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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Este soube contornar, veja o video.


Um pouco de falta de sabedoria, depois um pouco de jogo de cintura, mas o fato é que o vídeo indica que a obreirada está sabendo contornar. Sobre as glorificações dos santos, creio que tal se tenha dado pelo fato de o mendigo haver cantado após supostamente ter se convertido.
 

Religão causa de graves transtornos?


Já escrevi sobre este assunto aqui com o simples intuito de responder este texto. Dias após me deparo com esta matéria. A partir de experiência própria e das experiências mau sucedidas de diversas pessoas com a religião uma especialista americana, por nome Marlene Winell, descobre uma síndrome que se desenvolve em pessoas criadas em um ambiente religioso fundamentalista. Segundo a especialista em apreço as pessoas que sofrem deste tipo de transtorno podem desenvolver pânico que envolve cenas apocalípticas, medo de ir para o inferno, baixa autoestima, depressão. etc... .
É mais do que fato que a doutrina cristã afirma que o homem é irremediavelmente pecador, e que nado do que ele faça pode sanar tal situação. Somente uma intervenção divina pode ajuda-lo. Isto é fato. Todavia, também é verdade que pela graça de Deus o homem pode ser alcançado e resgatado deste estado. Na linguagem de Jesus, isto é frequentemente expresso por meio de falas do tipo: não são os são que precisam de médico, ou, o Filho do homem veio para buscar e salvar o que se havia perdido.
Na linguagem paulina esta mesma verdade é expressa por meio de assertivas do tipo pela graça sois salvos, não por obras de justiça, mas pelo seu muito amor, etc.... Mesmo no Antigo Testamento, podemos ver um retrato da ira de Deus associado á sua graça e misericórdia para com homens, que de acordo com o autor do salmo brotam de um único Deus que conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó (Sl 103. 14 - 16; 130. 1 - 4).
Diante do exposto,  gostaria de propor duas considerações iniciais. Primeiro, desde os primórdios da fé cristã, existem pessoas que se dispõem a colocarem sobre as demais um jugo, fardo, peso, que elas mesmas não dispõem a carregar. Tais são os que atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los (Mt 23. 4 ARCF).
A segunda consideração é que a despeito de existirem pessoas cujo proposito é disseminar a opressão, há um Jesus que diz aos que sinceramente o buscam:
Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11. 28 - 30 ARCF). 
Minha premissa aqui é que os que sinceramente buscam a Deus não ficarão enganados. Uma vez que a própria Bíblia dá amplas garantias de que quem busca a Deus é orientado no caminho em que deve seguir (Sl 25. 4, 12, 14; Jo 7. 19). A carta de Paulo aos Gálatas mostra com clareza uma comunidade que após receber o Evangelho da graça se colocou sob o jugo de um grupo reduzindo a sua condição de livres em Cristo á de escravos.
Diante da matéria não há como ignorar que de fato existam pessoas que adoeceram e ainda enfermam em ambiente religioso, mas é necessário perguntar se o mérito da culpa cabe exclusivamente à religião, ou ao sistema doutrinário da mesma. Afinal, se pregações sobre o apocalipse causam transtornos, teremos de acabar definitivamente com filmes de terror do tipo "A hora do pesadelo" (me perdoem o eufemismo, pois sei que este não assusta a mais ninguém), mas na medida em que faço tamanha ironia me lembro de quão infantil fui em me aterrorizar com Fred Krügger e Jason, na mesma proporção em que acreditei infantilmente que um espirro seria suficiente para que eu perdesse a salvação.
Paulo, Santo Agostinho e Lutero são homens que tiveram em comum o anseio de obedecer a Deus genuinamente, mas se depararam com sua inadequação, com sua pecaminosidade, e desesperaram de si mesmas depositando toda a sua confiança em Deus. Falo isto em razão dos depoimentos de inadequação, impotência que aparecem no texto, e creio que foi o desesperar de si que faltou a estas pessoas.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros
 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Tempo para todas as coisas (lição da EBD n° 9)


 
Eclesiastes, ou εκκλησιαστοὑ é a forma grega para o livro que na Bíblia Hebraica recebe o nome de קֹהֶ֣לֶת (kohelet). Da mesma forma que εκκλησιαστοὑ procede de εκκλησια (Eclésia), cujo sentido é o de assembleia, o mesmo se dá com קֹהֶ֣לֶת (kohelet), que advém de קְהִלַּ֥ (kahal), cuja tradução pode ser tanto ajuntamento, quanto congregação (Dt 33. 4; Sl 107. 32). O termo pregador [ֹהֶ֣לֶת (kohelet)] aparece aproximadamente sete vezes em Eclesiastes (Ec 1. 1, 2, 12; 7. 27; 12. 8, 9, 10). O termo se aplica atualmente ao orador sacro, mas era aplicado a todo que dirigia o discurso para uma assembleia.
Há elementos internos de que o livro seja o produto de um discurso. O livro termina com a seguinte máxima: De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem (Ec 12. 13 ARCF). A NVI traduz: Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão [...], indicando que este é o fim de um discurso, e a presença do verbo שְׁמָ֑ע (shemá), indica que antes de existir como livro, קֹהֶ֣לֶת teve a sua forma como discurso.
Não se trata de um discurso aos moldes da sabedoria demonstrada em Provérbios, ou em Salmos. O pessimismo do autor se aproxima mais do cinismo filosófico do que qualquer outra coisa. o leitor, por favor entenda que este é um termo aplicado a uma classe de filósofos antigos (como Diógenes) que professavam uma moral ascética e um desdém absoluto das conveniências sociais (veja aqui). קֹהֶ֣לֶת desdenha a vida, o tempo, os empreendimentos humanos, a busca pela sabedoria, tudo, mas tudo mesmo é vaidade. Mas o que significa vaidade.

O SENTIDO DE VAIDADE EM ECLESIASTES

De extrema importância para a compreensão do livro em apreço é a ocorrência de הָֽבֶל, ou הֲבֵ֤ל (habel, ou, hebel), cujo sentido é o de algo passageiro, fugaz. Em nossa cultura vaidade é o desejo imoderado de chamar atenção, ou de receber elogios, podendo ser também, uma ideia exageradamente positiva que alguém faz de si próprio; presunção, fatuidade, gabo. Alarde, ostentação, vanglória, da mesma forma são termos hoje compreendidos como sendo vaidade. Mas ainda bem que os nossos dicionários reservam um pequeno espaço para uma definição mais afinada com הָֽבֶל, ou הֲבֵ֤ל (habel, ou, hebel). Assim, em nossa vida tudo é fútil, tudo é vazio, tudo é vão. Ou como disse קֹהֶ֣לֶת Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade (Ec 1. 2 ARCF).
A ocorrência e a sucessão de fatos aleatórios, aparentemente sem sentido e sem significado dão o tom de acidez e morbidade ao livro, afinal: Como acontece ao tolo, assim me sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria? Então disse no meu coração que também isto era vaidade (Ec 2. 15 ARCF). Não, aqui não há espaço para os ideias platônicos e muito menos para a empáfia iluminista, ambas com o sua ideologia que atribui ao homem racional um senso de superioridade.
A ideologia da produção, do homem trabalhador, também cai por terra diante da esmagadora constatação de que por mais que trabalhemos e vejamos o trabalho como algo positivo, não sabemos para quem de fato deixaremos o nosso legado. Também eu odiei todo o meu trabalho, que realizei debaixo do sol, visto que eu havia de deixá-lo ao homem que viesse depois de mim. E quem sabe se será sábio ou tolo? Todavia, se assenhoreará de todo o meu trabalho que realizei e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isto é vaidade (Ec 2. 18, 19 ARCF).
O mais curioso na afirmação supra é que Eclesiastes é um dos poucos livros que apresentam o trabalho de forma positiva. Conforme você pode ver aqui, o termo עָמָֽל ('amal), é privilegiado por Salomão, tanto em Provérbios quanto em Eclesiastes para o trabalho. Todavia, tal atividade se mostra sem sentido caso o homem não usufrua do mesmo. Mas para Salomão, tudo é vaidade e aflição de espírito (Ec 2. 17).
Mesmo a superioridade do homem em relação aos animais, é vista como vaidade. Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade (Ec 3. 19 ARCF). O homem ainda que racional, e superior aos animais, é igualado a estes em vista de sua mortalidade. O fato mais marcante com o qual temos de lidar é que: nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; como também não há licença nesta peleja; nem tampouco a impiedade livrará aos ímpios (Ec 8. 8 ARCF).
Nem a filosofia hedonista escapa à crítica do pregador. Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade (Ec 2. 1 ARCF). Mesmo ao jovem que é aconselhado que goze a vida, lhe é lembrado que sua juventude é vaidade. Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo. Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade (Ec 11. 9, 10 ARCF).
Na verdade  aqui se constata a verdade já dita aqui neste espaço, de que a simples fruição de consumo não nos torna mais felizes e muito menos mais plenos. E a prova está na verdade de que tudo passa. Os prazeres do sentido jamais serão plenamente satisfeitos, uma verdade que podemos sentir já quando o pregador diz: Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr. Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir (Ec 1. 7, 8 ARCF).
O mais incrível em tudo isto, é que ao olharmos os textos bíblicos referentes à aliança, veremos que a felicidade está sempre associada ao justo, ao passo que a desgraça é vinculada ao ímpio. Percebemos isto com extrema clareza no texto de Provérbios.

O TEMPO NO LIVRO DE ECLESIASTES

Feitas as considerações a respeito da vacuidade da vida resta considerar o tempo da perspectiva de קֹהֶ֣לֶת (kohelet). Para o pregador, Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu (Ec 3. 1 ARCF). A palavra זְמָ֑ן (z'emah) significa tempo determinado é a LXX a traduz pelo grego χρονος (Chronos), cujo sentido é o de um tempo, um período específico. Tal uso pode ser visto em Lucas por exemplo, ao falar do período gestacional de Isabel (Lc 1. 57), ao tempo corrido (I Pe 4. 3), ao período de vida de Moisés (At 7. 23).
No mesmo texto que citamos do pregador observamos a ocorrência de עֵ֤ת (eth), que a LXX traduz por καιρος (kairós), e tem sido lugar comum se afirmar ser o tempo de Deus, e em alguns casos pode ser (Mc 1. 15; 13. 33; Jo 7. 6), embora em outros seja equivocado fazer tal afirmação (Mt 21. 34), visto que neste último caso, καιρος pode perfeitamente ser sinônimo de זְמָ֑ן e χρονος, indicando com isto o período, ou a época em que um determinado acontecimento pode vir a ocorrer.
χρονος em particular, significa no grego clássico a ocorrência repetitiva de fatos, ou fenômenos naturais, tais como o dia e a noite (Gn 1. 3 - 5), as estações [no hebraico מֹועֲדִ֑ (mo'edh) Sl 104. 19] - neste último caso cabe a observação de que contrariando o uso clássico os tradutores da LXX empregam καιρος para traduzir מֹועֲדִ֑, o que reforça a ideia por nós expressa de que não existe rigidez quanto ao emprego dos termos equivalentes a tempo nas línguas originais. Mas identificamos em Koelet algo parecido com o conceito do grego clássico de χρονος.
Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece. Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos. Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr. Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir. O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós (Ec 1. 4 - 10 ARCF).
O que vemos aqui além de uma descrição de uma serie de fatos que se repetem? Se olharmos atentamente a história humana, veremos nascimento, morte, ódio, amor, semeadura, colheita, tudo em uma sucessão monótona, mas que por alguma razão não provoca o tedio em nós, afinal, os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
Quando קֹהֶ֣לֶת fala do tempo de nascer, de morrer, de plantar, de colher, de coser, ele emprega עֵ֤ת (eth), como equivalente de καιρος (kairós). Este último pode significar aquilo que é útil, produtivo, e que convém ao momento, e  עֵ֤ת pode ter semelhante emprego sim. Deus fixou um tempo em que os exilados de Sião teriam de voltar e voltaram (Ag 1. 2). É neste sentido que:
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;  Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz (Ec 3. 2 - 8 ARCF).
E a julgar pelo contexto do livro tais coisas se dão de forma repetitiva, quase que de forma cíclica. Afinal, O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós (Ec 1. 9. 10 ARCF). E, em outro momento, O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou (Ec 3. 15 ARCF). Fato é que quando o קֹהֶ֣לֶת pensa o tempo sob a ótica divina chega à conclusão de que Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim (Ec 3. 11 ARCF).
Para expressão mundo, o termo bíblico é  עֹלָם֙ (olam), cujo sentido pode ser o de eternidade. Deus é Deus de eternidade á eternidade (Sl 90. 2), seus dias não tem fim (Sl 102. 26 - 28). E ele colocou no coração humano o desejo de sondar as obras de Deus tanto de uma perspectiva presente quanto futura, e todavia o homem não pode apreender esta obra na totalidade.
O uso correto do tempo demanda sabedoria. Não é sem razão que o pregador afirma: Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo (Ec 8. 5 ARCF). Paulo afirma que [..] já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé (Rm 13. 11 ARCF). Este é o sentido do famoso remindo o tempo, porque os dias são maus, e que é muito bem traduzido nas palavras do apóstolo Paulo quando este diz:
Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem; E os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem; E os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa (I Co 7. 29 - 31 ARCF).  

A terra dura para sempre, mas a aparência deste mundo passa. O termo para aparência aqui é o grego σχημα (scheema), cujo sentido mais apropriado é, em nossa modesta opinião, o de figuração. O termo indica que a aparência de nosso mundo não é a expressão da realidade, daí o fato de o pregador dizer que tudo é vaidade, visto que não é essência, mas mera representação. Me despeço rogando a Deus que derrame mais de sua sabedoria para que usemos apropriadamente o tempo.
 
Pr Marcelo Medeiros

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Bíblia ou Jesus? Jesus ou a Bíblia?


Esta pergunta visa fazer provocações a respeito de uma fala atribuída ao teólogo Jürgem Molltmann que vi em uma foto no facebook. Em primeiro lugar a Bíblia não pode em hipótese alguma ser lida como se fosse o Alcorão. Falo isto por uma questão literária. Ao contrário do livro sagrado dos mulçumanos, a Bíblia foi produzida em um período de aproximadamente 1. 400 anos por mais de quarenta autores e com uma variedade de estilos literários de dar nó em pingo de éter. Narrativas, genealogia, crônica, oração, cântico, salmos, profecia, historia, evangelhos e apocalipse; são alguns dos mais flagrantes gêneros que aparecem neste livro. Esta variedade já se constitui razão suficiente para que a Bíblia seja lida de forma crítica. O que já não ocorre no caso do Alcorão, ou Corão sagrado.
Este livro, do qual possuo um exemplar foi escrito em um prazo mínimo de tempo, que sequer chega a quatro décadas, e em um único estilo, o que facilita a interpretação literal. Além do mais é visível que mesmo nos raros esboços de narrativa histórica que aparecem no livro, que o proposito das suratas é o de transmitir alguma ordem.
Retornando á frase de Jürgem Molltmann percebo aqui uma crítica ao fundamentalismo, palavra que de tão desgastada que está pelo uso corrente, veio a significar algo totalmente diferente de sua raiz histórica. O fundamentalismo tem a ver com a reação que um ramo teológico fez com relação ás afirmações da Teologia Liberal.
Em seu contexto inicial, é fundamentalista quem acredita e confia na Bíblia, quem considera a divindade de Jesus Cristo, quem crê no nascimento de Jesus Cristo através de um corpo virgem, quem crê em sua morte e ressurreição a favor da humanidade, quem crê em sua vinda à Terra, quem acredita na criação da Terra em seis dias e na salvação eterna dos cristãos bem como a condenação eterna dos não-cristãos (aqui).
Por mais desgastado que este termo esteja precisamos nos perguntar se podemos nos considerar cristãos legítimos caso venhamos a abrir mãos de algum destes fundamentos. Hoje o fundamentalismo é definido como sendo a crença na interpretação literal dos livros sagrados. Fundamentalistas são encontrados entre religiosos diversos e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos à risca (aqui). Mas de acordo com o artigo citado supra, o termo está ligado principalmente à postura islâmica frente ao mundo plural em que vivemos. Logo, a frase de Molltmann constitui-se como crítica á postura cristã que age com a Bíblia da mesma forma que o mulçumano com o Corão Sagrado.
Já afirmei supra que dada à estruturação literária da Bíblia não cabe a postura literalista na sua leitura. Não posso, por exemplo interpretar literalmente as palavras do salmista que atribuem asa a Deus, ou aos anjos que são seres de natureza puramente espiritual. Mas como conhecer Jesus senão através da Bíblia? E que tipo de leitura fazemos dos relatos que nos traçam um quadro vivo da pessoa do Cristo? Não há como escapar à verdade de que se afirmamos que "Deus se tornou, em Cristo, não um livro, mas um ser humano", o fazemos porque a Bíblia assim o diz.
Precisamos enxergar o fato mais que obvio que o próprio Jesus (em um acalorado debate com os judeus a respeito de sua missão e identidade), tomou as Escrituras como testemunhas de sua pessoa ao afirmar: Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito (Jo 5. 39). E, Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva (Jo 7. 38). Prometo voltar à questão em outro post, quando estarei falando de Cristologia, mas por enquanto me despeço advertindo ao leitor de que Cristo somente é conhecido de nós que não andamos com ele, que não vimos e nem testemunhamos seus atos; por meio do testemunho de quem andou com ELE. Este testemunho está registrado na Bíblia. Logo, em termos de Cristo a Bíblia é autoridade.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Enquanto isto

 
Enquanto pesquisava esta matéria, me deparei com a reflexão deste jurista, o que me levou a produzir este texto, que por sua vez ficou incompleto, dada ausência de uma reflexão teológica sobre o assunto, visto que minha intenção com o texto era fazer um apelo à Ordem dos Advogados do Brasil, a fim de que prossigam em sua luta pela igualdade de acesso, por parte de todos os brasileiros, independente de classe social, aos direitos, tão acessíveis aos condenados que possuem recursos financeiros.
Retornando ao artigo (aqui), me espantei com a proposta mais que vanguardista, por parte do autor, de que o sistema prisional é da época do iluminismo e não mais atende aos tempos atuais, visto que tudo o que faz é aumentar a população carcerária. O mais curioso é que a Bíblia afirma que a ausência de punição, de alguma forma colabora para que os homens se inclinem às práticas criminosas (Ec 8. 11). Daí minha defesa da punição. Mas apenas se apegar ao texto sem ver a dimensão do contexto total produz uma ingenuidade descabida.
Minha sincera opinião como teólogo não é nada, nada agradável aos  juristas e demais profissionais que lidam com a justiça. Tal se dá em razão de uma visão aparentemente secularizada, laica, mas que na verdade não o é. Por alguma razão que desconheço os homens se negam a ver a humanidade em seu caráter ambíguo, ou como diria Pascal, em sua dignidade e vileza. E se nosso direito encontra-se robotizado, creio ser justamente este um dos fatores.
A condição pecadora é o único ponto que me faz concordar com o jurista João Ibaixe Jr quando este afirma que encarcerar não é solução. Sim, porque a mesma parte do pressuposto de que o homem é irremediavelmente mau. Mas estou longe de dizer que temos de jogar a toalha. Não é esta a minha intenção! O que quero neste espaço é reafirmar que todas as tentativas de driblar tal maldade deverão estar sob constante revisão. Afinal, é no que está no íntimo do individuo que nascem os crimes.
A matéria, ao meu ver denuncia o flagrante estado de desespero em que nos encontramos. Como bem disse o profeta Isaías:
Ninguém há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniquidade. Chocam ovos de basilisco, e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e, quebrando-os, sairá uma víbora. As suas teias não prestam para vestes nem se poderão cobrir com as suas obras; as suas obras são obras de iniqüidade, e obra de violência há nas suas mãos. Os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; destruição e quebrantamento há nas suas estradas. Não conhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz. Por isso o juízo está longe de nós, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão (Is 59. 4- 9 ARCF)
Se o quadro humano interno não mudar, ele não muda por fora, não adere e sequer anui às leis. E mesmo diante da punição sempre buscará amenizar a mesma. Paulo falou que a lei estava enferma (leia enfraquecida) pela carne (leia dimensão ética). Sob este aspecto, os juristas terão de ser mais que filósofos do direito, terão de ser clínicos da alma humana e o sistema socioeducativo, mais do que punitivo, mas terapêutico.

Uma dica


Acabo de ler a notícia de uma monção de repúdio ao presidente do Supremo, o ministro Joaquim Barbosa, a respeito da ação do mesmo em substituir o juiz responsável pela aplicação das penas aos responsáveis do mensalão. De acordo com a matéria em apreço, pode ser que ocorra uma inversão de papeis. Aquele que outrora foi considerado herói, pode vir a ser visto como réu, uma vez que até em investigação da vida do ministro se fala.
A preocupação que parece permear as ações dos nossos advogados é a de que a prisão, ou condenação dos réus tenha sido motivada por fatores políticos. Já expressei a minha opinião a este respeito aqui e aqui, e o que todos vimos ao longo deste processo foi uma série de manobras, por parte dos condenados no processo acima aludido, bem como dos aliados dos mesmos, para que a aplicação da pena fosse adiada.
Creio que diante da pressão da opinião pública, e da necessidade de se dar uma resposta em ano de eleição, prisões e mais prisões ocorram à toque de caixa. Ao menos em primeiro plano tais condenações seriam uma suposta base para uma argumentação, por parte da base do governo, de uma politica de isenção.
A questão tem de ser vista em seu aspecto técnico? Sim. E quero crer que os advogados envolvidos na ação assim estejam procedendo, ao levantarem supostos mandos e desmandos do presidente do supremo no processo de julgamento. Também quero crer, que, caso tenham ocorridos tais mandos e desmandos (e honestamente duvido disto), por parte do aludido jurista, tais tenham se dado puramente pelo aspecto humano da questão. Quem não erra? Mas como disse, duvido.
Um fato que ressalta aos nossos olhos foi a questão dos recursos infringentes, termo técnico, que duvido fosse conhecido de quem não era da área jurídica. E o que dizer da súbita piora do quadro clínico de um ou outro? A mensagem que fica em todo este processo é de que ainda somos um país cuja principal marca é a ausência de mecanismos eficazes de combate á corrupção, e a impunidade. Não serei a dizer que pelo fato dos condenados terem supostamente, ou não, cometido um crime, que eles não terão direitos, de forma alguma! Mas honestamente creio que a Ordem dos Advogados do Brasil tem diante de si um desafio ainda maior, o de tornar o acesso a tais direitos o mais igualitário possível. Afinal, o que não falta são aqueles famosos casos de pessoas inocentes, mas que por problemas sociais, e falhas de nossa justiça, foram condenadas (aqui). Também é comum o caso de pessoas que deveriam ter progredido de pena, mas que dadas as mazelas ainda não lhes foi facultado tal prerrogativa.
Face ao exposto, sou repetitivo em afirmar que a Ordem dos Advogados do Brasil tem diante de si um desafio ainda maior, o de tornar o acesso a tais direitos o mais igualitário possível. Já existe reflexão a este respeito (aqui), e neste caso o desafio apenas aumenta, afinal, que medida socioeducativa pode ser dada a quem faz uso do poder para cometer os mais horrendos crimes (aqui)?
 
Bom dia, Marcelo Medeiros 

sábado, 23 de novembro de 2013

Racismo e outros ismos velados

Houve época em que poderíamos definir o racismo por meio das seguintes palavras: sistema que afirma a superioridade de um grupo racial relativamente aos outros, preconizando, em particular, o isolamento destes no interior de um país (segregação racial) ou até visando ao extermínio de uma minoria (racismo anti-semita dos nazistas). A definição nos remete imediatamente ao período da segunda guerra, ao apartheide (regime de segregação racial da África do Sul), bem como ao nazismo, mas não expõe outras formas pelas quais o fenômeno se manifesta.
Hoje uma prática comum de racismo pode ser vista nas ações afirmativas. Não, não estou falando do sistema de cotas para negros, pardos, pigmeus, e amarelos nas universidades públicas, por exemplo. Falo do politicamente correto que impede que se critique a sub cultura, e, ao mesmo tempo expolia tais etnias até mesmo que seu capital cultural. Um exemplo clássico é o pagode (falo do gênero musical que alcançou popularidade em vozes tais como: Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Bezerra da Silva), antes acessível ao povo das comunidades, agora praticamente artigo de luxo. Mas isso ainda não é pior.
Uma das piores formas de afirmações é a que vemos em letras tais como a do batidão que diz:
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Fé em Deus, DJ
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, han.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer,
Com tanta violência eu sinto medo de viver.
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado,
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado.
Eu faço uma oração para uma santa protetora,
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora.
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela,
O pobre é humilhado, esculachado na favela.
Já não aguento mais essa onda de violência,
Só peço a autoridade um pouco mais de competência.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, han.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, é.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
Diversão hoje em dia, não podemos nem pensar.
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.
Fica lá na praça que era tudo tão normal,
Agora virou moda a violência no local.
Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,
Estão perdendo hoje o seu direito de viver.
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,
Só vejo paisagem muito linda e muito bela.
Quem vai pro exterior da favela sente saudade,
O gringo vem aqui e não conhece a realidade.
Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco,
E o pobre na favela, vive passando sufoco.
Trocaram a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, eu.
Eu, só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, han.
E poder me orgulhar, é,
O pobre tem o seu lugar.
Diversão hoje em dia, nem pensar.
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.
Fica lá na praça que era tudo tão normal,
Agora virou moda a violência no local.
Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,
Estão perdendo hoje o seu direito de viver.
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,
Só vejo paisagem muito linda e muito bela.
Quem vai pro exterior da favela sente saudade,
O gringo vem aqui e não conhece a realidade.
Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco,
E o pobre na favela, passando sufoco.
Trocada a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, só precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, é.
Eu, só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, han.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
 À título de consideração tenho de dizer que de fato a vista que se tem das favelas, dos morros, das comunidades é uma das mais belas que se pode ter, isto é um fato. Quanto á felicidade, esta é um estado. Honestamente ao ler o refrão: O gringo vem aqui e não conhece a realidade. Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco, E o pobre na favela, passando sufoco, fico pensando se o autor da letra deste rap viveu para ver o Alemão, a Rocinha, e o Dona Marta sendo transformados em pontos turísticos.
Mas o que me incomoda é parte onde se diz que tudo o que um morador da favela deseja é o entretenimento que lhe é oferecido ali. Sim, pois não há forma de entender o Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
. Por que não posso andar tranquilamente em qualquer outro lugar? Que tipo de orgulho é este, que ao mesmo tempo em que afirma a minha condição, me aprisiona à mesma? Leia novamente e letra: E poder me orgulhar, E ter a consciência que o pobre tem seu lugar. Com o perdão da expressão, que lugar é este que o pobre tem? A favela?
Honestamente, se a letra pretendia alguma forma de afirmação, ela foi um tiro que saiu pela culatra. O pobre aqui é mais do que segregado. Afinal, tomar água de côco na zona Sul é para gringo, como se praia alguma do nosso Rio fosse frequentada por pobres! Ao pobre cabe a diversão que lhe é oferecida na comunidade, aqui ainda chamada de favela.
Honestamente, vejo aqui o mesmo tipo de segregação e preconceito visto em programas afirmativos tais como o esquenta. Como o leitor poderá conferir aqui. Sim,
Regina Casé e seu programa parecem dizer aos jovens dos guetos: “Ei, isso mesmo, aprendam passinho, aprendam a rebolar até o chão, continuem com seu linguajar próprio, porque tudo isso é lindo, é legal, é Brasil, é tudo junto e misturado, continuem com seus empregos modestos, porque a vida é agora, é para ser vivida, curtida, com alegria, malemolência, sempre com um sorriso no rosto”. E assim, aquela menina sentada no sofá vai continuar achando o máximo desfilar com pouca roupa e pelos das pernas pintados de loiros pela comunidade. Nunca vai pensar em aprender a falar alemão ou tentar entender os grafites de Banksy, da mesma forma que os rapazes nunca sonharão em trabalhar no Itamaraty e praticarão bullying contra os meninos polidos que não falam em dialeto e inventam de estudar violino, já que um programa televisivo de uma das principais emissoras do país legitima seu estilo de vida mal educado e de poucas perspectivas.
É a mesma mensagem reacionária de sempre. Seja você mesmo, mas por favor, fique na favela onde você nasceu, fiquem com a cultura de vocês. Mas não invadam a nossa praia, e nem venham concorrer conosco. Sacou? Morou? Tenho extrema dificuldade em entender como ainda ninguém sacou os reais motivos por detrás de tamanha divulgação que a mídia tem dado a este tipo de cultura.

Abraços, Marcelo Medeiros.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

20 de Outrubro de 2013 mais um dia da consciência negra


Definimos consciência a partir dos seguintes termos:

  1. Conhecimento, noção do que se passa em nós.
  2. Percepção mais ou menos clara dos fenômenos que nos informam a respeito da nossa própria existência.
  3. Sentimento do dever, moralidade: um homem sem consciência. Ver aqui.

Em face do que é dito acima, necessário se faz salientar que: primeira definição é epistemológica, a segunda existencial, a terceira moral. Fiz uso dos termos do dicionário a fim de esclarecer o que é, ou poderia ser uma consciência negra. O assunto é mais do que polemico, visto que o que não falta em nossos dias são apelos a uma consciência humana.
O que seria então uma consciência negra? Em primeiro lugar um conhecimento epistêmico da situação social do negro em nosso país. As declarações que farei abaixo não visam esgotar o tema, mas pontuar de que forma negros são vitimas do preconceito em nosso país. Particularmente senti o mesmo na pela, principalmente no período do antigo ginásio, quando conheci de perto o preconceito e o bullying (aqui).
Da década de oitenta para cá muita coisa mudou, é verdade. Não temos o preconceito claro e declarado em nosso país, tal como ocorre na América, mas olhe para a produção televisiva e constate que raros são os papeis de protagonista dados aos negros. E quando tal ocorre, como aconteceu com uma novela, por título "A cor do pecado", uma vilã branca rouba a cena.
Não são poucas as denuncias que vemos nas produções científicas do ramo educacional, quanto ao preconceito velado em livros didáticos, que sempre conferem um papel subalterno aos negros, e que raramente os mostram casados com pessoas de outras etnias, como se tal possibilidade, de fato sequer existisse.
Me lembro claramente de uma ocasião em que estando na fila de uma loja, aguardando o momento de efetuar o pagamento da fatura do meu cartão e do de minha esposa, percebi o olhar de espanto de uma criança branca, quando soube que minha mulher era tez branca, embora não se possa dizer que ninguém em nosso país seja realmente negro, ou branco. Sim, na minha opinião somos a nação dos mestiços. Mas entendo que o preconceito velado é a principal marca do mesmo, e as razoes para este entendimento estão escritas acima.
Do ponto de vista existencial, o que podemos afirmar é que a consciência seria o conhecimento de como o negro constrói a sua existência. esta construção, ao meu ver não é libertaria, nem rigidamente determinada. O que quero dizer é que ao mesmo tempo em que o homem constrói a sua existência a partir de suas heranças culturais, sociais, econômicas, familiares, etc... . Ele vai exercendo sua tomada de decisão a partir do conhecimento que possui das dinâmicas do processo.
Ele não possui o domínio pleno das mesmas, visto que ninguém determina a família em que vai nascer, por exemplo, a cor da pele que vai possuir, e menos ainda as reações que a sociedade apresenta às condições biológica, social e economicamente dadas. Mas pode optar em como vai reagir ao que é posto diante dele. Falo isto a partir, é claro de um pressuposto existencial.
A tomada de consciência ética se dá a partir do que fazemos com nossa experiência, de como a usamos no apelo ético que nos é feito hoje e agora. Conforme disse aqui, nossas experiências ruins precisam ser transformadas em algo útil e proveitoso para os que compartilham a mesma sorte que nós, do contrário nossas feridas serão apenas futuras cicatrizes.
A dita consciência negra se forma da historia que temos enquanto etnia, em nossas experiências individuais e sobretudo em nossa atuação enquanto seres históricos que somos. Se toda a nossa filosofia de afirmação não nos serve para que atuemos junto aos que compartilham da mesma sina que nós, de nada adianta o desenvolvimento de mais uma suposta consciência, visto que esta se perde em mais uma ideologia. Me despeço com os votos de que nossa tradição histórica, nossa vivencia se faça mais do que uma ideologia, que esta se torne consciência de fato.

Marcelo Medeiros

Bullying, minha experiencia

 

Assisti recentemente ao filme cyberbullybg, que pode ser acessado aqui. Vi também O Globo Repórter (aqui). E creio ser este o assunto do momento. Até porque o mesmo se mescla a uma longa tradição de preconceito. Diante disto gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência com o assunto. Não faço como técnico, mas como alguém que teve a infelicidade de nascer pobre, negro e viver em um momento em que os padrões de beleza eram sempre caucasianos.
A definição da palavra ainda não se encontra em nossos dicionários, mas a julgar pelas informações do Brasil Escola, consiste na estereotipação, ou estereotipia de indivíduos associada à violência, física, ou verbal, bem como no afastamento, ou isolamento dos mesmos. Os parâmetros curriculares do Ensino fundamental trazem nos seus objetivos que a educação tem como meta a formação de cidadãos críticos, que estejam preparados para se voltarem contra toda forma de dsicriminaçaõ e preconceito. Mas na década de oitenta não havia tamanho comprometimento. À título de exemplo, gostaria de narrar a minha história.
Na antiga quinta serie (atual sexta) do antigo primeiro grau (atual Ensino Fundamental I e II), conheci uma professora que amava tirar pontos dos alunos que se sentavam atrás, dentre os quais eu. Um dia era ponto tirado porque estava rindo, mesmo que não estivesse; no outro era ponto tirado, pasme, porque havia caído em uma brincadeira sem graça. Em outro, porque ao ser perguntado por que estava rindo, respondi: "minha arcada dentaria é saliente" (em outras palavras sou dentuço).
Não bastasse toda esta tortura, ainda tinha de copiar textos e mais textos, visto que a qualquer momento o caderno poderia ser visto e mais pontos poderiam ser tirados, ou acrescentados. Em apenas uma ocasião o caderno foi visto e um ponto foi acrescentado. A lição que ficou? O erro é muito mais valorizado do que o acerto
Agora aqui vai uma explicação. Em primeiro lugar, não me assentava atrás porque gostava de fazer bagunça. Segundo, nunca fui o sujeito de andar em grupos de meninos, sempre preferi a companhia feminina. Terceiro, e obvio, ser bagunceiro não era a minha. Por último, como negro nunca gostei de ser visto e nem de me expor, pois me achava feio. Na verdade não haviam naquela época negros que pudessem me servir padrões de beleza. Hoje temos Will Smith, Denzel Washington, tivemos o nosso Norton Nascimento, mas na década de oitenta, o que tínhamos eram um Michael Jackson, que tinha o poder de se tornar branco (pelo menos foi assim que a imprensa vendeu o que estava acontecendo com ele, somente no período de minha adolescência a verdade veio à tona, ele tinha vitiligo). Assim fui vivendo pensando que era feio. Sempre fui retraído, não bastasse tudo isto tive de conviver com as encarnações dos colegas e com aquela professora.
A crise estourou em sala de aula, quando em mais uma das ocasiões a professora além de resolver tirar mais um ponto, resolveu curtir com a minha cara (os leitores sabem que não costumo usar estes termos). Ela entrou em sala de aula e o bom dia da mesma foi este: quem soltou um barbantinho cheiroso? (um tipo de bombinha que ao ser deflagrada exalava um odor fétido insuportável). Imagine se um chato de nascença como eu soltaria uma coisa dessas ainda mais na aula da megera indomável?! A despeito disto, quem melhor do que o dentuço e negro para levar a culpa. Afinal, era o recordista de perda de pontos.
Ao perceber o obvio, que eu era o judas de sempre a dita cuja me perguntou de onde eu era. Disse ser carioca, nascido em são Cristóvão, com aquele esse bem puxado, meio paulista, meio mineiro. Foi o suficiente para que virasse o comedia da turma. Ouvi coisas do tipo carioca você não é (como se apenas houvessem marginais fora do Rio), mas o pior ainda estava por vir. Na maior inocência disse que era descendente de mineiros, mas que havia nascido no Rio sim, isto constava em minha certidão de nascimento, e o que ouvi?  Que nós migrantes destruímos o belo Rio de Janeiro, que povoamos estas cidade e criamos a violência aqui, etc... . O sotaque, a cor da pele, a etnia, os motivos estavam todos ali.
Agora caro leitor, suponha que ela estivesse certa, o que eu que nunca roubei, ou furtei em minha vida, que estava ali naquela instituição escrota, que acreditava e ainda acredito nos estudos tinha á ver com toda aquela baboseira? Nada! Não conheci pessoa alguma que trabalhasse mais do que minha mãe. E, se acredito na educação como meio de ascensão social, tal se deve à cultura que recebi em casa. Mas é desnecessário dizer que todos estes fatores foram ignorados pela professora.
Após a fantástica sessão de bullying, veio a parte mais humilhante sair de sala para a coordenação. Enquanto isto, uma das minhas colegas foi a minha heroína, eu diria que foi o instrumento de Deus para que a justiça fosse feita, como? Enquanto estava na coordenação, a garota citada disse á professora como era a minha rotina de vida fora da escola. Segundo o testemunho que a própria professora dera e que os demais colegas corroboraram esta colega, que se mostrou amiga dissera à professora que minha vida era sair às tardes e ir á Igreja, retornando após o culto, fora estas ocasiões ele sequer é visto na rua. E pasmem, esta era a verdade, visto que além de ser crente desde cedo, tivera minha primeiras experiências espirituais ainda aos sete anos de idade aqui e aqui. Honestamente, não sei como consegui, se é que de fato tenha conseguido, superar tal experiência. Não sei como aprendi a gostar tanto de ler e escrever como gosto. Creio que isto tenha mais a ver com minha experiência religiosa do que com a Escola e com a educação em si, visto que ainda que em proporções menores, sempre tive de lidar com o preconceito e o bullying, ora por parte dos colegas, ora por parte dos professores.
Curiosamente faço parte de um grupo religioso que é apontado como sendo reacionário, e ainda assim minha historia pessoal me diz que foi justamente neste grupo, que tive acesso a uma experiência que me possibilitou superar tais traumas sem recorrer á violência. O caso acima narrado se resolveu com o posicionamento de uma colega, que foi corroborado pelo de outras, e também com o posicionamento de minha mãe e minha avó materna.
Nunca gostei de contar os meus problemas (aquilo que me ocorria na escola) para nenhuma das duas. Naquela época a filosofia era a seguinte: os adultos estão sempre certos e vocês crianças erradas. Mas me surpreendi com o fato de que ao narrar o ocorrido tive a solidariedade de minha mãe, que foi a escola, e com todo o respeito aos profissionais envolvidos com a minha educação escolar expos que as coisas lá em casa não eram bem assim. Em outras palavras: eu não era nenhum santo, mas também não era o demônio que estavam pintando. Como já me reconhecia pecador e não eram minha ambição ser canonizado, ficou bom demais. De lambuja a professora se afastou (tudo o que posso dizer é que ela teve problemas de extrema gravidade com outros alunos, e queixa sobre queixa....).
Encerro minha narrativa dizendo que nem todos terão uma experiência religiosa que sirva de apoio ás suas vidas, mas todos podemos ter a solidariedade de alguém. Todos sim, podemos ser solidários á alguém. Me consolo hoje, e lido com o fato de que minhas  feridas podem ser cura para outra pessoa. Como? O autor de Hebreus afirma que todo o sacerdote é alguém tirado dentre o povo, e ao mesmo tempo é rodeado de fraqueza, a fim de que possa se compadecer de outros. Ao longo da vida tenho usado a minha experiência para apoiar pessoas que passam pelas mais diversas dificuldades. Ao mesmo tempo em que curo, sou curado.
Me despeço com um abraço solidário aos que sofreram e ainda sofrem bullying e preconceito. Com os rogos de que de alguma forma esta narrativa possa ajuda-los. Aconselho a confiança nos pais e verdadeiros amigos, eles são sempre uma força em momentos como este. E para a continuidade do processo de cura, o auxílio ás pessoas que passam por este tipo de problema.
 
Abraços, Marcelo Medeiros.

sábado, 16 de novembro de 2013

ADPB 95 anos


Esta semana a Assembleia de Deus na Paraíba faz noventa e cinco anos. Quem lê periodicamente este blog sabe que não sou nada idealista com relação à Igreja enquanto instituição; aqui, aqui, e aqui. Mas sabem também que já esbocei neste aqui espaço minha experiência com o pentecostalismo e como este vital na minha formação como cristão. Dito isto, confesso que a despeito dos problemas que a denominação enfrenta em âmbito geral, recebi com muita satisfação a noticia de que aproximadamente cento e trinta e quatro crianças receberam o revestimento de poder. É o sinal claro de que apesar das mazelas apontadas por Freston e que o leitor pode ver resumidamente aqui, esta ainda é um espaço no qual se vê o vento do Espírito soprar com plena liberdade.
É com imenso carinho que me recordo da minha infância e adolescência, quando recebi o revestimento de poder, e fui batizado por um paraibano por nome de João José do Nascimento e tive em alguns destes homens o referencial de vida cristã e de ministério que hoje pouco se vê. Tenho um carinho por estes irmãos que nunca vi, falo dos paraibanos, é claro, e me despeço com os rogos de que Deus abençoe a amada Igreja.
 
Em Cristo Jesus, Pr Marcelo Medeiros.

A gente não tem cara de panaca?

A notícia de prisão dos Josés, tanto o Genuíno quanto o Dirceu, me fez lembrar o sucesso É, interpretado na voz de Gonzaguinha aqui. Isto, porque depois de todo o estardalhaço em torno do julgamento do mensalão, da aura de messianismo em torno do protagonista do mesmo, dos recursos infringentes com a possibilidade de novos julgamentos e adiamentos da pena, etc... . Agora vem a notícia da prisão dos mensaleiros, e você pode conferir no Blog Belverede.
Ao ler a forma da prisão fiquei com a franca impressão de a despeito de não termos cara de panaca, fomos feitos de panacas sim. A descrição que vi no blog acima, nos jornais indica isto sim. Não somos um país cuja marca é a criação e aplicação de mecanismos de controle e combate à corrupção na administração pública e para piorar ainda mais, não possuímos penas rigorosas contra tais crimes. O próprio presidente do supremo parece reconhecer isto aqui.
Meu julgamento é que a prisão, se é que possamos chamar assim, veio exclusivamente com o fim de dar uma satisfação a uma massa incrédula para com a justiça em nosso país, afinal, estamos às vésperas de novo ano eleitoral e em um dia simbólico, visto ser o dia em que se comemora a proclamação da republica.
Todavia o retrato de nossa nação ainda pode ser visto nas palavras do profeta Isaías para quem: Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo (Is 1. 6). Isto porque em nosso país cada vez mais o mal é chamado de bem, e este de mal (Is 5. 20), e leis injustas são decretadas com o único e exclusivo fim de desviar dos pobres o seu direito (Is 10. 1, 2). Enquanto não orarmos por uma intervenção divina ficaremos com cara de panaca.
 
Marcelo Medeiros

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Igreja sem religião?


Há algum tempo atrás publiquei neste blog um texto mostrando que a religião não mais pode ser considerada o ópio do povo, e que este lugar foi ocupado pela mídia leia aqui. Desde então tenho preparado um artigo, cujo título sugestivo seria somos todos viciados em ópio. Minha intenção seria mostrar que somos irremediavelmente religiosos e como disse Chesterton, quando tiramos Deus colocamos no seu lugar historia, economia, revolução, alguma coisa. Mas para a minha surpresa, me deparei com esta foto no facebook, anunciando uma Igreja sem Deus.
De acordo com este site todo o formato das reuniões é eclesiástico e religioso, incluindo a caixinha de ofertas, mas não há menções a Deus, e também não existe uma filosofia ateísta. Sim, eles rejeitam a pecha de ateus, ou humanistas, mas se identificam com os britânicos que não possuem religião. O mais interessante é que se trata de um movimento sem religião, mas que gera expectativas religiosas.
Mas este site já afirma que se trata sim de uma igreja para ateus, visto ser um público que precisa sim se reunir e que precisa se apropriar de estratégias já empregadas por cristãos. O motivo da celebração seria o milagre da vida, em lugar de um deus, o que ao meu ver nos leva de volta ao que Chesterton falou, e Pondé repetidas vezes nos lembrou. Mas deixando Pascal e Chesterton falaram quero me voltar para a matéria de acordo com este site.
Ao ver e ouvir o vídeo, percebo que as pessoas esperam que as assembleias despertem a bondade das pessoas, outra afirma querer ver um pouco de amor e também cantar. Não posso imaginar algo mais religioso do que isto, sendo que não há um objeto definido para a adoração. Existe um blog que traz uma perspectiva bem interessante a respeito do tema. Para este autor, estamos presenciando a união entre religiosidade e ateísmo e tal vem se dando em razão de que a dimensão religiosa está entranhada no ser humano.
Na perspectiva de Caio Fábio (veja aqui), estas pessoas estão dizendo com os seus gestos que estão saturadas dos deuses das denominações e instituições, cristãs, evangélicas, pentecostais. A análise de Caio é ao meu ver a que mais se aproxima do que Pascal e Lewis afirmam. Meu único problema é ver nesta busca algo imbuído da verdade, mas Caio acerta sim ao afirmar que este ateísmo (ao meu ver mais um anticlericalismo) não mata a sede que as pessoas possuem do transcendental.
Me despeço aqui com a promessa de voltar a este assunto e elaborar o post que prometi, mas desde já antecipando que na época em que fui assinante da revista Galileu, sucessivas vezes vi Marcelo Gleiser falar em seus artigos e entrevistas de uma espiritualidade cósmica, assunto que não é novo na boca dos cientistas, visto que Einstein mesmo fala desta forma de espiritualidade e que conforme falamos aqui ele a identificava com a mesma religiosidade dos salmistas bem como de personagens como Francisco de Assis.

Pr Marcelo Medeiros

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Você acredita em uma asneira desta?

 
 
Li um artigo em um site, onde se afirma que a Bíblia reduz a auto estima humana aqui. É aí me lembrei automaticamente de Pondé, para quem o pensamento politicamente correto é engessado pela ideia de que o homem é um ser isento aqui. A brilhante autora sem fazer citação alguma coloca no seu honestíssimo post algumas perolas do tipo: A Bíblia desenha você como o pior e mais abjeta pessoa do mundo, e faz isto para que você sinta culpa e se dobre a um deus mesquinho e egoísta, que lida com os seus na base da logica do castigo e da recompensa. Discurso velho, conhecido desde Freud, sendo que este, ao que parece foi original.
É verdade que a descrição bíblica do homem oscila entre o pessimismo ao descrever o mesmo alguém que é mau desde a sua infância (Gn 6. 5; 8. 21 aqui e aqui), e o otimismo ao colocar o mesmo como imagem de Deus e portanto digno de preservação da vida e respeito do seu semelhante (Gn 1. 26, 27; 9. 5, 6), fato ignorado pela autora. Sim, a autora acerta em cheio quando afirma que mesmo as mais proeminentes figuras da Bíblia são mostradas em seu aspecto mais vil, mas erra ao omitir a forma com a qual Deus as considerou, ou deu testemunho das mesmas. Exemplos?
 
  1. Abraão foi chamado amigo de Deus, a despeito de ter mentido (Is 41. 8).
  2. Davi foi chamado de homem segundo o coração de Deus (At 13. 22), o auto retrato de Davi nos Salmos 18, e 27 não lembram um homem depressivo. E mesmo quando este peca, ele sabe que será aceito por Deus (Sl 130. 4).
  3. Salomão mesmo antes de nascer foi tido por Deus como filho (II Sm 7. 12 - 14).
  4. Moisés, a despeito do seu reconhecido gênio e temperamento, foi chamado de servo fiel em toda a casa, alguém com quem, Deus falava face à face (Nm 12. 7, 8). Dizem que Deus não deixou que ele entrasse na terra prometida, mas três homens viram ele ao lado de Cristo no monte da Transfiguração (Mt 17. 1 - 9). Teria o Filho do agrado do Pai negociado com Iahweh a entrada de Moisés pelas portas dos fundos?
  5. De Maria Madalena nada é dito, exceto que ela era uma mulher de Magdala que era possuída por sete demônios e que, de acordo com o relato de Lucas foi colaboradora de ministério de Jesus.
E paro por aqui visto que não estou escrevendo um texto apologético, mas provocativo. Não falo aqui como quem, por exemplo, tenta provar a existência de Deus, e a inerrância da Bíblia. Mas como quem faz uma provocação, á altura da autora do post. E uma provocação que entendo ser interessante é ver a Bíblia como pioneira na descrição da ambivalência humana. Pascal afirma que um dos pontos que fez com que ele visse na religião cristã algo verdadeiro, era o fato de ser a única que destacava, ao mesmo tempo a miséria e a dignidade humana. Ao que saiba é isto que as passagens acima dão a entender.
Creio que a autora quase percebeu o cerne da questão quando indagou aos cristãos e aos que tentam serem pessoas boas, se estas se viam pelo prisma que a Bíblia desenha da humanidade. Aqui quase que escapa que tentamos ser bons. Eu diria que se fossemos bons, não tentaríamos. Tal como os animais simplesmente agiríamos desta ou daquela forma. Mas nosso senso de inadequação aparece quando mesmo reagido bem a uma determinada situação sentimos que não deveríamos ter agido tão resignadamente, ou tão asperamente.
De igual modo creio que o humanismo elaborou uma doutrina muito positiva a respeito do homem. esta se consolidou na visão romântica de Rousseau, na qual o homem é bom e a sociedade o corrompe, mas quem corrompe a sociedade que irá corromper os homens bons que nascem nela? Mas não podemos cair no extremo oposto, Hobbes, para quem o homem é o lobo do homem. Fico sim, com Pascal, e com a bíblia, visto que para ambos, o homem é simplesmente um ser contraditório, quimérico, e ambivalente.
 
Marcelo Medeiros.
 

Sede meus imitadores (I Co 11. 1).


Dou graças a Deus pelas constantes tentativas de renovação que a igreja vem fazendo. Ainda que falhas elas retratam a inconformidade com o que está e a necessidade de renovação constante. Mas renovação sem critérios bíblicos definidos é inovação, modismo, daí a necessidade de constante avaliação das práticas à luz da palavra de Deus (veja aqui).

Recentemente visualizei em pagina do facebook que curto, o cartaz acima (veja aqui), com os dizeres, o que me deixou pensativo, afinal, o propósito do discipulado é produzir Cristo nas pessoas, ou a pessoa do discipulador? Ao fazer esta indagação não faltaram pessoas a afirmar que Paulo, incentivou as pessoas a imitarem ele. Ao que prontamente respondi que Paulo tinha a clara convicção de que o alvo supremo do crente era ser conformado à semelhança de Cristo, em outras palavras, fomos gerados de novo a fim de sermos como ele é (Rm 8. 29; Ef 4. 13; Fp 3. 20, 21; Cl 1. 28; I Jo 3. 2). Daí a minha proposta de analisar em breves linhas o texto e o contexto em que Paulo fez tais afirmações.  

Na carta aos Coríntios temos dois apelos paulinos a imitação do exemplo dele, vejamos: Portanto, suplico-lhes que sejam meus imitadores (I Co 4. 16 NVI), e: Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo (I Co 11. 1 NVI). A consideração que precisamos fazer a respeito destes dois textos é que no primeiro caso temos de considerar o caráter apologético deste documento. A Igreja de Corinto, que fora fundada por Paulo se achava dividida pelo personalismo eclesiástico. A fim de combater este câncer, Paulo apela para o fato de que tanto ele quanto Apolo eram meros instrumentos de Deus para a sua obra, e que a despeito do trabalho que um e outro exercessem o crescimento vinha de Deus (I Co 3. 6 - 8). Os homens deveriam de serem considerados como ministros, palavra cujo significado é o de servo, do grego υπηρετας (huperetas), ou de administradores (οικονομους [oikonomois]) dos mistérios de Deus (I Co 4. 1). Não bastasse isto, os opositores do apostolado de Paulo não passavam de meros preceptores, ao passo que Paulo os havia gerado em Cristo, daí a sua autoridade em exigir que fossem seus imitadores.

Neste caso em particular o ser imitador de Paulo equivale ao abandono da mentalidade carnal, que se apega ao personalismo para a adesão de uma visão mais espiritual a respeito da graça de Deus atuando nos que promovem o Reino de Deus aqui na terra. Mas e o segundo texto, como ele fica na questão de imitar Paulo?

O texto no qual Paulo pede que sejam seus imitadores, como ele de Cristo, é a continuação de um texto no qual se aborda a questão da liberdade cristã. Paulo, por exemplo, era livre para abrir de mão dos seus direitos apostólicos, a fim de que os mesmos não constituíssem empecilho para o progresso do Evangelho de Cristo (veja aqui), da mesma forma, ele também condicionava a sua liberdade ao progresso do Evangelho, a fim de viver uma vida que não produzisse escândalo nem aos gregos, nem aos judeus, e muito menos à Igreja de Deus (I Co 10. 24 - 33). É estritamente neste sentido que o apostolo pede aos crentes que sigam seu exemplo. E a expressão como eu de Cristo?

Para o apóstolo, Cristo não buscou agradar a si mesmo, antes buscou o interesse e o bem coletivo (Rm 14 - 15), assim, Paulo se vê como alguém que imita a Cristo. Cristo não buscou a sua própria glória, tanto que ele não teve em suas prerrogativas divinas, algo a que se apegar ciosamente (veja aqui). E Paulo tomou para si o exemplo de Cristo, e isto de uma forma radical (Veja aqui).

Sei que estou em terreno perigoso, mas o último texto poderia ser traduzido da seguinte forma: procurem me imitar em minha obsessão de imitar a Cristo. Sim, porque a menos que tivéssemos a autoridade que Paulo teve, bem como a disposição de sofrer que ele teve aí sim, poderíamos ser seus imitadores.

Um último erro precisa de ser evitado com relação a esse assunto, e para tal, é preciso pedir a Deus que nos livre de pensar que possuímos a mesma autoridade que Paulo tinha. Tal como os demais apóstolos ele se considerava depositário fiel das palavras de Cristo. Ele alega ter recebido o Evangelho diretamente de Deus e não ter consultado a carne. A pergunta que fica aqui é: quem de nós pode falar desta maneira?

Por outro lado à semelhança de Paulo, precisamos ser um exemplo vivo do Evangelho, uma carta escrita com o dedo de Deus para que as pessoas possam ler, e ver o que Deus escreveu e continua a escrever em nossas vidas. Mas ainda que o sejamos temos de considerar que ao contrário dos apóstolos não recebemos o evangelho diretamente de Deus, mas receemos uma leitura cultural e histórica do mesmo que depende da apuração do Espirito de Deus e de uma profunda sinceridade de nossa parte para que o Evangelho seja vivido na íntegra.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Lição da EBD n° 7: Contrapondo a arrogancia com a humildade


Humildade e arrogância são palavras muito desgastadas pelo vocabulário popular. Justamente por este motivo o estudo que contraste as duas é de extrema importância. Um fator complicador é que o dicionário pouco ajuda. O Aurélio on line, por exemplo define a humildade como: Rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito. Modéstia, pobreza, quando a na verdade nenhuma destas definições é realmente satisfatória. Quando recorremos ao Michaelis, observamos a mesma falha conceitual, sendo que este acrescenta o seguinte às definições do Aurélio: Demonstração de respeito, de submissão. Inferioridade. visando colaborar, acrescentar, sem, contudo esgotar, proponho neste post, fazer uma breve consideração da temática à luz da Filosofia, da Exegese, e da Bíblia.

I) Humildade e Arrogância na Filosofia

 A humildade é um tema de suma importância dentro da Filosofia. Mas gostaria de informar ao leitor, que minha opção por fazer um paralelismo entre a Sabedoria bíblica e a filosofia, se dá em razão de acreditar que Filosofia e Teologia possuem uma busca comum, a despeito da abordagem metodológica que venham apresentar, das conexões e contradições no resultado final. Mas a busca é comum, e uma se alimenta dos resultados da outra para elaborar novas questões.
A sabedoria judaica, cada vez menos popular entre cristãos, foi, ao lado da Filosofia uma grande indagadora a respeito de temas antropológicos, existenciais, cosmológicos, ontológicos (a respeito do ser), e metafísicos (a respeito da realidade última das coisas). Tanto em Salomão quanto em Platão podemos ver proposta a respeito de como se viver a vida da melhor forma possível. Assim, não podemos nos furtar de todo ao que os filósofos tem a nos dizer, e mais ainda não podemos deixar de comparar as verdades colocadas por eles com o que a Bíblia já nos diz, mas não lemos, e se lemos, não entendemos como convém.
Para fazer esta abordagem gostaria de lançar mãos da filosofia de Mario Sergio Cortella, visto ser este um filósofo cuja abordagem dos temas é bastante acessível, dada simplicidade com que ele fala e escreve. Uma das abordagens que ele faz é a cósmica, ou seja consiste justamente em um apelo à simplicidade face à nossa pequenez diante do cosmos. Este apelo aparece em um artigo intitulado: E tem gente que se acha, publicado em um livro do mesmo autor, que tem por título: Qual é a tua obra? Veja como ele explica:
Nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela anã, o Sol. Em volta desta estrelinhas giram algumas massas planetárias sem luz própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica classificação em debate). A terceira delas, a partir do Sol é a terra. O que é a terra?
A terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõe uma Galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis, e que vai desaparecer. Veja como nós somos importantes.
 Para o filósofo em apreço tanto eu quanto você, caro leitor somos,
um entre 6, 4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desaparecer. É por isto que na vida todas as vezes que alguém me pergunta: "você sabe com quem está falando?" eu respondo: "você tem tempo?"
A humildade aqui consiste na clara consciência de nossa pequenez diante do cosmos e mais da fragilidade de nossa vida. Sou tentando a fazer conciliação entre a Filosofia de Cortella e a Bíblia visto que tal ideia tem sim o devido eco na voz dos profetas bíblicos. Se você leu até aqui e achou exagerado o que o filósofo diz, veja o que diz Isaias: Para ele as nações não passam de uma gota que cai do balde, são reputadas como o pó depositado nos pratos da balança. As ilhas pesam tanto como o grão de areia! (Is 40. 15  Bíblia de Jerusalém).
O autor de Sabedoria afirma: o mundo inteiro está diante de ti como esse nada na balança, e como gota do orvalho que de manhã cai sobre a terra (Sab 11. 22 Bíblia de Jerusalém). Voltando para Isaías é de suma importância que atentemos para o detalhe exegético de que o texto em que se vê a afirmação de que as nações nada são diante de Deus é o mesmo em que se afirma a nulidade de toda a glória humana (Is 40. 1 - 8).
No mesmo livro em que vemos uma abordagem cosmológica a respeito da necessidade de agir com humildade com relação aos outros, lemos também uma abordagem antropológica que, na verdade é uma interpretação do relato da criação do homem pelo viés bíblico.
De onde vem a palavra "humildade"? de húmus, que é terra fértil, e na origem significa "o solo sob nós". Em outras palavras, húmus é o nível em que nós estamos. A palavra humildade é a mesma da origem húmus, da qual deriva o termo humano [...] Do pó viemos e ao pó tornaremos, isto significa que estamos todos no mesmo nível. Humildade, humano, húmus - estamos no mesmo nível em relação á nossa dignidade.
Aqui o discurso filosófico se apropria do texto bíblico de forma acertada e mais do que apropriada para elaborar a ideia de homem algum tem o direto de se elevar acima de outro homem, visto que todos somos pó, aliás ideia bem presente nas palavras do profeta e do sábio judeu supra. Apenas acrescentaria que estamos no mesmo nível em miséria também. Se o universo em sua imensidão é visto por Deus como a gota que sobrou em um balde, como Deus vê a humanidade como um todo, e o homem que se acha alguma coisa?
Esta contribuição é de suma validade visto que esta consciência tem faltado em nossos arraiais. Um hino de João Alexandre cujo título é Tudo é Vaidade, mostra a nossa tendência de nos gloriarmos em coisas vãs e acharmos que somos mais do que alguém, seja em razão de nossa condição social, de nossa erudição, de nossa formação social, intelectual e eclesiástica. Às vezes a percepção distorcida do que seja o exercício ministerial agrava ainda mais a situação. Feitas as considerações passemos para humildade e a arrogância na exegese bíblica.

II) Humildade e Arrogância na exegese bíblica

A humildade bíblica não se esgota na consciência de nossa insignificância face ao Universo, nem na noção intelectual de que temos o mesmo nível de dignidade e miséria. Embora a atitude intelectual acima descrita seja importante para uma reflexão de práticas muitas das vezes ocultas e não identificadas como arrogantes, ainda assim a reflexão não se esgota. Mas por que recorrer à exegese a fim de abordar um assunto tão obvio como este? O grande problema do obvio é que nem sempre este é visto em sua inteireza. Mas a fim de me expressar corretamente sobre esta questão gostaria de me apropriar das palavras de Martyn Lloyd Jones, para quem:
a mansidão não equivale à indolência. Há pessoas que parecem ser mansas no sentido natural, mas não são mansas de forma nenhuma, e sim, indolentes. Não é de uma característica desta ordem que as Escrituras estão falando. Também não está em foco a tibieza - embora eu use este vocábulo com cautela. Há indivíduos que são complacentes de as pessoas tendem a observar quão mansas elas parecem ser. Todavia, isto não é mansidão, é tibieza. Por igual modo, não está em pauta a gentileza. Há pessoas que parecem ter nascido naturalmente gentis. [...] nestes caso ocorre algo de natureza puramente biológica; o mesmo tipo de fenômeno que pode ocorrer nos animais. Um cão pode ser mais pacifico do que o outro, um gato pode ser mais quieto do que o outro [...]
O que temos em vista é que o leitor reflita e, se possível deixe de lado a falsa ideia de que a humildade possa ser confundida com subserviência. Nada mais falso se observarmos que as pessoas que a Bíblia apresenta como humildes são na verdade de pessoas de personalidade e gênio forte, por exemplo, Moises e Jesus.
Uma expressão frequentemente empregada para descrever Moisés é עֲנָוִ֗ ('anaw), cujo sentido pode ser o de humildade, ou de mansidão como no caso de Moisés (Nm 12. 3).  עֲנָוִ֗ ('anaw) é a raiz do termo hebraico עֲנִיֶּ֛ ('ani), cujo sentido é do pobreza (Dt 15. 11). O pobre em Israel era aquele que não possuindo terra para trabalhar vivia em total estado de indigência, podendo vir a mendigar. Fato é que o pobre do contexto bíblico é bem diferente do pobre do contexto social atual.
Chamamos de pobre quem não possui bens, posses, ou pelos parcos recursos não pode prover sua subsistência. Mas o pobre da Bíblia é literalmente o indigente. Um termo grego que se alinha com este é πτωχοι (ptoochói).  Ele igualmente indica os que não podem se sustentar e dependem de ajuda alheia.
Retornando ao hebraico, o termo  עֲנָוִ֗ ('anaw) representa o aflito, aquele que dada à sua impotência depende exclusivamente de Deus, e que esperam nele. Veja este Salmo onde Davi se dirige a Deus dizendo: Tu ouves o desejo dos pobres, fortaleces o seu coração e lhes das ouvidos (Sl 10. 17 Bíblia de Jerusalém).
Outro termo de grande importância é עֲשֹׂ֤ות (tsnaw), cuja única ocorrência se dá em Miqueias no oraculo em que este condena os muitos sacrifícios do povo quando na verdade o que Deus deseja é expresso na fala: Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus? (Mq 6. 8 ARCF).
A humildade no sentido de baixa condição se expressa no hebraico por meio de um termo que raramente se emprega para pobreza espiritual. דַּלִּ֣ (dal) é empregado para designar pessoas sem nenhum poder, ou recurso material, e que por este mesmo motivo estão sob constante perigo de se verem espoliadas pelos que tem o poder de fazem leis, por exemplo (Is 10. 2).
Uma última palavra hebraica a ser vista aqui é וּשְׁפַל (shapal), e tem o sentido de abatimento (Pv 29. 23; Is 57. 15). Este mesmo traz consigo a verdade de que somente Deus é poderoso para exaltar e para abater. No grego o termo ταπεινωση (tapeinoosei) e seus variados indicam a pessoa humilde, ou que com frequência se humilha diante de Deus (Mt 18. 4; 23. 12).
Já a atitude arrogante pode ser descrita por meio de termos como זָ֭דֹו (zed), que por sua vez denota uma independência em relação a Deus (Pv 11. 2; 13. 10). Existe ainda uma palavra, cuja equivalência com o grego αλαζον (alazon) - fanfarrão - é digna de nota (Pv 21. 24; Hc 2. 5). É o termo יָ֭הִיר (yahir). Feito o breve trabalho de exegese, passemos então à perspectiva bíblica sobre o assunto.
 
III) Humildade e Arrogância na Bíblia
 
Deus tem um tratamento diferenciado para com os humildes e com os soberbos. Certamente ele escarnecerá dos escarnecedores, mas dará graça aos mansos (Pv 3. 34 ARCF). Para Tiago se quisermos vencer nossa concupiscência, que nos afasta de Deus, basta que nos sujeitemos ao Pai. Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: "Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes" (Tg 4. 6 ARCF). Pedro também faz uso do texto de provérbios para mostrar a necessidade que temos de estar sujeitos uns aos outros. Da mesma forma jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque "Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes" (I Pe 5. 5 ARCF).
Assim, aprendemos que a humildade é uma atitude do homem para consigo mesmo. Em outras palavras o homem verdadeiramente humilde não se auto promove. Muitos se dizem homens fieis, mas quem encontrará um homem leal? (Pv 20. 6 Bíblia de Jerusalém). Seja outro que te louve não a tua boca, um estranho, não os teus lábios (Pv 27. 2 Bíblia de Jerusalém). Não queremos aqui dizer que o homem humilde viva para se anular, não! O homem humilde tem noção do seu valor, mas não vive para provar o seu valor aos demais.
A humildade também é uma atitude do homem para com os outros, afinal o sábio Salomão afirma: Melhor é ser humilde [וּשְׁפַל (shapal)] com o pobres [עֲנִיֶּ֛ ('ani)] do que repartir o despojo com os soberbos (Pv 16. 19 Bíblia de Jerusalém). Por saber que é pó, e que é solidário em pecaminosidade, bem como em carência de misericórdia da parte de Deus, o humilde não se eleva acima de ninguém.       
Mas a humildade também é uma atitude do homem para com Deus, que faz com que os mesmos se coloquem sob a potente mão do Eterno, com vistas que o Senhor mesmo os exalte em seu devido tempo. O homem que teme a Deus é galardoado com a sabedoria, afinal, onde entra a insolência entra o desprezo, mas com os humildes está a sabedoria (Pv 11. 2 Bíblia de Jerusalém). A insolência só causa discórdia; a sabedoria está com quem se deixa aconselhar (Pv 13. 10 Bíblia de Jerusalém).
Considerando que Deus zomba dos zombadores insolentes, mas aos pobres concede o seu favor (Pv 3. 34 Bíblia de Jerusalém), ele dispensa a sua sabedoria aos humildes.
A verdadeira humildade é indissociável do temor do Senhor. O temor do Senhor, diz a Bíblia: é o ódio ao mal, detesto o orgulho, a soberba e a boca falsa (Pv 8. 13 Bíblia de Jerusalém). Ele também é o princípio da sabedoria (Pv 1. 7; 9. 10). Face ás colocações a conclusão lógica é a de que o temor de Iahweh é disciplina de sabedoria, antes da honra está a humilhação (Pv 15. 33 Bíblia de Jerusalém). A palavra para honra aqui é כָבֹ֣וד (kabod). Ela expressa um reconhecimento que cabe exclusivamente á Deus, mas que ele divide com os humildes.
Encerramos afirmando que o orgulho é a essência do pecado, não é sem razão que Salomão afirma: olhar altivo, coração orgulhoso, a lâmpada dos ímpios são pecado (Pv 21. 4 Bíblia de Jerusalém). Logo, ninguém se faz humilde sem que o Espirito de Deus e de Cristo habitem nele. Do contrário, o máximo que conseguiremos é exibir uma afetação carnal, que será vista aos olhos de todos como humildade, mas que na verdade nada mais é do que uma faceta do nosso orgulho. Me despeço rogando a Deus como disse o salmista: Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos. Também da soberba guarda o teu servo, para que se não assenhoreie de mim. Então serei sincero, e ficarei limpo de grande transgressão (Sl 19. 12, 13 ARC).

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros
 
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