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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Lição da EBD 13: O sacrifício que agrada a Deus

 

As Escrituras trazem o relato da criação do mundo, do homem e de sua queda, e imediatamente após temos a primeira menção ao sacrifício. O livro do Genesis apresenta dois exemplos, o de Caim, agricultor, e o de Abel, pastor de ovelhas. Em um dia ambos se apresentam a Deus com a finalidade de ofertarem. O resultado é que Deus aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou Caim e sua oferta, indicando com isto que não é todo tipo de sacrifício.
O Novo Testamento é muito simples no tocante a interpretação do sistema de sacrifícios portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome. Não se esqueçam de fazer o bem e de repartir com os outros o que vocês têm, pois de tais sacrifícios Deus se agrada (Hb 13. 14, 15 NVI). O verdadeiro sacrifício consiste em fazer o bem e repartir o que temos uns com os outros. No estudo de hoje procurarei demonstrar como esta realidade se concretizou entre os filipenses.
 
Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas tribulações (Fp 4. 14 NVI).
 
Mesmo sabendo que Paulo não buscava os bens materiais dos irmãos de Filipo (Fp 4. 11), e que o mesmo estava devidamente acostumado a passar por privações diversas (Fp 4. 10 - 13). Eles se dispuseram a participar das aflições do apostolo. A expressão συγκοινωνησαντες μου τη θλιψει (sygkoinooneesantes moy tee thlipsei), indica que os irmãos participaram efetivamente das aflições do apóstolo. Diga-se de passagem que o verbo συγκοινωνηω é oriundo de κοινωνια, cujo sentido é o de parceria, participação.
 
Como vocês sabem, filipenses, nos seus primeiros dias no evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja partilhou comigo no que se refere a dar e receber, exceto vocês; pois, estando eu em Tessalônica, vocês me mandaram ajuda, não apenas uma vez, mas duas, quando tive necessidade (Fp 4. 15, 16 NVI).
 
De acordo com o relato de Lucas, Paulo sai da Macedônia e se dirige à Grécia e depois à Acaia. Em Corinto, ele chega a trabalhar por um tempo como fabricante de tendas. Diante deste relato, é possível sim, que ele o tenha feito em razão de alguma necessidade pela qual tenha passado (At 18. 2, 3). Fato é que Paulo foi socorrido pelos irmãos desta comunidade. O mesmo relato vemos no seguinte texto:
Será que cometi algum pecado ao humilhar-me a fim de elevá-los, pregando-lhes gratuitamente o evangelho de Deus? Despojei outras igrejas, recebendo delas sustento, a fim de servi-los. Quando estive entre vocês e passei por alguma necessidade, não fui um peso para ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram aquilo de que eu necessitava. Fiz tudo para não ser pesado a vocês, e continuarei a agir assim (II Co 11. 7 - 9 NVI).
Aos irmãos de Corinto, Paulo fez questão de deixar claro que o Evangelho é uma graça, um dom de Deus (δωρεαν [doorean]). Mas para que o Evangelho pudesse ser oferecido como um dom aos irmãos de Corinto, foi necessária a generosidade dos crentes da Macedônia (Fp 4. 15, 16; I Ts 3. 6).  O mais curioso é que a palavra despojo (εσυλησα [esilesa]), vem do verbo grego συλαω (sylaoo), e pode ser empregada para se referir aos saques que os soldados faziam aos templos quando tomavam uma cidade.
Paulo passou por serias necessidades quando esteve entre os crentes de Corinto, mas no lugar de se permitir ser sustentado pelos coríntios, ele despojou dos crentes que já haviam sido conquistados pelo Evangelho. Foi dos irmãos da Macedônia, particularmente dos filipenses que Paulo recebeu o seu sustento.
A lição que fica para nós aqui é que para o Evangelho ser oferecido de graça alguém de dispor dos seus dons, dos seus recursos para que tal aconteça. Daí a frase mais do que comum que missões de fazem com os pés dos que vão, os joelhos dos que ficam, e as mãos dos que contribuem. Afinal, foi a chegada de Silas e Timóteo com os recursos enviados pelos irmãos da Macedônia que possibilitou que Paulo se dedicasse integralmente ao Evangelho.

Não que eu esteja procurando ofertas, mas o que pode ser creditado na conta de vocês (Fp 4. 17 NVI).

Já foi comentado aqui neste post, o significado de αυταρκης, que é o de suficiência em si mesmo, indicando com isto que o apóstolo Paulo não estava preso a uma determinada situação, mas que estava instruído a viver de qualquer maneira. Ele não tinha um padrão de vida ao qual deveria conformar todas as situações. Seu viver é Cristo, não a situação social.
Agora, no momento em que escreve aos crentes de Filipo, com o fim de lhes agradecer pela cooperação (Fp 1. 5, 7; 4. 15 - 18), ele reafirma que seu interesse nos crentes em apreço é que estes tenham um crédito diante de Deus por sua generosidade. O termo grego πλεοναζοντα (pleonazonta), vem do infinitivo πλεοναζω (pelonazoo), é na verdade uma metáfora comercial, que indica um investimento que redundará em lucros para aquele que o faz.
Não se trata aqui da usual barganha que se faz em muitos templos nos dias atuais, mas na aplicação prática do ensino de Cristo, para quem o entesourar nos céus tem a ver com a generosidade que exercemos através dos nossos bens terrenos. Afinal, Cristo disse: usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas (Lc 16. 9 NVI). Uma forma ainda mais radical deste ensino foi colocada nas seguintes palavras do apóstolo Paulo:
Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida (I Tm 6. 17 - 10 NVI). 
Digno de nota aqui é a expressão ricos em boas obras, indicando que a caridade é o real investimento de nossas riquezas, visto que à luz do contexto bíblico, pode sim, ser que algum dias estas nos faltem. Para Paulo esta beneficência é o que justifica o trabalho árduo. Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’ (At 20. 35 NVI). Com toda certeza posso afirmar que tais palavras refletem o ensino de Cristo.
No grito dos profetas, Deus manifestou sua vontade de que os sacrifícios fossem incorporados à prática da justiça social (para  mais ver aqui neste blog, o estudo Amós, a justiça social como forma de adoração, e Habacuque, a Soberania de Deus sobre as nações). Agora o Novo Testamento apresenta a beneficência como sendo o verdadeiro sacrifício do qual Deus se agrada. E no caso dos Filipenses, foi sacrifício mesmo, visto que a pobreza deles era grande.
Agora, irmãos, queremos que vocês tomem conhecimento da graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia. No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade. Pois dou testemunho de que eles deram tudo quanto podiam, e até além do que podiam. Por iniciativa própria eles nos suplicaram insistentemente o privilégio de participar da assistência aos santos. E não somente fizeram o que esperávamos, mas entregaram-se primeiramente a si mesmos ao Senhor e, depois, a nós, pela vontade de Deus (II Co 8. 1 - 5 NVI). 
Nos irmãos de Filipo se cumpre cabalmente a palavra, como pobres mas enriquecendo a muitos. Esta é a verdadeira essência do sacrifício.
 
Pr Marcelo Medeiros.

2 comentários:

  1. Bênção! Excelente comentário. Quando ministrava uma das lições deste trimestre, pude entender porque o Senhor Deus impediu que Paulo pregasse em determinada região, impelindo-o antes para que passasse a Macedônia e ajudasse àquele povo. Deus, na sua providência, por certo, sabia que o povo pobre da Macedônia tinha uma grande contribuição a dar para a obra missionária dos apóstolos, notadamente Paulo. Deus é fiel! Ele continua hoje guiando, conduzindo, dirigindo os seus filhos, para que todo o seu bom propósito [de Deus] se realize para o nosso bem. Glória a Deus!

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    1. Belíssimo comentário e perspectiva! Biblicamente enriquecedor! Poderias ter compartilhado em seu resumo na EBDECIN, Deus o abençoe mais e mais Gilberto.

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