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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A Indústria dos Testemunhos Evangélicos



Em sua página no facebook Otoni de Paula Jr foi extremamente feliz ao abordar a a temática. É incrível como fazem sucesso histórias de vida de ex-gays (coisa que não existe), ex-travestis, ex-viciados, ex-traficantes, ex-pantera da playboy, etc... É como se tais histórias fossem uma comprovação de que o Evangelho funciona. Visando atender esta necessidade psicológica e a curiosidade inerente ao ser humano em relação à vida alheia surgiu a indústria dos testemunhos evangélicos [leia aqui]. 

O tempo passou e a fórmula continua a ser repetida, com sucesso de crítica, diga-se de passagem. O resultado nefasto? A exposição de pessoas não amadurecidas e de conversão duvidosa. Sim, isto mesmo, mas se preferir use o termo dúbio. O processo de conversão deriva da reação do coração humano á graça de Deus. Não há genuíno arrependimento sem a sensação de esmagamento do ser e da alma diante da verdade do Evangelho. 

Segue que qualquer coisa que atraia uma pessoa ao Evangelho, que não a exposição da verdade do mesmo, é produto de puro emocionalismo, ao invés de obra do Espírito de Deus. Todavia, fosse este o único problema, não seria tão drástico, a despeito do caos instalado. O problema avança para uma verdadeira distorção do sentido da palavra testemunho. É precisamente sobre isto que desejo focar a presente postagem. 

Testemunho não é sinônimo de "autobiografia". E a maioria dos "ditos Testemunhos" infelizmente expõe distorção quanto ao conceito. Passar quarenta minutos ouvindo uma pessoa falar das peripécias que realizou antes de sua "conversão" não é testemunho, é tristemunho, isto sim. Mas o que então pode ser classificado como "testemunho"?
Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer (Mt 10. 16 - 19 ACF). 
O texto é bem claro, o testemunho (matyrion [μαρτυριον] termo do qual deriva a palavra martírio) é uma declaração judicial que os cristãos faziam de sua crença em Jesus. Ao mesmo tempo é a fala do Espírito Santo, que auxiliava os discípulos e estabelecia a culpabilidade dos acusadores quanto ao pecado, à justiça e ao juízo.
Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio (Jo 15. 26, 27)
perceba que aqui é empregado o termo παρακλητος, para se referir ao Espírito Santo. Este indica que o papel a ser exercido pelo Espírito é o de uma Valedor, ou Advogado, alguém que se presta a ajudar outrém na ação judicial, e fala em lugar deste, daí que em Mt 10. 19, 20 esteja registrado: Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós

O texto de Jo 15. 19 - 21 evidencia que a questão do mundo não era contra os discípulos, mas contra o próprio Cristo. Daí o tríplice testemunho do Espírito Santo (Jo 16. 8 - 13). Além do mais o μαρτυριον dos discípulos não era a respeito de si mesmos mas de Cristo. Sim eles foram chamados para serem μαρτυρες do próprio Cristo.

Esta percepção ajuda-nos em face a um dos grandes problemas de Teologia, o de como o proclamador, Cristo, tornou-se o proclamado. Ao testemunharem a vida, morte, e ressurreição de Cristo, os apóstolos terminaram por fazerem de deste o objeto de sua pregação. Outro ponto interessante, é que os mesmos acreditavam que Cristo era a realização das Escrituras. Logo, pregar esta implicava em anunciar a Cristo.

Sei que minha proposta alcança somente o homem simples, uma vez que o Teólogo Acadêmico não pode e nem deve se contentar com tais soluções, d contrário sua tarefa cessa. Mas voltando ao tema do testemunho, esta reflexão é importante por colocar as Escrituras, ao invés da vida pessoal, como prova e no centro do testemunho cristão. 

Dentre os apóstolos, apenas um falou de sua vida, Paulo, mas pretendo analisar a testemunho deste em uma postagem posterior. Por hora me despeço desejando que este post tenha contribuido para elucidar ainda mais esta questão que tem sido tão pontual. Em Cristo. 

Marcelo Medeiros. 

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