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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Lições de 2014



A despeito de, como todo ser humano, planejar, sonhar, desejar, há muito deixei de ver as passagens de ano como o grande momento em que meus sonhos serão realizados, o famoso muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender, para mim é apenas a linda letra de uma canção. Em seu único salmo, Moisés ora a Deus para que este o ensine a contar seus dias, a fim de que alcance um coração sábio, é desta forma que ao invés de contar os anos a partir de realizações, os conto pelas lições aprendidas. 

2014 penso que foi um ano de grandes aprendizados e lições que levarei por toda a minha vida. Aprendi que Deus age de fato em todas as circunstâncias, para o bem daqueles que o amam e são chamados por seu decreto. Aprendi que este tudo, que a Bíblia diz engloba os males e as injustiças (Rm 8.28). 

Aprendi a respeito do valor da oração, de como esta nos ajuda em tempos de aflição, na crescente comunhão e intimidade com Deus, e na percepção de que este é um Pai amoroso, que se compadece de nós como um progenitor se apieda do filho a quem tanto ama (Sl 103. 14, 15; Mt 7.11). 

Aprendi que ele Deus, é o oleiro, e nós como barro, que a despeito da má qualidade é pacientemente moldado pelas mãos soberanas de Deus (Is 64.8), e que neste processo assume as mais variadas formas, ainda que de forma temporária. 

Aprendi que Deus é o meu refúgio e fortaleza, o meu socorro bem presente na hora da angústia (Sl 46. 1ss), ainda que minha percepção seja constantemente tentada a vê-lo como distante, ou ausente em momentos de aflição (Sl 10. 1, 2) (Sl 121.2).

É lugar comum em uma época como esta pensar no ano que virá como sendo o ano da virada, de grandes realizações, dos grandes milagres e de uma forma quase que incessante este ciclo vai se repetindo. Não abro mãos de planejar, mas percebo de forma inconteste que não quero Deus fora de minha vida. 

Na verdade anseio Deus acima dos meus planos, sei que ele é, e será a minha segurança, quando a vida me coloca diante de situações que expõem a minha impotência, insignificância, e plena nulidade. E sei, mais do que nunca que nada pode me afastar do seu amor, e que nele sou mais que vencedor, independente da situação. 

O Deus que cuidou de nós em 2014, não muda em 2015, continua soberano e controlando todas as coisas,todos nós fazemos planos para o ano vindouro, mas em oração peço que a vontade dele sobre os meus caminhos e sobre a minha vida, seja soberana, assim estarei seguro em suas mãos, e fazendo o que ele planejou para o minha vida, e como disse Paulo serei mais que vencedor em, e por Cristo Jesus o meu (nosso) Senhor. 

Desejo um 2015 de vitórias para todos!

Marcelo Medeiros.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Resgatando o Espanto



Li há algum tempo o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. Um dos artigos que me chamou a atenção foi o que o autor comparou os aeroportos com churrascos na lage. De fato o que não falta é gente fazendo selfie momentos antes do embarque. A sugestão de Pondé, é que se em algum momento a pessoa se vir em tal situação, que ao menos a mesma se preocupe em não demonstrar felicidade. Eu gostaria de fazer uma outra proposta. 

Mario Sérgio Cortella pontuou em Não nascemos prontos, que está faltando espanto. O assombro do qual fala o autor é a admiração diante da tecnologia, afinal, o celular, por exemplo é uma invenção que não chega a ter seus vinte cinco anos, e de lá para cá, ele foi acumulando aparelho telefônico, gravador de voz, rádio, câmera fotográfica, internet, televisão digital, entre outras coisas. Com isto o aparelho celular é um exemplo de como a humanidade deveria se assombrar diante de tamanha engenhosidade. 

Concordo com Pondé e com Cortella. Vou explicar. Tome como exemplo as redes sociais, que permitiam a aproximação de pessoas, e a comunicação em tempo real de tamanha eficácia, que praticamente eliminou as correspondências. A primeira delas foi o Orkut, que com a ascensão do Facebook, foi mandada para o lixo, e depois veio o vulgo zap zap, mandando aquele para o espaço. Acredito que sem espanto toda inovação humana corre o risco de não ser devidamente aproveitada, mas ser reduzida a um modismo, e depois descartada como se nenhuma outra contribuição viesse da mesma. 

Cresce cada vez mais, na minha cabeça que o espanto é o remédio para o tédio que apanha o ser humano, quando as coisas se tornam rotineiras. Voltando às viagens de avião, é uma das experiências mais extraordinárias que se possa ter, desde que não seja reduzida a mais uma ocasião para selfies. As aeronaves são máquinas que permitem aos seres humanos em geral fazer aquilo que lhes foi negado por sua natureza biológica (voar), e desta maneira, percorrer distâncias consideráveis em tempo reduzido (aqui já se tem motivo de sobra para espanto). 

Estar em um transporte extremamente rápido, movido a um combustível altamente inflamável, a uma altura absurda, me faz ver que a minha vida não depende de mim mesmo, que ela está nas mãos de outra pessoa, que ela é demasiadamente frágil e pequena, que a terra, tão pequena (quando vista de uma altura de vinte mil pés), é enorme diante da pequenez de cada ser humano. É neste instante que Pascal é evocado. 

Pascal fala da imensidão e vastidão do universo,e ressalta que a única grandeza do ser humano consiste em pensar, a leitura pessoal que faço dos seus pensamentos me leva á conclusão que ser consciente de seu pequenez é a essência da nobreza do homem diante do cosmos, e o misto de emoções proporcionadas por uma viajem de avião, a apreensão no momento da decolagem, o alívio no momento do pouso podem proporcionar profundas reflexões, ou como diria Cortella espanto, diante da vida, da maravilha tecnológica, do cosmos visto da altura em que se está. 

Mas tudo isto pode ser apagado pelo selfie quando este se torna um fim em si mesmo. Outra questão, o auto retrato é uma maravilha também. Há quase um século e meio era necessário se colocar imóvel durante horas para que a posição fosse gravada em uma tela por um pintor, aí veio a máquina de fotografar e facilitou para quem era retratado, depois vieram as câmeras fotográficas, facilitando a quem retratava, mas criando ansiedade para quem era fotografado e desejava saber como havia ficado. Foi então que surgiram os celulares com suas câmeras digitais, viabilizando um auto retrato e a imagem instantânea da mesma, bem como a publicação em rede sociais. Mas ninguém se espanta com isto mais, o modismo banalizou esta maravilha tecnológica e dispensou a arte e o artista.

Mesmo diante de toda esta maravilha, eu fico com a sensação de pousar de avião em meio a uma forte chuva. É incrível estar atravessando uma nuvem com a visibilidade totalmente obstruída, e somente perceber que está chovendo quando ao visualizar a paisagem, ver as gotas de água escorrendo na janela do avião. É algo que beira praticamente ao fascinum e tremendum.

Eu acredito que se você teve paciência para ler este artigo até aqui, talvez esteja se perguntando o que isto tudo tem a ver com churrascos na lage. Eu que venho de comunidades percebo que as mesmas proporcionam visões fantásticas de dois cenários. De um lado a natureza, de outro, das realizações humanas. Ambas são motivo de espanto, mas a despeito toda a maravilha que uma visão da lage proporciona ninguém se espanta, ou sequer frui da beleza seja natural, seja arquitetônica, e este é o grande pecado da geração atual, tanto na lage quanto nos aeroportos. 

Forte Abraço, Marcelo Medeiros.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Deus e a existência do mal



Um dos grandes problemas levantados no debate a respeito da existência de Deus é a realidade do mal. Como pode um deus bondoso e todo poderoso tolerar o mal. Parte do problema tem sido respondido com a afirmação de que é o mal, a tragédia que faz com a que humanidade seja de fato mais humana. 

Ainda assim, parece haver pessoas que não se contentam com o fato de terem de passar por eventos trágicos, o que ocasiona frases como esta da imagem acima. Ao visualizar em uma comunidade de debate no facebook, pensei imediatamente em um homem como Jó. Em um momento este é descrito vivendo em um estado de ventura e de repente ele perde todos os seus bens, posses, o respeito social, e mesmo o direito de reclamar. 

Em boa parte do seu livro Jó aparece chamando Deus para um julgamento, ele chega a afirmar, que se Deus comparecesse para um debate, lhe exporia a sua causa, mas quando este lha aparece em meio de uma tormenta e lhe faz perguntas, atente bem, perguntas, ele, Jó, emudece. Minha conclusão, é de que a frase da imagem é a prova inconteste de que a melhor imagem para descrever a humanidade é a que a compara com crianças birrentas. 

Do conforto de sua casa, escritório, apartamento, etc, qualquer um fala do relâmpago, do trovão e de uma tormenta, mas estar diante da grandeza destes fenômenos é algo que faz qualquer indivíduo sensato se borrar de medo, imagine um encontro com Deus, quem poderia argumentar o que quer que fosse diante dele? Jó emudeceu e constatou que Deus tudo pode e que nenhum dos seus planos podem ser frustrados, de quebra a certeza de que quaisquer conjecturas são como o pensamento de um animal irracional. 

Há um outro homem em quem eu penso quando me vejo diante de tais colocações. Jesus de Nazaré. Ele, mais do que ninguém, se identificou com os sofredores, com os pobres, injustiçados, e em sua resignação diante da morte de cruz ele derrotou e venceu o mal, quando ainda no Getsêmane orou a Deus dizendo, todavia, não se faça a minha, mas a sua vontade. A ressurreição de Cristo é a maior expressão da vitória de Cristo sobre o mal e a abertura de possibilidade da vitória de cada cristão em particular. 

Não é do meu feitio, confesso, mas peço a Deus a sabedoria de Davi, que disse: emudeci, por quando o fizeste (Sl 39. 9 ACF), pois do contrário terei de dizer como Jó: falei do que não entendia, por isto me abomino e me arrpendo no pó e na cinza (Jó 42. 3, 6). 

Marcelo Medeiros

Mensagem de Natal



Segundo o relato do Evangelho de Lucas Cristo nasceu em momento em que foi feito um senso, o que fez com que o casal se deslocasse da Galiléia para Judéia, especificamente Belém. O fato é que em nenhuma estalagem foi encontrado lugar para o casal e Cristo nasceu em uma manjedoura. Brennan Manning pontuou em Convite à Loucura que o poder, os prazeres e o dinheiro constituem distrações que inibem o apetite que o ser humano possa ter em relação a Cristo.

Tome como exemplo o natal. É uma excelente ocasião para as pessoas estarem juntas, para fazerem o que quiserem juntas, enfim, para comunhão. Mas que muitas vezes tem este aspecto ofuscado pela correria pelos presentes, preparativos para a ceia, aquisição de presentes e tudo o mais. Que neste ano haja no seu e no meu coração, um lugar para Cristo. Feliz natal. 

Marcelo Medeiros

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Em tudo foi tentado, mas sem pecado



Neste post pretendo compartilhar com vocês uma percepção a respeito da impecabilidade de Cristo. O texto bíblico diz a respeito de Cristo, que em tudo foi tentado, mas sem pecado (Hb 4. 15). Em uma aula a respeito do tema em questão (carta aos Hebreus), fui indagado a respeito de como ele possa ter sido tentado, uma vez que a fonte da tentação é a concupiscência. 

Paulo afirmou que Cristo veio em semelhança de carne pecaminosa, mas que ele combateu o pecado na carne (Rm 8. 3), para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 8. 4). Mas como Cristo se relacionou com esta questão de estar em um corpo que deseja? 

Meu palpite inicial, foi o de que Cristo, desejou, mas que em momento algum qualquer necessidade que ele tivesse, legítima, ou não, suplantou o seu desejo pelo pai. Sim, para começar a vontade de Jesus era a do pai, sua comida era fazer a vontade do Pai. Brennan Manning afirmava repetidamente em seus livros que o coração de Jesus pulsava no ritmo do coração de Aba. Foi esta disposição que tornou Cristo livre em relação ao pecado. 

A tentação no deserto foi, antes de tudo, uma tentativa por parte do diabo em descredibilizar a experiência que ele teve com o pai às margens do Jordão, quando ao sair das águas, os céus se abriram e o Espírito de Deus veio em forma de pomba sobre o Messias, e junto ao Consolador, uma voz dos céus dizendo: este é o meu filho amado em quem eu me comprazo (Mt 3. 17). Imediatamente o Filho de Deus foi conduzido ao deserto para ser tentado pelo diabo, que não titubeou em colocar a palavra de Deus em dúvida a palavra de Deus e o relacionamento de Cristo com o Pai, tal como ele já havia feito no Éden, com Adão e Eva. 

Ao contrário de Adão e Eva, que se deixaram levar pelo canto da serpente, Jesus não! A maior dor de Cristo foi sua experiência na cruz, porque ali foi o único lugar em que ele se dirigiu ao Pai chamando-o de Deus e por meio da pergunta: porque me desamparaste? Desamparo é a sensação que os homens tem quando em momento do profunda aflição. Pior do que o desamparo e o abandono, foi a quebra de uma comunhão que vinha desde a eternidade e que foi extremamente ansiada pelo Filho em sua vida terrena. Daí o fato de Cristo ser sem pecado. 

A experiência do Jordão e o efeito da voz do Pai, algo que era peculiar a Cristo, fez com que este jamais se guiasse pela opinião pública. a cada milagre, um pedido de que nada fosse dito a ninguém. Nada da doentia necessidade de agradar aos políticos, ou às autoridades religiosas da época, e tudo por quê? Porque para Cristo a opinião do Pai era mais importante do que o frágil, fugaz e volúvel conceito que os homens desenvolvem a respeito dos outros. 

A afirmação do autor aos Hebreus de que Cristo em tudo foi tentado, mas sem pecado, é o indicador de que ele conheceu de perto todas as pressões que fazem os homens pecar, e justamente por este motivo se dispõe a interceder pelos seus irmãos que estão em tentação. O sem pecado sinaliza o novo homem que cada crente há de ser, inteiramente livre do pecado em razão de um sólido relacionamento com o Pai. 

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

sábado, 6 de dezembro de 2014

A Paz Demanda Consenso Absoluto?



Neste momento estou assistindo a um vídeo protagonizado por religiosos, dentre os quais Ed René Kivtz e o filósofo Luís Felipe Pondé. Um assunto que me salta aos olhos é a possibilidade de convivência pacífica entre as religiões. Falo dele porque o momento atual, do politicamente correto, prega o relativismo e a tolerância extremada, chegando ao extremo de considerar intolerante que discorda. 

Minha resposta à pergunta que dá título a este post é um sonoro não. Em primeiro lugar,  é preciso que se pergunte pela conceituação lexical da palavra. Em segundo, recomendo que se faça uma reflexão da definição lexical. Por último, que se perceba que a paz não é a ausência de conflitos, mas a sábia administração dos mesmos. 

Isto fica bem na cara quando, ao pesquisar a palavra no dicionário, se depara com o verbete harmonia. A palavra me faz voltar automaticamente para o mundo musical, onde harmonia é definida como a disposição de notas diferentes simultaneamente tocadas. Dentro da harmonia há os acordes consonantes, feitos a partir de terças e quartas superpostas, e os dissonantes, que são os que acrescentam os intervalos de sétima, maior, ou menor, nona, etc...

A verdade é que não se faz música com uma única nota, nem o samba de uma nota só é de fato de uma nota só. A melodia dá a sensação de que é uma única nota, mas a harmonia, como tem nota! Face á exposição, a paz é algo que demanda a diferença com suas consonâncias e dissonâncias. Desafiando é uma canção da Bossa Nova que, ao meu ver é um dos maiores exemplos de como a harmonia funciona de forma dissonante, sem este fator, a música não expressaria um desafinado que ama a arte em apreço. 

Paz é entender que quem não concorda, que quem distoa tem algo importante a dizer.



Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Cálculo mortal



Uso o nome deste filme de forma analógica. Meu objetivo neste post é falar a respeito de erros teológicos conceituais e das tragédias que os mesmos trazem. O que me motiva a falar deste assunto?! As últimas polêmicas em torno da notícia, mais que badalada da capitulação de defensores da cura gay diante de fracassos. 

O primeiro exemplo é o ex-ativista anti-gay Jonh Smid, que confundiu conversão com uma cruzada contra gays e homossexuais e tal como o Dom Quixote (que via gigantes nos moinhos de vento) ele deu contra a sua natureza e saiu machucado. O único problema é que ao contrário da narrativa de Cervantes, a vida de Smid é real e os efeitos mais dramáticos [aqui]. 

O mesmo pode ser dito em relação em relação ao casal Robertson, que diante da condição homossexual do filho simplesmente aconselharam o mesmo a se apegar as Escrituras e a procurar uma terapia reparadora (que de acordo com a matéria trata-se de uma forma de cura gay), e conforme visto na matéria, não resolveu em nada o problema do filho, que passou a usar drogas e morreu de overdose [aqui]. 

Preciso esclarecer que ao contrário da matéria e da opinião pública, não associo o uso de drogas, por parte do filho do casal Robertson com uma possível rejeição, por parte dos pais, à condição homossexual do filho. Me preocupa o fato de que em momentos históricos mais recrudescedores do que o atual, gays vivessem em sua condição sem tamanho estardalhaço. Não vejo nos pais um único indício de rejeição à pessoa do filho, mas eles erraram em acreditar que uma terapia desse resultado. 

Um erro fatal que evangélicos tem cometido consiste em no afã de ver sua fé publicamente credibilizada, vibrar diante de qualquer testemunho miraculoso de conversão. O resultado é este descrito nas linhas anteriores. Peço ao leitor evangélico que me compreenda. Eu creio na conversão e na salvação de gays e lésbicas, o que não creio é que a mudança de orientação por parte dos mesmo, caso isto ocorra, seja algo como a tecla sap do aparelho televisor. 

Observando a fala de Smid, por exemplo, percebo o quanto este esperou que sua orientação fosse mudada. Na boa! É como eu esperar deixar de gostar de mulher, de me sentir bem em uma conversa com uma, como diria o padre Quevedo esso non ecsiste. Então como fica? Não fica. A conversão é simplesmente uma mudança de direção, por parte do indivíduo. Não é transformação na essência do mesmo. Qualquer pessoa que se converta continua a ter de lidar com seus desejos. O lance da conversão fica por conta da seguinte questão: devo atender aos meus desejos, ou devo amar a Deus sobre todas as coisas. Na verdade este é o grande desafio imposto pelo chamado ao discipulado. 

Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna (Jo 12. 25 NVI). Creio que estas sejam as palavras mais chocantes do evangelho. Hétero, ou homossexual, uma vez chamado a seguir a Jesus, chamado para desejá-lo acima de todo e qualquer objeto de desejo que se possa ter nesta vida. Somente a partir desta realidade é que se pode falar em adolescentes e jovens se preservando para o casamento, ou para o celibato e em homossexuais abandonando a homossexualidade. 

Duas verdades extremamente importantes são colocadas por C. S. Lewis. A primeira no tocante ao fato de ser Deus a fonte de todos os prazeres, mas que estes perdem o sentido quando deixam de serem visto como aquilo que são pálidos reflexos do prazer maior que estar diante de Deus e fruir de sua presença, uma vez que na sua presença há delícias e gozo perpetuamente

A segunda diz em relação ao céu. Para Lewis o sexo no céu será suplantado não por ser pecaminoso, mas porque lá os homens descobrirão um prazer maior. Alguns homens de forma sincera tem descoberto um pálido reflexo deste prazer no celibato, no ministério, no casamento (que é entendido pela Igreja católica como um sacramento), no cuidado com os filhos, mas é algo como o contemplar por um espelho, que neste caso é um pedaço de bronze que nem de longe permite a imagem como ela é. 

Já falei aqui neste espaço a respeito da tendência humana em ver nos prazeres o objeto da felicidade [aqui]. Recorro a este filósofo por saber que não há mal algum em casar e buscar a plenitude sexual (Ec 9. 7 - 9), mas sei que é grande mal o homem procurar estas como se a posse das coisas que buscam devesse torná-los felizes à perfeição, nisto sim, há motivo para classificar tal pretensão com vã; de sorte que em tudo isto, tanto os que criticam como os que são criticados não compreendem a verdadeira natureza do homem (Pascal pensamento 135). 

Voltando à conversão, ela é um ato miraculoso, tal como a criação do mundo e a ressurreição de Cristo. Sem a intervenção divina, não adiantam terapias reparativas, o que tem de ocorrer é a ação de Deus por meio de sua Palavra e de seu espírito. Da mesma forma a mortificação diária a toda forma de pecado, afinal, perdoar, não invejar, não enganar, não se irritar por qualquer coisa, não cobiçar aquela garota, ou aquele menininho que é uma gracinha, enfim, não cobiçar; tudo isto é tão difícil que matar um leão por dia seria mais fácil. 

Este é um caminho que não se faz com regras, mas com a dependência diária da graça de Deus. Vencer a própria natureza, dia após dia demanda um poder que não se encontra na vontade humana. Paulo chamou este poder de lei do Espírito que dá vida, e afirmou que por meio desta o cristão foi liberto da lei do pecado e da morte. Mas cuidado, não há aqui teclas saps, visto que em alguns momentos o crente se dizendo com Paulo: com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado (Rm 7. 25). 

Ainda que a marca do genuíno crente seja uma espiritualidade e santificação crescentes, ele ainda terá tropeços nesta vida, visto que a libertação definitiva do pecado ocorrerá no momento em que Cristo vier buscar a sua Igreja e o corpo mortal, corruptível for transformado em corpo de glória semelhante ao de Cristo, até lá, um forte abraço a todos os que perseveram em crer no Evangelho. 

Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Do mal será queimada a semente



Escrevo este artigo sob a inspiração da brilhante provocação filosófica de Mário Sergio Cortella. O livro Não se desespere, traz um artigo com o tema deste post. E o impacto que o mesmo exerceu sobre mim, pode ser explicado através da profunda admiração que tenho por algumas letras de canções da musica popular brasileira, dentre as quais a canção Juízo Final, composição de Nelson do Cavaquinho em parceria com Elcio Soares, cuja letra segue abaixo:
O sol há de brilhar mais uma vez
A luz, há de surgir nos corações. 
Do mal, será queimada a semente, 
O amor, será eterno novamente

É o juízo final, a história do bem e do mal
quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer. 
O foco de Cortella é a profecia nas palavras: O amor, será eterno novamente, O amor, será eterno novamente. É quando o autor discorre a respeito do conceito de esperança enquanto  expect-ativa (um jogo de palavras que faço para enfatizar o caráter ativo da esperança defendida por Cortella), ao invés da espera passiva. Para o autor em apreço a ação de esperançar demanda decisão na qual o indivíduo se propõe a queimar a semente do mal.
Semente? Sim, pois é potência, é possibilidade, é virtual. Somos capazes, porque humanos e livres, da prática deletéria, da ação maldosa, da agressão danosa. Humanos e livres, pulsões lesivas despontam como cenário e vontade em muitos dos nossos atos e omissões. Semente pode virar planta ou árvore ou fruto ou flor; semente, como o ovo, contém o novo. Semente pode virar praga, ou erva daninha ou veneno ou droga lesiva; semente como ovo pode apodrecer ou ser nefasta. 
Sei que as intenções do autor supra não são estas, mas a mim é impossível ler estas palavras sem fazer associação com aquilo que Pascal disse a respeito da miséria e grandeza que o homem traz em si. Ao mesmo tempo me lembro de Paulo que disse saber que a lei é boa, e o mandamento santo, justo e bom, mas que também sabe que em seu ser não habita bem algum.

Na verdade um olhar atento para a letra de Juízo Final traz revelações ainda mais aterradoras, para que o amor seja eterno novamente (alguma vez ele foi, se foi quando deixou de ser?), é necessário que a semente do mal seja queimada, para que tal ocorra o sol tem de brilhar mais uma vez, a fim de que luz resplandeça nos corações. É aqui que ponho o meu foco. Não é coisa fácil ao homem perceber a maldade potencial que ele traz consigo, e quero expor os motivos nas linhas abaixo. 

Com grande sabedoria Salomão afirmou que todo o caminho do homem é puro aos seus olhos, em outras palavras é fácil enxergar a inveja, o orgulho, a mentira, nos outros, ao passo que em si mesmo, com extrema raridade. Tanto a sociedade secular quanto a religiosa abominar o espírito farisaico. Mas o grande problema de ambas é prestar atenção na essência farisaica que traz em si mesmo. Brennan Manning chama a atenção para este fato no seu clássico O Impostor que Vive em Mim.

Para uma maior compreensão das ideias que passarei a expor nas linhas subsequentes, gostaria de pontuar que os fariseus, não eram somente religiosos. A compreensão que se tem deste importante grupo se resume à esfera religiosa, nada mais enganoso do que isto. Eles também eram um grupo político. Religião e política eram colocadas ao serviço dos interesses deste seguimento que aprendeu a amar as honras pessoais mais do que a glória de Deus.

O processo de secularização produziu o maior dos engôdos, o de que a religião (vista como um grande mal pela mente iluminista), estava suprimida, pelo menos nas mentes mais esclarecidas, quando na verdade a dimensão de religiosidade apenas se deslocou do transcendente para o imanente. Em termos práticos conciliar religião com política não é privilégio exclusivo dos evangélicos, com a diferença de que a religião do homem moderno é institucional, partidária, acadêmica, científica, etc...... . Daí que qualquer um possa ser um fariseu desta nova religião. Feita a explicação, sinto plena liberdade de voltar ao que disse Brennan Manning. 

Mas quando todos, inclusive eu, se tornam fariseus? No momento em que transferem a culpa para os outros, em que buscam o poder da religião, ou o saber acadêmico visando controlar os outros. Grande marco é a famosa parábola do fariseu e do publicano. O primeiro se preocupa em agradecer a Deus pelo fato de não ser como os demais homens, o que inclui o publicano que ora ao lado dele. O publicano se concentra em seus pecados e justamente por este motivo desce justificado. 

Ver o seu próprio pecado é um dos maiores sinais do alcance da graça de Deus na vida de um homem, uma vez que há pecados que sequer são percebidos como tais. É por este motivo que Davi ora a Deus para que este o livre dos pecados que lhe são ocultos (Sl 19. 12 - 14). Dentre os pecados ocultos se situa a soberba, algo que se confunde com o amor próprio, e que segunda leitura que faço de Pascal é a grande responsável pela cultura de hipocrisia que permeia grande parte da moral pública. 

Vencer a dinâmica do auto engano requer iluminação. Para que do mal seja queimada a semente e para que o amor seja eterno novamente há de se deixar ser iluminado pelo sol, que se permitir que a luz brilhe nos corações, é aqui que se fazem mais que pontuais as palavras do apóstolo João,
Amados, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o início; este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. E no entanto é um mandamento novo que vos escrevo - o que é verdadeiro nele e em vós -, pois as trevas passam e já brilha a verdadeira luz. Aquele que diz que está na luz e odeia a seu irmão, está em trevas até agora. O que ama a seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda. Mas o que odeia a seu irmão está nas trevas; caminha nas trevas, e não sabe para onde vai porque as trevas cegaram seus olhos (I Jo 2. 7 - 11 Bíblia de Jerusalém). 
Para que haja uma queima da semente do mal, necessário se faz com que a luz do sol brilhe nos corações. Para João somente o brilho da verdadeira luz abre possibilidade ao verdadeiro amor, aquele que lança fora todo o medo (atenção, este é o nome da semente do mal, visto que os homens o praticam motivados pelo medo).

Forte abraço, Marcelo Medeiros. 

sábado, 22 de novembro de 2014

Pecadores de Direito, mas não de Fato?



Esta pergunta é uma ironia com algo que tenho identificado como a filosofia de vida do homem moderno. O homem moderno pode invejar, roubar, matar, caluniar, depreciar, enganar, ser hipócrita, mas jamais pode ser chamado de pecador. Ofensivo? Talvez, mas é um fato pontuado por Pascal, para quem o maior desejo humano é o de ser o objeto do amor e da estima dos homens, mas igualmente percebe que seus defeitos não merecem deles senão repulsa e desprezo. Não é difícil concluir que esta é a lógica que rege a hipocrisia (base da moral pública), que por sua vez se sustenta sobre a distorção da necessidade de aceitação. Mas é justamente neste ponto que o homem comete o maior de todos os pecados. 

Paul Claudel afirma que 
o maior pecado é perder o senso de pecado. Se o pecado é mera aberração provocada pela opressão de estruturas sociais, circunstâncias, ambiente, temperamento, compulsões e educação, admitimos a condição pecaminosa do ser humano, mas negamos que somos pecadores. Vemo-nos como pessoas essencialmente boas, benevolentes com problemas e neuroses simples, herança comum à humanidade. Racionalizamos e minimizamos nossa terrível capacidade de acomodação diante do mal e, assim, rejeitamos tudo o que não é bom a nosso respeito.
A fala de Claudel aponta para um mecanismo ainda mais perverso do que o descrito por Pascal. Aqui o ser humano é descrito como alguém que cria uma estrutura psíquica, teórica com fins a justificação dos seus erros mais grotescos. Mas a despeito de todo este trabalho, a acomodação do homem diante do mal é o maior testemunho do seu pecado. Para Brennan Manning, 
A Essência do pecado reside no fato de sermos autocentrados demais, o que nos leva a negar a nossa contingência radical e deslocada da soberania de Deus [....] A fascinação por poder, prestígio e posses justifica nossa necessidade por afirmação agressiva, independentemente do prejuízo que possamos causar aos outros. O impostor insiste que perseguir o número Um é a única postura sensata num mundo e que se vive na base do "cada um por si". 
O que Pascal identifica como sendo amor-próprio, Manning e Stott chamam de autocentricidade (fenômeno pelo qual colocamos o "eu" no centro). Paul Tournier é quem descreve como esta funciona em termos práticos, visto que para este, o pecado se mistura mesmo às mais nobres motivações e obras humanas. O resultado? Obras de caridade e de justiça são feitas com fins à afirmação e aprovação pessoal, ao invés do alívio dos necessitados. No lugar do amor acolhedor, apenas o julgamento bem ao espírito dos amigos de Jó, que suportaram a dor e o sofrimento do patriarca, mas não a queixa do mesmo. 
A maldade que opera em nós consiste na dedicação incessante ao próprio "eu", naquilo que Moore chama de "inescapável narcisismo da consciência". Ali está a fonte da crueldade, da possessividade, da inveja e de toda a espécie de maldade. Se evitarmos falar do egoísmo e tentarmos justificar a maldade que em nós, só conseguimos fingir que somos pecadores e portanto fingir que fomos perdoados. Uma espiritualidade fingida, baseada em falsa alegria, produz o que a psiquiatria moderna chama de de personalidade bordeline, em que as aparências tomam o lugar da realidade. 
A maior da depravações é a que vem revestida da santidade religiosa, é assim que vejo, e tenho comigo C. S. Lewis, que soube expressar este conceito com a fábula satírica Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, principalmente no capítulo que descreve um brinde no inferno. Ali se lamenta o fato de que os homens se tornaram insípidos e de que já não se fazem mais pecadores como Hitler, e tantos homens cruéis da história, mas se brinda o vinho fariseu, indicando com isto que os maiores pecados nascem do campo da religiosidade. 

O problema é que Tillich deixou claro que a religiosidade não se restringe aos ritos desta, ou daquela religião, mas como aquilo que toma o homem de forma incondicional, abrangendo a arte, a pesquisa científica, a atuação ética, ou politica. Visto por este prisma feministas, simpatizante e militantes LGBT's, socialistas, capitalista e militantes partidários podem ser religiosos e com isto sérios candidatos às críticas acima. 

Se você duvida, experimente discordar, ao se envolver em uma discussão com um deles e verás o quanto eles se aproximam do mais extremado fundamentalismo, mas esta sequer é a parte mais interessante. O mais curioso é que todos são vítimas do preconceito, da misoginia, do herança patriarcal da sociedade. Não quero dizer que tais males não existem, mas que eles não podem ser combatidos sem que se admita que o homem é pecador. No mundo moderno a fala de Jeremias - de que te queixas ó vivente, queixa-te de teus próprios pecados - de forma alguma é bem recebida. O culpado é o outro, nunca a gente. 

O resultado é que para o homem moderno julgar, marginalizar, explorar, culpar, enganar, invejar, reagir de forma agressiva, é um bônus, ao qual tem o direito de desfrutar sem o ônus de uma consciência culpada e muito menos de alguém que lhe aponte do dedo, ou que mexa na ferida aberta. O diagnóstico de Pascal é mais verdadeiro do que nunca. O homem não passa de disfarce mentira e hipocrisia, tanto diante de si mesmo como diante dos outros. Não quer que lhe digam verdades e impede-se de dizê-las aos demais; e todos estes objetivos tão alheios à justiça e à razão, tem raízes naturais em seu coração

É curioso que tal se dê justamente no momento em que mais se clama por liberdade, algo que na perspectiva cristã é inviável sem a verdade, e que é justamente a verdade a respeito de cada um de nós que tem sido tão evitada por todos. Daí a escravidão do homem no tocante ao reconhecimento público, e à opinião alheia. O homem quero direito de pecar (tão necessário à projeção que faz de si mesmo na mente de outros), mas não o ônus de ser pecador. Forte abraço. 

Marcelo Medeiros
 

sábado, 15 de novembro de 2014

Código DaVincci, O Retorno


Os pesquisadores Barrie Wilson e Simacha Jacobovic, da British Library, parecem estar dispostos a ressuscitar a polêmica dantes levantada por Dan Brow no "clássico" Código Da Vincci, de que Jesus tenha sido casado com Maria Madalena, e que esta tenha tido proeminência na comunidade primitiva, primazia esta que a Igreja constantinizada fez questão de apagar ao longo dos séculos (aqui e aqui).

Nada contra uma possibilidade de Cristo ter sido casado (ainda que seja algo totalmente descartado por mim, e por uma simples razão os Evangelhos não mencionam tal fato). Mais uma vez a temática de uma Igreja que esconde os verdadeiros escritos sagrados e que canoniza o que foi manipulado, vem à tona. Conspirações á parte, na verdade para uma Igreja que acredita que o casamento é um sacramento (meio de comunicar graça), seria mais interessante forjar relatos de casamento do seu Senhor nos Evangelhos, algo que conforme dito acima, não vejo.

Creio que a existência de um único fragmento, cujo teor é discutível e mensagem oculta, dado o caráter gnóstico do mesmo seja o maior empecilho á sustentação da tese dos pesquisadores mencionados supra. De forte na recente descoberta apenas o desejo do tornar Jesus um homem comum, no sentido de conformar o mesmo ao presente século. 

Quanto à pessoa de Maria Madalena, tudo o que a Bíblia diz a respeito da mesma é que ela nasceu, ou era de Magdala, e que por possivelmente ser uma mulher de posses, foi uma colaboradora do ministério de Cristo. Também foi, junto com as demais mantenedoras, uma das primeiras junto ao túmulo vazio, o que passa disso é mera especulação. Logo, associações desta Maria com a pecadora que ungiu aos pés de Jesus, ou com a adúltera que foi perdoada são inócuas, como inócua é a pesquisa. 

Marcelo Medeiros. 

Em terra de Chico nem tudo são flores para Francisco





O título do presente post é uma alusão ao protesto realizado por ativistas do grupo femem no Vaticano. Uma das ativistas traz nos seios uma frase com os dizeres o papa não é político. A razão de ser do protesto é a visita do pontífice romano ao parlamento de Estrasburgo, que na interpretação das mesmas é um ataque ofensivo ao processo de secularização (laicização) da Europa (aqui , aqui e aqui). 

O grupo FEM é famoso por seus protestos com os seios à mostra. Algumas causas defendidas pelo mesmo são de cunho legítimo, tais como os protestos contra o turismo sexual, homofobia, e sexismo. Mesmo com a apelação a mensagem mantenha dentro, cujo significado é o de que a religião tem de ser cada vez mais algo da esfera íntima do indivíduo, possui o seu respaldo (se você duvida disto, precisa se informar mais sobre a reforma). Mas considero que protestar no Vaticano com gestos que insinuam a introdução de uma cruz no ânus foi o cúmulo. 

Ao que tudo indica o papa foi convidado para fazer esta visita, ao menos é este o destaque dado pela imprensa estrangeira. Além do mais, ele tem se mostrado disposto, aberto ao diálogo justamente nas questões defendidas pelo grupo, daí minha sensação de que a ação foi um tiro pela culatra. Primeiro, por reagir uma suposta injúria, com uma ofensa objetiva. Segundo, pelo protesto não se constituir a melhor forma de diálogo (modo pelo qual interesses comuns poderiam ser traçados). Por último, por não reconhecerem que a laicização, ou secularização é um legado da reforma protestante, logo, a ideia delas possui um cunho religioso fortíssimo. 

Minha leitura do fato em si é que em terra de Chico nem tudo são flores para Francisco. O papa Francisco é o papa mais simpático, carismático e popular que já vi na minha breve vida. O legado jesuíta do mesmo mostra o seu amplo preparo para ser o chefe de uma Igreja em um mundo em transformação, a simpatia e humildade dos mesmo lhe deu apoio popular. Mas o tempo de namoro do mesmo com a Europa terminou. a repercussão do protesto e o enfoque do mesmo nas redes sociais mostra que os anticlericalistas estão vindo com tudo e algo mais. 

O cristianismo, sem entrar no mérito de sua ligação com Cristo, é uma religião de proclamação e de conversão. Como  já me expressei aqui neste espaço o homem moderno (falo no sentido de atual), está cada vez mais indisposto a ouvir quaisquer mensagens de censura, e a mensagem da cruz é um julgamento de Deus para a humanidade. Como se isto não bastasse, o histórico da Igreja sempre vem à memória. Na verdade uma história, que como toda estória, tem o seu cunho ideológico, foi cunhada para que as pessoas crescessem odiando a religião. Ela pegou na Europa, que já não se pode mais dizer cristã, e ameaça pegar aqui. 

Soluções? A Bíblia já as deu. Nossos opositores devem ser tratados da mesma forma que Cristo tratou seus detratores, sem responder as provocações e respondendo as questões dos mesmos com mansidão e temor. O contexto (I Pe 3. 9 - 16), indica que não se deve opor ao mal com mal, nem injúria com injúria, visto que o chamado cristão demanda perseverança. Resumindo, ainda que nem tudo sejam flores, cabe a cada cristão, católico, protestante e evangelicalista espalhar o cheiro de Cristo. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Heróis da dúvida



Nas aulas de Filosofia que ministrei no seminário, me vi diante de uma inconteste verdade, os heróis da fé são assim chamados, não em decorrência de uma fé completamente isenta de dúvidas (algo que cada vez mais me convenço que não existe), mas de uma entrega. Os homens da Bíblia são homens de perguntas de questões, de medo, de desânimo. Caso o leitor tenha dúvida, ou resolva fechar a página, leia a história de Abraão, Moisés, Gideão, João Batista e Paulo (que tratarei em um posto exclusivamente sobre ele), e constate por si só.

Pior, Abraão, por exemplo indagou a Deus a respeito de como ele com seus mais de oitenta anos seria Pai de uma multidão. Moisés, mesmo diante do fenômeno da sarça queria saber como iria falar com o Faraó, o nome, CPF, R.G. de Deus! Gideão diante da saudação do anjo disse que era o menor na sua casa, e que se Deus era com ele onde estavam as maravilhas que lhe foram contadas por seus pais. João, o Batista, que havia visto o Espírito descer sobre Cristo, e possivelmente ouvido a voz de Deus dizendo: este é o meu Filho amado em quem me comprazo, e testemunhado a respeito do Messias, dizendo: este é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, quando na prisão, mandou seus discípulos irem perguntar a Jesus, se ele era o Cristo, ou se havia de esperar outro. Entendeu?

As dúvidas apresentadas por estes homens era existencial, visceral, pessoal. Não estou falando de epistemologia, de enquadramento teológico na cultura atual, mas de quem diante da promessa de Deus olhou para as circunstâncias e ainda assim foi conduzido à suspeição. Abraão superou as suas questões ao dar glória a Deus. Sim, ele foi foi fortalecido em sua fé e deu glória a Deus, estando plenamente convencido de que ele era poderoso para cumprir o que havia prometido  (Rm 4. 20, 21).

Mas para quem acabou de explicar que ele duvidou, como lidar com o texto que afirma que Abraão não duvidou? Na verdade Abraão duvidou, basta ler Gn 15,  todavia, ele não se deixou vencer pela dúvida, e creu contra toda esperança. Ele reconheceu que o seu corpo já estava sem vitalidade, pois já contava cerca de cem anos de idade, e que também o ventre de Sara já estava sem vitalidade (Rm 4. 19). Além do mais, ninguém que é forte sente a necessidade de ser fortalecido (fortalecer é tornar forte). A fé de Abraão consiste não na ausência de dúvida, mas em não permitir que as mesmas enfraqueçam sua fé.

E o que falar de Moisés? Muitas perguntas. Nada contra perguntas. Mas compare Moisés com um trágico como Jó, eu fico com Jó, que diante da tormenta e da teofania calou-se, fez a única coisa que o mortal faz diante do Eterno. Uma sarça que queima no deserto é algo comum (ao menos é o que os autores dizem), mas uma sarça que queima e não se consome tem de ser admirada, contemplada. Deus foi paciente e respondeu as perguntas de Moisés, mas quando ele passou dos limites, o Eterno resolveu com uns gritos com o profeta e resolveu o problema. A essência da fé de Moisés está na obediência deste à voz de Deus, na intimidade que ele desenvolve, no diálogo tete à tete.

Gideão nada tinha de valoroso, mas o anjo encheu a bola dele (deu uma força), depois de várias provas com Deus (ao todo três), ainda assim ele cumpre a ordem de quebrar a estátua durante a noite, tem de ir ao campo dos midianitas para lá ouvir que a vitória seria dele. Ele provou, e foi provado, quando Deus determinou que quebrasse o ídolo e quando teve de (inicialmente) abrir mão do seu exército de trinta e dois mil. A fé de Gideão está em aceitar ser provado por Deus.

João, quando duvida está na prisão. Isto se deu por motivos injustos, o Batista foi preso por agir como profeta e repreender um rei em sua luxúria, e consequentemente perdeu a cabeça, mas antes de sua morte enviou emissários a Cristo, a fim de saber se ele era, ou não o Cristo, ou se teria de esperar outro. A dúvida de João foi tratada por Jesus com sinais, evidências que os seus discípulos teriam de narrar para ele.

De todos estes que mencionei o caso de João é o mais dramático, preso por repreender a luxúria do rei, foi assaltado pelo dúvida. Onde está aquele de quem disse: o machado está posto à raiz da árvores, e toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo (Mt 3. 10), mas no lugar do corte dos maus, o profeta se vê diante do perigo de ter a própria cabeça cortada. Dele João, foi exigido o maior sacrifício, sendo superado somente pelo Filho de Deus. 

Jesus trata a dúvida de João mediante o relato de suas obras. Aquilo que não foi remédio para Gideão, o foi para João. Se Cristo não está cortando as árvores que não produzem fruto bom, ou jogando a palha em fogo que não se apaga, no seu ministério os coxos andam, os cegos recuperam a vista e o Evangelho é pregado aos pobres. 

De Abraão se disse que este foi amigo de Deus, de Moisés, um servo fiel em toda sua casa, de Gideão, que da fraqueza tirou sua força (algo que se pode aplicar aos demais), mas de João o Batista, entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista (Mt 11. 11 ARC). 

Minha conclusão aqui é que a fé não é convicção isenta de dúvida, mas constante entrega e superação da dúvida. Fé é o que faz o homem se aferrar ao que Deus prometeu, como fez Abraão, e saber que ele é poderoso para cumprir. Fé é o desespero de si mesmo (não confiar em suas capacidades como  fez Gideão). Se ao olhar para si, você percebe que não tem fé, faça o que faço diariamente. Ore a Deus pedindo: ajuda-me a vencer a minha incredulidade! (Mc 9. 24 NVI). 

Marcelo Medeiros

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O Julgamento e a Soberania Pertencem a Deus



Creio que no sentido de exame e apreciação o julgamento seja algo da esfera humana, mas no que tange à sentença, jamais. É muito comum alguém dizer não julgueis, como se a Bíblia condenasse toda e qualquer forma de apreciação, quando na verdade condena é o juízo temerário (ou seja, aquele que é feito sem fundamento justo, daquele que é feito a respeito de alguém, sem provas suficientes). No presente estudo pretendo abordar a respeito deste tipo de juízo, bem como da arrogância dos que sem levar em conta a soberania de Deus fazem planos para o dia de amanhã.

O CONTEXTO E O TEXTO BÍBLICO

O juízo temerário é aquele que se faz sem que se leve em conta os perigos que o mesmo possa trazer. É a respeito deste que Tiago fala por meio das seguintes palavras:
Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz. Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo?  (Tg 4. 11, 12 NVI). 
Mas em que consiste o pecado condenado aqui por Tiago? Creio que a resposta passe por uma consideração negativa a respeito das colocações feitas pelo irmão do Senhor, ou seja, o que ele não quis dizer. O que me leva a considerar que:


1) Tiago não está falando do confronto que se deve fazer ao irmão que está em erro

Jesus instruiu os seus discípulos da seguinte forma:
Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de modo que ‘qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas’. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano (Mt 18. 15 - 17 NVI). 
perceba que jesus orienta aos seus discípulos a  respeito dos passos a serem tomados quando um irmão erra. Vá a ele e o convença do seu erro. O verbo grego ελεγξον (elegchon), é o mesmo empregado para convencimento de erro(Jo 16. 8 - 12), repreensão (Ap 3. 19), redarguir (II Tm 3. 16), daí minha predileção pela tradução que a Nova Versão Internacional faz deste texto, por mostrar o erro.

Somente a exposição das Escrituras (que são o sopro de Deus), em conjunto com a atuação do Espírito Santo são suficientemente capazes de convencer ao crente, ou o irmão errado a respeito da gravidade do seu erro. Em um primeiro momento a Palavra é dita na esfera individual, em um segundo momento se recorre ao testemunho de duas testemunhas.

Por último se recorre à Igreja e somente mediante recusa em ouvir a Igreja é que se recomenda um tipo de disciplina, que consiste na consideração do contradizente como sendo não mais um irmão, mas alguém que é rebelde e contradizente, visto que não se deixa convencer pelos argumentos da Palavra de Deus.

2) Também não está falando da refutação ao falso mestre

Quem lê o livro do Apocalipse, a carta à Igreja de Éfeso, percebe que Jesus elogiou esta Igreja, por quê? Simplesmente porque ela colocou à prova alguns crentes que se diziam apóstolos, mas na verdade não o eram, e mais, os tais foram achados e julgados como mentirosos (Ap 2. 2). Quem dera em nossos dias houvessem mais Igrejas com similar postura!

Feitas os devidos esclarecimentos, preciso voltar ao tema conforme a abordagem feita por Tiago, que pede para que ninguém fale mal do seu próximo, e que este falar mal não pode ser confundido com o exercício do discernimento, cuja finalidade consiste na correta diferenciação entre o falso e o verdadeiro profeta, e menos ainda no ministério da exortação, que visa a correção do que está no erro 

Mas do quê então Tiago fala em seu texto? Creio que de alguma forma Tiago esteja se reportando ao ensino de Cristo sobre o juízo temerário dos homens. Mas sei que seu texto tem de ser lido sob o prisma do contexto geral de sua carta. Somente assim se constata que a religião praticada sem o domínio da língua é vã (Tg 1. 26, 27 [aqui]), que a fé em Cristo é incompatível com a acepção de pessoas e que esta em si já é um julgamento (Tg 2. 1 - 13 [aqui]), que a tendência da natureza humana decaída é maldizer o homem feito à imagem e semelhança de Deus, de disputar por proeminência, etc....

O JUÍZO TEMERÁRIO

Sim, Tiago está falando do juízo temerário que os homens tendem a fazer. Sim, mas o que vem a ser tal juízo? Para uma maior elucidação a respeito do que vem a ser um julgamento desta natureza, recorrerei ao sermão do Segundo Domingo do Advento, de autoria do Padre Antônio Vieira. Eis algumas colocações que o mesmo faz: 
  1. Em seu juízo Deus julga com o entendimento, ao passo que os homens o fazem com a vontade. Como a vontade humana é corrompida, a luz (Cristo), é julgada e condenada, ao passo que aquilo que representa o mal é absolvido, nas palavras de Vieira, o entendimento acha o que há, a vontade acha o que quer
  2. No juízo de Deus geralmente basta só testemunho da própria consciência; no juízo dos homens a própria consciência não vale testemunha. O maior exemplo foi José, cuja consciência mesmo limpa o levou para a prisão pela falsa acusação da mulher de Potifar. 
  3. No juízo de Deus as nossas boas obras defendem-nos, ao passo que no juízo dos homens o maior inimigo que temos são as nossas boas obras. A excelência de Abel, foi o motivo de desgosto de Caim, ao passo que a excelência de Davi, foi a causa da hostilidade de Saul. 
  4. Deus julga o que conhece; os homens julgam o que não conhecem. Este foi o caso de Eli, cujo juízo sobre Ana, justamente por não conhecer sua aflição. 
  5. O que faz o juízo dos homens o mais arriscado possível, é que Deus não julga senão no fim; os homens não esperam pelo fim para julgar. Daí a razão de Paulo haver dito: nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor (I Co 4. 5 ACF). 
  6. O juízo com que nos julgamos uns aos outros é a lei que pusemos a Deus  para que ele nos julgue também a nós
Daí o risco em se colocar como legislador no lugar de Deus. 

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

Agente de Trânsito Condenada a Indenizar Juiz



O buchicho do momento é a notícia de uma agente de trânsito que foi condenada a pagar uma multa superior ao seu salário por supostamente haver dito a um juiz, que em tese não estava com o veículo emplacado e sequer portava a habilitação, que ele ainda que juiz, não era deus. Por questões de competência deixo aos juristas o julgamento a respeito da legalidade da lei seca no tocante a apreensão de veículos de quem não porta CNH, ou não tem o seu veículo emplacado. As questões que quero levantar aqui são outras [aqui e aqui].  

Uma das questões é a fragilidade (decorrente da onda de corrupção que assola o país), que cerca as instituições. O sentimento de quem ninguém pode estar acima da lei tem envolvido a sociedade e foi agravado com os resultados do processo do mensalão e a falta de perspectiva de condenação nos envolvidos no petrolão. Uma aparente forma de aprovação social á ação da agente de trânsito é a vaquinha que tem sido feita nas redes sociais para ajudar a mesma na quitação das possíveis dívidas após o processo transitado em julgado [aqui]. 

Outra questão a ser levantada, é o que faz uma pessoa sair à rua com um carro (oficial, ou não), não emplacado e sem habilitação, assumindo o risco das penalidades previstas em lei? Por último, decidir por condenar uma agente de trânsito a pagar multa por um suposto desacata preserva em quê e do quê a magistratura?

Marcelo Medeiros. 

Nova Polêmica sobre as Quotas



As declarações do professor da Universidade Federal do Espírito Santo, a respeito da qualidade da formação dos quotistas caiu como uma bomba. Já expressei aqui neste espaço minha opinião a respeito das ações sociais tipo quotas nas universidades para negros, índios, pardos, e afins. Elas são boas medidas no tocante à correção de mazelas sociais, mas não como algo permanente até, porque o problema não está na entrada no mundo acadêmico, mas no percurso em si (aqui). Mas, ao que parece, os argumentos do professor Manoel Luis Malaguti não param por aí, para este, o fato de ser, ou não quotista influencia na formação (linha que foi veementemente desmentida pelo reitor da Universidade [aqui e aqui]). 

Já não é de hoje que ouço coisas do tipo. Tive o desprazer de ouvir em um debate sobre as quotas a seguinte declaração: entre ser operado por um médico quotista, ou ser operado por um que não foi, preciso ser operado pelo que não foi. Os argumentos do professor em questão e de todos que sustentam tal linha caminham na linha de um determinismo social, e contrariam a luta de docentes e mais docentes que lutam por uma educação que supere as mazelas socioeconômicas, viabilizando educação de qualidade para a grande maioria. Pior, sem fundamentos, afinal, qual é a pesquisa que foi realizada com o público quotista, para aferir a qualidade da formação dos mesmos, em quais dados concretos este professor baseia suas argumentações?

Creio que o raciocínio do professor supra encoberte duas questões históricas pontuais: o esnobismo cultural das elites que fazem da educação um meio para a manutenção dos status quo (daí que a invasão de negros, pobres, índios seja uma ofensa, um melindre), e o fato inconteste de que a educação superior contribui na ascensão social, o que faz com que a faculdade se torne objeto de desejo de gente que nunca leu Machado de Assis, Eça de Queirós, Oscar Wilde, mas que vai para a faculdade e se forma (preciso observar aqui que este perfil pode ser encontrado tanto em gente da elite, quanto em gente das classes média e baixa). 

Aqui sinto a necessidade de observar que nem de longe quero insinuar que a falta de leitura dos clássicos prejudique a formação. Não! E digo isto por uma razão bem simples, eles podem ser lidos durante e depois da formação, que é um processo que nunca se encerra, e este é o verdadeiro problema. 

Para Nietzsche a ciência advém de uma sabedoria que na verdade se exprime pelo gosto pelo conhecimento. Gosto por conhecimento é a capacidade de se apreciar a beleza das teorias, e é aqui que está a raiz do problema de nossa educação. Diante do por do sol, das cataratas do Niágara, ou do Monte Rushmore, ninguém faz a pergunta: para que isto serve? As pessoas simplesmente admiram, e mesmo reconhecendo que uma das finalidades da educação é a formação para o mundo do trabalho, ainda assim creio que sem um encanto similar ao que descrevi acima não dá. Quem pode afirmar que negros, pobres, índios e mesmo indivíduos elitistas quanto os de classe média não podem ter tal experiência? 

Voltando á temática das quotas há que se considerar que um problema tem sido ocultado e mais cedo, ou mais tarde terá de ser explicitado (na verdade já o foi, por Rubem Alves). Na impossibilidade de educação superior para todos foi criado o vestibular (uma forma de selecionar os bons, os qualificados, dos que não o são). Mas o reitor da UFES,  o professor Manoel Luis Malaguti, aqueles que defendem a meritocracia passariam no vestibular? E o que dizer da gama de alunos que merecidamente passam, mas não concluem? Estas são perguntas que precisam ser respondidas. 

Marcelo Medeiros. 

sábado, 1 de novembro de 2014

Papa Diz que Ateus Serão Salvos?



O atual post se destina a responder dúvidas de católicos e protestantes que tenham se sentido confundidos com as últimas declarações do sumo pontífice em relação aos ateus. Antes de responder, quero deixar claro que já me manifestei neste espaço a respeito do ateísmo (aqui e aqui), que para mim não se resume à dúvida sincera a respeito da existência de Deus, via de regra gerada por uma inconsistência nas provas, mas por um modo de viver que na verdade exclui Deus da existência.

De igual modo, externei a minha simpatia em relação ao Papa Francisco (aqui e aqui), e mantenho minha opinião, por saber que ele não ocupa uma posição fácil. Falo isto porque responder a um ateu, e menos ainda ás provocações de um jornalista. Mas me sinto impulsionado a analisar seriamente a suposta declaração do pontífice, visto que a mesma traz implicações sérias para a fé.
Você me pergunta se o Deus dos cristãos perdoa aqueles que não acreditam e que não buscam a fé. Gostaria de começar por dizer – e isso é o fundamental – que a misericórdia de Deus não tem limites, se você for a Ele com um coração sincero e contrito. O problema para aqueles que não acreditam em Deus é obedecer a sua consciência. O pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, existe quando as pessoas desobedecem a sua consciência”, escreveu o papa Francisco (aqui). 
Confesso que senti a tentação de apelar imediatamente às palavras do autor da carta aos Hebreus, de contestar quaisquer ideias de mérito ocultas nas palavras acima. Mas na medida em que li mais detidamente as colocações de Francisco, percebi que ele é bíblico em dizer que as misericórdias de Deus não tem fim (Jeremias disse o mesmo). Mas coração sincero e contrito, tal como a aproximação de Deus é um ato de fé, logo incompatível com um ateísta moderno, e aqui está a grande sacada do pontífice, sem ser ofensivo ele afirmou o que de fato consiste ser uma pessoa de fé. 

Ter fé, para Francisco não se resume á confissão de dogmas, ou ao assentimento intelectual da doutrina cristã, ter fé é ter um coração sincero. Quanto à contrição, ela é o maior ato de pobreza espiritual. Ou seja, aqueles que são contritos são os que sabem que nada podem fazer de si e para si, e por este mesmo motivo dependem exclusivamente de Deus, até mesmo para crer (um exemplo notável é o caso daquele pai que diante que ao pedir a Cristo a cura do seu filho, quando perguntado se tinha fé pediu que Cristo o ajudasse em sua incredulidade [aqui]). 

Os amados irmãos católicos que me perdoem, mas a grande verdade é que até para crer os pobres de Cristo sabem que dependem exclusivamente dele, até mesmo para crer. Não é sem razão que o apóstolo Pedro afirma: por meio dele vocês creem em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e o glorificou, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus (I Pe 1. 21). O crer, é uma graça de Deus e Cristo é o princípio e o aperfeiçoador de nossa fé. 

Aos evangélicos e católicos, é preciso reafirmar que não há esta dicotomia proposta na pergunta e nas provocações dos neo ateístas. Não existe um time dos que creem sem nunca ter uma dúvida, e dos que duvidam sem nada crer. Segundo Lewis, a fé está em se aferrar ás convicções, religiosas, ou não, quando assaltado por sensações de que a realidade não se coaduna ao que o indivíduo crê. A outra dimensão da fé está no total desespero consigo mesmo e na exclusiva aposta em Deus. 

Daí que quando o papa afirma: se você for a Ele com um coração sincero e contrito, ou que o  pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, existe quando as pessoas desobedecem a sua consciência, ele na verdade está dizendo que independente da cosmovisão que as pessoas assumam, a consciência das mesmas sempre dirá que há Deus (visto que caso não haja, tudo é válido), e que a somente o ser humano assumindo a total dependência dele poderá ser salvo, na verdade está descrevendo com outras palavras uma pessoa de fé. O grande barato, e a terrível sacada é que papa o fez imprimindo uma imagem de quem quer diálogo (coisa que acredito). 

Fraternos Abraços em Cristo, Marcelo Medeiros

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A vitória do Medo



As últimas eleições foram o que de mais vergonhoso vi em toda a minha vida. O grande vitorioso foi o medo. Não digo isto em razão da vitória apertada da atual presidente Dilma, mas pelo fato de que vencendo um, ou outro, ganharia o receio. Se Aécio vencesse, o triunfo seria do temor de que o Brasil se tornasse uma ditadura, do cerceamento da liberdade de expressão, e o mais fundado de todos os temores, o da consecução de um projeto partidário de poder. Todos estes temores foram vencidos não pela coragem de mudar (que também foi derrotada pelo temor), mas pelo receio da volta de um fantasma, o do PSDB. 

A despeito do fantástico trabalho feito por Fernando Henrique Cardoso (no tocante à estabilização da moeda), a imagem dos tucanos ficou excessivamente desgastada com as privatizações arbitrárias, diga-se de passagem, e algumas como no caso da vale do Rio Doce, inexplicáveis. Isto somado à política de arroxo salarial, marginalização do funcionalismo público, cortes verticais de gastos públicos (onde quem paga as contas é sempre quem está em baixo), e a imagem nada boa que o candidato tucano deixou em seu último governo no estado de Minas Gerais, reforçaram o medo. Estes sim, são os fatores que conduziram nossa presidenta á reeleição. 

Estou penalizado com as lideranças evangélicas, algumas que aprendi a ver com extrema admiração, mas que infelizmente não conseguiram captar isto. Ficam associado valores cristãos à figura do Aécio, como se este não fosse capaz de aprovar as leis que tanto temor causam aos conservadores. Outros, associam os programas sociais (um mérito indiscutível dos governos do PT), à fé cristã, como se a graça comum, (real causa dos governantes deempenharem sua função como ministros de Deus para a condenação das más obras e louvor das boas), não fosse passível de ser derramada sobre os tucanos. 

A eleição veio confirmar algo interessante, permanece a tendência das pessoas se absterem do segundo turno. Seria isto uma prova de que o povo brasileiro está fortalecendo cada vez mais as suas convicções políticas? Se for este o caso ao menos nesta parcela o medo está sendo vencido. Para todos os efeitos entendo cada vez mais a fala de Cristóvão Buarque quando em artigo para o Jornal O Globo desejou um feliz 2015 aos leitores da coluna [aqui].

Marcelo Medeiros

Deus é gay? Claro que não!



Fui surpreendido pela postagem de um amigo em uma rede social que me interpelava a respeito da colocação de Frei Beto a respeito do comportamento de Jesus diante da condição homossexual. Para mim, este é uma questão bem simples, uma vez que não existem registros canônicos a respeito da relação do mestre, ou mesmo dos apóstolos com tais grupos. Mas Frei Beto faz incursões ousadas, e parcialmente acertadas a respeito da misericórdia de Deus para com os pecadores, o problema ao meu ver é com a conclusão que o mesmo tira,chegando ao ponto de propor uma leitura do Evangelho pela ótica gay.

Mesmo reconhecendo a minha insignificância epistemológica face a intelectualidade de Frei Beto, confesso que não pude resistir à tentação de fazer algumas provocações. Se o Evangelho, conforme propõe nosso ícone é produto de uma variante de leituras, sendo a de Marcos aramaica, a de Mateus judaica, a de João gnóstica, e a de Lucas grega, como explicar que de uma variante de leituras surja um Jesus receptivo para com os gentios, compassivo para com os pecadores, e plenamente capaz de transitar entre todas as classes sociais, incluindo fariseus e publicanos?

Desde já pretendo deixar claro que não ignoro que os evangelistas organizaram o seu material a partir de fontes diferentes, e destinavam suas publicações a públicos distintos, mas o Jesus refletido nestas produções é o mesmo. Para se comprovar basta ver a famosa crítica que ele fez aos fariseus quando estes o censuraram por comer com publicanos e prostitutas. Nos três evangelhos sinóticos este incidente aparece ligado ao perdão dos pecados e à cura do paralítico, à purificação de um leproso (elemento excluído d convívio social na sociedade judaica, mas que Jesus não exitou em tocar para que este fosse curado), a questão que os fariseus suscitam sobre as relações de Jesus, e a resposta do mesmo. 

Em todos os Evangelhos vemos a seguinte resposta de Cristo: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu nào vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento (Mt 9. 12, 13 ACF). Ou, os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento (Mc 2. 17 ACF). O que os evangelistas fizeram nada tinha a ver com a produção de um evangelho pessoal, eles apenas organizaram os resultados de forma a gerar uma leitura que atingisse o público. É assim que ao fazer o relato do fato para o público judeu, Mateus empregue uma citação dos profeta e Marcos, que escreve para os romanos omita. 

Uma segunda provocação está na analogia que Cristo faz de si mesmo com os médicos, e do seu público com doentes. Os pecadores são doentes e precisam de médico. Algo que o homem moderno em geral e consequentemente os gays recusam admitir. A questão que talvez o inclusivistas não percebam é o Cristo que acolhe os pecadores manda os mesmos abandonarem seus respectivos pecados. Sim, o Jesus que não condenou a prostituta, ou adúltera, foi o mesmo que disse à ela: vai e não peques mais (Jo 8. 11). E agora José, como fica?

Marcelo Medeiros. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

I Tm 2. 1 - 8 e sua aplicação atual



Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.
Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo.
Para isso fui designado pregador e apóstolo mestre da verdadeira fé aos gentios. Digo-lhes a verdade, não minto. Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões (I Tm 2. 1 - 8 NVI). 
Creio que a ordem paulina de orar pelos que estão em eminência, alcança neste momento crucial da nação brasileira sua maior relevância. Vou explicar. O Brasil está há exatos quatro dias de um pleito eleitoral que decidirá se o PT vai prosseguir com seu projeto de consolidação no poder, ou se teremos alternância no mesmo, e só. Se você sonha com mudança a escolha é a seguinte: ore, e muito, ou então desista. Exagero meu?! Creio que não.

A verdade nua e crua é que quem votar em Aécio, na verdade votará contra o projeto de perpetuação de poder do PT. E quem votar em Dilma, supostamente estará votando na continuidade dos programas sociais, e cosequentemente confirmando sua aversão à política dos tucanos (privatizações, arrocho salarial, e coisas do tipo). Ambas escolhas são demasiadamente difíceis, visto que nenhum dos dois é o nome ideal. Prefiro Marina com seus erros e acertos e Cristóvão Buarque a qualquer um dos dois.

Da minha perspectiva nenhum dos candidatos que disputam o segundo turno das eleições representam o anseio popular de mudança, ou a aspiração cristã de uma sociedade pautada na vida e na piedade. Tanto um quanto o outro podem ser enquadrados na antropologia bíblica que afirma o vazio existencial humano e o pecado (tendência ao mal e à corrupção), como parte integrante da essência humana.

Se o governo do PT foi marcado pela corrupção, é besteira votar no candidato do PSDB, achando que de em um passe de mágica ela irá desaparecer do cenário nacional. Sim, mas é assim que os militantes de Aécio parecem estar vendo. Com isto, os mesmos se esquecem das privatizações à preço de banana, e do mensalão do PSDB, que foi varrido para debaixo do tapete. 


Todavia os últimos debates demonstraram que a população não está preparada para uma nova política, pautada na discussão dos reais problemas de nossa nação. Esta sim, caro leitor, é a essência da democracia. Era isto que há mais de dois mil anos era feito pelos cidadãos atenienses. Eles se reuniam em assembleias com o fim de deliberar a respeito dos problemas da pólis e por meio da discussão propor soluções para mesma. 


A solução? Creio que está na graça comum, da qual tanto falo aqui e na posição do cidadão crente como sal e luz da terra. A graça comum é tratada na Teologia como sendo o meio pelo qual Deus freia a maldade humana, por meio do Estado (que é um ministro de Deus para a condenação das más obras e louvor das boas obras [aqui]), e das leis, que visam frear a pecaminosidade. Creio que somente a graça comum irá ajudar que o candidato eleito supere as mazelas partidárias em prol do bem comum, que a nação deixe a prática salvacionista e se posicione no sentido de cobrar o cumprimento das promessas de campanha. 

Outra questão, crentes precisam orar mesmo e muito para que a cultura política brasileira mude e agir como sal, superando os dilemas de esquerda e direita, uma vez que uma sociedade cristã, ou influenciada pela fé cristã e pelo evangelho, traz elementos de ambos os lados. O exercício cristão da cidadania prima pela equidade social, e também pela liberdade de expressão, por exemplo, algo que não se vê no quadro atual. Daí a necessidade de ser sal e influenciar de fato. 

Forte Abraço em Cristo, Marcelo Medeiros. 
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