Pesquisar este blog

sábado, 7 de dezembro de 2013

Cumprindo as obrigações diante de Deus


A ausência de tempo não me permitiu fazer um trabalho de exegese mais profundo deste texto, mas ainda assim gostaria de compartilhar minha percepção a respeito do texto empregado na revista de Escola Bíblica Dominical da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, a respeito do tema em epígrafe. Para tal convido o leitor à leitura:
Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras. Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votares e não cumprires Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos? Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Deus (Ec 5. 1 - 7 ARCF).
O que podemos extrair do texto em termos de obrigações do homem para com Deus?
  1. A questão da reverência 
  2. A questão do ouvir a voz divina
  3. A restrição no falar
  4. O lugar e a validade dos sacrifícios
  5. O reconhecimento da supremacia e da sabedoria divina
  6. A questão dos votos
  7. A questão do Temor do Senhor
I) Reverencia na casa de Deus

Na lei observamos a seguinte ordem: Guardareis os meus sábados, e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o Senhor (Lv 19. 30 ARCF). É mais do que sabido que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas (Is 66. 1, 2), e que sua habitação é o seu povo (Ef 2. 20 - 22). Mas o tabernáculo foi construído com a intenção de ser uma clara representação da presença de Deus no meio do seu povo (Lv 26. 11), tanto que um profeta se expressou da seguinte forma: Mas o Senhor está no seu santo templo, cale-se diante dele toda a terra (Hc 2. 20 AC).
A reverencia é uma forma de dizermos que não banalizamos o sagrado. Deus pode vir a nós como veio á Moisés, no meio de lixo do deserto, mas sua presença jamais pode ser vulgarizada por nós, pois ele é santo. E sempre que ele se manifesta ele diz: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa (Ex 3. 5 ARCF).
Esta reflexão é mais do que atual, visto que em nosso tempo temos visto a popularização e midiatização do sagrado, que por sua vez tem sido transformado em mercadoria e bem de consumo, o que produz um tratamento errôneo,  principalmente por parte dos nossos jovens, que são os mais expostos ao midiatismo moderno (aqui).
 
II) O ouvir
 
Já falei neste espaço a respeito da curiosa observação feita por Rubém Alves a respeito da procura pelos cursos de oratória, quando deveríamos estar procurando cursos de escutatória. O ouvir espiritual, de igual modo está sendo muito prejudicado. Quando olhamos para a sabedoria, o que mais vemos é o apelo ao ouvir. Se na criação observamos a Palavra de Deus associada ao agir criador, aqui, esta está ligada à atitude humana. Deus nos deu a sua palavra para que nós as colocássemos em prática (Sl 119. 4), e para colocarmos a mesma em prática, precisamos ouvir atentamente o que Deus está querendo dizer para nós. Não é sem razão que a confissão judaica de fé começa com o apelo para o ouvir, pois está escrito:  שְׁמַ֖ע יִשְׂרָאֵ֑ל(Shemá Isharel), Ouve ó Israel Yhwh é único Deus. Sem o ouvir não o saberemos (aqui). 
Assim: Como pendentes de ouro e gargantilhas de ouro fino, assim é o sábio repreensor para o ouvido atento (Pv 25. 12 ARCF). Filho meu, ouvindo a instrução, cessa de te desviares das palavras do conhecimento (Pv 19. 27 ARCF). Aplica o teu coração à instrução e os teus ouvidos às palavras do conhecimento (Pv 23. 12 ARCF). O ouvir implica em restrição quanto ao falar
 
III) A restrição no falar
 
Semanas atrás falamos a respeito do cuidado no uso da língua (aqui), e na ocasião pontuamos que nas muitas palavras não falta ofensa, quem retém os lábios é prudente (Pv 10. 19 Bíblia de Jerusalém). De igual modo afirmamos, por meio da exegese que a palavra hebraica para ofensa, é פָּ֑שַׁע (pescha), a mesma palavra para transgressão, mal, maldade. Tanto que a Almeida Revista e Corrigida fiel traduz פָּ֑שַׁע (pescha) como pecado literalmente. Este mesmo termo é traduzido pela Bíblia de Jerusalém como falsidade neste texto: Na falsidade dos lábios há armadilha funesta, mas o justo escapa da penúria (Pv 12. 13). A versão Almeida Revista e Corrigida Fiel, traduz este mesmo texto assim: O ímpio se enlaça na transgressão dos lábios, mas o justo sairá da angústia (Pv 12. 13).
Isto posto, nos mostra a necessidade de moderarmos ao máximo nossa fala  diante de Deus, tanto na vida secular como um todo, quanto no momento litúrgico mesmo. Aqui cabe considerar a fala de Jesus, para quem: toda palavra sem fundamento que os homens disserem, darão contas no dia do Julgamento. Pois, por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado (Mt 12. 36, 37).
Jesus ainda ensinou aos seus discípulos a que em oração não multiplicassem as palavras. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes
(Mt 6. 7, 8 ARCF). Nossa reverência no santuário tem de se refletir também na forma com que nos expressamos a Deus em nossas orações.
 
IV) O lugar e a validade dos sacrifícios
 
O livro de Levítico estabelece um rígido sistema de leis sobre ofertas e sacrifícios, mas com o passar do tempo os profetas e os sábios em Israel foram alterando o seu entendimento a respeito da forma de cultuar.
Ouve, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu protestarei contra ti: Sou Deus, sou o teu Deus. Não te repreenderei pelos teus sacrifícios, ou holocaustos, que estão continuamente perante mim. Da tua casa não tirarei bezerro, nem bodes dos teus currais. Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo. Se eu tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e toda a sua plenitude. Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes? Oferece a Deus sacrifício de louvor, e paga ao Altíssimo os teus votos. E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás (Sl 50. 7 - 15 ARCF).
O que fica claro neste texto é que Deus é o dono e Senhor de toda a terra, e que ele não precisa que homem algum lhe dê nada. Neste contexto os sacrifícios são expressão de reconhecimento de que tudo pertence a Deus por direito, e somente com esta motivação os mesmos são aceitos. Como o próprio Davi reconheceu ao afirmar: Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus (Sl 51. 17 ARCF).
Para קֹהֶ֣לֶת (kohelet), sacrificar não nos traz vantagem alguma, com isto a cultura pagã, que acreditava poder dobrar as divindades por meio de sacrifícios cai inteiramente por terra. Esta cultura que lentamente tem se instalado no cristianismo tem de cair por terra, e para isto vale à pena lembras as palavras do pregador
Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento. Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto vivem, e depois se vão aos mortos (Ec 9. 2 - 3 ARCF).
Para קֹהֶ֣לֶת (kohelet), melhor do que sacrificar, é saber aproveitar bem a vida (Ec 9. 7 - 9).
 
V) Deus é superior
 
A Bíblia descreve Deus como habitante do céu. Com isto estamos muito longe de dizer que o espaço seja um tipo de morada geográfica, mas que ele está acima de nós, não sem motivo, Jesus afirma que o céu é o trono de Deus (Mt 5. 34), de sorte que qualquer juramento que era feito pelo céu, incluía aquele que estava assentado no trono, a saber, o próprio Deus (Mt 23. 22). Fazer um juramento por alguém que fosse superior era algo natural. Apenas Deus jura por si mesmo (Hb 6. 13). Mas o não cumprimento do juramento se traduz em profanação. Daí a recomendação bíblica: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão (Ex 20. 7 ARCF). Isto nos leva á consideração a respeito do voto.
 
VI) O voto sagrado
  
A lei a respeito do voto dizia:
Quando fizeres algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de votar, não haverá pecado em ti. O que saiu dos teus lábios guardarás, e cumprirás, tal como voluntariamente votaste ao Senhor teu Deus, declarando-o pela tua boca (Dt 23. 21 - 23 ARCF).
Este texto deixa claro que o homem que fizesse um voto a Deus se obrigava a cumprir o mesmo. Mas a historia de Jefté nos mostra que precisamos de critérios claros no ato de votar, para não prometer a Deus aquilo que ele não pede de nós (Jz 11. 33). Este caso é ainda mais curioso, uma vez que a presença do Espirito do Senhor sobre a vida dele no momento da peleja deveria de ser prova suficiente de que Deus era com ele. Mas ainda assim, este fez um voto indevido. Devemos tomar cuidado para não agirmos assim.
 
VII) O temor do Senhor
 
Na medida em que nos aprofundamos na literatura sapiencial, percebemos a centralidade do  temor do Senhor (Yir'ah Yahweh [ יִרְאַ֣ת יְ֭הוָה]) se faz importante. É nisto que consiste a sabedoria. Já falamos neste espaço a respeito da existência  de regras que somente são obedecidas quando uma moral, ou uma ética é internalizada. É a internalização dos valores e dos preceitos divinos fazem com que o homem se desvie do pecado. Não é sem razão que Salomão exorta ao seu filho nas seguintes palavras: Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal (Pv 3. 7 ARVF). E, Pela misericórdia e verdade a iniquidade é perdoada, e pelo temor do Senhor os homens se desviam do pecado (Pv 16. 6 ARCF). 
 קֹהֶ֣לֶת (kohelet) afirma: De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau (Ec 12. 13, 14 ARCF).

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

Um comentário:

  1. Pr. Medeiros, postei esse comentário a seguir no site do Alexandre mas ele cortou imediatamente. Foi em resposta ao teu comentário. Segue:

    Em respeito à verdade, devemos fazer uma distinção entre ‘interpretação literal’ - uma forma que pode ser aplicada em textos determinísticos, como a física, a matemática, a lógica; e ‘literalismo’ - um vício de linguagem que, como tal, não deve ser utilizado por conduzir a resultados falsos.

    Analisando o contexto do blog, eu concluí que o motivo que leva o Alexandre a teimar no vício de linguagem não é o que ele alegou. Na verdade, como o objetivo dele é sempre queimar a Bíblia, ele se utiliza de erros. E isso é mais uma prova que só se enxergam erros na Bíblia se se cometem erros no ato de observar.

    Atenciosamente
    Professor W. S. Smith

    ResponderExcluir

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.