tag:blogger.com,1999:blog-74964869500726790592024-02-06T23:55:19.085-03:00Paidéia - Blog do Medeirospaideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.comBlogger576125tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-82556096133800308962021-07-07T15:30:00.002-03:002021-07-07T15:30:27.657-03:00A campanha do burguer king e a militância evangélica<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ4KhI1SfGRIWSSe4QlTp_p2iEqGpSAx6_xrgSccQIVs0BgzUFNXIOBV-oKYbzqNEkZ7FXckmHzg9VvzT7RX9x66Nkcpaw3ZyO22tQtOBE5rRuQ6AO8F-R7cXTW9Mbo9qmZdJReaDzzlE/s300/burguer+king+e+mais+quixotismo+evang%25C3%25A9lico.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ4KhI1SfGRIWSSe4QlTp_p2iEqGpSAx6_xrgSccQIVs0BgzUFNXIOBV-oKYbzqNEkZ7FXckmHzg9VvzT7RX9x66Nkcpaw3ZyO22tQtOBE5rRuQ6AO8F-R7cXTW9Mbo9qmZdJReaDzzlE/s0/burguer+king+e+mais+quixotismo+evang%25C3%25A9lico.jpeg" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: justify;">Está ficando cada vez mais difícil ser evangélico neste país. Existe liberdade religiosa na letra da lei? Sim. Existe liberdade individual? Óbvio! Onde então estará a dificuldade. Em tese o problema não é o Estado, mas a percepção falha que nós (e nisto me incluo) evangélicos temos do Evangelho, ao ponto de enxergarmos ameaça em todo movimento social. </p><p style="text-align: justify;">Desde o final da década de oitenta e início da de noventa tem ocorrido neste país a politização do Evangelho. Não que eu ignore que a religião é um fenômeno da <i>pólis</i> (cidade em grego), e que a mesma foi um dos primeiros modos de explicação da vida e que seja uma tendência que se recorra à esta toda vez que nos encontramos diante de fenômenos para os quais não possuímos explicações. </p><p style="text-align: justify;">A questão é que ao falarmos da politização do Evangelho, há que se considerar um fator primordial, o de que tentar enquadrar o mesmo em uma política partidária equivale ao colocar vinho novo em odre velho, ou remendo novo em tecido velho. Em ambos os casos as estruturas se rompem e o conteúdo que deveria de ser preservado se perde. </p><p style="text-align: justify;">Jesus usou esta parábola ou similitude para ensinar algo a respeito do Evangelho. E a lição que fica é de que o Evangelho não cabia na política dos fariseus, nem na dos zelotes, nem na dos essênios, nem na dos herodianos. Não dá para dizer que Jesus era conservador, ou progressista, e não há como adequar o Evangelho às estruturas de esquerda, ou de direita, à política econômica capitalista, ou socialista, sem que com isto se mutile as boas novas. </p><p style="text-align: justify;">Além da politização do Evangelho, ocorreu a moralização do mesmo. Morais históricas foram sendo incorporadas ao mesmo, ao ponto de serem confundidos. Qualquer questionamento moral é lido como um ataque ao Evangelho, este é o caso da polêmica envolvendo a campanha do Burguer King contra a homofobia. </p><p style="text-align: justify;">Pessoalmente me manifestei aqui a respeito do assunto. Entendo o mundo a partir de uma cosmovisão cristã, bíblica e evangélica. Mas entendo que vivo em uma sociedade que não necessariamente pensa da mesma forma que eu. Mais do que isto, entendo que não é a minha obrigação forçar as pessoas a pensarem como eu, seja pelo aparato político, seja pelo ideológico. </p><p style="text-align: justify;">Minha obrigação como cidadão é respeitar as leis, mesmo que aparentemente injustas, e lutar por mais direitos para mim e para demais cidadãos. Como cristão minha obrigação é a de ser um imitador de Cristo (o que nem de longe significa adotar uma postura suicida ao ponto de provocar a própria morte até porque nem de longe foi isto que Jesus fez). </p><p style="text-align: justify;">É como imitador de Cristo que atuo como evangelista e pregador. Abordo este assunto agora por conta da constatação de que Jesus jamais atuou em ambientes plenamente favoráveis a ele. Mais do que isto a leitura do Evangelho aponta para um Jesus que sabia criar conexão com os grupos diversos. Fariseus, samaritanos, soldados estrangeiros e a lista não para. </p><p style="text-align: justify;">Mesmo não se definindo como zelote, fariseu, herodiano, Jesus lidou com todos estes grupos. E o ponto que permite Jesus e cada cristão e evangélico lidar é o ponto da encarnação. Fato é que Jesus soube lidar com as mazelas dos movimentos de sua época por conta de ser luz. Na mesma medida a Igreja é chamada a ser luz e sal da terra. </p><p style="text-align: justify;">O que quero colocar aqui é pontuar que não cabe ao cristão boicotar o Burguer King por conta da campanha pró LGBTQI+. A missão é ser sal e luz. Em outras palavras influenciar por meio das obras e da clareza (que é indicador de conhecimento). Ensinar e pregar são a missão da Igreja, e é pela pregação associada ao comportamento e ao caráter que esta exerce sua influência. </p><p style="text-align: justify;">Não é o comercial do Burguer King que coloca as crianças em perigo. É a falta de ensino e instrução. No Antigo Testamento era tarefa dos pais ensinar aos filhos. Com a ascensão do judaísmo os mestres das sinagogas assumem tais funções, mas há elementos de que a educação continua no lar. Mas tem de ter educação para que as pessoas sejam iluminadas. </p><p style="text-align: justify;">O desafio aqui não é criar crianças fundamentalistas, extremistas, mas sim uma geração de cristãos que consiga viver com a negação, com o outro, e capaz de enfrentar um ambiente hostil amando que está promovendo a hostilidade. É disto que se fala no contexto do Ensino do monte quando se fala de "amar aos inimigos". </p><p style="text-align: justify;">Mais do que isto, amar quem se opõe a nós é a condição para a concretização da filiação divina (Mt 5. 42 - 48). A lógica é bem simples, Deus não olha para ninguém ao mandar a chuva e o sol. Ele dispensa ambos para bons e maus e para justos e injustos. Agora que tal contextualizarmos este texto para o momento atual? Como ele ficaria?</p><p style="text-align: justify;">Deus tem um padrão de comportamento, e ele exige, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, de seu povo um padrão similar. Contudo, no tocante aos bens temporais, ele dispensa sol e chuva independente de o indivíduo atender, ou não as exigências. De igual modo o povo que se diz "cristão", ou "evangélico" deveria entender que mesmo não concordando com o modo de vida dos LGBTQI+, deve atender as reivindicações e demandas justas desta população. </p><p style="text-align: justify;">Isto significa aplicar aos gays, lésbicas, bissexuais, trans e cisgêneros a versão evangélica do imperativo categórico que na versão transformadora é traduzido assim: <i>em todas as coisas, façam aos outros o que vocês desejam, que lhes façam</i>, e acrescenta: <i>essa é a essência de tudo que ensinam a lei e os profetas</i> (Mt 7. 12 NVT). Em outras palavras: <i>Façam aos outros o que vocês desejam que eles lhes façam</i> (Lc 6. 31 NVT). </p><p style="text-align: justify;">Amor não tem a ver com o sentimento que a pessoa desperta em nós. Amor tem a ver com aquilo que fazemos uns aos outros. Que tal amar, ao invés de promover campanhas de boicote? Que dar a capa e a túnica? Já andamos duas milhas? É isto que tem de ser visto antes de tudo, porque esta é a essência do Evangelho. </p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-5431465170876112742021-07-05T10:05:00.001-03:002021-07-05T10:05:30.936-03:00Pare pra pensar, pense um pouco mais<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEyIz5hrG8pLfFqWAZor15MTc_dwulknm8CUYPtBtMnm8K-n1J0DrFAu9_JWu5ksyPd4Xgw65PkpSng4rKw_uSRadKOaxzVJ7Uq8pZ7T_qnILPAZ84dTUtsiFMsLbaRfJSDYIr2xOctdI/s963/bozo+investigado.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="699" data-original-width="963" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEyIz5hrG8pLfFqWAZor15MTc_dwulknm8CUYPtBtMnm8K-n1J0DrFAu9_JWu5ksyPd4Xgw65PkpSng4rKw_uSRadKOaxzVJ7Uq8pZ7T_qnILPAZ84dTUtsiFMsLbaRfJSDYIr2xOctdI/s320/bozo+investigado.jpeg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p style="text-align: justify;">Enquanto escrevia este artigo, me ocorreu a letra desta música, e então resolvi propor mais uma vez a política como reflexão para nós. Chegamos a um pouco em que se faz necessário arrefecer os ânimos e começar a pensar um pouco mais, para os que querem pensar, óbvio. E em face dos elementos que aparecem a reflexão e o auto exame se fazem imprescindíveis. </p><p style="text-align: justify;">Eu me lembro claramente do quiproquó que deu no Facebook quando compartilhei um texto de Clive Staples Lewis a respeito das altas pretensões de quaisquer formas de governo. Naquele momento tive a interpelação de algumas pessoas. Ficou evidente para mim que desconheciam tanto o regime teocrático, quanto o que a Bíblia dizia do mesmo, e o autor que na ocasião fiz questão de citar. Hoje pretendo me valer da mesma citação, mas com um propósito diferente. </p><blockquote><p><span style="background-color: #fefdfa; color: #191919; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-size: 16px; text-align: justify;">Quanto mais altas as pretensões do poder, mais intrometido, desumano e opressivo ele será. Teocracia é o pior de todos os governos possíveis. Todo poder político é, na melhor das hipóteses, um mal necessário, mas é menos mal quando suas sanções são mais modestas e comuns, quando afirma que não é mais útil e conveniente e coloca para si mesmo objetivos estritamente limitados. Qualquer coisa transcendental ou espiritual, ou mesmo qualquer coisa muito fortemente ética em suas pretensões é perigosa e encoraja-o a se intrometer em nossa vida privada (....). Assim a doutrina renascentista do direito divino é para mim uma corrupção da monarquia (....) os misticismos raciais, da nacionalidade. E a teocracia, eu admito, e até insisto é a pior de todas. (C. S. Lewis, Lírios que apodrecem, in: A Última Noite na Terra, pág. 53). </span></p></blockquote><p style="text-align: justify;">Neste texto Lewis pretende discutir a respeito de algumas pretensões que a democracia trouxe consigo, esta é a base da fala aqui. Mas a crítica corta para o lado passando pela monarquia, pelo fascismo, pelo nazismo, pelo nacionalismo exagerado, chegando na teocracia. Concordo com o autor em número, gênero e grau. Mas qual é a razão pela qual lanço mãos desta citação neste artigo?</p><p style="text-align: justify;">Muito simples, tem a ver com o que a maioria dos meus interlocutores na rede suspeitaram. O atual governo. Em dois mil e dezoito um estranhíssimo movimento político tomou contas das redes sociais, culminando na eleição de Jair Messias Bolsonaro. O movimento reunia questões sociológicas como o antipetismo, econômicas como a crise que começara a afetar o Brasil, elementos emocionais. </p><p style="text-align: justify;">O leitor de Pascal sabe que o coração tem as suas razões que a própria razão desconhece. Embora esta frase não pretenda dizer o que em regra o senso comum pensa da mesma, o fato é que Pascal antecipa a percepção de Freud, para quem o inconsciente é a camada predominante no homem. Aqui o projeto moderno, se que houve algum, de um homem puramente racional se desmorona. </p><p style="text-align: justify;">A lição que fica é a de que nossas emoções nos comandam. O que não ficou claro até agora, é que diante da constatada predominância das emoções, alguns projetos políticos surjam no intento responder a tais questões emocionais. É o que ocorre no momento em que fascismo e nazismo surgem no cenário histórico. </p><p style="text-align: justify;">Em períodos de incerteza política, econômica, tais como a da década de vinte do século passado, tais delírios políticos aparecem. E o que eles tem em comum? A pretensão de identificar as causas e eliminar os problemas. Mas o que ocorre é que "supostos inimigos" são criados. No caso do nazismo, foram os judeus. Mas a questão não para por aqui. </p><p style="text-align: justify;">Retornando às características do movimento que tomou conta do Brasil e que reconduziu a extrema direita ao poder, cabe acrescentar aqui a antipatia dos evangélicos pela esquerda, a infiltração do identitarismo neste espectro político, narrativas em teoria da conspiração, uma escatologia milenarista influenciada pelas teorias da conspiração.</p><p style="text-align: justify;">O lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", conferia o caráter místico racial ao movimento, sem contar as pitadas de nacionalismo. Nunca se precisou tanto de Teólogos e Psicólogos e nunca os mesmos faltaram tanto. Na verdade poderia citar aqui vários deles que foram as redes sociais afirmar que se o atual presidente não tivesse sido eleito, o anticristo (que neste caso é a China) teria dominado o mundo. </p><p style="text-align: justify;">Poderia falar dos que vieram defender a liberação das armas, defender as fakenews como se liberdade de expressão fossem, do silêncio diante mais de quinhentas mil vítimas da covid, da defesa de pautas liberais. A resposta inicial veio do Yago Martins, com seu livro A Religião do Bolsonarismo. Mas pelo que pode ver no PodCast de lançamento, a crítica é rasa, o autor abraça o liberalismo como se fosse a solução da humanidade. Algo que falarei em ocasião mais oportuna. </p><p style="text-align: justify;">Teólogos e cristãos em geral deveriam saber que "acabar com a corrupção", sendo a humanidade propensa à mesma é uma pretensão elevada. Outra é a pretensão de ver em alguém que é casado mais de três vezes um defensor da família tradicional. E quanto a imposição de uma moral (chamada de cristãs) a toda a sociedade? São pretensões que tornam o movimento mais do que religioso, na verdade o fazem "demoníaco". </p><p style="text-align: justify;">Passada a euforia da bebedeira, vem a dor de cabeça da ressaca. O governo que prometia correção moral de toda uma sociedade e proteção da família, e outros discursos a que estamos tão suscetíveis se manifesta profundamente corrupto, parte do sistema que condenou nos discursos, fora as promessas de campanha que não foram cumpridas. </p><p style="text-align: justify;">Um esquema de corrupção na compra de vacinas, seguido da suspeita de prevaricação, desnuda um governo que adotou a imunidade de rebanho como estratégia de combate ao COVID-19 e arrastou muitos "cristãos", postergou a aquisição de vacinas, falhou na testagem em massa, criou falsas narrativas para se eximir de suas responsabilidades, fomentou uma guerra cultural, cujo fim se faz cada vez mais distante. </p><p style="text-align: justify;">Mas não é somente o governo que é desnudado. O eleitor, que suspostamente não atentou para a trajetória de quem se lançou como solução sem o ser está desnudado. O que serviu ao gabinete do ódio espalhando notícias e informações falsas, também. Cristãos que nunca entenderam que um discípulo de Cristo é um seguidor da paz e promotor desta são desnudados. </p><p style="text-align: justify;">Os que perderam de vista que <span style="background-color: #fefdfa; color: #191919; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-size: 16px; text-align: justify;"><b style="font-style: italic;">todo poder político é, na melhor das hipóteses, um mal necessário, mas é menos mal quando suas sanções são mais modestas e comuns, quando afirma que não é mais útil e conveniente e coloca para si mesmo objetivos estritamente limitados</b>, também estão nus. A nudez no sentido de transparência é total.</span></p><p><span style="background-color: #fefdfa; color: #191919; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-size: 16px; text-align: justify;">O problema é que diante da nudez falta a vergonha que sobrou em Adão, e em Pedro. O primeiro se esconde de Deus ao perceber a si mesmo. O segundo se esconde de Jesus. Ambos percebem sua indignidade. Isto falta aos cristãos que confiaram uma tarefa tão elevada e sublime a uma legenda política. </span></p><p><span style="background-color: #fefdfa; color: #191919; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-size: 16px; text-align: justify;">Uma pretensão tão elevada criou pessoas que se intrometiam nas postagens de quem criticava o governo, como se Isaías, Ezequiel, Natã e Amós jamais tivessem criticado aos reis de sua época. Houve um policiamento em relação aos posicionamentos políticos das pessoas, resultando em censuras, como as ocorridas com o autor de livros e revistas de Escolas Bíblicas Dominicais Claiton Ivan Poemmering, que recebeu críticas injustas por conta de seus posicionamentos políticos. </span></p><p><span style="background-color: #fefdfa; text-align: justify;"><span style="color: #191919; font-family: Times New Roman, Times, FreeSerif, serif;">Pastores que outrora me serviram de referência como evangelistas e até como apologistas, que em algum momento de fato pregaram o Evangelho, aparecem defendendo a cloroquina, mas não dão uma única palavra de conforto às mais de quinhentas mil </span></span><span style="color: #191919; font-family: Times New Roman, Times, FreeSerif, serif;">famílias enlutadas. Mais do que isto abraçam as pautas neoliberais sem a mínima consideração para com o rebanho que os mantém. Estes agora estão desnudados e a vergonha da mesquinhez dos mesmos é exposta e revelada a todos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #191919; font-family: Times New Roman, Times, FreeSerif, serif;">Em outro artigo voltarei a falar a respeito dos lírios que apodrecem, de como a democracia (o menos pior dos governos falhou), mas o presente artigo fica aqui como reflexão inicial. Retornando a uma linguagem pascaliana, eu diria que fichas elevadas foram apostadas neste governo, e o prejuízo é visível a Todos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #191919; font-family: Times New Roman, Times, FreeSerif, serif;">A começar pelo número de mortos por conta da ingerência política da sindemia do COVID - 19. Não adianta em nada culpar o STF, a CPI está revelando as procrastinações por parte do governo em responder às ofertas de vacinas. Foi algo do tipo trocar seis por meia dúzia. Mas em todo este processo a fatura de uma Igreja que nem de longe se comporta como sal da terra e luz do mundo ainda não chegou. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #191919; font-family: Times New Roman, Times, FreeSerif, serif;">Está na hora de fazer um exame pessoal, de orar para que Deus sonde os nossos corações, que ele pesquise em nós os caminhos maus e nos guie pelo caminho eterno.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #191919; font-family: Times New Roman, Times, FreeSerif, serif;">Marcelo Medeiros, Pastor evangélico, músico, pedagogo, escritor, especialista em Ciências da Religião e em Docência do Ensino de Teologia e Filosofia. </span></p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-42627818731157189172021-06-11T18:21:00.000-03:002021-06-11T18:21:00.213-03:00O Cristão e a Educação Superior<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim0RnsO0wd-OQC9C5VVPNJD1eh5yPVC1xWpbc6tUOnkEVhcnfZg_Gq0WxENdoQMU1lhxRkC7ItC8-vqUWZdqRcjq0vF-h9l5I94C_whZYs8_BYak7AoXMcQ_m2VL2E2uAJxQn5Ax0z5MA/s530/o-cristao-e-a-universidade_opt.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="262" data-original-width="530" height="198" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim0RnsO0wd-OQC9C5VVPNJD1eh5yPVC1xWpbc6tUOnkEVhcnfZg_Gq0WxENdoQMU1lhxRkC7ItC8-vqUWZdqRcjq0vF-h9l5I94C_whZYs8_BYak7AoXMcQ_m2VL2E2uAJxQn5Ax0z5MA/w400-h198/o-cristao-e-a-universidade_opt.jpg" width="400" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">Em minha última postagem neste espaço discuti a respeito da ideia de que a educação foi aparelhada pela esquerda. Ao enviar o referido post para uma linha de transmissão, um dos meus leitores e colaboradores me interpelou a respeito de alguns movimentos e manifestações que ocorrem no espaço universitário e sobre o recorrente fenômeno de cristãos que após a entrada no ambiente em apreço "perdem" a sua fé. Eu gostaria de começar o presente post contemplando a segunda questão e depois a primeira. Em outras palavras, farei uma inversão aqui. </p><p style="text-align: justify;">Houve tempo em que não havia a menor dificuldade em ser um filósofo e acreditar no oráculo de Delphos. Há muito do Orfismo na filosofia de Platão e isto é tão verdadeiro que pela via de Plotino ela adentou com extrema facilidade no meio cristão no período medieval. Mas a s coisas mudaram com o advento do período que conhecemos como sendo a Modernidade. </p><p style="text-align: justify;">Na medida em que as ciências se libertam da Teologia e da Filosofia Deus vai sendo lentamente expulso dos domínios das mesmas (isto na verdade é uma figura de linguagem que explicarei nas linhas seguintes). Se antes a Filosofia clássica foi na direção da Ontologia e da Metafísica, e destas para a epistemologia, antropologia e ética; a ciência moderna ira em outra direção. </p><p style="text-align: justify;">A leitura de textos pré-socráticos, de Sócrates, Platão, Aristóteles e outros da coleção Os Pensadores e de outras coleções da Filosofia (curiosamente bem vendidos nas ocasiões em que foram lançados pelas respectivas editoras e disponibilizados em bancas e mais bancas de jornais), permitiram-me o entendimento de que os filósofos clássicos e helênicos buscaram conhecer as causas primeiras de todas as coisas a partir deste conhecimento organizar os dados da realidade e ampliar seu conhecimento a respeito da mesma. </p><p style="text-align: justify;">A despeito deste aparente aspecto científico na empreitada destes, não há ali a vontade de explicar a natureza com a finalidade de dominar a mesma e a partir desta produzir uma vida melhor. Nas palavras de Caio Prado Júnior, não há como comparar o interesse de um filósofo pré socrático na natureza com o de um cientista, seja ele um físico, um químico, um geólogo, biólogo, etc... São formas diferentes de ver e lidar com a natureza. </p><p style="text-align: justify;">Para resumir: o que se tem num quadro como este é um tipo de conhecimento que permite alinhar Filosofia com Fé. Isto pode ser visto (conforme dito acima), no Pitagorismo, no Platonismo, no Neoplatonismo, no Tomismo e no Agostinianismo (aqui movimento filosófico). Há pensadores que destoam desta forma de pensar e defendem o reino da Filosofia como um universo totalmente adverso ao religioso, mas a leitura dos autores acima citados vai em outra direção. </p><p style="text-align: justify;">É na Idade Média que começa a ser gestado uma forma de conhecimento (que nasce da Filosofia Medieval), que vai possibilitar a autonomia desta em face da Teologia (da qual fora feita serva durante toda a Idade Média). Francis Shaeffer fala deste processo em seu clássico A Morte da Razão. O primeiro passo para a migração do Transcendentalismo para o Imanentismo foi o entendimento de que Deus pode ser acessado à parte de qualquer revelação e para tal basta recorrer à natureza. </p><p style="text-align: justify;">Sem entender este movimento geral é difícil mesmo a um cristão sobreviver em ambiente acadêmico sério. Esta narrativa é necessária pelo menos para que um cristão relativize a ideia de que a narrativa científica pode oferecer uma explicação global da realidade. Aliás a discussão é Filosófica. Daí a importância da Filosofia para o cristão. </p><p style="text-align: justify;">Em particular fui atraído para a Filosofia por conta das questões comuns entre esta e a Teologia. Imediatamente após, descobri a Filosofia como ferramenta apologética. Isto me incentivou a ler trabalhos de Francis Shaeffer, Norman L. Geisler, Willian Lane Craig, J. P. Morenland, Peter Kreuft. E após ler e refletir descobri que é inútil e fútil a tarefa de tentar usar a Filosofia para convencer as pessoas de que a minha cosmovisão está correta e a deles errada. </p><p style="text-align: justify;">Uma das marcas do fazer filosófico é a ruptura com as escolas antigas. Platão vai além de Sócrates e é superado por Aristóteles. O triunvirato grego é um ótimo exemplo. Mas ser filósofo é ainda mais do que isto. Ser filósofo é ter a capacidade de se esvaziar continuamente e neste esvaziar tornar a aprender. É desta forma que concilio o cristão e homem de fé com o Filósofo. </p><p style="text-align: justify;">Aqui há que se considerar que quando a Apologética apareceu, tal deu-se no ambiente das questões judiciais (onde os primeiros cristãos eram levados aos tribunais a fim de nestes explicar aos magistrados a razão de sua defesa) e no âmbito das primeiras Teodiceias. Teodiceia é a defesa de Deus. São explicações elaboradas de forma a explicar questões como a existência de um Deus bom e todo poderoso e o mal no mundo. </p><p style="text-align: justify;">A postura mais recomendável de um crente em ambiente acadêmico é, ao meu ver, a de um conversador, como Sócrates, a de alguém que se esvazia diariamente e assume a ignorância. Mas como se diz por aí, toda afirmação de ignorância é uma afirmação de conhecimento. Fazer as perguntas certas demanda conhecimento. Mas é uma postura mais inteligente do que tentar convencer as pessoas de que minha cosmovisão (sempre em revisão) é a correta. </p><p style="text-align: justify;">Aqui chegamos à formulação do conhecimento científico. Com a Teologia Natural, Deus e sua revelação foram lentamente removidos da Teologia e em seguida das ciências que foram nascendo. A ciência moderna nasce a partir de algumas noções religiosas tais como: a noção de causa e efeito e de a ordem natural é racional e passível de ser conhecida. </p><p style="text-align: justify;">Mas Deus mesmo não é o fim deste tipo de conhecimento. O que se pretende é o domínio da natureza com vistas à facilitação da vida humana. O exemplo mais básico dado por Bacon é o da conservação de alimentos. No lugar do sal, ele propõe o gelo. Mas é no próprio Bacon, que aliás é Filósofo que aparece um projeto de sociedade organizado em acordo com o que na visão dele era o mais racional. </p><p style="text-align: justify;">Falei deste porque não posso ignorar o que advém da ciência, a técnica. Mas minha abertura para a técnica e para outros benefícios da ciência não me levam a acreditar que somente a partir da mesma vida e todos os fenômenos decorrentes desta possam ser interpretados. O debate persiste até hoje e não aparenta ter resolução fácil, ainda mais quando se vê a militância de cristãos e ateus na arena universitária. Os debates de Richard Dawkins, Sam Harris, com Jonh Lenox e Willian Lane Craig respectivamente, ilustram muito bem. </p><p style="text-align: justify;">O desafio que até o momento não vi Apologética alguma responder é o da convivência entre pessoas de fé e pessoas sem fé no espaço acadêmico e na vida com um todo. Nosso papel enquanto cristãos é estar preparados para responder a qualquer um a razão da esperança que há em nós e só. Convencer as pessoas não é nosso papel, subordinar a ciência à fé menos ainda, até porque são áreas que respondem por dimensões diferentes da vida. Isto é evidenciado por Lewis em um artigo intitulado Sobre a Obstinação na Crença. Para este autor, e brilhante crítico literário, </p><blockquote><div style="text-align: justify;">Todos os homens, em questões que lhe interessam, escapam da região da crença para a do conhecimento, quando podem, e, se alcançam o conhecimento, não mais dizem crer. As questões em que os matemáticos estão interessados admitem tratamento por meio de uma técnica particularmente clara e rigorosa. As questões do cientista tem sua própria técnica, que não é exatamente a mesma. As do historiador e as do Juiz também são diferentes. A prova do matemático (pelo menos, é o que nós leigos supomos), é o raciocínio; a do cientista, por experimento; a do historiador, por documentos; a do juiz, por testemunho juramentado. Mas todos estes homens, como homens, em questões fora das disciplinas que lhe são próprias, tem numerosas crenças as quais normalmente não aplicam os métodos destas disciplinas. De fato, levantaria alguma suspeita de morbidez e até insanidade se o fizessem (LEWIS, C. S. A Obstinação na Crença, in: A última Noite na Terra, pág. 29). </div></blockquote><p style="text-align: justify;">É sensível a distinção que o autor faz das convicções oriundas da crença e a certeza científica. Mais ainda sem perceber algumas destas convicções puramente baseadas em crenças se tornam evidências em si mesmas, quando na verdade são meras crenças. Em Cristianismo Puro e Simples o autor ainda expõe que tanto em sua época como ateu quanto quando cristão manifestou fé, ao se aferrar às suas convicções, mesmo quando tudo parecia estar contrário à convicção que pretendia defender. </p><p style="text-align: justify;">Ninguém é cem por cento científico o tempo todo e menos ainda fideísta em tempo integral. Todos reservamos áreas em que manifestamos algum tipo de "fé". Esta é uma abordagem necessária à compreensão a respeito do relacionamento entre fé e ciência. Tendo isto em mente e adotando uma postura de constante esvaziamento não ocorrerão prejuízos na fé. </p><p style="text-align: justify;">Algumas posturas serão sim revisadas, mas a fé permanecerá ali. Keller oferece uma comparação interessante a este respeito em seu livro Fé na Era do Ceticismo. Neste o autor compara a fé a um corpo que passa por sucessivas enfermidades até que o sistema de imunológico se desenvolva plenamente, e o organismo não mais esteja frágil diante dos vírus e bactérias. </p><p style="text-align: justify;">Uma fé que não se sujeita às dúvidas e questionamentos não é uma fé de fato. E acredito que isto esteja ocorrendo com significativa parcela de cristãos que adentram o espaço universitário. A universidade é um espaço para pessoas com capital cultural e literário significativo. Não é um curso técnico melhorado para quem quer ter um emprego que ganhe bem. </p><p style="text-align: justify;">Mas é esta a propaganda que tem vendido cursos e mais cursos superiores aqui neste país. Mais ainda, na percepção acurada de Otaíza de Oliveira Romanelli esta é a visão de educação prevalecente em nosso país, a de educação com vistas à ascensão social. Daí que a mesma seja atrativa, não pelo acesso ao conhecimento, mas pela promessa de maior inserção social, o que serve pára atrair cada vez mais pessoas com pouco, ou nenhum capital cultural. O que se estende aos evangélicos com tal perfil. </p><p style="text-align: justify;">O que entendo aqui é que a uma fé fragilizada (na verdade uma postura fideísta) quando se encontra com uma cultura fragilizada e fragmentada como a que se vê em boa parte das leituras propostas em universidades, sempre de capítulos chaves de livros, produz o desastre acima mencionado a respeito do perder a fé. </p><p style="text-align: justify;">Uma cultura mais ampla quando se encontra com uma fé robusta produz intensos embates e debates interiores, mas o resultado final é uma fé ainda mais robusta. A ciência quando compreendida em sua essência jamais extingue a fé. Na verdade como diria C. S. Lewis não é a razão que se opõe à fé. É a imaginação e os humores. </p><p style="text-align: justify;">Se de um lado a fé é a capacidade de se aferrar às convicções mesmo quando outras questões pareçam contradizer, por outro lado a fé é o ato de desesperar-se de si mesmo e apostar as suas fichas em Deus, na política, ou no que quer que seja. Nas palavras de Paul Tillich, fé é a entrega ao incondicional. Esta é a questão a ser ampliada e vista neste post. </p><p style="text-align: justify;">A primeira que passo a tratar agora, é a respeito das manifestações "imorais" vistas nas faculdades. Tenho notado uma tendência à desmoralização institucionais das universidades públicas. O que posso falar aqui é que não há nada nestes vídeos que comprove que tais manifestações sejam, ou façam parte da grade curricular de tais faculdades. </p><p style="text-align: justify;">O fato de haver maconheiros, gays, lésbicas e qualquer outra classe cuja moral destoe da minha não me autoriza a desabonar uma instituição primordial como as universidades. Há ali pesquisa e desenvolvimento, sem a qual país algum poderá se situar no universo civilizado. Infelizmente tais pesquisas são desconhecidas de um povo que sequer sabe como se faz, ou se produz ciência. Infelizmente é assim. Daí a longa introdução deste post. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-22997502352824443602021-03-30T11:07:00.002-03:002021-03-30T11:10:21.805-03:00Nossa Educação foi Aparelhada pela "Esquerda"?<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK038hAxAn60qsFs2mqx4L-1Zj10XsS6JEB_DGS0aqUR3pJ-uiCqmJZDpd9hTvEHPkema146rTOzVdYw9BdMs_dXk8K7IYObDLj4PJNDEGF3x2DelwaRaYXRhVttCNEsHtSsu6kD9YPS8/s856/falando+de+educa%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="856" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK038hAxAn60qsFs2mqx4L-1Zj10XsS6JEB_DGS0aqUR3pJ-uiCqmJZDpd9hTvEHPkema146rTOzVdYw9BdMs_dXk8K7IYObDLj4PJNDEGF3x2DelwaRaYXRhVttCNEsHtSsu6kD9YPS8/s320/falando+de+educa%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">O leitor dos meus posts e do meu blog sabe que em regra, não uso em meus textos palavras como as escritas acima. Mas precisei deste meme para iniciar uma discussão a respeito de uma temática e de uma narrativa que tem ganho extrema popularidade nos dias atuais. Assumo o risco de usar este meme sabedor de que aqueles que não nutrem a minima simpatia pelas minhas ideias irão ignorar este aspecto do meu texto. Mas paciência. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">Eu tenho claras lembranças das matérias de Educação Moral e Cívica, da antiga quinta série do ensino fundamental na Escola municipal Soares Pereira. Foi nesta instituição que iniciei meus estudos e concluí o Ensino Fundamental, na época ainda chamado de Primeiro Grau. Não me considero alguém de memória privilegiada por conta de lembranças tão claras, das matérias e dos professores e professoras que lá tive. </div><p></p><p style="text-align: justify;">Na verdade, entendo que se a escola exerceu tamanha influência sobre a minha vida, eu devo isto muito mais à minha falecida avó. Esta me dizia sempre: "estude para ser alguém". Devo também a um grupo de pessoas que me deu a chance de "estudar" música e poder me profissionalizar, o incentivo que tive para ir além do ensino fundamental, passando pelo médio e superior, ainda que nenhum destes seja na área da música. </p><p style="text-align: justify;">Em outras palavras, aprendi como uma senhora iletrada que não bastava frequentar a escola, era necessário aprender e valorizar aquilo que havia aprendido. Anos mais tarde, ao fazer a graduação de Pedagogia, e uma reminiscência de minha trajetória educacional, as palavras de minha avó são fundamentais para a compreensão a respeito da educação. </p><p style="text-align: justify;">Me formei em Pedagogia, com habilitação em ensino nas séries iniciais, coordenação pedagógica e orientação educacional em dois mil e seis. Colei grau em dois mil e oito. Eram o áureos tempos do governo do PT. Adjetivo o governo desta forma por coincidir com a época em que Obama disse que Lula era o cara. Explico nas linhas abaixo. </p><p style="text-align: justify;">Enquanto o mundo tentava resolver uma crise em decorrência de uma péssima operação feitas por bancos, o Brasil surfava na onda da venda de commodities para a China de modo que aquilo que foi um tsunami no mundo inteiro foi uma marolinha aqui. Não tendo crise ninguém contesta a política e a Educação. </p><p style="text-align: justify;">Aqui convém observar que as grandes propostas educacionais do século vinte surgiram, no contexto da crise do pós guerra e da queda da bolsa de valores em mil novecentos e vinte e nove. Mas também foi nesse período que o mundo testemunhou a ascensão do nazismo e do fascismo. E o atual momento não deixa de ser tão confuso quanto.</p><p style="text-align: justify;">Uma olhada no cenário político atual revela uma quadro interessante de distorções e incompreensões na leitura de autores clássicos, de teorias políticas, da ascensão do neo nazismo, do recrudescimento do preconceito racial em países cuja marca histórica é a democracia de demais valores liberais. A quebra, depredação de monumentos históricos cuja leitura e interpretação deveriam de ser re-significados à luz do contexto e dos valores atuais. </p><p style="text-align: justify;">Todos estes elementos são (conforme afirmado acima), sintomas de uma crise que abrange desde a área econômica, passando pela política, epistemológica, moral, cognitivo noética, social. Há crises em todas as esferas da vida, de modo a produzir crescente incerteza. Mas é fato que antes da crise de dois mil e oito pouco se sentia isto. </p><p style="text-align: justify;">Antes deste período somente um autor ousava dizer que a nossa educação tinha como principal problema o aparelhamento das disciplinas por parte da esquerda, e do marxismo cultural. Mas há vinte anos atrás ninguém dava muita confiança para este autor. Tanto que cheguei na graduação com leituras filosóficas, inclusive os textos do aludido. Mas absolutamente nenhum professor o conhecia no ambiente acadêmico. </p><p style="text-align: justify;">Foi quando a crise finalmente aportou por estas terras que este autor, o Olavo de Carvalho ganhou visibilidade por aqui. Mais do que isto, gente que nunca havia se interessado pelos seus livros de Filosofia, começou a ler seus antigos artigos, agora publicados em títulos tais como: "tudo o que você precisa saber para não ser um idiota", "como enlouquecer o mundo em dez dias", "o imbecil coletivo", e coisas do tipo. </p><p style="text-align: justify;">Este autor pavimentou com suas teorias de conspiração a estrada para a Escatologia do Terror, que penetrou nas Igrejas Evangélicas por meio de estudos a respeito da Nova Era, recheados de teorias e mais teorias da conspiração, que jamais tiveram seu cumprimento efetivo, mas que meus confrades infelizmente levaram à sério. </p><p style="text-align: justify;">Foi dentro do meu evangélico que conheci os escritos deste. Graças à Deus foi também neste meio que iniciei meus estudos na Teologia e em consequência dos mesmos em Filosofia. Mas é fato que pela suposta ligação com o Cristianismo católico, Olavo de Carvalho goza de aceitação entre os evangélicos. Na disputa pela posição vem ninguém mais do que Luíz Felipe Pondé, que em razão de suas posições conservadoras seduz muitos evangélicos pelo mundo afora. </p><p style="text-align: justify;">Este filósofo tem um vídeo onde anuncia um curso de interpretação bíblica. Na dúvida procure pelo título Os Dez Mandamentos Mais Um, curiosamente lançado na esteira do sucesso da novela Os Dez mandamentos da rede Record. A Hermenêutica ali decorre de uma síntese entre Filosofia e perspectiva judaica dos textos. Mas que independentemente do processo de ruptura com a interpretação cristã, cativa e tem cativado muitos cristãos.</p><p style="text-align: justify;">Pondé sempre foi um intelectual, embora em muitos textos publicados ele demonstre seu descontentamento com o meio acadêmico e atribua o mesmo à forte presença de Marx, quando o conheci e procurei me inteirar a respeito do mesmo e de suas ideias me deparei com um dos seus vídeos em que num café filosófico ele debatia com ninguém mais, ninguém menos do que a filósofa Márcia Tiburi. </p><p style="text-align: justify;">Hoje percebo que parte do fascínio exercido por Pondé, Olavo de Carvalho e cia deve-se à ausência dos acadêmicos na esfera pública, e a uma simplificação que aparentemente torna a Filosofia mais atraente e acessível, quando na verdade nem um nem outro age de fato como filósofo na esfera pública. Espantado com a afirmação? Pois é. Eles são na verdade propagandistas, marqueteiros do capital financeiro.</p><p style="text-align: justify;">A Filosofia não é algo que atraia de imediato as pessoas. Nunca entendi, ao ler as falas de Norman L. Geisler e do próprio Cortella ao descreverem a Filosofia como algo inútil. Foi necessário ler Byung Chul-Han para entender que a Filosofia, enquanto arte liberal, só pode ser fruída por pessoas livres de coerções externas. </p><p style="text-align: justify;">Em outras palavras é o ócio e a ausência de preocupações com questões de subsistência que garantem a fruição, o espanto. A própria Educação se fazia a partir do Ócio, e este <a href="https://www4.pucsp.br/webcurriculo/edicoes_anteriores/encontro-pesquisadores/2013/downloads/anais_encontro_2013/oral/livio_santos.pdf">link aqui</a> é bem claro a este respeito. Ócio aqui é o tempo que uma pessoa dispõe para livremente trabalhar seu desenvolvimento. Daí Bertrand Russel ter feito o seu famoso Elogio do Ócio. Um povo preocupado com sua subsistência pouco dispõe em termos de tempo para o desenvolvimento particular e pessoal. </p><p style="text-align: justify;">Mas a propaganda sempre terá o seu apelo às emoções, que por sua vez sempre se sobrepõem às faculdades intelectivas. Daí que tanto o conservador quanto o autodidata aqui mencionados recorram às técnicas de propaganda e marketing para a divulgação de suas ideias. Com a crise econômica de dois mil e doze o caminho para a penetração das idéias de ambos estava pavimentada. </p><p style="text-align: justify;">Foi a partir de então que gente que nada tinha a ver com a Escola, e com a Educação e muito menos possuía formação acadêmica para tal passou a aventar as ideias de Olavo de Carvalho. Foi neste esteio que ganharam força as idéias de que a culpa da educação escolar estar como estava era por conta da adoção da Pedagogia de Paulo Freire. Uma Pedagogia jamais aplicada aqui nestas terras. </p><p style="text-align: justify;">O pior, gente que jamais leu as ideias deste autor, começou a reproduzir a fala acima. Nesta esteira que vem as falas da imagem usada neste post. Nesta afirma-se literalmente que a educação no Brasil começou a dar errado quando as matérias de Educação Moral e Cívica e de Organização Social e Política do Brasil, foram substituídas por Filosofia e Sociologia. Aqui é possível a verificação de uma inconsistência. </p><p style="text-align: justify;">De fato a disciplina de Moral e Cívica foi instituída durante do governo militar em doze de Setembro de mil novecentos e sessenta e nove, com o intuito, de produzir nos estudantes os seguintes hábitos: "preservação da espiritualidade", "projeção dos valores espirituais e éticos da nacionalidade", "o culto à pátria", e culto e obediência à lei". Aqui cabe uma análise. </p><p style="text-align: justify;">É plenamente possível que um leitor cristão ao ler tais palavras se identifique com os ideais que justificam a criação de tal disciplina. Eu mesmo sou favorável a manutenção da mesma (lógico que adaptada aos ideais democráticos sob os quais foi promulgada a constituição de mil novecentos e oitenta e oito). </p><p style="text-align: justify;">Masa espiritualidade da que se fala aqui nada tem a ver com a religião cristã. A espiritualidade aqui é a positivista. Esta possui um culto próprio e até mesmo um catecismo. Lógico que nada impede que se faça aqui uma síntese, mas a verdade é que o Positivismo com seu culto à ciência (tudo o que os "apologetas" [atenção às aspas] da atualidade mais abominam), pretende ser um substituto da religião em si (ou pelo menos pretendia). É neste contexto que a expressão "o culto à pátria" tem de ser entendida. </p><p style="text-align: justify;">Um cristão deve obediência às leis? Deve! Deve ser cumpridor dos seus deveres para com o próximo, e por extensão para com a sociedade? Deve sim! Mas culto não! Não se critica a divindade que se segue, cultuar a pátria e até mesmo a lei pode produzir uma cegueira que já foi testemunhada em casos como o da ascensão do nazismo e do fascismo. </p><p style="text-align: justify;">A disciplina Organização Social e Política do Brasil poderia ter permanecido, mas tal como a de Moral e Cívica teria de ser adaptada às novas conjunturas sociais e políticas. Acredito ser interessante as pessoas terem conhecimento de Lei e pela especificidade da disciplina, do artigo trinta e sete ao quarenta e um de nossa constituição. </p><p style="text-align: justify;">Quando esta foi promulgada, o então constituinte afirmou ser a mesma uma constituição cidadã. E fato é que uma leitura ainda que superficial permite a compreensão de que o esteio da mesma é o ideal social democrático. O artigo terceiro é de fundamental importância para o exercício da cidadania, luta por mais direitos e pelos direitos do outro. </p><p style="text-align: justify;">Aprendi com alguns advogados com os quais convivo que ninguém pode alegar em sua defesa em juízo o desconhecimento da lei. Entendo esta proposição doutrinária, mas como educador percebo uma certa inviabilidade em cumprir com aquilo que não se conhece. Isto posto, resumo aqui o seguinte: a lei não tem de ser cultuada (não no sentido de ser adorada), mas tem de ser solenemente respeitada, quanto mais conhecida pelo cidadão comum, maior respeito este nutrirá por ela. </p><p style="text-align: justify;">É possível que leis fossem desnecessárias se os seres humanos seguissem o bom senso. Esta é uma hipótese aventada na filosofia sim. Mas desde sempre se soube na filosofia que as leis são necessárias na regulação do convívio social. É exclusivamente sob este prisma que vejo a importância nas matérias mencionadas acima. </p><p style="text-align: justify;">O que não é falado por gente que cria memes como o da imagem acima e muito menos por Olavo e Pondé é que cabe à, Filosofia e à Sociologia a discussão a respeito de uma moral que viabilize o convívio em sociedade. E aqui gostaria de mais uma vez apelar à memória de minas aulas em Educação Moral e Cívica, com a professora Célia Regina no Soares Pereira. </p><p style="text-align: justify;">Na minha primeira aula de Educação Moral e Cívica a matéria era a noção de vício e de virtude. Me marcou muito pela polêmica que causou na turma. O conceito que tínhamos até ali de vícios erma ligados aos hábitos de beber e fumar e a professora penou para explicar que não era daquele tipo de vício que ela estava tratando. </p><p style="text-align: justify;">Vício aqui tinha, ou tem o significado de qualquer costume condenável, ou prejudicial, que inviabiliza a convivência social. Esta noção é uma noção filosófica, que também aparece na sociologia de Emile Durkheim. Em outras palavras a disciplina não foi extinta com a finalidade de promover aquelas que possibilitem o aparelhamento da esquerda nas instituições de ensino. </p><p style="text-align: justify;">Mas esta é uma conversa para qual poucos estão preparados na atualidade. O momento de crise ainda funciona como canalizador de ressentimentos populares contra algumas ideias e literaturas. Isto se soma ao fato de que boa parte das pessoas para quem se pergunta a respeito do conteúdo de Educação Moral e Cívica ignora o que foi ensinado, e é incapaz de associar o conteúdo com a Filosofia Moral e política. E nem quer fazer o exercício. </p><p style="text-align: justify;">Este é o ponto do presente artigo em que se faz necessário considerar as reais causas de nossa educação estar em tamanha crise. Não é a reinclusão de Educação Moral e Cívica e de Organização Social e Política do Brasil que responderão pelo fracasso evidenciado nas últimas provas do exame do PISA. Uma amiga minha me perguntou pelo que aconteceu com nossas escolas, ao que responde que a sociedade mudou e com ela os alunos também. </p><p style="text-align: justify;">O crescimento da educação no mundo acompanhou o crescimento da industrialização. Foi esta que impulsionou a chamada educação universal pública. No Brasil isto também é realidade agravada pelo fato de que para o brasileiro a educação não é um valor em si, mas um meio para a ascensão social. E como isto impacta a educação? </p><p style="text-align: justify;">Do momento em que as pessoas percebem que para crescer economicamente, podem prescindir da educação ela simplesmente é desacreditada e deixa de fazer sentido para as pessoas que assentam nos bancos escolares. O empregado da fábrica precisava de uma educação mínima para poder operar com a máquina e assim ter seu lugar garantido no mercado de trabalho. </p><p style="text-align: justify;">Trabalho era a garantia para uma vida que desse acesso aos bens de consumo. Era esta e dinâmica que impulsionava a educação. Na mesma escola em que estudei Educação Moral, e tive noções de Organização Social e Política do Brasil, também Estudei técnicas Comerciais e Artes Industriais. Testemunhei muitos de meus colegas se empregarem na indústria têxtil. </p><p style="text-align: justify;">A Souza Cruz, A Brahma, A Faet eram apenas alguns dos muitos exemplos de industrias que tinham aqui no Rio de Janeiro e que empregaram muitos de meus antigos colegas de turmas do Soares Pereira, e muitos do meio evangélico. Também vi muitos procurarem escolas técnicas como a Ferreira Vianna, ou o sistema S. </p><p style="text-align: justify;">Até alguns anos atrás era certo fazer um curso técnico em alguma área e ter acesso ao mercado de trabalho. Hoje isto não é uma verdade absoluta. E aqui reside a grande questão da educação para uns ela perdeu o sentido e para muitos ela não é útil para mais nada. E uma grande verdade pedagógica é que não se educa quem não quer aprender. </p><p style="text-align: justify;">Todavia, pessoas socialmente magoadas, e que não querem ser instruídas gostam de criar seus demônios para por neles a culpa de seu fracasso. É deste tipo de sentimento ruim que surgem os mais variados preconceitos desde os raciais até os cognitivos. é neste solo que brotam as narrativas não importando se o conteúdo estudado foi ou não conforme o descrito. </p><p style="text-align: justify;">Falo como quem se formou no Ensino Médio após a reinclusão de Filosofia e Sociologia nas grades curriculares do mesmo e nunca percebeu nas apostilas de ambas as disciplinas quaisquer viés ideológicos. Pelo contrário em ambas leu toda forma de autor desde Platão (com sua defesa da monarquia), até Comte com a defesa do Positivismo, passando por Hobbes que afirmava ser o homem mau e por Rousseau que dizia o contrário. </p><p style="text-align: justify;">O mesmo processo deu-se no Ensino Superior do qual não saí até hoje. Sigo lendo autores de todo ramo do saber. Mas com a minha ressalva principalmente aos que exalam este tipo de melancolia e magoa social. Mas a cada escrito percebo um público que não quer ler e nem mesmo se instruir, mas prefere ficar com seus preconceitos, com aquilo que sente do que fazer uma revisão das suas ideias. </p><p style="text-align: justify;">O ato de educar é um ato de desconstrução das ideias e preconceitos do senso comum e reelaboração do mesmo. Sem rigor metodológico e capacidade de sistematização, as informações que são recebidas na internet se tornam em material de construção para toda forma de preconceito. É isto que tem acontecido e aqui se percebe a saída para a Escola. </p><p style="text-align: justify;">Fui educado em uma Escola que tinha sinal para a entrada, carteirinha que marcava horário de chegada, uniforme e toda a estrutura de uma fábrica. Fora o fato de a educação ser seriada, com noção de tempo para aulas de cada disciplina e assimilação dos conteúdos. Mas naquela época havia a fábrica e esta era um centro de organização da sociedade. As casas de vila próximas das antigas fábricas são um testemunho histórico.</p><p style="text-align: justify;">A sociedade mudou e a Escola (que é um produto desta sociedade) tal como a sociedade não percebeu a mudança. As Pedagogias, seja de cunho tradicional, tecnicista, liberal, ou crítico não respondem por tais mudanças. Mas esta é uma analise a ser feita à parte em outro post que como este é direcionado aos que se incomodam com a situação atual e buscam respostas. </p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros. <br /></p></div>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-10533346434459566972021-03-29T17:38:00.000-03:002021-03-29T17:38:02.317-03:00Vamos Falar mal de Servidor Público?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGjgLEDmjTPQvpvTkP6c_d3pRfEiCEDw570NBFoaUtN2RKQQDP5-O3xhtv_zx_2ApvyeabxzuQP_jBDFWleLeOEsZWFf5GjAg3vEgFCsD9mOzxPuLdGtuBuiNto_zttBStQsgGiB-8ov0/s710/vamos+falar+mal+de+servidor.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="457" data-original-width="710" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGjgLEDmjTPQvpvTkP6c_d3pRfEiCEDw570NBFoaUtN2RKQQDP5-O3xhtv_zx_2ApvyeabxzuQP_jBDFWleLeOEsZWFf5GjAg3vEgFCsD9mOzxPuLdGtuBuiNto_zttBStQsgGiB-8ov0/s320/vamos+falar+mal+de+servidor.jpg" width="320" /></a></div><br /><p><br /></p><p><br /></p><p style="text-align: justify;">Este post segue a série que contempla a <a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2021/03/a-crise-do-covid-uma-analise-inicial.html">crise do corona</a> sob os aspectos políticos, sociais, econômicos e institucionais. Falo isto porque no bojo da crise sanitária ocorreu uma reunião de portas fechadas no palácio, cujo conteúdo foi publicado em decorrência dos embates entre o juiz Sérgio Moro e o então chefe maior do poder executivo. </p><p style="text-align: justify;">Nesta reunião, que em momento algum traçou estratégias de combate ao corona vírus, foram proferidas falas horripilantes, dentre as quais destaco aqui as do ministro Ricardo Salles que propunha aproveitar o momento da crise para passar a boiada. Boiada aqui são medidas que permitam a exploração de regiões de proteção ambiental, para a exploração, seja do agronegócio, seja de minérios. </p><p style="text-align: justify;">Em seguida vê-se a fala do então ministro da economia, Paulo Guedes, falando em aproveitar o momento para colocar uma granada no bolso do inimigo. A granada aqui consiste em um pacote de medidas que visa a diminuição dos salários dos servidores, como meio de amenizar a crise. Desnecessário lembrar aqui que não foram tomadas tais medidas ainda em razão do caráter ilegal, quiçá inconstitucional das mesmas. </p><p style="text-align: justify;">Na atual situação primeiro tem de ser reduzidos os salários dos servidores cujos cargos são decorrentes de indicação, para então chegar aos concursados. Mas o que isto tem a ver com a crise do corona? Face à nova sindesmia a proposta tem sido colocada novamente na pauta de prioridades. Escrevi a respeito da referida reunião<a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2020/05/nao-sao-somente-palavroes.html"> neste post aqui</a>. <br /></p><p style="text-align: justify;">Faço menção á mesma em razão de observar que existe em nossa sociedade uma cultura que marginaliza e estereotipa o funcionário público, nas palavras de Ghiraldelli Jr, como se fosse possível viver em qualquer sociedade sem serviço e sem servidor público. Este foi uma verdade que a crise do Covid trouxe à tona. O exemplo máximo foi a presença do conservador liberal Mandeta no ministério da saúde. Ao sair, por divergências com o atual presidente, por conta da forma de tratamento a ser dada à crise sanitária, ele elogiou o SUS. </p><p style="text-align: justify;">Sim amigo, sem o SUS a crise estaria muito, mas muito pior do que se possa imaginar. Sem servidores públicos igualmente. Duvida? Me permita dar um exemplo de como isto funciona. Lembra do professor da Escola Pública? Vou lembrar é aquele indivíduo que faz concurso público (uma bateria de exames, que passa por questões intelectuais, morais [visto que servidor tem de comprovar conduta ilibada através da ficha negativada dos ofícios] e sanitárias), com fito de dar aulas, mas que na verdade termina atuando como a babá do filho, para que os pais possam trabalhar. </p><p style="text-align: justify;">A despeito da importância social deste profissional, ele ainda foi acusado por pessoas que não fazem parte do processo educacional e nem possuem formação para tal, de ser um ideólogo a serviço do comunismo, um doutrinador e coisas do tipo. Mas quando veio a pandemia/sindesmia boa parte das famílias teve de conviver com seus anjinhos dentro de casa, e os que ficaram com seus trabalhos tiveram de conciliar o regime de home office com a criação e cuidado dos filhos, este profissional teve sua ausência notada. </p><p style="text-align: justify;">Paramos por aqui? Não! Lembra dos "famigerados" policiais militares? É útil recorrer ao exemplo desta classe. Agora preciso trazer à memória um fato ocorrido anos atrás em decorrência de um movimento grevista nas policias militares do Brasil. Não pretendo entrar no mérito do direito de greve desta mesma classe (para isto temos os juristas Brasil afora). </p><p style="text-align: justify;">O que quero afirmar aqui é que na ausência da polícia o caos se instaurou de forma tal (vejam o Exemplo do Estado do Espírito Santo) que não faltou quem falasse que mesmo a sociedade não gostando de policiais, estes eram a última barreira entre a sociedade e a barbárie. Cabe lembrar aqui que policiais civis, federais e militares são funcionários públicos. </p><p style="text-align: justify;">Há muito que melhorar no serviço público? Há! Mas o fato de o serviço público ser passível de melhorias efetivas não nos dá a licença para prescindir nem do serviço e muito menos do servidor. A grande ironia é que a não percepção deste elemento é indicador da mistura entre uma mágoa social que se espalha na sociedade e a ideologia neoliberal de que o mundo funciona melhor com a ausência do Estado. </p><p style="text-align: justify;">No artigo anterior (<a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2021/03/a-crise-do-covid-uma-analise-inicial.html">veja aqui</a>), expus algo que os seguidores das ideias de Hayeck e Mises insistem em ignorar. O Estado é a ultima barreira contra a barbárie. Colocar o indivíduo acima da sociedade equivale ao retorno da lei do mais forte. Aqui acrescento que os serviços públicos e privados se guiam por regras similares de administração, com o agravante de que a lógica que segue a iniciativa privada é a do lucro, que não necessariamente implica em serviço de qualidade. </p><p style="text-align: justify;">Quer uma prova? Veja nosso serviço de telefonia e de transportes públicos. São uma porcaria. A única melhora perceptível em ambos é a decorrente do avanço tecnológico. Por exemplo a OI oferece serviços de internet banda larga, e os carros da Supervia possuem ar-condicionados, mas a qualidade do serviço é a mesma. Os trens continuam quebrando, atrasando nos seus horários, e os usuários revoltados. </p><p style="text-align: justify;">A mesma coisa pode ser dita em relação ao serviço de telefonia prestado pela OI. Uma porcaria! A internet cai à toda hora. Já cheguei a ficar três dias sem Telefone fixo e sem banda larga, e ao ligar a empresa alegou reparos feitos na região. Fora o fato de que ao contatar a prestadora de serviço é impossível falar com um atendente humano, é uma tal de Joice que atende e a comunicação com a mesma é algo surreal. </p><p style="text-align: justify;">Vamos pensar um pouco a respeito dos serviços bancários. Se você acha que a privatização é a saída para o Banco do Brasil e para a Caixa Econômica te convido a fazer uma comparação entre estas e uma agência do Banco Bradesco, por exemplo. (Um dos bancos que mais cresce em termos força e poder financeiro no Brasil). Falo isto como quem optou por não receber seu salário em uma por conta do péssimo serviço prestado.</p><p style="text-align: justify;">O que constato aqui é que a privatização não é sinônimo de melhoria do serviço. Mas não falta gente para dizer que a privatização é boa. E justamente neste ponto reside o problema. Boa para quem? Antes de responder esta pergunta indague se você consegue imaginar uma sociedade em que não haja mais médicos, bombeiros e policiais servidores públicos. </p><p style="text-align: justify;">Isto significa que na medida em que os serviços de saúde forem encarecendo, aquele plano de qualidade no qual você paga de dois a três mil reais por quatro pessoas da família, pouco à pouco deixará de dar cobertura às suas necessidades. Imagine somente poder contar com a segurança privada, e não mais com a pública. Já é ruim com, mas sem é pior ainda. </p><p style="text-align: justify;">Há alguns anos vivenciei uma crise no Estado que resultou em atrasos salariais para os servidores públicos. Fui ajudado por muita gente da iniciativa privada, confesso. Daí escrever aqui este artigo sem o mínimo pedantismo, apenas relatando os fatos frios em si mesmos. Não tocarei aqui na questão de quem é melhor. Não é esta a tônica do presente post. </p><p style="text-align: justify;">O mundo precisa de servidores públicos de de trabalhadores na iniciativa privada. Há bons e péssimos trabalhadores em ambas. Já fui extremamente mal atendido por um funcionário (portador de deficiência física, ou portador de necessidades especiais), da light. A pergunta que não quer calar é: devo por conta desta má experiência marginalizar todos os funcionários desta empresa? Óbvio que não. </p><p style="text-align: justify;">Devo sublimar esta empresa por conta do atendimento que os bons funcionários da mesma prestam? Óbvio que não! Como prestadora de serviços na área de energia elétrica a mesma deixa muito a desejar. Um apagão em bairros do centro do Rio de Janeiro demora muito mais para ser resolvido que na Zona Sul. Há muito para ser melhorado. </p><p style="text-align: justify;">Uma última questão a ser examinada antes de encerrar este post. Se o problema do serviço público fosse o servidor, seria facilmente resolvido. Como? Bastaria colocar no aplicativo (o vulgo app) no lugar do servidor. Mas não é este o problema. A questão mais do que nunca evidenciada é a diminuição do Estado. Como? Responderei abaixo. </p><p style="text-align: justify;">O mau funcionamento do serviço público é um projeto, na verdade uma política de Estado nos últimos trinta anos. O bom funcionamento do serviço demanda uma política. Não há serviço de Policia e de defesa civil, sem Política eficaz de segurança pública. As instituições de segurança precisam de sólido investimento para realizar atividades que vão desde o treinamento até as atividades junto ao público. </p><p style="text-align: justify;">Da mesma forma os serviços de saúde não funcionam sem pessoal. A prova disto são as frequentes reportagens a respeito da saúde no Rio durante a época do então prefeito Marcelo Crivella. O problema da saúde na época era decorrente da terceirização dos serviços.Ou seja, o Estado delegando às organizações sociais o serviço de saúde. As fraudes decorrentes deste processo estão registradas nas mesmas matérias. </p><p style="text-align: justify;">Uma pesquisa básica no Google é o suficiente para mostrar as inúmeras irregularidades no sistema das O.S. A crise na saúde do Rio de Janeiro (que em tese redundou no afastamento de seu governador recém eleito, cujo mérito jurídico ainda está sob análise do judiciário e do legislativo), tem como pano de fundo a gestão de saúde feita pelas organizações sociais. </p><p style="text-align: justify;">Um fator agravante nesta análise é a ausência de memória. Os antigos postos de saúde eram bons em serviços ambulatoriais. Era possível fazer um exame e ter uma consulta médica. Já fui usuário deste serviço. Hoje ele ainda existe e funciona, mas de forma bem mais precarizada do que ocorria. Antes o problema era uma fila e acordar cedo demais. Agora é esperar por um serviço que não existe por conta da falta de pessoal. </p><p style="text-align: justify;">Mas na ausência de memória registrada faltam os elementos que permitam uma comparação entre os dois serviços. Outro ponto a ser considerado é a demora na percepção. Ela não vem de imediato. Há poucas pessoas jovens com memória para fazer a comparação entre ambos os serviços. Uma vez realizada a comparação, percebe-se que ocorreu uma piora. </p><p style="text-align: justify;">Com toda esta piora, é ao SUS que Paulo Guedes recorre para tomar sua dose de imunizante da coronavac. O site G1 relata que durante sua vacinação ele foi indagado a respeito do orçamento que impacta nos serviços públicos. Está mais do que na hora de rever o projeto de sociedade que tem sido implementado aqui desde a época de Collor, e levada adiante por FHC e Lula. </p><p style="text-align: justify;">O funcionário público não existe em decorrência de uma postura paternalista do Estado para com um grupo supostamente tido por especial, ou privilegiado. Ele ainda é um fator importante na movimentação da Economia. Os impostos dos funcionários públicos (que como os de toda a nação não foram corrigidos), são descontados na fonte. </p><p style="text-align: justify;">Não é permitido a um funcionário público receber seus salário como pessoa jurídica. Qualquer funcionário público que ganhe acima de cinco mil reais está pagando uma taxa altíssima de impostos. Além do imposto descontado na fonte há o imposto descontado a partir do consumo (onde está a maior carga tributária). </p><p style="text-align: justify;">E aí, é proibido falar de funcionário público? Óbvio que não! Desde que o faça com conhecimento de causa. Sugiro maior conhecimento da administração pública, de Economia (que nada tem a ver com as técnicas de operação no mercado financeiro, mas que é um conhecimento que abrange desde a Filosofia Moral até a análise politica). </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-51812825130532052602021-03-25T01:18:00.001-03:002021-03-25T01:18:25.398-03:00A crise do Covid uma análise inicial<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZPHYX6Y2NJJ0cSXdFR0cmdDLbt08WNbwIFXqmE2VUvLFZ3IUL5Xsc83qqzI4uS18El7ioPVX6dC5PhtqwFzchtj2hISz4F_Nc6AGUW_0ixa8SWYZNquV0KmRrbwG-LEnjqd8U6UkghUg/s306/covid+uma+ava.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="164" data-original-width="306" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZPHYX6Y2NJJ0cSXdFR0cmdDLbt08WNbwIFXqmE2VUvLFZ3IUL5Xsc83qqzI4uS18El7ioPVX6dC5PhtqwFzchtj2hISz4F_Nc6AGUW_0ixa8SWYZNquV0KmRrbwG-LEnjqd8U6UkghUg/w400-h215/covid+uma+ava.png" width="400" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">É do conhecimento do leitor minimamente informado que desde o ano passado (2020), quando começaram a serem identificados os primeiros casos de Covid aqui no Brasil, que se constatou a a realidade de uma crise sanitária de proporções mundiais. O problema é que esta crise não veio sozinha, e temos falado isto insistentemente neste espaço. </p><p style="text-align: justify;">Em 2008, tivemos uma crise econômica em proporções mundiais. Tudo decorrente de operações de crédito feitas por bancos americanos e ingleses, que se mostraram fracassadas e resultaram numa quebradeira que só não foi maior por conta da ajuda dada por Obama. Não fosse essa ajuda muitos americanos teriam de ver seus fundos de pensão irem de ralo abaixo. Inicialmente o Brasil escapou desta crise por conta da alta procura de commodities por parte da China e do uso que o então presidente Lula deu aos recursos oriundos de tais operações em programas sociais. </p><p style="text-align: justify;">Mas a crise não parou por aí. Logo após a crise econômica veio a crise política, social e as pautas que antes eram vitas como progressistas e inerentemente benéficas passaram a serem contestadas. A democracia foi imediatamente contestado e no mundo, em particular na Europa, começaram a surgir movimentos autoritários. O totalitarismo começou a fazer um tremendo sucesso entre a garotada e entre os evangélicos também (algo que merece um post à parte). </p><p style="text-align: justify;">Aqui no Brasil explode uma crise sem precedentes. A marola da crise econômica de 2008 foi sentida em 2013 com a queda de interesse por parte da China em nossos commodities, com a frustração das expectativas em relação ao pré-sal, o perdão de dívidas de instituições, a queda na arrecadação e uma série de erros da então presidente Dilma Rousseff, que culminaram nas manifestações que resultaram no impeachment da mesma. </p><p style="text-align: justify;">Neste contexto a Operação Lava-Jato trouxe à tona casos e mais casos de corrupção, de desvios de dinheiro e operações ilícitas envolvendo nossa maior estatal, a Petrobrás. O saldo da referida operação foi a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (cujo mérito penal não pretendo sequer considerar aqui). Meu ponto aqui é que uma operação necessária, que tinha tudo para depurar desde instituições públicas até empresas foi conduzida de modo afoito e até atropelado. </p><p style="text-align: justify;">Na medida em que casos e mais casos de corrupção foram sendo trazidos à tona, aprofundava-se ainda mais uma crise institucional e política, que na época não conseguia perceber, mas que nas eleições de 2018 ficou claro para mim. O livro de Walfredo Warde (Espetáculo da Corrupção), mostra como o rito do direito processual foi banalizado redundando na suspeição dos agentes envolvidos na investigação e no julgamento dos méritos. </p><p style="text-align: justify;">Guerras e mais guerras narrativas vieram à tona em meio ao processo. Uma delas é a de que a prisão do ex-presidente Lula era parte de uma conspiração para retirar o páreo o único candidato capaz de vencer o atual presidente. Em contraponto a esta narrativa surge a narrativa de uma conspiração mundial para implantar o comunismo no mundo. </p><p style="text-align: justify;">É curioso como tal narrativa pode ter encontrado espaço a aceitação na sociedade atual. Seria compreensível no início da década de oitenta (época em que os Estados Unidos investia maciçamente em toda forma de propagada contra o governo russo). Mas após o processo de abertura da Rússia esta narrativa perdeu o sentido. </p><p style="text-align: justify;">Através de falas com alguns colegas que compram esta ideia percebe uma estereotipia do que venha a ser o comunismo. Aqui a palavra não tem aquele sentido dado pelo socialistas utópicos, onde uma sociedade comunista seria uma sociedade sem classes. Comunismo aqui ganha sentido de regime marcado pelo fracasso econômico que redunda em pobreza das massas e riqueza de um grupo pequeno, na verdade ínfimo de pessoas. </p><p style="text-align: justify;">O grave problema é que o regime neoliberal tem estes efeitos. E com isto ocorre um erro gravíssimo. No afã de se salvarem da pobreza e garantirem sua liberdade as pessoas na verdade aderem a um regime econômico que tem provocado a mesma concentração de renda existente antes da década de vinte do século passado. </p><p style="text-align: justify;">Mais do que isto um regime que prega a barbárie, digo o retorno a esta. Sim e a operação é bem simples, em nome da liberdade individual subverte-se toda forma organização social, melhor toda ação visando o interesse coletivo. Paulo Ghiraldelli Jr atribui a Hayeck a fala de que não existe a sociedade, existe o indivíduo. é uma percepção política? Com toda a certeza, mas também é um retorno à barbárie. </p><p style="text-align: justify;">O grande problema com a barbárie é que ela não é o regime da liberdade, como se possa pensar. Ela é o regime da força e da violência. Neste a justiça é equiparada o direito do mais forte. E foi justamente para evitar que o forte exercesse seu poder, de forma arbitrária sobre o fraco que o Estado foi constituído. Esta é uma das razões pelas quais os contratualistas viram a razão de ser do Estado. </p><p style="text-align: justify;">Por esta razão Hegel entendeu o Estado como sendo a realização do Espírito Absoluto e como o garantidor da liberdade do sujeito, aquele que levaria a dialética do senhor e do escravo à sua síntese. Marx, por sua vez, ousou ver o Estado a partir de outra perspectiva. Nesta ótica, o Estado ainda que devesse, não poderia realizar a liberdade do sujeito. </p><p style="text-align: justify;">As palavras de Marx pareceram cair no descrédito por conta do que se viu no regime capitalista no pós guerra (a chamada fase de ouro). Mas a década de setenta trouxe outra realidade. O neoliberalismo emergiu com toda a força. E conforme pontua Rubens Casara avança para todas as esferas da vida, inclusive a política. </p><p style="text-align: justify;">A diminuição do Estado (aqui compreendida como a escassez de serviços em saúde, segurança, saneamento, energia, comunicações e outros), é amenizada pelo discurso de liberdade individual, ao ponto de ninguém mais ser empregado de ninguém, mas todos e cada um serem empresários de si mesmos. Um discurso que na verdade oculta, vela a maior forma de totalitarismo, o da financeirização. </p><p style="text-align: justify;">Mário Sérgio Cortella lançou um livro por título política para não ser idiota. Tanto ele quanto Rubens Casara em seu livro Sociedade Sem Lei afirmam categoricamente que na Grécia toda pessoa que se recusava a pensar no bem comum recebia a alcunha de idiota. Na direção inversa a sociedade atual privilegia o egoísmo e o individualismo como virtudes que permitem o progresso individual. é neste contexto que se dá a crise do COVID-19. </p><p style="text-align: justify;">Não bastassem tais elementos de natureza política e ideológica, entra aqui o fator religioso. Na verdade, como estudante de apologética e participante de algumas comunidades do Facebook, percebo uma guerra de natureza filosófica, mas que tem invadido a esfera religiosa. Deve-se dar á ciência o status de narrativa explicadora de toda a realidade? É uma questão de fundo filosófico que tem sido apropriada por apologistas cristãos. </p><p style="text-align: justify;">Aqui tem de ser observado a atuação de ateus militantes no cenário público. Nomes como Sam Harris, Danniel Dennett e o fabuloso Richard Dawkins se somaram ao ateísmo militante. Ao invés de cooptar cristãos este movimento colaborou, e muito no recrudescimento do fundamentalismo cristão. Este gerou o obscurantismo, uma espécie de aversão à ciência. </p><p style="text-align: justify;">Não se trata de colocar aqui toda a responsabilidade sobre os cientistas e filósofos que resolveram militar pela ciência contra toda a visão que não se enquadre dentro dos cânones da mesma. Mas há que se reconhecer que o homem comum, em regra, não atenta muito para a ciência. Este é um saber para o qual os homens somente se voltam na medida em que precisam resolver algum problema. </p><p style="text-align: justify;">Foi o que motivou Bacon a pensar no gelo como meio de conservação para os alimentos, e numa forma de saber que viabilizasse o domínio da natureza. Sem a percepção de um problema que lhes desafie, o que o homem tem é a necessidade de pura fruição. Para boa parte destes a ciência tem pouco a dizer. Uma questão final discutida por Rubem Alves é se toda produção humana deve de estar restrita à ciência, ou não. Para Rubem Alves há questões que estão fora do domínio desta sim. </p><p style="text-align: justify;">Face ao exposto acima fica fácil de entender a recusa de alguns "cidadãos" às medidas protetivas, como o lockdow, o uso de máscaras (chamadas de focinheiras), álcool em gel, auxílio emergencial por parte do Estado, ou qualquer manifestação de organização social como intervenções de um Estado Opressor na liberdade individual. </p><p style="text-align: justify;">Não há noção de "bem comum", "interesse comum", "solidariedade", nas falas de boa parte das pessoas que aderiram ao pensamento neoliberal. Aqui liberdade deia de ser o poder de agir livremente dentro de uma sociedade organizada de acordo com os limites da lei, para ser a ausência de subordinação à toda e qualquer forma de autoridade. </p><p style="text-align: justify;">Evocações à liberdade de expressão, à parte, o que ocorre aqui, sob o manto de um discurso de liberdade é um verdadeiro estado de anomia social. Ausência de regras, de normas, de lei, ou confusão destas com restrições à liberdade. Em outras palavras não é uma crise sanitária isolada dos problemas sociais, econômico e políticos que tem afetado a humanidade. </p><p style="text-align: justify;">Não se trata de decidir apenas a respeito da vacina e do uso das máscaras. Mas de política sanitária, de transportes, de emprego, renda e seguridade. O Brasil, por conta do avanço crescente do neoliberalismo e da ideia de Estado mínimo, trouxe a questão da individualidade de cada cidadão como mantenedor de si mesmo, e responsável pelo seu sustento pessoal mesmo em meio a uma pandemia (uma crise sanitária dentro de uma crise econômica). </p><p style="text-align: justify;">Com frequência ouço as pessoas dizerem que não vêem a hora de que tudo volte ao normal. Mas o normal virá? Creio que não. Mais do que isto não pode vir. Há muito que ser visto e revisto em nossas concepções sociais, em nosso modelo de sociedade, na política, na economia. Articulei ao longo deste artigo todas crises possíveis porque são questões que precisam de reflexão. </p><p style="text-align: justify;">Edgar Morin abre algumas destas reflexões em um livro sobre as lições do Covid. Nós precisamos aprender a fazer tais reflexões e a ponderar sobre tais questões. Antes o vírus nossa sociedade foi infectada com uma mágoa social tamanha que foi muito bem orientada ao serviço dos interesses do capital financeiro. Desfazer este processo não é coisa fácil. </p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-44553951633360237362021-03-19T13:55:00.002-03:002021-03-19T13:55:11.532-03:00Viver, ou acumular? Qual o Sentido?<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK75n6YeN7L0omZ9Mwe3Biz3IcxKI7px9W_8S8AD7Cw3gtw0eQmOywza8AWINF0YnnrFgKldAlJnLcm2liksbTjc0bzNC2T8P02HKcvTPS9HEfpjfbDBuKrjl4wn6KE3tH39x-2lJcJNU/s275/VIVER+OU+ACUMULAR.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK75n6YeN7L0omZ9Mwe3Biz3IcxKI7px9W_8S8AD7Cw3gtw0eQmOywza8AWINF0YnnrFgKldAlJnLcm2liksbTjc0bzNC2T8P02HKcvTPS9HEfpjfbDBuKrjl4wn6KE3tH39x-2lJcJNU/s0/VIVER+OU+ACUMULAR.jpg" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p style="text-align: justify;">O leitor minimamente informado saber que estamos no meio de uma crise. Há alguns anos vivemos uma crise econômica, política, institucional, moral, e agora sanitária em decorrência do COVID-19. Períodos críticos como este costumam gerar uma série de propostas visando solucionar a crise. O neoliberalismo econômico é uma destas propostas na atualidade. </p><p style="text-align: justify;">A visão neoliberal tem sido reforçada por meio do senso comum (aquele tipo de conhecimento não crítico, não sistemático, e que não leva em conta as contradições internas das afirmações que faz). O senso comum se soma aos casos de corrupção da esquerda, ainda que não sejam exclusivos desta, mas em razão da infelicidade que um partido teve de se corromper em meio a uma crise econômica mundial. O resultado foi uma corrupção que fortaleceu ainda mais o neoliberalismo que vinha sendo praticado desde Fernando Henrique Cardoso, e por que não desde Collor? </p><p style="text-align: justify;">Uma das narrativas que vem sendo fortalecidas é a de que por mais de trinta anos vem sendo praticado por aqui uma estratégia comunista, mas esta narrativa demanda um post à parte. Esta é uma das piores confusões que se pode ver. Passei recentemente pela experiência de Ministrar aulas de Sociologia da Religião em uma Igreja, cujo nome prefiro preservar. </p><p style="text-align: justify;">Aulas de Sociologia, ou Sociologia da Religião demandam a menção dos Sociólogos clássicos: Max Weber, Émile Dürkheim, e o "famigerado" Karl Marx. Não faltaram perguntas do tipo: "onde as ideias de Marx deram certo?", típica coisa de reprodutor de ideologia de direita. Mas não é isto que me espanta. O que me assusta na verdade é outra coisa. </p><p style="text-align: justify;">Me espanta as pessoas não perceberem algo tão claramente percebido por Ricardo Gondim em seu livro Igreja no Século Vinte e Um, que as utopias desde a platônica até a marxista não são projetos de engenharia social a serem executados à risca. Errado por errado, pode-se dizer que o sonho do rei filósofo de Platão foi frustrado quando o jovem Dionísio recusou tal papel, antes deliberadamente preferiu ser um dos mais cruéis tiranos e a perseguir seu próprio professor. </p><p style="text-align: justify;">As utopias são, ao mesmo tempo, uma crítica à situação atual e uma espécie de horizonte. Platão com sua República, Francis Bacon com sua nova Atlântida, Thomas Morus são exemplos de Utopias. Elas nunca tiveram a intencionalidade de virem a ser realidades concretas. No caso de Platão a República serve de crítica aos vícios da democracia ateniense. No caso de Bacon, o que se critica é a mentalidade "supersticiosa" e tendenciosa aos dogmas. Em Morus, como o próprio a avaliação se dirige à proposta de Bacon e à estrutura social que termina por formar a marginalidade. </p><p style="text-align: justify;">Todas estas utopias são aqui mencionadas a fim de se ilustrar o que vem agora pela frente. Uma utopia pouco conhecida e pouco mencionada, devido à sua penetração no senso comum, é o liberalismo clássico de Adam Smith. Não percebo ninguém se perguntando onde ele deu certo, onde se concretizou e coisas do tipo. </p><p style="text-align: justify;">Thomas Malthus, David Ricardo são apenas alguns dos críticos do liberalismo de Adam Smith, que por sua vez é descrito por Robert Heilbronner como sendo uma espécie de escada giratória onde as pessoas vão se revezando no topo, o que é imediatamente negado naqueles autores. Para Ricardo, a realidade era que quem chegava ao topo retirava a escada para inviabilizar a chegada dos demais ao topo. </p><p style="text-align: justify;">Com esta afirmativa atribuída a Ricardo, pode-se dizer que ocorre aqui uma antecipação da segunda fase do liberalismo, onde a livre concorrência cede lugar aos monopólios. Este é por definição o <i>controle exclusivo de toda ou de quase toda a atividade comercial, industrial ou de exploração de um produto ou serviço, em que uma pessoa ou companhia afasta ou torna praticamente impossível a possibilidade de concorrência por outras companhias.</i></p><p style="text-align: justify;">Isto se toronou prática e Edgar Morin aponta para algumas oligarquias que parasitam e aparelham o Estado, exercendo domínio sobre a esfera legislativa, a fim de garantirem para si o controle das produções industriais e agrícolas, além do setor de serviço. Uber, Amazon e Google são algumas das empresas citadas pelo filósofo em apreço. </p><p style="text-align: justify;">Ressalto aqui apenas algumas das contradições para exemplificar o que passo a dizer daqui em diante.A imagem acima traz uma importante questão a respeito do modo de vida que vivemos. Acumular nem sempre é compatível com o viver. Conforme dito acima não faltam líderes na atual conjuntura afirmando que a Bíblia é um livro de direita. </p><p style="text-align: justify;">Eu gostaria de perguntar para estes líderes (caso eles tivessem o mínimo de honestidade para admitir), como eles conciliam esta afirmação com a a fala de Jesus nos Evangelhos de que <i style="font-weight: bold;">a vida do homem não consiste na abundância dos bens que possui</i>, ou ainda aquela fala que afirma a inviabilidade de servir a dois senhores, e a sentença fatal: <i style="font-weight: bold;">ou servirmos a Deus, ou ao dinheiro</i> (neste contexto chamado de Momon). </p><p style="text-align: justify;">Uma das ideias centrais do livro de Eclesiastes é a de que se o homem acumula bens, mas não desfruta dos mesmos, tal acumulação é vaidade. Quando se pondera tal afirmação com a Parábola de Jesus a respeito de um homem cuja colheita rendeu a cem por um, pode-se constatar que no período em que os textos bíblicos foram escritos havia a expectativa de acumulação para a fruição em dado momento da vida. </p><p style="text-align: justify;">A crítica de Jesus no Evangelho de Lucas (ou da comunidade lucana), se dirige ao fato de que o momento aguardado para a fruição pode chegar, ou não. Aqui aparece a verdade de que o homem não possui poder para reter seu fôlego de vida, e que a morte pode interromper seus projetos. Segue-se que no lugar de alimentar projetos incertos o homem deve procurar a viver a vida da forma mais intensa e legítima possível . </p><p style="text-align: justify;">Para o pregador esta vida consiste em usufruir daquilo que se conquista. Para Jesus a verdadeira vida consiste em viver para o chamado do Evangelho. A comunidade de discípulos do primeiro século entendeu que <i style="font-weight: bold;">o homem pode ganhar o mundo e perder a própria vida</i>. Perder a vida aqui é deixar de viver com sentido. Tem de ter algo que dê sentido à vida. </p><p style="text-align: justify;">Dar sentido existencial à vida é muito diferente de arrumar distrações para a vida. Distrair é o ato de desviar a atenção de algo. As distrações e divertimentos servem para nos fazer esquecer situações desagradáveis ao longo do dia, ou até mesmo a própria vida. Acumular na expectativa de que a simples acumulação nos dará algum tipo de realização (no caso o acesso aos bens de consumo), é na concepção de Edgar Morin uma forma de divertimento (distração). </p><p style="text-align: justify;">Na leitura que Morin faz de Pascal, é por meio da acumulação de capital que o homem se distrai de sua condição existencial, em outras palavras, deixa de pensar na sua vida, na sua morte, na sua fragilidade. Você pode achar que tais pensamentos são indesejáveis, mas eles são o meio para a obtenção da sabedoria que pode carregar a vida de sentido. </p><p style="text-align: justify;">Na fala de Cristo damos sentido à vida na medida em que seguimos ao seu exemplo de autonegação pessoal, de esvaziamento e procuramos viver uma vida simples, ainda que isto incorra em marginalização (ser colocado à margem da sociedade pelos representantes do poder político e econômico e político da atual sociedade). </p><p style="text-align: justify;">Tanto Syne quanto Jonh Stott, defendem um modo de vida simples. Não se trata de defender aqui uma caricatura do Socialismo, onde uns poucos enriquecem e a grande maioria empobrece. Não é uma reedição da teologia franciscana. É entender que uma vida consumo, não significa necessariamente uma vida plena. Um entendimento inviabilizado pela Teologia da Prosperidade e pelo calvinismo estadunidense. </p><p style="text-align: justify;">Percebo de forma cada vez mais clara que tanto o Calvinismo estadunidense quanto a Teologia da Prosperidade em si são Teologias que a atendem aos desejos mau elaborados de nossa geração. Uma grande descoberta da Ética clássica foi a ideia de que não realizamos todos os nossos desejos. Mas voltemos a pergunta do post.</p><p style="text-align: justify;">O que é viver? Viver consiste em fruir dos recursos que temos, das dádivas (leia-se dons) que recebemos. Viver é realizar com o máximo das nossas forças tudo aquilo que a oportunidade nos coloca à mão, sem perder de vida que em algum momento a vida que fruímos hoje será retirada. O pregador afirmou que há um tempo para tudo. Sim,<b style="font-style: italic;"> tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer</b>. </p><p style="text-align: justify;">Se a vida é a fruição plena dos dons e dádivas de Deus, e o ato de saber viver cada instante, a morte é a ausência desta condição. Uma vida voltada para a acumulação não permite o desenvolvimento de sabedoria, de projeto, de conhecimento, de obra de nada. Os homens não percebem, mas quando o sentido da vida é a acumulação pela acumulação, a realidade se torna uma espécie de limbo (o vulgo Sheol hebraico). </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-34895168579500152162021-01-09T00:17:00.003-03:002021-01-09T00:17:26.787-03:00Porque parei de falar sobre Política<p> <br /></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0CdHSq6ugxNOoxL57VHj1Me01BEE4hYmPjMgrAJA8TQhhjg7TFhpVUM3OtgbRhGDeOgmhmQe8z3K5yHxc4rAy8nOTNOVivUsIju-6jTbO9uiTAyah7PCO2tuKOgqfcNRPLV4GIsfeDS4/s327/polariza%25C3%25A7%25C3%25A3o+pol%25C3%25ADtica+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="154" data-original-width="327" height="207" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0CdHSq6ugxNOoxL57VHj1Me01BEE4hYmPjMgrAJA8TQhhjg7TFhpVUM3OtgbRhGDeOgmhmQe8z3K5yHxc4rAy8nOTNOVivUsIju-6jTbO9uiTAyah7PCO2tuKOgqfcNRPLV4GIsfeDS4/w354-h207/polariza%25C3%25A7%25C3%25A3o+pol%25C3%25ADtica+2.jpg" width="354" /></a></div><p></p><p><br /></p><p style="text-align: justify;">O leitor atento deste blog poderá perceber que desde dois mil e treze falo de Politica aqui neste espaço e em minhas redes sociais. Nas confesso que no Facebook eu parei, dei um tempo. Qual o motivo? Sou professor e minha proposta ao falar do que quer que seja sempre será a de fazer de forma embasada e de modo a produzir conhecimento e crescimento. Não falo de política em Facebook mais por conta de ter percebido que uma parcela significativa não entendia e nem se adequava a proposta, a despeito de ter explicado sucessivas vezes. </p><p style="text-align: justify;">Por várias ocasiões a discissão das ideias era deixada em prol de adjetivações do tipo: "Esquerdista", "Comunista", "progressista", fora os ataques pessoais e até mesmo os questionamentos à condição de pastor e cristão. Os "cristãos conservadores" (observem as aspas, por favor meus leitores) são insuperáveis quando querem denigrir alguém. Ver uma proposta em torno de debates de ideias ser jogada no lixo da "troca" de ofensas é o cúmulo. </p><p style="text-align: justify;">"Mas pastor, me diz uma coisa, e você nunca ofendeu?" SEM QUERER eu ofendi sim. Confesso. "Como sem querer?". Descobri após uma dolorosa experiência em grupos "cristãos" de debates em Whatsapp que uma forma de ofender uma pessoa é solicitar embasamento bibliográfico, e após constatação sugerir que a pessoa leia. Não se trata da tática olavista de mandar o interlocutor ler, quando na verdade quem está mandando ler não possui a menor base. </p><p style="text-align: justify;">Possuo formação pedagógica, teológica e filosófica e sei que uma das marcas do debate socrático é fazer perguntas com vistas ao esclarecimento dos limites do interlocutor, para então seguir com uma abordagem que permita o parto do conhecimento. Acontece que não me demorou a perceber que tais interlocutores se negam a responder honestamente as perguntas que são colocadas. Antes, insistem nas ofensas pessoais. Até de "maluco", "desequilibrado", você pode ser chamado. </p><p style="text-align: justify;">O pior neste processo todo é que mais do que estabelecer para os interlocutores quais os seus reais limites, as perguntas socráticas visavam expor a ignorância. Sem que se assuma a ignorância não há viabilidade no diálogo. É impossível dialogar com quem pressupõe conhecimento, quando na verdade nem de longe o possui. </p><p style="text-align: justify;">Pascal afirmava que há os que nascem ignorantes e têm ciência de sua condição. Há os que nascem ignorantes e estudam, a, ao estudarem chegam a uma ignorância sabida. O próprio Martin Lloydd-Jones chega a fazer uma afirmação bem similar em seus estudos no sermão do Monte. Voltando ao filósofo jansenita, os que ficam na metade do caminho são os que causam transtornos ao mundo. </p><p style="text-align: justify;">Também é costume deste pessoal a alternância entre a ofensa, marginalização de quem não se enquadra na forma de pensar deles, o encaixotamento. Há por parte deste pessoal uma necessidade enorme de categorizar, ou classificar o outro. Não há espaço para o entendimento do ser humano em sua peculiaridade, particularidade. Daí a categorização. </p><p style="text-align: justify;">Tive uma experiência de discutir sobre política de segurança pública com um em um grupo e o desenvolvimento do "debate" foi bem interessante. As ideias foram deixadas de lado, e as questões levantadas passaram a ser a respeito de minha formação. Para a infelicidade do meu interlocutor ele errou na formação que eu possuo e na instituição em que estudei. </p><p style="text-align: justify;">Mas por que então parei de falar de politica mesmo? Por não encontrar anuência em minha proposta. Falar de Política é falar do problema da <i style="font-weight: bold;">pólis</i> (daí vem o termo política). É falar de saúde, educação, saneamento básico, segurança pública, Iluminação pública, bem como do acesso a estes e e aos demais bens. Também é considerar se cabe ao Estado, ou à iniciativa privada a oferta destes bens. </p><p style="text-align: justify;">Mas a democracia grega nos traz outra lição. O reino, ou mundo da política é o reino, ou domínio da retórica. A política se exerce por meio do convencimento através da palavra falada. Foi por este motivo que os sofistas começaram a ensinar seus alunos a discursar em público e a fazer isto de forma convincente. Foi também por este motivo que Sócrates, inicialmente, e depois Platão, fundaram uma tradição oposta a dos sofistas. Eles visavam sair da mera opinião para o conhecimento proporcionado pelo diálogo e reflexão. </p><p style="text-align: justify;">Não há como se pensar em politica e menos ainda em democracia sem o diálogo. Mesmo entre os discípulos dos sofistas que visavam o convencimento a qualquer custo (pelo menos esta é a ideia oficial que chega dos mesmos até nós), tal dá-se por meio da palavra falada. O Fenômeno político atual não é da palavra é da imagem, do sentimento e da propaganda. </p><p style="text-align: justify;">No lugar de uma frase, uma oração, ou um texto, uma imagem. No lugar da reflexão filosófica, um texto propagandista, ou todo um programa baseada em teorias da conspiração sem sentido algum. No lugar da verdade, aquilo que atrai mais curtidas, mais vozes favoráveis. Karnal está certo ao falar de pós verdade. Não importa se é, verdade, ou mentira, me agrada e me serve, então é o aceito. </p><p style="text-align: justify;">Em Estado sem Lei o autor Rubem Casara fala da desconstrução da democracia em decorrência da perda simbólica. Não sei se vi alguma geração tão pobre do ponto de vista linguístico como a atual. São pessoas incapazes de compreender uma metáfora, como a expressão "gado", por exemplo. São reducionistas ao ponto de ligar comunismo com progressismo, a despeito da experiência demonstrar que o progressismo está ligado o liberalismo. </p><p style="text-align: justify;">Mas um dos maiores fatores foi a percepção de que o debate é dominado pela passionalidade. Propagandistas das ideias da direita conseguiram estabelecer sua agenda através do apelo ao emocional. A revolta o tornou ideias, antes inaceitáveis, palatáveis ao público. Outro fator é o messianismo presente na militância político partidária personalista. </p><p style="text-align: justify;">Não tenho nada contra a política partidária. Numa democracia moderna a política partidária serve, ou deveria de servir, à delimitação de uma plataforma com a qual o eleitor facilmente possa se identificar. Mas há fenômenos atuais que estão destruindo esta forma de se fazer política. O meu problema é uma militância cega que além de partidária é majoritariamente personalista. </p><p style="text-align: justify;">Este fenômeno que se manifestou com as ascensão do lulopetismo, agora se torna ainda mais explícito com a ascensão da versão direita do mesmo, o bolsonarismo, ou bolsolavismo. A acriticidade do primeiro produziu cegueira em relação aos escândalos do mensalão e petrolão. Era como se tudo fosse permitido, afinal o então presidente havia feito distribuição de renda e reduzido a miséria (do que não discordo). </p><p style="text-align: justify;">De igual modo o fanatismo do bolsolavismo e do bolsonarismo cega as pessoas aos escândalos atuais. Ministros condenados pela justiça e inelegíveis são blindados. Outros fraudam seus respectivos currículos e permanecem no ministério com o apoio de um monte de cidadão de bem. Estes são apenas alguns dos fatores que mostram a clara confusão conceitual (decorrente do empobrecimento da linguagem). </p><p style="text-align: justify;">Neste país enquanto se vive em constante clima de guerra contra um comunismo e se discute sobre o nazismo ser de direita, ou de esquerda, não se percebe a crescente financeirização do trabalho e da política. Algo que vem desde Collor, passando até pelo próprio Lula e desembocando no atual governo, que através de Paulo guedes faz as reformas de de modo muito mais agressivo. </p><p style="text-align: justify;">Fantástico como neste país as pessoas acreditam que a privatização (um dos braços da financeirização), pode de fato trazer melhorias. Algo que ao ver os serviços de telefonia pública, transporte público (realizado por empresas privadas mediante concessões), energia, e até bancos ficaram piores do que quando exercidos pela iniciativa privada. É extrema a facilidade com que a direita impõe suas ideias até mesmo à esquerda institucional. </p><p style="text-align: justify;">Falar nestes ambientes e para pessoas com tal perfil é expor-se a correr os riscos acima descritos e ainda produzir muito pouco. E aí não se trata de calar a voz. Mas de separar entre o joio e o trigo, entre aqueles capazes de valorizar um ensino e os que não são capazes. A verdade é que há pessoas que não se interessam em se instruir. Mas há com certeza quem se interesse em tal. Estas pessoas não estão dispostas a serem "gado" de "direita" e nem de "esquerda". É na esperança de alcançar este público que sigo aqui neste espaço. </p><p style="text-align: justify;">Forte Abraço. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-24368902250529964652021-01-02T12:07:00.000-03:002021-01-02T12:07:03.628-03:00A Pessoa do Espírito Santo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2tk5K1z0buy-svzsUHze9WDlI5TnTjqJuHJPNg-BulNFCo5r1fpOt4NSTmGRb-owMfUoERByQLl2O0H-KJlw8AB_Wt5GOVSqziAfC6LUp-VuVtW3tIU7XO8uDlZQfExWZv6Os3TLCPQg/s877/verdadeiro+pentecostalismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="877" data-original-width="526" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2tk5K1z0buy-svzsUHze9WDlI5TnTjqJuHJPNg-BulNFCo5r1fpOt4NSTmGRb-owMfUoERByQLl2O0H-KJlw8AB_Wt5GOVSqziAfC6LUp-VuVtW3tIU7XO8uDlZQfExWZv6Os3TLCPQg/w253-h320/verdadeiro+pentecostalismo.jpg" width="253" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;">Conforme indicado pelo título da presente postagem, o Espírito Santo, na percepção majoritária dos cristãos ocidentais, inclusive dos pentecostais é uma pessoa divina. Lógico que é uma percepção trinitariana e com uso da linguagem psicológica, conforme indicado por Louis Berkhoff em sua dogmática. Mas esta é a forma que expressa o entendimento de significativa parte dos cristãos. </p><p style="text-align: justify;">Mas em que aspecto este estudo pode ser norteador na construção de um Pentecostalismo mais sintonizado com as Escrituras e consequentemente com a boa tradição teológica? Esta é a pergunta que precisa ser feita para que se obtenha sucesso na ministração da corrente lição de Escola Bíblica Dominical. Conforme já falado aqui neste espaço uma das razões para a série de reflexões deste trimestre foi a necessidade de apresentar às novas gerações uma Teologia consistente que fosse identitária e alternativa ao Calvinismo que estava adentrando em nossas searas. </p><p style="text-align: justify;">Já externei aqui que não há inconsistência, ou inviabilidade de diálogo entre a Teologia Pentecostal e a Reformada, ou evangélico-luterana, e outras formas de Teologia advindas da Reforma Protestante. Mas grandes expoentes deste ramo teológico da atualidade descreem completamente da atualidade e contemporaneidade dos dons espirituais (uma das marcas distintivas do pentecostalismo). </p><p style="text-align: justify;">Todavia nomes como Sam Storms, Jonh Piper, Franklin Ferreira, Waynne Grüden e do próprio Renato Cunha apontam em outra direção. São reformados que creem na continuidade dos dons espirituais e no que os Teólogos Pentecostais chamam de Batismo com o Espírito e eles de Revestimento de poder. Trata-se da ação do Espírito Santo em capacitar os crentes para o testemunho cristão. </p><p style="text-align: justify;">O problema que a lição de número um apresenta é que ela enuncia no título o estudo da pessoa do Espírito Santo, mas em seus desenvolvimento extrapola para noção de trindade. Já tive a oportunidade de atuar no Instituto Superior de Teologia como professor da matéria trindade, não é algo que se ensina de forma satisfatória em um único estudo de Escola Bíblica Dominical, e muito menos em um post de blog. </p><p style="text-align: justify;">Todavia, ao se falar da ação do Espírito Santo é de suma importância que se destaque sim sua personalidade e divindade. Todavia isto não é tarefa banal e creio que não seja algo que possa ser reduzido à citações dos credos e confissões de fé das comunidades cristãs ao longo da história. Acredito que a Teologia de Lewis (Cristianismo Puro e Simples) seja muito mais pontual do que qualquer Teologia clássica. Ninguém precisa concordar comigo neste último ponto. </p><p style="text-align: justify;">Antes de sermos pentecostais somos cristãos. Ao ler Cristianismo Puro e Simples me deparo com a seguinte verdade: a fé cristã é muito mais do que um conjunto de dogmas e doutrinas cujo pacote possa ser adquirido no mercado das religiões. O cristianismo propõe um pouco e além do que toda a religiosidade propõe. O pouco é a união com a realidade absoluta no pós morte, o além é a percepção de que esta realidade pode ser descrita tanto como "pessoal", quanto como "supra pessoal", e que podemos experimentar a comunhão com esta realidade aqui e agora.</p><p style="text-align: justify;">Aqui é necessário lanças mãos das observações feitas por Francis Albert Shaeffer. Deus é infinto. Esta é uma afirmações cuja maior implicação é a de que ele (Deus), está fora do tempo de do espaço, não podendo ser contido nesta realidade. Em obras como O Deus que se Revela, e O Deus que Intervém, o autor em apreço esclarece que o ponto de contato entre Deus e o ser humano é a pessoalidade. Deus é um ser pessoal. </p><p style="text-align: justify;">É por meio da personalidade divina que Geisler, Berkhof, Shaffer e principalmente Lewis levantam a questão de Deus ser um ser pessoal e ao mesmo tempo sozinho. Uma questão visceral para este último autor é a afirmação bíblica de que "Deus é Amor". Ninguém pode ser amor tendo apenas a si mesmo como objeto deste amor. </p><blockquote><p style="text-align: justify;">O amor é algo que uma pessoa sente por outra. Se Deus fosse a única pessoa, não poderia ter sido amor antes da criação do mundo. É claro que em geral, o que as pessoas querem dizer é algo bastante diferente: "o Amor é Deus". Querem dizer, na realidade, que nossos sentimentos amorosos, como quer e onde quer que surjam, e quaisquer que sejam seus efeitos, devem ser tratados com todo o respeito (Lewis, Cristianismo Puro e Simples, pág. 231). </p></blockquote><p style="text-align: justify;">O Filho procede do Amor do Pai. Ele foi "gerado", não criado por este amor. Esta expressão (gerado) é usada por Lewis para explicar a diferença entre o filho e o restante da criação. Aquilo que o homem e todo e qualquer ser vivente é capaz de gerar é igual a si mesmo, aquilo que o homem e demais seres viventes "criam", não é e nem pode ser igual. </p><p style="text-align: justify;">Ou seja, Cristo é gerado e não criado, mas a questão não para por aqui. Este processo dá-se fora do tempo e do espaço, o que permite que o Pai, e o Filho sejam pessoas distintas e ao mesmo tempo um único SER. Ao contrário da realidade em que cada ser humano se encontra inserido (uma vez que estamos limitados ao tempo e ao espaço). </p><p style="text-align: justify;">Daí que ao falar em supra pessoalidade, Lewis possa afirmar que esta não seja sinônima de uma impessoalidade, como o senso comum possa fazer parecer ser. Supra Pessoalidade aqui é a pessoalidade elevada exponencialmente de forma que ser uma pessoa seja muito mais do que tudo o que somos como pessoa. </p><p style="text-align: justify;">Lewis segue explicando que toda agremiação humana tende a forjar um tipo de força que liga e passa a expressar aquele tipo de "associação". A seguir ele leva esta explicação para a questão trinitária e assim desenvolve parte de sua Pneumatologia Trinitariana. A despeito da sutileza filosófica decorrente de leitura e da agudeza filosófica e da expertise da crítica literária, Lewis destaca que a doutrina da trindade é uma forma de destacar a relação interna do SER de Deus. </p><p style="text-align: justify;">É aqui que retorno ao que foi afirmado acima. O grande projeto divino é a relação do homem com Deus e em decorrência desta a relação comunitária. Não há porque falar em dons espirituais sem o entendimento de que são ferramentas das quais Deus dispõe a fim de que os membros de uma determinada comunidade sejam mutuamente edificados. </p><p style="text-align: justify;">Isto é uma verdade desde o antigo testamento quando o povo judeu ainda não havia levantado questões a respeito de Deus ser, ou não um ser pessoal. Se uma unidade simples (se é que se possa falar assim em termos pessoais), ou se uma personalidade composta. É o ponto em que cristãos e judeus se dividem, obviamente, mas que é base da estrutura de pensamento e piedade cristã. </p><p style="text-align: justify;">Retornando ao pensamento de Lewis, uma das formas com a qual o cristão se relaciona com Deus é a oração. Lewis destaca que esta mesma é trinitariana. </p><blockquote><p style="text-align: justify;">O que quero dizer é o seguinte: o simples cristão ajoelha-se e faz suas orações, tentando entrar em contato com Deus. Porém, se ele é cristão, sabe que o que o induz a orar é também Deus. Deus por assim dizer dentro dele. E sabe que todo o conhecimento real que possui de Deus, veio por meio de Cristo, o Homem que foi Deus. Sabe que Cristo está de pé, ao seu lado ajudando-o a orar, orando por ele. Você viu o que está acontecendo? Deus é Aquilo para o qual ele ora - o objetivo que tenta alcançar, é também aquilo dentro dele, que o impele, a força motriz. Deus, por fim, é a estrada, ou a ponte que percorre para chegar a seu objetivo. <b>Assim toda vida tríplice do Ser tripessoal entra em ação neste quarto humilde onde um homem comum faz suas orações</b>. O homem está sendo capturado por um tipo superior de vida - o que chamei de <i>Zoé</i>, ou vida espiritual. Está sendo atraído para dentro de Deus pelo próprio Deus, sem deixar de ser ele mesmo (Lewis, Cristianismo Puro e Simples, pág. 217). </p></blockquote><p style="text-align: justify;">Nosso chamado é para um relacionamento com Deus que redunda em um partilhar da vida divina. Esta partilha foi chamada por Pedro de participação na natureza divina (I Pe 1. 3 - 5). A promessa engloba Alegria, poder, paz e vida Eterna, que é explicada pelo autor como sendo a participação em um vida que não é criada. </p><p style="text-align: justify;">A experiência pentecostal é trinitária, tal como a vida cristã. A graça de Deus que se manifesta trazendo salvação para os homens (Tt 2. 13) é acessada por meio de Cristo, visto que <i style="font-weight: bold;">da sua plenitude temos recebido graça sobre graça</i> (Jo 1. 16, 17). O amor de Deus se manifesta no fato de Este ter dado seu filho para a propiciação de nossos pecados (Jo 3. 16; Rm 5. 6 - 8; I Jo 4. 8 - 10), e no derramar contínuo do Espírito Santo (Rm 5. 5). </p><p style="text-align: justify;">Na Teologia Joanina o Filho se faz carne para ser concretamente a maior explicação de Deus (Jo 1. 14 - 18). O Espirito é enviado a fim de fazer com que as palavra de Cristo sejam plenamente entendidas (Jo 14. 26). Pela Palavra o Pai, o Filho e o Espírito permanecem no crente (Jo 14. 21, 23). Este termo é crucial na Teologia joanina, uma vez que não há registros no antigo pacto de uma permanência do Espírito Santo na vida dos líderes de Israel, para além do exercício da atividade que desenvolviam. Aqui se percebe a natureza relacional do crente com o Espírito Santo. </p><p style="text-align: justify;">Espero que o presente estudo sirva de contribuição para que professores e alunos tenham uma visão mais panorâmica a respeito dos propósitos do autor das lições de Escola Bíblica Dominical das Assembleias de Deus do corrente trimestre. </p><p style="text-align: justify;">Em Cristo, Marcelo Medeiros. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-22720235812028430822020-12-28T20:55:00.000-03:002020-12-28T20:55:09.667-03:00Teologia Apologética Pentecostal, uma avaliação inicial<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK4iyReylS8b7zIs-zvyihuCo1gXXIQ0OLT_qR4PI34ikWFEf1J9Mc9fPpWGBT5O2oxyy6jESnLmaCY_gHAhneDazQVnZCnEy1DwOt0uW2OfIl-ADWlVKdIevfEKQpO-_oQsIMt3BZa3M/s1440/Teologia+Apolog%25C3%25A9tica+Pentecostal%252C+uma+avalia%25C3%25A7%25C3%25A3o+inicial.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1440" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK4iyReylS8b7zIs-zvyihuCo1gXXIQ0OLT_qR4PI34ikWFEf1J9Mc9fPpWGBT5O2oxyy6jESnLmaCY_gHAhneDazQVnZCnEy1DwOt0uW2OfIl-ADWlVKdIevfEKQpO-_oQsIMt3BZa3M/s320/Teologia+Apolog%25C3%25A9tica+Pentecostal%252C+uma+avalia%25C3%25A7%25C3%25A3o+inicial.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p style="text-align: justify;">Escrevi ontem (dia vinte e sete de Dezembro) neste blog, <a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2020/12/o-verdadeiro-pentecostalismo.html">um artigo</a> a respeito da revista de Escola Bíblica Dominical do próximo trimestre do ano que se avizinha. Por conta das demandas que a mesma suscita resolvi terminar a leitura de Revestidos de Poder e de O Espírito e a Palavra, ambas as obras de autoria de ninguém menos do que Gutierres Fernandes Siqueira. Este é um autodidata e, ao mesmo tempo um dos mais talentosos escritores revelados no meio pentecostal. </p><p style="text-align: justify;">Ambas as obras possuem forte teor teológico e apologético. Ambas reúnem renomados teólogos pentecostais cujos nomes não eram de conhecimento do grande público, até pouco tempo atrás. E a razão de tal desconhecimento é compreensível visto em boa parte são estrangeiros e não tinham suas obras traduzidas para a língua portuguesa até o momento. Muitas das obras citadas ainda não possuem versão em língua pátria, e talvez sequer venham a possuir. Daí que este mérito tenha de ser dado ao autor, que, ao que parece possui as competências para acessar tais literaturas em língua inglesa. </p><p style="text-align: justify;">Exemplo clássico são as obras de Menzies e Stronsad, que ele frequentemente cita em seus escritos. No último caso uma obra da década de noventa que somente agora veio à tona ao público brasileiro, por conta de sua tradução e lançamento pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Iniciei a leitura deste livro, e já fui cativado pelo mesmo. </p><p style="text-align: justify;">O livro em apreço traduz um esforço de colocar uma nova dimensão do fenômeno do pentecostalismo nos cânones acadêmicos. E conforme pontuado <a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2020/12/o-verdadeiro-pentecostalismo.html">neste artigo aqui</a>, instrumentaliza exegese crítica para fazer aquilo que é evidente a todo exegeta e Teólogo bíblico, a diferença no uso dos termos teológicos que os autores fazem, e que os teólogos precisam levar em conta. </p><p style="text-align: justify;">Até o presente momento, somente em D. A. Carson eu havia visto tal cuidado. Em seu livro Teologia Sistemática, ou Teologia Bíblica, ele ressalta o elemento da diversidade teológica e a necessidade de que a tarefa teológica comece na exegese, avance para a Teologia Bíblica (contemplando as peculiaridades de cada autor), perpasse pela Teologia histórica (que são as discussões ao longo da história e as respostas que a Igreja foi dando em cada momento específico), para então partir para o trabalho de sistematizar os dados da revelação. </p><p style="text-align: justify;">Um exemplo do campo da soteriologia é que ao pretender falar da mesma sob o aspecto bíblico, não posso reunir dados de textos do saltério e dos profetas como se os autores de ambos os documentos estivessem falando da mesma coisa. Em regra quando o termo salvação todavia o termo ישועה yascha nos salmos tem o significado de livramento temporal. Tanto que a NTLH traduz por vitória. </p><p style="text-align: justify;">A grande questão que perpassa a teologia do saltério, é a possibilidade de um justo, ou alguém com quem Deus fez uma aliança vir a sucumbir diante de uma trama arquitetada por um homem ímpio. A vida ideal para o homem que teme a Deus e que se compraz nos seus mandamentos é a vida longeva e uma morte na velhice, cercado de seus filhos e netos (Sl 128). </p><p style="text-align: justify;">Já no profeta Isaías o mesmo termo é empregado pelo autor para significar a restauração de Sião e da nação de Israel. <i>A minha justiça eu a torno próxima, já não está longe, e a minha salvação não será mais retardada; eu darei a Sião a salvação, a Israel darei o meu esplendor </i>(Is 46. 13 TEB). Aqui o que está sendo dito é que Israel terá uma glória similar aos dias de seu apogeu nos reinados de Davi e Salomão. </p><p style="text-align: justify;">Ainda á título de exemplo cabe aqui a citação da NTLH, que traduz o texto citado acima da seguinte forma: <i>Mas eu vou fazer chegar logo a salvação que prometi; ela não vai demorar, e em breve eu conseguirei a vitória. Eu salvarei os moradores de Sião e repartirei com o povo de Israel a minha grandeza</i>. O que se quer deixar claro aqui é que salvação não possui a mesma conotação para determinados autores. </p><p style="text-align: justify;">O caso dos Evangelhos ainda é bem emblemático, a terminologia salvação é usada ali de maneira intercambiável para o livramento dos pecados (Mt 1. 21) e para os inúmeros casos de cura, onde se lê <i><b>vai, a tua fé te salvou</b>. </i>No campo da Hermenêutica, Guttierres Trabalha muito bem a diferença entre as Pneumatologia Paulina e Lucana. Ele chega a destacar em alguns momentos leituras e autores que apontam para a paulinização do novo Testamento, ao fazerem crer que a única doutrina do Espirito Santo seja de caráter soteriológico.</p><p style="text-align: justify;">Tanto Gutierres quanto Stronsad destacam que para Lucas a missão do Espirito consiste na capacitação dos crentes para a proclamação cristã. O Batismo com o Espírito Santo prometido por João Batista é interpretado por Lucas como sendo um revestimento de poder que visa à capacitação do crente para o Testemunho cristão que rompe com as barreiras territoriais (At 1. 4 - 8). </p><p style="text-align: justify;">Isto pode ser aplicado aos crentes da Igreja primitiva, mas também pode se aplicar ao próprio Cristo, a quem Deus ungiu com virtude e com o poder do Espírito a fim de curar e libertar as pessoas que estavam debaixo do jugo do diabo (At 10. 38). Tanto que de acordo com o relato de Lucas, Jesus aplica a si mesmo e à sua missão o texto de Is 61, 1, 2. </p><p style="text-align: justify;">Ainda no tocante à Hermenêutica Pentecostal, creio que inicialmente as incursões de Gutierres Siqueira são mais felizes do que as de David Mesquiati de Oliveira e Kenner Terra, no livro Experiência e Hermenêutica Pentecostal. Creio que a linguagem rebuscada (em razão do teor acadêmico da obra) deu margem para que pessoas "bem" intencionadas acusassem a mesma de ser de cunho liberal (<a href="https://www.gospelprime.com.br/teologos-liberais-infiltrados-na-assembleia-de-deus/">veja aqui</a>), quando nem de longe o é. Com Gutierres não existe o espaço para que tal aconteça, e este é um ponto positivo a ser visto na obra. </p><p style="text-align: justify;">Outra questão, tanto David Mesquiati de Oliveira quanto Kenner Terra, em suas respectivas falas colocam a Hermenêutica da Reforma como algo de valor negativo, ao acusar a mesma de produzir o racionalismo e depois deste o liberalismo Teológico. pior, o método histórico crítico é descrito como não tendo contribuição nenhuma a dar. </p><p style="text-align: justify;">É verdade que os escritores bíblicos não empregavam o método histórico crítico na sua interpretação das Escrituras. Mas é igualmente verdade que sem a exegese crítica dificilmente teríamos uma perspectiva da variedade conceitual dentro das Escrituras. Não dá para marginalizar o método, a despeito dos limites do mesmo no tocante às experiências de poder. </p><p style="text-align: justify;">É estritamente por conta de tais limites que considero válidas as incursões de David Mesquiati de Oliveira e Kenner Terra, no livro Experiência e Hermenêutica Pentecostal. Mas a despeito do meu reconhecimento no tocante à validade das colocações feitas ali, entendo que o tratamento dado por Gutierres Siqueira seja mais propício e equilibrado. </p><p style="text-align: justify;">Diante do exposto, uma questão precisa ser colocada aqui. O entendimento das obras citadas acima demanda conhecimento a análise do contexto polêmico em que tais discussões se dão. De alguns anos para cá as revistas de Escola Bíblica Dominical têm enfatizado exaustivamente aspetos teológicos. O que tem motivado tal ênfase? O surgimento do Calvinismo dentro das Assembleias de Deus. </p><p style="text-align: justify;">Com o advento desta corrente teológica muitas pessoas a associaram a uma outra corrente que não é exclusivamente reformada: o cessacionismo. A descoberta de uma Teologia que trazia uma visão de mundo globalizante e totalizante, como no caso do calvinismo e os arroubos de uma juventude entusiasmada com tais descobertas funcionaram como rastilho de pólvora. </p><p style="text-align: justify;">Não demorou para que surgissem arminianos clássicos defendendo e requerendo a seara assembleiana para si. Um marco foi o lançamento da revista Obreiro cristão com textos e artigos que visavam explicar a Teologia Arminiana. Outro marco foi o lançamento de Mecânica da Salvação, por Silas Daniel, lançamento este feito em meio a um tórrido e brilhante debate com ninguém mais, ninguém menos do que Franklin Ferreira. </p><p style="text-align: justify;">Mas em meio à todo este debate perdeu-se algo importante: o caráter transitório, histórico, cultural e psicológico da tarefa teológica. Do nada Arminianismo e Calvinismo passaram a ter para seus respectivos defensores o status de verdade bíblica, quando na verdade eram e são Teologias produzidas ao longo da História com a finalidade de responder questões e lacunas deixadas pelas práticas de determinadas comunidades de fé. </p><p style="text-align: justify;">Outro aspecto a ser abordado aqui é o caráter apologético do Calvinismo e polemista do Arminianismo. As institutas da religião cristã configuram uma obra apologética no intuito de convencer o rei Francisco da França, a respeito do teor racional da fé protestante. De igual modo a Teologia Arminiana visava responder às questões polêmicas em torno da corrupção radical, da graça irresistível, expiação limitada e demais questões que foram surgindo dentro da reforma. Há um teor polemista-apologético nestas questões. </p><p style="text-align: justify;">Daí que diante de um quadro de ataques á fé, em face das críticas da Sociologia da Religião, da Fenomenologia da Religião e da Filosofia, não é nada absurdo que alguns jovens na ausência de respostas tenham ido beber em águas reformadas, a fim de constituir sua apologética. Foi assim que diante de questões como "casamento entre iguais", e outras bandeiras "progressistas" (atualmente chamadas de socialistas), nomes como Augustus Nicodemos, Jonh MacArthur e afins tenham aparecido. E como eles se posicionam na esfera Teológica? </p><p style="text-align: justify;">Willian Lane Craig é um dos apologetas mais inteligentes que tive o privilégio de ler, ao lado dele ponho C. S. Lewis, Francis Albert Shaeffer e Jonh Stott, com sua simplicidade evangelical. Craig destaca que antes de ser um apologeta o cristão precisa de uma incursão na leitura Teológica e Filosófica, aliada à tradição científica. É precisamente neste aspecto que todos nós pecamos. Não importa o quanto tenhamos lido (me incluo aqui), estamos em déficit face às demandas que nos são colocadas. E é aí que a nossa apologética peca. Não é inteligente. Não é dialogal. É sectarista. </p><p style="text-align: justify;">Shaeffer possui um posicionamento ainda mais profundo. Defender a fé cristã é ante de tudo conversar com as pessoas e perceber o motivo mais profundo dos posicionamentos das mesmas para só então começar uma apologética pressuposicionalista. Sem conexão e sem diálogo não há a comunicação do Evangelho. Mas o que isto tudo tem a ver com os livros do Gutierres? </p><p style="text-align: justify;">A apresentação que o referido autor faz do pentecostalismo é muito distante da Sociologia da Religião e da Teologia de cunho acadêmico. É apologética e idealista, mas "respeitosa" para com o contraditório. Isto não quer dizer que não seja limítrofe. Mas que pelo menos não incorre no quixotismo das apologéticas de redes sociais de comunidades calvinistas e arminianas. </p><p style="text-align: justify;">Assim, ao falar da questão da Teologia Gutierres atrela o pentecostalismo ao Arminianismo Clássico. Ele vai além, ao reconhecer que embora possua uma dívida com o movimento de santidade, grande parte dos teólogos pentecostais divergem das posições armínio - wesleyanas. Mas reconhece que a posição em torno da perseverança dos santos não é uma unanimidade entre arminianos, embora pentecostais considerem a possibilidade de apostasia de um converso. </p><p style="text-align: justify;">O problema é que enquanto se gasta energia com tal discussão a antinomia bíblica da matéria é deixada de lado. Já conversei com arminianos que me garantiram que o número de textos bíblicos contendo advertências eram maiores do que os que continham as garantias (como se ser arminiano, ou calvinista fosse questão de estatística). </p><p style="text-align: justify;">Como leitor descobri que advertências e garantias são colocadas uma ao lado da outra, ao menos nos escritos de Paulo e de Pedro. Mas esta é uma temática que demanda um post à parte. Outra questão não pretendo resolver esta questão, por julgar a mesma insolúvel. Não se trata de citar este, ou aquele teólogo e fundamentar a citação com argumentação, ou de trazer, este, ou aquele versículo prova. Há questões psicológicas envolvidas. </p><p style="text-align: justify;">O leitor aqui talvez possa recorrer ao parágrafo em menciono Gálatas. Particularmente percebo que lidar de modo simples com as Escrituras e com a Graça não tem sido algo fácil para o povo. Há uma considerável dependência da moralidade, como se esta, ao invés da graça fosse o meio pelo qual somos educados a renegar as ímpias paixões mundanas. </p><p style="text-align: justify;">Isto dito parto agora para o que considero ser o calcanhar de aquiles do livro: a associação entre pentecostalismo e conservadorismo (mesmo sendo o de cunho teórico). Uma Teologia Pneumatológica e Missiológica tem de levar em conta que o doador do Espírito (tal como a ação deste) não pode ser enquadrado em nenhum espectro teórico do campo político. </p><p style="text-align: justify;">Mas o autor não somente se define como sendo conservador, como cita Roger Scruton e Joseph Ratzinger. Pior, se posiciona contrário até naqueles pontos em que se pode construir um diálogo promissor entre a Teologia Ecológica e a Filosofia Ambiental e do Espaço em Scruton. Não que um Teólogo não tenha o direito de ter suas preferências filosóficas, mas atrelar qualquer uma que seja ao cristianismo (e o pentecostalismo é um ramo deste), é colocar o cristianismo como meio para uma agenda. </p><p style="text-align: justify;">Os livros de Gutierres são anteriores às eleições de dois mil e dezoito. Já naquele momento se desenhava uma "onda conservadora" que atrelou a Igreja a uma politica cujos resultados desastrosos nós ainda não vimos, mas que com certeza veremos. Dentro deste contexto inúmeros memes foram lançados na internet demonizando os ditos "cristãos de Esquerda". </p><p style="text-align: justify;">O quadro é ainda mais grave quando se considera que tudo o que não seja esta direita olavista e quixotista que temos aí é de esquerda. Ao se identificar com a social democracia (um regime liberal), cristãos são chamados de esquerdistas, ou "comunistas". É com este pseudo conservadorismo que o Pentecostalismo tende a se identificar? Complicado. </p><p style="text-align: justify;">Mesmo o conservadorismo de Scruton possui problemas, uma vez que ele é extremamente resistente aos protestos, em todo o mundo. Isto não quer dizer que eu vá a protestos e concorde com práticas de vandalismos. Mas nem por isto deixo de reconhecer a validade dos protestos ecológicos, bem como os do movimento negro "vidas negras importam". </p><p style="text-align: justify;">Alegar que pautas sociais da Teologia de Jürgen Moltmann são modismos é um tanto estranho para quem defende uma abordagem Teológica lucana, que mostra ao lado da ação carismática do Espírito, uma ação social, tanto do Cristo quanto do Espírito. Jesus é ungido pelo Espírito para pregar boas novas aos pobres (Lc 4. 18, 19). </p><p style="text-align: justify;">Na versão lucana do sermão do Monte lemos palavras que possivelmente não encontraremos tão fortes em texto algum, mesmo os de Karl Marx. Jesus disse: <i style="font-weight: bold;">felizes, vós, os pobres, o Reino de Deus é vosso. Felizes, vós, os que agora tendes fome, sereis saciados. Felizes, vós, os que agora chorais, haveis de rir</i> (Lc 6. 20 - 21 TEB). </p><p style="text-align: justify;">Lc 6. 20 é uma citação de Mt 5. 3, mas há que se reconhecer que a despeito do uso comum do termo <i>πτωχοι</i> (<i>pthóchoi</i>), o acréscimo da expressão <i>τω πνευματι</i>, traduzida por em espirito, ou de Espírito, indica que a pobreza em Mateus é a de coração, ao passo que em Lucas é a pobreza de bem, e ao longo de seu Evangelho e do livro de Atos é dada considerável atenção. </p><p style="text-align: justify;">No tocante à Teologia Ecológica, ou a do sofrimento não se pode dizer que ambas sejam uma questão de modismo. Na verdade os capítulos iniciais do livro de Gênesis dão ampla base para sólida reflexão. Mas há uma necessidade de pararmos neste ponto. </p><p style="text-align: justify;">Conforme dito no enunciado deste post a pretensão aqui é a de uma avaliação inicial. O esforço de Gutierres em trazer conhecimento a respeito de produções literárias que contemplem o pentecostalismo sob um viés exegético, mas as obras destacadas aqui possuem uma dimensão mais apologética e podem vir a pecar por apresentar um pentecostalismo mais ideal do que real e concreto. </p><p style="text-align: justify;">Falo isto, por entender que tão cara quanto à crença no Batismo com Espírito Santo como meio de capacitação para a proclamação e Testemunho, é crer na validade dos dons espirituais na liturgia e no serviço cristão como um todo. Mas a ocorrência de tais dons não depende apenas de convicção teológica, mas de prática da oração, conjugada ao ensino das Escrituras, principalmente no tocante ao uso dos dons para o serviço. </p><p style="text-align: justify;">Do contrário o que teremos no lugar do pentecostalismo, é o fenômeno do pós pentecostalismo, já em voga nos dias atuais. O que é isto? Pessoas que congregam em uma Igreja Pentecostal, mas cuja prática não mais o é. E isto, não por conta do calvinismo, mas por conta da questão do tempo. Dons espirituais demandam busca zelosa. Sem a questão do tempo a prática da oração fica comprometida. </p><p style="text-align: justify;">Há que se reconhecer que a Casa Publicadora das Assembleias de Deus publicou obras e mais obras condenando a Teologia da Prosperidade, uma das que adquiri foi Cristianismo em Crise. Mas isto não evitou que a Filosofia ministerial do neopentecostalismo adentrasse as searas pentecostais. Igrejas cuja história é marcadamente pentecostal clássica hoje são adeptas da Filosofia empresarial. Quando isto ocorre o lado pessoal é deixado de lado. </p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros, em Cristo. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-38469389444126170342020-12-27T21:01:00.002-03:002020-12-27T21:01:38.280-03:00O Verdadeiro Pentecostalismo<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbKBWZ4aaUNl6djDDiKXpGQQwq8ZekRiSdUXIR8QX8bLDGpMy4ThVMaZdQ9kpRy7U2y62XAoKSvjETiWhKZ07y3ZjrPmCgKlp73E-jk9u5mG0A8c1gOnUW0rezU9A7BJRIouEuE-O-xCU/s877/verdadeiro+pentecostalismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="877" data-original-width="526" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbKBWZ4aaUNl6djDDiKXpGQQwq8ZekRiSdUXIR8QX8bLDGpMy4ThVMaZdQ9kpRy7U2y62XAoKSvjETiWhKZ07y3ZjrPmCgKlp73E-jk9u5mG0A8c1gOnUW0rezU9A7BJRIouEuE-O-xCU/w252-h320/verdadeiro+pentecostalismo.jpg" width="252" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p style="text-align: justify;">Já fiz neste espaço uma série de estudos a respeito dos dons espirituais, bem como a defesa da continuidade dos mesmos. Falei a respeito do <a href="http://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2014/04/o-proposito-dos-dons-espirituais.html">propósito dos dons espirituais</a>, do propósito de Deus e do papel do crente em <a href="http://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2014/06/a-multiforme-sabedoria-de-deus.html">administrar como dispenseiro</a>, os dons que Deus concede, dos dons de profecia, variedade de línguas e interpretação de línguas (<a href="http://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2014/05/dons-de-elocucao.html">elocução verbal</a>), dos <a href="http://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2014/04/dons-de-revelacao.html">dons de revelação</a> (ou revelacionais). </p><p style="text-align: justify;">Como Pentecostal de berço, creio que uma marca distintiva deste movimento seja a crença no Batismo com o Espírito Santo aliado à crença na continuidade dos dons espirituais como meio de edificação e crescimento do corpo de Cristo, que é a Igreja. Ler obras como Revestidos de Poder, O Espírito e a Palavra, e a Teologia Carismática de Lucas foi fundamental para a compreensão da percepção de Lucas do Batismo como revestimento de poder, o mesmo falado por Waynne Grüden e Franklin Ferreira em suas respectivas Teologias Sistemáticas, ou dogmáticas. </p><p style="text-align: justify;">A respeito da continuidade dos dons espirituais, creio que obras como a de Sam Storms e Renato Cunha constituam-se como basilares no tocante a esta doutrina tão pontual para a fé pentecostal. Na lição do próximo trimestre, os estudos estarão cobrindo a pessoa e obra do Espírito Santo, seu papel na obra de redenção (questão bastante abordada nas Teologias de cunho Reformado), seu papel na missão cristã, e a contemporaneidade dos dons espirituais. </p><p style="text-align: justify;">Tais traços poderiam facilmente serem associados à Teologia Carismática de Lucas, mas o autor não se limita a tal. Seguindo a pauta de Gutierres Siqueira em Revestidos de Poder e no O Espírito e a Palavra, Esequias Soares, busca aliar a Teologia Lucana à Teologia paulina, uma vez que aquele autor vindica para o Pentecostalismo uma Teologia mais global, que contemple os múltiplos autores das escrituras e suas Teologias em particular. </p><p style="text-align: justify;">Daí que da lição cinco até a dez a Teologia em apreço seja de caráter mais paulino do que lucano. O fruto do Espírito, a crucificação do "eu", a questão da santificação, da ordem no culto e do comprometimento com a palavra passam a ser as ênfases autorais. Da lição dez em diate há destaque à atualidade da cura, que é um dos centros de debates na atualidade. Da lição onze em diante percebe-se a ênfase missiológica. Isto porque uma das justificativas dos grandes avivamentos dos séculos passados foi o despertamento para o caráter urgente das missões, face a iminência da vinda de Cristo. </p><p style="text-align: justify;">Conclui-se que o "verdadeiro pentecostalismo", que se opõe àquele que é caricaturado nas descrições de "Crentes Reformados", ou assumidamente "cessacionistas", ou ainda na percepção dos irmãos do "reteté da glória de Jeová", uma pneumatologia sólida (que por sua vez está ligada a uma Cristologia consistente, visto que Cristo é quem batiza com o Espírito Santo), com poder para o testemunho aliado a uma vida de frutificação espiritual e de santificação, senso de missão (pregação do Evangelho e discipulado), e a Vinda de Cristo. Todos estes elementos orientados pela questão da Hermenêutica Pentecostal. </p><p style="text-align: justify;">A Hermenêutica Pentecostal traz um importante elemento da crítica textual, que é a questão da diversidade de autores e das ênfases que cada um dá a um aspecto da Teologia. Daí a diferença entre a pneumatologia de Lucas e a de Paulo, que usam o termo "cheios do Espírito", com ênfases diferentes. O mesmo se dá com relação ao termo "Batismo com, ou no Espírito Santo". O ser cheio do Espírito em Lucas, tanto no Evangelho, quanto no livro de Atos, tem a ver com a missão. </p><p style="text-align: justify;">Daí que Batismo com o Espirito Santo não é ostentação "pentecostal", ou "gospel" (se quiser), mas um dom concedido aos santos visando o serviço na proclamação do Evangelho, face ao senso de urgência diante da Vinda do Senhor (At 1. 4 - 11). Mas sem frutificação espiritual, e sem santificação até que ponto, nosso testemunho possui valor, por mais poderoso que seja? Daí a contemplação da Teologia Paulina, embora a lucana dê respostas, no campo social. </p><p style="text-align: justify;">Aqui convém ressaltar que nem a Igreja e nem os apóstolos são conduzidos ao sinédrio por conta de questões morais, ou comportamentais. São divergências teológicas seguidas de acusações infundadas apos um impasse. É deste modo que Estevão é condenado à pena capital por lapidação (apedrejamento), e temos aí Saulo, consentindo em sua morte (At 8. 1). </p><p style="text-align: justify;">Face ao comportamento basilar da Igreja de Atos, que levou Jonh Stott a escrever um livro por título "Sinais de uma Igreja Viva", os autores da lição desenvolvem questões pertinentes à Teologia Paulina. Aqui cabem algumas afirmações. A lição a respeito do fruto do Espírito tem como base um texto que foi escrito a uma igreja que não tinha problemas com imoralidade. </p><p style="text-align: justify;">Os crentes da Galácia não são os crentes de Corinto. O problema destes é uma série de erros no tocante ao Evangelho e ao ministério dos apóstolos (I Co 1 - 4), e uma certa leniência com casos de imoralidade na comunidade (I Co 5 - 7). Não é o caso dos crentes da Galácia. Eles possuíam uma moralidade tão extremada que foram facilmente seduzidos por um tipo de "legalismo", ou de associação entre Evangelho e Circuncisão. </p><p style="text-align: justify;">O fruto do Espírito aqui é colocado em um contexto de suficiência da graça de Deus. Espírito aqui é aliado à fé, à graça de Deus e ao Evangelho pregado por Paulo. Isto fica claro na medida em que Paulo indaga aos seus leitores: <i style="font-weight: bold;">só peço que me esclareçais uma coisa: será e,m virtude da prática da lei que recebestes o Espírito, ou por terdes escutado a mensagem da fé?</i> (Gl 3. 2 TEB). </p><p style="text-align: justify;">A esta pergunta sucede a seguinte: <i style="font-weight: bold;">aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, acaso o faz em virtude da prática da lei, ou porque escutastes a mensagem da fé? </i>(Gl 3. 5 TEB). o que está acontecendo aqui? Paulo tem de lembrar aos crentes que a experiência de salvação destes decorre da resposta à pregação do Evangelho. Havia um apego à lei como elemento complementar ao Evangelho e Paulo teve de quebrar com esta ideia. </p><p style="text-align: justify;">É dito insistentemente que a pneumatologia de Paulo tem ênfase soteriológica, ao passo que a de Lucas tem sua dimensão focada no carisma e na missão. Todavia, ao pregar a mensagem do Evangelho, Paulo reconhece a sua dependência do Espírito de Deus, tanto na execução da missão, quanto na obtenção dos resultados (I Co 2. 1 - 5; 4. 20; I Ts 1. 5). </p><p style="text-align: justify;">Por último, há que se falar no senso de urgência da missão em razão da promessa da Vinda de Cristo. não há pentecostal que não mantenha esta promessa diante de seus olhos. Mas as correntes conspiracionistas que têm sido adicionadas à Escatologia Evangélica se parecem mais com um episódio de Além da Imaginação do que com a Bem-Aventurada esperança bíblica. </p><p style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros, em Cristo Jesus. </p>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-65509048780363090792020-08-12T14:06:00.002-03:002020-08-12T14:06:12.895-03:00E a Hidroxicloroquina Hein?!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXnShFufxgTeU4VfEt6nCKhBrm13OfEsXTpoqfUX4mWy-rZqDz8WatFdm2tGxlVgjARaKI8C0ThGkkhPKyPLzIj9cjCO33HxvSODWgRHM_rBmPVkcW-W1lTnEI1oTOYBhI1fobP6Kiq50/s1600/cloroquina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXnShFufxgTeU4VfEt6nCKhBrm13OfEsXTpoqfUX4mWy-rZqDz8WatFdm2tGxlVgjARaKI8C0ThGkkhPKyPLzIj9cjCO33HxvSODWgRHM_rBmPVkcW-W1lTnEI1oTOYBhI1fobP6Kiq50/s1600/cloroquina.jpg" /></a></div>
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Para os que tem acompanhado as discussões pertinentes ao COVID-19, e aos efeitos da pandemia em nível global, é possível perceber a recorrência de um remédio: a hidroxicloroquina. É fato de que não há comprovações científicas a respeito do funcionamento da mesma. E também é fato que a mesma tem sido utilizada no tratamento do COVID - 19. </div>
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No meio desta discussão surgem questões como os efeitos colaterais, a eficácia da mesma no tratamento do COVID - 19, dos testes em laboratório, da uso científico, ou não do remédio. Para mim, tais questões são facilmente entendidas quando se faz um exercício instigante: <i><b>a leitura da bula</b></i>. Na maioria dos remédios a bula é a portadora das informações que trazem as indicações e contraindicações do remédio. Leu a Bula? Entendeu o que ela diz? Pronto, encerrada a discussão. </div>
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Nas redes sociais tenho visto depoimentos e mais depoimentos de pessoas que usam a hidroxicloroquina de forma bem sucedida nas fases iniciais de tratamento, assim como tenho visto especialistas afirmando que o remédio pode até funcionar, mas que tal funcionamento é uma espécie de placebo. Resumindo: não há comprovações científicas. </div>
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Não entro nesta discussão, por não ser cientista, embora saiba como a ciência funciona, por conta do Estudo da Filosofia da Ciência, e óbvio da Metodologia da Ciência. A despeito da guinada quântica, ciência ainda é algo que se faz, através de observação, experimentação, repetição. Após um período, os resultados do processo são publicados e a publicação submetida à crítica da comunidade científica, que consiste em constante processo de revisão. </div>
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Em debates nas redes sociais uma questão que sobressai é o modo como as pessoas lidam com ciência. Em regra ignora-se o caráter transitório da ciência, e a diferença da mesma em relação ao dogma, ou seja, a própria comunidade científica reconhece que a ciência é passível de erro, e mais, que tem de ser justamente para que não seja dogmatizada. </div>
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Esta fala é necessária para a compreensão de um fator que tem dominado as discussões: <i style="font-weight: bold;">o pensamento mágico religioso</i>. O que quero dizer com isto? Independente dos relatórios de funcionamento da hidroxicloroquina no tratamento de COVID-19, o cientista sempre irá se perguntar pela validade universal do tratamento, o que demanda a experimentação, e a repetição da mesma, bem como a observação dos casos bem sucedidos dos experimentos, e dos insucessos. </div>
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De igual modo o Teólogo honesto. Ele sabe quem nem todo cajado de pastor se transforma em uma serpente. Que nem todo líder tem o poder de abir um mar, ou um Rio para que o povo possa passar. Mas o pensamento mágico-religioso não faz estas e outras distinções. À semelhança do registrado em I Sm 4 o portador de pensamento mágico entende que a Arca é um elemento mágico e que o uso da mesma sempre funciona. </div>
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Na sequência da história bíblica, o povo é derrotado, a arca é tomada, colocada no templo de Dagom, e o povo filisteu é julgado por Deus por profanar a Arca. Mas a historia aqui é empregada de forma didática para que se compreenda a lógica do pensamento mágico religioso. Se alguns elementos tivessem o poder de cura, ou de alteração do modo de funcionamento da natureza, seria fácil aos leprosos contemporâneos de Eliseu serem curados da lepra. Bastaria mergulhar no Rio Jordão e serem curados. </div>
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Mas como disse Jesus em seu sermão ministerial inaugural <i>haviam muitos leprosos em Israel na época de Eliseu, mas a nenhum deles foi enviado senão a Naamã, o sírio</i>. O que quero colocar aqui é que o pensamento mágico religioso é uma desgraça tanto do ponto de vista científico, quanto do teológico. Mas também é uma desgraça do pensamento politico. </div>
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Pandemias como a atual demandam ações políticas. O que quero dizer é que os problemas decorrentes do COVID-19, não se restringem às questões médico-hospitalares. Estas se resolvem dentro de hospitais. O isolamento social e a destinação dos recursos de Estado para manutenção da população em isolamento, a construção de hospitais de campanha para atendimento da população, a contratação de profissionais para tratamento, de respiradores e tudo mais é ação politica. </div>
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O cidadão cujo pensamento é cativo da lógica mágico-religiosa tende a entender que hidroxicloroquina resolve todos os problemas, inclusive os econômicos, e torna o isolamento, a ajuda social para que o isolamento ocorra, a construção de hospitais de campanha, inteiramente dispensáveis. Este tipo de lógica dispensa a racionalidade necessária à política. Assim, um remédio para tratamento de malária passa a ser usado para tudo o mais, e não adianta falar de Ciência. </div>
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A Ciência é um conhecimento pragmático e relativo. Em outras palavras, demanda que funcione. Enquanto funciona se mantém de pé. Este é o teor de relatividade da Ciência. Enquanto não se descobriu a técnica de preservação do alimento pelo gelo, o sal funcionou. Após a descoberta do gelo como preservador de alimento advinha quem tem a primazia? Dúvida? Onde você coloca aquela peça de carne que comprou, no mercado, ou no congelador? Isto é ciência. </div>
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Mas para mentes pequenas a relatividade da ciência não está neste aspecto, mas em uma espécie de guerra de discursos, tais como o dos médicos que defendem o uso da hidroxicloroquina versus os que não defendem o uso da mesma nos tratamentos. Não! Embora a ilustríssima senhora ministra Damares Alves tenha dito algo parecido, a verdade é que a ciência não é relativa neste aspecto. Um veneno não deixa de ser um veneno por conta da narrativa de outra pessoa, assim como a terra não deixou de ser esférica por conta da pura simples narrativa de quem é contrário à ideia. </div>
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Mas aqui chegamos ao ponto que pretendo discutir depois: a pós verdade. Ciência não é um tipo de conhecimento que nasce da noite para o dia.É necessário muito tempo para que a ciência dê respostas a um problema. A velocidade de demandas que a sociedade do conhecimento, ou da informação, trazem para o ser humana, a velocidade de mudanças impede a assimilação da lógico racional e facilitam a atração ao <i>non sense</i>. </div>
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É este tipo de lógica que me permite entender, e defender que o uso da hidroxicloroquina resolve problemas mais adversos, mesmo que meu entendimento não tenha amplo apoio na ciência (leia-se respaldo da comunidade científica), mas é a resposta mais rápida, e o pensamento mágico me permite ver assim. </div>
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Marcelo Medeiros. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-41901146979822347232020-08-06T18:53:00.002-03:002020-08-08T11:13:06.829-03:00A Respeito da Expressão "Gado"<div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNRkM_nNURVwsUGVKIW4jSgMRBhLOPFopVyA1ag9T-diX6_8dV-ODT7B6xzZm-nozx_MER6-wH7K33eyHH11MYw7S1znCLCugrPgDWR8xnz-_GnsNqSUYM216EP3gb_TgXc4LYOBoQ4hA/s320/a+Express%25C3%25A3o+gado.jpg" imageanchor="1" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="240" data-original-width="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNRkM_nNURVwsUGVKIW4jSgMRBhLOPFopVyA1ag9T-diX6_8dV-ODT7B6xzZm-nozx_MER6-wH7K33eyHH11MYw7S1znCLCugrPgDWR8xnz-_GnsNqSUYM216EP3gb_TgXc4LYOBoQ4hA/s0/a+Express%25C3%25A3o+gado.jpg" /></a></div><div><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">Quem acompanha o debate político nas redes sociais pode perceber o predomínio do mimimi nas mesmas. Algo totalmente previsível quando a argumentação racional sai de campo e entra a passionalidade, o ódio, e outros derivativos da irracionalidade animal. "Irracionalidade" aqui não possui sentido da Filosofia posterior ao iluminismo, ou daquele movimento de reação à Modernidade. Não. Irracionalidade aqui tem a ver com aquela dimensão do aparelho psíquico que na perspectiva freudiana equivale à parte do Ice-Berg que fica sumersa nas águas. Mas este é um outro assunto. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando a argumentação racional perde para a passionalidade e para a mentalidade de torcida, ou para o pensamento mágico religioso, o fluxo lógico racional se perde e os insultos começam a ganhar. Em um livro por título o ódio de todos contra todos Leandro Karnal expõe o assunto com muita propriedade. Já ouvi em rede social frases do tipo: "mas ele é ateu", ou "ele é de esquerda", e "mas você só lê autores de Esquerda?". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há alguns anos era comum chamar um oponente no debate de "fascista", ou de "nazista". Agora ganham lugar as expressões "gado" e "jumento". Antes de passar para tais expressões cabe aqui explicar que a essência do "fascismo" consiste em através da pressão do grupo levar o outro a pensar da forma que o grupo "pensa". Algo que o filme A onda, em Alemão Die Welle, explica de forma bem didática. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste um professor recebe a incumbência de fazer um trabalho com a turma sobre a forma de governo chamada de autocracia, ou ditadura. A dinâmica é que as pessoas se comportem como se vivessem em uma. Para surpresa do expectador os alunos gostam e excluem do grupo todos os que não se adequam Às regras do grupo. O filme serve como ilustração de como toda forma de governo totalitário funciona, respondendo às necessidades psicológicas do grupo. O mesmo aplica-se ao fascismo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As formas atuais de Fascismo não permitem que um membro de determinado grupo pense de forma diferente. Esta é a lógica dos memes que afirmam que cristãos não podem ser socialistas, de esquerda, progressistas e coisas do tipo. Tais além de desonestos trazem uma mensagem implícita de que cristão tem de ser <i>conservador</i> e de <i>direita</i>. O que quer que tais termos signifiquem. Afinal, não custa nada afirmar que todos eles estão deturpados na atualidade. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Num ambiente político em que João Dória é considerado um político comunista e que jornais como <i>Estadão</i>, <i>Folha de São Paulo</i> (vulgarmente chamado pelos eleitores do atual governo de <i>Foice de São Paulo</i>, em clara alusão aos símbolos da bandeira Russa), além do grupo Globo, são chamados de socialistas e comunistas percebe-se que a confusão, ou a desonestidade intelectual, se não ambas já se instalaram. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aqui cabe lembrar da fala de Karnal, que compara as discussões políticas atuais com as guerras de torcidas organizadas. O que impera não é a lembrança do legado deste, ou daquele clube, dos jogadores que foram cedidos para seleção entre outras coisas. O que vale é o deboche, a lacração. Mas o que isto tem a ver com a expressão <i style="font-weight: bold;">GADO</i>? Assim como a expressão fascista ela tem sua devida explicação. Mas Antes de uma abordagem filosófica, convém fazer uma abordagem em língua portuguesa. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Existe uma figura de linguagem chamada <i style="font-weight: bold;">metáfora</i> é uma <i>figura de linguagem em que uma palavra que denota um tipo de objeto ou ação é usada em lugar de outra, de modo a sugerir uma semelhança ou analogia entre elas</i>. Ninguém devidamente instruído, ou em são consciência entende como literal a expressão <i>Ana é uma flor</i>. Logo se percebe a metáfora. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os poetas usam e abusam deste tipo de recurso, inclusive na Bíblia. É neste sentido que Deus é chamado de Rocha (Sl 18. 1), de luz (Sl 27. 1, 2), de Sol e de Escudo (Sl 84. 11), e que os povo dele é chamado de rebanho e ovelha do pastoreio (Sl 100. 3). Esta expressão, não parece ofensiva a crente algum, mas ela foi ofensiva a um filósofo do século dezenove, por nome Nietzsche, mas desconheço qualquer crente que se sinta ofendido com ela. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">João Batista chamou os fariseus de <i>raça de víboras</i> (Mt 3. 8) e Jesus chamou Herodes de raposa (Lc 13. 32). No primeiro caso a ideia era a de comparar as víboras fugindo do sol quente com os fariseus que intentavam fugir da ira que estava por vir. O segundo caso era Jesus afirmando a astúcia de Herodes como líder político. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para Nietzsche o cristianismo na versões católicas e protestantes anularam a individuação humana. A moral cristã se transformou em elemento de anulação de toda excelência, entre elas a capacidade de ser indivíduo. O filósofo em apreço acerta quando ressalta a característica frágil das ovelhas. Não é sem razão que o povo de Israel, quando comparado com os filisteus (que já dominavam o Bronze), são equiparados às ovelhas, e seu Deus a um pastor. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A questão é que quando os Textos bíblicos são escritos não havia um conceito claro de individualidade. Mesmo as figuras expoentes na Bíblia, como Abraão, Moisés e Davi, funcionam na literatura em apreço como arquétipos da nação, não são heróis como os das tragédias gregas e nem estes são indivíduos no sentido estrito da palavra, são modelos também. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas Nietzsche está escrevendo no ápice da modernidade e já lida com a questão do indivíduo. Ele observa que aquilo que é excelente não anda em bandos. Existem coletivos de Estrelas de um grau não tão elevado, mas não existem coletivos de sóis (embora o sol seja um tipo de estrela), existem alcateias de lobos, matilhas de cães, mas águias não andam em bandos (percepção que o filósofo em, apreço estende a todos os predadores). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para melhor entendimento da metáfora de Nietzsche é necessário considerar o contexto do nascimento das grandes nações, ou seja, da civilização. Em alguns aspectos a civilização anula o sujeito, esta aliada Às pressões que determinados grupos fazem sobre indivíduos a fim de que tudo fique planificado, igualado. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há também que se considerar que Nietzsche está falando da perspectiva da filosofia existencial, onde as especificidades do indivíduo são consideradas. Aplicando a fala do filósofo em apreço, gado, ou rebanho são termos equivalentes para sujeitos que de forma consciente, ou inconsciente anulam sua individualidade para serem aceitos no grupo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um clássico exemplo pode advir de um filme chamado <i>Encontrando Forrester</i>, em que um jovem com altas habilidades chamado Jamal Wallace finge não ser tão inteligente quanto é para o grupo pelo qual pretende ser aceito. sucessivas vezes fui chamado de louco em razão de simplesmente andar com um livro debaixo do braço, ou mesmo por me propor a falar, abordar e discutir os assuntos com base bibliográfica. São pressões do grupo. De igual modo fui alvo de deboche por ser negro e favelado e querer ser músico profissional. Aqui se faz necessário retornar à metáfora do Nietzsche. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Lobos devem andar como lobos e ter todos os gestos dos lobos para serem plenamente aceitos no grupo. O mesmo ocorre com todos os animais que andam em bandos, tais como as zebras, por exemplo. Quaisquer atitudes que elevem o indivíduo acima do grupo causam profunda estranheza. Isto somado à questão da metáfora já seria suficiente para entender. Mas voltemos à expressão gado no contexto político. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gado aqui representa aquele indivíduo incapaz de dar respostas de teor individual, próprio aos desafios do ambiente. Gado é quem responde ao toque do berrante, ou ao primeiro tiro sai em estouro. Em outras palavras a expressão é adequada aos que respondem de forma instintiva aos estímulos. Gado é quem ouve a palavra comunismo, ou socialismo, e responde com repulsa, sem exame criterioso dos conceitos, afinal, o que importa é responder ao berrante do gabinete do ódio. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas calma, existe o gado de esquerda também. O que o brasileiro não entende é que aos políticos brasileiros não interessa o eleitor crítico (aquele que mesmo em uma eleição, optando por este ou aquele partido não esta disposto a passar o restante do período de governo como cabo eleitoral, antes é o primeiro a criticar o próprio governo que o elegeu, pois ele não é propriedade de ninguém). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O indivíduo é aquele que não se permite nem ser propriedade de outrem e menos ainda ser usado. Neste momento alguém que chegou até esta parte do texto, pode dizer que ainda assim é ofensivo chamar alguém de GADO. Aqui devo dizer que os nervos da nossa nação estão tão aflorados que em um debate solicitar que a pessoa leia, e que se informe a respeito do que se propõe a debater já é ofensivo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas a imagem deste post já é emblemática. O Gado de direita e de esquerda tem <a href="#" id="https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.museudememes.com.br%2Fsermons%2Feu-sou-um-gado-do-bolsonaro%2F&psig=AOvVaw2W6Pbxz16IyraJ6Lo7jC0_&ust=1596836967926000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNDDj8HHh-sCFQAAAAAdAAAAABAD" name="https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.museudememes.com.br%2Fsermons%2Feu-sou-um-gado-do-bolsonaro%2F&psig=AOvVaw2W6Pbxz16IyraJ6Lo7jC0_&ust=1596836967926000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNDDj8HHh-sCFQAAAAAdAAAAABAD">assumido a sua posição como gado</a>. Isto é interessante sob alguns aspectos. O primeiro é que já estão entendendo e assumindo a metáfora. O segundo é que uma vez assumida a metáfora, o mimimi cessa, visto que a pessoa vestiu a carapuça. Por ultimo a desonestidade fica evidenciada. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Marcelo Medeiros. </div>paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-80835906772054726342020-07-28T18:50:00.000-03:002020-07-28T18:50:35.997-03:00O Covid e o Presidente<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI3iDDuNy-XrhHxkhkVfwPz9MtyF3nLTmY3KN1cga3zkntl1G09kG4SMjaSeQsmm8c1JJNbKR2BbvlBAjj23iSt-RKgHLgtRqkd3Ipfegdw11gCc60tzV86Joqiescgxvwbmw9ceFaXAA/s1600/Dia-13-03-2020-Bolsonaro-e-o-coronav%25C3%25ADrus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="765" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI3iDDuNy-XrhHxkhkVfwPz9MtyF3nLTmY3KN1cga3zkntl1G09kG4SMjaSeQsmm8c1JJNbKR2BbvlBAjj23iSt-RKgHLgtRqkd3Ipfegdw11gCc60tzV86Joqiescgxvwbmw9ceFaXAA/s320/Dia-13-03-2020-Bolsonaro-e-o-coronav%25C3%25ADrus.jpg" width="320" /></a></div>
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Há alguns dias veio a público a notícia de que o presidente da República federativa do Brasil havia contraído o COVID-19. A notícia despertou duas reações antagônicas de um lado, o simpatizantes do atual chefe de Estado desejando as melhoras e de outro os militantes contrários desejando boa sorte ao vírus. Não tardou para que aparecesse na rede social (o Facebook) militantes pró governo se lembrando da moral cristã (outrora esquecida), para condenar os que (sendo ou não cristãos), estavam torcendo pelo vírus.</div>
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Analisar tal situação do ponto de vista filosófico demanda tempo, e paciência. Tempo por conta da leitura necessária para entender a questão da bio e necropolítica. Paciência para explicar algo que demanda racionalidade e senso filosófico, para pessoas inteiramente dominadas pela passionalidade e pelo personalismo. Mas o que busco analisar aqui é algo bem mais simples: a incoerência Evangélica, ou a incoerência política dos evangélicos.</div>
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Evangélico é todo aquele que acredita e busca pautar a vida pelo Evangelho. na verdade norteia a sua ética pelos valores do Evangelho. Quais Valores são estes? Justiça, Mansidão, Juízo, Misericórdia, Espírito Pacificador, Disposição em Sofrer pela causa da Justiça, Amor, etc... Um bom resumo da ética do Evangelho (se é que se possa falar nisto), é a regra de ouro: <i style="font-weight: bold;">tudo quanto quiserdes que os homens vos façam fazei primeiramente a eles, por que nisto consistem toda lei e os profetas</i> (Mt 7. 12), simples né?! Diante disto façamos um breve exercício.</div>
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Como gostaria que as pessoas agissem comigo diante do meu luto? Acredito que todos gostariam de ver solidariedade para com seu luto pessoal. Duvido muito que frases do tipo: "fazer o que? um dia todos iremos morrer", ou um "e daí?" não são as que esperamos que nos sejam ditas e nem as que diríamos aos enlutados com os quais demonstraríamos o mínimo de empatia. Falo aqui como cristão.</div>
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Não sem razão a Bíblia manda chorar com os que choram, e se alegrar com os que se alegram. E por quais razões o faz? No intuito de que aprendamos a empatia. O problema é que estranhamente este e todos os demais exemplos foram esquecidos por nós evangélicos e elegemos alguém cuja fala contraria tais valores. Não bastando isto, quando vieram as falas que demonstravam clara indiferença para com a os mortos e as famílias enlutadas, alguns setores justificaram tais falas.</div>
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Estranhamente diante da doença do presidente ungido sobejaram os pedidos de oração. Os mesmos pedidos ausentes quando se tratou das mais de setenta mil família enlutadas por conta da pandemia. Pesquisei o assunto na internet e confesso que me deparei com alguns sites de Igrejas com suas campanhas de oração em prol de famílias enlutadas, e me comovi com tal exemplo de solidariedade. Mas vi pouco em minha rede social.</div>
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Como cristão reconheço o meu dever de orar por todos os homens (I Tm 2. 1, 2). E sei que minhas preferências político partidárias não devem interferir nisto. Na verdade quanto maior minha aversão pelo objeto de minha intercessão mais filho de Deus sou quando oro por eles e o faço desejando o bem dos mesmos (Mt 5. 43 - 48). Mas não posso deixar de achar estranho o discurso dúbio de quem dizia ser o COVID um juízo de Deus por causa da imoralidade deste mundo (algo comprovadamente errado diante da morte de muitos crentes e servos de Deus), pedir oração porque aquele político de sua preferência, o "defensor da moral e da família" foi infectado.</div>
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Mais estranho ainda é a contradição entre ser cristão evangélico e contrário aos direitos humanos (algo que advém da visão cristã de mundo, e que foi apropriado pelo humanismo secular), sob o argumento de que bandido quando morre colhe o que plantou. Mas quando vê seu político de estimação sendo hostilizado se esquece de que o mesmo hostilizou e desejou a morte de seus adversários políticos. Pior, sequer suportam que tal seja trazido à memória! Exigem que não cristãos amem seus adversários, quando não têm o mínimo medo de expor seu ódio aos candidatos "de esquerda" nas redes sociais. </div>
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Tais questões apenas comprovam que o COVID-19 manifesta aquilo que há de melhor, e o que há de pior em nós, e neste caso tem manifesto muito do que há de pior. A contradição, a incoerência, o vitimismo, a atração pelo <i>non sense</i> (neste caso o manifesto pelo gosto por teorias da conspiração, principalmente as narrativas em que a eleição do atual chefe de Estado da República é vista como uma estratégia para barrar o comunismo, seja lá o que isto signifique na atualidade). </div>
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Marcelo Medeiros. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-86854070134501321092020-06-26T21:49:00.001-03:002020-06-26T21:49:25.485-03:00Crise Ética, ou Eticorragia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGpNR9BiBDcqcSTF65F4NI7WqoLpufzuuub5x2tfztOaZjnr8uAYQ3BHrK6nQeJNL49K0i7FC6jdOnWkhqoihDdPGfafgFT8Wk9Gx0XF0-Ifx9giniYsqa3qQZdj2kowZiSla9IawN3eU/s1600/crise+%25C3%25A9tica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="205" data-original-width="246" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGpNR9BiBDcqcSTF65F4NI7WqoLpufzuuub5x2tfztOaZjnr8uAYQ3BHrK6nQeJNL49K0i7FC6jdOnWkhqoihDdPGfafgFT8Wk9Gx0XF0-Ifx9giniYsqa3qQZdj2kowZiSla9IawN3eU/s1600/crise+%25C3%25A9tica.jpg" /></a></div>
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O título do presente post remete-nos a um capítulo de um dos livros mais despretensiosos, de autoria de um dos escritores mais desprovido de quaisquer pretensões, que tenha visto ao longo da vida. O primeiro livro dele foi o Icabode - da mente de Cristo à secularização de mente - onde o autor fala a respeito de como o processo de modernização alterou a cosmovisão e mentalidade cristãs. Ao prefaciar o Excelentíssimos Senhores o autor afirmou que não contava com o sucesso do primeiro livro, por conta do volume de páginas do mesmo.</div>
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Na perspectiva do autor em apreço e na minha (também sou autor), livros volumosos desestimulam uma geração que se vê diante da possibilidade de uma gama volumosa de informações, bem mais fáceis de serem digeridas do que a leitura de livros críticos e volumosos. Mas o livro teve lá a sua acolhida e diante de tal a Ultimato, resolveu publicar mais um título do referido autor.</div>
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Ao que me parece Excelentíssimos Senhores é uma apanhado de artigos de autoria do Rúbem Amorese para a revista Ultimato. Alguns destes são um retorno às temáticas já tratadas no livro Icabode, sendo que de forma resumida. Eticorragia é o termo que Amorese emprega para o declínio ético na sociedade moderna em decorrência de uma crise de reflexão, de intelectualidade.</div>
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Aquilo que chamamos de moral é um conjunto de costumes e práticas, que visam tornar a vida em sociedade viável. Ela nos é imposta de forma coercitiva? Os que respondem afirmativamente o fazem acertadamente, primando por aqueles aspectos em que a nossa moral vai de encontro com os nossos desejos. Mas a moral entra em nossa mente por meio de histórias que nossos pais, mestres, padres, pastores nos contam, cujas lições podem ser aceitas, ou rejeitadas parcialmente, ou na íntegra.</div>
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Já a Ética é a reflexão que o dia-a-dia impõe ao ser humano. Ser Ético é ser capaz de refletir e dar respostas aos dilemas que a vida propõe. É neste contexto que surge a discussão a respeito de temas como aborto, clonagem, meio-ambiente, economia, saúde, afinal, por que o Estado deve desenvolver políticas públicas? Por que o estado deve dar o máximo de liberdade ao indivíduo? A questão aqui não é meramente econômica, conforme se possa pensar. Não! A Economia hoje é vista como uma ciência cuja finalidade é o domínio do funcionamento dos mecanismos de mercado. (Não quero dizer que todos os economistas a vejam assim, mas que esta é a percepção generalizante, e errônea).</div>
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Os primeiros economistas, dentre os quais Adam Smith e Karl Marx não eram estes técnicos cujo pensamento é voltado ao funcionamento do mercado financeiro. Eles também eram Filósofos Morais, ou moralistas. Este é outro termo que se perdeu ao longo do tempo. Um moralista hoje é visto como uma pessoa que busca impor sua moral aos demais. Nos idos dos séculos XVIII e XIX este termo era aplicado à pessoas como Blaise Pascal que analisavam as entranhas da alma humana. Mas é hora de voltar à Ética.</div>
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Amorese identifica uma crise Ética. O primeiro exemplo dele é o caso do antigo programa Você Decide, cujo título o autor vê como sugestivo. <u><b>A sugestão do nome dá a entender em uma época marcada por uma subjetividade extrema, o homem possa passar por cima de todo e qualquer legado moral e fazer escolhas tendo como norte apenas seus desejos e sua vontade. Preste atenção porque discussões à parte este é o grande legado do autor para a discussão atual</b></u>.</div>
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Para C. S. Lewis um erro recorrente dos moralistas na atualidade é a crença de que tal como ocorre em uma loja, mercado, ou shopping onde o sujeito (de fora) escolhe a peça, ou o produto que lhe agrada, tem - se a impressão de que na moral algo similar possa ocorrer. Mas ninguém se coloca em um vácuo moral para poder escolher uma moral. Já estamos em uma moralidade e é a partir da moralidade que recebemos através das histórias que nos foram contadas que escolhemos o que tem de permanecer e o que podemos descartar.</div>
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Em Cristianismo Puro e Simples Lewis fala que todos tem a noção do que é certo e do que é errado e que diante da transgressão da regra, ou norma, ninguém questiona, ou questionava a norma em si, mas todos procuram justificar porque no caso deles esta não se aplica, ou porque podem ser uma exceção. Pelo menos na época dele era assim. O chamado você decide (a partir de sua subjetividade) não existe. Nossa decisão não faz com que o errado se torne errado, porque nos o escolhemos. e é aí que <u style="font-weight: bold;">mais uma vez a fala de Amorese é primorosa</u>.</div>
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O episódio ao qual o autor se refere é o alguém que acha uma mala com uma quantia exorbitante de dinheiro e o apresentador joga para o público a decisão a respeito do devolver, ou não a quantia. A decisão majoritária do público é pela não devolução. Ali fica desenhada a mentalidade de uma considerável parcela da nossa população. Ao rever o livro não consegui identificar as possíveis razões que as pessoas tenham apresentado para a exceção da regra.</div>
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Um outro exemplo, ao qual ele frequentemente apela para demonstrar a crise ética é a questão do aborto, digo da defesa apaixonada dos defensores da causa. Já pontuei aqui que não sou favorável à prática do aborto e pontuei a necessidade de desumanização do feto a fim de que a ação possa ser tomada sem muitos dilemas.</div>
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Do ponto de vista Teológico e Filosófico a decisão não é nada fácil. Jó desejou ter sido abortado quando se viu diante da perda de todos os seus bens e o Pregador afirma em Eclesiastes que é melhor ser um aborto do que viver e não gozar o bem nesta terra. Em ambos os casos a vida se mensura pelo bem que se vive.</div>
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A moral cristã, como toda moral, vê as coisas a partir do sexo pré conjugal, ou do mau uso de métodos contraceptivos, ou até da falta de planejamento familiar. Do ponto de vista ético e reflexivo a questão não é nada fácil de se resolver. Uma mãe que tem de abortar e passa por seus dilemas interiores vive a realidade da crise ética. Todavia crise aqui nada tem a ver com o modo como Amorese concebe. Aqui a crise é um processo que leva à decisão. O uso que o autor faz de crise é de uma conjuntura difícil sob uma dada perspectiva (que no caso do presente post é a Ética).</div>
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A crise no sentido do autor dá-se por conta de uma cultura hedonista, que privilegia o prazer em detrimento de qualquer forma de sofrimento. É este tipo de percepção que faz com que qualquer decisão a ser tomada seja em prol da facilidade. Se queremos emagrecer, não se faz necessária a disciplina alimentar acompanhada de exercícios. Queremos conhecimento, não é necessário estudo e leitura, bastam alguns cliques no doutor Google e a informação está toda pronta ali.</div>
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Tanto o emagrecimento saudável quanto o Estudo demandam disciplina. em ambos ocorre algo que C. S. Lewis compara a uma caminhada no deserto escaldante e ao momento em que as areias quentes entram na sola do pé. Toda caminhada proporciona seu prazer, mas junto do prazer vem os inconvenientes. A cultura atual não suporta mais isto.</div>
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Em áureas épocas o enriquecimento era fruto da disciplina em trabalhar aliada à frugalidade e a ascese de bens mundanos. Foi esta a análise que Weber fez a respeito da contribuição do puritanismo americano para fomentação do capitalismo. Dizem os comentaristas que ele igualmente previu o enfraquecimento da religião em razão da equação riqueza, busca por prazeres.</div>
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Mas o protestantismo que produz a Ética do Trabalho nos países europeus e na América, não desembarcou aqui. Aqui é a terra que tudo produz, tudo dá, o paraíso na terra, o lugar em que o esforço é dispensável. <i><b>Não estou dizendo com isto que acredito no discurso da meritocracia, mas que igualmente desacredito da ideia de que as coisas caiam do alto aqui, no Brasil, de que todo sejam potenciais ganhadores da loteria. </b></i></div>
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<span style="font-style: italic; font-weight: 700;"><br /></span></div>
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Somos herdeiros de uma ética frágil, que de alguma forma permite a luta contra o aborto, e a total indiferença ao número de crianças abandonadas. Pior, não se desenvolve sequer um trabalho robusto, e socialmente relevante de apoio às mães que passam por uma situação concreta de perigo. Voltando ao autor, em apreço, me pergunto quais seriam as reações de Rúbem Amorese, diante das publicações cristãs em rede social?</div>
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Ao que parece quando achamos uma carteira, ou alguma coisa de valor, que pertença a outrem, e não devolvemos cometemos crime de apropriação indébita, um ilícito já presente no código penal. No caso do programa ocorreu uma anuência para com um crime. Mas o problema é de natureza criminal somente? Óbvio que não! Mas algo similar acontece hoje no debate a respeito das Fakenews. </div>
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Não houve a criminalização de ilícitos cometidos na internet, e este tem sido o principal argumento no qual os defensores do atual governo se apegam para justificar as ações daquilo que tem sido chamado de <a href="https://istoe.com.br/o-eduardo-lidera-os-linchamentos-virtuais/">milícia digital</a>. Os crimes de injúria, calúnia e difamação já são previstos no código penal. Mas quando se volta à proposta do autor é possível uma percepção maior da temática. </div>
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Ela não pode ser vista unicamente a partir do ponto de vista técnico, no caso o do Direito. Ações políticas precisam ser vistas do ponto mais plural e multidisciplinar possível. No Campo da Moral, as considerações mais viáveis são as da Filosofia, e por que não da Teologia? Algo pode não ser crime, mas ser imoral (algumas leis o são, outras além de imorais ainda são injustas). Fakenews não é crime tipificado no código penal, mas é moral? Lógico que não! É imoral em excesso. </div>
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Agora entra a minha percepção pessoal, particular. O senso ético e moral antecedem a criação de leis. A despeito de alguns dicionários associarem a religião à moral (algo que já aparece em August Comte), acredito na existência de algo chamado Tao, uma espécie de fio condutor moral que guia as mais variadas formulações morais. </div>
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Lewis assume o posicionamento de que este Tao antecede ao próprio cristianismo. Mas isto nos interessa? Sim, porque tanto crentes quanto não crentes respondem a uma moral, ou uma espécie de apelo moral. Que apelo é este? Falar a verdade de coração, não difamar, não espalhar notícias falsas, ser solidário. </div>
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Para Caio Fábio o Evangelho não é Ético e menos ainda moral. Ele desenvolve a ideia no livro Sem Barganhas com Deus. Ele dá como exemplo as escolhas divinas, desde um Abrão que não tinha lá aqueles amores pela verdade até um Judas (que sabidamente era o diabo, além das mais variadas falhas de caráter). Mas o próprio Caio reconhece que existem consequências éticas que o Evangelho traz. </div>
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Jesus resume a Ética da lei e dos profetas nos mandamentos de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo (Mt 22. 38, 39), e a consequência do amar a Deus e ao próximo é traduzida na regra de ouro:<b><i> tudo o que vocês querem que os outros façam a vocês, façam também vocês a eles; porque esta é a Lei e os Profetas</i></b> (Mt 7. 12). </div>
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Sob a ótica do Evangelho o exercício ético consiste em se colocar no lugar do outro e uma vez colocado no lugar do outro perguntar: <b>como gostaria que agissem comigo se tivesse no lugar de quem indo para a Igreja é assaltado, espancado, ou perde a mala de dinheiro, ou sendo uma adolescente, engravidou? </b>É este exercício que a Ética do Evangelho nos convida. </div>
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De igual modo o imperativo categórico com o seu <i style="font-weight: bold;">age de tal forma que a tua ação se torne uma máxima universal</i>. Em que consiste o Imperativo Categórico? Num exercício de imaginação. Qual? Este: <u><b>o modo como trato uma pessoa que precisa de minha ajuda, a adolescente que engravidou, ou o sujeito que perdeu uma carteira, ou algum outro bem, pode ser universalizado?</b></u></div>
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<u><b><br /></b></u></div>
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Imaginem uma sociedade em que todos possam espalhar mentiras a respeito das outras, levar os pertences dos outros, ser indiferentes uns para com os outros, uma sociedade em que não existam bons samaritanos, ou parteiras que descumpram as ordens e os projetos eugênicos do soberano. Imaginou? </div>
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Marcelo Medeiros. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-72875875064657799072020-06-13T13:09:00.001-03:002020-06-13T13:09:25.421-03:00Um protesto tipicamente protestante<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEGDA_YdFZd4M5jzF_m1MOUMWdWsSxYpw-lo7OtdaWauHXOuSJHA_KP6QKFNR2sJc1vTi5mCpLYKROxRgMJkW_Ti6uxG0b-sgMd5ZiUq8GnUrt86pQmAVf6w0kVQCGupGHYwLUaXbLCd4/s1600/rio+de+paz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="184" data-original-width="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEGDA_YdFZd4M5jzF_m1MOUMWdWsSxYpw-lo7OtdaWauHXOuSJHA_KP6QKFNR2sJc1vTi5mCpLYKROxRgMJkW_Ti6uxG0b-sgMd5ZiUq8GnUrt86pQmAVf6w0kVQCGupGHYwLUaXbLCd4/s1600/rio+de+paz.jpg" /></a></div>
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Há alguns anos atrás comecei a acompanhar pela TV o programa do Pastor Antônio Carlos Costa. Neste o referido ministro presbiteriano fazia constantes exposições de textos bíblicos, começando com a Carta aos Romanos, seguindo pela confissão de Fé de Westminster, ao Evangelho de Marcos. A imagem que ficou foi a de expositor bíblico e defensor da fé protestante. </div>
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<br /></div>
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Descobri posteriormente que este é doutor em Teologia Sistemática com especialização em Martin Lloydd - Jones. Em Antônio Carlos Costa a ortodoxia fez seu encontro com a ortopraxia, em outras palavras pensamento correto e prática correta se encontram. Simples assim. A ONG rio de paz é um marco na aplicação de ministérios de misericórdia (termo empregado por Tim Keller, um dos mais atuais e influentes nomes da proposta). Tanto que um dos seus livros é o Convulsão Protestante, que narra a Teologia e prática cristãs se expressando em ações sociais. </div>
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Este pastor fez protestos (<a href="https://pleno.news/brasil/cidades/ong-rio-de-paz-faz-protesto-contra-morte-de-pms-em-2018.html">ver aqui</a>) contra o alto índice de policiais mortos no Rio de Janeiro em 2018. Anterior a este ocorreu um em 2014 (<a href="https://oglobo.globo.com/rio/protesto-contra-morte-de-policiais-ocupa-praia-de-copacabana-14777223">ver aqui</a>). Outras ações poderiam se alistadas aqui para apontar que na luta pela justiça não há lado, que não o da justiça, cuja realização se torna inviável sem o elemento da paz. Esta explicação seria inteiramente desnecessária não fosse a amnésia histórica da qual nosso povo tem sofrido. É neste ambiente que se fortalece cada vez mais o cultivo de guerra cultural. </div>
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<br /></div>
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O momento atual lembra muito bem a narrativa de George Orwell (1984), onde a população estava em contante guerra, ora com a Eurásia, ora com a Lestásia. O inimigo era criação do governo para manter o povo em constante distração, para manter e justificar o Culto ao Grande Irmão. O ambiente atual do Brasil é similar. </div>
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<br /></div>
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Foi criado um inimigo: o Comunismo. Um conceito que foi simplificado, e à semelhança do que faz o ministério da Verdade no romance de George Orwell, a palavra foi simplificada a amplificada ao mesmo tempo. Com isto a sociedade comunista deixa de ser uma sociedade sem classes, uma síntese da sociedade industrial com as comunidades tribais para ser toda e qualquer forma de opinião contrária à proposta do neoliberalismo agressivo de Guedes. </div>
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<br /></div>
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Dentro deste arcabouço, João Dória, Rodrigo Maia e Wilson Witzel são comunistas, quando na verdade sequer são sociais democratas, também tidos como comunistas. Qualquer um o é, inclusive quem protesta, quem expressa indignação diante da morte de mais de 41. 000 pessoas, quem defende o isolamento social é um preguiçoso (imagem atrelada ao Socialismo, que na percepção simplista é sinônimo de Comunismo). </div>
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<br /></div>
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Antônio Carlos Costa é um pastor cujas palavras e reflexões, resguardas as devidas proporções, são embasadas e refletem a mais profunda coerência com o espírito da reforma protestante, que tem como produto de seu espírito uma Teologia Pública (que parte de uma temática pública e socialmente relevante). Mas no ambiente atual ele tem sido chamado de comunista, petista, eleitor do PT, lulista, e coisas afins, basta entrar na página dele no Facebook, ou no instagram para ver. </div>
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<br /></div>
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É o efeito da polarização politica e do embate com viés emocionais. É assim que alguém entre em um protesto promovido pela ONG Rio de Paz e comete ato de vandalismo contra a manifestação e por tabela aos mortos e enlutados em razão da pandemia, frequentemente negada pelos apoiadores do atual governo. </div>
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<br /></div>
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É necessário que se produza uma realidade alternativa ao número de mortos. E esta passa pela negação da pandemia, pela apresentação de fórmulas mágicas onde a hidroxicloroquina e a ivermectina são a solução para o problema dantes negado. Mortos? Sempre tivemos, é o nosso fim e ponto. Com isto a capacidade de se solidarizar com os que perdem seus filhos, como no caso do pai que recolocou as cruzes no lugar. </div>
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<br /></div>
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Neste momento uma ideia me ocorre. Um número elevado de mortos retira das pessoas a capacidade de se solidarizar. É como se ocorresse uma naturalização de mortes de jovens, crianças, adolescentes. Antes de ocorrer com as vitimas do COVID-19, tal processo ocorreu com a morte de policiais. Sim, vidas e pessoas foram institucionalizadas e reificadas. O pai, a mãe, o trabalhador que ia para a frente de combate deixou de ser uma pessoa para ser um número. </div>
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<br /></div>
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No caso das vítimas do COVID-19, o processo é o seguinte: as vítimas deixam de ser pessoas para serem, ou se tornarem números inflados pelos governadores para poderem fraudar os cofres públicos e minar a economia. Esta ideia é recorrente nas redes sociais (<a href="https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/30/sem-provas-bolsonaro-diz-que-gestao-doria-infla-mortes-por-coronavirus.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996">ver aqui</a>, <a href="https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/03/27/bolsonaro-diz-que-ha-uso-politico-para-inflar-numero-de-obitos-em-sp.ghtml">aqui</a> e <a href="https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/06/11/interna_politica,863109/bolsonaro-acusa-mandetta-de-forjar-numeros-da-covid-19-deu-uma-infla.shtml">aqui</a>). Mesmo não sendo esta a intenção do Pastor Antônio Carlos Costa o protesto dele fere este tipo de negacionismo. </div>
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<br /></div>
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Graças à Deus, o conflito que se instaurou ali no protesto não resultou em conflitos maiores. Vi uma live do Antônio Carlos Costa em que ele afirma ter orientado os voluntários que ali estavam para que não reagissem a quaisquer agressões. Eles eram esperadas? Claro que sim, basta ver a página do referido Pastor no Facebook e constatar a agressividade gratuita que o mesmo sofre, por parte da militância pró governo. Honestamente não sei onde isto irá parar, mas oro a Deus para que ele intervenha, porque a sandice está nos ganhando. </div>
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Marcelo Medeiros</div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-1339951431542556452020-06-13T12:05:00.000-03:002020-06-13T12:05:13.328-03:00Uma Palavra a Respeito da Teocracia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRrI9flHy1CQvV_dghKCtEM-fA6EelyfKET0nKE4oPIpPjF0y8CgPUPrjhyphenhyphenjYC_RVtqECoZfTVWoIZXmOZB953a86bwAKCYlDhqs7IyYQmiDUMDJ28QSuGdKm4hA0OhH8hZvev7Fgf0dE/s1600/teocracia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="186" data-original-width="271" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRrI9flHy1CQvV_dghKCtEM-fA6EelyfKET0nKE4oPIpPjF0y8CgPUPrjhyphenhyphenjYC_RVtqECoZfTVWoIZXmOZB953a86bwAKCYlDhqs7IyYQmiDUMDJ28QSuGdKm4hA0OhH8hZvev7Fgf0dE/s1600/teocracia.jpg" /></a></div>
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<div style="text-align: justify;">
Há algum tempo atrás compartilhei em minha rede um texto a respeito da possibilidade de corrupção de toda forma de governo humano, mais ainda, o texto na verdade aborda o caráter corruptor do poder. Este é o sentido do texto compartilhado, cujo conteúdo segue abaixo transcrito.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Quanto mais altas as pretensões do poder, mais intrometido, desumano e opressivo ele será. Teocracia é o pior de todos os governos possíveis. Todo poder político é, na melhor das hipóteses, um mal necessário, mas é menos mal quando suas sanções são mais modestas e comuns, quando afirma que não é mais útil e conveniente e coloca para si mesmo objetivos estritamente limitados. Qualquer coisa transcendental ou espiritual, ou mesmo qualquer coisa muito fortemente ética em suas pretensões é perigosa e encoraja-o a se intrometer em nossa vida privada (....). Assim a doutrina renascentista do direito divino é para mim uma corrupção da monarquia (....) os misticismos raciais, da nacionalidade. E a teocracia, eu admito, e até insisto é a pior de todas. (C. S. Lewis, Lírios que apodrecem, in: A Última Noite na Terra, pág. 53). </div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Em contexto amplo o texto não é uma crítica à teocracia em si, mas às pretensões de toda forma de poder, inclusive a democracia. Não tardou para que algumas pessoas entrassem em meu perfil contestando a citação, pelas razões mais diversas e na maioria das vezes, para não dizer em todas, equivocadas. Evitei ali falar a respeito do que seja uma Teocracia e corrigir o erro, mas me valerei deste espaço para tal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em primeiro lugar, existe a falsa ideia de que a Teocracia seja um governo exercido de forma direta por Deus, neste caso o Deus judaico cristão. Na verdade a maioria dos soberanos da antiguidade viam a si mesmos como deuses. Este é o caso, por exemplo do Faraó. Na modernidade existe um caso curioso de uma possível Teocracia, que é o do Tibet. Caso este tenha sua independência reconhecida, seu representante político máximo, o Dalai Lama, é reconhecidamente um deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em segundo lugar analisando alguns textos bíblicos é possível perceber que desde a queda o deus bíblico, judaico-cristão jamais exerceu seu governo de forma direta, e isto por uma razão extremamente básica <i><b>os homens em geral não suportam lidar com as manifestações teofânicas</b></i>. Os textos bíblicos abaixo transcritos esclarecem melhor a questão.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
E todo o povo viu os trovões e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando; e o povo, vendo isso retirou-se e pôs-se de longe. E disseram a Moisés: Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos. E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis. E o povo estava em pé de longe. Moisés, porém, se chegou à escuridão, onde Deus estava. Então disse o Senhor a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: Vós tendes visto que, dos céus, eu falei convosco (Ex 20. 18 - 22 ACF). </div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Deus se revela em meio a uma tempestade mas o povo não suporta ouvir Deus e pede que um representante o faça, é assim que nasce a instituição dos profetas. Mas em uma Teocracia, é, ou seria mais do que comum que o Deus Todo Poderoso, Onisciente e Onipresente, descesse e se manifestasse diretamente aos seus súditos. E o que vemos no texto acima transcrito é que os súditos deste não suportam a sua manifestação gloriosa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade este não é um primeiro texto em que se afirma esta inviabilidade de uma Teocracia direta. Tal afirmação pode ser vista já no relato do que conhecemos, desde Paulo e Agostinho como sendo a Queda. </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? (Gn 3. 7 - 11 ACF). </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Há muito que ser dito e desenvolvido por meio da citação acima. Na concepção judaica os capítulos iniciais do livro de Gênesis não são literais, são arquetípicos, uma espécie de modelo da história de Israel. A criação é símbolo da criação de Israel, a luz simboliza a Torá, a árvore da vida é a própria sabedoria. Diante de tais elementos, é possível que aquilo que conhecemos ser a queda seja a recusa em ouvir a voz de Deus no monte. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O fato inconteste é que o povo pede a Deus um representante, e Moisés se torna o modelo deste tipo de representante. </div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis; Conforme a tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, no dia da assembléia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor teu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então o Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram. Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele. Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá. E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele (Dt 18. 15 - 22 ACF). </div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Terceiro, o Deus bíblico é aquele que detém todo o poder. Ser um representante dele significa lidar com a forma mais elevada de poder e estar sujeito às piores formas de corrupção. É da corrupção e da decadência decorrentes das formas mais elevadas de poder que nascem adivinhos, necromantes e feiticeiros da antiguidade. Todos falam em nome de um pode superior, na verdade divino. Daí a necessidade de sólidos critérios para que se discirnam quem é quem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É seguramente neste contexto que a fala de John Emerich Edward Dalberg-Acton, ou Lord Acton, a respeito do poder, quando este afirmou corretamente que: <i style="font-weight: bold;">o poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente</i>. Esta regra é visível nas Escrituras Sagradas, onde o poder de alguma forma afeta negativamente os homens. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Afeta Moisés que após descer do Monte tem seu rosto resplandecente ao ponto do povo não conseguir olhar para ele. A experiência era algo do tipo contemplar o sol em sua magnitude. Diante de tal o povo cobre o rosto de Moisés para não ter de ver tamanho peso de Glória (Ex 34. 29 - 34). Paulo apóstolo afirma que esta glória era transitória e que o véu foi mantido para que os israelitas não percebessem a transitoriedade da mesma (II Co 3. 12 - 15). E aqui temos a primeira corrupção da teocracia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Exemplos não faltam Gideão após dar livramento ao povo de Israel, rejeita ser o rei do mesmo, mas faz para si uma estola sacerdotal e deixa mais de setenta filhos gerados com as muitas mulheres que teve ao longo da vida. Samuel não foi um juiz que amou o poder e as benesses resultantes do mesmo, mas seus filhos se corromperam. Aqui, percebe-se que quando o poder não corrompe o líder em si, corrompe seus descendentes. </div>
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<br /></div>
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Saul, o primeiro rei de Israel, segundo a vontade do povo, cedo demonstrou apego ao poder. Davi não teve apego algum ao poder, seus interesses são notadamente espirituais, mas se corrompeu pelo direito do rei e foi além. Salomão se corrompeu em meio a tudo o que Deus lhe concedeu. Uzias se corrompeu ao exceder os limites de sua função como rei, e a História não para por aqui. </div>
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<br /></div>
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Quarto, bem cedo a espiritualidade foi vista como a melhor forma de legitimação do poder temporal. O caso mais flagrante deste tipo de autenticação é o de Saul. Ele foi rejeitado por Deus por conta de extrapolar os limites de sua função real. Ao contrário do que ocorre na cultura cananéia, em Israel é importante a separação da figura do rei da do sacerdote. Saul não espera a chegada de Samuel e oferece os sacrifícios. No lugar de aprovação, seus sacrifícios terminam por lhe assegurar a rejeição. </div>
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<br /></div>
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Diante de tal, ele pede que Samuel o acompanhe junto ao povo. A figura de um profeta dá legitimidade ao reinado, afinal, estes, e não o Rei, são os porta vozes de Deus. Eles trazem a manifesta vontade de Deus e garantem, ou afirmam, que acima dos governos humanos está o divino, e a palavra dos mesmos condena, ou isenta e legitima o Rei. Não sem razão, Davi, Salomão (mesmo com sua flagrante corrupção), Josafá, Uzias, Ezequias, Josias mantém profetas em sua corte. </div>
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<br /></div>
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O mesmo se dá em relação ao rei Acabe. Ele aborrece a Micaías, o profeta do Senhor, mas mantém os profetas de Baal e de Asera em Israel. Com que intuito? Garantir a legitimidade da religião, ou do poder espiritual, ao poder temporal. É neste hiato que os espaços dos falsos profetas é garantido. Nossa tendência é a de ler as narrativas sobre a vida de homens como Elias e Elizeu e ver neles modelos de sucesso e aceitação popular. Nada mais distante da verdade. </div>
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<br /></div>
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O verdadeiro profeta (a despeito dos milagres que faz e apresenta), é um marginal. Não por conta da lei, em si, mas por conta da percepção popular. Elias era tido como agitador de Israel. Somente o piedoso Ezequias deu ouvidos ao profeta Isaías, e há quem garanta que o mesmo morreu durante o reinado de Manassés (o mais ímpio dos reis em Israel). Jeremias e Ezequiel não tiveram a mesma sorte. Eles não se dispuseram às estruturas do poder. </div>
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<br /></div>
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Esta busca por legitimidade religiosa é vista no Apocalipse através da figura da Besta que emerge da Terra e da que emerge do mar. Esta última simboliza o poder terreno, político, ao passo que a primeira simboliza o poder espiritual, tanto que tem aparência de cordeiro, mas voz de dragão, indicando com isto, que a despeito da aparência que possua ela representa satanás. É deste que vem a legitimação do Império romano. </div>
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<br /></div>
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O Novo Testamento é explícito ao colocar o Mundo como palco de dominação e atuação do Diabo. A ele foi dado os reinos deste mundo (Mt 4. 7 - 10), e ele os dá a quem a quiser e estiver disposto a lhe render adoração. Ele é o príncipe deste mundo (Jo 12. 31; 14. 30; 16. 11; I Jo 5. 19), é também do deus deste século (II Co 4. 4). Tais expressões apontam para a inviabilidade do projeto de uma Teocracia, seja evangélica, muçulmana, reformada, protestante, ou o que quer que seja. </div>
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<br /></div>
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Quinto, entender o governo de Deus é entender que ele se concretiza na sujeição do povo à lei (no caso do povo de Israel), ou à percepção desta por parte de Jesus Cristo no sermão da Montanha (Mt 5 - 7). O discurso de Samuel na posse do rei Saul aponta para o fato de que Deus não tem compromisso com forma alguma de governo. Escrevi a este respeito em minha apostila de livros históricos I. Neste trabalho resumido fiz citação a Breugmann e articulei com o texto abaixo transcrito. </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
E todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao Senhor teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei. Então disse Samuel ao povo: Não temais; vós tendes cometido todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao Senhor, mas servi ao Senhor com todo o vosso coração. E não vos desvieis; pois seguiríeis as vaidades, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque vaidades são. Pois o Senhor, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo; porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo. E quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós; antes vos ensinarei o caminho bom e direito. Tão-somente temei ao Senhor, e servi-o fielmente com todo o vosso coração; porque vede quão grandiosas coisas vos fez. Porém, se perseverardes em fazer mal, perecereis, assim vós como o vosso rei (I Sm 12. 17 - 25 ACF). </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O que fica claro com esta citação? Fica explícito aqui que para Deus o que importa é que o povo <i style="font-weight: bold;">tema ao Senhor, e o sirva com fidelidade e de todo o coração e lembre-se daquilo que Deus faz e continua fazendo</i>. Observando o texto percebe-se que:</div>
<br />
<ol style="text-align: left;">
<li style="text-align: justify;">o povo reconhece que erra ao escolher um rei. É um pecado a mais face aos anteriormente cometidos. </li>
<li style="text-align: justify;">Samuel reafirma que o povo agiu mal, mas que o mal pode ser amenizado se, e tão somente se, o povo persistir em seguir a Deus. </li>
<li style="text-align: justify;">A despeito do erro contumaz e rebelde do povo, Deus é seu Dono e Amo, se o povo reconhecer isto, tudo irá bem. </li>
<li style="text-align: justify;">O povo jamais deverá se render ao culto às imagens de escultura, este é um dos cernes da aliança. </li>
<li style="text-align: justify;">Ao lado da figura do rei permanece a figura do sacerdote, cuja função consiste em ensinar e interceder a Deus pelo povo. </li>
<li style="text-align: justify;">Em face da rebeldia e da rejeição dos termos da Aliança, o que o povo experimenta? Rejeição e Castigo, com, ou sem Rei.</li>
<li style="text-align: justify;">Daí que a monarquia não seja uma garantia de que as coisas irão bem. Somente a obediência à lei garante isto. </li>
</ol>
<div style="text-align: justify;">
Algo similar acontece no Novo Testamento. Deus reina através de sua lei, neste caso aquilo que Tiago chama de lei da liberdade (Tg 2. 13). Jesus assimilou em parte a ética dos profetas mediada no tripé justiça, misericórdia e juízo (Mq 6. 8; Am 5. 24; Is 1. 17; Mt 23. 23, 24). Este tripé foi resumido na seguinte fórmula: <i style="font-weight: bold;">tratai os outros como quereis que vos tratem. Nisso consistem a lei e os profetas </i>(Mt 7. 12). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ter o Reino de Deus e participar deste consiste em atender ao apelo de amar ao próximo como a si mesmo, e a Deus sobre todas as coisas (Mt 22. 36 - 39), e de ser instrumento de Justiça e misericórdia juntamente (Mt 5. 6, 7), a fim de promover a paz (Mt 5. 9). A justiça do Reino nada tem a ver com a justiça forense, ela é mais próxima à justiça dos profetas e demanda interioridade e exterioridade. Isto é a concretização do Reino em termos práticos. </div>
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<br /></div>
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Sexto, este Reino é só é acessível aos que são regenerados, ou nascidos de novo. Por quê? Somente estes podem de fato obedecer às leis do antigo pacto. Textos como Dt 30. 6; Jr 4. 4; 31. 31 - 35; Ez 36. 25 - 27) indicam a necessidade de uma transformação interior a fim de que o homem possa cumprir a lei. Paulo reforça esta ideia de que o homem na sua natureza, não pode ser fiel cumpridor da lei. </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm 8. 1 - 8 ACF). </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A leitura deste texto derruba por terra toda pretensão da Teonomia e dos projetos de Teocracia Evangélica. Aqui se diz com clareza que fora da vida do Espírito a lei de Deus não pode ser cumprida. Não há possibilidade de uma moral cristã ser imposta a uma sociedade que não tenha uma disposição interna para tal. </div>
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Por quais motivos as leis mais razoáveis são frequentemente quebradas, direitos humanos mais fundamentais são violados, regras e regulamentos são subvertidos? A explicação cristã e teológica é que falta a ação do Espírito de Deus para conduzir o ser humano à obediência ao mandamento. Na percepção humanística é falta de adesão interior à norma. Este é um problema real. Na percepção humanística, pode ser resolvido via educação, na cristã é via conversão. Em ambos os casos é possível ver um fio condutor, o da adesão interior. </div>
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<br /></div>
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Sétimo, costuma-se confundir a ação providente de Deus, ou as intervenções miraculosas como demonstrações do governo de Deus. Assim, alguém pode perguntar: mas a Igreja não é teocrática? Em nenhuma Teologia Sistemática veremos tal afirmação. A História da Igreja, a começar pelo livro de Atos nos traz registros em que sorte são tiradas para ajudar na escolha de Matias. Tiago, possivelmente o irmão de Jesus traz uma palavra decisiva para a aceitação dos gentios na comunidade cristã. Como ele faz isto? Por meio de uma interpretação bíblica de um texto de Amós a decisão é tomada. No concílio anterior, a decisão foi tomada a partir da experiência de Pedro na Casa de Cornélio. </div>
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<br /></div>
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A Igreja de Corinto é uma Igreja notadamente cheia de dons espirituais. Contudo, o que se vê na igreja é dissensão, partidarismo e personalismo. Deus governa esta Igreja? Não! Por quê? Deus é Deus de paz e não de confusão, em todas as Igrejas de Deus (I Co 14. 33 citação livre). O tamanho do presente post indica que uma análise acurada do assunto em tela é profundo. Mas fica aqui o post como indicador de reflexão no assunto.</div>
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Marcelo Medeiros. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-15961837027334399052020-06-02T10:56:00.003-03:002021-07-11T10:19:36.503-03:00Até quando? <div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_UEiaF92pyd3rucRWlyzdKyt4Xqz0WcmoW9ugdbIRsYKfanSyDVqpNF4fAcTA3qsmGBtPYPeRBFIeA0BNrRNsQpf9Oy0GzUNucYqPwc91uActEBK8CLQWFBI_aEitHkea1RIkoinfQfM/s1600/n%25C3%25A3o+ao+racismo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_UEiaF92pyd3rucRWlyzdKyt4Xqz0WcmoW9ugdbIRsYKfanSyDVqpNF4fAcTA3qsmGBtPYPeRBFIeA0BNrRNsQpf9Oy0GzUNucYqPwc91uActEBK8CLQWFBI_aEitHkea1RIkoinfQfM/s1600/n%25C3%25A3o+ao+racismo.jpg" /></a></div>
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Há seis anos atrás escrevi <a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2014/04/no-beco-onde-explode-violencia.html">este post</a> propondo uma reflexão a respeito da morte de um rapaz negro por linchamento. Na ocasião toquei no papel do Estado, Da igreja, mas não toquei na questão mais pontual: a do racismo. Não é reflexão fácil de se fazer diante do negacionismo, do revisionismo histórico, do que acham ser exagero, dos que realmente exageram na questão. Mas racismo é real e a morte de George Floyd foi pontual para a reflexão da questão. </div>
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<br /></div>
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Há uns quinze anos atrás eu vi um filme chamado Babel, onde um policial abordava um atleta negro e na revista abusava da mulher do mesmo. Foi uma forma de humilhar um homem negro que possuía melhores condições socioeconômicas do que ele. Infelizmente a história de Mineápolis trouxe um desfecho mais trágico do que o do filme. Um policial contra o qual já haviam mais de dezoito queixas por abuso, sufocou um homem negro até que o mesmo viesse a óbito. </div>
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<br /></div>
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Diante do fato inconteste, vejo crentes em redes sociais minimizando o racismo, que é grande nos Estados Unidos, e maior ainda aqui no Brasil. É algo que tem se tornando cada vez mais comum. Protesta-se contra o aborto, mas nada se faz em prol de crianças abandonadas (não é que as ações não existam, é que são raras). elaboram-se apologéticas contra o feminismo,. mas não se faz uma intervenção efetiva contra a violência à mulher. Fala-se contra os protestos nos Estados Unidos, da baderna, mas não se fala contra a violência racial. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É óbvio que não sou favorável às manifestações de violência, nem as ações dos que se aproveitam da onda de revolta para fazer saques e depredar a <i>propriedade privada</i>, lojas, marcados. Mas como quem pensa preciso perguntar pelos catalizadores deste estado de anomia social. Creio que a não aplicação da lei. Neste aspecto o profeta Habacuque pode nos ajudar. Seu livro decorre do espanto diante do não cumprimento do código da aliança. </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida (Hc 1. 2 - 4). </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O texto mostra o espanto do profeta diante de um quadro de violência e opressão, de contendas e de litígios judiciais, de frouxidão legal e de injustiça. E confesso que sinto falta deste espanto entre evangélicos que veem com naturalidade a morte de um George Floyd. </div>
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Marcelo Medeiros. </div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKuWCV6H6P8SJc3KGTK4mRnFtI6Hhvesf6LanrYD9qglbOZa74OO0HfVtAfrWjPDcAnuzAH0DHaV4c-GZYxNBP2Sg_03KDrUmlYp9KA9_gT5Xzd9fMPJoyIs7PucvF8HZ6qcBId9R5Dic/s1600/Semente+de+Mostarda+Versus+Semente+MacMundo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKuWCV6H6P8SJc3KGTK4mRnFtI6Hhvesf6LanrYD9qglbOZa74OO0HfVtAfrWjPDcAnuzAH0DHaV4c-GZYxNBP2Sg_03KDrUmlYp9KA9_gT5Xzd9fMPJoyIs7PucvF8HZ6qcBId9R5Dic/s320/Semente+de+Mostarda+Versus+Semente+MacMundo.jpg" width="192" /></a></div>
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Prometi no Facebook Fazer uma resenha crítica deste livro. O título dele em Português pode induzir a erro. Explicarei. O Lado Oculto da Globalização (como defender-se dos valores da nova ordem mundial), possui no atual contexto uma ideia de teoria conspiracionista, na qual o cristão vê-se como vítima de um processo conspiratório para a destruição de valores da sociedade Ocidental (dita cristã), e implantação da nova ordem mundial por meio de pautas progressistas. Nada mais falso do que isto. </div>
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<br /></div>
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Na conjuntura atual o conservadorismo, o obscurantismo e o espírito anticiência (que não são sinônimos e nem equivalentes entre si) tem ganhado espaço entre nós, por conta de uma visão que pode ser chamada de <i>fundamentalista</i> onde cada movimento da sociedade tem sido interpretado como uma ameaça à fé cristã. Assim, ganham espaço <i>pensadores</i> que fazem campanhas contra o feminismo, por exemplo. O perigo que tal forma de pensar representa, é que no afã de criticar o feminismo pode-se perder questões mais vitais à fé e ao evangelho como <i>a violência contra a mulher </i>e o <i>racismo</i>. </div>
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<br /></div>
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Na perspectiva de Tom Sine a nova Ordem mundial não é a adoção de pautas progressivas. Ela sequer á nova, é tão antiga quanto. Nova Ordem Mundial é uma ordem que se opõe ao Evangelho. Este é representado pela semente de mostarda, ou pelo fermento colocado na farinha. Coisas pequenas que aos poucos vão influenciando e alterando o ambiente. No caso da semente de mostarda a vegetação, no do fermento uma massa. </div>
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<br /></div>
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Já a semente MacMundo é marcada pela lógica de sucesso, ganho exaustivo e o conforto que o dinheiro e o consumo possam possivelmente garantir. É a lógica de Mamon, que é considerado o Deus do dinheiro para os povos do oriente. Na perspectiva do autor toda a estrutura deste mundo está voltada para a lógica de consumo. Daí que tanto a igreja, as instituições, a política e a própria educação tornaram-se presas desta lógica de consumo. </div>
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<br /></div>
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Aqui é importante uma observação. A lógica do Evangelho representado pela semente de mostarda, pequena, mas cujo crescimento gradual revela uma árvore grande diante da qual as aves do céu se aninham. Mas o crescimento é lento e gradativo. Já a semente MacMundo adéqua-se à nossa realidade atual, marcada pela velocidade, pela ausência de radicalidade e profundidade. </div>
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No tocante à Igreja, esta é descrita pelo Novo Testamento como sendo uma comunidade (palavra possivelmente composta por aglutinação dos termos <i>comum</i> e <i>unidade</i>) indicando com isto a verdade bíblica de que Igreja não é templo, placa, CNPJ, instituição, antes é ajuntamento de pessoas, que a despeito da individualidade se tornam unas em função daquilo que há em comum. <i>Uma só fé, um batismo, um só Senhor, uma esperança, um só Espírito</i> (Ef 4. 1 - 6). </div>
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<br /></div>
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Esta também é uma comunidade de serviço, que no ato de servir., de ser sal e luz termina por influenciar a sociedade. É a comunidade em que as pessoas colocam seus dons e serviços em favor da causa do Reino de Deus. Viver no mundo é um viver missional. Tanto o trabalho e a formação secular quanto a teológica são parte do ser sal e luz neste mundo. </div>
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<br /></div>
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Mas a lógica de consumo perverte o conceito e a ação da Igreja no mundo. Sob a lógica da semente MacMundo a igreja deixa de ser um ajuntamento de pessoas cuja unidade dá-se em razão daquilo que possuem em comum, e onde os bens materiais são parte daquilo que possuem em comum (o que garante a unidade), e passa a ser um prédio, uma instituição, uma franquia cuja finalidade é garantir aos <i>consumidores da religião</i> o conforto necessário quando as estruturas do MacMundo falham. </div>
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<br /></div>
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A semente MacMundo, a despeito da promessa de realização de uma vida centrada na fruição de bens (na verdade aquisição, sequer consumidores somos mais), falha justamente porque a a verdade inexorável do Evangelho afirma que <i style="font-weight: bold;">a vida do homem não consiste na abundância dos bens que ele possui</i>. Nossa geração serve ao dinheiro porque acredita que ele possa trazer meio para consumir e assim realizar os sonhos de consumo. Mas no afã de servir ao dinheiro pode-se perder a vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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A fala de Tom Sine ganha eco quando se considera a emergência da lógica de consumo na política, mais do que isto a sobreposição da Economia sobre a vida humana, sobre a Ética. (Esta sobreposição pode ser vista no atual cenário). Diante das medidas de isolamento recomendadas pela OMS e adotadas pelos governadores e prefeitos a razão sucumbiu diante da possibilidade de perda salarial e de postos de emprego. Perder a vida tornou-se irrelevante. Foi totalmente esquecido que sem vida não há economia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Beyong Chul-Han, filósofo germano-coreano afirma em Sociedade do Cansaço que a finaceirização do mundo moderno contaminou a Política enquanto arte liberal (fazer realizado livre de coerções externas). O resultado é uma lógica opressora em que o opressor não está mais do lado de fora do sujeito, antes é o próprio sujeito que se torna opressor de si mesmo. E ele o faz impondo a si uma rotina que o leva à exaustão. </div>
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<br /></div>
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Voltando à questão política, esta deixa de ser a arte de bem governar que é exercida por meio da discussão e passa a ser a garantia de uma economia que dê <i>liberdade</i> ao homem para empreender e consumir. Não se fala em liberdade para produção artística e intelectual, mas naquela que permite a <i>fruição de bens</i>. A vida em si não importa. </div>
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<br /></div>
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Na educação o assunto não é menos animador. Diante do toda crise se pensa a educação e por uma razão bem simples. É a educação que garante a afirmação e o desenvolvimento de indivíduos que garantirão a permanência, o desenvolvimento e as mudanças nesta mesma sociedade. Daí que diante das crises propostas educacionais sejam aventadas. Foi assim com a crise da modernidade que retirou o monopólio da educação das mãos da Igreja católica, e foi assim na década de trita do século passado, em que várias propostas educacionais foram aventadas. Cipriano Carlos Luckesi e Tomaz Tadeu Silva falam destas propostas em seus respectivos clássicos. </div>
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<br /></div>
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Uma crítica do autor no campo da educação dá-se por conta da ausência de reflexão, por parte dos educadores no tocante aos métodos que empregam, ao ponto de sequer saberem justificar suas ações pedagógicas. Aqui cabe ressaltar que ele está falando em contexto americano. No brasileiro, cabe o entendimento de que a educação até o inicio do século passado era privilégio das elites. Daí que a criação das Universidades preceda à qualquer reflexão sobre a educação básica e média (acessível exclusivamente aos religiosos e sucateada após a expulsão dos jesuítas). </div>
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<br /></div>
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Sob este aspecto o intelectualismo passa a ser visto como símbolo do <i>status quo</i>, e de <i>esnobismo</i>. ao lado desta percepção antiliberal cresce a ideia de que é a <i style="font-weight: bold;">educação a garantidora de ascensão social</i>. É neste hiato que crescem as buscas por um diploma de nível superior, e as instituições privadas que além de oferecer tais diplomas ainda o fazem sob a promessa de que de posse de tais diplomas os alunos irão se inserir melhor no mercado de trabalho. </div>
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Não tenho nada contra as instituições de ensino privado. Vi pessoalmente gente de extrema qualidade nestas instituições. A minha em particular tinha uma proposta interessante: formar professores que refletiam suas respectivas práticas. Mas ao lado deste discurso havia um de inserção no mercado de trabalho. Até os textos trabalhados em sala de aula eram aqueles que figuravam em concursos. Qual o problema disto? Os seis períodos de Metodologia cientifica não garantiam a formação de profissionais reflexivos. </div>
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<br /></div>
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Acredito que por trás de todo este ódio à educação pública, ao Paulo Freire (cujas ideias jamais foram executadas aqui) é fruto de um ressentimento ( que não pode ser confundido com o uso que Nietzsche faz deste termo) face à não realização desta promessa MacMundo. Emm redes sociais tive de lidar com questionamentos do tipo: <i>há cem anos não temos gênios na literatura</i>. Um questionamento perigoso se considerarmos que Machado de Assis, nosso maior gênio era autodidata (será que por conta de sua condição étnica?) .</div>
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C. S. Lewis fala deste assunto em um artigo intitulado lírios que apodrecem, do qual falarei em outro post aqui, mas cuja ideia central posso adiantar. Tal como no caso inglês, a educação fracassa em desenvolver nas pessoas algum tipo de gosto, seja literário, seja científico, ou artístico em geral. Sem este processo as pessoas terminam por não descobrir suas respectivas vocações e abraçam a lógica MacMundo (terminam fazendo trabalhos insuportáveis pelo puro e simples dinheiro). Isto é semente MacMundo. </div>
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A proposta de Tom Sine é a de uma vida simples, de ruptura com a lógica de consumo que alimenta o MacMundo (oposto a Deus e aos valores do Evangelho). É somente com tal ruptura que a Igreja poderá voltar a viver sua dimensão ministerial e <i>missional</i> no mundo. Recentemente discuti com um crente nestas comunidades do Facebook, que afirmava ser o feminismo mm mal a ser combatido. Há alguns que pensam da mesma forma em relação ao homossexualismo e até ao marxismo. Estes citam textos do Evangelho (claro que fora de contexto). </div>
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Vi recentemente um pastor que não sei se pela pressão da massa que o chama de marxista, comunista, postar um livro de um autor polonês que critica o marxismo. Eu também critico e leio autores em apologética que fazem tais críticas, mas percebo algo que não vejo na maioria dos ministros eclesiásticos. Marx tem seu lugar como pensador não pelas razões que os revisionistas lhe atribuem. Para Marx o Capital era o grande deus do período em que ele estava vivendo. Em outras palavras: <i>contrariando o que foi dito por Nietzsche, Deus não morreu, virou dinheiro</i> (frase de Giorgio Agambem). </div>
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Marx presta um inegável serviço ao Evangelho, ao denunciar na linguagem de sua época a semente MacMundo como responsável pela subversão da própria Religião, que deixa de ser aquilo que nos toca de forma incondicional, para ser uma ferramenta à mais ao serviço da lógica de consumo. Mas qual é a saída para tudo isto? Com certeza não é a revolução proposta por Marx que toma do burguês os meios de produção (pensamento do autor do livro). A revolução proposta por Marx não se aplica mais a uma sociedade pautada no capitalismo financeiro. </div>
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O que Tom Sine propõe, à semelhança de Stott, é uma forma de contra cultura, onde a Igreja ao invés de prestadora de serviços fast foods passa a ser uma comunidade contracultural baseada nos moldes evangélicos. Estes se concretizem no estilo de vida simples,, onde no lugar de angariar recursos para o consumo, cada cristão dispõem de seus recursos para a correção das injustiças sociais, cumprindo o proposto na parábola do administrador infiel. </div>
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A semente de mostarda traz em si a negação do discipulado e da educação em série. como se seres humanos pudessem ser formados em série, nos moldes industriais. A semente do grão de mostarda aponta, antes que houvesse uma formulação do conceito de individualidade, o Evangelho já tratava daquilo que Caio Fábio chama de <i style="font-weight: bold;">individuação</i>, que nada mais, nada menos é do que o indivíduo formado para agir. </div>
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Em Cristo, Marcelo Medeiros. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-58537260207809194562020-05-24T13:01:00.001-03:002020-05-24T13:01:35.213-03:00Não São Somente Palavrões <div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb80Pb6xEB2jHpMKoKyGzs5V7d4fxXwXRuEkcbsDvXeed32pTvWXDP3vu9NwKGr9AUqn8IMzG9XRWupNAKjt4LYVC_N4Sf_J6PLmeaLQICGHWNDjYzxOx0WD5SEKZXkD9FAzwDjJP-VF4/s1600/n%25C3%25A3o+s%25C3%25A3o+somente+palavr%25C3%25B5es.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb80Pb6xEB2jHpMKoKyGzs5V7d4fxXwXRuEkcbsDvXeed32pTvWXDP3vu9NwKGr9AUqn8IMzG9XRWupNAKjt4LYVC_N4Sf_J6PLmeaLQICGHWNDjYzxOx0WD5SEKZXkD9FAzwDjJP-VF4/s1600/n%25C3%25A3o+s%25C3%25A3o+somente+palavr%25C3%25B5es.jpg" /></a></div>
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A saída do então ministro da justiça Sérgio Moro, com direito à trocas de acusações, por parte deste de possíveis interferências do chefe de Estado na Polícia Federal abriu uma nova crise política e institucional no Brasil. Ao ser chamado pelos órgãos de investigação para depor no Supremo Tribunal, o ex juiz e ex ministro do governo Bolsonaro apontou o vídeo da reunião de vinte e dois de Abril como prova de sua fala (isto, é claro, após enviar à imprensa as conversas de Whatsapp em que supostamente falava com a Deputada Carla Zambelli e com o então chefe de Estado, que em tese comprovariam a versão do ex ministro). </div>
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O vídeo acima aludido foi liberado na íntegra pelo ministro Celso de Melo (Supremo Tribunal Federal), e provocou uma cisura ainda maior na nação. Ao contrário do que se esperava, algumas pessoas se identificaram ainda mais com o conteúdo do vídeo, com a forma de Bolsonaro fazer politica. Outras manifestaram em redes sociais a total repugnância com os ritos e com a solenidade dos cargos chegando a comparar a reunião com uma conversa de botequim. </div>
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Neste ponto, abro esta parágrafo para pontuar que a discussão a respeito de possíveis crimes, por parte do presidente, do ministro da educação, e do meio ambiente ficam à cargo dos juristas. A militância pró, ou contra Bolsonaro e Moro fica por conta dos militantes. Eu não sou militante nem de esquerda e nem de direita. Sou pensador. Mais ainda procuro instrumentalizar os parcos conhecimentos na área de Teologia e Filosofia para exercer atividade crítica. </div>
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Sou professor e como tal minha função é usar desta rede e de todos os meios de comunicação ao meu alcance para educar. O Facebook é uma ferramenta mais acessível do que o Blogger, mas não permite tal ação por conta de um ambiente insano de desrespeito a toda e qualquer autoridade, uma sensação ilimitada de poder no opinar, narcisismo e outros fatores. </div>
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É como professor que me pergunto que tipo de educação se pode esperar de um agente público investido de autoridade para formular diretrizes gerais para a educação em âmbito nacional, que se dirige aos integrantes da suprema corte com a alcunha de vagabundos? Há na fala do mesmo um tom subjetivista indicando que outros poderiam se enquadrar, mas quem são estes que deveriam estar presos juntos com os ministros da suprema corte?</div>
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Ele diz que não está ali para jogar o jogo, mas para uma guerra. Qual jogo que ele não se dispõe a jogar, o democrático? Que tipo de educação recebeu gente que ouve este tipo de fala e concorda, aplaude? Até aqui fica claro que o problema menos não são os palavrões em si, ainda que tais sejam indícios de que a liturgia dos cargos não foi respeitada. </div>
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Que educação recebeu gente que ouve a ministra dos direitos humanos falar que vai <i style="font-weight: bold;">prender governadores e prefeitos que adotaram medidas de isolamento e com isto violaram direitos constitucionais tal como o de ir e vir</i>? Em que sites este pessoal estava que não conseguiu baixar a declaração universal dos direitos humanos e com uma leitura ou mais entender que sem garantias do direito à vida, não há possibilidade de que direito algum seja garantido? Diga-se de passagem que falei deste tema <a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2018/04/etica-e-direitos-humanos.html">neste post</a>. </div>
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Quando acessei os Parâmetros Curriculares Nacionais pela primeira vez ainda estava cursando Pedagogia. Na ocasião, percebi que dentre os objetivos destes elencava-se o preparo do aluno para o exercício da cidadania, para o reconhecimento das diferenças, para o debate e exposição de opiniões, respeitando a opinião alheia, etc...</div>
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Percebo que a educação fracassou mais pela reunião do que pela prova do PISA. Tal como o petrolão, o mensalão e outros casos conhecidos de corrupção revelaram a cara de considerável parte da população brasileira, a reunião de igual modo o fez. Aqueles revelaram a face de quem vota neste ou naquele político e afirma: <i style="font-weight: bold;"> este rouba, mas faz</i>. Faz o quê? O problema é mesmo a corrupção? Importante questão cuja resposta extrapola as motivações do presente blog. </div>
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Mais do que isto, percebo a incoerência de gente que pediu a volta da educação Moral e Cívica, mas apoiou a diminuição de recursos públicos para as áreas de humanas, o que afetou, dentre as disciplinas sociais a Filosofia (creia, base da moral e cívica). </div>
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Lembro-me que quando criança fiz tal disciplina na Escola Municipal Soares Pereira. E na primeira aula a discussão foi bem Aristotélica (ainda que a professora não mencionasse a figura do pensador). Mas está na minha memória a <i>discussão</i> sobre <b>VIRTUDE </b>e <b>VÍCIO</b> (que neste contexto é o contrário daquela. Eu gostaria de saber do povo que apoia incondicionalmente o atual mandatário se as falas e ações ali poderiam ser classificadas como virtuosas. </div>
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Sempre que este tipo de questionamento é feito alguém traz à memória a atual experiência de corrupção, afinal o Lula e o PT são as principais razões para uma votação maciça no que está aí, e não entender isto e nem aderir a este movimento equivalem a compactuar com tudo o que o governo, ou os governos anteriores fizeram. Nada mais enganoso, mas que pegou, infelizmente. </div>
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De fato os governos anteriores erraram, mas como classificar a fala de um funcionário público da esfera federal, de alto escalão que diz ser uma oportunidade que todos se aproveitem do enfoque a imprensa está dando ao COVID-19 para passar medidas ambientais que não se adequam aos limites estabelecidos em lei? Como naturalizar e justificar isto? </div>
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Meu espanto se amplia na medida em que recordo da definição de educação no Dicionário:<b style="font-style: italic;"> processo de desenvolvimento das faculdades físicas, morais e intelectuais da criança</b>. Ou seja, cabe à educação formar cidadãos plenos no sentido moral, físico e intelectual. Mas onde vai parar o senso moral de quem assiste o vídeo e se preocupa exclusivamente se as cenas ali contidas favorecem ou prejudicam seu herói preferido?</div>
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Não bastasse isto tem gente que nem de longe consegue perceber que uma reunião ministerial com chefe de Estado tem interesse público e saúde é o mais público dos interesses devido ao fato de o Brasil ser o novo epicentro da pandemia. O problema já foi resolvido na China, Itália, Espanha e Estados Unidos (que já ocuparam a primeira posição no ranking). Mas está longe de ser resolvido por aqui. </div>
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De lá para cá perdemos os antigos postos de saúde, os serviços públicos essenciais e ainda acumulamos problemas na área sanitária. Há comunidades inteiras sem saneamento básico e sem água potável e nossa ministra de direitos humanos preocupada em prender prefeitos e governadores com base no fato em que estes agiram acertadamente (ao tomar medidas de isolamento)?</div>
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A fala do ministro da Economia merece um post à parte. Mas o funcionário público é o inimigo? Para o ministro aludido e para os que votaram neste projeto político parece que sim. Conheço colegas que compram e reproduzem este discurso. Não são somente palavrões, não são somente crimes contra membros da Suprema Corte, contra o ambiente, não. É um estado de anomia lentamente sendo implantado. </div>
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Marcelo Medeiros</div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-74775858792185660852020-05-24T11:27:00.001-03:002020-05-24T11:27:45.945-03:00Minha opinião sobre o quadro político atual<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7ki2U27KrGPKY-igISbDAHRN_xHoTDeKnzNNee7iVBOEhetP2xAWtLSEKGSnLr_buAtY15IQjmCRuz1BYz9mSlHLNQN127QPXooWiJnNCX8Gj9Mb-yQ0Qa_jM0r_BJ5PGn6qf82XnN_I/s1600/polariza%25C3%25A7%25C3%25A3o+pol%25C3%25ADtica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="565" data-original-width="1200" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7ki2U27KrGPKY-igISbDAHRN_xHoTDeKnzNNee7iVBOEhetP2xAWtLSEKGSnLr_buAtY15IQjmCRuz1BYz9mSlHLNQN127QPXooWiJnNCX8Gj9Mb-yQ0Qa_jM0r_BJ5PGn6qf82XnN_I/s320/polariza%25C3%25A7%25C3%25A3o+pol%25C3%25ADtica.jpg" width="320" /></a></div>
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<a href="https://www.facebook.com/marcelo.medeiros.7140/posts/1872005766240018">Neste post do Facebook</a> afirmei que:</div>
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<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<blockquote class="tr_bq">
<div style="margin-bottom: 6px;">
<div style="text-align: justify;">
Gostaria de aproveitar que fui chamado de petista por um célebre amigo para explicar aqui meu posicionamento político ideológico. Não coaduno com nenhum partido que se apresenta travestido de messianismo político, seja de direita, seja de esquerda. Por razões particulares considero o PT e o PSDB os principais partidos do processo de redemocratização do Brasil. Mas repudio a tendência de manutenção no poder do mesmo, a inércia de Lula em não perceber a falência do projeto inicial do PT e a ausência de investimento em novas lideranças. Repudio igualmente a falta de compromisso com um dos principais projetos do PT, a moralização da política brasileira.</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<div style="text-align: justify;">
Muito teria para falar do PSDB, que vive à sombra de FHC. Mas me permita falar de Bolsonaro. Ele é uma incógnita. Pode fazer um excepcional governo, ou pode ser a maior decepção que o país já teve. Mas de minha perspectiva não possui as qualidade para ser chefe de executivo. Não é porque não saiba de economia, é por não saber falar e nem se articular mesmo. É por não possuir nem o carisma de Lula, nem a oratória de FHC e nem as qualidade de um Itamar Franco. Ele simplesmente é raso, e o mínimo de instrução é o suficiente para que se perceba o principal: ele não poderá cumprir com o que promete (não sem comprometer a democracia).</div>
</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<div style="text-align: justify;">
Minha política é de centro. Celebra a coalizão com o que há de melhor no liberalismo econômico e de melhor na social democracia. E os candidatos que poderia implementar tal perspectiva aqui não foram sequer cogitados pela grossa maioria da população. A esta direciono minhas orações a fim de que percebam que os extremos são perigosos e devem ser evitados.</div>
</div>
<div style="display: inline; margin-top: 6px;">
<div style="text-align: justify;">
Graça e paz.</div>
</div>
</blockquote>
</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-top: 6px;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As afirmações acima são do período de 2018, salvo engano. De lá para cá deixei de fazer postagens de teor político como estas (No Facebook, é claro). Não foi por não ter o que falar. Também não é por falta de formação para tecer juízos na área da política. Foi por ter percebido que,em se tratando de política, a paixão ganhou mentes e corações de forma a inviabilizar o debate pautado na racionalidade. Neste período foi possível observar um clima de guerra espiritual de cunho apocalíptico ganhou dimensões político ideológicas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O somatório de messianismo político (uma espécie de lulismo invertido), antipetismo deram o tom à militância bolsonarista, fazendo da mesma uma nova forma de religião, inviabilizando quaisquer análises racionais. Dentro desta forma de pensar <b><i>quem não é por nós, é contra nós</i></b> e o resultado é que não importa se em um texto um autor assume uma fala crítica tanto à esquerda quanto à direita. Os de extrema direita o verão como <i>petista</i>, e os fanáticos de esquerda o verão como <i>bolsomínion</i>. Não há outras opções. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O entendimento de que figuras históricas da democracia brasileira tais como Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva não são nem anjos e nem demônios, mas unica e tão somente seres humanos com suas qualidades, méritos,deméritos e idiossincrasias parece ser elevado demais, na verdade inatingível. A paixão impossibilita o alcance do pensamento mais básico e elementar possível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quem me acompanha neste espaço pode perceber que falo muito da questão da polarização política no mesmo (<a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2018/10/minha-impressao-respeito-do-resultado.html">aqui</a>, e <a href="https://blogdoprmedeiros.blogspot.com/2018/10/voce-sabe-o-que-e-democracia.html">aqui</a>). Hoje, lógico, percebo que não se trata apenas de polarização em si, mas de fatores irracionais, passionais e religiosos elencados à questão, e contra isto, não se luta, pelo menos não com armas intelctuais, a energia do ódio tem de passar e passa. </div>
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<br /></div>
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Marcelo Medeiros, na paz. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-5336387508939933752020-01-06T14:22:00.000-03:002020-01-06T19:26:17.224-03:00OLAVO DE CARVALHO E PAULO FREIRE EM BREVES CONSIDERAÇÕES.<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8c6DxJaEo7AQcMcUCGAHFLh_Vp8yEVly3O0ujUAnfxFKgj4GRQf7XNK5Ne7ni7bh5maRCaMfi2ZfP2GVEJmaJqHo3dKG3c38WkzMBFZdLtjY61BoCifQonYQK_iX4_NudGgNCY2xs0Ps/s1600/olavo+e+freire+em+Breves+considera%25C3%25A7%25C3%25B5es.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="672" data-original-width="720" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8c6DxJaEo7AQcMcUCGAHFLh_Vp8yEVly3O0ujUAnfxFKgj4GRQf7XNK5Ne7ni7bh5maRCaMfi2ZfP2GVEJmaJqHo3dKG3c38WkzMBFZdLtjY61BoCifQonYQK_iX4_NudGgNCY2xs0Ps/s320/olavo+e+freire+em+Breves+considera%25C3%25A7%25C3%25B5es.jpg" width="320" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="_5pbx userContent _3576" data-ft="{"tn":"K"}" data-testid="post_message" id="js_5" style="background-color: white; line-height: 1.38; margin-top: 6px;">
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Escrevi este texto para o Facebook em Abril de Dois mil e dezenove, por conta das controvérsias envolvendo a família Bolsonaro, Olavo de Carvalho e Paulo Freire. Compartilhei em grupos de whatsapp e em listas de transmissão na referida rede social. Passados mais de oito meses resolvi replicar o referido texto aqui com algumas alterações, a começar pela introdução.</div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Inicio o meu texto criticando a fala de Carlos Eduardo Bolsonaro, ou do administrador do seu perfil no Twitter. Em seguida faço críticas e aponto contradições em Olavo de Carvalho, na verdade no posicionamento do mesmo diante Paulo Freire. E aponto para algo que sempre se repete quando abordo a questão: a não efetivação da pedagogia freireana e a efetivação da olavista com o que há de pior. </div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Na verdade Carlos Eduardo Bolsonaro está fazendo um desfavor e prestando um desserviço para Olavo de Carvalho. Pior, está expondo o que há de falho no pensamento de Olavo de Carvalho sem apontar soluções que ajudem a superar a contradição inerente ao pensamento de Olavista. Quais contradições são estas?</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: inherit;">Ao que parece, Olavo defende uma educação voltada para as artes liberais. Tal defesa dá a impressão de ser una educação mais conteudista, clássica, tradicional. Mas não é somente isto não. As artes liberais são aqueles afazeres (não encontro termo melhor) que o indivíduo exerce sem nenhuma coação externa. Ou seja, </span><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif;">são</span><span style="color: #1d2129; font-family: inherit;"> livres. Daí o serem nomeadas como liberais.</span></div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Aristóteles classifica a poesia e a política entre as artes liberais. Apenas para exemplificar. Qualquer outro trabalho que o homem exercesse movido por qualquer coerção externa era classificado como trabalho escravo. Me espanta o horror que Olavo de Carvalho e a família presidencial tem de Paulo Freire.</div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Primeiro, por conta da herança clássica da filosofia. Todos sabem que a condição de homem livre era a do que podia e dispunha de tempo para se reunir nos lugares públicos e debater os assuntos da pólis (cidade). Em Aristóteles (autor apreciado por Olavo de Carvalho), o homem live era o homem que podia (por não estar sujeito a nenhuma coerção social, econômica) se dedicar à tarefa política. Na Grécia antiga escravos e artesãos eram excluídos do processo político. <span style="font-family: inherit;">Acontece que quem lê Sócrates sabe que para o exercício da tarefa política se faz necessária a educação. É aqui que entra Paulo Freire.</span></div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Segundo, em Freire ocorre a constatação óbvia de que na sociedade nem todos os homens são livres. Suas necessidades os impele e compele a viver em prol de sua subsistência. Defender uma educação voltada para aquisição de competências nas artes liberais e não reconhecer as contradições sociais (que nem todos os homens são livres) é defender uma educação para um grupo de privilegiados. <span style="font-family: inherit;">Nas sociedades mais antigas a escravidão era a garantia da liberdade de poucos. Seria este modelo de sociedade que Olavo e a família presidencial defendem? </span></div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
As oligarquias brasileiras jamais poderiam, podem, ou poderão ser favoráveis a uma pedagogia freireana. Não lhes interessa uma pedagogia que eduque para a ação política, para o exercício da crítica mediada pela leitura de mundo e das bibliografias mais variadas. <span style="font-family: inherit;">Daí que nem a esquerda brasileira tenha dado o devido espaço para Paulo Freire. Muito antes deste afirmar que a educação era um ato político, Aristóteles afirmou que o exercício da política era o propósito do homem. Tanto que para este o homem era um animal político.</span></div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Neste ponto Paulo Freire vai além. Ele assume o existencialismo cristão de Erick Fromm e afirma que o homem é um ser com vocação para ser mais. Ser mais o quê? Mais que um consumidor, mais que um expectador das ações políticas. <span style="font-family: inherit;">Todavia para as camadas populares não há como o homem realizar sua vocação de animal político sem o processo de conscientização de sua condição alienada (tanto dos meios de produção de trabalho, quanto de sua produção cultural).</span></div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
A pedagogia Freire não se efetivou como prática. Nossa educação é tecnicista com elementos de tradicionalismo. Mas neste país a educação liberal de Anísio Teixeira também não se efetivou e isto seria causa para nos levar a pensar. Até porque nem os ditos liberais brasileiros se esforçaram para implementar uma educação liberal aqui neste país. </div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Mas quem é Olavo de Carvalho? Um indivíduo que escreve sobre Filosofia e produz texto interessantes, mas que na maioria de seus vídeos destila amargura e ódio por não ser reconhecido pela academia brasileira, e que escolheu como principal justificativa a narrativa de que a mesma é aparelhada pela esquerda (algo repetido constantemente por nosso [inclusive meu para minha vergonha], atual presidente). </span></div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Fico imaginando as cólicas que ele deve sentir por saber que um Paulo Freire que ele tanto critica possui reconhecimento internacional, o que inclui Harvard, ao passo que ele é um autodidata voltado para conspirações e mais conspirações. Conheço gente que fez o COF (curso filosófico ministrado pelo aludido), que me garante que no referido há muita leitura medieval, muito conteúdo que não aparece na academia. </div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Particularmente odeio este conspiracionismo. A educação freireana não se efetivou, tal como a liberal. Já falamos disto nas linhas acima. Mas alguns alunos de Olavo de Carvalho me espantam ao extremo, pela ignorância e pela má vontade e desonestidade intelectual total. Admiro Paulo Freire, mas não o tenho como meu guru. Talvez sequer saiba citar uma frase do mesmo. Mas me espanta o posicionamento idolátrico de alguns ex alunos de Olavo de Carvalho para com o mesmo como se este fosse um tipo de profeta, ao invés de um pensador. </span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<span style="color: #1d2129; font-family: inherit;">Uma atitude que não se vê nas Pedagogias críticas. Li livros de alunos de Paulo Freire, como Paulo Ghiraldelli, Mário Sérgio Cortella, e Álvaro Vieira Pinto. Não vejo por parte deles uma idolatria em relação ao Freire. O mesmo posso dizer do Libâneo, aluno do Demerval Savianni. O que observo em ambos os casos são releituras do pensamento de seus mestres, algo que os olavetes parecem não conseguir fazer. Mas conversando com alguns alunos de </span><span style="color: #1d2129;">Olavo</span><span style="color: #1d2129; font-family: inherit;"> sobre a crítica deste à Marx e sobre as falhas no pensamento de, observo nestes falas do tipo: <i>para mim, isto é a verdade</i>, ou <i>ele sabe demais</i>. Esta falta total de senso crítico me impressiona. </span><br />
<span style="color: #1d2129; font-family: inherit;">A impressão aumenta ainda mais quando se leva ame conta que na história da Filosofia não é nada surpreendente que discípulos se distanciem do pensamento de seus mestres. Foi assim com o próprio Platão que se distanciou de Sócrates em sua teoria do mundo das idéias, em sua antropologia e epistemologia. Foi assim com o próprio Aristóteles que se distanciou da teoria platônica. </span><br />
<span style="color: #1d2129; font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="color: #1d2129; font-family: inherit;">Os alunos de Olavo não conseguem, salvo raras exceções, para não ser injusto fazer tal distanciamento. Há uma preocupação injustificável para com uma suposta influência de Paulo Freire em nossa educação. Mas o nível do debate em redes sociais demonstra que o <i>ad hominen </i>e os xingamentos é que prevalecem entre os discípulos de Olavo de Carvalho. </span></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
Aos que insistem em ver no Paulo Freire um comunista marxista, o fazem por terem lido muito mal as suas obras, só tenha a dizer que seu maior discípulo é um dos palestrantes mais acionados para palestras em empresas e que produzem livros e mais livros na área. Mario Sérgio Cortella é o nome deste. Amei o jeito como ele desarticulou o Caio Copola na jovem pan. Abraços. </div>
<div style="color: #1d2129; font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #1d2129; display: inline; font-family: inherit; margin-top: 6px;">
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<span style="font-family: inherit;">Marcelo Medeiros. Pedagogo, Especialista em Ciências da Religião e Pós graduando em Docência da Teologia e da Filosofia. </span></div>
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<div style="display: inline; font-family: inherit; margin-top: 6px;">
<br /></div>
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<div class="_3x-2" data-ft="{"tn":"H"}" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px;">
<div data-ft="{"tn":"H"}" style="font-family: inherit;">
<div class="mtm" style="font-family: inherit; margin-top: 10px;">
<div style="font-family: inherit; position: relative;">
<div class="_5cq3 _1ktf" data-ft="{"tn":"E"}" style="font-family: inherit; margin-left: -12px; position: relative;">
<a ajaxify="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2160622007378391&set=a.267988009975143&type=3&eid=ARBRZul28x5zTAooWGi-Hcj6C6ji6nyfoCMoTOp4_YVg6SWTy0SydFFYH5K5wU11dv6kxGDsZUHZoXnP&size=720%2C672&source=13&player_origin=story_view" class="_4-eo _2t9n" data-ploi="https://scontent-gig2-1.xx.fbcdn.net/v/t1.0-9/57591601_2160622010711724_2625672048172597248_n.jpg?_nc_cat=111&_nc_ohc=VB4KAJFWD1YAQmvvwpmVsYUREnBC0kLNMAMxJgIH-DNPdZ0AWvEK-qJXw&_nc_ht=scontent-gig2-1.xx&oh=521f10cd6431049642ab259d12617db1&oe=5EA36E3F" data-render-location="permalink" href="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2160622007378391&set=a.267988009975143&type=3&eid=ARBRZul28x5zTAooWGi-Hcj6C6ji6nyfoCMoTOp4_YVg6SWTy0SydFFYH5K5wU11dv6kxGDsZUHZoXnP" rel="theater" style="box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.05) 0px 1px 1px; color: #385898; cursor: pointer; display: block; font-family: inherit; position: relative; width: 500px;"></a></div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-47548684126443257102020-01-04T22:29:00.002-03:002020-01-04T22:29:30.691-03:00O que é Pedagogia, ou Ciências da Educação?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5j-u4a2KqB7P6fOufzlKQ3lOoQHn_tSpLkxYMVole8KhBmsZj5VZ6sZyH-wHVfDet_kqndRIuEX2NZgYwqRXpPs5jAAkb5OImhvOuyhvo-V7FV2F78VVRtGl2aobEI4QZm5F6DsMQaXA/s1600/81440238_2658922864214967_241013661773070336_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="579" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5j-u4a2KqB7P6fOufzlKQ3lOoQHn_tSpLkxYMVole8KhBmsZj5VZ6sZyH-wHVfDet_kqndRIuEX2NZgYwqRXpPs5jAAkb5OImhvOuyhvo-V7FV2F78VVRtGl2aobEI4QZm5F6DsMQaXA/s320/81440238_2658922864214967_241013661773070336_o.jpg" width="192" /></a></div>
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Qual educação é a melhor para o meu filho? Esta é a pergunta que muitos pais fazem na atualidade. Para tal indagação existe uma gama considerável de respostas, e uma gama maior ainda de pessoas de todas as áreas do saber para tentar responder tais questões. As aulas de História da Educação na faculdade de Pedagogia já denunciavam este problema de longas datas. No Brasil demoraram a aparecer as faculdades de educação, voltadas para a formação de professores, o que explica a atualidade de intervenção de especialistas das demais áreas na área da educação. Mas vamos ao que é Pedagogia.</div>
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Sou pai e sei que não há nada de anormal que um pai tenha tais preocupações, tal como se preocupa com a saúde de seu filho. Mas quando se quer um diagnóstico médico um pai faz o quê? Consulta a um especialista. E o que faz quando a questão é educacional? Propõe respostas, ou soluções. Aqui entre nós sou pedagogo e nas reuniões de escola jamais me coloquei como tal. Confiei e confio na competência técnica dos profissionais da escola. Afinal, eles são especialistas. </div>
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<br /></div>
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Mais do que óbvio, que nas reuniões em que participei, da creche à Escola, fui reconhecido como tal em razão de uma linguagem comum, fora os colegas de faculdade que são encontrados ao longo da estrada, e do caminho. </div>
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Meu propósito com este post é comunicar aos leitores de todas as áreas a especificidade do saber educacional (que é seu caráter multi, pluri e interdisciplinar). Indicar que numa sociedade complexa é mais do que normal que especialidade apareçam e dentre as tais a educação termina por configurar-se como tal, e que por este motivo o Pedagogo é especialista em educação.</div>
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Pedagogia é uma palavra que vem do grego <i>pedagogos</i> cujo significado é a de um escravo cuja função consistia em conduzir o menino até o mestre. Na atualidade é um conjunto de conhecimentos que visam lançar luz sobre o processo de ensino/aprendizagem. Neste conjunto de conhecimentos entram desde saberes como a Filosofia (que não é uma ciência por conta da falta de objeto), a Sociologia (visto que a função da educação é preparar o homem para um tipo de sociedade), Antropologia, Ciência Política, História, Epistemologia, e Metodologia Científica.</div>
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Em outras palavras o processo de ensino e aprendizagem é visto sob um olhar multi, pluri, e interdisciplinar. É múltiplo porque aborda teorias discordantes dentro de um mesmo saber, conforme visto na Filosofia, por exemplo, onde são abordadas a epistemologia platônica e a aristotélica, que são discordantes entre si. É pluri por conta da pluralidade de ideias e saberes. É interdisciplinar porque busca na variedade científica um único objetivo: o de lançar luz sobre o processo de ensino/aprendizagem.</div>
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Tal como advogados, engenheiros, dentistas, médicos, pedagogos são especialistas. Especialistas em quê? Em educação. Melhor: no processo de ensino e aprendizagem. (Pelo menos a grade da maioria das graduações de Pedagogia aponta para isto). Na medida em que o número de doutores em educação for aumentando, acredito que pedagogos se firmem cada vez mais como as vozes que possuem autoridade na educação. Mas sei que é um processo ainda muito longo.</div>
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<br /></div>
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O leitor possivelmente esteja se indagando a respeito do motivo de tanto estudo em tantas áreas do saber para poder ter autoridade ao falar sobre educação. Mas educação é mesmo um processo complexo e a Pedagogia é um conjunto de conhecimento justamente porque não há um único saber, ou uma única ciência que dê conta do processo como um todo.</div>
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Daí que um grupo de especialistas busque na Filosofia clássica até a moderna e pós moderna a compreensão a respeito do homem, da maneira como este aprende, e das razões finais para o aprendizado. A sociologia visa responder pelas diferenças de sociedade para sociedade e de como tais diferenças impactam na educação. Pense em uma sociedade como a judaica, cuja educação pós exílica consistia no preparo do menino para que este tivesse condições de firmar sua identidade judaica face à realidade na diáspora, ou após o exílio na Babilônia.</div>
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A história mostra como cada sociedade educou e educa ao longo do tempo. A ciência política busca responder como as políticas públicas impactam nas politicas educacionais e no produto final da educação. A psicologia visam lançar luz sob aspectos psicológicos da educação (lembrando que o funcionamento da mente também foi objeto da Psicologia, que foi e tem ampliado cada vez mais seu objeto de estudo, ao passo de intelectuais como Bourdieu proporem união entre a Psicologia e a Sociologia).</div>
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Educação não é algo que se faz com achismos, ou a postura eu acho e esta é a minha opinião. Não! Educação se faz com a junção de saberes e com a instrumentalização dos mesmos no processo de crítica das práticas. O que quero dizer aqui é que os saberes são usados com vistas ao processo de contínua avaliação das práticas educacionais. Ou seja, não constituem fórmulas prontas de como educar.</div>
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De igual modo educação demanda interesse por parte de quem se propõe a ensinar e de quem se propõe a aprender. Demanda convívio e diálogo mais do que contínuo. As ideias e os modelos passam, mas a necessidade humana de convívio e de troca parecem permanecer. É por isto que a educação sempre existirá. Pelo menos enquanto houver sociedade que suscite demandas sociais que a educação e tão somente ela possa atender. </div>
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Pense na sociedade moderna e indague porque em sua escola havia uniforme, fila para entrar, sinal de entrada, sinal de recreio, fila para a merenda, e você entenderá as razões. A Escola Moderna é filha da fábrica. Não estou falando o que falo aqui de minha cabeça. Tomás Tadeu Silva e Paulo Ghiraldelli Jr trabalham com esta ideia em seus respectivos livros. No caso do primeiro, a referência é Documentos de Identidade, as teorias modernas do currículo e no segundo Filosofia da Educação e Didáticas e Teorias Educacionais.</div>
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É filha da fábrica porque criada para responder às demandas de uma sociedade cujo fundamento era a técnica. Daí que do uniforme, ao sinal de entrada, à carteirinha escolar, à concepção de progresso educacional baseado em série, tudo seja reflexo de uma fábrica. A adoção de uma concepção mais tecnicista reforça o modelo fabril. De certa forma a reprovação também. Mas o que acontece quando a sociedade passa por um processo de desindustrialização? </div>
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O modelo entra em crise. Na verdade crise não é algo novo em sociedade e menos ainda em educação. E é nas crises que pensadores elaboram as mais diversas teorias educacionais. E o fazem pela leitura prévia de questões que em regra o grande público não percebe. Tomemos como exemplo as crises do capitalismo do século passado, várias teorias sociais foram levantadas e várias propostas educacionais vieram nesta esteira. </div>
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<br /></div>
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Pedagogia Tradicional, Pedagogias Liberais, Pedagogia Libertadora, Anarquista, Crítico Social dos Conteúdos, são exemplos de alguns modelos educacionais que foram propostos a partir do primeiro quarto ao último do século passado, e deixam importante legado para a reflexão das práticas pedagógicas. A maior de todas é a reflexão a respeito da diversidade. </div>
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Quando se tem um grupo homogêneo, é fácil educar. A dificuldade é quando se pretende estender a educação para diferentes grupos. Alguns se adaptam muito bem à Pedagogia Tradicional, outros às Liberais, os analfabetos do nordeste deram-se muito bem com o método freireano, já alunos de escolas federais parecem lidar bem com docentes que trazem uma proposta educacional mais política e politizadora. </div>
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O que importa neste ´processo é que a educação forme pessoas capazes de resolver os problemas de sua respectiva sociedade. Aliás, este sim é o melhor teste para se saber que a educação está, ou não, indo bem. Mas é um assunto que seguramente merece um outro post e uma reflexão mais atenta. </div>
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Marcelo Medeiros, Pedagogo, Especialista em Ciências da Religião, Pós graduando em Docência da Teologia e Filosofia. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-90400478222709203162020-01-03T00:16:00.001-03:002021-02-16T11:05:07.541-03:00A Pedagogia de Sócrates<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7S8raqwe2fSCrm5iAf7eEwamPDyNzFx73no_WX6yNN0DAOXD8v7uuRDZirFFgO8PhMqmr35GGRed8-Blz-in7wgiuUvHBzoOnITT6vXU8nwUbfnpSk-_fcU6WxWMiBIsxicq1Lz3mujg/s1600/a+pedagogia+de+s%25C3%25B3crates.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="579" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7S8raqwe2fSCrm5iAf7eEwamPDyNzFx73no_WX6yNN0DAOXD8v7uuRDZirFFgO8PhMqmr35GGRed8-Blz-in7wgiuUvHBzoOnITT6vXU8nwUbfnpSk-_fcU6WxWMiBIsxicq1Lz3mujg/s320/a+pedagogia+de+s%25C3%25B3crates.jpg" width="192" /></a></div>
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<br />
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Sócrates foi o primeiro personagem filosófico com o qual me fascinei, e confesso que até hoje ele exerce extremo fascínio sobre mim. Tanto que em meus primeiros trabalhos na faculdade de Pedagogia ele foi tema. Mas por que falar nele neste momento? Os tempos atuais exigem que se faça reflexão filosófica. O Escola sem partido trouxe à tona uma gama de discussões a respeito. É possível uma educação apolítica, apartidária, ou neutra do ponto de vista ideológico? Creio que a resposta seja não. Mas como a leitura de Sócrates pode contribuir neste processo? </div>
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A leitura do livro O que é Educação, da coleção primeiros passos, traz o conceito de Educação como sendo <b>todo processo de compartilhamento e transmissão de saberes entre os homens</b>, podendo variar do ensino da pesca na tribo até a aula na Escola moderna. Mas a base é a convivência humana e as relações decorrentes da mesma. Envolve diálogo e troca. É aqui, creio eu que entra a pessoa, ou a figura de Sócrates. Mas antes de falar deste personagem, necessário se faz apontar uma outra questão e para tal abrirei outro parágrafo. </div>
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A Educação existe para atender as demandas de uma sociedade. Foi assim em Esparta, em Atenas, na diáspora judaica e na sociedade industrial. Na Atenas de Sócrates a necessidade maior estava para a formação do homem político, que deveria ser capaz de discursar na ágora e em demais espaços públicos e defender suas idéias. Mas uma das mazelas deste período foi a ascensão de um público que parecia saber algo, mas na verdade não sabia tanto. </div>
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O nascimento da Filosofia socrática tem a ver com a consulta de Querofonte ao oráculo, e em resposta este recebe a seguinte fala: <i>Socrates é o mais sábio dos homens</i>. Se tal, fosse aceito irrestritamente, não haveria Filosofia e creio que nem educação. Mas foi o espanto diante da fala do amigo que o levou a investigar. A dúvida diante da sabedoria a ele atribuída pelo oráculo e a certeza de que nada sabia o levaram a investigar. </div>
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O método socrático é conhecido como maiêutica, na perspectiva dele o conhecimento era uma forma de parto. A leitura que faço da metodologia é a de que tal como ocorre no parto, que é precedido por contrações incômodas, o conhecimento traz dor, e isto em razão de nosso primeiro conhecimento é o de nossa ignorância. É este saber que abre espaço para os demais saberes. </div>
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<br /></div>
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O modo escolhido por Sócrates para fazer o parto do conhecimento era o diálogo dirigido por perguntas formuladas de forma tal e fazer o interlocutor perceber a sua ignorância. O método desagradou de forma tal que Aristófanes compôs uma peça em que Sócrates era comparado a uma mosca que voava em um jantar pousava na comida e incomodava a todos. A ironia procede pelo fato de que a maioria dos diálogos de Platão em que a figura de Sócrates é trabalhada, este aparece em banquetes e conversando.</div>
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A pedagogia de Sócrates tem como base o diálogo, a fala, mas não uma fala sem a mínima diretividade, marcada pelo suposto espontaneísmo de teorias educacionais recentes. Mas a fala direcionada a fim de que o interlocutor perceba sua ignorância. Pascal afirmou que <b><u>existem pessoas que nada sabem, e há pessoas que estudam até constatar que nada sabem e com isto passam da ignorância não sabida para uma ignorância esclarecida. O problema, prossegue o filósofo, está com quem fica na metade do caminho</u></b>. </div>
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Nas minhas experiências pessoais não tenho tudo problemas com especialistas. E lido com gente das mais distintas áreas do saber: psicanálise, história, psicologia, música, medicina, Teologia, Filosofia e não percebo nestes a tão propalada arrogância. Meu maior problema é com gente que lê mau, interpreta mau minha escrita e não sabe conceituar termos. Gente que transparece nunca ter lido, ou consultado verbetes nos dicionários da língua portuguesa. </div>
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Voltando às palavras de Pascal, poderíamos afirmar que o problema se dá, ou dá-se, com indivíduos de conhecimento mediano. Se na época de Sócrates o problema era com quem era treinado na arte argumentação, ainda que sem ter conteúdo, o problema atual é com quem tem formação rasa e baseada em memes, vídeos de internet e afins. </div>
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Eu creio na maiêutica socrática e no diálogo como ferramenta educacional, a despeito da barbárie que tem se instalado. Por mais incrível que isto possa parecer perguntar ainda é o caminho. A diferença básica é que todo desvelamento da ignorância própria e alheia é ofensiva, nas redes sociais isto é mais verdadeiro do que nunca. Tenho percebido a diferença de comportamento no público e no privado, no pessoal e no olho à olho. Mas a gente segue perguntando, falando. </div>
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Contudo, sei que educar é uma ação dolorosa, para quem gosta de educar/ensinar e para quem tem de lidar com uma mosquinha que não é bem vinda, mas que teima em posar na sopa alheia. minha percepção é a de que para uma esmagadora parcela de pessoas a vida seria interessante se fosse um banquete, mas ninguém toasse a palavra e muito menos fizesse perguntas. Às vezes no ambiente educacional o aluno questionador, indagador que faz as intervenções não é bem vindo. </div>
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Masa despeito do que foi escrito acima minha crença ainda permanece. Me identifico profundamente com perguntas. Sou cristão, leitor de Filosofia e de Bíblia e tanto Deus como seus eleitos amam fazer perguntas, e amam ainda mais deixar algumas delas em suspense. Talvez seja esta similaridade entre o pai da filosofia grega e Deus/Jesus a causa da admiração pelo Filósofo em apreço. É curioso que Deus ame tanto fazer perguntas e a galera que afirma seguir ele não gostar muito. </div>
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Marcelo Medeiros, Pedagogo, Especialista em Ciências da Religião e em Docência da Teologia e da Filosofia. </div>
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paideia blog do pr medeiroshttp://www.blogger.com/profile/06839102981785603836noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7496486950072679059.post-42785910176135835442019-03-21T17:12:00.001-03:002019-03-21T17:12:18.224-03:00Temer e Moreira Franco presos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC1Pvcpa3xwKmBVSVab954Lt8RR8DxveCbjK2RO5gFNSKq3KqDkkBZ9nKSua0wDjV8-C8FaHB_0EYZ_KzQQNjdszzyy1PDDijWW5mQ0Iq7TxRGRFazTElWAZsr-DTtZlaft644cFpHB58/s1600/Temer+e+Moreira+Franco+presos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="842" data-original-width="1262" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC1Pvcpa3xwKmBVSVab954Lt8RR8DxveCbjK2RO5gFNSKq3KqDkkBZ9nKSua0wDjV8-C8FaHB_0EYZ_KzQQNjdszzyy1PDDijWW5mQ0Iq7TxRGRFazTElWAZsr-DTtZlaft644cFpHB58/s400/Temer+e+Moreira+Franco+presos.jpg" width="400" /></a></div>
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Enquanto almoçava vi pela televisão as imagens da prisão de Michel Temer e Moreira Franco. Automaticamente me lembrei de uma sessão na câmara para decidir a respeito do impeachment do primeiro quando ainda era presidente da república. Confesso que senti repúdio e vergonha da bancada evangélica e dos partidos de centro e de direita por conta dos votos que livraram este de um impedimento. </div>
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Não sou lulista, nem petista, mas confesso que a política <i><b>dos dois pesos e duas medidas</b></i> me deixou com nojo. Toda a nação entrou em ebulição diante da possibilidade de Luís Inácio Lula da Silva, voltar ao governo na condição de ministro e assim ter o foro privilegiado, mas não vi a mesma indignação com o protecionismo da câmara ao ex-presidente, e ao ex-ministro. Mas o pior ainda está por vir. </div>
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De minha parte, a surpresa para com a prisão de ambos em razão de um mandado expedido por ninguém mais, ninguém menos do que o juiz Marcelo Bretas, o mesmo que mandou prender Sérgio Cabral, e o condenou. Não era para ter me admirado e nem me surpreendido, em razão das acusações que pesavam sobre ambos na época em que Temer presidia o país. </div>
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Da parte de meus colegas que almoçavam comigo, <i style="font-weight: bold;">apatia</i> e <i><b>cinismo </b></i>para não falar em ceticismo mesmo. As faces pareciam dizer que ou tudo aquilo não daria em nada, ou que tudo era indiferente. Daí minha pergunta, onde foi parar aquele ímpeto no combate à criminalidade e à corrupção? Onde foi parar o sangue nos olhos (expressão metafórica)? </div>
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Mas o maior de todos os males é a descrença na via política como instrumento de transformação da sociedade. A prisão de Michel Temer vem em uma época em que ao mesmo tempo em que o povo elege um presidente com vistas à realização de mudanças, mas que ao mesmo tempo manifesta uma oscilação entre uma fé inabalável e descrença de que tais mudanças ocorram de fato. </div>
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A frase <i style="font-weight: bold;">vamos torcer para dar certo</i>, ou a interpretação de toda crítica como uma conspiração são emblemáticas. Quem não torce para dar certo, ou quem critica é imediatamente taxado de contrário ao governo, quando na verdade a crítica sempre fez parte do processo democrático. Creio que tivéssemos sido mais críticos, ou incisivos em nossa crítica para com o PT, por exemplo, ou com Temer, não estaríamos vivendo dias como os que hoje vivemos. </div>
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Em uma conversa a respeito da Reforma da Previdência, ao expor o quanto ela seria nociva para os mais pobres, ouvi frases do tipo: <i style="font-weight: bold;">mas o pobre sempre se dá mal mesmo. </i>Na minha percepção é um claro indício de que a euforia vai se transformar em melancolia. </div>
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Segundo o site G1, a prisão de Temer foi recebida com indignação por parte do mesmo, ao passo que o Senador Major Olímpio, viu como sinal de mudança no país. A passagem de um momento em que alguns poderiam se ver acima da lei, para um momento em que <i style="font-weight: bold;">todos estariam sujeitos às penas e sanções da mesma</i>. </div>
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De minha parte fica a oração para que Deus conduza as autoridade neste processo de forma tal que a verdade dos fatos venha à tona, lembrando que ainda que sejam réus em processo, são sujeitos de direitos. Que este fato não se reduza a uma plataforma política, mas que traga de fato um novo momento (em termos de justiça), para a nossa nação. Forte abraço em você caro leitor. </div>
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Marcelo Medeiros. </div>
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