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terça-feira, 21 de junho de 2016

A Cultura da Histeria




Ainda estou acompanhando de perto o debate a respeito de um outdoor em que Silas Malafaia aparece defendendo a preservação da raça humana e da família nuclear. Curiosamente alguém apareceu no Facebook afirmando que a fala do mesmo consiste em discurso de ódio e que revela um extremismo similar ao dos muçulmanos (caso tenha perfil na rede social mencionada, ver aqui). Este tipo de associação entre Cristianismo institucional e extremismo não é novo. Há tempos um certo deputado BBB tem defendido que o discurso cristão é uma das maiores causas da morte de homossexuais. 

Discordo em muito aspectos da atuação de Silas Malafaia como pastor, e não ma alinho com a Teologia do mesmo em quase que nenhum ponto. Mas confiro sim valor às intervenções políticas do mesmo no congresso, uma vez que no afã de naturalizar o comportamento homossexual tem se apelado a tudo, desde a estereotipia aos cristãos até a adoção de cartilhas e livros didáticos que ensinam que tal comportamento é normal. 

A palavra normal vem de norma e sob este prisma é complicado dizer que qualquer coisa que seja referente ao ser humano seja normal. Mas o meu foco aqui não é este. Insisto que cabe o Estado punir o comportamento homofóbico desrespeitoso, mas não cabe ao mesmo legislar sobre minha opinião. E minha opinião é a de que a sexualidade humana é de foro íntimo da pessoa. Melhor, pertence à vida privada da mesma. 

A raiz do problema é que tem sido um costume cada vez mais comum a publicização da vida privada. Artistas têm trazido sua intimidade à tona e este hábito tem sido o catalizador de uma cultura em que as pessoas se acham no direito de virarem celebridade por conta do número de pessoas com quem saem. Admiro a vida de artistas cuja sexualidade não foi publicada. Eles vieram a ser o que foram e são em razão da primorosidade em suas respectivas artes. 

A cultura da histeria é uma cultura de egos cujas falas não se dão por meio de palavras e axiomas inteligíveis, mas em berro e grito. Veja de perto uma discussão e entenda como se dá o processo. Na ausência de audição ao outro, surge o berro e depois deste a acusação mútua. é isto que se tem visto no debate entre a naturalização do comportamento homossexual e a limitação na concessão de direitos aos mesmos. Lembrando que o debate se dá em decorrência do direito que cristãos arrogam para si de manterem suas consciência e o dogma de que o comportamento em apreço é pecaminoso. 

A histeria se vê na ligação entre a luta pela equiparação de direitos por parte de homossexuais, e a destruição da cultura judaico cristã. É igualmente vista na rotulação de fascista, nazista e outras falácias, aos que nao anuem à ideia de que o mundo tem de se abrir para a aceitações pública e irrestrita do comportamento homossexual (o que repito, não seria problema algum desde que para tal não fosse necessária a legislação do Estado sobre o pensamento alheio). Tocando em miúdos: não preciso achar que a homossexualidade é boa, ou normativa, para agir com justiça com um homossexual, e reconhecer os direitos civis do mesmo. 

É isto que tem de ficar claro. O fato de não suportar a fumaça do cigarro não significa que eu seja alguém devotado à morte dos fumantes. Simples assim. Mas um fator do extremismo é a incapacidade de ouvir. E crentes e descrentes, cristãos e homossexuais precisam ouvir uns aos outros e se perguntarem o que fazer para chegar a um acordo, visto que independente de religião e convicções culturais existe a necessidade de coexistir socialmente. 

Forte Abraço, Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Terror em Orlando




Recebi na semana passada a notícia do ataque à boite Pulse em Orlando da mesma maneira que recebo notícias desta natureza, com um misto de espanto e dor pelas inúmeras perdas. Antes da orientação sexual (coisa que não me interessa), vejo pais, mães e irmãos que são privados de filhos e irmãos. Honestamente não me agrada em nada a ideia de escrever sobre, uma vez que tudo o que pode ser dito se resume na repulsa ao ato em si, e na solidariedade. 

Todavia, contudo, no entanto, entretanto, veio a fala de Obama isentando a religiosidade do atirador como fator motivador do terrorismo, depois veio uma charge no Facebook insinuando que inteira responsabilidade dos EUA e a ligação desta nação com o cristianismo. Aí minhas anteninhas de velino detectaram o inimigo. 

Pesa sobre a extrema direita cristã norte americana a acusação de discurso de ódio legitimando o atentado (ver aqui). Acontece que as ligações entre o atirador e o terrorismo já estão confirmadas. E aí, um outro problema aparece. Qual? A tentativa de afirmar que todas as pessoas contrárias à condição, comportamento e orientação homossexual é tão extremista como um terrorista. Se você possui Facebook pode conferir nesta página

Caso você insista em saber qual a diferença experimente protestar na porta de uma mesquita ou fazer insinuações com o livro sagrado deles e saberá. Mas não para por aí. Creio que os desonestos que insistem na associação sabem da diferença entre entendimento e aceitação. Cristãos entendem a partir da base religiosa que possuem que família é homem e mulher. Na verdade a humanidade é basicamente formada de macho e fêmea. Mas isto não quer dizer que eu não aceite a aquisição de direitos por parte do mesmos, e concorde com quem dispara uma arma contra gays e lésbicas. 

O papel do Estado é a distribuição da justiça e com isto do direito e nem eu, nem ninguém pode interferir nisto desde que o meu direito não  seja cerceado. Simples assim.Em outras palavras, não cabe ao Estado interferir em minha consciência, naquilo que penso e nem na forma como entendo. Uma necessidade urgente é de pessoas equilibradas que debatam e discutam uma conciliação entre estes dois grupos supostamente conflitantes

Tenho dito repetidas vezes aqui neste espaço que o tratamento maniqueisante que tem sido dado à situação não é o ideal, uma vez que somente reforça o conflito e nem de longe promove paz e acordo. Da forma como as discussões são conduzidas temo que um clima similar ao da América se instale aqui. Honestidade intelectual, discernimento e sabedoria, são as palavras de ordem para que se evite a situação descritas nas linhas acima. 

Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Dia dos Namorados




Hoje é o dia em que se comemora o Dia dos Namorados. Os dicionários mais antigos definem namoro como sendo o ato de olhar, observar, e o Michaellis  define como fitar algo com afeto e insistência. Tem sido cada vez mais comum a ideia de que para a preservação do casamento o namoro tem de continuar, mas o desgaste da realidade é inevitável e tudo o que se tem a fazer é empregar artifícios que desfaçam, os efeitos do desgaste. 

Na verdade a saída é uma memoração constante com o outro. Sim, comemorar é memorar (lembrar) com. A memória tem de resgatar as várias formas de afeto que um provocou no mesmo. Simples, não? Não! Em dias de correria e ansiedade a memória vai sendo corroída, desgastada por impressões mais novas e nem sempre agradáveis. Daí  o uso de memoriais como fotos e recados em redes sociais. 

Para todos os efeitos somente quem comemora revive o modo como foi afetado pelo outro e com isto a experiência do olhar terno dos primeiros dias da relação. Como diria Tom Jobim fundamental é... é impossível ser feliz sozinho. Na verdade a felicidade nada mais é do que a superação conjunta das infelicidades diárias. Aos casados, noivos, e namorados, feliz dia dos namorados e nunca se cansem de olhar afetuosamente. 

Marcelo Medeiros. 

Dia do Pastor



Hoje a maioria das igrejas comemoram o Dia do pastor, cuja origem é desconhecida, mas que no país remonta meados do século passado (ver aqui). O pastor por excelência do Evangelho é Cristo (Jo 10. 1 - 28), e ser pastor é um modo de existir que se assemelha ao de Cristo, uma pessoa que fez o bem a todos e raramente foi compreendido e honrado como tal. 

Na atualidade a imagem do Pastor é desgastada em função das exposições que algumas lideranças tiveram na mídia. É constante a associação entre Pastor e explorador da fé alheia. E pior, mesmo dentro da comunidade cristã raramente se considera este a partir de sua vida de estudo, renúncia e dedicação. Todavia há uma promessa de que quando Cristo voltar os que ensinam a justiça resplandecerão como estrelas no firmamento (Dn 12, 2 citação livre). Não se menciona o pastor aqui, mas esta é a imagem que tenho comigo do Pastor/Mestre de Ef 4. 11, afinal o que você mais vê Jesus fazendo?

Marcelo Medeiros. 

domingo, 12 de junho de 2016

Eu inseto? (uma pensata literária)



Franz Kafka é um autor de ascendência judaica, que se notabilizou por livros cuja temática explora a alienação humana, dentre as quais O Processo e A Metamorfose. este último narra a história de um cacheiro viajante por nome Gregor Samsa, que um dia acorda e se depara com uma estranha surpresa: a de se ver transformado em um asqueroso inseto. Em Contra um mundo Melhor Luís Felipe Pondé argumenta que a Evolução na verdade aponta para um futuro sombrio. E em Os Dez Mandamentos Mais Um este autor destaca o pessimismo de Kafka. 

Minha leitura pessoal de A Metamorfose foi diferente. Ela decorre de uma reconstrução de como teria sido a vida do protagonista Gregor Samsa antes de sua transformação, Uma observação inicial é que ele trabalha em um emprego insuportável, tanto em sua relação com seu chefe quanto à situação que o levou a tal. Ao que parece ele tem uma habilidade artesanal, que não é pública. 

Samsa é o tipo de pessoa que carrega o peso do mundo na cabeça. Trabalha com um chefe insuportável para pagar as dívidas de seus pais. Planeja acumular algum capital para comprar sua liberdade (mandar o chefe às favas). Este, um indivíduo insuportável que visita Samsa unicamente para cobrar sua ausência e ao ouvir dos pais deste que a indisposição do protagonista era causa de sua falta, responde que homens como os de sua posição não podem se deixar vencer por leves indisposições. 

A Metamorfose de Samsa não se deu da noite para o dia, mas em um lento processo de desumanização pelo qual ele foi passando. Primeiro ao se submeter a um trabalho que o esgotava e não lhe dava reconhecimento algum. Segundo por ter de se sujeitar a um chefe biltre, que mesmo diante do sério problema dele não hesitou em julgar o mesmo da pior maneira possível, e pior, esqueceu todo o trajeto do mesmo na firma. Por último, por trazer sobre si as pressões da vida de todos os seus familiares. 

A ironia de Kafka se percebe no final do livro, Samsa morre, mas sua morte é um alívio para as pessoas às quais ele se dedicou. Até porque ele não morre sem antes dar muito trabalho aos seus familiares. Ao que parece o autor percebe a ironia de que para nos preparar para a morte de alguém a vida nos sobrecarrega com os cuidados com o mesmo até o esgotamento, que precede a compreensão da necessidade de uma separação. Mas não é isto que nos desumaniza, antes são as relações trabalhistas baseadas em autoritarismo, e o peso do mundo. 

E a saída? Kafka não aponta. Mas gostaria de propor alguma. 1) Entenda que não podes carregar o peso do mundo. 2) Estabeleça relações de amizade sinceras. amizades reais ajudam a aliviar as dores causadas pela vida, principalmente pela desumanização dos ambientes de trabalho. 3) Desenvolva alguma atividade que não lhe seja uma tortura e procure compartilhar isto com alguém. 4) Troque todo o seu jugo, inclusive o existencial pelo jugo de Jesus. 

De minha falha percepção Kafka é produto de uma sociedade que lentamente abriu mãos de questões metafísicas. e quanto tal ocorre, até a evolução fica sem sentido de ser. As esperanças de melhoria decorrentes da mesma vão para o esgoto. Como sugere o próprio Luís Felipe Pondé, ter esperança é a melhor forma de se lidar e ser no mundo.  

Marcelo Medeiros. Forte Abraço. 
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