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sábado, 9 de janeiro de 2021

Porque parei de falar sobre Política

 



O leitor atento deste blog poderá perceber que desde dois mil e treze falo de Politica aqui neste espaço e em minhas redes sociais. Nas confesso que no Facebook eu parei, dei um tempo. Qual o motivo? Sou professor e minha proposta ao falar do que quer que seja sempre será a de fazer de forma embasada e de modo a produzir conhecimento e crescimento. Não falo de política em Facebook mais por conta de ter percebido que uma parcela significativa não entendia e nem se adequava a proposta, a despeito de ter explicado sucessivas vezes. 

Por várias ocasiões a discissão das ideias era deixada em prol de adjetivações do tipo: "Esquerdista", "Comunista", "progressista", fora os ataques pessoais e até mesmo os questionamentos à condição de pastor e cristão. Os "cristãos conservadores" (observem as aspas, por favor meus leitores) são insuperáveis quando querem denigrir alguém. Ver uma proposta em torno de debates de ideias ser jogada no lixo da "troca" de ofensas é o cúmulo. 

"Mas pastor, me diz uma coisa, e você nunca ofendeu?" SEM QUERER eu ofendi sim. Confesso. "Como sem querer?". Descobri após uma dolorosa experiência em grupos "cristãos" de debates em Whatsapp que uma forma de ofender uma pessoa é solicitar embasamento bibliográfico, e após constatação sugerir que a pessoa leia. Não se trata da tática olavista de mandar o interlocutor ler, quando na verdade quem está mandando ler não possui a menor base. 

Possuo formação pedagógica, teológica e filosófica e sei que uma das marcas do debate socrático é fazer perguntas com vistas ao esclarecimento dos limites do interlocutor, para então seguir com uma abordagem que permita o parto do conhecimento. Acontece que não me demorou a perceber que tais interlocutores se negam a responder honestamente as perguntas que são colocadas. Antes, insistem nas ofensas pessoais. Até de "maluco", "desequilibrado", você pode ser chamado. 

O pior neste processo todo é que mais do que estabelecer para os interlocutores quais os seus reais limites, as perguntas socráticas visavam expor a ignorância. Sem que se assuma a ignorância não há viabilidade no diálogo. É impossível dialogar com quem pressupõe conhecimento, quando na verdade nem de longe o possui. 

Pascal afirmava que há os que nascem ignorantes e têm ciência de sua condição. Há os que nascem ignorantes e estudam, a, ao estudarem chegam a uma ignorância sabida. O próprio Martin Lloydd-Jones chega a fazer uma afirmação bem similar em seus estudos no sermão do Monte. Voltando ao filósofo jansenita, os que ficam na metade do caminho são os que causam transtornos ao mundo. 

Também é costume deste pessoal a alternância entre a ofensa, marginalização de quem não se enquadra na forma de pensar deles, o encaixotamento. Há por parte deste pessoal uma necessidade enorme de categorizar, ou classificar o outro. Não há espaço para o entendimento do ser humano em sua peculiaridade, particularidade. Daí a categorização. 

Tive uma experiência de discutir sobre política de segurança pública com um em um grupo e o desenvolvimento do "debate" foi bem interessante. As ideias foram deixadas de lado, e as questões levantadas passaram a ser a respeito de minha formação. Para a infelicidade do meu interlocutor ele errou na formação que eu possuo e na instituição em que estudei. 

Mas por que então parei de falar de politica mesmo? Por não encontrar anuência em minha proposta. Falar de Política é falar do problema da pólis (daí vem o termo política). É falar de saúde, educação, saneamento básico, segurança pública, Iluminação pública, bem como do acesso a estes e e aos demais bens. Também é considerar se cabe ao Estado, ou à iniciativa privada a oferta destes bens. 

Mas a democracia grega nos traz outra lição. O reino, ou mundo da política é o reino, ou domínio da retórica. A política se exerce por meio do convencimento através da palavra falada. Foi por este motivo que os sofistas começaram a ensinar seus alunos a discursar em público e a fazer isto de forma convincente. Foi também por este motivo que Sócrates, inicialmente, e depois Platão, fundaram uma tradição oposta a dos sofistas. Eles visavam sair da mera opinião para o conhecimento proporcionado pelo diálogo e reflexão.  

Não há como se pensar em politica e menos ainda em democracia sem o diálogo. Mesmo entre os discípulos dos sofistas que visavam o convencimento a qualquer custo (pelo menos esta é a ideia oficial que chega dos mesmos até nós), tal dá-se por meio da palavra falada. O Fenômeno político atual não é da palavra é da imagem, do sentimento e da propaganda. 

No lugar de uma frase, uma oração, ou um texto, uma imagem. No lugar da reflexão filosófica, um texto propagandista, ou todo um programa baseada em teorias da conspiração sem sentido algum. No lugar da verdade, aquilo que atrai mais curtidas, mais vozes favoráveis. Karnal está certo ao falar de pós verdade. Não importa se é, verdade, ou mentira, me agrada e me serve, então é o aceito. 

Em Estado sem Lei o autor Rubem Casara fala da desconstrução da democracia em decorrência da perda simbólica. Não sei se vi alguma geração tão pobre do ponto de vista linguístico como a atual. São pessoas incapazes de compreender uma metáfora, como a expressão "gado", por exemplo. São reducionistas ao ponto de ligar comunismo com progressismo, a despeito da experiência demonstrar que o progressismo está ligado o liberalismo. 

Mas um dos maiores fatores foi a percepção de que o debate é dominado pela passionalidade. Propagandistas das ideias da direita conseguiram estabelecer sua agenda através do apelo ao emocional. A revolta o tornou ideias, antes inaceitáveis, palatáveis ao público. Outro fator é o messianismo presente na militância político partidária personalista. 

Não tenho nada contra a política partidária. Numa democracia moderna a política partidária serve, ou deveria de servir, à delimitação de uma plataforma com a qual o eleitor facilmente possa se identificar. Mas há fenômenos atuais que estão destruindo esta forma de se fazer política. O meu problema é uma militância cega que além de partidária é majoritariamente personalista. 

Este fenômeno que se manifestou com as ascensão do lulopetismo, agora se torna ainda mais explícito com a ascensão da versão direita do mesmo, o bolsonarismo, ou bolsolavismo. A acriticidade do primeiro produziu cegueira em relação aos escândalos do mensalão e petrolão. Era como se tudo fosse permitido, afinal o então presidente havia feito distribuição de renda e reduzido a miséria (do que não discordo). 

De igual modo o fanatismo do bolsolavismo e do bolsonarismo cega as pessoas aos escândalos atuais. Ministros condenados pela justiça e inelegíveis são blindados. Outros fraudam seus respectivos currículos e permanecem no ministério com o apoio de um monte de cidadão de bem. Estes são apenas alguns dos fatores que mostram a clara confusão conceitual (decorrente do empobrecimento da linguagem). 

Neste país enquanto se vive em constante clima de guerra contra um comunismo e se discute sobre o nazismo ser de direita, ou de esquerda, não se percebe a crescente financeirização do trabalho e da política. Algo que vem desde Collor, passando até pelo próprio Lula e desembocando no atual governo, que através de Paulo guedes faz as reformas de de modo muito mais agressivo. 

Fantástico como neste país as pessoas acreditam que a privatização (um dos braços da financeirização), pode de fato trazer melhorias. Algo que ao ver os serviços de telefonia pública, transporte público (realizado por empresas privadas mediante concessões), energia, e até bancos ficaram piores do que quando exercidos pela iniciativa privada. É extrema a facilidade com que a direita impõe suas ideias até mesmo à esquerda institucional. 

Falar nestes ambientes e para pessoas com tal perfil é expor-se a correr os riscos acima descritos e ainda produzir muito pouco. E aí não se trata de calar a voz. Mas de separar entre o joio e o trigo, entre aqueles capazes de valorizar um ensino e os que não são capazes. A verdade é que há pessoas que não se interessam em se instruir. Mas há com certeza quem se interesse em tal. Estas pessoas não estão dispostas a serem "gado" de "direita" e nem de "esquerda". É na esperança de alcançar este público que sigo aqui neste espaço. 

Forte Abraço. 

sábado, 2 de janeiro de 2021

A Pessoa do Espírito Santo


Conforme indicado pelo título da presente postagem, o Espírito Santo, na percepção majoritária dos cristãos ocidentais, inclusive dos pentecostais é uma pessoa divina. Lógico que é uma percepção trinitariana e com uso da linguagem psicológica, conforme indicado por Louis Berkhoff em sua dogmática. Mas esta é a forma que expressa o entendimento de significativa parte dos cristãos. 

Mas em que aspecto este estudo pode ser norteador na construção de um Pentecostalismo mais sintonizado com as Escrituras e consequentemente com a boa tradição teológica? Esta é a pergunta que precisa ser feita para que se obtenha sucesso na ministração da corrente lição de Escola Bíblica Dominical. Conforme já falado aqui neste espaço uma das razões para a série de reflexões deste trimestre foi a necessidade de apresentar às novas gerações uma Teologia consistente que fosse identitária e alternativa ao Calvinismo que estava adentrando em nossas searas. 

Já externei aqui que não há inconsistência, ou inviabilidade de diálogo entre a Teologia Pentecostal e a Reformada, ou evangélico-luterana, e outras formas de Teologia advindas da Reforma Protestante. Mas grandes expoentes deste ramo teológico da atualidade descreem completamente da atualidade e contemporaneidade dos dons espirituais (uma das marcas distintivas do pentecostalismo). 

Todavia nomes como Sam Storms, Jonh Piper, Franklin Ferreira, Waynne Grüden e do próprio Renato Cunha apontam em outra direção. São reformados que creem na continuidade dos dons espirituais e no que os Teólogos Pentecostais chamam de Batismo com o Espírito e eles de Revestimento de poder. Trata-se da ação do Espírito Santo em capacitar os crentes para o testemunho cristão. 

O problema que a lição de número um apresenta é que ela enuncia no título o estudo da pessoa do Espírito Santo, mas em seus desenvolvimento extrapola para noção de trindade. Já tive a oportunidade de atuar no Instituto Superior de Teologia como professor da matéria trindade, não é algo que se ensina de forma satisfatória em um único estudo de Escola Bíblica Dominical, e muito menos em um post de blog. 

Todavia, ao se falar da ação do Espírito Santo é de suma importância que se destaque sim sua personalidade e divindade. Todavia isto não é tarefa banal e creio que não seja algo que possa ser reduzido à citações dos credos e confissões de fé das comunidades cristãs ao longo da história. Acredito que a Teologia de Lewis (Cristianismo Puro e Simples) seja muito mais pontual do que qualquer Teologia clássica. Ninguém precisa concordar comigo neste último ponto. 

Antes de sermos pentecostais somos cristãos. Ao ler Cristianismo Puro e Simples me deparo com a seguinte verdade: a fé cristã é muito mais do que um conjunto de dogmas e doutrinas cujo pacote possa ser adquirido no mercado das religiões. O cristianismo propõe um pouco e além do que toda a religiosidade propõe. O pouco é a união com a realidade absoluta no pós morte, o além é a percepção de que esta realidade pode ser descrita tanto como "pessoal", quanto como "supra pessoal", e que podemos experimentar a comunhão com esta realidade aqui e agora.

Aqui é necessário lanças mãos das observações feitas por Francis Albert Shaeffer. Deus é infinto. Esta é uma afirmações cuja maior implicação é a de que ele (Deus), está fora do tempo de do espaço, não podendo ser contido nesta realidade. Em obras como O Deus que se Revela, e O Deus que Intervém, o autor em apreço esclarece que o ponto de contato entre Deus e o ser humano é a pessoalidade. Deus é um ser pessoal. 

É por meio da personalidade divina que Geisler, Berkhof, Shaffer e principalmente Lewis levantam a questão de Deus ser um ser pessoal e ao mesmo tempo sozinho. Uma questão visceral para este último autor é a afirmação bíblica de que "Deus é Amor". Ninguém pode ser amor tendo apenas a si mesmo como objeto deste amor. 

O amor é algo que uma pessoa sente por outra. Se Deus fosse a única pessoa, não poderia ter sido amor antes da criação do mundo. É claro que em geral, o que as pessoas querem dizer é algo bastante diferente: "o Amor é Deus". Querem dizer, na realidade, que nossos sentimentos amorosos, como quer e onde quer que surjam, e quaisquer que sejam seus efeitos, devem ser tratados com todo o respeito (Lewis, Cristianismo Puro e Simples, pág. 231). 

O Filho procede do Amor do Pai. Ele foi "gerado", não criado por este amor. Esta expressão (gerado) é usada por Lewis para explicar a diferença entre o filho e o restante da criação. Aquilo que o homem e todo e qualquer ser vivente é capaz de gerar é igual a si mesmo, aquilo que o homem e demais seres viventes "criam", não é e nem pode ser igual. 

Ou seja, Cristo é gerado e não criado, mas a questão não para por aqui. Este processo dá-se fora do tempo e do espaço, o que permite que o Pai, e o Filho sejam pessoas distintas e ao mesmo tempo um único SER. Ao contrário da realidade em que cada ser humano se encontra inserido (uma vez que estamos limitados ao tempo e ao espaço). 

Daí que ao falar em supra pessoalidade, Lewis possa afirmar que esta não seja sinônima de uma impessoalidade, como o senso comum possa fazer parecer ser. Supra Pessoalidade aqui é a pessoalidade elevada exponencialmente de forma que ser uma pessoa seja muito mais do que tudo o que somos como pessoa. 

Lewis segue explicando que toda agremiação humana tende a forjar um tipo de força que liga e passa a expressar aquele tipo de "associação". A seguir ele leva esta explicação para a questão trinitária e assim desenvolve parte de sua Pneumatologia Trinitariana. A despeito da sutileza filosófica decorrente de leitura e da agudeza filosófica e da expertise da crítica literária, Lewis destaca que a doutrina da trindade é uma forma de destacar a relação interna do SER de Deus. 

É aqui que retorno ao que foi afirmado acima. O grande projeto divino é a relação do homem com Deus e em decorrência desta a relação comunitária. Não há porque falar em dons espirituais sem o entendimento de que são ferramentas das quais Deus dispõe a fim de que os membros de uma determinada comunidade sejam mutuamente edificados.  

Isto é uma verdade desde o antigo testamento quando o povo judeu ainda não havia levantado questões a respeito de Deus ser, ou não um ser pessoal. Se uma unidade simples (se é que se possa falar assim em termos pessoais), ou se uma personalidade composta. É o ponto em que cristãos e judeus se dividem, obviamente, mas que é base da estrutura de pensamento e piedade cristã. 

Retornando ao pensamento de Lewis, uma das formas com a qual o cristão se relaciona com Deus é a oração. Lewis destaca que esta mesma é trinitariana. 

O que quero dizer é o seguinte: o simples cristão ajoelha-se e faz suas orações, tentando entrar em contato com Deus. Porém, se ele é cristão, sabe que o que o induz a orar é também Deus. Deus por assim dizer dentro dele. E sabe que todo o conhecimento real que possui de Deus, veio por meio de Cristo, o Homem que foi Deus. Sabe que Cristo está de pé, ao seu lado ajudando-o a orar, orando por ele. Você viu o que está acontecendo? Deus é Aquilo para o qual ele ora - o objetivo que tenta alcançar, é também aquilo dentro dele, que o impele, a força motriz. Deus, por fim, é a estrada, ou a ponte que percorre para chegar a seu objetivo. Assim toda vida tríplice do Ser tripessoal entra em ação neste quarto humilde onde um homem comum faz suas orações. O homem está sendo capturado por um tipo superior de vida - o que chamei de Zoé, ou vida espiritual. Está sendo atraído para dentro de Deus pelo próprio Deus, sem deixar de ser ele mesmo (Lewis, Cristianismo Puro e Simples, pág. 217). 

Nosso chamado é para um relacionamento com Deus que redunda em um partilhar  da vida divina. Esta partilha foi chamada por Pedro de participação na natureza divina (I Pe 1. 3 - 5). A promessa engloba Alegria, poder, paz e vida Eterna, que é explicada pelo autor como sendo a participação em um vida que não é criada. 

A experiência pentecostal é trinitária, tal como a vida cristã. A graça de Deus que se manifesta trazendo salvação para os homens (Tt 2. 13) é acessada por meio de Cristo, visto que da sua plenitude temos recebido graça sobre graça (Jo 1. 16, 17). O amor de Deus se manifesta no fato de Este ter dado seu filho para a propiciação de nossos pecados (Jo 3. 16; Rm 5. 6 - 8; I Jo 4. 8 - 10), e no derramar contínuo do Espírito Santo (Rm 5. 5). 

Na Teologia Joanina o Filho se faz carne para ser concretamente a maior explicação de Deus (Jo 1. 14 - 18). O Espirito é enviado a fim de fazer com que as palavra de Cristo sejam plenamente entendidas (Jo 14. 26). Pela Palavra o Pai, o Filho e o Espírito permanecem no crente (Jo 14. 21, 23). Este termo é crucial na Teologia joanina, uma vez que não há registros no antigo pacto de uma permanência do Espírito Santo na vida dos líderes de Israel, para além do exercício da atividade que desenvolviam. Aqui se percebe a natureza relacional do crente com o Espírito Santo. 

Espero que o presente estudo sirva de contribuição para que professores e alunos tenham uma visão mais panorâmica a respeito dos propósitos do autor das lições de Escola Bíblica Dominical das Assembleias de Deus do corrente trimestre. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

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