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terça-feira, 22 de setembro de 2015

A Condição da Criança Quanto à Salvação



Uma pergunta que sempre me é feita nos seminários em que ministro é: uma criança que morre ainda no período da inocência, pode vir a ser condenada? Há pessoas que respondem com um sonoro não, por pressuporem, erradamente, diga-se de passagem, que toda criança é pura e inocente. O mais curioso é que pensam que estão lendo Mt 18. 1 - 4, quando na verdade estão lendo O Emílio de Jean Jaques Rousseau. 

Não há razões para se pressupor que ao dizer que das crianças é o Reino, Jesus o tenha feito em razão de uma suposta pureza. Pelo contrário, a Bíblia é clara em dizer que o coração do homem é mau desde a sua infância (Gn 6. 5; 8. 21). Nas Confissões de Santo Agostinho o pensador em apreço fala a respeito de um caso em que observa inveja em uma criança. (Fato este admitido pela Psicologia, com a ressalva de que dentro deste ramo do saber a inveja não é vista como um pecado). 

Jesus afirma que das crianças é o Reino, e que quem quiser ser o maior no mesmo tem de se fazer como um dos pequeninos pelo fato de que as crianças no seu tempo eram desprezadas, não possuíam autonomia social, portanto eram dependentes dos adultos. Fazer-se como uma criança é assumir total dependência de Deus. 

Recentemente o teólogo reformado Jonh Piper causou na net ao afirmar que "todos os bebês são salvos por Cristo". Para justificar o teólogo não apela jamais à pureza das mesmas, antes ao conhecimento dos mesmos, sendo este um fator preponderante no juízo de Deus (At 17. 30; Rm 2. 14, 15). Neste artigo Piper afirma que pelo mesmo princípio crianças com deficiências mentais também podem ser salvas, visto que as mesmas nasceram sem as condições necessárias para a compreensão do conteúdo da revelação. 

Louvo a Deus pela vida de Piper e rogo que ele seja o sinal de levantamento de toda uma geração de calvinistas, ou reformados que pensam fora da caixa, e com isto evitem as incosistências bíblicas internas a este ramo de conhecimento. 

Minha conclusão inicial é a de que se uma criança morre, antes de poder discernir entre o bem e o mal e ouvir e entender o conteúdo do Evangelho, ela será julgada pelo seu conhecimento, e portanto inocentada. Outra questão é que biblicamente, a vida está nas mãos de Deus (Sl 39. 5, 6, 11). A verdade é que uma criança que morre com poucos dias morre porque Deus assim o permitiu, para não dizer que quis, e o seu querer sempre redunda em algo bom (Rm 8. 28). Mas como disse esta é apenas uma conclusão inicial. 

Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Parábola do Tesouro Escondido


Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.

Outrossim o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a (Mt 13. 44 - 46 ACF). 
Há tanta coisa aqui no mundo,que pertence a quem

achar, ricos tesouros escondidos,são de quem os encontrar,e

eu achei cristo,e ele me achou,e bem mais que isto,ele me

amou, pertenço á ele,sou todo dele,jesus é meu tesouro pelo

amor.

Os homens lutam por riquezas,que um dia vão ter

fim,mas o tesouro duradouro,meu Deus guardou pra mim,e eu

achei cristo,e ele me achou,e bem mais que isto,ele me

amou, pertenço á ele,sou todo dele,jesus é meu tesouro pelo

amor (Édson Coêlho). 
O Reino de Deus, aqui chamado de Reino dos céus é um tema mais que recorrente na pregação de Cristo. Tanto ele quando o Batista conclamam o povo ao arrependimento face á chegada do reino (Mt 3. 2; 4. 17), tanto que as boas novas que o Messias traz são chamadas de notícias do Reino (Mt 4. 23) mas o que vem a ser este? Creio que seja objetivando uma resposta a esta pergunta que Cristo faz do principal tema de sua pregação, o cento do seu ensino. 

No capítulo 13 do Evangelho de Mateus, é possível de se identificar  cinco parábolas que revelam os mistérios do Reino de Deus, inclusive a respeito da natureza do mesmo. Começo com esta por ser, ao meu ver a mais esclarecedora a respeito do principal tema da pregação de Jesus e centro da expectativa dos público a quem tais exposições foram feitas. 

I) O Reino é semelhante

Do momento em que leio a respeito do Reino e percebo que uma das marcas distintas do mesmo é o seu caráter duradouro, ao passo que todas as coisas do mundo passam, percebo que o emprego do termo ομοια (omoia), cuja tradução em nosso idioma é a de semelhante, não pode ser compreendido como constituído da mesma substância. A colocação de que o Reino é semelhante a um tesouro escondido é analógica. 

O texto bíblico afirma categoricamente: as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem,são as que Deus preparou para os que o amam  (I Co 2. 9 ACF), daí que para que as mesmas pareçam minimamente compreensíveis aos homens a linguagem seja acomodada. Afinal, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente  (I Co 2. 14 ACF). 

Logo, tudo que se possa falar das realidades espirituais, incluindo aqui o Reino de Deus há de ser feito por analogia, comparação. Esta linguagem é muito comum nas Escrituras, tome por exemplo o livro de Apocalipse e comprove que para falar do cordeiro que foi morto e reviveu, João diz que viu entre os castiçais um semelhante ao Filho do homem (Ap 1. 13), cujos pés são semelhantes a latão reluzente (Ap 1. 15; 2. 18), ao ver o trono de Deus, e contemplar o que estava assentado sobre ele, o apóstolo amado o descreve assim: na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica (Ap 4. 3). 

Ao descrever a vinda de Cristo, João o faz nas seguintes palavras: olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda (Ap 14. 14). O autor de Hebreus afirma categoricamente que Cristo é o esplendor da glória de Deus (Hb 1. 3), e João descreve tal magnificência dizendo que o seu brilho era como o de uma jóia muito preciosa, como jaspe, clara como cristal (Ap 21. 11). 

Não há como traduzir o inefável em palavras, daí o uso recorrente à analogia. Agora, perceba a analogia que será feita, o Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. O que se pode aprender por meio desta comparação? Desde já quero dizer que tenho o próprio ensino de Cristo como padrão hermenêutico das parábolas, e partindo deste ouso dizer o seguinte: 1) o Reino é de sumo valor, 2) O reino é algo oculto. Logo, o mesmo nada tem a ver com as pretensões dos imaturos discípulos de Cristo, que esperavam a implantação de uma política teocrática, ou a restauração davídica e em consequência desta a expulsão dos romanos da palestina. 

II) Semelhante a um tesouro

A ideia de θησαυρω (theesauroo) nos remete àquilo que foi guardado em depósito, enfim, uma grande riqueza. Ao comparar o Reino de Deus com riquezas que estão ocultas, Jesus está dizendo que o Reino foi guardado em depósito. Mas que tesouros são estes? Para responder a estas perguntas preciso recorrer a Paulo. 

Em primeiro lugar pode-se falar da benignidade de Deus que conduz os homens em geral (o que inclui a mim e a ti), que conduz ao arrependimento. Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? (Rm 2. 4 ACF). 

Em segundo lugar, a riqueza é a forma com a qual Deus se faz conhecido em toda a terra, por meio da misericórdia que ele exerce nos eleitos. Paulo diz que ele suportou com paciência os vasos da ira, para que pudesse dar a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios (Rm 9. 23, 24). 

Em terceiro lugar, é preciso que se considere a riqueza divina por meio do perdão, da quitação das dívidas, e do alto resgate que foi para que os eleitos fossem remidos de sua condição de escravos espirituais, de sua vã maneira de viver, a fim de viver uma vida de santidade. Mas para simplificar quero afirmar que este tesouro é Cristo, sim Cristo, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça (Ef 1. 7 ACF). 

Mais adiante o mesmo Paulo afirma aos crentes de Éfeso, mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef 3. 8 ACF). Daí não ser exagerado que o tesouro do qual o mestre fala seja o próprio Cristo, visto que Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério [...] que é Cristo em vós, esperança da glória (Cl 1. 27 ACF). Mas se Cristo mesmo é o tesouro, por que se diz que escondido? A resposta se acha na natureza divina e humana de Cristo. 

III) Um tesouro escondido

Cristo é o tesouro do qual se fala na parábola em apreço e tanto a sua natureza divina, quando a humana revelam em que sentido ele está escondido. No tocante à natureza divina. Para Pascal, a maior verdade das Escrituras é a que a afirma o caráter oculto de Deus, ou seja, desde que o homem se corrompeu, ele o manteve em um estado do qual somente se livram por meio de Jesus Cristo. 

Daí o próprio Filho afirmar: ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11. 27 ACF). Isaías disse: verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador (Is 45. 15 ACF). Deus se torna acessível ao homem única e exclusivamente em Cristo, mas mesmo em sua revelação por meio de Cristo, ele ainda é o Deus que se esconde. Como? Simples somente aqueles a quem o Pai revela podem saber quem é Cristo. 

Quando perguntou aos seus discípulos que impressão o povo tinha a seu respeito, o povo o teve por algum dos profetas que haviam ressuscitado, ao indagar aos deus discípulos, ele obteve de Pedro a seguinte resposta: tú és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16. 16 ACF). Diante da resposta do líder do colegiado apostólico, Cristo diz: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus (Mt 16. 17 ACF). 

O fato inconteste é que sem a revelação do Pai, Cristo é rocha de escândalo (I Pe 2. 6 - 8) e um motivo de contradição (Lc 2. 34). Todavia, para os que recebem a percepção celeste, Cristo é a pedra angular, a rocha de esquina, rejeitada pelos edificadores, mas para com Deus eleita e preciosa (At 4. 10, 11; I Pe 2. 4). A despeito de tudo isto a alegria do encontro com Cristo sobrepuja quaisquer alegrias terrenas e fazem com que o homem venda tudo o que possui. 

Um detalhe a ser devidamente percebido aqui é que o termo escândalo em nossa língua remete às circunstâncias que ofendem o decoro, ou à moral estabelecida, e de certa forma a vida de Cristo ofendeu o decoro e a moral contemporânea. Isto se deu quando ele comeu com pecadores (Mt 9. 10 - 13), entrou na casa de publicanos (Lc 19. 6 - 10). Mas longe de ser um mestre adocicado, Jesus foi bem austero com os seus discípulos, ao lhes dizer por exemplo que a justiça dos mesmos deveria de exceder em muito a dos escribas e fariseus (Mt 5. 20ss), e que os que tinham parte com ele deveriam comer da sua carne e do seu sangue (Jo 6. 49 - 66). 

Uma vez atento para estes aspectos, o leitor da Bíblia não se admira diante da fala em que Cristo declara bem aventurados os que não se escandalizam nele (Mt 11. 6). O termo σκανδαλον (skandalon), é mais do que o choque moral, ético, cultural, ele significa literalmente tropeço. Sim Cristo é uma rocha de tropeço, como bem colocaram Isaías e Pedro, em citação àquele. A única forma de não tropeçar em Cristo é crer nele. 

IV) A alegria do encontro com Cristo

Sempre fiquei inculcado com o fato do negociente ter de vender tudo o que tem para alcançar aquele terreno. Isto vai de encontro com a lógica de lucro, de acúmulo. Hoje percebo duas verdades, uma cultural e outra teológica. No campo cultural, a sociedade em que Jesus vivia não era capitalista, no teólogico, não há como fruir o reino de Deus sem que se perca alguma coisa. Geiler disse certa vez: a salvação é de graça, mas pode custar a vida. Esta é a dinâmica do Reino presente na maioria dos ensinamentos de Jesus. 

Quem deseja seguir a Cristo tem de estar disposto a abrir mão de sua vida, afinal o mundo tende a ser hostil ao Evangelho e a Cristo e o será em relação aos seus seguidores. Todavia mesmo no texto em que Jesus alerta seus discípulos a respeito do sofrimento que terão de enfrentar, ele fala aos mesmos a respeito da alegria duradoura que se fará em seus corações. 
Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará (Jo 16. 20 - 22 ACF). 
Zaqueu é um exemplo de que a alegria do encontro com Cristo supera, e muito renúncia que o Evangelho demanda. Depois de receber Cristo com alegria o publicano se dispôs a dar metade de seus bens aos pobres e em defraudando alguém restituir quatro vezes mais (Lc 19. 6 - 10). Este desapego se estende às demais áreas.

Este é o sentido da parábola em apreço. Fraternos abraços em Cristo.

Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Quem é que vai Pagar por Isso?



Uma das músicas que me deixou inculcado foi Revanche, de autoria de Lobão e Bernanrdo Vilhena. Na minha leitura ela fala do círculo vicioso que a política brasileira se tornou. Eles, os políticos, fazem as contas, e nós pagamos o ônus. Diante de tal fato fica a pergunta que marca o refrão da letra: quem é que vai pagar por isso, quem é que vai pagar por isso, quem é que vai pagar por isso, quem é que vai pagar por isso

Reconheço que a música vale toda uma reflexão. Mas diante do anúncio da ressurreição da CPMF, claro, com nome diferenta, dos aumentos na alíquota do imposto de renda [sabedores que somos de que neste país, servidor assalariado é descontado em seus proventos, algo bem diferente de renda], salários de servidores parcelados; não é de se estranhar de todo que o povo seja tomado pela mesma revolta que se observa na mulher da imagem acima. 

Nem os servidores, nem o povo são a causa da crise, mas a conta está sendo passada para eles. Então volto à letra de Revanche, que diz: e a gente ainda paga por isso, e a gente ainda paga por isso, e a gente ainda paga por isso. Que Deus nos ajude. 

Marcelo Medeiros. 

A mulher e a Graça de Deus


Creio que somente o verdadeiro Evangelho pode libertar o gênero humano de sua excessiva sensibilidade, a mesma que o faz odiar quem lhe diz a verdade a respeito do seu caráter, a mesma que o faz aborrecer o Evangelho e abraçar os discursos antropocêntricos da atualidade. Nisto incluam-se as mulheres, que como os homens são objeto do amor de Deus e igualmente carentes de sua graça. 

Marcelo Medeiros. 

Amizade e Redes Sociais



Me preocupa de longa data o emprego da tecnologia, principalmente das redes sociais. O advento do Orkut e do Facebook banalizou o termo amizade. Lexicalmente falando, esta é a afeição que promove algum tipo de ligação entre as pessoas. Todavia esta mesma não se dá de forma tão banal, como se possa pensar. Milton Nascimento acertou quando disse que amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Se tem de guardar, é porque é raro, valioso, ao invés de banal.

Não raras vezes vejo as pessoas se dizendo amigas uma das outras, e a base nada tem a ver com o que se vê a respeito da amizade, tanto na literatura sapiencial, quanto na tradição filosófica. Jesus filho de Sirac acreditava que amigos deveriam de serem adquiridos mediante provas, e que não poderia haver pressa em confiar nos mesmos (Eclo 6. 7). Há aqueles que não são fieis na tribulação, os que se tornam verdadeiros inimigos, há os que são companheiros de mesa, mas diante de qualquer adversidade eles se colocam contra nós (Eclo 6. 8 - 11).

Daí que o sábio arremate: amigo fiel não tem preço é imponderável o seu valor. Amigo fiel é bálsamo vital e os que temem ao Senhor o encontrarão. Aquele que teme ao Senhor regra bem as suas amnizades, pois tal como ele é, assim é seu amigo (Eclo 6. 15 - 17 Bíblia de Jerusalém). Nas palavras de Salomão: há amigos que levam à ruína e há amigos mais queridos do que um irmão (Pv 18. 24 Bíblia de Jerusalém). 

Na perspectiva filosófica a amizade é uma afeição que se dá entre iguais. Dizem à boca miúda que esta é a perspectiva aristotélica a respeito da amizade. Para C. S. Lewis, a amizade tem sua causa no companheirismo. Logo, não há possibilidade de verdadeiras relações sem que as pessoas "comam o mesmo pão" [significado de cun panis em latim]. É na companhia de outros consortes que amigos são descobertos. 

Na compnhia de pessoas que surge a verdadeira amizade. Ela não é norteada por interesses secudários. A causa da mesma, a afinidade que é descoberta. Isto pode ocorrer em ambientes virtuais? Sim e não. Possa ser que em um facebook da vida por exemplo se descubra alguém que partilha de uma mesma visão teológica, política, eclesiástica, estética, artítistica. Mas não há ali a garantia de que desta partilha surgirá uma conexão íntima, ou uma relação de semelhança. 

As redes sociais tem como finalidade a troca e compartilhamento de conhecimentos e informações. Esta é a grande dádiva que estas ferramentas trouxeram. Mas em um país com baixo senso crítico, onde as pessoas passam procuração para que outras pensem por elas, este emprego e concepção correm sério risco de jamais serem compreendidos. Sob este prisma, Facebook, Youtube, Instagram, terminam por serem ferramentas de exposição pessoal. Sobrsa narcisismo e falta sabedoria. 

Amigos nada têm a ver com os relacionamentos e conexões que fazemos em rede sociais. Estes são "amigos virtuais", cuja finalidade é o compartilhamento de ideias e informações. Um exemplo, sou calvinista e continuísta, o Facebook, me proporciona a oportunidade de publicar os artigos do meu blog, e me conectar com pessoas que comungam das mesmas perspectivas teológicas que eu. 

São meus amigos? Em princípio não [falo isto daqueles que nunca vi pessoalmente], mas de acordo com a dinâmica podem ser grandes colaboradores e se algum dia comermos o mesmo pão, sentirmos a mesma sensação que os consortes sentem, sejamos amigos mais chegados do que um irmão, aquele tipo que "na angústia se faz irmão". 

Difícil de engolir? Com certeza! Mas é o que a vida tem me ensinado. Amigos de verdade criam uma conectividade tal, que mesmo diante de uma divergência, seja de que tipo for, não se desfaz. Fica ali, dentro do peito, dentro do coração. Isto não tem nada a ver com estar na página de alguém, só por estar, ou porque ela é uma pessoa pública, ou porque possa advir algum favorecimento da "relação". 

Por enquanto, o que cabe é que refletir a respeito da amizade e do uso das redes sociais e pedir a Deus que nos conceda discernimento no tocante a estas coisas. Emn Cristo, 

Marcelo Medeiros. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Religião Faz Hipócritas?


Mais um daqueles catazes que provocam pensamento, que me fazem botar os neurônios para brigarem. A religiosidade é a mãe da hipocrisia? Responder a questão demanda uma definição dos conceitos envolvidos. O primeiro já foi definido aqui neste espaço. É o sentimento de dependência do que é absoluto. Biblicamente falando o termo θρησκειας (threskeias) é empregado para designar a prática do culto e a piedade em visitar os órfãos, as viúvas e guardar-se da contaminação que há no mundo. 

Creio que este assunto já tenha sido abordado com a devida propriedade neste post. Todavia julgo necessário uma abordagem com um outro enfoque. A hipocrisia é um termo que advém de υποκρισιν (hupocrisin), do teatro grego. É a capacidade que uma pessoa possui de representar ser aquilo que ele não é e assim convencer os outros a terem uma ideia errada delas. 

A religião pode ser exercida de forma hipócrita? Sim. Diante de tal afirmação pode-se afirmar que a primeira é a causa da segunda? Não! O exercício fingido da Religião vem de dois fatores claramente considerados por Tiago. Seguindo ordem inversa ao texto, destaco a incoerência entre a palavra pregada, ensinada e escrita e a vivência do religioso. 

Cabe igualmente destacar aqui a natureza pecaminosa dos homens. É incrível como se é desafiado pelo Evangelho! Procuramos "viver a vida" e ele nos diz: "quem quiser salvar a sua vida, perde-la-á". A hipocrisia entre quando se acha que se pode viver o Evangelho com suas próprias forças. É justamente aí que o ser humano se vê mais tentado, afinal, o que deveria ser pela graça acaba sendo uma afirmação meritória. 

Para Pascal a hipocrisia nasce do amor próprio, uma deficiência que faz com que o indivíduo não se conforme com a vida que tem em si, mas queira viver uma vida na mente das demais pessoas. Daí a construção de um personagem. lembre-se do termo υποκρισιν. Em outros termos: a despeito de todas as imperfeições que todos possuímos, nosso desejo natural é o de ser estimados pelos demais. Esta é a causa de uma das mais embraçosas paixões que o homem possa ter. 

Esta mesma paixão faz com que o homem tenha aversão a tudo o que diga a verdade a respeito de si. Ela também contamina as relações entre os homens. Como? Fomentando a bajulação mútua, e o constante ocultamento dos defeitos. Mas o principal é a aversão pela verdade a respeito de nós. Ela obriga as pessoas a usarem dos mais diversos subterfúgios para repreenderem as outras. 

Quando as pessoas possuem algum interesse em serem amadas usam do expediente acima. E aqui se percebe o auge da contaminação. O amor leva incondicionalmente à verdade. É incrível como ambos estão ligados. Ao meu ver não é a religiosidade a causa da hipocrisia, mas a natureza pecaminosa, que se manifesta na necessidade de afirmação pessoal ao ponto de se construir um personagem que nos representem na mente das demais pessoas. 

Forte Abraço, Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Quando os Artistas Falam



Está virando meme. Os artistas estão protestando contra a corrupção. Primeiro foi Fábio Jr. e agora Ana Carolina. Todavia o que se vê são dois modos antagônicos de manifestar repúdio à situação. No primeiro caso, revolta declarada (não usarei o termo ódio aqui). No segundo, poesia, esperança, utopia e outros tantos elementos que tem servido como combustível para a esperança equilibrista. 

Minha avaliação a respeito do protesto de Fábio Jr é que a mesma centraliza a corrupção de forma partidária e aliancista, como se o  PT, PMDB e demais patidos aliados fossem os únicos responsáveis pela degenereção moral e política que corrói a nação. (Creio ter sido um dos primeiros a me manifestar a respeito desta "amnésia", que faz os brasileiros esquecerem de que o problema vem desde de o século dezesseis, e que PSDB tem sim a sua parcela de contribuição neste caos [aqui]). E honestamente com todo o respeito que tenho a este artista e consideração pelo ato patriótico do mesmo, não creio ser esta a melhor forma de prostestar. 

Direcionar o microfone à platéia, de forma a captar ofensas e insultos da mesma, foi simplesmente pífio. Já me expressei a respeito aqui neste espaço. Ao meu ver não é nada democrática a atitude de um povo que xinga sua presidente. Denota clara falta de educação é preparo, a mesma que aliás conduz todo o processo político que resulta na alternância entre PT e PSDB. 

A respeito da leitura da poesia no show de Ana Carolina: belo, belíssimo, ainda que com as devidas ressalvas. Conforme explicitado aqui, não creio que pequenas ações morais corretas sejam a causa de uma onde macro de corrupção. Creio que o problema esteja na natureza humana mesmo. O Mr Hyde que trazemos em nós é vencido exclusivamente com a graça de Deus. Esta é derramada sobre todos e para todos a despeito das convicções religiosas que sustentam. 

Daí que o poema lido por Ana Carolina reflete em parte esta mesma graça. Todavia, pequenas ações de corrupção podem sim cauterizar a consciência [aqui], é isto que faz importante que as ações propostas pela belísssima peça literária sejam fomentadas, estimuladas. Por mais compreeensível que seja a ação de Fábio Jr, o protesto poético de Ana Carolina traz a beleza necessária a efetivação da mudança tão almejada. 

Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A Indústria dos Testemunhos Evangélicos



Em sua página no facebook Otoni de Paula Jr foi extremamente feliz ao abordar a a temática. É incrível como fazem sucesso histórias de vida de ex-gays (coisa que não existe), ex-travestis, ex-viciados, ex-traficantes, ex-pantera da playboy, etc... É como se tais histórias fossem uma comprovação de que o Evangelho funciona. Visando atender esta necessidade psicológica e a curiosidade inerente ao ser humano em relação à vida alheia surgiu a indústria dos testemunhos evangélicos [leia aqui]. 

O tempo passou e a fórmula continua a ser repetida, com sucesso de crítica, diga-se de passagem. O resultado nefasto? A exposição de pessoas não amadurecidas e de conversão duvidosa. Sim, isto mesmo, mas se preferir use o termo dúbio. O processo de conversão deriva da reação do coração humano á graça de Deus. Não há genuíno arrependimento sem a sensação de esmagamento do ser e da alma diante da verdade do Evangelho. 

Segue que qualquer coisa que atraia uma pessoa ao Evangelho, que não a exposição da verdade do mesmo, é produto de puro emocionalismo, ao invés de obra do Espírito de Deus. Todavia, fosse este o único problema, não seria tão drástico, a despeito do caos instalado. O problema avança para uma verdadeira distorção do sentido da palavra testemunho. É precisamente sobre isto que desejo focar a presente postagem. 

Testemunho não é sinônimo de "autobiografia". E a maioria dos "ditos Testemunhos" infelizmente expõe distorção quanto ao conceito. Passar quarenta minutos ouvindo uma pessoa falar das peripécias que realizou antes de sua "conversão" não é testemunho, é tristemunho, isto sim. Mas o que então pode ser classificado como "testemunho"?
Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer (Mt 10. 16 - 19 ACF). 
O texto é bem claro, o testemunho (matyrion [μαρτυριον] termo do qual deriva a palavra martírio) é uma declaração judicial que os cristãos faziam de sua crença em Jesus. Ao mesmo tempo é a fala do Espírito Santo, que auxiliava os discípulos e estabelecia a culpabilidade dos acusadores quanto ao pecado, à justiça e ao juízo.
Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio (Jo 15. 26, 27)
perceba que aqui é empregado o termo παρακλητος, para se referir ao Espírito Santo. Este indica que o papel a ser exercido pelo Espírito é o de uma Valedor, ou Advogado, alguém que se presta a ajudar outrém na ação judicial, e fala em lugar deste, daí que em Mt 10. 19, 20 esteja registrado: Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós

O texto de Jo 15. 19 - 21 evidencia que a questão do mundo não era contra os discípulos, mas contra o próprio Cristo. Daí o tríplice testemunho do Espírito Santo (Jo 16. 8 - 13). Além do mais o μαρτυριον dos discípulos não era a respeito de si mesmos mas de Cristo. Sim eles foram chamados para serem μαρτυρες do próprio Cristo.

Esta percepção ajuda-nos em face a um dos grandes problemas de Teologia, o de como o proclamador, Cristo, tornou-se o proclamado. Ao testemunharem a vida, morte, e ressurreição de Cristo, os apóstolos terminaram por fazerem de deste o objeto de sua pregação. Outro ponto interessante, é que os mesmos acreditavam que Cristo era a realização das Escrituras. Logo, pregar esta implicava em anunciar a Cristo.

Sei que minha proposta alcança somente o homem simples, uma vez que o Teólogo Acadêmico não pode e nem deve se contentar com tais soluções, d contrário sua tarefa cessa. Mas voltando ao tema do testemunho, esta reflexão é importante por colocar as Escrituras, ao invés da vida pessoal, como prova e no centro do testemunho cristão. 

Dentre os apóstolos, apenas um falou de sua vida, Paulo, mas pretendo analisar a testemunho deste em uma postagem posterior. Por hora me despeço desejando que este post tenha contribuido para elucidar ainda mais esta questão que tem sido tão pontual. Em Cristo. 

Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Uma Confusão Persistente



As declaraçãoes de Edir Macedo, líder a Igreja Universal do Reio de Deus, que disse que gays são bem vindos na Igreja dele, e que não coaduna com a postura dos que militam contra a causa gay. Uma matéria tão tendenciosa quanto a fala do "Bispo" da IURD [aqui]. Vamos ver?

  1. Pastor algum prega a cura de gays, eles pregam salvação e libertação do pecado (coisa que até mesmo Macedo admite em relação à homossexualidade). 
  2. Jesus não levantou bandeira contra prostitutas, publicanos, adulteras, apenas confrontou as pessoas a que abandonassem seu pecado. Não é este o carro chefe desta denominação, cujas pretensões consiste em atrair um público interessando em prosperidade. 
  3. Igreja alguma, incluindo a ADVEC, creio eu, hostiliza homossexuais. Em outras palavras: homossexuais são bem vindos em toda, eu disse "TODA", igreja. 
  4. É um erro crasso, ou má fé, confundir a militância evangélica contra as políticas de legalização da união civil homoafetiva com intolerância, ou ódio aos homossexuais. Há pastores que entendem claramente o dever do Estado no tocante aos direitos desta parcela da população. Apenas discordam quando o Estado, no afã de implantar tais poíticas, intervém na liberdade de opinião e de pensamento. 
Estas são minhas impressões iniciais da fala de Edir Macedo, que se mostra bem acessorado, pena que conforme dito a linha de pregação da Igreja em nada se alinha com o Evangelho de Cristo. 

Forte Abraço, Marcelo Medeiros. 
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