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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Cálculo mortal



Uso o nome deste filme de forma analógica. Meu objetivo neste post é falar a respeito de erros teológicos conceituais e das tragédias que os mesmos trazem. O que me motiva a falar deste assunto?! As últimas polêmicas em torno da notícia, mais que badalada da capitulação de defensores da cura gay diante de fracassos. 

O primeiro exemplo é o ex-ativista anti-gay Jonh Smid, que confundiu conversão com uma cruzada contra gays e homossexuais e tal como o Dom Quixote (que via gigantes nos moinhos de vento) ele deu contra a sua natureza e saiu machucado. O único problema é que ao contrário da narrativa de Cervantes, a vida de Smid é real e os efeitos mais dramáticos [aqui]. 

O mesmo pode ser dito em relação em relação ao casal Robertson, que diante da condição homossexual do filho simplesmente aconselharam o mesmo a se apegar as Escrituras e a procurar uma terapia reparadora (que de acordo com a matéria trata-se de uma forma de cura gay), e conforme visto na matéria, não resolveu em nada o problema do filho, que passou a usar drogas e morreu de overdose [aqui]. 

Preciso esclarecer que ao contrário da matéria e da opinião pública, não associo o uso de drogas, por parte do filho do casal Robertson com uma possível rejeição, por parte dos pais, à condição homossexual do filho. Me preocupa o fato de que em momentos históricos mais recrudescedores do que o atual, gays vivessem em sua condição sem tamanho estardalhaço. Não vejo nos pais um único indício de rejeição à pessoa do filho, mas eles erraram em acreditar que uma terapia desse resultado. 

Um erro fatal que evangélicos tem cometido consiste em no afã de ver sua fé publicamente credibilizada, vibrar diante de qualquer testemunho miraculoso de conversão. O resultado é este descrito nas linhas anteriores. Peço ao leitor evangélico que me compreenda. Eu creio na conversão e na salvação de gays e lésbicas, o que não creio é que a mudança de orientação por parte dos mesmo, caso isto ocorra, seja algo como a tecla sap do aparelho televisor. 

Observando a fala de Smid, por exemplo, percebo o quanto este esperou que sua orientação fosse mudada. Na boa! É como eu esperar deixar de gostar de mulher, de me sentir bem em uma conversa com uma, como diria o padre Quevedo esso non ecsiste. Então como fica? Não fica. A conversão é simplesmente uma mudança de direção, por parte do indivíduo. Não é transformação na essência do mesmo. Qualquer pessoa que se converta continua a ter de lidar com seus desejos. O lance da conversão fica por conta da seguinte questão: devo atender aos meus desejos, ou devo amar a Deus sobre todas as coisas. Na verdade este é o grande desafio imposto pelo chamado ao discipulado. 

Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna (Jo 12. 25 NVI). Creio que estas sejam as palavras mais chocantes do evangelho. Hétero, ou homossexual, uma vez chamado a seguir a Jesus, chamado para desejá-lo acima de todo e qualquer objeto de desejo que se possa ter nesta vida. Somente a partir desta realidade é que se pode falar em adolescentes e jovens se preservando para o casamento, ou para o celibato e em homossexuais abandonando a homossexualidade. 

Duas verdades extremamente importantes são colocadas por C. S. Lewis. A primeira no tocante ao fato de ser Deus a fonte de todos os prazeres, mas que estes perdem o sentido quando deixam de serem visto como aquilo que são pálidos reflexos do prazer maior que estar diante de Deus e fruir de sua presença, uma vez que na sua presença há delícias e gozo perpetuamente

A segunda diz em relação ao céu. Para Lewis o sexo no céu será suplantado não por ser pecaminoso, mas porque lá os homens descobrirão um prazer maior. Alguns homens de forma sincera tem descoberto um pálido reflexo deste prazer no celibato, no ministério, no casamento (que é entendido pela Igreja católica como um sacramento), no cuidado com os filhos, mas é algo como o contemplar por um espelho, que neste caso é um pedaço de bronze que nem de longe permite a imagem como ela é. 

Já falei aqui neste espaço a respeito da tendência humana em ver nos prazeres o objeto da felicidade [aqui]. Recorro a este filósofo por saber que não há mal algum em casar e buscar a plenitude sexual (Ec 9. 7 - 9), mas sei que é grande mal o homem procurar estas como se a posse das coisas que buscam devesse torná-los felizes à perfeição, nisto sim, há motivo para classificar tal pretensão com vã; de sorte que em tudo isto, tanto os que criticam como os que são criticados não compreendem a verdadeira natureza do homem (Pascal pensamento 135). 

Voltando à conversão, ela é um ato miraculoso, tal como a criação do mundo e a ressurreição de Cristo. Sem a intervenção divina, não adiantam terapias reparativas, o que tem de ocorrer é a ação de Deus por meio de sua Palavra e de seu espírito. Da mesma forma a mortificação diária a toda forma de pecado, afinal, perdoar, não invejar, não enganar, não se irritar por qualquer coisa, não cobiçar aquela garota, ou aquele menininho que é uma gracinha, enfim, não cobiçar; tudo isto é tão difícil que matar um leão por dia seria mais fácil. 

Este é um caminho que não se faz com regras, mas com a dependência diária da graça de Deus. Vencer a própria natureza, dia após dia demanda um poder que não se encontra na vontade humana. Paulo chamou este poder de lei do Espírito que dá vida, e afirmou que por meio desta o cristão foi liberto da lei do pecado e da morte. Mas cuidado, não há aqui teclas saps, visto que em alguns momentos o crente se dizendo com Paulo: com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado (Rm 7. 25). 

Ainda que a marca do genuíno crente seja uma espiritualidade e santificação crescentes, ele ainda terá tropeços nesta vida, visto que a libertação definitiva do pecado ocorrerá no momento em que Cristo vier buscar a sua Igreja e o corpo mortal, corruptível for transformado em corpo de glória semelhante ao de Cristo, até lá, um forte abraço a todos os que perseveram em crer no Evangelho. 

Marcelo Medeiros. 

Um comentário:

  1. Não sei se estou certo mas, as vezes acho que super estimamos esse pecado pelo menos em relação a todos os outros. Parece que homossexualismo para nos evangélicos é pior que adultério, por exemplo.Talvez por dois motivos porque uma boa parcela não veja como pecado, também pelo próprio ativismo em prol da pratica. O que acaba suscitando um outro ativismo o contra a pratica. Enfim concordo com vc quanto a chamado evangelho seja para amarmos a Deus acima dos nossos pecados sejam eles quais forem. Inclusive o homossexualismo.

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