
 
VI) O voto sagrado
  
A lei a respeito do voto dizia:
Quando fizeres algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de votar, não haverá pecado em ti. O que saiu dos teus lábios guardarás, e cumprirás, tal como voluntariamente votaste ao Senhor teu Deus, declarando-o pela tua boca (Dt 23. 21 - 23 ARCF).
Este texto deixa claro que o homem que fizesse um voto a Deus se obrigava a cumprir o mesmo. Mas a historia de Jefté nos mostra que precisamos de critérios claros no ato de votar, para não prometer a Deus aquilo que ele não pede de nós (Jz 11. 33). Este caso é ainda mais curioso, uma vez que a presença do Espirito do Senhor sobre a vida dele no momento da peleja deveria de ser prova suficiente de que Deus era com ele. Mas ainda assim, este fez um voto indevido. Devemos tomar cuidado para não agirmos assim.
 
VII) O temor do Senhor
 
Na medida em que nos aprofundamos na literatura sapiencial, percebemos a centralidade do  temor do Senhor (Yir'ah Yahweh [ יִרְאַ֣ת יְ֭הוָה]) se faz importante. É nisto que consiste a sabedoria. Já falamos neste espaço a respeito da existência  de regras que somente são obedecidas quando uma moral, ou uma ética é internalizada. É a internalização dos valores e dos preceitos divinos fazem com que o homem se desvie do pecado. Não é sem razão que Salomão exorta ao seu filho nas seguintes palavras: Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal (Pv 3. 7 ARVF). E, Pela misericórdia e verdade a iniquidade é perdoada, e pelo temor do Senhor os homens se desviam do pecado (Pv 16. 6 ARCF). 
 קֹהֶ֣לֶת (kohelet) afirma: De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau (Ec 12. 13, 14 ARCF).

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Julgar a si mesmo, antes de julgar aos outros


Não se deve esquecer a seguinte regra: o inconsciente de uma pessoa se projeta sobre outra pessoa, isto é, aquilo que alguém não vê em si mesmo, passa a censurar no outro. Este princípio tem uma validade geral tão impressionante que seria bom se todos, antes de criticar os outros, se sentassem e ponderassem cuidadosamente se a carapuça que querem enfiar na cabeça do outro não é aquela que se ajusta perfeitamente a eles. Carl Jung (aqui)
Para mim este é um assunto mais do que batido. A Bíblia em hipótese alguma proíbe o julgamento. Não, de forma alguma! Afinal, Jesus mesmo disse: Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos (Jo 7. 24 NVI). Assim, quando Jesus disse: não julgueis, ele não estava proibindo o juízo em si, mas o juízo temerário, aquele em que, via de regra, o problema pessoal é ignorado e apenas o do outro é visto (Mt 7. 3, 4). Paulo aprofundou ainda mais a questão quando disse: Portanto, você, que julga, os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas (Rm 2. 1 NVI). O apostolo não poderia ter sido mais feliz em sua síntese do ensino de Cristo, visto que este é o sentido básico dos versos deste texto.
Na medida em que se segue na leitura do texto em que Jesus condena o juízo temerário, é possível a percepção de que o juízo criterioso é mais do que necessário para que se faça a distinção entre os que podem, ou não ouvir as verdades que temos para falar (Mt 7. 6), entre falsos e verdadeiros profetas (Mt 7. 14 - 20).

Aqui cabe a lembrança de que o verbo julgar em grego e em português possuem a mesma peculiaridade. O verbo grego κρινεω (kryneoo) também pode ser traduzido como ponderação (At 4. 19; I Co 10. 15; 11. 13). O problema com relação ao juízo e à critica consiste no fato de que quanto menos percebemos nossas limitações, mais tendemos a ser severos em nosso julgamento, e neste aspecto sou forçado a considerar o autor da frase, caso seja mesmo Jung, um iluminado em face da percepção.

Na Bíblia o exame pessoal é frequentemente estimulado, uma vez que Paulo disse: Examine-se o homem a si mesmo (I Co 11. 28a NVI), e Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos. Não percebem que Cristo Jesus está em vocês? A não ser que tenham sido reprovados! (II Co 13. 5 NVI). O problema é que nosso coração frequentemente nos engana (Jr 17. 9, 10) e neste caso temos de orar ao Senhor como Davi o fez dizendo: Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno (Sl 139. 23, 24 NVI).

Que Deus renove em nós o senso de nossa pecaminosidade, de nossa dependência da graça, a fim de que usemos da misericórdia exigida, para com os que, como nós, precisam da misericórdia. Antes de Cristo dizer não julgueis, ele ensinou aos seus discípulos a orarem: perdoa as nossas dívidas, assim como temos perdoados aos nossos devedores. E ele mesmo encerra dizendo: Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas (Mt 6. 14, 15 NVI). 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

Papa Francisco se veste de padre para visitar pobres


De acordo com este site esta seria uma imagem do então Papa Francisco saindo de padre durante a noite a fim de evangelizar os pobres. Já comentei aqui e aqui a respeito das boas impressões que este papa me causou a começar pela postura que ele tomou ao ser eleito, e pela sua atuação frente á jornada mundial da juventude. A cena foi descrita da forma mais positiva por Caio Fabio em sua pagina no facebook. Compartilhamos da mesma percepção, a de que o catolicismo está sendo agraciado com o pontificado de um padre, que pretende viver o Evangelho. A questão em comum é se o vinho novo do Evangelho cabe dentro do odre velho da instituição?
O problema indicado pelos questionamento acima se agrava ainda mais quando percebemos que o ranço de disputa entre católicos e protestantes ainda permanece, quando na verdade, o que mais precisamos é de diálogo. Olhe o site por nós indicado e você caro leitor verá uma briga patética entre um suposto católico e um provável evangélico, a julgar o teor nem um nem outro sabem o que é de fato ser católico, ou evangélico, mas o que é ser sectarista.
Como cristão evangélico reafirmo aqui que o momento não é de guerra, mas de aproximação e diálogo. Do contrário, perderemos o bonde, como diversas vezes já perdemos. Que o exemplo do Papa Francisco sirva de despertamento para o nosso povo. Vejo como Evangélico que sou a necessidade de vivermos a dimensão social do Evangelho de Cristo, afinal, como diz Jonh Stott, a missão não exclui a ação social, mas é complementada por esta.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Pastor da AD se converte ao Islamismo

A presente postagem visa responder algumas questões que este pastor levanta em torno da pessoa de Jesus e da legitimidade da fé mulçumana. Desde já esclareço que não pretendo aqui abordar as motivações pessoais que levaram o Pastor em pauta a renegar a fé cristã e se "reverter" à fé mulçumana. Contudo, ao analisar algumas questões que ele coloca na entrevista abaixo, pode-se perceber que tudo começou com a ausência de dialogo, pesquisa desorientada e uma incapacidade cada vez mais flagrante em nosso meio de debater.
Veja o depoimento que ele dá de sua trajetória de estudo em torno da doutrina da trindade, e mais como ele foi motivado a estudar o assunto. Ao que tudo indica, uma irmã, ao receber a oportunidade para testemunhar, propalou palavras contra a doutrina da trindade, e o ex-pastor se comprometeu em dar uma palavra á Igreja a respeito do assunto. E no seu percurso de estudo descobriu a que trindade não existe.
Minha palavra a respeito do assunto, é que por mais difícil que seja a crença na trindade, ela ainda é a melhor forma que temos de expressar a realidade da divindade do Yahweh (יְהוָ֞ה), com a divindade de Cristo, ambas afirmadas nas Escrituras (Dt 6. 4; Rm 9. 5; Tt 2. 13, 14). O Evangelho de João mesmo está cheio de declarações nas quais Cristo se afirma semelhante ao Pai, e não bastasse isto, mesmo em Mateus (um Evangelho feito para os judeus), lemos que um dos motivos da crucificação foi o fato de que ao se considerar filho do Pai (na mentalidade dos judeus), Jesus estava se fazendo semelhante à Deus (Mt 26. 65).
A respeito da crença no Deus único, uma questão que tem de ser enfrentada é que em termos de monoteísmo o judaísmo tem no mínimo dois milênios de precedência em relação ao islamismo. Diante disto, o argumento que todo homem nasce islâmico em função da crença no Deus único e que quando se encontra com a fé do Islã, ele se reverte, carece de revisão, afinal, o mesmo poderia ser dito do judaísmo.
A respeito de Jesus, e mesmo Moisés, serem profetas da parte de Deus, tidos em grande consideração pelo Islã (visto que ambos são frequentemente citados nas suratas do Corão), cabe perguntar: na fé islâmica Jesus possui precedência sobre Maomé? Uma outra questão aqui é: que ateísmo havia na época de Jesus? Qual a procedência de tal informação, O Corão Sagrado, ou existem fontes históricas para que o fiel faça tais afirmações? A respeito da primeira pergunta a impressão que tenho é de que Maomé é sim colocado em precedência sobre o próprio Cristo. E no tocante a segunda, creio que o ex pastor e pregador se rendeu a versão mulçumana de Jesus.
Isto é claramente comprovado na segunda parte da entrevista quando o recém convertido á fé do islã declara que tanto Jesus quanto Mohamed são profetas de Deus. Note a citação que João de Deus faz de uma fala supostamente atribuída á Maomé, quando este diz que era da mesma família de Jesus, a de Deus. Após o ex pastor coloca um ensino bem parecido com o da Nova Era, com a diferença de Jesus está sendo comparado à Mohamed, ambos profetas de Deus com ensinos para uma determinada época. Fica claro que para ele o Corão Sagrado é o referencial para nortear o homem em todas as épocas, ao passo que a mensagem de Jesus foi uma mensagem local. Vou parar por aqui, pois não tenho o devido suporte para avançar nos quatro vídeos que tratam a entrevista. Mas preciso falar que nenhum profeta jamais falou com a autoridade de Cristo quando este disse: O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar (Mt 24. 35).
A Bíblia e a necessidade que o próprio islã tem de se referendar à pessoa de Cristo estão aí como prova de que de fato as palavras de Cristo não passaram, mas possuem valor permanente. Em Cristo,
 
Pr Marcelo Medeiros.
 
 
 
 

João Alexandre e seu rompimento com a música gospel

 
Esta manhã, em minha primeira visita às paginas do facebook, me deparei com a noticia mais do velha, de que João Alexandre anunciara seu rompimento com a música gospel (aqui). Mas ao ler o conteúdo da matéria vi que não se tratava de simples rompimento, coisa que é real há mais de vinte anos, mas de um pedido que o cantor faz. João Alexandre não quer mais é ser associado ao Gospel, pois na visão do cantor em apreço este se tornou símbolo de uma cultura de massa, na qual os cantores são associados com fama, fortuna e uma diversidade de valores que contraditam a arte em si, e pior, com a mensagem cristã, que em tese tais artistas pretendem veicular.
Ainda no facebook do cantor, é possível vermos a seguinte fala:
Maldita a hora em que um publicitário teve a "brilhante" idéia de chamar a Música Cristã Contemporânea Brasileira, estrategicamente e mercadológicamente, de "GOSPEL"!
Desde então, por pior que seja uma música dentro do GOSPEL, muitos cristãos assimilam, sem nenhum critério e por melhor que seja uma música fora dele, é simplesmente rejeitada! Ainda bem que Deus não é GOSPEL!
(aqui).
As palavra são fortes? Sim, e daí! Fato é que elas retratam a realidade em que vivemos, onde se faz distinção entre música gospel e secular, ou profana, mas não entre música ruim e boa, e pior, quando falamos sempre surge alguém com o discurso de que o gosto não se discute, que é relativo, e que não existem padrões universais. Mas aqui faço voz com Ricardo Gondim, sim,
Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza (aqui).
Ouvir uma obra de Bach demanda uma capacidade de apreciação que está cada vez mais rara, principalmente no nosso meio. Nosso povo tem sido adestrado para o reconhecimento, é isto que chamam de gostar. A melodia, a estrutura poética, de tão batidas que são se tornam reconhecidas e facilmente identificadas pelo ouvinte. Com isto se institui uma ditadura em que é proibido discordar, não gostar desta ou daquela faixa do CD, afinal, o cantor é sucesso.
Assim, vez ou outra sou forçado a ouvir em um, ou mais cultos (que infelizmente se tornaram braços da mídia), coisas do tipo "se tiveres fé de um grão de mostarda", "incendeia Senhor a tua Igreja"e em nenhum dos casos falo do texto bíblico, mas de músicas que em comum possuem o fato de serem pessimamente mau estruturadas na melodia, na letra, na harmonia, e cuja finalidade se vê nos trenzinhos que as pessoas saem fazendo no interior do templo, e nas requebradas das moças (e eu que pensei que a lambada já era o apocalipse!).
Cada vez mais sou forçado a concordar com Adorno quando ele fala do fetichismo que há em nossa música (aqui), com a única ressalva de que discordo da divisão que ele faz entre música popular e musica erudita, e isto por uma simples razão, a giga e o minueto, por exemplo, antes de tomarem a forma erudita existiram na forma popular. Para mim, este é um claro indicador de que a música em sua expressão popular pode sim, ser refinada. A questão então seria: refinada para quem apreciar?
Graças a Deus João Alexandre e tantos outros anônimos estão entre nós. Para mim eles são como aqueles profetas que Obede escondeu em uma cisterna, ou como os sete mil que não prostraram diante de Baal, cuja boca não o beijaram, e que foram preservados por Deus em Israel. Em Cristo.
 
Marcelo Medeiros.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Ovelhas que buscam mestres segundo os seus desejos?


Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos (II Tm 4.3 - 4 NVI).
O cartaz aponta para a inexorável verdade de que já vivemos estes dias vividos por Paulo. Dias em que a verdade não pode ser mais falada. Homens que vivem flagrantemente uma vida contraria ao Evangelho sequer podem ser denunciados, ou apontados. Nas palavras de Paulo ao seu filho Tito, eles são homens que: afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra (Tt 1. 16 NVI). 
Minha sincera opinião é a de que as ovelhas de Jesus não agem da forma descrita na imagem acima, pelo contrário, elas rejeitam os lobos, os mercenários, os falsos profetas, porque elas conhecem a voz do supremo pastor e seguem ao pastor, e recebem dele a vida eterna, e possuem a garantia de que nada as arrebatará das mãos de Cristo (Jo 10. 1 - 11, 14, 16, 26 - 29). MAS ISTO É DITO DAS OVELHAS DE JESUS, É CLARO.
 
Marcelo Medeiros, Em Cristo.

Tt 3. 9 uma breve exegese

 


Em alguns embates que tive no facebook, comumente me deparei com o mau emprego do texto que titula a presente postagem. Meu objetivo é mostrar por meio de um processo de exegese que tal texto não nos serve de base para calar discussões a respeito de assuntos polêmicos, ou varrer para debaixo do tapete questões que precisam de serem encaradas com maturidade e discernimento, mas não o são porque o nosso meio tem sido claramente marcado pelo anti-intelectualismo. Vamos ao texto?
Paulo recomenda ao seu filho na fé Tito que: Evite, porém, controvérsias tolas, genealogias, discussões e contendas a respeito da lei, porque essas coisas são inúteis e sem valor (Tt 3. 9 NVI).
O leitor, por favor note, observe que nada é dito a respeito de debates, mas de discussões que são provocadas a partir de controvérsias tolas. Tais discussões não envolvem assuntos atuais, mas temáticas a partir da lei, e de questões próprias do universo religioso judaico. Paulo as considera inúteis e sem valor. A fim de aclarar ainda mais esta verdade subjacente ao texto farei um breve exercício de exegese.
Tomemos por exemplo o verbete ζητησεις (zeeteesis), cuja tradução sugerida por Rienecker e Rogers na chave linguística do Novo Testamento da Editora Vida Nova é a de especulação. Este mesmo termo aparece ainda em mais três textos (I Tm 1. 4; 6. 4; II Tm 2. 23), todos documentos, que hoje são conhecidos por nós como as Cartas Pastorais. Paulo ordenou à Timóteo que organizasse a Igreja de Éfeso e fizesse isto proibindo o ensino de falsas doutrinas, veja:
Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas, e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé (I Tm 1. 3, 4 NVI).
 Aqui Paulo emprega um termo derivado de ζητησεις, εκζητησεις (ekzeeteesis), cujo sentido é ampliado de especulação para questionamentos e pesquisas desordenadas. Alguns estudiosos afirmam que no judaísmo pós exílico as genealogias vieram a desempenhar um papel importante na mentalidade judaica e por isto mesmo constituíam importante papel na controvérsia entre judeus e cristãos. E é justamente este estudo de caráter especulativo, sem o uso de uma metodologia apropriada que Paulo chama de questões loucas. 
No entender de Paulo, os que vivem a levantar tais questões o fazem por orgulho, visto que não podem se conformar com a simplicidade do ensino de Cristo e assim alimentam um desejo doentio por questões intermináveis (I Tm 6. 3, 4). A motivação principal é o pensamento distorcido que vê a piedade como possível fonte de lucro (I Tm 6. 5). Tal pode ser visto na postura de muitos pregadores atuais que contam historias de púlpito, no mínimo duvidosas, e especulam a respeito de lendas que não possuem sentido algum.
Devido ao caráter especulativo deste tipo de estudo (que está sendo condenado por Paulo), da ausência de uma metodologia, e da motivação interior dos que sempre recorriam a tais questões, o resultado delas somente poderia ser um: brigas. Todavia não cabe aqui o entendimento de que um servo de Deus não possa abordar uma questão polêmica nos dias atuais, com o fim, de à luz das Escrituras, e isto podemos inferir da leitura do texto abaixo.
Evite as controvérsias tolas e fúteis, pois você sabe que acabam em brigas. Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade (II Tm 2. 23 - 26 NVI).
O papel do homem de Deus não é embrenhar-se por mais e mais especulações, mas ensinar de forma a corrigir possíveis erros oriundos de tais questões. Deve inclusive ministrar pacientemente aos que erram mesmo, a fim de que sejam livres das armadilhas que o diabo colocou diante deles (I Tm 6. 9, 10). Escrevendo à Tito, Paulo foi mais visceral, ao afirmar que o homem de Deus tem de apegar-se  firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela (Tt 1. 9 NVI). A palavra para refutar aqui é ελεγχειν (elegcheein), a mesma para convencer de erro. E não se faz isto sem debate, sem discussão, sem argumentação.
A leitura do texto à luz do contexto global da Carta de Paulo à Tito nos conduz a outra verdade. Se não podemos nos entregar às genealogias intermináveis, que ensino devemos ter? O foco do ensino cristão não se dá a partir de regras feitas por homens que rejeitam a verdade (Tt  1. 14), mas a partir do ensino da graça que conduz a uma vida sóbria (Tt 2. 11 - 15; 3. 1 - 9). Aí sim, estaremos de fato na são doutrina.

Pr Marcelo Medeiros.
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