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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Teologia Apologética Pentecostal, uma avaliação inicial

 



Escrevi ontem (dia vinte e sete de Dezembro) neste blog, um artigo a respeito da revista de Escola Bíblica Dominical do próximo trimestre do ano que se avizinha. Por conta das demandas que a mesma suscita resolvi terminar a leitura de Revestidos de Poder e de O Espírito e a Palavra, ambas as obras de autoria de ninguém menos do que Gutierres Fernandes Siqueira. Este é um autodidata e, ao mesmo tempo um dos mais talentosos escritores revelados no meio pentecostal. 

Ambas as obras possuem forte teor teológico e apologético. Ambas reúnem renomados teólogos pentecostais cujos nomes não eram de conhecimento do grande público, até pouco tempo atrás. E a razão de tal desconhecimento é compreensível visto em boa parte são estrangeiros e não tinham suas obras traduzidas para a língua portuguesa até o momento.  Muitas das obras citadas ainda não possuem versão em língua pátria, e talvez sequer venham a possuir. Daí que este mérito tenha de ser dado ao autor, que, ao que parece possui as competências para acessar tais literaturas em língua inglesa. 

Exemplo clássico são as obras de Menzies e Stronsad, que ele frequentemente cita em seus escritos. No último caso uma obra da década de noventa que somente agora veio à tona ao público brasileiro, por conta de sua tradução e lançamento pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Iniciei a leitura deste livro, e já fui cativado pelo mesmo. 

O livro em apreço traduz um esforço de colocar uma nova dimensão do fenômeno do pentecostalismo nos cânones acadêmicos. E conforme pontuado neste artigo aqui, instrumentaliza exegese crítica para fazer aquilo que é evidente a todo exegeta e Teólogo bíblico, a diferença no uso dos termos teológicos que os autores fazem, e que os teólogos precisam levar em conta. 

Até o presente momento, somente em D. A. Carson eu havia visto tal cuidado. Em seu livro Teologia Sistemática, ou Teologia Bíblica, ele ressalta o elemento da diversidade teológica e a necessidade de que a tarefa teológica comece na exegese, avance para a Teologia Bíblica (contemplando as peculiaridades de cada autor), perpasse pela Teologia histórica (que são as discussões ao longo da história e as respostas que a Igreja foi dando em cada momento específico), para então partir para o trabalho de sistematizar os dados da revelação. 

Um exemplo do campo da soteriologia é que ao pretender falar da mesma sob o aspecto bíblico, não posso reunir dados de textos do saltério e dos profetas como se os autores de ambos os documentos estivessem falando da mesma coisa. Em regra quando o termo salvação todavia o termo ישועה yascha nos salmos tem o significado de livramento temporal. Tanto que a NTLH traduz por vitória. 

A grande questão que perpassa a teologia do saltério, é a possibilidade de um justo, ou alguém com quem Deus fez uma aliança vir a sucumbir diante de uma trama arquitetada por um homem ímpio. A vida ideal para o homem que teme a Deus e que se compraz nos seus mandamentos é a vida longeva e uma morte na velhice, cercado de seus filhos e netos (Sl 128). 

Já no profeta Isaías o mesmo termo é empregado pelo autor para significar a restauração de Sião e da nação de Israel. A minha justiça eu a torno próxima, já não está longe, e a minha salvação não será mais retardada; eu darei a Sião a salvação, a Israel darei o meu esplendor (Is 46. 13 TEB). Aqui o que está sendo dito é que Israel terá uma glória similar aos dias de seu apogeu nos reinados de Davi e Salomão. 

Ainda á título de exemplo cabe aqui a citação da NTLH, que traduz o texto citado acima da seguinte forma: Mas eu vou fazer chegar logo a salvação que prometi; ela não vai demorar, e em breve eu conseguirei a vitória. Eu salvarei os moradores de Sião e repartirei com o povo de Israel a minha grandeza. O que se quer deixar claro aqui é que salvação não possui a mesma conotação para determinados autores. 

O caso dos Evangelhos ainda é bem emblemático, a terminologia salvação é usada ali de maneira intercambiável para o livramento dos pecados (Mt 1. 21) e para os inúmeros casos de cura, onde se lê vai, a tua fé te salvou. No campo da Hermenêutica, Guttierres Trabalha muito bem a diferença entre as Pneumatologia Paulina e Lucana. Ele chega a destacar em alguns momentos leituras e autores que apontam para a paulinização do novo Testamento, ao fazerem crer que a única doutrina do Espirito Santo seja de caráter soteriológico.

Tanto Gutierres quanto Stronsad destacam que para Lucas a missão do Espirito consiste na capacitação dos crentes para a proclamação cristã. O Batismo com o Espírito Santo prometido por João Batista é interpretado por Lucas como sendo um revestimento de poder que visa à capacitação do crente para o Testemunho cristão que rompe com as barreiras territoriais (At 1. 4 - 8). 

Isto pode ser aplicado aos crentes da Igreja primitiva, mas também pode se aplicar ao próprio Cristo, a quem Deus ungiu com virtude e com o poder do Espírito a fim de curar e libertar as pessoas que estavam debaixo do jugo do diabo (At 10. 38). Tanto que de acordo com o relato de Lucas, Jesus aplica a si mesmo e à sua missão o texto de Is 61, 1, 2. 

Ainda no tocante à Hermenêutica Pentecostal, creio que inicialmente as incursões de Gutierres Siqueira são mais felizes do que as de David Mesquiati de Oliveira e Kenner Terra, no livro Experiência e Hermenêutica Pentecostal. Creio que a linguagem rebuscada (em razão do teor acadêmico da obra) deu margem para que pessoas "bem" intencionadas acusassem a mesma de ser de cunho liberal (veja aqui), quando nem de longe o é. Com Gutierres não existe o espaço para que tal aconteça, e este é um ponto positivo a ser visto na obra. 

Outra questão, tanto David Mesquiati de Oliveira quanto Kenner Terra, em suas respectivas falas colocam a Hermenêutica da Reforma como algo de valor negativo, ao acusar a mesma de produzir o racionalismo e depois deste o liberalismo Teológico. pior, o método histórico crítico é descrito como não tendo contribuição nenhuma a dar. 

É verdade que os escritores bíblicos não empregavam o método histórico crítico na sua interpretação das Escrituras. Mas é igualmente verdade que sem a exegese crítica dificilmente teríamos uma perspectiva da variedade conceitual dentro das Escrituras. Não dá para marginalizar o método, a despeito dos limites do mesmo no tocante às experiências de poder. 

É estritamente por conta de tais limites que considero válidas as incursões de David Mesquiati de Oliveira e Kenner Terra, no livro Experiência e Hermenêutica Pentecostal. Mas a despeito do meu reconhecimento no tocante à validade das colocações feitas ali, entendo que o tratamento dado por Gutierres Siqueira seja mais propício e equilibrado. 

Diante do exposto, uma questão precisa ser colocada aqui. O entendimento das obras citadas acima demanda conhecimento a análise do contexto polêmico em que tais discussões se dão. De alguns anos para cá as revistas de Escola Bíblica Dominical têm enfatizado exaustivamente aspetos teológicos. O que tem motivado tal ênfase? O surgimento do Calvinismo dentro das Assembleias de Deus. 

Com o advento desta corrente teológica muitas pessoas a associaram a uma outra corrente que não é exclusivamente reformada: o cessacionismo. A descoberta de uma Teologia que trazia uma visão de mundo globalizante e totalizante, como no caso do calvinismo e os arroubos de uma juventude entusiasmada com tais descobertas funcionaram como rastilho de pólvora. 

Não demorou para que surgissem arminianos clássicos defendendo e requerendo a seara assembleiana para si. Um marco foi o lançamento da revista Obreiro cristão com textos e artigos que visavam explicar a Teologia Arminiana. Outro marco foi o lançamento de Mecânica da Salvação, por Silas Daniel, lançamento este feito em meio a um tórrido e brilhante debate com ninguém mais, ninguém menos do que Franklin Ferreira. 

Mas em meio à todo este debate perdeu-se algo importante: o caráter transitório, histórico, cultural e psicológico da tarefa teológica. Do nada Arminianismo e Calvinismo passaram a ter para seus respectivos defensores o status de verdade bíblica, quando na verdade eram e são Teologias produzidas ao longo da História com a finalidade de responder questões e lacunas deixadas pelas práticas de determinadas comunidades de fé. 

Outro aspecto a ser abordado aqui é o caráter apologético do Calvinismo e polemista do Arminianismo. As institutas da religião cristã configuram uma obra apologética no intuito de convencer o rei Francisco da França, a respeito do teor racional da fé protestante. De igual modo a Teologia Arminiana visava responder às questões polêmicas em torno da corrupção radical, da graça irresistível, expiação limitada e demais questões que foram surgindo dentro da reforma. Há um teor polemista-apologético nestas questões. 

Daí que diante de um quadro de ataques á fé, em face das críticas da Sociologia da Religião, da Fenomenologia da Religião e da Filosofia, não é nada absurdo que alguns jovens na ausência de respostas tenham ido beber em águas reformadas, a fim de constituir sua apologética. Foi assim que diante de questões como "casamento entre iguais", e outras bandeiras "progressistas" (atualmente chamadas de socialistas), nomes como Augustus Nicodemos, Jonh MacArthur e afins tenham aparecido. E como eles se posicionam na esfera Teológica? 

Willian Lane Craig é um dos apologetas mais inteligentes que tive o privilégio de ler, ao lado dele ponho C. S. Lewis, Francis Albert Shaeffer e Jonh Stott, com sua simplicidade evangelical. Craig destaca que antes de ser um apologeta o cristão precisa de uma incursão na leitura Teológica e Filosófica, aliada à tradição científica. É precisamente neste aspecto que todos nós pecamos. Não importa o quanto tenhamos lido (me incluo aqui), estamos em déficit face às demandas que nos são colocadas. E é aí que a nossa apologética peca. Não é inteligente. Não é dialogal. É sectarista. 

Shaeffer possui um posicionamento ainda mais profundo. Defender a fé cristã é ante de tudo conversar com as pessoas e perceber o motivo mais profundo dos posicionamentos das mesmas para só então começar uma apologética pressuposicionalista. Sem conexão e sem diálogo não há a comunicação do Evangelho. Mas o que isto tudo tem a ver com os livros do Gutierres? 

A apresentação que o referido autor faz do pentecostalismo é muito distante da Sociologia da Religião e da Teologia de cunho acadêmico. É apologética e idealista, mas "respeitosa" para com o contraditório. Isto não quer dizer que não seja limítrofe. Mas que pelo menos não incorre no quixotismo das apologéticas de redes sociais de comunidades calvinistas e arminianas. 

Assim, ao falar da questão da Teologia Gutierres atrela o pentecostalismo ao Arminianismo Clássico. Ele vai além, ao reconhecer que embora possua uma dívida com o movimento de santidade, grande parte dos teólogos pentecostais divergem das posições armínio - wesleyanas. Mas reconhece que a posição em torno da perseverança dos santos não é uma unanimidade entre arminianos, embora pentecostais considerem a possibilidade de apostasia de um converso. 

O problema é que enquanto se gasta energia com tal discussão a antinomia bíblica da matéria é deixada de lado. Já conversei com arminianos que me garantiram que o número de textos bíblicos contendo advertências eram maiores do que os que continham as garantias (como se ser arminiano, ou calvinista fosse questão de estatística). 

Como leitor descobri que advertências e garantias são colocadas uma ao lado da outra, ao menos nos escritos de Paulo e de Pedro. Mas esta é uma temática que demanda um post à parte. Outra questão não pretendo resolver esta questão, por julgar a mesma insolúvel. Não se trata de citar este, ou aquele teólogo e fundamentar a citação com argumentação, ou de trazer, este, ou aquele versículo prova. Há questões psicológicas envolvidas. 

O leitor aqui talvez possa recorrer ao parágrafo em menciono Gálatas. Particularmente percebo que lidar de modo simples com as Escrituras e com a Graça não tem sido algo fácil para o povo. Há uma considerável dependência da moralidade, como se esta, ao invés da graça fosse o meio pelo qual somos educados a renegar as ímpias paixões mundanas. 

Isto dito parto agora para o que considero ser o calcanhar de aquiles do livro: a associação entre pentecostalismo e conservadorismo (mesmo sendo o de cunho teórico). Uma Teologia Pneumatológica e Missiológica tem de levar em conta que o doador do Espírito (tal como a ação deste) não pode ser enquadrado em nenhum espectro teórico do campo político. 

Mas o autor não somente se define como sendo conservador, como cita Roger Scruton e Joseph Ratzinger. Pior, se posiciona contrário até naqueles pontos em que se pode construir um diálogo promissor entre a Teologia Ecológica e a Filosofia Ambiental e do Espaço em Scruton. Não que um Teólogo não tenha o direito de ter suas preferências filosóficas, mas atrelar qualquer uma que seja ao cristianismo (e o pentecostalismo é um ramo deste), é colocar o cristianismo como meio para uma agenda. 

Os livros de Gutierres são anteriores às eleições de dois mil e dezoito. Já naquele momento se desenhava uma "onda conservadora" que atrelou a Igreja a uma politica cujos resultados desastrosos nós ainda não vimos, mas que com certeza veremos. Dentro deste contexto inúmeros memes foram lançados na internet demonizando os ditos "cristãos de Esquerda". 

O quadro é ainda mais grave quando se considera que tudo o que não seja esta direita olavista e quixotista que temos aí é de esquerda. Ao se identificar com a social democracia (um regime liberal), cristãos são chamados de esquerdistas, ou "comunistas". É com este pseudo conservadorismo que o Pentecostalismo tende a se identificar? Complicado. 

Mesmo o conservadorismo de Scruton possui problemas, uma vez que ele é extremamente resistente aos protestos, em todo o mundo. Isto não quer dizer que eu vá a protestos e concorde com práticas de vandalismos. Mas nem por isto deixo de reconhecer a validade dos protestos ecológicos, bem como os do movimento negro "vidas negras importam". 

Alegar que pautas sociais da Teologia de Jürgen Moltmann são modismos é um tanto estranho para quem defende uma abordagem Teológica lucana, que mostra ao lado da ação carismática do Espírito, uma ação social, tanto do Cristo quanto do Espírito. Jesus é ungido pelo Espírito para pregar boas novas aos pobres (Lc 4. 18, 19). 

Na versão lucana do sermão do Monte lemos palavras que possivelmente não encontraremos tão fortes em texto algum, mesmo os de Karl Marx. Jesus disse: felizes, vós, os pobres, o Reino de Deus é vosso. Felizes, vós, os que agora tendes fome, sereis saciados. Felizes, vós, os que agora chorais, haveis de rir (Lc 6. 20 - 21 TEB). 

Lc 6. 20 é uma citação de Mt 5. 3, mas há que se reconhecer que a despeito do uso comum do termo πτωχοι (pthóchoi), o acréscimo da expressão τω πνευματι, traduzida por em espirito, ou de Espírito, indica que a pobreza em Mateus é a de coração, ao passo que em Lucas é a pobreza de bem, e ao longo de seu Evangelho e do livro de Atos é dada considerável atenção. 

No tocante à Teologia Ecológica, ou a do sofrimento não se pode dizer que ambas sejam uma questão de modismo. Na verdade os capítulos iniciais do livro de Gênesis dão ampla base para sólida reflexão. Mas há uma necessidade de pararmos neste ponto. 

Conforme dito no enunciado deste post a pretensão aqui é a de uma avaliação inicial. O esforço de Gutierres em trazer conhecimento a respeito de produções literárias que contemplem o pentecostalismo sob um viés exegético, mas as obras destacadas aqui possuem uma dimensão mais apologética e podem vir a pecar por apresentar um pentecostalismo mais ideal do que real e concreto. 

Falo isto, por entender que tão cara quanto à crença no Batismo com Espírito Santo como meio de capacitação para a proclamação e Testemunho, é crer na validade dos dons espirituais na liturgia e no serviço cristão como um todo. Mas a ocorrência de tais dons não depende apenas de convicção teológica, mas de prática da oração, conjugada ao ensino das Escrituras, principalmente no tocante ao uso dos dons para o serviço. 

Do contrário o que teremos  no lugar do pentecostalismo, é o fenômeno do pós pentecostalismo, já em voga nos dias atuais. O que é isto? Pessoas que congregam em uma Igreja Pentecostal, mas cuja prática não mais o é. E isto, não por conta do calvinismo, mas por conta da questão do tempo. Dons espirituais demandam busca zelosa. Sem a questão do tempo a prática da oração fica comprometida. 

Há que se reconhecer que a Casa Publicadora das Assembleias de Deus publicou obras e mais obras condenando a Teologia da Prosperidade, uma das que adquiri foi Cristianismo em Crise. Mas isto não evitou que a Filosofia ministerial do neopentecostalismo adentrasse as searas pentecostais. Igrejas cuja história é marcadamente pentecostal clássica hoje são adeptas da Filosofia empresarial. Quando isto ocorre o lado pessoal é deixado de lado. 

Marcelo Medeiros, em Cristo. 

domingo, 27 de dezembro de 2020

O Verdadeiro Pentecostalismo

 



Já fiz neste espaço uma série de estudos a respeito dos dons espirituais, bem como a defesa da continuidade dos mesmos. Falei a respeito do propósito dos dons espirituais, do propósito de Deus e do papel do crente em administrar como dispenseiro, os dons que Deus concede, dos dons de profecia, variedade de línguas e interpretação de línguas (elocução verbal), dos dons de revelação (ou revelacionais). 

Como Pentecostal de berço, creio que uma marca distintiva deste movimento seja a crença no Batismo com o Espírito Santo aliado à crença na continuidade dos dons espirituais como meio de edificação e crescimento do corpo de Cristo, que é a Igreja. Ler obras como Revestidos de Poder, O Espírito e a Palavra, e a Teologia Carismática de Lucas foi fundamental para a compreensão da percepção de Lucas do Batismo como revestimento de poder, o mesmo falado por Waynne Grüden e Franklin Ferreira em suas respectivas Teologias Sistemáticas, ou dogmáticas. 

A respeito da continuidade dos dons espirituais, creio que obras como a de Sam Storms e Renato Cunha constituam-se como basilares no tocante a esta doutrina tão pontual para a fé pentecostal. Na lição do próximo trimestre, os estudos estarão cobrindo a pessoa e obra do Espírito Santo, seu papel na obra de redenção (questão bastante abordada nas Teologias de cunho Reformado), seu papel na missão cristã, e a contemporaneidade dos dons espirituais. 

Tais traços poderiam facilmente serem associados à Teologia Carismática de Lucas, mas o autor não se limita a tal. Seguindo a pauta de Gutierres Siqueira em Revestidos de Poder e no O Espírito e a Palavra, Esequias Soares, busca aliar a Teologia Lucana à Teologia paulina, uma vez que aquele autor vindica para o Pentecostalismo uma Teologia mais global, que contemple os múltiplos autores das escrituras e suas Teologias em particular. 

Daí que da lição cinco até a dez a Teologia em apreço seja de caráter mais paulino do que lucano. O fruto do Espírito, a crucificação do "eu", a questão da santificação, da ordem no culto e do comprometimento com a palavra passam a ser as ênfases autorais. Da lição dez em diate há destaque à atualidade da cura, que é um dos centros de debates na atualidade. Da lição onze em diante percebe-se a ênfase missiológica. Isto porque uma das justificativas dos grandes avivamentos dos séculos passados foi o despertamento para o caráter urgente das missões, face a iminência da vinda de Cristo. 

Conclui-se que o "verdadeiro pentecostalismo", que se opõe àquele que é caricaturado nas descrições de "Crentes Reformados", ou assumidamente "cessacionistas", ou ainda na percepção dos irmãos do "reteté da glória de Jeová", uma pneumatologia sólida (que por sua vez está ligada a uma Cristologia consistente, visto que Cristo é quem batiza com o Espírito Santo), com poder para o testemunho aliado a uma vida de frutificação espiritual e de santificação, senso de missão (pregação do Evangelho e discipulado), e a Vinda de Cristo. Todos estes elementos orientados pela questão da Hermenêutica Pentecostal. 

A Hermenêutica Pentecostal traz um importante elemento da crítica textual, que é a questão da diversidade de autores e das ênfases que cada um dá a um aspecto da Teologia. Daí a diferença entre a pneumatologia de Lucas e a de Paulo, que usam o termo "cheios do Espírito", com ênfases diferentes. O mesmo se dá com relação ao termo "Batismo com, ou no Espírito Santo". O ser cheio do Espírito em Lucas, tanto no Evangelho, quanto no livro de Atos, tem a ver com a missão. 

Daí que Batismo com o Espirito Santo não é ostentação "pentecostal", ou "gospel" (se quiser), mas um dom concedido aos santos visando o serviço na proclamação do Evangelho, face ao senso de urgência diante da Vinda do Senhor (At 1. 4 - 11). Mas sem frutificação espiritual, e sem santificação até que ponto, nosso testemunho possui valor, por mais poderoso que seja? Daí a contemplação da Teologia Paulina, embora a lucana dê respostas, no campo social. 

Aqui convém ressaltar que nem a Igreja e nem os apóstolos são conduzidos ao sinédrio por conta de questões morais, ou comportamentais. São divergências teológicas seguidas de acusações infundadas apos um impasse. É deste modo que Estevão é condenado à pena capital por lapidação (apedrejamento), e temos aí Saulo, consentindo em sua morte (At 8. 1). 

Face ao comportamento basilar da Igreja de Atos, que levou Jonh Stott a escrever um livro por título "Sinais de uma Igreja Viva", os autores da lição desenvolvem questões pertinentes à Teologia Paulina. Aqui cabem algumas afirmações. A lição a respeito do fruto do Espírito tem como base um texto que foi escrito a uma igreja que não tinha problemas com imoralidade. 

Os crentes da Galácia não são os crentes de Corinto. O problema destes é uma série de erros no tocante ao Evangelho e ao ministério dos apóstolos (I Co 1 - 4), e uma certa leniência com casos de imoralidade na comunidade (I Co 5 - 7). Não é o caso dos crentes da Galácia. Eles possuíam uma moralidade tão extremada que foram facilmente seduzidos por um tipo de "legalismo", ou de associação entre Evangelho e Circuncisão. 

O fruto do Espírito aqui é colocado em um contexto de suficiência da graça de Deus. Espírito aqui é aliado à fé, à graça de Deus e ao Evangelho pregado por Paulo. Isto fica claro na medida em que Paulo indaga aos seus leitores: só peço que me esclareçais uma coisa: será e,m virtude da prática da lei que recebestes o Espírito, ou por terdes escutado a mensagem da fé? (Gl 3. 2 TEB). 

A esta pergunta sucede a seguinte: aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, acaso o faz em virtude da prática da lei, ou porque escutastes a mensagem da fé? (Gl 3. 5 TEB). o que está acontecendo aqui? Paulo tem de lembrar aos crentes que a experiência de salvação destes decorre da resposta à pregação do Evangelho. Havia um apego à lei como elemento complementar ao Evangelho e Paulo teve de quebrar com esta ideia. 

É dito insistentemente que a pneumatologia de Paulo tem ênfase soteriológica, ao passo que a de Lucas tem sua dimensão focada no carisma e na missão. Todavia, ao pregar a mensagem do Evangelho, Paulo reconhece a sua dependência do Espírito de Deus, tanto na execução da missão, quanto na obtenção dos resultados (I Co 2. 1 - 5; 4. 20; I Ts 1. 5). 

Por último, há que se falar no senso de urgência da missão em razão da promessa da Vinda de Cristo. não há pentecostal que não mantenha esta promessa diante de seus olhos. Mas as correntes conspiracionistas que têm sido adicionadas à Escatologia Evangélica se parecem mais com um episódio de Além da Imaginação do que com a Bem-Aventurada esperança bíblica. 

Marcelo Medeiros, em Cristo Jesus. 

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