Pesquisar este blog

domingo, 24 de maio de 2020

Não São Somente Palavrões



A saída do então ministro da justiça Sérgio Moro, com direito à trocas de acusações, por parte deste de possíveis interferências do chefe de Estado na Polícia Federal abriu uma nova crise política e institucional no Brasil. Ao ser chamado pelos órgãos de investigação para depor no Supremo Tribunal, o ex juiz e ex ministro do governo Bolsonaro apontou o vídeo da reunião de vinte e dois de Abril como prova de sua fala (isto, é claro, após enviar à imprensa as conversas de Whatsapp em que supostamente falava com a Deputada Carla Zambelli e com o então chefe de Estado, que em tese comprovariam a versão do ex ministro). 

O vídeo acima aludido foi liberado na íntegra pelo ministro Celso de Melo (Supremo Tribunal Federal), e provocou uma cisura ainda maior na nação. Ao contrário do que se esperava, algumas pessoas se identificaram ainda mais com o conteúdo do vídeo, com a forma de Bolsonaro fazer politica. Outras manifestaram em redes sociais a total repugnância com os ritos e com a solenidade dos cargos chegando a comparar a reunião com uma conversa de botequim. 

Neste ponto, abro esta parágrafo para pontuar que a discussão a respeito de possíveis crimes, por parte do presidente, do ministro da educação, e do meio ambiente ficam à cargo dos juristas. A militância pró, ou contra Bolsonaro e Moro fica por conta dos militantes. Eu não sou militante nem de esquerda e nem de direita. Sou pensador. Mais ainda procuro instrumentalizar os parcos conhecimentos na área de Teologia e Filosofia para exercer atividade crítica. 

Sou professor e como tal minha função é usar desta rede e de todos os meios de comunicação ao meu alcance para educar. O Facebook é uma ferramenta mais acessível do que  o Blogger, mas não permite tal ação por conta de um ambiente insano de desrespeito a toda e qualquer autoridade, uma sensação ilimitada de poder no opinar, narcisismo e outros fatores. 

É como professor que me pergunto que tipo de educação  se pode esperar de um agente público investido de autoridade para formular diretrizes gerais para a educação em âmbito nacional, que se dirige aos integrantes da suprema corte com a alcunha de vagabundos? Há na  fala do mesmo um tom subjetivista indicando que outros poderiam se enquadrar, mas quem são estes que deveriam estar presos juntos com os ministros da suprema corte?

Ele diz que não está ali para jogar o jogo, mas para uma guerra. Qual jogo que ele não se dispõe a jogar, o democrático? Que tipo de educação recebeu gente que ouve este tipo de fala e concorda, aplaude? Até aqui fica claro que o problema menos não são os palavrões em si, ainda que tais sejam indícios de que a liturgia dos cargos não foi respeitada. 

Que educação recebeu gente que ouve a ministra dos direitos humanos falar que vai prender governadores e prefeitos que adotaram medidas de isolamento e com isto violaram direitos constitucionais tal como o de ir e vir? Em que sites este pessoal estava que não conseguiu baixar a declaração universal dos direitos humanos e com uma leitura ou mais entender que sem garantias do direito à vida, não há possibilidade de que direito algum seja garantido? Diga-se de passagem que falei deste tema neste post

Quando acessei os Parâmetros Curriculares Nacionais pela primeira vez ainda estava cursando Pedagogia. Na ocasião, percebi que dentre os objetivos destes elencava-se o preparo do aluno para o exercício da cidadania, para o reconhecimento das diferenças, para o debate e exposição de opiniões, respeitando a opinião alheia, etc...

Percebo que a educação fracassou mais pela reunião do que pela prova do PISA. Tal como o petrolão, o mensalão e outros casos conhecidos de corrupção revelaram a cara de considerável parte da população brasileira, a reunião de igual modo o fez. Aqueles revelaram a face de quem vota neste ou naquele político e afirma:  este rouba, mas faz. Faz o quê? O problema é mesmo a corrupção? Importante questão cuja resposta extrapola as motivações do presente blog. 

Mais do que isto, percebo a incoerência de gente que pediu a volta da educação Moral e Cívica, mas apoiou a diminuição de recursos públicos para as áreas de humanas, o que afetou, dentre as disciplinas sociais a Filosofia (creia, base da moral e cívica). 

Lembro-me que quando criança fiz tal disciplina na Escola Municipal Soares Pereira. E na primeira aula a discussão foi bem Aristotélica (ainda que a professora não mencionasse a figura do pensador). Mas está na minha memória a discussão sobre VIRTUDE e VÍCIO (que neste contexto é o contrário daquela. Eu gostaria de saber do povo que apoia incondicionalmente o atual mandatário se as falas e ações ali poderiam ser classificadas como virtuosas. 

Sempre que este tipo de questionamento é feito alguém traz à memória a atual experiência de corrupção, afinal o Lula e o PT são as principais razões para uma votação maciça no que está aí, e não entender isto e nem aderir a este movimento equivalem a compactuar com tudo o que o governo, ou os governos anteriores fizeram. Nada mais enganoso, mas que pegou, infelizmente. 

De fato os governos anteriores erraram, mas como classificar a fala de um funcionário público da esfera federal, de alto escalão que diz ser uma oportunidade que todos se aproveitem do enfoque a imprensa está dando ao COVID-19 para passar medidas ambientais que não se adequam aos limites estabelecidos em lei? Como naturalizar e justificar isto? 

Meu espanto se amplia na medida em que recordo da definição de educação no Dicionário: processo de desenvolvimento das faculdades físicas, morais e intelectuais da criança. Ou seja, cabe à educação formar cidadãos plenos no sentido moral, físico e intelectual. Mas onde vai parar o senso moral de quem assiste o vídeo e se preocupa exclusivamente se as cenas ali contidas favorecem ou prejudicam seu herói preferido?

Não bastasse isto tem gente que nem de longe consegue perceber que uma reunião ministerial com chefe de Estado tem interesse público e saúde é o mais público dos interesses devido ao fato de o Brasil ser o novo epicentro da pandemia. O problema já foi resolvido na China, Itália, Espanha e Estados Unidos (que já ocuparam a primeira posição no ranking). Mas está longe de ser resolvido por aqui. 

De lá para cá perdemos os antigos postos de saúde, os serviços públicos essenciais e ainda acumulamos problemas na área sanitária. Há comunidades inteiras sem saneamento básico e sem água potável e nossa ministra de direitos humanos preocupada em prender prefeitos e governadores com base  no fato em que estes agiram acertadamente (ao tomar medidas de isolamento)?

A fala do ministro da Economia merece um post à parte. Mas o funcionário público é o inimigo? Para o ministro aludido e para os que votaram neste projeto político parece que sim. Conheço colegas que compram e reproduzem este discurso. Não são somente palavrões, não são somente crimes contra membros da Suprema Corte, contra o ambiente, não. É um estado de anomia lentamente sendo implantado. 


Marcelo Medeiros

Minha opinião sobre o quadro político atual



Neste post do Facebook afirmei que:

Gostaria de aproveitar que fui chamado de petista por um célebre amigo para explicar aqui meu posicionamento político ideológico. Não coaduno com nenhum partido que se apresenta travestido de messianismo político, seja de direita, seja de esquerda. Por razões particulares considero o PT e o PSDB os principais partidos do processo de redemocratização do Brasil. Mas repudio a tendência de manutenção no poder do mesmo, a inércia de Lula em não perceber a falência do projeto inicial do PT e a ausência de investimento em novas lideranças. Repudio igualmente a falta de compromisso com um dos principais projetos do PT, a moralização da política brasileira.
Muito teria para falar do PSDB, que vive à sombra de FHC. Mas me permita falar de Bolsonaro. Ele é uma incógnita. Pode fazer um excepcional governo, ou pode ser a maior decepção que o país já teve. Mas de minha perspectiva não possui as qualidade para ser chefe de executivo. Não é porque não saiba de economia, é por não saber falar e nem se articular mesmo. É por não possuir nem o carisma de Lula, nem a oratória de FHC e nem as qualidade de um Itamar Franco. Ele simplesmente é raso, e o mínimo de instrução é o suficiente para que se perceba o principal: ele não poderá cumprir com o que promete (não sem comprometer a democracia).
Minha política é de centro. Celebra a coalizão com o que há de melhor no liberalismo econômico e de melhor na social democracia. E os candidatos que poderia implementar tal perspectiva aqui não foram sequer cogitados pela grossa maioria da população. A esta direciono minhas orações a fim de que percebam que os extremos são perigosos e devem ser evitados.
Graça e paz.

As afirmações acima são do período de 2018, salvo engano. De lá para cá deixei de fazer postagens de teor político como estas (No Facebook, é claro). Não foi por não ter o que falar. Também não é por falta de formação para tecer juízos na área da política. Foi por ter percebido que,em se tratando de política, a paixão ganhou mentes e corações de forma a inviabilizar o debate pautado na racionalidade. Neste período foi possível observar um clima de guerra espiritual de cunho apocalíptico ganhou dimensões político ideológicas. 

O somatório de messianismo político (uma espécie de lulismo invertido), antipetismo deram o tom à militância bolsonarista, fazendo da mesma uma nova forma de religião, inviabilizando quaisquer análises racionais. Dentro desta forma de pensar quem não é por nós, é contra nós e o resultado é que não importa se em um texto um autor assume uma fala crítica tanto à esquerda quanto à direita. Os de extrema direita o verão como petista, e os fanáticos de esquerda o verão como bolsomínion. Não há outras opções. 

O entendimento de que figuras históricas da democracia brasileira tais como Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva não são nem anjos e nem demônios, mas unica e tão somente seres humanos com suas qualidades, méritos,deméritos e idiossincrasias parece ser elevado demais, na verdade inatingível. A paixão impossibilita o alcance do pensamento mais básico e elementar possível. 

Quem me acompanha neste espaço pode perceber que falo muito da questão da polarização política no mesmo (aqui, e aqui). Hoje, lógico, percebo que não se trata apenas de polarização em si, mas de fatores irracionais, passionais e religiosos elencados à questão, e contra isto, não se luta, pelo menos não com armas intelctuais, a energia do ódio tem de passar e passa. 

Marcelo Medeiros, na paz. 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.