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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Nós Somos Loucos por Cristo



Qualquer pessoa com um mínimo de boa vontade sabe que a Bíblia tem de ser lida e interpretada em seu contexto a fim de que a mesma diga para nós no século vinte e um o que disse para o público alvo em que foi escrita e somente então se faça a devida aplicação. Diante do que convém perguntar: o que Paulo quis dizer com a expressão nós somos loucos por Cristo?

Faço esta pergunta em função da onda de loucura que tem tomado significativa parcela de nossa juventude evangélica. Desde que um certo pregador saiu por aí interpretando este texto da forma e maneira que lhe convinha vários jovens o tem seguido em sua loucura, entendo que ser louco por Cristo é entrar em festas de candomblé e atentar contra a fé das pessoas. Por este motivo sugiro aqui neste espaço uma breve leitura do texto que possa supostamente dar base a atitude do mesmo. 
Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos (I Co 4. 9 - 13 ACF). 
Do que o apóstolo está falando?

  1. O primeiro aspecto a ser observado no texto é a sentença de morte que pesava sobre um cristão em pleno século primeiro. 
  2. Em seguida os muitos sofrimentos aguardavam a qualquer dos apóstolos. 
  3. No verso dez Paulo contrasta a vida dele com a dos crentes de Corinto e aqui se faz necessária acurada análise, visto que:
  4. Ele Paulo é louco ao ponto de assumir a loucura do Evangelho e pregar o mesmo sem os recursos da retórica grega, hoje devidamente substituídos pelas atrações do mundo gospel. 
  5. os Corintios estão buscando no Evangelho uma escola de sabedoria. 
  6. Paulo sabia que esteve entre os crentes de Corinto com grande fraqueza e temor (I Co 2. 3), ao passo que os coríntios queriam se passar por fortes, o que não havia no chamamento dos mesmos (I Co 1. 26 - 31). 
  7. Percebido o contraste, se vê a ironia que Paulo usa com os crentes de Corinto. 
Em seguida Paulo prossegue na narração dos sofrimentos comuns à vida dele em Cristo, fome, sede, nudez, agressões, fadiga, trabalhos feitos com a própria mão. A conclusão: ser louco por Cristo é abraçar um Evangelho que não trará vantagem social alguma, antes lhe colocará o desafio de responder a injúria com elogio ao acusador, de sofrer resignadamente, e de orar por quem fala mal de nós. 

Não vejo como o garoto propaganda, super adorado deste movimento profano possa ser qualificado como foi um Paulo que disse: até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos. Na verdade os vídeos e as pregações desastrosas dele estão, aos poucos produzindo este resultado, mas por vias e motivações erradas. Vide pragmatismo político [aqui e aqui]. 

Me sinto igualmente impossibilitado de ver como Paulo, que se diz louco, possa ser comparado com um produtor de eventos gospeis. Alguém que no lugar de incentivar as pessoas à oração e ao estudo da Palavra opta, clara e deliberadamente, por entreter. 

Não consigo nenhuma explicação para uma pessoa que domine as regras de leitura não entender isto, exceto, é claro, a carnalidade, ou o desejo de ter um ídolo de carne e osso como este e outros oferecidos pelo mercado gospel. Sei da possibilidade de que Satanás tenha cegado tal pessoa. Aqui vai um alerta para uma liderança cada vez mais permissiva e pragmática como a atual, que permite que tais erros encontrem guarida no rebanho. 

Perceba que não precisei fazer um mínimo de exegese, apenas ler e interpretar o texto dentro do seu devido contexto. 

Abraços fraternos em Cristo. Marcelo Medeiros. 

sábado, 18 de julho de 2015

Oração e Recomendação às Mulheres Cristãs




Neste post pretendo abordar o segundo capítulo da carta de Paulo a Timóteo em que o mesmo fala da oração por todos os homens, tendo em prioridade os que estão em eminência. Em seguida ele apresenta a ação divina em salvar todo o tipo de homem como fundamento da prática, e encerra com a questão feminina. O texto de I Tm 2. 9 - 15 é tido como um texto polêmico em razão da fala de Paulo não ser detalhada. As recomendações de Paulo à Timóteo foram justificáveis em razão do contexto histórico cujo conhecimento era de domínio dos interlocutores. 

EXORTAÇÃO À ORAÇÃO
Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador (I Tm 2. 1 - 3 ACF).
A primeira questão que um expositor do presente texto precisa ter em mente é que ele é sequência das ideias precedentes. A carta de Paulo à Timóteo não foi escrita em capítulos e versículos. Daí a necessidade de leitura contextualizada. O capítulo anterior consiste em uma séria exortação de Paulo à Timóteo, a fim de que este milite a boa milícia do Evangelho, conservando o ensinamento conforme o modelo das sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo [aqui].

Este procedimento demanda por parte do ministro do Evangelho uma verdadeira confiança no poder da Boa Nova. A firmeza só pode ser sustentada por meio da oração. Sim, a oração aliada à exposição fiel do conteúdo da sã doutrina constituem a mola propulsora do verdadeiro crescimento e da salvação de vidas.

Assim Paulo pede de Timóteo que ore. A oração aqui é seguida de súplicas, preces, ações de graças que são dirigidos a Deus em favor dos homens. As expressões δεησεις (deeses) προσευχας (proseuchas), εντευξεις (enteyxeis) e ευχαριστιας (eucharistias) aparecem com razoável frequência nos escritos paulinos e indicam os componentes necessários à prática da oração.

A segunda, a oração tem de ser feita por todos os homens, o que inclui os inimigos e perseguidores dos cristãos. Cristo disse: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam (Lc 6. 27, 28 ACF). Ele mesmo deu o exemplo na cruz, ao orar pelos seus malfeitores nas seguintes palavras: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23. 34 ACF).

Esta é a mais clara percepção do que seja a perseguição ao Evangelho, ou a verdade deste, não sabem o que fazem. Não que eles ignorem ao conteúdo do Evangelho, mas porque estão presos pelos laços do diabo de forma tal que não conseguem perceber e amar a verdade (II Co 4. 4, 5; II Tm 2. 24 - 26), tornando-se assim perseguidores dos genuínos cristãos.

O exemplo de Jesus foi seguido por Estevão, que ao ser apedrejado orou pelos seus detratores. De acordo com o relato de Lucas no livro de Atos, apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu (At 7. 59, 60 ACF). Alguns exegetas afirmam que Estevão intercedia por Paulo. Independente disto a verdade é que este foi alcançado pela intercessão do servo de Deus.

Terceira questão no afã de orar por todos os homens, o que inclui os inimigos dos cristãos, o crente pode e deve frisar a oração pelos homens que estão em eminência. A esta altura do presente estudo convém perguntar: por que a ênfase na oração pelos perseguidores em um postagem que tem por base um texto em que Paulo recomenda a intercessão por todos os homens, o que inclui os reis e demais autoridades? 

A razão é dada no seguimento do texto. para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador (I Tm 2. 2 ACF). A palavra para vida aqui é βιον (bion), usualmente a palavra de onde vem o termo biologia. Esta é empregada para a vida presente. 

A finalidade da oração aqui é que a Igreja seja plenamente livre para viver a vida em conformidade com a piedade (ευσεβεια [eusebeia]). Piedade é uma das palavras centrais na carta de Timóteo (I Tm 2.2; 4. 7, 8; 6. 3, 5, 6, 11). Consiste na devoção às coisas sagradas que tem em Deus, e principalmente em seu Filho Jesus Cristo o seu centro, Tanto que Cristo é ευσεβειας μυστηριον (eusebeias misterion), ou o mistério da piedade (I Tm 3. 16). 

Viver em conformidade com a piedade é viver em plena identidade e semelhança com a pessoa de Cristo, o que pode trazer conflitos com o mundo. Daí a importância da oração para que a Igreja tenha uma vida sossegada e equilibrada. Voltarei a este assunto posteriormente, mas por enquanto reafirmo o que já tenho afirmado neste espaço: a Igreja evangélica brasileira precisa orar. Ir ao senado discursar é importante? Creio que sim. O mesmo digo com relação a proposta de leis que proíbam o uso de símbolos religiosos em manifestações profanas e provocativas (aqui).

A Igreja de Jerusalém estava em um cenário de perseguição política e religiosa quando orou. Ao orarem o local tremeu e todos foram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez e ousadia a palavra de Deus. O resultado é que depois da campnha de intercessão até entre os sacerdotes passou a haver quem obedecesse à fé.

REDENÇÃO, A BASE DA INTERCESSÃO
Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo. Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios na fé e na verdade. Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda (I Tm 2. 4 - 8 ACF). 
Deus não tem prazer na morte o ímpio. Ele mesmo pergunta: Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? (Ez 18. 23 ACF). Todavia em sua justiça estabeleceu a morte como salário para o pecado (Gn 2. 16, 17). A pena por mais cruel que pareça, é na verdade um limitador para a transgressão. Imaginem homens como Hitler, Id Amin, Mao Tsé Tung e Stalin com a imortalidade!

A condição pecadora exige um mediador. Cristo na condição de Deus encarnado supre o quesito como medianeiro, e a carta aos Hebreus esclarece bem esta questão. A dívida contraída em relação ao pecado do homem teve de ser paga e Jesus assumiu a mesma. Por este mesmo motivo Paulo diz que Ele se deu a si mesmo em preço de redenção por todos.

Não entendo o "todos" aqui como sendo a totalidade dos homens. Owen explicou esta questão muito bem, ainda que Geisler a rejeite, fico com Franklin Ferreira e Alan Myatt, Berkoff, e Grüden. Creio que o "todos" aqui seja na verdade todo o tipo de homem, o que seria uma afirmação da possibilidade de Deus salvar todo tipo de homem, sendo Paulo um exemplo vivo. Nas palavras do mesmo: por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna (I Tm 1. 16 ACF).

Cristo pode salvar todo tipo de homem. A escolha de Paulo termina por ser um exemplo vivo desta ação divina. Enquanto Ananias e os demais discípulos o viram como ameaça, Deus o via como um instrumento escolhido para levar o seu nome diante dos reis e dos gentios. Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome (At 9. 15, 16 ACF).

Daí a ênfase na oração. Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda (I Tm 2. 8 ACF). diante da possibilidade de que qualquer um seja um salvo, de que mesmo o mais feroz inimigo do Evangelho venha ser um Instrumento de Deus escolhido para levar as boas novas, cabe aos crentes orarem em toda parte e lugar.

A RESPEITO DAS MULHERES
Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, Mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras. A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação (I Tm 2. 9 - 15 ACF). 

  1. Roupas não salvam, esta é uma verdade inconteste, mas o traje da mulher, e aqui acrescento que o do homem também, tem de  refletir a reverência e a piedade do momento da adoração pública.
  2. às mulheres não é vedado o ensino, mas o exercício da autoridade sobre o homem, e isto em razão de na cidade de Éfeso haver o culto à Diana, ou Artêmis, cujas sacerdotisas possuíam suma influência. Com vistas a evitar confusões entre o culto cristão e a adoração a esta divindade Paulo fez a recomendação acima. 
  3. Os cultos às divindades femininas são a causa de não ter exemplos bíblicos de sacerdotisas na antiga aliança e pastoras e apostolisas e episcopisas na nova.
  4. A reprimenda nos versos 14, 15 apontam para a suscetibilidade humana, e inclusive a feminina em se sentir um "deus". Esta foi a tentação de Satanás sobre Eva, e cuja redenção está em Cristo e no fato de a mulher assumir o seu papel. 
  5. Isto não significa negar à mulher sua importância. Nas pastorais mesmo Paulo fala de mestras no bem, de anciãs e das viúvas que por sua piedade devem ser mantidas pela Igreja (I Tm 5. 6 - 8). Priscila foi obreira de extrema importância no ministério de Paulo (Rm 16. 3 ACF). 
  6. Logo, não há espaço para que se pense que as mulheres deveriam de serem desprezadas no contexto cristão, tal como se dava nos demais contextos sociais do século primeiro. 
a respeito da ordenação e do ministério feminino, reservo esta reflexão para outro momento. 

Marcelo Medeiros. 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Cultos jovens atraentes e coisas afins



Há aproximadamente dois meses soube de uma extensão da Lagoinha em Niterói. Não sabia dos meandros do estabelecimento da mesma, mas segundo matéria do Globo, agora acessada por mim, a mesma se deve a fatos inopinados ligados à vida pessoal dos fundadores. O que me chamou a atenção, tão logo tive acesso à notícia da mesma, foi o ambiente de boate, e afins. A matéria pode ser conferida na íntegra aqui.

Já me envolvi em controvérsias no facebook, por haver criticado uma reunião, promovida por esta mesma denominação, em que a mensagem foi uma apresentação humorística. Nada tenha contra o uso do humor como forma de cominicação da mensagem. Minha crítica se dirige ao uso do entretenimento como forma de atração, ou distração, o que não se coaduna com a missão cristã. 

Em parte alguma do Evangelho Jesus mandou que os discípulos distraíssem as pessoas, que alugassem espaços para a promoção de entretenimentos variados, ou que sequer imitassem o ambiente atraente das bacanais [cultos promovidos a Baco, ou Dionísio], para que as pessoas fossem atríadas pela mensagem. 

Na Carta aos Coríntios Paulo recomendou expressamente a separação entre os templo de Deus e o templo dos demônios, entre luz e trevas, entre os fiéis e os que mesmo em ambiente religioso tivessem quaisquer comportamentos divergentes à doutrina apostólica. Contudo, os empreendedores do momento levam à sério exclusivamente uma suposta flexibilidade paulina de fazer-se de tudo para com todos. O que tem comprometido seriamente a doutrina. 

A matéria do jornal é sintomática. A descrição da mudança do ambiente é bem extensa, e um único exemplo de "conversão" é apresentado. Conheço pessoas que se converteram ao ouvir a voz de Deus em uma sessão espírita, mas nem por isto recomendo a ninguém que frequente uma para que tenham a mesma experiência. Exceções jamais devem ser transformadas em regras, e pela estrutura e organização da matéria [...]. 

Nada tenho contra pregar em qualquer ambiente que seja, com visual tradicional, ou descolado. Um problema indigesto para mim é a pregação adulterada do Evangelho, que ao que parece a maioria destes pregadores descolados apresentam. A falta de discernimento do povo também é espantosa, para não falar na omissão dos líderes que irão dar contas a Deus de temanha omissão. 

Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Uma questão pontual na política atual



Li este artigo na página de um renomado Senador da República, em que o mesmo perguntava a respeito da atuação dos evangélicos durante o período da ditadura. Creio que a mensagem era uma forma de cobrança por uma postura militante no tocante à defesa de direitos que foram violados em período tão negro. Escrevi uma resposta ao mesmo em sua página, e que não me foi replicada, mas que vou resumir aqui. 

Não sou simpático às atuações dos evangélicos na política. Creio que tal como ocorre com a sociedade em geral, nossos melhores evangélicos não são eleitos. A eleição de Enéas Carneiro (político competente, diga-se de passagem), Clodovil Hernandes e Tiririca, é indicador de que a mídia é o meio para a ascensão política. Daí a eleição de figuras toscas e despreparadas como Marco Feliciano. 

Existe sim uma dívida séria dos cristãos em geral na luta pelos direitos. Todavia jamais esta pode se dar às expensas dos direitos fundamentais como a liberdade de crença e de expressão, algo que tem sido seriamente ameaçado nesta nova cruzada do ativismo gay, por exemplo. A postura deste último grupo tem sido um tiro no pé dos mesmos. Evangélicos que se sintam vilados em seus direitos veem em Eduardo Cunha e cia seus messias. 

É desta forma que a política brasileira caminha. Lutando contra moinhos de vento, pensando que são gigantes. Minha primeira impressão da leitura de Cervantes foi a de que Quixote enlouqueceu de tanto ler livros de Cavalaria. Seria este o efeito de leituras mal feitas de teses sociais, ou de conspirações aventadas na internet?

Marcelo Medeiros. 

sábado, 11 de julho de 2015

O Evangelho da Graça



Evangelho é uma palavra cujo sentido original é o de "galardão que se dá ao que entrega boas novas". Usualmente estas boas notícias são concernentes à vitória do exército em tempo de guerra. A nova cristã é devidamente sintetizada no credo que tem por nome o mistério da piedade (I Tm 3. 15, 16). Trata da doutrina apostólica pela qual tanto Timóteo quanto Tito tem o dever de zelar. Como tal a mesma deve de ter precedência sobre fábulas e quaisquer outros assuntos de natureza especulativa (I Tm 1. 4). Visando expor o programa do Evangelho delineado nas pastorais este autor escreve este artigo em complementação aos Estudos bíblicos dominicais.

PRESERVAR A PUREZA DO EVANGELHO, UM DEVER DO MINISTRO
Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina, Nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora (I Tm 1. 3, 4 ACF). 
Quando Paulo se despediu de Éfeso, recomendou aos Presbíteros que olhassem pelo rebanho de Deus, sobre o qual os mesmos foram constituídos. Ele fez isto sabedor de que nos últimos dias lobos entrariam no meio do rebanho e devorariam sem pena o mesmo (At 20. 28, 29). Aqui fica estabelecido que o papel de um pastor consisite no zelo pela pureza doutrinária. 

Nenhuma outra doutrina além do Evangelho. Este é o lema do apóstolo. 
Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade. É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, Perversas contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais (I Tm 6. 3 - 5 ACF). 
  1. doutirna errada não é aquela que não se conforma ao credo denominacional. De igual modo, não é a que não se afina com os conceitos do líder, muito menos a que vai de encontro ao programa da nova metodologia.
  2. doutrina estranha - heteodidaskalei [ετεροδιδασκαλει] - é a doutrina que não se conforma com as sãs palavras de Cristo.
  3. O teste do genuíno ensino é a conformidade do mesmo com as palavras  de Jesus, cujo registro se veem no Evangelho. 
  4. Daí a expressão προσερχεται [prosechetai], cujo sentido é o de adesão, indicando com isto que o padrão é o Evangelho. 
Todavia a preservação da pureza do Evangelho demanda uma séria iniciativa, por parte do ministro, contra tudo o que possa desviar os ouvintes do Evangelho. No tempo de Paulo eram as questões loucas suscitadas por fábulas. Aqui se faz necessário o entendimento de Paulo não está falando nestes textos de todo e qualquer debate. Para este apóstolo a verdade tem de ser defendida. 

As questões loucas das quais Paulo fala aqui são mitos [μυθοις], histórias extraordinárias oriundas da literatura apócrifa e nas quais cristãos passaram a incorrer pela importância que se atribuiam às mesmas nas controvérsias com os judeus. De acordo com Stott Jubileus e Salmos dos Filhos de Salomão figuravam entre tais livros. 

Este simples trabalho de exegese fica como lição de que toda a vez que a canonicidade é estrapolada, a doutrina é violada. Ultrapassar os limites da doutrina de Cristo nunca foi tão fácil quanto neste momento, uma vez que há o abismo cultural, teológico, filosófico e linguístico. Diante de tais abismos é grande a tentação de se interpretar a Bíblia de acordo com o que se acha, ao invés de o fazer segundo a exegese. 

O ministro que não for exegeta, mas que sinceramente possuir desejo de conhecer a verdade, pode conhecer e alimentar seu rebanho com as sãs palavras de Cristo, uma vez que Cristo disse: a minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo (Jo 7. 16, 17 ACF). Todavia, hoje há muito recurso acessível de exegese no mercado e obreiro algum deveria se olvidar ao dever e sagrado direito de acessar os mesmos. 

O alvo do Evangelho é a οικονομιαν (oikonomian), palavra da qual vem economia, ou mordomia, ou administração. Trata-se do que comummente se chama de dispensação. O Evangelho marca uma aliança cujo agir e mover divino são marcados pela relação baseada em graça e em misericórdia. O que inevitavelmente conduz a presente reflexão para a questão do Evangelho e da lei. 

O EVANGELHO E A LEI
Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas; Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam. Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, Para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina, Conforme o evangelho da glória de Deus bem-aventurado, que me foi confiado (I Tm 1. 5 - 11 ACF). 
  1. a lei se cumpre em sua plenitude na vida de quem ama. A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei (Rm 13. 8 ACF).  
  2. Aqui convém atentar para a expressão νομον πεπληρωκεν [nomon peplerookeen], ou cumpre plenamente a lei. 
  3. o centro da lei era o coração humano, tanto que o shemá Ishrael [שְׁמַ֖ע יִשְׂרָאֵ֑ל], diz: amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, para somente então dizer: e estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração (Dt 6. 5, 6 ACF), indicando com isto que o centro do mandamento era o coração.  
  4. O centroda atenção da lei era o coração. Este é um ponto que o Evangelho preserva, tanto que Jesus chamou a atenção dos seus discípulos para o coração como centro de onde procedem as saídas da vida (Pv 4. 23; Mc 7. 10 - 21). 
  5. Não ter esta percepção sujeita o indivíduo aos debates infrutíferos. 
  6. os que não se conformam ao Evangelho terminarão por terem de se adequar à lei, em razão de sua clara rejeição à boa nova. 
  7. Quem possui um viver contrário a são doutrina acaba por se enquadrar na lei, que foi dada em razão das transgressões acima enumeradas, sendo cada uma delas correspondentes a um mandamento do decálogo. 
No Evangelho da graça não há espaços para a glorificação pessoal, tal como no judaísmo farisaico do primeiro século. 

O CERNE DO EVANGELHO
E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério; A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade. E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo. Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna. Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém (I Tm 1. 12 - 17 ACF). 
  1. A graça do Evangelho é vista no fato de que não havia nada em Paulo para que Deus o escolhesse para o seu ministério. Pelo contrário ele era um perseguidor feroz da boa nova. Mas onde o homem vê um inimigo, Deus vê um instrumento. 
  2. Paulo não diz: graças a Deus por que sou fiel, mas: graças ao que me teve por fiel. O julgamento de Deus foi prévio a qualquer obra de justiça da parte de Paulo. Nas palavras do Senhor a Ananias: eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome (At 9. 16 ACF). 
  3. O testemunho de Paulo foi o de que a graça superou sua ignorância em seu zelo  judaico, e seu histórico de perseguição da fé. 
  4. Do texto se conclui que a eleição de Paulo nada tem a ver com conhecimento prévio, da parte de Deus, das boas obras deste apóstolo, mas com misericórdia. 
  5. O exemplo do amor, da graça, da misericórida e graça de Deus para com Paulo se torna modelo do agir gracioso e misericordioso de Deus para com todos quantos viessem a crer em Cristo para a vida eterna. 
  6. Por meio do exemplo de Paulo, fica claro que Deus pode salvar todo e qualquer tipo de homem, dos que demonstram simpatia pelo Evangelho aos que se mostram seus mais feroses opositores.
  7. No final, a glória cabe exclusivamente a Deus, não havendo no Evangelho da graça espaço algum para a glorificação humana, bem ao contrário do que este evangelho humanista da atualidade advoga. 
Este é o cerne do Evangelho da graça de Deus, e por este Evangelho o ministro tem de combater o bom combate.

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 


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