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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa



A nossa próxima lição de Escola Bíblica Dominical tem por título: A sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa, como subtítulo, traz a atualidade de Provérbios e Eclesiastes. Diante das informações básicas contidas na capa, o leitor pode indagar: em que sentido um texto escrito há mais de dois mil e quinhentos anos pode ser atual? Pode a sabedoria de um povo do período pré-científico ajudar homens do período moderno, afinal, estamos em um era de alto desenvolvimento científico e tecnológico, experimentamos bens de consumo, que aqueles povos jamais sonhariam? Creio firmemente que uma resposta no mínimo satisfatória englobaria uma abordagem das seguintes questões:
1) O caráter perene da Palavra de Deus enquanto escrito inspirado.
2) A necessária distinção entre ciência e sabedoria.
3) O necessário reconhecimento de que o fato de vivermos em um período permeado pela ciência e pela técnica não nos torna mais sábios do que os povos antigos.
4) O desenvolvimento cientifico não torna a nossa vida melhor do que a daqueles povos.
5) Nem a fruição de bens de consumo nos torna mais felizes e satisfeitos.
Por incrível que pareça é justamente nestes pontos que reside a mensagem dos dois livros que estaremos estudando no trimestre que vem.
 
I ) O caráter perene da Palavra de Deus enquanto escrito inspirado
 
Esta não é uma afirmação de cunho científico, a base da mesma é a própria Bíblia, que diz a respeito de si própria: Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra (II Tm 3. 16, 17 NVI). Por meio deste texto, observamos a inspiração do texto, e a finalidade do mesmo fazer com que  o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
Ao olharmos para Provérbios e Eclesiastes, é justamente isto que vemos, instruções para que o homem venha a trilhar o caminho da justiça, ao menos este é um dos objetivos que o autor do livro apresenta para a coletânea dos provérbios, dar, ao leitor, a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade (Pv 1. 3 ARCF). Mas somente quando Deus dá a sabedoria, que a justiça é acessível aos homens (Pv 2. 1 - 9).
Provérbios é um escrito que constantemente reivindica autoridade por meio da expressão: ouve. Assim no primeiro capitulo observa-se: Escuta, meu filho a disciplina do teu pai, não desprezes a instrução de tua mãe (Pv 1. 8 Bíblia de Jerusalém). Um dos motivos para o ouvir é a qualidade da sabedoria que o autor vindica para si. Escutai, filhos, a instrução do pai, ficai atentos para conhecerdes a inteligência; eu vos dou boa doutrina, não abandoneis minha instrução (Pv 4. 1, 2 Bíblia de Jerusalém).
Mais do ouvir, o autor apela para que se preste atenção. Meu filho, presta atenção à minha sabedoria, dá ouvidos ao meu entendimento (Pv 5. 1 Bíblia de Jerusalém). O ouvir aqui possui uma dimensão superior ao mero escutar, ou à mera percepção sensorial. Ouvir, é atender, obedecer, sendo este o real sentido da expressão hebraica שְׁמַ֖ע (shemai). Mas ao que tudo indica, o ouvir é uma característica exclusiva dos sábios. Afinal, o texto mesmo diz: O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos (Pv 1. 5 ARCF). Mas quem é o sábio? É justamente aqui que se torna necessária a distinção entre sabedoria e ciência.
 
II) A necessária distinção entre ciência e sabedoria
 
De acordo com o Aurelio on line, a ciência é: . Conjunto organizado de conhecimentos relativos a certas categorias de fatos ou fenômenos. (Toda ciência, para definir-se como tal, deve necessariamente recortar, no real, seu objeto próprio, assim como definir as bases de uma metodologia específica: ciências físicas e naturais, [por exemplo, a historia, tem como objeto a ação humana no tempo, a Geografia, as relações do homem com o espaço terrestre, etc..].) Conjunto de conhecimentos humanos a respeito da natureza, da sociedade e do pensamento, adquiridos através do desvendamento das leis objetivas que regem os fenômenos e sua explicação.
No livro O que é Religião, Rubem Alves afirma que a ciência é um tipo de conhecimento pragmático que surgiu como resposta às demandas de um período histórico específico. De acordo com o filósofo Francis Bacon, o objetivo da empreitada cientifica é ode tornar a vida humana mais fácil. Como? Mediante a explicação dos fenômenos naturais e o consequente domínio da natureza. No entanto, as invenções e o desenrolar da historia nos mostram que tornar a vida mais fácil é bem diferente de torna-la melhor, e creio ser justamente aí que entra a sabedoria.
Retornando ao vulgo pai dos burros, agora na versão on line, encontro a seguinte definição de sabedoria: aplicação inteligente (aqui leia-se hábil) dos conhecimentos, conduta orientada de acordo com o conhecimento daquilo que é verdadeiro e justo. Grande circunspeção e prudência; juízo, bom senso, razão, retidão. Discernimento adquirido pelas experiências de uma longa vida, e é justamente neste ponto do nosso estudo que se faz necessário reconhecer que o fato de vivermos em um período permeado pela ciência e pela técnica não nos torna mais sábios do que os povos antigos.
 
III) O necessário reconhecimento de que o fato de vivermos em um período permeado pela ciência e pela técnica não nos torna mais sábios do que os povos antigos

Aqui é preciso esclarecer que temos sim mais ciência, ou melhor maior produção cientifica, isto é fato! A Bíblia nada fala de química, física, biologia, astronomia, por exemplo; e a grande é que as poucas incursões que os autores dos salmos fazem na área em nada se pode comparar com as elucubrações dos cientistas modernos. Caio Prado Junior afirma que nem as especulações dos filósofos pré-socráticos  pode ser equiparada ao trabalho de um cientista moderno, visto que aqueles buscavam apenas responder como seria possível ao homem, que imerso em uma realidade tão diversa, conhecer a mesma.
Também precisamos reconhecer que a ciência produziu um modus vivendis, sem o qual a nossa sobrevivência seria impossível, ou no mínimo demasiadamente complicada. Eu, por exemplo, não consigo mais me imaginar sem um celular que me permita comunicar com minha mulher na hora em que pretendo. Não me imagino mais escrevendo à mão em folhas de papel computador. Mas isto significa que somos mais sábios? De forma alguma!
A sabedoria não está no quanto produzimos de ciência, ou de bens de consumo, mas em como aproveitamos e aplicamos nossa produção intelectual à nossa existência real e concreta. Como observa Peter Kreuff, a despeito do progresso que temos, existe muito descontentamento em nossa literatura, usamos carros, e com estes abrimos mãos do prazer de uma caminhada para economizar tempo que não usamos para nada, além de mata-lo.
É com esta sabedoria que Eclesiastes se preocupa. A vida de nada adianta, se o homem não frui dela o seu melhor, e fruir o melhor da vida nada mais é do que aproveitar os dons que Deus nos concedeu a fim de viver. O sentido de dom aqui é o de dadiva. As dádivas vão desde o vinho, até o prazer da companhia do cônjuge (Ec 9. 7 - 9), bem como o tempo de vida que temos, e que pode ser aproveitado para que haja investimento (Ec 9. 10).

IV) O desenvolvimento cientifico não torna a nossa vida melhor do que a daqueles povos

Não basta viver em uma sociedade moldada pela ciência. Esta pode ser utilizada tanto para cura, quando para destruição em massa. O iluminismo trouxe uma onde imensa de otimismo em relação á ciência moderna, mas as duas guerras do século XX jogaram este otimismo por terra. Trocamos sofrimentos antigos por novas formas de sofrimento, e tudo, porque seja na Jerusalém do século IX a. C. , seja na América, ou no Brasil do século XXI d. C, a verdade é que a vida é vaidade, fugaz, passageira, frágil, e absurda.
Mesmo dispondo tamanho desenvolvimento, corremos o sério risco de aproveitarmos a vida bem menos do que os antigos a aproveitaram. A arte do bem viver demanda sabedoria acima de qualquer coisa. Se não dispomos da habilidade necessária para aplicar as descobertas da ciência moderna, de nada adianta. Um ponto no qual esta questão se mostra nevrálgica, é a questão do mundo do trabalho.
Nas Escrituras, este é apontado como sendo a fonte de sustento do homem (Gn 3. 19; Sl 104. 23; 128. 1, 2). A perspectiva de Provérbios, a respeito da atividade laborativa é positiva. Em todo trabalho há proveito, mas ficar só em palavras leva à pobreza (Pv 14. 23 ARCF). E isto, ao ponto de acreditar que todo o seu trabalho terá uma recompensa. Viste o homem diligente na sua obra? Perante reis será posto; não permanecerá entre os de posição inferior (Pv 22. 29 ARCF). Mas a perspectiva do pregador não é das melhores. Para este o trabalho é um castigo que Deus dá ao pecador, é algo odioso, enfadonho e nada gratificante. A gratificação do mesmo está não no labor em si, mas nos resultados que este traz (Ec 2. 16 - 26).
Neste ponto a fala do pregador me lembra a de Mário Sérgio Cortella, para quem o trabalho é fundamental, mas não essencial. Em filosofia, essência, tem a ver com o ser, o que nos leva concluir, que por mais digno que seja o trabalho, o ser humano não se define a partir do mesmo. O trabalho é digno não por si mesmo, mas pelo que ele traz para nós. Reconhecimento, sustento. Mas o pregador, percebe que nem sempre o reconhecimento vem (Ec 9. 11), e que o apetite nunca cessa (Ec 6. 7). Daí, a saída que o pregador propõe, é esta: que o homem se alegre no seu trabalho, e desfrute do mesmo.
Então louvei eu a alegria, porquanto para o homem nada há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do sol (Ec 8. 15 ARCF). Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol (Ec 9. 9 ARCF). Mas como aplicar esta sabedoria nos dias atuais?
Primeiro, precisamos entender que o trabalho é fundamental, visto que sem o mesmo não sustentamos e muito menos acessamos os bens de consumo dos quais necessitamos para a nossa subsistência. O trabalho não é essencial visto que ele não nos melhora enquanto pessoa. Terceiro, o trabalho foi feito para que desfrutássemos do prazer, mas se o apetite não for moderado, ele estabelece um circulo vicioso em que vamos trabalhado, e nos esgotando cada vez, produzindo perda de vitalidade e transformando a nossa vida em um verdadeiro buraco negro. Por último, a alegria do viver está nas coisas mais básicas da vida, mesmo as mais corriqueiras. Mas esta é apenas uma reflexão inicial.
Creio que o nosso modo de produção também precisa mudar. A ciência, repito, foi formulada para que o homem vencesse o temor da natureza e uma vez explicando-a por categorias racionais, este viesse a trabalhar em seu favor, e com isto a vida se tornasse mais fácil. Oscar Wilde percebeu que tal promessa não se cumpriu e mais, em livro que tem por título: A Alma do homem sob o Espírito do Socialismo, propôs que as maquinas fossem escravas do homem, para que este viesse a desenvolver a sua máxima potencialidade. ISTO É SABEDORIA, A APLICAÇÃO HÁBIL DOS RECURSOS PARA UMA VIDA MELHOR.

V) A simples fruição de bens de consumo não nos torna mais felizes e satisfeitos

Pode ser que fruir bens de consumo nos torne mais tediosos, do que alegres, satisfeitos e gratos em relação à vida. Este tédio pode ser visto no romance as Cidades e as Serras, de Eça de Queirós. Neste o personagem Jacinto que vive no contexto da cidade, e por este motivo possui acesso aos bens de consumo, demonstra grande tedio face à rotina, ao passo que Zé Fernandes, que vem do campo, tudo é maravilhoso, inclusive o tédio que Jacinto demonstra diante da vida.
Em uma palestra intitulada Nós não nascemos prontos, Mario Sérgio Cortella afirma que está faltando espanto. Andamos de avião, em uma velocidade extraordinária, viajamos para partes do mundo, antes inacessíveis, e, a despeito de tudo isto, estamos em meio a uma geração que reage de forma, no mínimo apática a isto tudo. E o pior ainda está por vir, a apatia é a regra de conduta social em nossa sociedade. Demonstrar felicidade em viajar de avião é brega.
Chesterton observa que a vitalidade tem a ver com a repetição constante. Uma criança demonstra a energia vital dela em repetir a mesma brincadeira, o mesmo filme. O autor chega a brincar dizendo que talvez Deus seja como uma criança, o que não é absurdo se observarmos que ele não sofre a ação do tempo, por viver na eternidade. Isto explica o ciclo constante que ele imprimiu na natureza e que o pregador tão bem fala (Ec 1. 4 - 11).
Para o pregador tanto a adolescência quanto a juventude são vaidade, daí que o melhor de nossa vida tenha de ser devidamente desfrutado. Como? Vivendo o prazer em sua plenitude (Ec 11. 7 - 9) e lembrando-se, ainda nos dias da mocidade, que há um criador (Ec 12. 1 - 8). Mas em que a lembrança do criador nos proporciona uma vida mais feliz.
Primeiro, esta é a constatação do pregador. Em um mudo em que tudo é vaidade, e que a justiça tem de ser equilibrada com a consciência de que não há homem justo que faça o bem e nunca peque (Ec 7. 14 - 20), a melhor vida é a que conciliar o entendimento de que Deus é a fonte máxima do prazer, da alegria, da satisfação (Ec 2. 26), sabendo que a busca pelo prazer tem de ser conciliada com a busca por Deus, a fonte suprema do mesmo.
É justamente quando o foco é retirado do criador, ou do Absoluto, que tudo o que poderia contribuir para uma vida de espanto e fascinação diante da beleza da criação se transforma em tédio. À semelhança do personagem Jacinto, das Cidades e as Serras, explicamos tudo, tudo mesmo. Mas caímos no erro de achar que somente o contexto em que vivemos é a realização da civilização, quando a verdade não é esta.
A necessidade de tudo explicar nos retirou a nossa humildade, a consciência clara de nossa ignorância, e a sensação de espanto, e com a mesma, a alegria de viver. Minha oração sincera é que este trimestre de estudo, e os posts que aqui serão publicados em decorrência do mesmo, sejam vacina contra estes males, afinal, esta é a sabedoria de Provérbios e Eclesiastes.

Pr Marcelo Medeiros.

Lição da EBD 13: O sacrifício que agrada a Deus

 

As Escrituras trazem o relato da criação do mundo, do homem e de sua queda, e imediatamente após temos a primeira menção ao sacrifício. O livro do Genesis apresenta dois exemplos, o de Caim, agricultor, e o de Abel, pastor de ovelhas. Em um dia ambos se apresentam a Deus com a finalidade de ofertarem. O resultado é que Deus aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou Caim e sua oferta, indicando com isto que não é todo tipo de sacrifício.
O Novo Testamento é muito simples no tocante a interpretação do sistema de sacrifícios portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome. Não se esqueçam de fazer o bem e de repartir com os outros o que vocês têm, pois de tais sacrifícios Deus se agrada (Hb 13. 14, 15 NVI). O verdadeiro sacrifício consiste em fazer o bem e repartir o que temos uns com os outros. No estudo de hoje procurarei demonstrar como esta realidade se concretizou entre os filipenses.
 
Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas tribulações (Fp 4. 14 NVI).
 
Mesmo sabendo que Paulo não buscava os bens materiais dos irmãos de Filipo (Fp 4. 11), e que o mesmo estava devidamente acostumado a passar por privações diversas (Fp 4. 10 - 13). Eles se dispuseram a participar das aflições do apostolo. A expressão συγκοινωνησαντες μου τη θλιψει (sygkoinooneesantes moy tee thlipsei), indica que os irmãos participaram efetivamente das aflições do apóstolo. Diga-se de passagem que o verbo συγκοινωνηω é oriundo de κοινωνια, cujo sentido é o de parceria, participação.
 
Como vocês sabem, filipenses, nos seus primeiros dias no evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja partilhou comigo no que se refere a dar e receber, exceto vocês; pois, estando eu em Tessalônica, vocês me mandaram ajuda, não apenas uma vez, mas duas, quando tive necessidade (Fp 4. 15, 16 NVI).
 
De acordo com o relato de Lucas, Paulo sai da Macedônia e se dirige à Grécia e depois à Acaia. Em Corinto, ele chega a trabalhar por um tempo como fabricante de tendas. Diante deste relato, é possível sim, que ele o tenha feito em razão de alguma necessidade pela qual tenha passado (At 18. 2, 3). Fato é que Paulo foi socorrido pelos irmãos desta comunidade. O mesmo relato vemos no seguinte texto:
Será que cometi algum pecado ao humilhar-me a fim de elevá-los, pregando-lhes gratuitamente o evangelho de Deus? Despojei outras igrejas, recebendo delas sustento, a fim de servi-los. Quando estive entre vocês e passei por alguma necessidade, não fui um peso para ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram aquilo de que eu necessitava. Fiz tudo para não ser pesado a vocês, e continuarei a agir assim (II Co 11. 7 - 9 NVI).
Aos irmãos de Corinto, Paulo fez questão de deixar claro que o Evangelho é uma graça, um dom de Deus (δωρεαν [doorean]). Mas para que o Evangelho pudesse ser oferecido como um dom aos irmãos de Corinto, foi necessária a generosidade dos crentes da Macedônia (Fp 4. 15, 16; I Ts 3. 6).  O mais curioso é que a palavra despojo (εσυλησα [esilesa]), vem do verbo grego συλαω (sylaoo), e pode ser empregada para se referir aos saques que os soldados faziam aos templos quando tomavam uma cidade.
Paulo passou por serias necessidades quando esteve entre os crentes de Corinto, mas no lugar de se permitir ser sustentado pelos coríntios, ele despojou dos crentes que já haviam sido conquistados pelo Evangelho. Foi dos irmãos da Macedônia, particularmente dos filipenses que Paulo recebeu o seu sustento.
A lição que fica para nós aqui é que para o Evangelho ser oferecido de graça alguém de dispor dos seus dons, dos seus recursos para que tal aconteça. Daí a frase mais do que comum que missões de fazem com os pés dos que vão, os joelhos dos que ficam, e as mãos dos que contribuem. Afinal, foi a chegada de Silas e Timóteo com os recursos enviados pelos irmãos da Macedônia que possibilitou que Paulo se dedicasse integralmente ao Evangelho.

Não que eu esteja procurando ofertas, mas o que pode ser creditado na conta de vocês (Fp 4. 17 NVI).

Já foi comentado aqui neste post, o significado de αυταρκης, que é o de suficiência em si mesmo, indicando com isto que o apóstolo Paulo não estava preso a uma determinada situação, mas que estava instruído a viver de qualquer maneira. Ele não tinha um padrão de vida ao qual deveria conformar todas as situações. Seu viver é Cristo, não a situação social.
Agora, no momento em que escreve aos crentes de Filipo, com o fim de lhes agradecer pela cooperação (Fp 1. 5, 7; 4. 15 - 18), ele reafirma que seu interesse nos crentes em apreço é que estes tenham um crédito diante de Deus por sua generosidade. O termo grego πλεοναζοντα (pleonazonta), vem do infinitivo πλεοναζω (pelonazoo), é na verdade uma metáfora comercial, que indica um investimento que redundará em lucros para aquele que o faz.
Não se trata aqui da usual barganha que se faz em muitos templos nos dias atuais, mas na aplicação prática do ensino de Cristo, para quem o entesourar nos céus tem a ver com a generosidade que exercemos através dos nossos bens terrenos. Afinal, Cristo disse: usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas (Lc 16. 9 NVI). Uma forma ainda mais radical deste ensino foi colocada nas seguintes palavras do apóstolo Paulo:
Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida (I Tm 6. 17 - 10 NVI). 
Digno de nota aqui é a expressão ricos em boas obras, indicando que a caridade é o real investimento de nossas riquezas, visto que à luz do contexto bíblico, pode sim, ser que algum dias estas nos faltem. Para Paulo esta beneficência é o que justifica o trabalho árduo. Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’ (At 20. 35 NVI). Com toda certeza posso afirmar que tais palavras refletem o ensino de Cristo.
No grito dos profetas, Deus manifestou sua vontade de que os sacrifícios fossem incorporados à prática da justiça social (para  mais ver aqui neste blog, o estudo Amós, a justiça social como forma de adoração, e Habacuque, a Soberania de Deus sobre as nações). Agora o Novo Testamento apresenta a beneficência como sendo o verdadeiro sacrifício do qual Deus se agrada. E no caso dos Filipenses, foi sacrifício mesmo, visto que a pobreza deles era grande.
Agora, irmãos, queremos que vocês tomem conhecimento da graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia. No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade. Pois dou testemunho de que eles deram tudo quanto podiam, e até além do que podiam. Por iniciativa própria eles nos suplicaram insistentemente o privilégio de participar da assistência aos santos. E não somente fizeram o que esperávamos, mas entregaram-se primeiramente a si mesmos ao Senhor e, depois, a nós, pela vontade de Deus (II Co 8. 1 - 5 NVI). 
Nos irmãos de Filipo se cumpre cabalmente a palavra, como pobres mas enriquecendo a muitos. Esta é a verdadeira essência do sacrifício.
 
Pr Marcelo Medeiros.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Discurso da formatura da primeira turma do SETEB ADECIN


No dia Vinte e quatro de Agosto tive a oportunidade de discursar para a primeira turma de formandos do Seminário Teológico Bereano da Assembleia de Deus em Cidade Nova. Relutei em postar o discurso aqui, porque julguei necessárias algumas mudanças no texto a fim de que a leitura do mesmo ficasse mais fluente, mas o cansaço decorrente das atividades ministeriais, laborativas e familiares não permitiu, então aqui vai o discurso.


Estimados concludentes do curso básico de Teologia do Seminário Teológico Bereano, da Assembleia de Deus em Cidade Nova, em parceria com o Instituto Alpha, da Assembleia de Deus em Viamão, RS. É com imenso prazer que vos dirijo estas palavras em tão especial data. Este é o momento em que celebramos o cumprimento, ou conclusão de mais uma etapa do vosso desenvolvimento. Durante o processo recebestes os nomes de alunos, discentes, aprendizes, estudantes, e tantos outros. Hoje sois o centro das atenções de vossos familiares, dos docentes e demais envolvidos no processo de vossa formação, e recebeis o nome de formandos. Em nossos dicionários este palavra é definida da seguinte forma: aquele que está recebendo formatura em algum grau ou classe de estudo; diplomando. Aproveito este momento para refletir a respeito do processo que vivenciastes ao longo destes dois anos e dois meses de estudos.

Devo dizer que vossa motivação inicial em vos matriculardes no curso, que proveitosamente concluístes, foi inicialmente a de adquirirdes mais conhecimento, MAIOR COMPREENSÃO DA BÍBLIA. Todavia, o conhecimento nasce da necessidade que o ser humano tem de explicar, ordenar o mundo e dar respostas a problemas específicos, indicando com isto que todo conhecimento tem um propósito. Com o fim de alcançar um determinado objetivo vos submetestes a uma rotina, uma carga horária de aulas presenciais, uma rigorosa disciplina de estudos, e avaliações. A preocupação dos docentes, e demais envolvidos no processo de formação foi a de fornecer instrumentos para uma maior aquisição de conhecimentos bíblicos, tão almejados pelos formandos. Não nos preocupamos, inicialmente com as diversas teorias formuladas no campo da teologia, mas em instrumentalizar a mesma de forma a alcançar nosso objetivo, prepará-los para o ensino, o discipulado, enfim, o cumprimento da missão cristã. Assim, na medida do possível nos focamos no conteúdo bíblico e construímos pontes entre o mundo e a cultura atual. Foi exclusivamente com este fito, que durante as aulas de Teologia, tivestes de ouvir literatura, Sociologia, Filosofia, Antropologia. CABE-NOS RESSALTAR QUE EM MOMENTO ALGUM BUSCAMOS PAREAR TAIS ÁREAS COM A BÍBLIA, MAS USAR OS MEIOS DA CULTURA, TAL COMO O ENGENHEIRO USA CONCRETO E MATERIAIS DIVERSOS PARA A CONSTRUÇÃO DE PONTES. Cremos que com relativo êxito alcançamos nosso objetivo inicial. A ponte está construída, agora é atravessar, é viajar, é ir e vir.

Hoje nos dirigimos a vós pelo nome de formandos, e sois, visto que estais sendo diplomados. Contudo, ser um formando jamais pode ser compreendido com o estar formado. O formado expressa aquilo que está acabado, concluído, terminado, que não mais pode ser aperfeiçoado, e em nada tem a ver com o caráter da caminhada cristã, que implica uma formação para uma transformação constante. Aqui peço a licença para me dirigir pessoalmente a turma, e o faço recorrendo inicialmente às palavras do filosofo Mario Sérgio Cortella, que em seu livro Não nascemos prontos (que particularmente recomendo), afirma:

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: "O animal satisfeito dorme". Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.

A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.

O autor prossegue ainda dizendo:

Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer etc), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: Por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.

Em outras palavras constitui-se imaturidade o entendimento de que o esforço necessário na constante aquisição de novos conhecimentos pode ser evitado. De forma alguma! Se este for a nossa empreitada todo o nosso objetivo, e todo vosso esforço acima delineado se perde. A inércia em avançar, prosseguir, produz ausência de criatividade e nos condena ao estado sub/humano, comparado ao do animal. Viver sob este perspectiva é o que nos permite entender junto com o filosofo que na verdade, não envelhecemos. Mudamos esta é a verdade, nos atualizamos, de forma que no ano de 2013 somos a mais nova versão atualizada de nós mesmos. O que chamamos de envelhecimento, a Teologia bíblica chama de corrupção, e a filosofia e a Teologia Sistemática chamam de acidente, ou mudança. Não quero com isto negar o desgaste natural pelo qual passamos, mas afirmar que a busca por conhecimento, por aprendizagem nos conduz inegavelmente à superação das nossas limitações físicas, intelectuais, morais e temporais. Em outras palavras: a formação tem de continuar, até mesmo porque ainda não recebemos a nossa moldura final.

As palavras do apóstolo Pedro são de fundamental importância para nossa reflexão final. Final? Não, de forma alguma, mas inicial, isto sim! No final de sua carreira este notável apóstolo fez as seguintes recomendações aos seus leitores:

Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum (II Pe 1. 5 – 10 Almeida Revista e Atualizada).

De acordo com o autor, não basta crer, é necessário associar a crença elementar com a virtude, do grego αρητεν, ou αρητε, cujo sentido é o mesmo de boa qualidade, excelência. Indicando com isto que a somente a fé e o desejo por coisas excelentes fundamentam a busca contínua por conhecimento. Sim, porque o sacrifício exigido por quem faz tal busca é que o pensamento seja continuamente focando em tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor (Fp 4. 5 NVI).

Não nascemos prontos. Ao virmos ao mundo nenhuma das qualidades acima descritas foram colocadas em nós. Elas são desenvolvidas na medida em que cremos, e em crer, acrescentamos a virtude, e à virtude o conhecimento. Uma vez que conhecimento não ocupa espaço, mas impica em responsabilidade, o dominio próprio tem de ser acrescido a este, e isto sempre com perseverança, uma vez que em nosso mundo, cada vez mais o saber vem sendo desvalorizado, e substituido por diversas formas de prazer e entretenimento. Isto faz com que a paciência seja cada vez mais necessária em nossa caminhada. Que jamais nos esqueçamos da piedade, visto que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria.

Usem os saberes e as ferramentas adquiridas durante o curso para construírem relacionamentos baseados na fraternidade e no amor. Afinal, uma das definições que nossos dicionários dão ao verbo conhecer é: travar relacionamento, logo, quem não se relaciona não conhece de verdade. Esta verdade foi percebida pelo gênio da física Albert Einstein que afirmou:

Ao refletir sobre minha existência e minha vida social, vejo claramente minha estrita dependência intelectual e prática. Dependo integralmente da existência e da vida dos outros. E descubro ser minha natureza semelhante em todos os pontos à natureza do animal que vive em grupo. Como um alimento produzido pelo homem, visto uma roupa fabricada pelo homem, habito uma casa construída por ele. O que sei e o que penso, eu o devo ao homem. E para comunicá-los utilizo a linguagem criada pelo homem.

Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual, mas me descubro membro de uma grande comunidade humana. Ela me dirige, corpo e alma, desde o nascimento até a morte. Meu valor consiste em reconhecê-lo. Sou realmente um homem quando meus sentimentos, pensamentos e atos têm uma única finalidade: a comunidade e seu progresso. Minha atitude social portanto determinará o juízo que têm sobre mim, bom ou mau.

Para Einstein uma vida social sadia consiste no equilíbrio entre a solidão necessária à pesquisa e a vivência em comunidade, esta solidão que nunca é plena, visto que nosso conhecimento sempre depende dos demais. Daí a necessidade de relacionamentos fraternos a fim de que o mesmo se constitua. PORTANTO, NADA DE ADERIR ÀS MODAS E TENDÊNCIAS ATUAIS, CUJA MAIS PERNICIOSA É A DOS DESIGREJADOS. IGREJA É εκκησια, EM OUTRAS PALAVRAS COMINIDADE. É O LOCAL ONDE, SOB A GARANTIA DO SANGUE DE CRISTO VIVEMOS UA VERDADEIRA COMUNHÃO. Desigrejar-se é excluir-se deste maravilhoso projeto e não é esta a finalidade de um curso teológico. Por maiores que sejam os conflitos advindos da nossa nova condição, a de formandos, nosso alvo supremo deve de ser a edificação da comunidade a fim de que a mesma expresse ao máximo sua condição de corpo de Cristo, de lavoura de Deus, de morada deste em Espírito.

Por último, e não menos importante: conhecemos para trabalhar em função da melhoria e do progresso da comunidade. O conhecimento teológico se preta justamente a isto, o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, uma vez que a manifestação do Espírito é dada a cada um visando um fim proveitoso. Isto demanda amor, pois, aquele que não ama, não conhece a Deus, pois Deus é amor, e como escreveu Edison coelho e cantou Oséas de Paula, o amor é paz também é mais, o amor é vida. Conhecemos para a vida, e conhecer para a vida é conhecer para amar.

Me despeço de vós com o coração cheio de gratidão pelo prazer indescritível que tive de me relacionar convosco durante o período de nossa formação inicial. Digo nossa porque me considero ainda em constante processo de formação e fostes, na verdade tendes sido, de suma importância na mesma. O curso básico termina hoje, mas a formação não! Curso, palavra que denota o escoamento de águas de rios, córregos, fontes; a extensão percorrida pela massa líquida, o movimento real ou aparente, dos astros, indicando marcha, progressão em movimento. No sentido de etapa o curso acaba. Sim! Terminamos as seções de um programa de estudo, cumprimos o programa do curso básico, mas ainda há muito para progredirmos. Neste sentido, se o curso acaba corremos o risco de nos assemelharmos ao animal satisfeito, que dorme, ou a uma árvore infrutífera, deixamos de ser pessoas e nos tornamos coisas, envelhecemos. Minha oração é que cresçamos juntos na graça e no conhecimento de Cristo Jesus. Sigamos o curso da vida eterna, conhecendo mais e mais aquele que nos chamou por sua glória e virtude.

 

Rio de Janeiro, 24 de Agosto de 2013.

 

 

sábado, 21 de setembro de 2013

Deja vú?


Deja Vú, de acordo com o Wikipédia, é uma expressão de origem francesa, cujo o sentido literal é o de já visto, mas que é frequentemente utilizada para se referir aos fatos que nos trazem a sensação de repetição. Foi com este sensação que recebi a noticia dos beijo lésbico durante uma reunião em que Marcos Feliciano estava pregando e do infeliz desdobramento que o episodio teve.
Qual o motivo da sensação? Simples, eu, como todo cidadão brasileiro, queria saber a decisão do ministro a respeito dos chamados Embargos infringentes, e o consequente rumo que a politica em nossa nação tomaria. Enquanto os antes culpados, mas agora inocentes, recebiam "direitos" inacessíveis à maioria de nós meros mortais, o grande frisson midiático mais uma vez era colocado em Marcos Feliciano.
Algo bem parecido aconteceu no momento em que o Brasil se manifestou a respeito do aumento das passagens e da precariedade dos serviços no transporte, e  milhões de brasileiros se aproveitaram para pedir maior qualidade quanto à educação, saúde e segurança. Em uma manobra infeliz do deputado pastor (que propôs o projeto de tratamento para pessoas gays, mas que a mídia chamou de cura gay), a atenção foi desviada para ele.
A mensagem que fica em tudo isto? Não importa o quanto o nosso país seja corrupto, e doente política e socialmente, desde que os gays tenham todos os direitos do mundo, inclusive o de lutarem por seus direitos às expensas dos direitos dos outros. E estou convencido que foi justamente isto que ocorreu esta semana. Está na hora de Feliciano aprender que vida de profeta na corte é como vida ovelha entre lobos. Eu creio que ele já saiba disto, mas como diz Beto Guedes, a lição já sabemos de cor, só nos resta aprender.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Lição da EBD n° 12: A reciprocidade do Amor Cristão


Reciprocidade, o mesmo que correspondência mútua de palavras, reciprocidade de sentimentos, de serviços, troca, relação de conformidade ou concordância. Estas são as palavras mais apropriadas para descrever o relacionamento entre o apostolo Paulo e a Igreja de Filipo, isto fica claro na saudação inicial da correspondência do apostolo com a Igreja, em que lemos: em todas as minhas orações em favor de vocês, sempre oro com alegria por causa da cooperação que vocês têm dado ao evangelho, desde o primeiro dia até agora (Fp 1. 4, 5 NVI).
O apóstolo prossegue afirmando: é justo que eu assim me sinta a respeito de todos vocês, uma vez que os tenho em meu coração, pois, quer nas correntes que me prendem quer defendendo e confirmando o evangelho, todos vocês participam comigo da graça de Deus (Fp 1. 7 NVI). Em outras palavras o envolvimento dos filipenses na obra de Paulo fez com que este se sentisse amado, apreciado, pelos irmãos. Neste texto veremos o procedimento de Paulo em sua trajetória ministerial e extrairemos algumas lições para os dias atuais.
 
I) O procedimento de Paulo
 
O apóstolo não tinha como hábito receber sustento das comunidades nas quais ele trabalhou, nem de se locupletar com o Evangelho de Cristo, tornando o mesmo uma fonte de lucro. Em seu discurso de despedida da cidade de Éfeso, ele disse aos anciãos:
Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros. Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber (At 20. 33 - 35 NVI). 
O emprego do verbo grego επεθυμεω (epitimeoo), na negativa, indica ausência de desejos imoderados. Fica claro aqui que a vida de Paulo não era norteada pelos seus desejos pessoais, muito menos por qualquer ânsia, ou ambição de honras ou riquezas. Daí que na ausência de sustento ele mesmo tenha procurado sustentar-se. À título de exemplo, poderíamos falar da experiência que Paulo teve em Corinto, por exemplo.
De acordo com a narrativa de Lucas, ao chegar na cidade de Corinto, Paulo foi hospedado na casa de um certo judeu, cujo nome era Áquila. Enquanto esteve com eles, exerceu a profissão de fabricante de tendas (At 18. 2, 3). Levando em conta o contexto podemos afirmar que foi, em primeiro lugar para não colocar obstáculo algum ao evangelho de Cristo (I Co 9. 12 NVI). O texto em apreço deixa claro que é um direito do obreiro ser sustentado, mas do qual Paulo abriu mão, pelas razoes apresentadas.
Em segundo lugar, para livrar-se da tentação de maquiar a palavra de Deus, a fim de a tornar mais palatável e com isto fazer da mesma uma fonte de lucro. Ele mesmo afirma: ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando lucro (II Co 2. 17 NVI). O verbo καπηλευοω (kapeeleioo), é o mesmo usado para mercadejar, mas também descreve a ação desonesta de comerciantes que misturavam vinho à agua para que este redesse mais, ou para que pudesse se livrar do estoque antigo. É com este termo que Paulo compara a ação dos mestres que o rivalizavam.
Por último, Paulo rejeitou o salario a fim de não ser pesado à ninguém. Escrevendo aos Coríntios ele diz: agora, estou pronto para visitá-los pela terceira vez e não lhes serei um peso, porque o que desejo não são os seus bens, mas vocês mesmos. Além disso, os filhos não devem ajuntar riquezas para os pais, mas os pais para os filhos (II Co 12. 14 NVI).
Prata, ouro e demais roupas eram símbolos de riqueza na antiguidade, esta é a opinião de Vincent, para quem a associação que Cristo faz entre prata, traça e ferrugem, se explica quando entendemos que as vestes, ao lado dos metais eram consideradas como posses valiosas. Fato é que conforme dissemos, Paulo não norteava sua vida por seus desejos.
 
II) O direito ao salário pastoral
 
A decisão de paulina de não viver às expensas dos irmãos foi de caráter estritamente pessoal. Ela não possui fundamento bíblico de acordo com o contexto geral das Escrituras. Este argumento é sustentado por Paulo justamente no capitulo que as pessoas mais empregam para defender o trabalho voluntário do Evangelho, e o fazem sem levar em consideração as seguintes perguntas retoricas que ele faz, bem como as afirmações que ele mesmo faz:
Quem serve como soldado às suas próprias custas? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não bebe do seu leite? Não digo isso do ponto de vista meramente humano; a Lei não diz a mesma coisa? Pois está escrito na Lei de Moisés: "Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal". Por acaso é com bois que Deus está preocupado? Não é certamente por nossa causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque "o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da colheita". Se entre vocês semeamos coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas materiais? Se outros têm direito de ser sustentados por vocês, não o temos nós ainda mais? Mas nós nunca usamos desse direito. Pelo contrário, suportamos tudo para não colocar obstáculo algum ao evangelho de Cristo.  Vocês não sabem que aqueles que trabalham no templo alimentam-se das coisas do templo, e que os que servem diante do altar participam do que é oferecido no altar? Da mesma forma o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho (I Co 9. 7 - 14 NVI).
Do texto em apreço extraímos a seguinte verdade: obreiro algum faz a obra exclusivamente com os seus recursos. Da mesma forma que um pregador investe tempo e disposição em seu trabalho, um obreiro do Senhor o faz. Daí que seja mais que legítimo que ele desfrute do seu trabalho. Paulo mesmo admite ter este direito, mas abriu mãos do mesmo a fim de não colocar obstáculo algum ao Evangelho, mas ele sabe que Cristo disse: Não levem nem ouro, nem prata, nem cobre em seus cintos; não levem nenhum saco de viagem, nem túnica extra, nem sandálias, nem bordão; pois o trabalhador é digno do seu sustento (Mt 10. 9, 10 NVI). 
 
III) O procedimento dos filipenses
 
Após sair de Filipo em razão de um conflito com as autoridades face à violação dos seus direitos de cidadania, Paulo se dirige à Tessalônica e depois para Beréia, cidade em que novamente se vê forçado a sair em decorrência de um tumulto com os judeus, sendo que nesta ocasião, Silas e Timóteo permanecem na Macedônia (At 17. 13 - 15).
Chegando em Corinto, Paulo se dedica parcialmente à pregação, dividindo ministério com atividade profissional, no caso a de fabricante de tendas (At 18. 2, 3). É este procedimento que faz com que ele frequentemente se gabe junto aos crentes de corinto de que, a despeito dos seus direitos de ser sustentado, ele voluntariamente abriu mão destes a fim de que não pusesse empecilho algum à causa do Evangelho (I Co 9. 12).
Foi neste período que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, e segundo o relato de Lucas, Paulo se dedicou exclusivamente à pregação, testemunhando aos judeus que Jesus era o Cristo (At 18. 5 NVI). Em sua segunda Carta aos Coríntios Paulo vai fazer o seguinte relato:
Despojei outras igrejas, recebendo delas sustento, a fim de servi-los. Quando estive entre vocês e passei por alguma necessidade, não fui um peso para ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram aquilo de que eu necessitava. Fiz tudo para não ser pesado a vocês, e continuarei a agir assim (II Co 11. 8, 9 NVI). 
Segue-se daí que a ajuda dos macedônios chegou quando Timóteo e Silas vieram da região, conforme vemos no relato de Atos. Daí o fato de Paulo empregar a palavra κοινωνια (koinonia), para se referir à parceria existente entre ele e os irmãos de Filipo.
 
IV) As lições
 
Atentemos agora para o texto:
Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo.  Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4. 10 - 13 NVI). 
Aqui percebemos que Paulo valoriza as ofertas dos irmãos, mas afirma saber estar nas situações mais adversas, sustentado pela força do Senhor, e tudo graças à αυταρκης (autarkes), palavra cujo sentido é suficiência, satisfação em si mesmo. Esta mesma palavra aparece na exortação que Paulo faz ao seu filho na fé a respeito de pessoas que não querem se sujeitar à singeleza do Evangelho, porque vem na piedade uma fonte de lucro.
Para o apóstolo, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro (I Tm 6. 6 NVI). O termo para contentamento aqui é αυταρκειας (autarkeias), bem similar a αυταρκης (autarkes), e provavelmente a fonte da palavra autarquia, termo este que tem entre as possíveis definições a de regime econômico de um Estado que procura bastar-se a si mesmo. Em Cristo nos podemos bastar a nós mesmos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Afinal, é pecado, ou nao é?

 

O livro É Proibido, de Ricardo Gondim, foi um marco no tocante à demarcação entre doutrina e costumes. Na referida obra tivemos um rico esclarecimento a respeito de muitas proibições feitas pela Igreja, mas que não possuíam respaldo na Bíblia Sagrada. De igual importância foi o capitulo no qual o autor em apreço dedicou à música. Ali vimos, pela primeira vez, músicas populares brasileiras sendo analisadas à luz da cultura e sem nenhuma marca de diabolização.
Se compararmos a história americana, com a brasileira, constataremos que na América a Igreja absorveu a cultura negra, e isto de forma que os grandes movimentos musicais negros surgiram dentro da Igreja, consequentemente, boa parte dos cantores americanos vieram do movimento gospel. No Brasil, a cultura negra se associou à religião oficial em nosso país, e como resultado do sincretismo as expressões culturais produzidas pelos negros se associou aos cultos de matiz africana. O resultado? A marginalização de toda produção cultural decorrente da cultura afro. Em decorrência de tal estigma, toda música que não é Gospel, é pecado. Mas isto é verdade? Não, de forma alguma!
Descreio que seja pecado ouvir um maravilhoso solo de guitarra de Eric Clapton, Marc Knopfler, ou de George Benson. Não creio que seja uma transgressão mortal ouvir um maravilhoso solo de violão do Baden Powell, ou do Toquinho, muito menos o solo de acordeão do Sivuca, e do Dominguinhos, para não falar do imortal Altamiro Carrilho. E o que dizer de uma vozes tão maravilhosas como a Rick Aschley, Louis Armstrong, Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo, Elis Regina, Jerry Adriani, Agnaldo Rayol, cada uma no seu estilo, é claro. Pecado é não saber apreciar a beleza da arte.
Apreciar, verbo cujo sentido é o de avaliar, julgar, estimar, considerar. O fato de saber apreciar não quer dizer que goste de Biquíni Cavadão, por exemplo, embora considere tédio o ápice da psicanalise e o retrato fiel de nossa geração, que possui acesso a toda forma de bem de consumo, mas que não sai do tédio. É justamente por saber apreciar tenho de valorizar o conteúdo político das letras do Legião Urbana e dos Engenheiros do Havaí.
Outro aspecto a ser considerado neste caso, é o da graça comum. Nesta percebemos que toda produção cultural humana, estando ou não, à serviço do Evangelho, é fruto de uma graça, afinal, a capacidade humana, a inteligência, a razão, bem como os recursos procedem de Deus e o homem, tal como ocorre na semeadura e na colheita trabalha a partir dos materiais que lhe fora concedido, dado. Se é concessão, logo, é graça.
Tanto a graça comum, quanto a Imago Dei, se podem ver nas letras de denuncia das mazelas sociais feitas por Herbert Viana, e Cazuza; quanto nos dilemas existenciais cantados por Renato Russo. Deixar de observar tais aspectos é o que há de mais triste no meio evangélico. Talvez isto se dê em razão do que J. J de Morais falou em seu livro "O que é música?", da coleção primeiros passos. As pessoas, afirma o autor, ouvem a musica, ou de forma sensitiva (apelo aos sentidos), ou de forma emocional. Em ambos os casos a audição musical não é um fim em si mesma, mas um meio para uma roda de bar, uma cerveja, ao namoro, um tórrido caso de amor, etc... Daí que a audição fique associada a estas experiências.
Assim, muitas pessoas associam as músicas que ouviam no tempo em que não eram cristãs com o modus vivendis da época. Ao se tornarem cristãs associam-nas ao modo de vida de outrora, o que produz uma rejeição psicológica. Então qualquer texto bíblico vira motivo para que as pessoas possam vir a fundamentar suas opiniões.
O trabalho de desconstrução, neste caso, não é tão fácil, porque a questão não se prende à esfera intelectual, ou racional somente, mas avança para o emocional, para a subjetividade. E o grande fato é que a música tem o poder de nos fazer reviver determinados momentos de nossa vida. Talvez a recusa seja para com estes momentos. Cabe ressaltar que nossa experiência subjetiva não pode, em hipótese alguma, vir a ser matéria para doutrina, cuja fonte é a Bíblia. Assim, aqui vale a regra: "quem ouve, não julgue que, não ouve, e quem não ouve, não julgue o que ouve".

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Lição de EBD n° 11: Uma Vida Cristã Equilibrada


Definimos a vida como o período de incessante atividade, visto que a mesma é a expressão, ou o resultado da atuação dos órgãos que concorrem para o desenvolvimento e conservação dos animais e vegetais. Mas vida é bem mais do que o espaço de tempo compreendido entre o nascimento e a morte. Daí que usemos esta expressão para nos referirmos ao modo de vida do cristão. O equilíbrio é a principal marca do cristão. Embora o termo não apareça nas Escrituras ele é devidamente representado por meio da palavra moderação, que é a virtude de permanecer na exata medida; comedimento, ou o de todo e qualquer excesso. Mas qual é o segredo para uma vida equilibrada?
1) Razoabilidade
Razoabilidade talvez seja um neologismo, visto que não encontro esta palavra nas pesquisas nos dicionários on line. Mas ela é sinônima de equidade, e na verdade é a melhor tradução para o grego το επιεικες (to epeikes), cujo sentido é o de ser razoável nas opiniões e julgamentos, podendo também ser empregada para expressar a capacidade de passar por injustiças e maus tratos confiando em Deus, e sem ódios e rancores no coração.

De fato, ser razoável é o mesmo que ser conforme à razão, ao direito ou à equidade. Se Paulo pede que esta qualidade seja reconhecida de todos, ele o faz em vista dos seus sofrimentos pessoais e do padecimento da comunidade. O fato é que em meio às injustiças que passamos na vida esta qualidade nos serve de força motriz para produzir em nós a devida estabilidade diante das situações mais adversas.

Não temos, de nós mesmos, a devida potencialidade para desenvolver tal virtude, mas o Espirito de Deus, conforme disse Paulo, nos auxilia em nossas aflições com gemidos inexprimíveis (Rm 8. 26), para que possamos aprender a confiar em Deus e desenvolver julgamentos e opiniões moderados, cheios de equidade.
2) Eliminando a ansiedade
A Psicologia considera a Ansiedade uma atitude emotiva concernente ao futuro e que se caracteriza por alternativas de medo e esperança; medo vago adquirido especialmente por generalização de estímulos. Via de regra a pessoa que está carregada de ansiedade não sabe por quais motivos se encontra ora muito motivada, ora com medo de tudo. A ansiedade é vista como algo positivo na Psicologia, a despeito da advertência de Cristo, para que não andássemos ansiosos. Mas os próprios psicólogos reconhecem que se esta não for devidamente regulada, pode levar ao desequilíbrio.

No sermão do Monte, Cristo apresenta algumas razoes para que não sejamos ansiosos. Em primeiro lugar: o Deus que dá a vida e provê o desenvolvimento corporal é suficientemente poderoso para dar o mantimento e a vestimenta. Em segundo lugar, a providencia divina é evidenciada no cuidado divino para com a natureza, e da mesma forma pode Deus cuidar daqueles que são objeto do seu amor. Por último, Jesus adverte aos seus discípulos a que busquem o Reino de Deus, com a promessa de que por acréscimo nos serão dadas tanto a vida quanto o mantimento (Mt 6. 25 - 34).

Talvez o leitor possa me arguir da seguinte forma: "tudo bem pastor, mas a vida moderna é muito mais complexa". Mas se observarmos o contexto no qual Cristo falou e o compararmos com o contexto moderno, veremos que a matriz é a mesma. No fundo, no fundo, o homem moderno ainda é movido pela necessidade de subsistir, sendo que este deposita sua subsistência no sucesso profissional, acadêmico, e quanto mais persegue estas coisas mais as vê distante.

As palavras do Salmista são fortes, entregue suas preocupações ao Senhor, e ele o susterá; jamais permitirá que o justo venha a cair (Sl 55. 22 NVI). Tanto no ensino de Cristo, quanto no ensino de Paulo, a ansiedade demasiada pode ser equilibrada por meio da busca pelo Reino de Deus, que Paulo chama de oração (Mt 6. 25 - 34; 7. 7 - 11; Fp 4. 6, 7). Pedro nos convida a lançar sobre Deus a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós (I Pe 5. 8).
3) Vida de oração
O conselho paulino é: em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus (Fp 4. 6, 7 NVI). É por meio da oração e das suplicas que fazemos os nossos pedidos a Deus, e ao pedirmos, o fazemos apresentando nossa ação de Graças.

Aqui se faz necessário destacar a palavra ευχαριστιας (Eucharistias), a indicação da mesma é muito mais do que uma fórmula litúrgica das orações. ευχαριστιας é indicador de uma atitude mental, que nos remete à razoabilidade conforme falado supra. Por meio da oração contrabalançamos as nossas petições com o reconhecimento das ações de Deus no passado.

Há um salmo davídico que nos orienta a este respeito. Bendiga ao Senhor a minha alma! Bendiga ao Senhor todo o meu ser!  Bendiga ao Senhor a minha alma! Não esqueça de nenhuma de suas bênçãos! (Sl 103. 1, 2 NVI). Aqui cabe observar que nenhum dos benefícios divinos pode ser esquecido. É neste jogo de forças entre a petição confiante, e a Ação de Graças, que a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guarda os nossos corações e as suas mentes em Cristo Jesus.
4) Pensando em coisas excelentes
Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas (Fp 4. 8 NVI).
O verdadeiro (αληθη [aletee]), não é somente aquilo que é de conformidade com a natureza das coisas. Não estamos falando aqui da teoria da correspondência da verdade de Platão. Por verdadeiro aqui entendemos aquilo que é genuíno, puro, sem mistura, sem alteração. Por sua vez a expressão αγνα (agna), puro, pode ser compreendida como os elementos de purificação cerimonial da antiga dispensação, indicando com isto, que a santidade começa com a pureza dos pensamentos nos quais nossa mente se vê envolvida.

Uma variante desta mesma palavra aparece em Fp 1. 16 para indicar a falta de pureza dos que pregam a Cristo por emulação. De forma que ουχ αγνως (ouch hagnos), é traduzido aqui por não puramente. Se nossos pensamentos forem puros todas as nossas ações o serão, inclusive as nossas práticas no Evangelho.

Chamamos de σεμνα (semna), aquilo que é nobre, digno de estima, ilustre, notável. No caso do ?Evangelho, poucos são os de nobre nascimento (I Co 1. 26). Mas ao que tudo indica, aos olhos do Senhor a nobreza pouco tem a ver com nascimento, ela tem mais a ver com atitude interior, daí o profeta afirmar: o homem nobre faz planos nobres, e graças aos seus feitos nobres permanece firme (Is 32. 8 NVI). A ideia de firmeza e estabilidade aparece ao lado da ideia de estabilidade.

Nossos pensamentos devem estar focados naquilo que é amável (προσφιλη [prosphilee]), agradável, que atrai o louvor de Deus e dos homens. Também tem de estar focando no que é digno de louvor, no que é moralmente excelente (αρετη [arete]). São estas coisas que nos permitem viver de forma firme e inabalável.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.  

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Mais uma falácia homoafetiva


Gostaria de expressar neste post a minha indignação contra o ministro da Austrália que defendendo o casamento igualitário, usou de artifícios sofísticos para expor, e diria, impor a sua opinião. Honestamente, creio sim que seja dever de um político trabalhar em prol de todos os cidadãos e se ele entende que para tal tem de promover, ou legalizar o casamento igualitário, quem sou eu para ir de encontro a ele.
De imediato, tem de ser explicado ao caro colega pastor e a todos os pastores que o casamento bíblico não é isto que se oficializou na esfera civil e jurídica com vistas a partilha de bens e de herança. Não, o Casamento é algo que ocorre no coração de um homem e de uma mulher, de forma que aquele deixa pai e mãe, e se une a ela a fim de serem ambos uma só carne.
Ao amado pastor, creio que a pergunta seria esta: como distinguir o casamento heterossexual e heterogâmico das uniões civis realizadas pelo Estado? Creio que mais do que nunca precisaremos ir de encontro ao Estado e á nossa postura. Como? Reforçando, mais do que nunca a laicidade, no sentido de separação entre Igreja e poder temporal.  
Voltando às palavras do ministro, o que posso dizer a respeito das suas considerações? Simples!Errado, errado, caro ministro a Bíblia não diz que a escravidão é uma condição natural, não está escrito em parte alguma da mesma. O fato de Paulo ter dito que os escravos deveriam ser obedientes aos seus respectivos mestres não indica que ele considerasse a escravidão algo natural, Paulo não tinha por sobrenome Aristóteles, há uma fenda, digo distancia, temporal, e aproximadamente quatrocentos anos entre o filósofo e o apóstolo.
Uma razão viável para que Paulo tenha dito que os escravos fossem obedientes ao seu senhor talvez seja o fator culturalmente comprovado de que muitos deles, vieram a serem escravos em razão de terem se vendido como tais, a fim de subsistirem, algo bem parecido com o que fazemos quando nos vendemos para trabalhar em algo que não suportamos fazer, mas fazemos pela nossa subsistência (ao menos esta á a opinião de Karl Marx).
A preocupação do Pastor é legítima (serei obrigado a celebrar a cerimonia de casamento igualitário?). E comparar a normatividade Bíblica a respeito do casamento com a escravidão, que tal como o divórcio, sequer é normativa, é  uma das maiores desonestidades intelectuais que tive a oportunidade de ver e pior ainda apenas realçou um aparente despreparo por parte do pastor, que talvez tenha sido.
A respeito do homossexualismo ser natural, ou não, há um vídeo de Olavo de Carvalho no qual este filósofo aponta o erro de tradução das Bíblias em português ocorrido na carta de Paulo aos Romanos. Neste vídeo o filósofo aponta que na verdade os homossexuais trabalham de forma favorável á sua natureza e por agirem desta forma acabam por se voltarem contra Deus.
Voltando ao ponto da escravidão, na sociedade hebraica foi instituída uma norma que, se seguida, tornaria esta condição, que em muitas nações era permanente em uma condição temporária. O que acontecerá se aplicamos a condição da escravidão à homossexualidade, ainda que o façamos por analogia? A escravidão não era definitiva, mas temporal, deveríamos entender o mesmo a respeito da homossexualidade?
Sobre ciência, sabemos que ninguém nasce músico, poeta, pintor, artista, é cada vez mais comum a negação de habilidades inatas. Reconhecemos a influencia cultural, e o comportamento adquirido. Se é assim com relação as habilidades por que não o pode ser com o comportamento sexual? Qual cientista conseguiu provar cabal e definitivamente o caráter natural da homossexualidade? Nenhum! Por mais popular e politicamente correta que tal pesquisa fosse, ela seria risível do ponto de vista científico, exatamente pelas razões acima expostas. Neste ponto o grande serviço do ministro foi mostrar que não existe comprovação científica para que se afirme que a homossexualidade é antinatural, ou contrária à natureza, mas fora isto toda argumentação foi pífia.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.



 

Último dia do congresso de Missões da Adecin

 
Na manhã de oito de Setembro de 2013 tivemos uma manhã missionária, que de acordo com o Pastor Marcelo Martins, foi um verdadeiro êxito, ou sucesso, em decorrência do concorrido número de pessoas que estiveram presentes na mesma. O referido obreiro ainda colocou que em muitas programações similares à de ontem há um baixíssimo quórum, e que o mesmo, ao seu ver é o maior indicador do pouco ou nenhum interesse eclesiástico pela área missionaria.
Durante a ministração o referido obreiro fez questão de pontuar que para o exercício da obra missionária as emoções destituídas de uma consciência, de uma base e de uma iniciativa são fúteis. Uma Igreja missionária se faz com oração, é bem verdade, se faz com contribuição, mas também se faz por meio de programas de treinamento e capacitação dos missionários que são enviados ao campo.
É mais do que fato que nossa história está cheia de pessoas que do nada fizeram missões, mas o pastor palestrante pontuou, com muita sabedoria, a necessidade que a Igreja invista em seus missionários a fim de que os mesmos não retornem prematuramente do campo. Ainda que aquilo que possamos fazer seja pouco, fato é que tem de ser feito.
Durante a tarde tivemos uma passeata em comemoração aos anos em que nossa Igreja vem atuando no Reino de Deus, e após a mesma, tivemos a nossa consagração de obreiros. Foi um momento duplamente marcante. Primeiro pela palavra de sabedoria que destilou do trono da graça de Deus pela instrumentalidade do Pastor Juvenal Mattos Júnior. Durante a predica, o ministro de Deus pontuou a doutrina, a comunhão, o partir do pão, e a oração como os principais fatores para um ministério inabalável.
O balança final, foi este: nosso décimo terceiro congresso de missões na Assembleia de Deus em Cidade Nova, Rio de Janeiro, foi marcado pela presença imprescindível da glória de Deus, por pregações de obreiros realmente comprometidos com a causa missionaria, e com ampla experiência na obra de missões, algo que além de se falar, tem de ser vivido.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

domingo, 8 de setembro de 2013

Congresso de Missões Adecin 3a noite

 
Nossas atividades do sábado, sete de Setembro, começaram às nove horas da manhã com uma reunião de oração, que tem por nome "manhã com Deus". Além do momento de oração, em pudemos ter o privilegio de orar em comunidade com os irmãos, em um ambiente aquecido pela presença de Deus, ouvimos uma série de saudações edificantes.
Dentre os amados irmãos que ministraram suas respectivas saudações destacamos a irmã Eliane Rodrigues que falou da providência de Deus em preservar Moisés, com vistas à consecução do plano divino em sua vida e na vida do seu povo. Nosso amado irmão e pastor Carlos do Ó trouxe-nos uma palavra a respeito da aflição e paciência de Jó e assim, pudemos sair edificados, exortados e consolados.
À noite, além da participação de vários cantores, tivemos uma palavra abençoadora com o pastor Juvenal Mattos Junior, da Assembleia de Deus em Viamão, RS. Durante a ministração da mesma, o ministro de Deus frisou a importância de estarmos debaixo da cobertura do sangue do cordeiro, para que não venhamos a sucumbir diante do pecado, tal como Caim. A lição que extrai da mensagem do obreiro supra, foi a de que quando não amamos nosso irmão, o matamos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

sábado, 7 de setembro de 2013

Segunda Noite do 13° Congresso de Missões na Adecin


Ontem foi a nossa segunda noite do decimo terceiro congresso de missões da Assembleia de Deus em Cidade Nova, o Ministério do Monte, e mais uma vez tivemos a oportunidade de ouvir a poderosa mensagem da palavra de Deus sendo pregada pelo Pastor David Baptista Mattos. O ministro de Deus leu uma porção do texto sagrado e focou a sua mensagem no livro dos Atos dos Apóstolos, ainda no primeiro capítulo.
No decorrer da mensagem ele frisou que a despeito da importância do nascimento de Jesus, data muito comemorada, a sua morte é de grande relevância para a fé cristã, uma vez que por meio da mesma Satanás foi derrotado (Cl 2. 14, 15), e nossos pecados foram remidos. O diabo a fim de impedir que Cristo fosse para a cruz, buscou mata-lo sucessivas vezes antes da cruz, bem como dissuadi-lo de enfrentar a mesma. Mas Cristo além de morrer, ressuscitou, e apresentou-se vivo aos seus discípulos com muitas e infalíveis provas.
A apresentação das provas, ou evidencias da ressurreição de Cristo foi o ponto apoteótico da mensagem, uma vez que a Igreja respondeu com alegria, e vazão da presença de Deus, bem como com manifestações da graça do Senhor. Um ponto em comum com a noite do primeiro dia, foi que a mensagem de Deus produziu sede, desejo de ler mais a palavra de Deus, especificamente o Evangelho, e esta é a missão maior do pregador da palavra.
 
Que Deus abençoe mais e mais a Adecin, Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Apenas um toque

  


Quero compartilhar com os leitores do blog, em breves linhas a minha experiência como pentecostal, e minha opinião a respeito do vicioso emprego do dom de línguas em nosso meio. Tem sido muito comum alguns pregadores aferirem a espiritualidade de uma Igreja por meio da resposta que os membros da mesma apresentam face às suas mensagens. Se a Igreja fala em línguas incessantemente, ele é espiritual, se não, é fria. O MAIOR INCÔMODO, AO QUE PARECE, É QUANDO ELES VISUALIZAM UM OBREIRO OLHANDO E EXAMINANDO A MENSAGEM.
Aos meus doze anos de idade, tive uma das mais sublimes experiências da vida cristã, passei pelo que em nosso meio pentecostal chamam de batismo com o Espirito Santo, e alguns tradicionais como Wayne Grüden e Jonh Stott chamam de revestimento de poder. O fato é que a segunda experiência me trouxe uma certeza ainda maior do que a que possuía de minha salvação e da presença de Deus ao meu lado no cumprimento da missão cristã. Tal fato talvez se constitua como a minha maior motivação para permanência no pentecostalismo.
Cabe no entanto colocar que a experiência pela qual passei me conduziu ao estudo frequente das Escrituras. Comecei examinando a Bíblia com o dicionário do lado, depois passei a consultar as referencias de rodapé que a Almeida Revista e Corrigida trazia, tudo isto associado à assiduidade à Escola Bíblica Dominical. O resultado inevitável foi uma compreensão paulatina do emprego dos dons espirituais, que destoa do emprego atual. Quero focar particularmente o dom de línguas.
Em primeiro lugar, Paulo observa junto aos irmãos de Corinto que há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo (I Co 12. 4 NVI). Segundo, ele mesmo observa que nem todos falam em línguas. Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria;[..]  a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas (I Co 12. 8 - 10 NVI). Terceiro esta diversidade foi estabelecida na Igreja pelo próprio Deus. Observemos este texto:
 
Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dom de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas.  São todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Têm todos o dom de realizar milagres?  Têm todos dons de curar? Falam todos em línguas? Todos interpretam? (I Co 14. 23 - 25 NVI).
Em outras palavras nem todos falam em línguas. Isto estabelecido, resta inda um outro ponto. A leitura do capitulo catorze da presente carta nos dá a entender que o exercício do dom de línguas sem interpretação é infrutífero no tange à edificação da Igreja, além de dar a entender aos infiéis que estão na congregação que a mesma é frequentada por um monte de loucos. Paulo é enfático em dizer que:
Assim, se toda a igreja se reunir e todos falarem em línguas, e entrarem alguns não instruídos ou descrentes não dirão que vocês estão loucos?
Mas se entrar algum descrente ou não instruído quando todos estiverem profetizando, ele por todos será convencido de que é pecador e por todos será julgado,
e os segredos do seu coração serão expostos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus, exclamando: "Deus realmente está entre vocês!
(I Co 14. 23 - 25 NVI). 
Todavia, ao contrário do alguns irmãos de Igreja históricas pensam, isto não é motivo para que se proíba o falar em outras línguas. De forma alguma! O conselho que Paulo nos dá é: busquem com dedicação o profetizar e não proíbam o falar em línguas (I Co 14. 39 NVI). Uma palavra para concluir o post: existem coisas que Paulo fala, mas que não impõe como regra a ser seguida. Me parece que este não é o caso, caros vasos do Senhor, irmãos do remanto e do reteté da glória. A este respeito ele mesmo diz: Se alguém pensa que é profeta ou espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor (I Co 14. 37 NVI). Quanto aos pregadores, PREGUEM A PALAVRA E DEIXEM AS MANIFESTAÇÕES POR CONTA DO SENHOR.
 
Pr Marcelo Medeiros, em Cristo Jesus, nosso Senhor.

13° Congresso de Missões na Adecin


Ontem foi a primeira das quatro noites do Congresso de Missões, que está sendo realizado na Assembleia de Deus em Cidade Nova. Nosso culto contou com a participação de vários cantores além dos pastores Juvenal e David Baptista Mattos, ambos com ampla experiência no campo missionário com passagens por Israel, África e América Latina. A mensagem da noite foi ministrada pelo Pr David, que pontuou, a partir do exemplo de Cristo as qualidades necessárias ao exercício do chamado para missões.
Ao meu ver o ponto alto da mensagem foi quando o mensageiro fez questão de frisar que Cristo colocou a glória de Deus e a salvação de almas como principais motivações do exercício do seu ministério, deixando de mãos quaisquer ambições de caráter terreno, seja politico, religioso e até mesmo ministerial. O mesmo encerrou a mensagem chamando o povo à prática de tal perspectiva de vida. A julgar pela qualidade da mensagem ministrado o culto de hoje será bem concorrido.
 
Pr Marcelo Medeiros, em Cristo
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