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sábado, 21 de janeiro de 2017

O perigo das obras da Carne



Lexicalmente falando carne é um termo que designa a parte física do homem e dos demais animais. Teologicamente falando carne designa desde a fraqueza do gênero humano até a concepção paulina da ética e da moral, onde a aquela é vista como fonte de toda forma de vício, ou a sede da tendência humana de rebelião contra Deus. Obras da Carne, ou εργα της σαρκος (ergas tes sarkós), são desejos que a velha natureza possui e que se manifestam em uma conjunto de obras abordado em vários textos do Novo Testamento. Vejamos o perigo das mesmas.

Em primeiro lugar priva o homem do Reino de Deus. E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção (I Co 15. 50 ARCF). A mensagem de Paulo aos Gálatas é bem objetiva no tocante à exclusão do Reino daqueles que andam segundo a carne.
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus (Gl 5. 19 - 21). 
Uma consideração similar pode ser encontrada na carta aos coríntios.
Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus (I Co 6. 9, 10). 
É claramente afirmado nas Escrituras que os tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos que se prostituem, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte (Ap 21. 8). E, ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira (Ap 22. 15).

Em segundo lugar, as obras da carne privam o homem de entendimento das coisas espirituais, e perpetram engano. A luxúria, e o vinho, e o mosto tiram o coração. O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe responde, porque o espírito da luxúria os engana, e prostituem-se, apartando-se da sujeição do seu Deus (Os 4. 11, 12). 

Paulo afirma que do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça (Rm 1. 18), mas qual é o perfil de tais pessoas que detêm a verdade em injustiça?
Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando cheios de toda a iniqüidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; Os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem (Rm 1 . 26 - 32). 
Além do obscurecimento da mente as obras trazem consigo uma sentença de morte sobre todos os que as praticam. Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? (Rm 6. 16), e: E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte (Rm 6. 21). No final, a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser (Rm 8. 6, 7). 

Este é o real perigo das obras da carne. Que Deus os abençoe. Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O propósito do Fruto do Espírito




Neste estudo abordarei rapidamente a respeito do fruto do Espírito e do objetivo do mesmo na vida do cristão. O termo fruto em nossa língua pode se referir à semente que reproduz a espécie de árvore, ou planta, ou á camada que envolve as sementes. A possibilidade de se falar em fruto decorre da constante comparação entre os homens e árvores presente na Bíblia, desde a pregação de João Batista até a de Cristo e dos apóstolos.

OS HOMENS COMPARADOS Á ÁRVORES
Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei, e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Porém a oliveira lhes disse: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a figueira lhes disse: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a videira lhes disse: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores? Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. E disse o espinheiro às árvores: Se, na verdade, me ungis por rei sobre vós, vinde, e confiai-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano (Jz 9.  8 - 15 ARCF). 
Neste texto os filhos de Gideão são comparados às árvores mais preciosas em Israel, ao passo que Abimeleque (que não é um nome próprio,  mas um título, que inclusive, foi conferido a um dos filhos de Gideão),  a um espinheiro. A parábola tem um tom profético e, se cumpre.

O salmista compara o homem que teme ao Senhor e que anda em sua lei, com uma árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará (Sl 1. 3 ARCF). Algo parecido é dito a respeito dos ímpios, visto que Davi declara: vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal. Mas passou e já não aparece; procurei-o, mas não se pôde encontrar. Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz (Sl 37. 35 - 37 ARCF).

Mas os ímpios são plantados em lugares escorregadios. Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição (Sl 73. 18 ARCF). Para todos os efeitos, no Antigo Testamento os homens são comparados às árvores. Este ensino está presente no Novo Testamento também.

Em sua pregação João Batista disse;
E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo. (....) Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará (Mt 3. 10 - 12 ARCF). 
As árvores descritas neste texto são os homens  que ouvem a mensagem de arrependimento, mas não se curvam em obediência à mensagem do Evangelho. E Jesus afirma categoricamente no Evangelho: Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada (Mt 15. 13 ARCF), referindo-se aos fariseus. A conclusão mais que óbvia aqui é a de que os homens são comparados com árvores.

O PROPÓSITO DO FRUTO DO ESPÍRITO

O primeiro propósito do fruto espiritual consiste em evidenciar a autenticidade da nossa conversão. Não foi sem razão que João Batista falou para os fariseus que iam até ele para se batizar: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento (Mt 3. 7, 8 ARCF).

Em seu discurso de defesa perante Agripa, Paulo afirmou a respeito de sua atividade de evangelização: anunciei primeiramente aos que estão em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento (At 26. 20 ARCF). São os frutos, ou obras que evidenciam a autenticidade do arrependimento. Esta expressão em grego - μετανοιας (metanoias) - equivale à mudança de mente. Mudou a mente, uma nova atitude surge.

O fruto do Espírito indica a autenticidade da nossa fé em Cristo.
Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7. 15 - 20 ARCF). 
Perceba que o profeta e o falso profeta são reconhecidos pelos frutos que produzem. A lógica aqui é a de que uma árvore má não pode produzir bons frutos. No caso dos fariseus Jesus amplia o entendimento, para expressar que estes não podem falar coisas boas, sendo tão maus como são. As supostas coisas boas são os ensinos. Mas ainda que um homem mascare ao máximo a sua atitude, eles não podem se esconder sempre, uma vez que  nas palavras mais inúteis o caráter deles é revelado.
Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado (Mt 12. 33 - 37 ARCF)..
Este mesmo princípio pode ser observado em outras falas de Jesus, indicando que o homem, por meio de suas palavras diz quem é:
Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca (Lc 6. 43 - 45 ARCF).
 Que Deus em  Cristo nos dê mais de sua graça para que possamos frutificar em toda a boa obra. Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros. 

sábado, 14 de janeiro de 2017

As obras da Carne e o Fruto do Espírito


Todo crente nascido de novo experimenta um conflito interior. É como se houvessem duas pessoas lutando dentro do mesmo, e cada uma com desejos opostos entre si. A ideia evoca a conhecida imagem dos desenhos animados onde diante de um dilema, a pessoa se vê diante de um diabinho e um anjo incitando à escolhas opostas entre si.

Uma oura imagem que pode ser evocada é a do clássico da literatura o médico e o monstro, principalmente na etapa em que Dr Jackil não consegue mais dominar as suas transformações em Mr Hyde. Trato pormenorizadamente desta questão em meu livro Se Tiverdes Fé. Neste aponto que somente quando o homem se desespera de si mesmo e se entrega absolutamente a Deus, pode vir a vencer a carne com suas paixões e concupiscências.

Antes de comentar a lição propriamente dita há que se estabelecer que a abordagem paulina a respeito de obras da carne e fruto do Espírito se encontram no contexto polemista da carta de Paulo aos Gálatas, onde se faz contraste entre o falso e o verdadeiro Evangelho. Nem o Evangelho da tradição e nem o progressista podem libertar o homem das amarras de seus instintos, somente a GRAÇA  o faz.

ANDAR NA CARNE E ANDAR NO ESPÍRITO
Ora, eu vos digo, conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis o  desejo da carne. Pois a carne tem aspirações contrárias ao Espírito, e o espírito contrárias à carne. Eles se opõem reciprocamente, de sorte que não fazeis o que quereis. Mas se vos deixais guiar pelo Espírito não estais debaixo da lei (Gl 5.. 16 - 18 Bíblia de Jerusalém). 
O verbo περιπατεω (peripateioo), é usualmente traduzido como andar, mas pode ser também como viver, tal como ocorre na Nova Versão Internacional. A expressão pode significar andar como também conduzir a vida, daí o modo de vida.

Já a expressão carne pode significar a parte física do homem, sendo correlata ao termo hebraico בָּשָׂר (basar). Esta equivalência aparece em Hb 2. 14, por exemplo, onde se lê: uma vez que os filhos tem em comum carne e sangue (....). O termo pode igualmente ser empregado para expressar aquilo que é exterior, facilmente identificado, aparente. expressões como sábios segundo a carne, ou sabedoria carnal  (I Co 1. 26; II Co 1. 12), logo, σοφοι κατα σαρκα (sophoi kata sarka) ou σοφια σαρκικη (sophia sarkike), são equivalentes e significam sabedoria aparente.

O termo também pde significar meio de geração e parentesco. Neste sentido Jesus Cristo é o descendente de Davi segundo a carne (Rm 1. 3). Aos quais pertencem os patriarcas e dos quais descende o Cristo segundo a carne (Rm 9. 5 Bíblia de Jerusalém). O uso que me interessa aqui é o de carne, ou σαρξ (sarx), e´aquele em que σαρξ equivale à dimensão pecaminosa do homem. Este é o conceito paulino predominante em Rm 7.

A expressão Espírito, é frequentemente interpretada pelos dicotomistas e tricotomistas como sendo a parte superior do homem, que se distingue da animal. Na verdade esta percepção é mais patônica do que bíblica, cristã e teológica em si. Na verdade tanto ר֣וּח (ruach), quanto πνευμα (penuma), são palavras para fôlego, hálito, vento, respiração. logo, com exceção das palavras em que se refere ao Espírito de Deus (ruach elohim -  ר֣וּחַ אֱלֹהִ֔י), ou πνευμα του θεου (pneuma ton theou), ou em que o próprio Deus é chamado de Espírito (Jo 4. 24; II Co 3.17).

O espírito de que Paulo fala neste texto é o Espírito de Deus.
Vós não estais na carne mas no Espírito, se é verdade que o Espírito de Deus habita em vós pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele. Se, porém Cristo está em vós, o corpo está morto, pelo pecado, mas o Espírito é vida pela justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos dará a vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne, para vivermos segundo a carne, pois, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo morrereis. Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (Rm 8. 9 - 14 Bíblia de Jerusalém). 
Segue-se então que a força, e a capacidade para vencer as obras da carne não está no ar vital do ser humano, mas no Espírito de Deus que em nós habita. Andar no Espírito equivale a ser guiado, orientado por este. Por sua vez andar na carne indica ser orientado pelos instintos egoístas. Este é o ponto em que se faz necessário considerar a lista de obras da carne, a fim de prosseguir com o estudo.

AS OBRAS DA CARNE
Como de dia, andemos decentemente; não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procurareis satisfazer os desejos da carne (Rm 13. 13, 14 Bíblia de Jerusalém). 
O primeiro vício condenado por Paulo aqui é a orgia. A expressão grega κωμοις (komois) indica a procissão em honra à Baco. Este era feita à noite. O segundo vício, μεθαις (methais), indica a prática da bebedice, geralmente acompanhando as orgias. A devassidão aqui é a palavra κοιταις (koitais), raiz da palavra coito, em nosso idioma, que a BJ traduz por devassidão. libertinagem, ou dissolução são termos que traduzem ασελγειαις (aselgeiais). Por fim εριδι και ζηλω (eridi kai zeeloo), são respectivamente traduzidos como rixa e ciúme. 
Eu vos escrevi em minha carta que não tivésseis relações com os devassos. não me referia de modo geral, aos devassos deste mundo, ou aos avarentos, ou ladrões, ou devassos, pois então teríeis que sair deste mundo. Não, escrevi-vos que não vos associeis com alguém que traga o nome de irmão e, não obstante, seja devasso, ou avarento, ou idólatra, ou injurioso, ou ladrão. Com tal homem nem deveis tomar a refeição (I Co 5. 9 - 11 Bíblia de Jerusalém). 
Então não sabeis que injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais! Nem devassos, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem os bêbados, nem os injuriosos herdarão o reino de Deus. Eis o que vós fostes, ao menos alguns. Mas vós vos lavastes,  mas fostes santificados, mas fostrs justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus (I Co 6. 9 - 11 Bíblia de Jerusalém). 
Em um primeiro momento o grande aprendizado consiste em nutrir uma vontade contrária à satisfação dos desejos da carne. Em um segundo momento, que crentes precisam se distinguir do mundo, e o fazem por meio de um procedimento que abomina a devassidão (πορνειαν - porneian), ou imoralidade sexual. Contudo, há que se evitar igualmente a avareza. o termo πλεονεξιαν (pleonexia), indica alguém que busca satisfazer seus desejos a qualquer custo, ainda que mediante sequestro e extorsão. Daí a ligação com o termo αρπαξιν  (arpaxin), cujo sentido é o de alguém que comete extorsão. 

Para todos os efeitos o caminho para a vitória sobre a natureza está na ação do Espírito Santo de Deus. Nada de exercícios de mortificações, mas no poder de Cristo, que opera por meio do Espírito. Esta lista de vícios morais, ou obras da carne são abordadas em vários textos paulinos. Estes retornarão ao longo desta série de estudos. 

O FRUTO DO ESPÍRITO
Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio, Contra estas coisas não há lei (Gl 5. 22 - 23 Bíblia de Jerusalém). 
Amor aqui nada tem a ver com atração física, simpatia e amizade, do contrário seria impossível amar aos inimigos. o termo αγαπη (ágape), indica a mais profunda devoção pelo bem estar do objeto do amor. Já alegria -  χαρα (chara) - não se limita à excitação das funções orgânicas, em razão de um satisfação momentânea, contudo é a alegria em Deus. A paz (ειρηνη - irene), não consiste em ausência de conflito, antes é harmonia, prosperidade tudo quanto se encerra no termo שָׁלֹ֣ום (shalom). 

A longanimidade, ou μακροθυμια (machrotymia) é uma paciência nas relações que permite suportar injúrias alheias. Bondade pode ser também gentileza, ao passo que benignidade é a gentileza em ação. Fidelidade, ou fé do grego πιστις. A lista de virtudes ou frutos se encerra com mansidão e temperança, πραοτης εγκρατεια (parautes e ekgrateia). 

Como este fruto se desenvolve?

  1.  Por meio da decisão do crente em viver pelo Espírito. 
  2. Reconhecendo que para viver em amor o crente depende em tudo do Espírito de Deus e da ação do próprio Deus na vida do mesmo.
  3. Sabedor que a carne não está sujeita à lei de Deus e nem pode ser
  4. Reconhecendo uma por ma das obras da carne e a incompatibilidade destas com a vida cristã e com a vida no Espírito. 
  5. Fazendo morrer, por meio do Espírito de Deus uma por uma das obras da carne. 
Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

É apenas uma indagação




Recentemente estive em um encontro de jovens de minha geração e no meio do rodízio pensei nas discrepâncias entre minha geração e os jovens atuais. Tínhamos maior disponibilidade, maior dedicação. Daí a minha disposição em  escrever este post. Tomo como paradigma a sabedoria judaica, e a partir desta faço a minha análise. 
Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento (Ec 12. 1 ARCF). 
O livro de Eclesiastes é um dos que mais me provocam, mais mechem com a minha cabeça. As reflexões são dignas de postagens e mais postagens neste espaço. Um dos maiores desafios que o livro coloca é a questão do equilíbrio na vida. Faço parte de uma geração que em virtude das raízes pentecostais mais clássicas, do sentimento de ascese e das origens sociais, não aprendeu a prover para si mesmo formação que desse maior autonomia face ao mundo, e tempo para conciliar trabalho e dedicação ao reino de Deus. 

Em outras palavras, minha geração não foi ensinada a ganhar dinheiro, a desenvolver e seguir uma vocação, seja ela política, profissional, ou acadêmica. Fomos ensinados que tínhamos de nos casar, mas sequer nos foram dado os instrumentais necessários para que escolhêssemos uma auxiliadora que estivesse à nossa altura. Quando ministro a respeito da temática vejo o quanto sou feliz. Ainda que minha família não seja aquela de comercial de margarina, posso dizer que tenho uma companheira e me satisfaço de não estar em jugo desigual. 

Como jovem que fez o Ensino Médio à distância, graduação e pós-graduação depois de casado senti e sinto muito não ter aproveitado melhor o meu tempo de mocidade para me qualificar melhor. E ser dividido entre casamento, paternidade e ministério não é nada fácil. Mas tudo dentro da normalidade, afinal o ser humano é assim, sempre gostaríamos de fazer melhor, ou o que não foi feito. Minha adolescência foi dedicada à leitura bíblica, aos estudos de música, evangelização, oração etc.... Hoje, em razão das atividades como pai, marido, músico miliar e pastor, sinto a dificuldade de fazer todas aquelas atividades com a mesma liberdade que tive e as fiz em minha adolescência. 

Qual o motivo deste meu relato? Se a primavera da vida não são entregues a Deus, dificilmente o Outono e o Inverno o serão, e é aqui que me preocupo com esta geração. Não se trata de cobrar o mesmo ativismo verificado em minha geração, mas a mesma paixão, o mesmo fogo. Não é dito a eles para darem o melhor de suas vidas a Deus, e com isto estão sendo privados do maior de todos os bens. Temo que ao orientar a presente geração a seguir no extremo oposto ao de minha geração, estejamos privando os mesmos daquilo que tivemos. Me pergunto o que será dos mesmos quando se virem com os compromissos que tenho hoje, que tempo darão, ao Senhor e o que de significativo farão para o Reino? 

Creio que o caminho para um possível conserto da situação seja a integração da vida. Precisamos consertar os erros cometidos com a minha geração e os com esta geração. O primeiro passo consiste na integração da vida. Nesta a vida profissional seria vista como o exercício de uma vocação, ou seja, o trabalho tem na melhoria da vida e da sociedade a sua razão de ser. A educação seria o preparo para o exercício da vocação. Sem esta percepção a vida perde o sentido, a espiritualidade viria para preencher a vida como um todo de sentido. Este, ao meu ver seria o caminho. 

Que este texto provoque as reflexões necessárias. Em Cristo, Marcelo Medeiros. 
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