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quinta-feira, 21 de março de 2019

Temer e Moreira Franco presos




Enquanto almoçava vi pela televisão as imagens da prisão de Michel Temer e Moreira Franco. Automaticamente me lembrei de uma sessão na câmara para decidir a respeito do impeachment do primeiro quando ainda era presidente da república. Confesso que senti repúdio e vergonha da bancada evangélica e dos partidos de centro e de direita por conta dos votos que livraram este de um impedimento. 

Não sou lulista, nem petista, mas confesso que a política dos dois pesos e duas medidas me deixou com nojo. Toda a nação entrou em ebulição diante da possibilidade de Luís Inácio Lula da Silva, voltar ao governo na condição de ministro e assim ter o foro privilegiado, mas não vi a mesma indignação com o protecionismo da câmara ao ex-presidente, e ao ex-ministro. Mas o pior ainda está por vir. 

De minha parte, a surpresa para com a prisão de ambos em razão de um mandado expedido por ninguém mais, ninguém menos do que o juiz Marcelo Bretas, o mesmo que mandou prender Sérgio Cabral, e o condenou. Não era para ter me admirado e nem me surpreendido, em razão das acusações que pesavam sobre ambos na época em que Temer presidia o país. 

Da parte de meus colegas que almoçavam comigo, apatia e cinismo para não falar em ceticismo mesmo. As faces pareciam dizer que ou tudo aquilo não daria em nada, ou que tudo era indiferente. Daí minha pergunta, onde foi parar aquele ímpeto no combate à criminalidade e à corrupção? Onde foi parar o sangue nos olhos (expressão metafórica)? 

Mas o maior de todos os males é a descrença na via política como instrumento de transformação da sociedade. A prisão de Michel Temer vem em uma época em que ao mesmo tempo em que o povo elege um presidente com vistas à realização de mudanças, mas que ao mesmo tempo manifesta uma oscilação entre uma fé inabalável e descrença de que tais mudanças ocorram de fato. 

A frase vamos torcer para dar certo, ou a interpretação de toda crítica como uma conspiração são emblemáticas. Quem não torce para dar certo, ou quem critica é imediatamente taxado de contrário ao governo, quando na verdade a crítica sempre fez parte do processo democrático. Creio que tivéssemos sido mais críticos, ou incisivos em nossa crítica para com o PT, por exemplo, ou com Temer, não estaríamos vivendo dias como os que hoje vivemos. 

Em uma conversa a respeito da Reforma da Previdência, ao expor o quanto ela seria nociva para os mais pobres, ouvi frases do tipo: mas o pobre sempre se dá mal mesmo. Na minha percepção é um claro indício de que a euforia vai se transformar em melancolia. 

Segundo o site G1, a prisão de Temer foi recebida com indignação por parte do mesmo, ao passo que o Senador Major Olímpio, viu como sinal de mudança no país. A passagem de um momento em que alguns poderiam se ver acima da lei, para um momento em que todos estariam sujeitos às penas e sanções da mesma

De minha parte fica a oração para que Deus conduza as autoridade neste processo de forma tal que a verdade dos fatos venha à tona, lembrando que ainda que sejam réus em processo, são sujeitos de direitos. Que este fato não se reduza a uma plataforma política, mas que traga de fato um novo momento (em termos de justiça), para a nossa nação. Forte abraço em você caro leitor. 

Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A Natureza dos Demônios - Agentes da maldade no mundo espiritual



O termo batalha espiritual pressupõe, por si só, a existência de lados antagônicos em torno de uma questão. Não há sentido em se falar de um conflito espiritual a partir de uma percepção monista, salvo se houver admissão de que o Absoluto possa trazer alguma forma de conflito em si. Fato, é que a partir de um determinado momento as Escrituras Judaicas inserem a figura dos demônios em sua teologia, mais do que isto faz desta inserção uma forma de de explicar a realidade e os constantes conflitos entre o povo judeu e os que buscavam corromper sua fé. 

Aqui, convém que se afirme uma verdade: poucos são os teólogos dispostos a levarem às ultimas consequências a declaração de que a revelação (ou se quiser entender como "percepção do sagrado", que o seja, é progressiva, ou processual). Com isto quero dizer que o modo como o homem percebe e descreve o  sagrado é histórico. 

Que o leitor não se espante caso eu abuse do negrito e do itálico, mas é algo necessário a fim de que algumas verdades teológicas possam ser estabelecidas neste estudo. De Gn até I Sm não há o mínimo indício de uma crença judaica na existência dos demônios. Pelo menos não como ocorre no no livro de Tobias e no restante da literatura apócrifa (apocalíptica). 

Mesmo as referências em que se fazem menção aos demônios, na verdade são descrições da percepção que se tinha a respeito dos ídolos (Dt 32. 17; II Cr 11. 15; Sl 106. 37). Não há, por parte do judeu, o menor interesse em formalizar sua crença nos demônios. Tanto as coisas boas, quanto as coisas más eram atribuídas à Deus (Is 45. 7). O anjo que se manifesta para Balaão, digo para a mula deste adivinho também é chamado de Satã no texto em hebraico (Nm 22. 22, 32). 

Um indicador importante é o modo como II Sm 24. 1 e I Cr 21 narram o mesmo fato. Na versão antiga, Deus se ira com Davi e com o intuito de o castigar, o incita  enumerar o povo de Israel. Na versão mais recente não é mais Deus, mas Satã quem se levanta contra Davi. Mesmo em Jó, o termo não significa ainda um princípio mal que se opõe a Deus, mas uma espécie de promotor público do céu (Jó 1 - 2). 

É tradição entre nós atribuir textos de Is 14. 12 - 15 e Ez 28. 12 - 15 o caráter de descrição de queda de Satanás, quando não o são. Falam respectivamente dos soberanos de Babilônia e Tiro. Tanto que Norman L. Geisler em sua Teologia Sistemática lançada pela Casas Publicadoras das Assembleias de Deus, assume que o entendimento de que tais textos sejam uma referência a uma possível queda de Satanás, seja na verdade uma inferência por analogia. 

O que quero falar aqui é que a leitura direta dos textos sugere o entendimento de que ambos falem de soberanos humanos. O contexto cultural em que o bem e o mal são explicados em termos de efeitos da obediência e desobediência à aliança, não abre espaços para a crença em demônios, como agentes do mal, e nem como seres possuidores de autonomia para agir. 

A expressão δαιμονιων (daimonion), vem do grego δαιμον, que na cultura grega era um deus, ou gênio bom que seguia as pessoas mais proeminentes na sociedade. No diálogo platônico Eutífron, é dito por Eutífron que Sócrates afirmava ouvir um δαιμον a todo o momento. Com isto a Filosofia de Sócrates, que é primorosa era atribuída à ação demoníaca. 

Aqui há que se lembrar que na cultura grega não há a diferença entre demônios e deuses. Somente a partir da Filosofia Helenística que se desenvolverão na cultura grega a crença em uma hierarquia demoníaca que fará a mediação entre deuses e os homens. Logo a percepção de que os demônios são maus caberá aos judeus, que farão associação destes com os espíritos que lançam males nos homens. 

É no livro de Tobias que tal entendimento aparece pela primeira vez. Antes de abordar tal passagem, necessário se faz observar que embora a declaração de fé das Assembleias de Deus não reconheça a inspiração de tais livros, e as teologias criticas, bem como as Ciências da Religião, lancem dúvidas sobre o caráter canônico de qualquer livro, há que se reconhecer a diferença entre valor sagrado e valor histórico. 

Para autores como Wheeler e Gabel, o valor canônico é constituído pela leitura e importância que a comunidade dá a um determinado livro. Já o valor histórico é atribuído ao historiador e ao exegeta, que a partir de determinados documentos procuram entender o contexto cultural em que determinados textos foram elaborados. 

Com isto, quero dizer que entendo a posição dos formuladores da Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Mas como Teólogo e Cientista da Religião não posso deixar de dar o devido valor aos documentos históricos. Tal como não posso ignorar o processo linguístico na formulação do conceito judaico de demônios. Feitas tais considerações poderei passar para o livro de Tobias. 
Então Tobias perguntou ao Anjo: "Azarias, meu irmão, que remédio há no coração, no fígado e no fel do peixe?" Respondeu-lhe ele: "se se queima o coração, ou o fígado de um peixe diante de um homem, ou uma mulher atormentado por um demônio, ou por um espírito mau, a fumaça afugenta todo o mal e o faz desaparecer para sempre. Quanto ao fel, untando com ele os olhos de um homem que tem manchas brancas, e soprando sobre as manchas ele ficará curado (Tob 6. 7 - 9 Bíblia de Jerusalém). 

Particularmente não uso como regra para minha vida prática o ato de exorcizar espíritos maus através de queima de quaisquer substâncias. Mas reconheço o valor histórico de tais narrativas. Estas refletem a crença de uma determinada época. Assim, quando orientado a se casar com a filha do devedor de seu pai, Tobias responde ao Anjo Rafael:
Azarias, meu irmão, ouvi dizer que a mesma foi dada a sete maridos e que todos morreram na noite de núpcias; morriam ao entrar onde ela estava. também ouvi dizer que era um demônio que os matava, por isto tenho medo. A ela não faz mal algum, porque a ama, mata porém quem queira aproximar-se dela. Sou Filho único, se eu morrer farei descer ao túmulo a vida de meu pai em consequência da sua tristeza por minha causa (Tob 6. 14, 15 Bíblia de Jerusalém). 
Diante de tal o Anjo Rafael repete a orientação dada nos versos anteriores. Ao seguir as orientações do anjo, o demônio Asmodeu é expulso e preso no Egito. 

É tardia a percepção de que a serpente do Éden fosse uma entidade espiritual que em decorrência de uma queda veio a tornar-se um inimigo de Deus e dos homens. Conforme ressaltado pelo autor da lição de Escola Bíblica Dominical, é tardia, na verdade oriunda da literatura apócrifa e apocalíptica a percepção de um adversário que se opõe a Deus e aos homens. 

O autor de Sabedoria de Salomão afirma que Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria natureza, foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo (Sab 2. 23, 24 Bíblia de Jerusalém). em regra diabo, ou διαβολου (diabolou) é a designação grega para o Hebraico השטן (ha Satan), que significa o Adversário. Mas aqui há que se fazer lembrar as observações de Walter Eichrodt para quem tanto השטן quanto διαβολου somente assumirão o status de maiorais dos demônios na literatura apocalíptica. Antes disto διαβολου e השטן são termos equivalentes para designar uma espécie de promotor celestial. 

Assim, no livro de Jó, Satanás vem entre os benai elohim - בני האלהים - ou filhos de Deus para lembrar ao próprio Deus que a fidelidade de Jó não é nada especial, uma vez que a mesma nunca fora realmente testada (Jó 1. 6- 9; 2. 1 - 6). O mesmo ocorre com Zc 3. 1, 2 e,m que o sumo sacerdote Josué é acusado, mas suas próprias vestes depõem contra ele. Satanás somente o acusa. 

O livro de Enoque apresenta uma versão suy generis para a origem dos demônios. Ali anjos abandonam seu principado e movidos pela concupiscência eles constituem corpos para si e coabitam com as mulheres (En Et 6. 1ss; II Pe 2. 4; Jd v. 6). Desta união espúria surgem surgem os Nephilins que correspondem aos Titãs de acordo com Gn 6. 1- 4ss. 

De acordo com En Et 6 - 16 o chefe dos guardiões são presos e outra parte segue atormentando aos demais homens até o dia em que serão julgados. É em Ap 12 que a João faz uma breve retrospectiva da história que visa narrar a luta entre o bem e o mal. Ali Satanás é identificado com a serpente do Éden e s conceitos acima são reunidos e integrados a esta pessoa. 
E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono. E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias. E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem. E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente. E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar. E a terra ajudou a mulher; e a terra abriu a sua boca, e tragou o rio que o dragão lançara da sua boca. E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo (Ap 12. 1- 17 ACF). 

  1. Os intérpretes são unívocos em concordar que a mulher é um símbolo de Israel, que desde o Egito sofre inúmeras perseguições e ameaças de extinção, por conta de ser o povo do qual viria o Messias. 
  2. Para outros autores, esta mesma mulher é a Igreja que agora aguarda o retorno de seu Senhor. 
  3. O sol, aqui é símbolo da glória de Israel na antiga dispensação e da Igreja na Nova. É prometido na literatura apocalíptica que os sábios resplandecerão como luzeiros e estrelas no firmamento.
  4. O dragão é um animal mitológico que corresponde a uma serpente, daí a identificação deste com a mesma, mas que é empregado para fazer intercâmbio com a noção de Leviatã. 
  5. Neste texto ocorre uma associação entre o Dragão e a figura enoquiana de Azazel que assume a condição de príncipe dos demônios. 
  6. Embora Satanás seja descrito como o autor da perseguição aos crentes o grande fato é que ele já está derrotado e sua derrota é previamente enunciada pelo sucesso de Miguel e seus anjos em expulsar esta figura do céu. 
  7. Embora muitos teólogos vejam aqui mais uma descrição da queda, que ocorreu antes da criação, tendo a ver como uma espécie de conciliação entre as antigas ideias judaicas e as novas. Com este trabalho ocorre uma perfeita aglutinação entre a figura do judaísmo posterior em que Satanás é apresentado como promotor e a figura apocalíptica em que é o sedutor e responsável pela sedição dos anjos. 
  8. Há que se considerar aqui a fala de Franklin Ferreira em sua Teologia Sistemática. Para este as ideias correntes a respeito da queda de Lúcifer decorrem, na verdade, da obra o Paraíso perdido de Milton. 
  9. No presente texto a derrocada de Satanás é um esforço de se recuperar face à vitória inevitável dos santos, que vencem por meio do sangue do cordeiro e da palavra do Testemunho. 
  10. Este é um aspecto a ser considerado na concepção de Batalha Espiritual, visto que o Apocalipse é um escrito que visa dar ânimo e consolo às comunidades em perseguição, conforme pode ser visto nas sete cartas às sete Igrejas da Ásia. 
  11. Mesmo derrotado, o dragão se volta agora para a Igreja e induz às nações da terra contra esta. 
  12. Da mesma forma que ocorrera com Israel, a Igreja, a semente da mulher, é levada ao deserto a fim de experimentar livramento das insídias de Satã. 
  13. Mas mesmo no deserto ele movimenta as nações da terra contra a noiva do cordeiro. 
  14. O apocalipse se encarra com a vitória do cordeiro sobre o dragão e sua besta, como sobre as demais potências infernais, indicando a vitória dos cristãos contra as perseguições do império romano. 
  15. Neste aspecto ocorre um alinhamento com as demais formas literárias do Novo Testamento. Paulo por exemplo percebe na morte de Cristo na cruz. uma antecipação da vitória de Cristo sobre as hostes infernais (Cl 2. 14, 15). 
  16. O próprio Jesus entendia que suas curas e expulsões de demônios eram na verdade, antecipações da derrota final de Satanás (Mt 12. 28 - 30). Até os demônios reconhecem que Cristo os condenará (Mc 1. 23 - 28). 
  17. Ainda que venhamos a reconhecer a particularidade de cada gênero literário, é perceptível aqui o alinhamento das ideias da vitória de Cristo sobre os poderes das Trevas. 
  18. A diferença da literatura apocalíptica é que a vitória do cordeiro ganha dimensões cósmicas. 
Espero que este estudo instigue cada vez mais a curiosidade do estudante da Bíblia, e contribua para maior compreensão por parte de professores e alunos a respeito do papel dos demônios na Batalha espiritual. No período bíblico, esta representava a derrocada iminente do mal. Hoje infelizmente tem sido re-significada de forma grosseira. 

Em Cristo, Pastor Marcelo Medeiros, Teólogo, Pedagogo, Especialista em Ciências da Religião. 

sábado, 12 de janeiro de 2019

A Natureza dos Anjos - A Beleza do Mundo Espiritual




O que a Angelologia tem a ver com a matéria Batalha Espiritual? Na verdade a Batalha espiritual é um modo de explicar o conflito que a Igreja passa ao longo dos séculos. Tal explicação decorre da literatura apocalíptica, que por sua vez é povoada de anjos. Mas o que são anjos? O autor de Hebreus os define como espíritos servidores que trabalham em prol dos herdeiros da salvação (Hb 1. 14 paráfrase e grifos nossos). 

Tanto a expressão hebraica  מלאך (malak) quanto a expressão grega αγγελος (aggelos) significam mensageiro podendo ambas serem aplicadas aos embaixadores que tratam de assuntos humanos e que nesta função agem e falam em nome daquele que os enviou. No Novo Testamento, em apenas seis ocasiões αγγελος aparece se referindo à figuras humanas que exercem tais funções (Mt 11. 10; Mc 1. 2; Lc 7. 27) são citações de Ml 3. 1 em que a expressão מלאך faz referência a João Batista e a Jesus respectivamente. 

Em Lc 7. 24 a expressão αγγελων (aggelon) é traduzida pela Bíblia de Jerusalém por enviados, ao passo que na Almeida Corrigida Fiel é mensageiros. Já em Lc 9. 52 há uma narrativa da tentativa, por parte de Cristo, de entrada em uma aldeia de samaritanos em que ele envia seus discípulos. A Bíblia de Jerusalém emprega enviou mensageiros para traduzir απεστειλεν αγγελους  (apestelein aggelos). 

Sendo απεστειλεν a conjugação do verbo άποστελλώ a junção de άπο στελλώ, em que στελλώ é enviar. Os mensageiros são enviados, e ao serem enviados lhes é delegado um poder a autoridade para falarem e agirem em nome daquele que os enviou. Daí a autoridade exercida pelos anjos. 

Em sua Teologia "Sistemática" Franklin Ferreira afirma que em toda cultura "teísta" existe a crença em seres intermediários entre os homens e as divindades (no caso do politeísmo), ou divindade (no caso do monoteísmo. Uma leitura mais apurada da parte bíblica de sua Teologia sugere que em Israel ocorreu um desenvolvimento lento desta crença em seres intermediários. 

De fato, nos escritos tardo antigos a figura mais proeminente é a figura do מלאך יהוה, ou simplesmente Anjo do Senhor, ou Anjo de Iahweh (Bíblia de Jerusalém). Mas exegetas parecem indecisos diante do que venha a ser este ser, se uma manifestação do próprio Deus, ou se um ser especial que fala em nome do mesmo. 

Casos como o de Manoá dão a entender que na mentalidade judaica primitiva ocorria uma confusão entre estas duas figuras. Walter Eichrodt destaca em sua Teologia do Antigo Testamento uma série de funções que eram desenvolvidas pelo מלאך יהוה (Mala'k YHWH), que iam desde guiar e proteger aos que temem a Deus (Gn 24. 7 - 40; I Rs 19. 35ss; II Rs 1. 3, 15), prestar auxílio ao povo durante a peregrinação do deserto (Ex 14. 19; 23. 20, 23; 32. 34; 33. 2). 

Eichrodt também destaca que na literatura que visa narrar fatos antigos, tais como as origens de Israel, aparecem as figuras de anjos. Eles auxiliam o מלאך יהוה a executar juízos sobre Sodoma e Gomorra (Gn 19. 1, 15), aparecem em visão para Jacó (Gn 28. 12), aparecem em um acampamento (Gn 32. 2). Ao viajante Deus ordena anjos que o guardem a fim de que eles não tropecem com seus pés em pedra (Sl 91. 11). 

Contudo, diante de Deus eles não são descritos como seres absolutamente perfeitos. Dos próprios servos ele desconfia, até mesmo de seus anjos verbera erro (Jó 4. 18 Bíblia de Jerusalém). Ainda em outro texto Elifaz, o amigo de Jó afirma: até em seus santos Deus não confia e os céus não são puros aos seus olhos (Jó 15. 15 Bíblia de Jerusalém). 

A respeito do מלאך יהוה (mal'ak YHWH), Eichrodt afirma que a dificuldade em definir a identidade deste ser reside no fato de que em Israel não houve uma linguagem que permitisse ao judeu expressar a revelação do Eterno em termos que não confundissem o mesmo com o mundo criado, o que inclui o mundo físico e espiritual. 

Assim o מלאך יהוה (mal'ak YHWH), servia para facilitar ao mesmo a intervenção do Eterno na história. Eichrodt pontua a tentação que predominou no cristianismo de identificar este ser - o מלאך יהוה - com o próprio Cristo, mas argumenta que o מלאך יהוה só entrava na realidade por um período breve de tempo. 

No Novo Testamento, um Anjo anuncia à Maria, que ela irá conceber um que irá cumprir todas as expectativas messiânicas (Lc 1. 26 - 34), um Anjo aparece em sonhos para José e o instrui a receber Maria por esposa, e a dar ao filho desta o nome de Jesus (Mt 1. 18 - 25). No nascimento de Cristo, os anjos aparecem cantando e louvando a Deus, além de anunciarem as novas do nascimento do Salvador aos pastores (Lc 2. 8 - 15); o mesmo Anjo do Senhor avisa a José para fugir para o Egito e assim evitar com que o menino fosse morto e aparece novamente para ele a fim de avisar a José que os que queriam matar o menino estavam mortos (Mt 2. 13 - 23). 

Anjos sustentam a Jesus na tentação do deserto (Mt 4. 11; Mc 1. 12, 13). Anjos se fazem presentes no momento da ressurreição de Cristo (Mt 28. 2, - 7). São eles os primeiros anunciadores da ressurreição, evento que não fora testemunhado por nenhum ser humano, mas visto dos anjos (I Tm 3. 16). No ensino de Cristo a respeito do juízo vindouro, eles ocupam papel principal. são os Anjos que farão a separação final entre justos e ímpios (Mt 13. 39 - 42, 49, 50; 25. 31). 

De igual modo os Anjos são colocados por Jesus na ocasião de sua Vinda (Mt 16. 27; 24. 30, 31; 25. 31; I Ts 4. 16). Em regra o Novo Testamento emprega para a vinda de Cristo um termo que equivale à visita do Imperador a uma das cidades do Império (παρουσια - parousia). Quanto tal evento ocorre uma comitiva vem acompanhando o Imperador, é com este evento em mente que os escritores do Novo Testamento falam dos Anjos como parte do séquito que acompanha a Jesus em sua Vinda. 

O autor aos Hebreus é quem descreve em maiores detalhes as diferenças entre Jesus e todos os demais anjos, aplicando ao próprio Cristo falas e frases que o Antigo Testamento aplicava ao próprio Eterno (Hb 1. 4 - 14). O autor insiste em afirmar que a despeito da importância dos Anjos na outorga da lei (At 7. 38, 53; Hb 2. 2), foi ao Filho que Deus entregou o mundo vindouro (Hb 2. 5 - 9). 

A beleza do Mundo Espiritual é contemplada mediante visão, por parte dos visionários apocalipsistas (Ap 4 - 5), onde o louvor dos Anjos antecipa a vitória do cordeiro e de seus seguidores sobre o mal (Ap 7. 11, 12). Eles são adoradores, ao invés de objeto de adoração. Daí a recusa dos mesmos em receber adoração (Ap 19. 9, 10; 22, 8, 9). 

Enoque Etíope é o livro apocalíptico que descreve com maiores detalhes a queda dos anjos e a origem dos demônios. Nele o papel dos Anjos e os nomes são ampliados. Nas Escrituras do cânon protestante somente Miguel (Dn 12. 1) e Gabriel (Dn 8. 16; 9. 21) são mencionados. Em Tobias ocorre a menção a Rafael (Tob 3. 16; 4. 12; 6. 12; 12. 12 - 15), e em Enoque uma série de Anjos que ocupam o posto de Arcanjos de modo que:

  1. Cabe a Uriel a guarda do Tartaro, o  lugar em que se encontram presos os anjos que se rebelaram e os espíritos dos gigantes que povoavam a terra durante do período do dilúvio. 
  2. A Rapahel cabe orientar os homens, função que ele exerce no livro de Tobias. 
  3. A Raguel  cabe o exercício de julgamento no mundo das luzes. 
  4. Miguel  é o príncipe que rege a nação de Israel.
  5. Sarakael é o vigia dos espíritos que induzem dos homens ao pecado. 
  6. Gabriel é o Anjo que preside o paraíso, bem como os querubins e serafins. 
  7. Remiel. A este cabe presidir os ressurretos. 
Há muito ainda a ser explorado na literatura apócrifa e pseudo epígrafa a fim de se saber como pensavam os judeus e demais escritores do novo Testamento, inclusive no tocante aos anjos, e a perspectiva deste autor é de que com o tempo tais estudos possibilitem tais avanços e progressos nesta área e em diversas outras. 

Marcelo Medeiros, Pastor, Teólogo, Pedagogo e Especialista em Ciências da Religião. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Meninos e Meninas



O texto de hoje e a dimensão que o assunto tem ganho nas redes sociais demandam que eu comece com um posicionamento. Não sou favorável à re-engenharia social. Esta consiste na formação de laboratórios sociais que visem mesclar, hibridizar os gêneros masculinos e feminino, transformando o mundo e a sociedade em uma espécie de Admirável Mundo Novo. 

Todavia, sou favorável sim ao Ensino e à discussão de Gênero que vise questionar o papel a ser exercido por gays, lésbicas, travestis, transsexuais em nossa sociedade. Isto significa que sou um cristão inclusivo? De forma alguma! Mas perceba uma coisa: odeio o cigarro, me irrito facilmente perto de pessoas que fumam, mas nem por isto faço campanha para que fumantes sejam descriminados. 

O fato de eu considerar algo como um vício moral, graças à Deus, não me dá poderes para cercear os direitos das pessoas, nem impedir que as mesmas lutem por maiores direitos. Peço perdão pela analogia acima. Sei que no caso do cigarro é comprovado cientificamente que o mesmo faz muito mal para a saúde das pessoas, algo que não ocorre no caso da homossexualidade. Mas foi a comparação que me veio à mente. 

Com Relação aos cidadãos LGBTQ+, nossa sociedade precisa de ver os mesmos como cidadãos de direito, e os proponentes das "questões de gênero" viram na discussão da temática uma instrumental para que tal ideia fosse reforçada na formação dos educandos da sociedade atual. Não quero com isto dizer que a não houve e que não existem distorções. Considero uma distorção tremenda um professor e os alunos de um colégio tradicional usarem saias para exemplificar a "questão de gênero". Chocou? Sim, mas criou distorções na mente de boa parte de pais. Mas este é um outro assunto. 

O que me interessa aqui neste post é discutir as últimas falas de Damares Alves, atual ministra da mulher, da família e dos direitos humanos. Meninas vestem rosa e meninos vestem azul. Para mim, o maior desastre foi justamente a justificava que ela deu de que a fala dela era uma metáfora contra a ideologia de gênero. 

Minha crítica a esta senhora, que se apresenta como advogada, educadora e pastora, é em primeiro lugar o fato de ela ser a junção de duas coisas incompatíveis, política e pastorado. Segundo a critico em razão de sua militância contra a ideologia de gênero, uma militância que mais marginalizou os professores, do que trouxe esclarecimentos sobre a questão. 

Neste ponto o prejuízo foi grande demais. Gente que jamais leu uma única vírgula sobre a temática se apegou às palavras da então pastora de forma dogmática. Tive debates no Facebook em que mesmo após expor bibliograficamente a questão o oponente optava pelas falas da Damares e do Augusto Nicodemus Lopes, e ainda me acusou de estar denegrindo o que ele chamou de pessoas de moral ilibada. 

Aqui aparece um outro problema. Nós evangélicos amamos confissões de Fé, dogmas, regras, figuras de autoridade. Daí que raramente o pensamento crítico tem voz, vez, ou lugar em nosso meio. É esta a razão pela qual tudo o que os defensores de Damares Alves tiveram a falar das críticas feitas à atual ministra foi "mimimi". 

Esta mesma geração acreditou em cada palavra de Damares Alves a respeito de Ideologia de Gênero sem conferir com uma única bibliografia, com um único site de faculdade, ou mesmo do MEC. Tanto e Excelentíssima senhora ministra quanto o povo que acredita cegamente na fala dela (sendo evangélico, ou não), são e serão responsáveis pela onde de ignorância e ódio que se espalha em torno da questão. 

Terceiro, da mesma forma que reconheci ter havido distorções na compreensão das questões de Gênero, é preciso que se faça uma outra crítica às falas da Ministra Damares Alves a respeito da temática. Ela transformou excepcionalidades em "cotidiano". Com isto a imagem da educação pública é a de um laboratório sexual, e que por conta disto deixa de cumprir a sua função de preparar os alunos para o mercado de trabalho. Quando na verdade, se isto fosse verdade, seria crime por parte de professores. 

Por último, a Exma. Sra Ministra Damares Alves é "terrivelmente cristã", uma fala em que no atual contexto pode ser interpretada como "um chamado à guerra". O "sou cristã convicta" bastaria, mas tenho lá minhas razões para crer que boa parte dos cristãos da atualidade são tudo, menos cristãos convictos. Mais do que convictos, precisamos de cristãos radicais (no sentido de raiz). 

Cristão raiz é aquele que sabe que não vai cristianizar a sociedade, que não vai converter todos os gays e lésbicas, mas que com seu caráter (cada vez mais parecido com o de Cristo), sabe que vai deixar suas marcas na sociedade, e nossa política precisa de tais. A desbancada Evangélica não dá mais conta disto. Na verdade os Felicianos e Takayamas da vida são negação de Cristo e de seu Evangelho. 

Um cristão radical sabe que assim como guardaram as palavras de Cristo, guardarão as dele, e zela pelo que fala, coisa que a ministra no afã de expor o que havia e há em seu coração não fez. O resultado está ai. Fica aqui a minha oração que de alguma lição venha sobre a vida da mesma, afinal, teremos mais quatro anos pela frente (na verdade três anos onze meses e vinte e dois dias), quem sabe?

Marcelo Medeiros, em Cristo Jesus. 

domingo, 6 de janeiro de 2019

Batalha Espiritual - A realidade não pode ser subestimada



Uma leitura atenta do Novo Testamento coloca o leitor diante de um dado curioso; o da existência de um conflito entre as forças do mal e as forças do bem. O que não se sabe é que tais passagens que sugerem semelhante conflito são resultado da influência da literatura apocalíptica e apócrifa interbíblica. Com isto não pretendo dizer que que o NT seja uma cópia de tais escritos, mas que recebe sim clara influência destes.

A Batalha Espiritual está presente na pregação e nas curas e expulsões de demônios realizadas por Jesus, por exemplo. O anúncio do Reino de Deus coincide com a perspectiva judaica do primeiro século, de que a qualquer momento a realidade poderia ser transformada e o Reino de Deus irromperia na mesma. Assim, o anúncio deste representa a derrocada definitiva do mal.

É sob esta perspectiva teológica que o relato de Lucas a respeito da missão dos setenta tem de ser entendida. Cada cura, cada exorcismo, é sinal claro de que o mal está sendo derrotado, e de que Satanás, o Valente está sendo amarrado e os seus bens (as vidas humanas), estão sendo saqueadas (Mt 12. 28ss; Mc 1. 23 - 28; Lc 10. 19ss). Cito aqui tais textos apenas à título de exemplo. Minha considerações iniciais se baseiam nas leituras de Gordon Fee e Douglas Stuartt, além das Teologias Bíblicas de Joachim Jeremias e George Eldon Ladd.

O grande problema consiste no fato de que o movimento de "Batalha Espiritual" parece ignorar tais elementos exegéticos e importar ideias totalmente estranhas ao contexto histórico e cultural. É com este propósito que a  presente lição está sendo ensinada. o texto escolhido para a primeira lição da série de estudos é I Pe 5. 8 - 10. 
Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à sua eterna glória, depois de havemos padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça. 
Que, ou quais observações podem ser feitas a respeito deste texto? 

  1. Há no texto uma ordem para ser sóbrio, o que equivale a estar em constante vigilância. Aqui os termos são intercambiáveis. 
  2. O adversário (gr. διαβολος [diabolos]), anda ao derredor. Aqui um inimigo é destacado. Na verdade o nome significa acusador, ao passo que Satã sim é adversário em hebraico. 
  3. Todavia a palavra αντιδικος (antidikos) denota um adversário legal, que se opõe a uma pessoa em um julgamento. 
  4. A fé é o elemento fundamental para que se resista ao diabo, aqui personificado nos adversários que perseguem e acusam os crentes. 
  5. Com estas conotações iniciais, a batalha que teria uma ênfase pessoal, ganha dimensões espirituais. 
  6. O segredo da vitória neste ambiente hostil, é o Deus de toda a graça. É Ele quem dispõe dos recursos de sua graça para fazer com que os crente se tornem perfeitos, confirmados, fortificados e inabaláveis. 
Em geral, a primeira carta de Pedro fala a respeito do sofrimento cristão inicialmente, este é apresentado como sendo um meio pelo qual a fé é testada. Em outras palavras o teste autenticidade do cristão é o sofrimento, e de certa forma esta ideia retorna próximo ao fim da carta (I Pe 1. 6 - 9; 4. 1 - 5). O capítulo 2 traz a ideia de que não há problema em sofrer sendo justo, demonstrando com isto a crise que havia na comunidade da fé naqueles tempos, afinal, o sofrimento do justo sempre foi um dilema. A resposta para tal questão é que não há mérito em sofrer como ímpio, ou injusto, mas se sofremos como justos, encomendamos nossas almas ao criador e deixamos a justiça com ele (I Pe 2. 13 - 25; 3. 13, 14). 

Aquele que decide por seguir a Cristo, precisa estar armado com o mesmo sentimento que houve em Cristo, que sendo justo de dispôs a sofrer (I Pe 4. 1, 2). De forma que o "fogo", da tribulação que se alastra entre nós é sinal de que o mesmo Espírito que esteve em Cristo, está sobre nós (I Pe 4. 14). Fora o fato de que se Deus tem de julgar o mundo, ele tem de começar com a sua casa (I Pe 4. 17, 18). 

Mas as considerações apostólicas terminam com o apontamento de dois lados interessados nesta questão. De um lado o nosso adversário, de outro, nosso Deus. O primeiro é comparado aos leões, cuja fome os faz andar em derredor de potenciais vítimas, o segundo, dando aos seus o suporte necessário para suportarem o sofrimento. 

Daí minha total anuência aos comentários dos especialistas que produziram as notas da Bíblia de Estudo da Nova Versão Transformadora, para os quais  διαβολος [diabolos] é um nome genérico para um acusador, ou um difamador, o que é confirmado por Robinson (2012). Assim, há de se levar à sério a possibilidade de que este texto na verdade esteja falando dos acusadores e adversários dos cristãos nos tribunais.

Em todos os casos, é nítida a ideia de que a apocalíptica judaica influenciou em muito a percepção dos cristãos do Novo Testamento. Isto é tão verdadeiro que um estudioso judeu como Geza Vermes proponha o estudo de tais escritos como suporte exegético para a compreensão do Novo Testamento. E na apocalíptica os males sofridos pelos cristãos não são de origem exclusivamente humana, mas partem de um adversário espiritual que o Ap de João identifica como sendo tanto  διαβολος [diabolos], quanto Satanás (Ap 12. 9 - 18). 

Na expectativa de que com este estudo o interesse sadio no tema seja renovado, me despeço por agora. Em Cristo, Pastor Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Sobre a posse de Jair Bolsonaro





Meus mais sinceros respeitos ao povo que no livre exercício de seus direitos votou em Jair Messias Bolsonaro. Independentemente da opção de quem quer que seja, desejo que minha nação cresça politicamente, que deixe de confiar em pais, em reis, em messias e em ungidos e escolhidos por Deus, e assuma seu papel de protagonista histórico. Que o povo aprenda a debater politicamente e a estabelecer consenso. 

Permaneço não vendo no presidente eleito uma pessoa que reúna a capacidade de dialogar com as diferenças que nossa nação traz, o vejo como uma pessoa rasa, sem a profundidade e intelectualidade de Fernando Henrique Cardoso, sem o carisma de Luís Inácio Lula da Silva, sem o bigode de Sarney, o topete de Itamar Franco, mas foi a voz que reuniu uma parcela significativa da nação em torno de discursos em tons reacionários com forte ênfase moralizante. 

A fala de Onix Lorenzoni a respeito de um possível diálogo com as esquerdas foi uma luz no fim do túnel. Em entrevista ao JN este chefe da Casa Civil apontou para a necessidade de diálogo com a esquerda. Com isto ele reconhece que esta tem importante papel na identificação de possíveis distorções nos projetos que pretende aprovar. Mas confesso que estou bem cético. 

Espero que a Igreja desperte. Infelizmente é neste ramo que mais se percebe a ideia de que Deus "escolhe" homens e os coloca na frente de certos cargos políticos. Bolsonaro reforça e muito esta imagem de um "ungido". Não ignoro a soberania de Deus, pelo contrário, creio na mesma. Mas é incrível como vejo crentes e "pastores" afirmando que ele é o "homem escolhido por Deus", como se Deus sozinho tivesse eleito Bolsonaro. 

Tais afirmações advém de um grupo que afirma existir uma vontade permissiva de Deus. Minha perspctiva teológica sobre o assunto é que Deus se vale das ações "livres" dos homens para cumprir seus desígnios, e que por este motivo os homens são responsabilizados por seus atos. O que quero dizer é que: "colheremos as ações de nossas escolhas". 

Daí  a necessidade de que desenvolvamos o hábito da oração pelos deputados, senadores, governadores e presidente desta nação, afim de que Deus nos conceda uma vida de acordo com a piedade. De minha parte orarei para que eu e meu povo possamos crescer, e exercer a maturidade política. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. Pastor, Teólogo, Pedagogo e Cientista da Religião. 

Feliz 2019




Boa noite. Passei muito tempo longe desta mídia. Estive militando no Facebook, dialogando com outras pessoas a respeito de uma série de assuntos. A política foi um destes. Agora retorno a esta rede na expectativa de que possa seguir com meu trabalho aqui. Desejo a todos e todas um feliz 2019. Que todos os que me acompanham por aqui possam se unir e interceder à Deus por nossa nação.

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 
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