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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Do mal será queimada a semente



Escrevo este artigo sob a inspiração da brilhante provocação filosófica de Mário Sergio Cortella. O livro Não se desespere, traz um artigo com o tema deste post. E o impacto que o mesmo exerceu sobre mim, pode ser explicado através da profunda admiração que tenho por algumas letras de canções da musica popular brasileira, dentre as quais a canção Juízo Final, composição de Nelson do Cavaquinho em parceria com Elcio Soares, cuja letra segue abaixo:
O sol há de brilhar mais uma vez
A luz, há de surgir nos corações. 
Do mal, será queimada a semente, 
O amor, será eterno novamente

É o juízo final, a história do bem e do mal
quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer. 
O foco de Cortella é a profecia nas palavras: O amor, será eterno novamente, O amor, será eterno novamente. É quando o autor discorre a respeito do conceito de esperança enquanto  expect-ativa (um jogo de palavras que faço para enfatizar o caráter ativo da esperança defendida por Cortella), ao invés da espera passiva. Para o autor em apreço a ação de esperançar demanda decisão na qual o indivíduo se propõe a queimar a semente do mal.
Semente? Sim, pois é potência, é possibilidade, é virtual. Somos capazes, porque humanos e livres, da prática deletéria, da ação maldosa, da agressão danosa. Humanos e livres, pulsões lesivas despontam como cenário e vontade em muitos dos nossos atos e omissões. Semente pode virar planta ou árvore ou fruto ou flor; semente, como o ovo, contém o novo. Semente pode virar praga, ou erva daninha ou veneno ou droga lesiva; semente como ovo pode apodrecer ou ser nefasta. 
Sei que as intenções do autor supra não são estas, mas a mim é impossível ler estas palavras sem fazer associação com aquilo que Pascal disse a respeito da miséria e grandeza que o homem traz em si. Ao mesmo tempo me lembro de Paulo que disse saber que a lei é boa, e o mandamento santo, justo e bom, mas que também sabe que em seu ser não habita bem algum.

Na verdade um olhar atento para a letra de Juízo Final traz revelações ainda mais aterradoras, para que o amor seja eterno novamente (alguma vez ele foi, se foi quando deixou de ser?), é necessário que a semente do mal seja queimada, para que tal ocorra o sol tem de brilhar mais uma vez, a fim de que luz resplandeça nos corações. É aqui que ponho o meu foco. Não é coisa fácil ao homem perceber a maldade potencial que ele traz consigo, e quero expor os motivos nas linhas abaixo. 

Com grande sabedoria Salomão afirmou que todo o caminho do homem é puro aos seus olhos, em outras palavras é fácil enxergar a inveja, o orgulho, a mentira, nos outros, ao passo que em si mesmo, com extrema raridade. Tanto a sociedade secular quanto a religiosa abominar o espírito farisaico. Mas o grande problema de ambas é prestar atenção na essência farisaica que traz em si mesmo. Brennan Manning chama a atenção para este fato no seu clássico O Impostor que Vive em Mim.

Para uma maior compreensão das ideias que passarei a expor nas linhas subsequentes, gostaria de pontuar que os fariseus, não eram somente religiosos. A compreensão que se tem deste importante grupo se resume à esfera religiosa, nada mais enganoso do que isto. Eles também eram um grupo político. Religião e política eram colocadas ao serviço dos interesses deste seguimento que aprendeu a amar as honras pessoais mais do que a glória de Deus.

O processo de secularização produziu o maior dos engôdos, o de que a religião (vista como um grande mal pela mente iluminista), estava suprimida, pelo menos nas mentes mais esclarecidas, quando na verdade a dimensão de religiosidade apenas se deslocou do transcendente para o imanente. Em termos práticos conciliar religião com política não é privilégio exclusivo dos evangélicos, com a diferença de que a religião do homem moderno é institucional, partidária, acadêmica, científica, etc...... . Daí que qualquer um possa ser um fariseu desta nova religião. Feita a explicação, sinto plena liberdade de voltar ao que disse Brennan Manning. 

Mas quando todos, inclusive eu, se tornam fariseus? No momento em que transferem a culpa para os outros, em que buscam o poder da religião, ou o saber acadêmico visando controlar os outros. Grande marco é a famosa parábola do fariseu e do publicano. O primeiro se preocupa em agradecer a Deus pelo fato de não ser como os demais homens, o que inclui o publicano que ora ao lado dele. O publicano se concentra em seus pecados e justamente por este motivo desce justificado. 

Ver o seu próprio pecado é um dos maiores sinais do alcance da graça de Deus na vida de um homem, uma vez que há pecados que sequer são percebidos como tais. É por este motivo que Davi ora a Deus para que este o livre dos pecados que lhe são ocultos (Sl 19. 12 - 14). Dentre os pecados ocultos se situa a soberba, algo que se confunde com o amor próprio, e que segunda leitura que faço de Pascal é a grande responsável pela cultura de hipocrisia que permeia grande parte da moral pública. 

Vencer a dinâmica do auto engano requer iluminação. Para que do mal seja queimada a semente e para que o amor seja eterno novamente há de se deixar ser iluminado pelo sol, que se permitir que a luz brilhe nos corações, é aqui que se fazem mais que pontuais as palavras do apóstolo João,
Amados, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o início; este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. E no entanto é um mandamento novo que vos escrevo - o que é verdadeiro nele e em vós -, pois as trevas passam e já brilha a verdadeira luz. Aquele que diz que está na luz e odeia a seu irmão, está em trevas até agora. O que ama a seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda. Mas o que odeia a seu irmão está nas trevas; caminha nas trevas, e não sabe para onde vai porque as trevas cegaram seus olhos (I Jo 2. 7 - 11 Bíblia de Jerusalém). 
Para que haja uma queima da semente do mal, necessário se faz com que a luz do sol brilhe nos corações. Para João somente o brilho da verdadeira luz abre possibilidade ao verdadeiro amor, aquele que lança fora todo o medo (atenção, este é o nome da semente do mal, visto que os homens o praticam motivados pelo medo).

Forte abraço, Marcelo Medeiros. 

2 comentários:

  1. Entendo.. mas você virou toda a letra da música.
    Não é preciso queimar a semente do mal para que sejamos livres e finalmente sermos iluminados pela luz do sol que brilhará em nossos corações.
    O que eu entendi da letra seria assim: o sol há de brilhar mais uma vez. E com está luz a semente do mal queimaria na hora, nos fazendo despertar sob os pecados, maldades que temos dentro de nós. Essa luz brilharia sob nossos corações nos fazendo amar e transmitir a mensagem do amor para todos.
    E esse seria o juízo final

    Eu encontrei essa músicasem querer e queria ver se mais alguém tinha visto significados a mais nas letras como eu.
    Mas adorei a sua versão de ver a música!
    Pra mim a letra da música já está na ordem certa e assim já contando a história sem muita dificuldade de se entender.

    Obrigado por ler meu comentário.
    (Sim... eu sei que esse post foi de 2014, mas eu respondi mesmo assim)

    ~ Gj0^

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    1. Perdão pela demora da resposta e obrigado pelo teu comentário, ainda que discordante em um mínimo aspecto.

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