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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A sabedoria de Sulley e as lições de Monsters S/A

Monstros S/A é mais um destes filmes que tive de ver mais de sessenta vezes por filho, e como tenho dois, posso afirmar que vi bem mais de cento e vinte. A história é bem simples. O filme narra a historia de toda uma cidade de monstros, que se alimenta de uma energia extraída dos sustos das crianças. Desta surgem empregos na fabrica de sustos e uma economia bem movimentada, etc.... . Tudo transcorre bem até que um dia Randall Boggs que é um dos principais antagonistas do filme elabora e da seguimento a um estranho plano com Henry. J. P. Waternoose, que é o presidente da Monstros S.A. de  sequestrar uma criança que garantisse a produção da fábrica. É neste momento que entram em cena James P. Sullivan, apelidado "Sulley", e Mike Wazowski , que interceptam a criança e a partir destes elementos se desenvolve uma trama bem interessante.
O que gostaria de pontuar aqui, é que no meio da trama é descoberto, acidentalmente, que o riso possui um potencial de energia muito, mas muito superior mesmo ao susto, e é aí que gostaria de centrar a minha reflexão. Monsters S/A não é um filme para crianças, na verdade é um convite à reflexão para os adultos. Sério? Onde as crianças entram nisto, afinal, é um desenho animado? Se você se fez esta pergunta, é sinal que houve uma abertura em você para entender qual é o nosso papel, no sentido de traduzir para as futuras gerações.
Primeiro, o filme traz uma linguagem que contesta, de forma criativa, o modo de produção de uma sociedade fictícia. Segundo, o filme contesta a tradição que se forma em torno de práticas cruéis. Terceiro, percebo uma condenação explicita tanto à liderança quanto a chefia feita que se faz independente de ética, e pior ainda quando tal se dá para manter o tradicional. Por último, o filme se constitui como um desafio, pois tal como Sulley, somos desafiados a fazer de um modo diferente. Estas são as mensagens para nós adultos. Agora quero passar as considerações a respeito de cada uma das observações.
Nossa sociedade possui um modo de produção esgotante. Pais são constantemente pressionados a serem três coisas, senão mais, inconciliáveis: bons pais, bons maridos e bons profissionais. Além disto, o conceito de bom pai não se restringe ao bom educador de uma criança, mas abrange alguém que dá a sua família todos os bens de consumo. O resultado de tudo isto, é que a qualidade de vida cai.
Não bastassem tais pressões, o meio de trabalho parece ser o mais contaminado e deteriorado no campo das relações humanas, produzindo ambientes insalubres do ponto de vista social e emocional. Daí que raras são as vezes e mais raros ainda são os trabalhadores que chegam em casa, após um dia de serviço com a sensação de prazer de uma obra concluída. Há quem diga que brasileiro não gosta de trabalho. Mas não é o que se vê, por exemplo, em mulheres, que conciliam a jornada em casa, com a criação de filhos e uma carreira profissional, e isto sem ajuda de empregadas domesticas (falo isto porque fui filho de uma, e sou casado com uma assim). O grande problema no que toca ao mundo do trabalho. Passa pela mudança dos modos de produção, uma mudança que não produza desemprego, mas que viabilize ao homem tempo para que o mesmo possa se dedicar ao que é essencial, a família, por exemplo. Não estou sendo vanguardista em dizer isto, porque a questão que abordo aqui já foi abordada por Oscar Wilde e tem sido abordada nos livros do Mario Sergio Cortella.
Voltando ao filme, quando assistimos o Universidade Monstros percebemos que aquele modo de produção era cultural, visto haver uma universidade voltada para a formação de futuros assustadores. Quando aplico esta situação ao mundo do trabalho percebo que há uma sólida e perversa tradição cultural estabelecida em nossa sociedade: a de associar o trabalho a dor, e ao sofrimento (já falei sobre isto aqui).
Neste artigo falamos que uma das palavras que o mundo hebraico elaborou para trabalho é o termo עָמָֽל ('amal), cujo sentido é o de esforço fatigante, tormento, mágoa, aflição; é empregado como sinônimo de אָ֑וֶן ('ãwen), cujo sentido é o de problema, tristeza, mal, ou dano. Curiosamente עָמָֽל ('amal) será empregado por Salomão, caso o leitor o considere autor de Eclesiastes, para o trabalho mesmo (Ec 2. 10, 11), indicando com isto, que nem sempre a teologia bíblica verá o trabalho com algo penoso, vão e inútil.
Isto não seria nenhum problema se junto da cultura não houvesse uma prática, mas há. Existem em nossos dias líderes, que à semelhança de Henry. J. P. Waternoose, preferem sequestrar mil crianças para não verem a fábrica falir, assim violam os princípios mais básicos da ética. assediam moralmente os seus subordinados, criam um ambiente de tensão desnecessário no trabalho, fazem com que o trabalho, que deveria ser uma poiesis (obra na qual o artista se reconhece) se torne um tripalium (palavra para instrumento de tortura, que segundo Cortella deu origem a nossa palavra trabalho).
A redenção do trabalho passa inevitavelmente pela redescoberta da dimensão artística do mesmo. Não creio que tal se dará por meio da adoção de políticas que trazem consigo aumento da carga horaria. Produtividade nada tem a ver com o tempo que se passa no trabalho. Uma coisa que tem se descoberto é o valor do ócio. Começou com o Elogio do Ócio de Bertrand Russel, e depois tivemos o Ócio Criativo de Domenico di Mais. Agora temos a maravilhosa ideia de Cortella com o seu Ócio recreativo, que consiste no emprego do ócio com vistas ao ato de recriar. A despeito da beleza e da propriedade do pensamento não há como pensar em tais coisas sem antes de mais nada mudarmos algumas concepções em nossa sociedade.
Na escola, o recreio, o lúdico está ligado ao processo educacional, ao menos na educação infantil é assim. Tanto que na primeira parte da infância as crianças amam a escola, mas ao chegar nos primeiros ciclos das séries iniciais, tudo muda, e então o lugar dantes amado passa a ser odiado. Infelizmente o mundo do trabalho também tem seguido esta tendência. Mas é na alegria com que se desempenha a função que o trabalhador encontra sua poiesis e se sente mais motivado para produzir, para recriar. Creio que seja exatamente isto que esteja faltando.
O filme termina com monstros felizes porque não mais precisam assustar, e crianças que se divertem com os mesmos, e da diversão vem o sustento do mundo dos monstros. O mais curioso é o caso do personagem Mike Wazowski que no filme Universidade Monstros é desligado da Universidade, por não ter vocação para ser assustador, mas que no novo modo de produção encontra papel fundamental, e o próprio Sulley que se descobre um grande gerente da nova fábrica.
Escrevo estas coisas sabendo que a mudança não é nada fácil, na verdade é justamente por nos tirar de nossa zona de conforto que ela se torna extremamente difícil. Esta lição é mostrada em um outro filme A Corrente do Bem, onde um garoto de aproximadamente oito anos tem uma ideia genial de pessoas que fariam algum bem a uma outra pessoa desconhecida. Ao ser entrevistado o garoto demonstra sua desilusão para com as pessoas, visto que bem cedo ele percebe a relutância das mesmas em mudar para melhor.
Em nosso mundo as pessoas preferem reclamar do que se moverem em direção ao novo. Um caso curioso é o da peregrinação do povo de Israel no deserto. Ao se depararem com o desafio que a liberdade traz, eles quiseram voltar ao Egito, para a condição de escravos. Daí a dificuldade com que mudanças possam vir acontecer. Na verdade, é mais fácil colaborar para com, do que resistir ao sistema. Voltando ao desenho em questão, não custa nada lembrar que a maracutaia do Waternoose não teria ido em frente não fosse a colaboração do Randall Boggs, personagem este descrito como alguém que sempre invejou o Sulley, dada capacidade deste como assustador.
É verdade que existem os chefes que criam um inferno na vida dos seus subordinados, mas creio que seja nosso papel como pais, criar filhos que não sejam como estes, ou que mesmo que venham a ocupar a posição de liderança tenham coragem de fazer diferente, e que jamais sejam colaboradores na manutenção do sistema.
Marcelo Medeiros, em Cristo.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Pensando o corpo teologicamente



Desde já peço aos meus leitores que por favor não estranhem esta postagem, e muito menos a imagem; mas que vejam na mesma um assunto a ser seriamente pensado, refletido e sistematizado em nossa teologia. Qual? O corpo! Mas antes gostaria de convidá-lo a leitura de um texto atribuído ao escritor Paulo Coelho e depois a refletir comigo sobre o tema.
ATENÇÃO MULHERES!! LEIAM ISSO!
EDITADO (Texto original de Paulo Coelho)

AS MULHERES NA VISÃO DE UM HOMEM.

Não importa o quanto pesa. ...

É fascinante tocar, abraçar e acariciar o corpo de uma mulher.
Saber seu peso não nos proporciona nenhuma emoção.
Não temos a menor ideia de qual seja seu manequim.
Nossa avaliação se dá de outra forma,
isso quer dizer: se tem forma de guitarra... está bem.

Não nos importa quanto medem em centímetros, é uma questão de proporções, não de medidas.
As proporções ideais do corpo de uma mulher são: curvilíneas e carnudas.
Essa classe de corpo que, sem dúvida, se nota numa fração de segundo.
As magrinhas que desfilam nas passarelas, seguem a tendência desenhada
por estilistas que, diga-se de passagem, parecem odiar as mulheres e com elas competem
.
Suas modas são retas e sem formas.

A maquiagem foi inventada para que as mulheres a usem. Usem!
Para andar de cara lavada, basta a nossa.
As saias foram inventadas para mostrar suas magníficas pernas...
Se a natureza lhes deu estas formas curvilíneas, foi por alguma razão e eu reitero: nós gostamos assim.
Ocultar essas formas é como ter o melhor sofá embalado no sótão.

É essa a lei da natureza... que todo aquele que se casa com uma modelo magra, anoréxica, bulêmica e nervosa logo procura uma amante cheinha,
simpática, tranqüila e cheia de saúde.

As jovens são lindas... mas as de 30 para cima, são verdadeiros pratos fortes.
Por tantas delas somos capazes de atravessar o atlântico a nado.
O corpo muda... cresce, não da pra entrar, sem ficar psicótica,no mesmo vestido que usava aos 18.
Uma mulher de 45, que entra na roupa que usou aos 18 anos, ou tem problemas de desenvolvimento ou está se auto-destruindo.

Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida
com equilíbrio e sabem controlar sua tendência a culpas.
Ou seja, aquela que, quando tem que comer,come com vontade
(a dieta virá em setembro, não antes); quando tem que fazer dieta,
faz dieta com vontade (não se saboteia e não sofre);quando tem que ter intimidade com o parceiro, tem com vontade; quando tem que comprar algo que gosta, compra; quando tem que economizar, economiza.

ALGUMAS LINHAS NO ROSTO, ALGUMAS CICATRIZES NO VENTRE, ALGUMAS MARCAS DE ESTRIAS NÃO LHES TIRA A BELEZA.
SÃO TESTEMUNHAS DE QUE FIZERAM ALGO EM SUAS VIDAS,
não tiveram anos em formol, nem em spa... VIVERAM!

O corpo da mulher É O SAGRADO RECINTO DA GESTAÇÃO DE TODA A HUMANIDADE, onde foi alimentada, ninada e, sem querer, marcada por estrias, cesáreas e demais coisas que fizeram parte do processo que contribuiu para que estivéssemos vivos.

Portanto, Cuidem-no! Cuidem-se!
Amem-se! A beleza é tudo isto.
Ver mais

Infelizmente o único livro da Bíblia que dá ênfase tanto à questão do corpo quanto a do sexo é o de Cantares de Salomão. Mesmo assim, o mesmo tem sido vítima de interpretações simbólicas, alegorizadas, que esvaziam este conteúdo. Mas ao olhar a mulher ali descrita, não consigo ver a mulher magérrima e anorexa que a nossa cultura tanto prima. Quando leio o cânticos dos cânticos vejo as seguintes descrições da mulher amada: Quão formosos são os teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! Os contornos de tuas coxas são como jóias, trabalhadas por mãos de artista (Ct 7. 1 ARCF).

Que mulher excessivamente magra poderia ser descrita assim?: Eu sou um muro, e os meus seios são como as suas torres; então eu era aos seus olhos como aquela que acha paz (Ct 8. 10 ARCF). Mas ainda bem que nossa reflexão não se resume aos parcos textos dos cânticos dos cânticos, afinal, muito de nossa teologia se desenvolveu por meio do dialogo desta com a filosofia. Na verdade ambas possuem uma dívida para com a outra. Creio que as reflexões atuais que a filosofia tem feito a respeito do corpo podem contribuir e muito para que crentes não venham a serem enredados pela cultura atual. Esta, diga-se de passagem é marcada pelo extremo oposto entre a obesidade e a anorexia.

Pondé pontua como a distopia Admirável Mundo Novo se dá em termos concretos em nossa sociedade. Para os que leram a obra de Huxley, sabem que as pessoas além de nascerem bio e psiquicamente projetadas não envelheciam, tomavam drogas que não permitiam o desgaste do corpo. Com isto apenas morriam. Em tempos atuais o envelhecimento tem sido negado por meio da corpolatria. O problema é que quando negamos aquilo que nos é inevitável, caímos tal como Édipo, que ao tentar fugir do seu destino foi ao encontro do mesmo. Se você acha que estou sendo exagerado, mas possui miolos, creia, é hora de pensar nisto.

Mas não para por aí. C. S. Lewis abordou o tema em uma sátira, que em português foi traduzida com carta de um diabo ao seu aprendiz. Nesta o autor coloca que o plano do inferno é introduzir uma cultura no qual o corpo da mulher fosse ficando cada vez mais masculinizado e com isto os homens aprenderia a apreciar quase que andrógino de fêmea. É um tipo de mulher cujo contorno do corpo é bem parecido com o de um menino. O autor não arrisca dizer explicitamente o que vem após, mas eu arriscaria, que em função de uma contínua elevação do padrão, aliada a exposição do padrão, por meio do nu artístico, creio haver uma acentuada queda no interesse pela mulher como um todo.

Em meados do século passado C. S. Lewis deixou claro que em todas as épocas a moda é um grande instrumento para a criação de desvios na orientação sexual do individuo. Isto é feito por meio da atuação de artistas populares, estilistas e publicitários, que por sua vez, determinam o que está na moda. Observe que as medidas do corpo deveriam ser definidas pelo ser humano em parceria com o médico, e isto observado as particularidades do individuo, mas mesmo os programas em que tais profissionais são chamados a emitirem sua opinião, o que percebemos é uma capitulação dos mesmos aos ditames da cultura. E isto é feito por meio da resposta evasiva do tipo: cada um tem de fazer com o corpo aquilo que o faz se sentir bem. Isto não seria nada ruim, não fosse a variante da insatisfação humana (mais acentuada ainda no caso feminino), e provavelmente em função da mesma, a variação da moda.

O estar bem consigo mesmo tem sido traduzido como sintonia com a cultura e o padrão atual, quando deveria de ser aceitar e acolher a si mesmo com todas a diferenças e particularidades. Se você acha que fui exagerado nas minha colocações, ou que este post é dispensável em um blog evangélico, comece a considerar o que disse São Paulo, quando escreveu: Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra (I Ts 4. 4 ARCF). O corpo aqui é comparado com vaso, e uma das belezas que o mesmo possui é a diferenciação entre um modelo e outro. Santificação à parte, e na verdade justamente em razão desta, cabe a cada um de nós honrar, valorizar, e apreciar devidamente bem o seu corpo.

Mulheres que valorizam o seu corpo não se matam, nem se sacrificam para que o mesmo se acomode a um modelo, e com isto obter aceitação. Creio que mesmo o cuidado saudável do corpo, que envolve uma dieta sadia e exercícios regulares, o que é altamente recomendável, passa pela aceitação dos limites do mesmo, e valorização da diferença. Portanto mulher, se tiver de ser malhada, seja! Se tiver de ser musculosa, seja! Mas conserve os traços femininos, pelo amor de Deus!
Marcelo Medeiros.  

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Adecin Ebenézer - Conf. Varões 2013 - Pr. Marcelo Medeiros.



Mensagem ministrada na confraternização dos varões na congregação Ebenezer. Até o momento final me ajudou o Senhor.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.


ENTREGA TOTAL VITÓRIA TOTAL - 10-01-2014 - Pr. Marcelo Medeiros- MONTE D...





O vídeo acima é uma mensagem que ministrei por ocasião da vigília de preparação para a campanha Entrega Total, Vitória Total, em nosso monte.

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

Moisés, sua liderança e seus auxiliares

 
Atualmente a liderança é compreendida como sendo a capacidade de influenciar as pessoas por meio do exemplo. Trata-se de envolver as pessoas em uma missão e proposito. Este conceito é moderno, e tem sido defendido por James Hunther em seu clássico O Monge e o executivo. Curioso, é que ele afirma tanto neste livro, quanto no As lições do Monge e do Executivo, que suas ideias são revolucionárias, e atuais, mas não são novas, uma vez que o modelo de liderança que ele defende pode ser visto em personagens antigos, tais como, Sócrates, Platão e Jesus Cristo. Hoje veremos como esta liderança se manifestou na pessoa de uma dos maiores exponentes do judaísmo, Moisés.

I ) O caráter e a disposição do líder
Então o Senhor desceu numa coluna de nuvem e, pondo-se à entrada da Tenda, chamou Arão e Miriã. Os dois vieram à frente, e ele disse: "Ouçam as minhas palavras: Quando entre vocês há um profeta do Senhor, a ele me revelo em visões, em sonhos falo com ele.
Não é assim, porém, com meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa (Nm 12. 5 - 7 NVI).
Moisés foi fiel como servo em toda a casa de Deus, dando testemunho do que haveria de ser dito no futuro (Hb 3. 5 NVI). 
Em ambos os textos se afirmar duas verdades a respeito de Moisés, e que se constituem como qualidade essenciais dos que pretendam exercer cargos de liderança.  Em primeiro lugar, Moisés é chamado de servo, em hebraico a expressão é עַבְדִּ֣י (ebed), que será traduzida pelo autor da carta aos Hebreus por θεραπων (therapon), cujo sentido é o de um servidor, um atendente. Ao contrario do que ocorre, por exemplo com a expressão δουλος (doulos), θεραπων pressupõe o exercício de um trabalho livre e honroso. Tal indica que ele via em sua chamada algo digno e honroso. De sorte que não existe líder sem tais prerrogativas, uma imagem de seu trabalho como o ato da verdadeira liberdade, e como expressão de honra ao nosso Deus.
Em segundo lugar, se diz que Moisés era fiel. Aqui temos a ocorrência de dois termos no grego a palavra é πιστος (pistós), e é usada na LXX para traduzir נֶאֱמָ֥ן (ne'muna), que procede de אָמַן ('ãman), um termo que indica fidelidade, firmeza, estabilidade. São prerrogativas que um líder tem de possuir, a fim de que o mesmo seja plenamente bem sucedido no cumprimento de sua missão. Todavia,  אָמַן ('ãman) não é uma característica humana, mas procede da ação de Deus.
Outra qualidade apontada em Moisés, é a sua mansidão, que algumas versões traduzem por humildade, e que na Nova Versão Internacional, é traduzida por paciência. O termo hebraico  é עֲנָוִ֗ ('anaw), e abrange todos estes sentidos (Nm 12. 3).  עֲנָוִ֗ ('anaw) é a raiz do termo hebraico עֲנִיֶּ֛ ('ani), cujo sentido é do pobreza (Dt 15. 11). O pobre em Israel era aquele que não possuindo terra para trabalhar vivia em total estado de indigência, podendo vir a mendigar. Daí a estrita dependência que estes tinham de Deus (aqui). Visto sob este prisma, a humildade e mansidão constituem-se nas mais difíceis virtudes de se cultivar em um líder, visto que a ênfase carismática inevitavelmente o conduz a confiar em suas potencialidades. 
 
II) A necessidade de auxiliares
 
O texto de Êxodo 18 nos mostra que Moisés se assentou para julgar o povo, e que ao atender a cada um ele levou um expediente que durou da manhã até a tarde. O termo para julgar aqui é לִשְׁפֹּ֣ט (shepat), palavra que indica o exercício da função de juiz, mas que não pode ser confundida com o magistrado atual, uma vez que no contexto bíblico a resolução das questões envolve a consulta a Deus e o ensinamento ao povo dos estatutos e juízos de Deus. Isto se evidencia na resposta de Moisés ao seu sogro, quando este lhe perguntou o que fazes? E ele disse: O povo me procura para que eu consulte a Deus. Toda vez que alguém tem uma questão, esta me é trazida, e eu decido entre as partes, e ensino-lhes os decretos e leis de Deus (Ex 18. 15, 16 NVI).
O problema consiste em que com o passar do tempo auxiliares se tornaram necessários. Uma vez que a centralização das funções na pessoa de Moisés se tornou um peso tanto para este quanto para o povo. Quando tal ocorre, surge então a necessidade de delimitar aquilo que cabe somente ao líder e aquilo que ele pode delegar aos demais para que os mesmos exerçam.
O conselho que Jetro deu para Moisés requeria que o mesmo: 1) continuasse a representar o povo diante de Deus (Seja você o representante do povo diante de Deus e leve a Deus as suas questões [Ex 18. 19 NVI]); 2) Os ensinasse os estatutos e leis do Senhor (Oriente-os quanto aos decretos e leis, mostrando-lhes como devem viver e o que devem fazer [Ex 18. 20 NVI]); 3) levantasse novos líderes que o auxiliassem em questões menores, e lhes trouxessem apenas as mais graves (escolha dentre todo o povo homens [Ex 18. 21 NVI]). Todavia, ao se nomear auxiliares, critérios se tornam necessários.
 
III) Critérios na escolha de líderes (auxiliares da liderança)
Mas escolha dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de ganho desonesto (Ex 18. 21 NVI).
Os homens a quem Deus manda escolher tem de serem capazes. Habilidosos, inteligentes, estando em condições legais para exercer validamente certos direitos. Mas esta habilidade não se restringe ao aspecto técnico da questão, uma vez que o termo חַ֜יִל (hayil) também é empregado para descrever os valentes soldados (I Cr 8. 40),indicando com isto que  חַ֜יִל (hayil) também pode expressar a força necessária a um soldado (Jz 18. 2; I Cr 26. 30). Esta mesma força é descrita como oriunda de Deus, que nos capacita para batalha. No caso do líder esta força, se expressa na capacidade de influenciar por meio do exemplo moral e de manter o mesmo em meio às adversidades.
Outra qualidade do líder é o temor reverente, descrito por meio do vocábulo יִרְאֵ֧י (yâre). Os líderes que iriam auxiliar a Moisés teriam de lidar com o poder, e com a possibilidade de corrupção que este mesmo poder desperta. Somente o temor de Deus poderia lhes dar o poder de superar as propostas de corrupção. Afinal Pela misericórdia e verdade a iniquidade é perdoada, e pelo temor do Senhor os homens se desviam do pecado (Pv 16. 6 ARCF). Chave neste conceito é o termo temor do Senhor (Yir'ah Yahweh [ יִרְאַ֣ת יְ֭הוָה]). O líder tem de ser temente a Deus.
Digno de confiança, é a expressão empregada pela NVI para traduzir o termo homens de verdade (אַנְשֵׁ֥י אֱמֶ֖ת [ish emeth]). Por sua vez a expressão אֱמֶ֖ת (emeth), tanto indica verdade como fidelidade, podendo ser traduzida por homens fieis. em outras palavras, dentre o perfil de um líder, tem de constar que o mesmo possa ser uma pessoa em que as outras possam se fiar. O termo אֱמֶ֖ת (emeth), nos remete ao termo אֱמָנִ֑ ('aman), aplicado a Moisés, para descreve-lo como servo fiel em toda a casa.
Por último, o homem que visa o seu bem- estar, e em função de ser mais amigos dos deleites do amigo de Deus não pode exercer a liderança, visto que diante de Deus o mesmo sempre será reprovado. Quem ama ao dinheiro nunca se farta do mesmo (aqui e aqui). Minha oração é que Deus nos ajude a preencher este perfil de líder descrito na Bíblia.
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Lembrai-vos dos vossos líderes


Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé (Hb 13. 7 NVI).
Este é um dos textos mais ingratos da Bíblia. Quando criança não pensava desta forma, mas agora que sou adulto penso, pior vejo que sim, principalmente por causa da condição de Pastor. Me permita a explicação. Não vejo neste texto nenhuma forma de protecionismo para com a classe pastoral, pelo contrário ele é a condenação para o pastor infiel, que não se sujeita a palavra de Deus. O contexto no qual o texto se insere é um conjunto de advertências aos crentes aos quais se destina a carta aos hebreus. Eles são aconselhados quanto ao amor fraterno, a hospitalidade, a solidariedade para com os irmãos que estão presos, o casamento, o comportamento para com o dinheiro, que por sua vez reflete, ou não, nossa confiança na providencia divina, é quando entre a recomendação para que nos lembremos de nossos líderes.
Como Pastor, ordenado pela Assembleia de Deus, me preocupo toda vez que leio tal texto, me pergunto: sou hospitaleiro, solidário, integro em minhas relações, confiante na providencia de Deus, em outras palavras, sou modelo? Minha vida fala a palavra que prego verbalmente, sou sal da terra, meu exemplo influencia positivamente? Falo palavra de Deus no sentido que Deus a dá, ou distorço os textos a fim de que os mesmos se adequem às minha nem sempre tão nobres intenções? Me faço estas perguntas porque o texto bíblico recomenda o exame pessoal, a fim de que possamos saber se estamos, ou não na verdade (II Co 13. 5)
Note que o texto manda olhar para vida dos pastores, mas não é qualquer pastor, são os pastores que falam a palavra de Deus, o que além de indicar a existência de pastores que não falam da palavra de Deus, ainda sinaliza um grupo especial de homens aos quais fora confiado o bom depósito da revelação. Manda ainda observar o resultado da vida que tiveram e imitar a fé. Esta, no contexto de Hebreus é a capacidade de se apegar a esperança de forma tal a dar testemunho. Então a recomendação do autor da carta é que olhemos para o testemunho deixado por estes homens.
Outra observação a ser feita é a de que a carta aos Hebreus foi escrita com a finalidade de exortar crentes que por serem oriundos do judaísmo, estavam sendo perseguidos e espoliados dos seus bens(Hb 10. 34, 35). Daí o exemplo de firmeza dos pastores em meio á tribulação como fator motivador para os crentes em sua caminhada. Na verdade, o que o autor faz aqui é uma extensão do texto em que aborda a respeito dos heróis da fé, onde ele mesmo traz exemplos de fé do Novo Testamento a fim de motivar os crentes Hebreus.
A esta altura desta breve reflexão, me pergunto: como posso considerar o final de alguém que ainda não completou a sua carreira? O autor do teto pede aos destinatários: Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé (Hb 13. 7 NVI). Curioso é que um dos termos que aparece aqui é εκβασιν (ekbasin), cujo sentido é o de saída, ou de resultado de alguma coisa, mas do quê? Do modo de vida que os mesmos tiveram. Aqui o termo é αναστροφης (anastrophes), cuja tradução pode ser modo de vida, neste caso marcado pela hospitalidade, pela caridade, pela solidariedade para com os que estão presos por causa do testemunho (ao menos é esta a ideia que o contexto sugere). No final o texto nos recomenda a imitação da fé dos mesmos.
Minha conclusão é a de que o texto não fala de todo e qualquer líder espiritual, mas do líder que se compromete com o ensino e a vivencia da palavra de Deus, e que é um modelo para os fieis, tanto no ensino quanto na perseverança nas tribulações, quanto na fé. Notemos que o texto nos convida a olhar para a vida e paciência dos mesmo e considerar o fim que eles tiveram, algo que denota, ao meu ver, os homens de Deus que morreram, e tal como os heróis da fé nos deixaram um legado de testemunho autentico. Agora o leitor deve saber porque me fiz e me faço as perguntas supra. Quantos de nós, pastores, poderemos dizer como Paulo: combati o bom combate, acabei a carreira, e guardei a fé, agora só me resta a coroa (..)? De minha parte tudo o que posso dizer é que sei em quem tenho crido, e que estou bem certo que poderoso, para guardar o meu depósito até o dia final, mas espero também poder dizer a primeira frase.
 
Marcelo Medeiros

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A crítica do Pr Ciro Sanches Zibbordi ao MDA



Já faz tempo que sou admirador confesso deste obreiro. Seu livro Evangelhos que Paulo jamais pregaria foi um marco na crítica polemista, para não falar das análises de letras de canções que povoam a mente do povo de Deus, mas cujo conteúdo nem sempre é bíblico. De um tempo para cá os modelos de crescimento têm sido o alvo da crítica deste pastor. Meu interesse aqui neste post é fazer, de forma sintética uma crítica à crítica do nobre Pastor, quanto ao MDA (modelo de discipulado apostólico). A metodologia que vou seguir é bastante simples partiremos de alguns textos que ele mesmo publicou em sua página no facebook e em seu blog pessoal e buscaremos uma análise imparcial, sempre sujeitando nossa opinião à luz da Bíblia.
I) A respeito dos encontros o aludido autor faz as seguintes colocações:

Certos cristãos, após terem frequentado uma igreja evangélica histórica durante anos, descobrem que estavam sendo enganados. Alguns, ao participarem de “encontros” em lugares secretos, passam por uma “lavagem cerebral” mediante uma espécie de regressão psicológica e começam a dizer: “Agora descobri a verdade” (aqui)
Em primeiro lugar gostaria de observar que os encontros com Deus que a Bíblia revela não seguem padrões engessados dos modelos de crescimento criticados pelo autor. Pedro, Tiago e João, por exemplo, tiveram um encontro com Cristo às margens do mar de Tiberíades, ao passo que a mulher samaritana teve similar experiência com Cristo junto a fonte de Sicar. Já Paulo encontrou-se com Jesus de Nazaré em uma estrada de Damasco. Se o negocio de fato é o encontro entre o homem e Deus, este não pode ser submetido a padrões.  
Em segundo lugar a verdade é Cristo, que se revela aos pequeninos, mas se oculta aos sábios e entendidos, e é plenamente possível que uma pessoa viva em ambiente religioso sim, sem conhecer princípios básicos do Evangelho de Cristo, aliás, isto se deu com Pedro, por exemplo, que mesmo sabendo pelo Espírito de Deus que Jesus era o Cristo, não estava pronto para ver no Mestre a figura do servo sofredor. Neste caso, precisamos pensar, o quanto de autoengano existe na questão dos que descobrem a verdade após um grande encontro. Será que o coração dos mesmos estava aberto para a verdade. Contudo, Cristo disse para Pedro: Você não compreende agora o que estou lhe fazendo; mais tarde, porém, entenderá (Jo 13. 7 NVI). Mas um outro aspecto da verdade precisa ser considerado.
A Bíblia diz: Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim mesmo (Jo 7. 17 NVI). Esta é uma das maiores garantias de que crente algum será enganado, ou permanecerá no engano, até porque Jesus prometeu enviar o παρακλητον, ou παρακλητος (parakleton, ou parakletos), cuja tradução pode ser tanto a de conselheiro, quanto a de advogado, embora a maioria das nossas Bíblias traduzam por consolador. a este mesmo Espírito cabe o papel de nos guiar em toda a verdade (Jo 14. 13, 26; 16. 13), de forma que um crente genuinamente nascido de novo pode afirmar que não conhece toda a verdade. Nenhum de nós a conhece em sua plenitude, mas não conhecer plenamente não significa desconhecer totalmente. Assim, jamais um crente pode afirmar que fora enganado, se de fato ele teve, ou tem alguma comunhão com Cristo, que é a verdade.
Por último há que se valorizar sim o ambiente reservado para encontros e descansos, bem como a quebra de rotina. Jesus mesmo lançou mãos deste método para melhor desenvolver a comunhão com os seus discípulos, bem como lhes revelar algo que não poderia se dar em multidões. Mas há de se manter a clara distinção entre VALORIZAÇÃO E A CRISTALIZAÇÃO PARADIGMÁTICA. Do contrário, em sua crítica ao método, ou modelo tradicional de Igreja, o MDA correrá o serio risco de se ver tão cristalizado em seus paradigmas quanto os modelos tradicionais de igreja.
II) Sobre a quebra de paradigmas
Muitas igrejas — inclusive, algumas Assembleias de Deus — têm adotado, nos últimos anos, o modelo da “visão celular”, também conhecido como G12, M12, MDA (Modelo de Discipulado Apostólico), etc. Tal modelo vem sendo apresentado como o mais eficaz meio de “fazer discípulos”. E os seus defensores, que se consideram imitadores da igreja primitiva, afirmam que sua estratégia de discipulado é uma revolução, uma “quebra de paradigmas” e, ao mesmo tempo, um retorno aos princípios da igreja de Atos dos Apóstolos. Não se trata, pois, de mais um programa. A “visão celular” é, modéstia à parte, “o programa” da igreja (aqui).
Minha resposta será curta e grossa.  Em primeiro lugar denominações históricas precisam atentar para a realidade de que o trabalho de evangelização e discipulado tal como Cristo o fez no Evangelho possui, de fato uma dimensão pessoal sim. E isto nos falta dada a incompatibilidade entre a ordem de Cristo e a prática centrada no aspecto institucional da Igreja. Note bem que eu disse prática, visto que no discurso somos o corpo de Cristo, somo um, somos um organismo, etc... .
Em segundo lugar o quadro da Igreja primitiva não pode ser estabelecido salvo por meio de um genuíno avivamento. Como este se dá? Por meio de crentes que se reúnem para orar, ler a Bíblia e edificar a vida um do outro, afinal, de nada adiante quebrarmos alguns paradigmas e estabelecer outros. Não se trata simplesmente de tirar o templo do centro de nossa religiosidade e colocar a casa, mas de colocar o Evangelho no centro de nossa vida.
Trata-se de entender que a comunidade, ou o ajuntamento de pessoas que é a Igreja, que todos somos sacerdotes e que na condição de fomos chamados para anunciar as maravilhas daquele que nos chamou das trevas para luz, que o culto é a nossa disposição em colocar os dons que recebemos pela graça de Deus ao serviço de nosso irmão, e que a missão cristã se dá no viver diário. Isto sim é uma verdadeira quebra de paradigma, visto que ela começa no conceitual, ao invés de se limitar ao formal.
III) Uma questão pontual
Em sua pagina no facebook, o pastor Ciro faz o seguinte e pertinente questionamento:
Se modelos de crescimento como G12, M12 e MDA (Modelo de Discipulado Apostólico) são tão bons e eficazes, gerando milhões e milhões de pessoas devidamente discipuladas, por que não vemos uma mudança real no comportamento da cristandade brasileira? (para você que acessa o facebook leia aqui).
Uma observação bem simples é a de que acho muito pertinente este questionamento. Por meio do mesmo podemos ser confrontados e conduzidos ao principio bíblico de que quem impulsiona o crescimento pleno da Igreja é o Espírito. Mas creio que os que seguem modelos mais tradicionais também deveriam se fazer a mesma pergunta. Afinal, se pregamos o Evangelho, porque este não mais influencia a sociedade da forma que influenciou em momentos históricos passados? E mais, porque não unir discipulado (que não é método, mas ordem de Cristo e centro da missão cristã, conforme lemos no livro de Atos), com a doutrina equilibrada que temos? 
A minha resposta ao primeiro questionamento é na verdade a de Martin Llyodd-Jones, em nossa geração faltam homens regenerados que com seu comportamento pautado no Evangelho de Cristo influenciem o meio onde vivem e partindo desta influência local, estendam a mesma para toda a sociedade. Não se trata de adotar este, ou aquele partido, ou discurso político, mas de vivencia do Evangelho de Cristo.
Minha resposta ao segundo questionamento é que nem sempre nossa ortodoxia, ou nossas ideias revolucionarias são reflexo do Evangelho, como pretendemos que sejam. O discipulado ordenado por Cristo demanda comprometimento e fidelidade ao que Cristo ensinou. E o ensino de Cristo nem sempre foi atrativo à multidão. Daí a fonte de nossa tentação em adaptar o Evangelho ao interesse da multidão para que ele pareça mais atrativo. Mas o processo de regeneração que produz homens que influenciam a sociedade com o seu testemunho se dá por meio deste Evangelho cristocêntrico e bíblico.
De minha parte vou adiantando que a Igreja tem de se reformar, continuamente, e isto, em função da depravação do material com o qual é feita, os homens. Mas esta reforma está além da reafirmação do velho, bem como da inovação a qualquer custo. Paz e benção sobre a vida de todos quantos estão dispostos a provarem a si mesmos e verem se estão na verdade. Na certeza de que os que são guiados pelo Espírito de Deus sempre andarão na verdade.
Em Cristo, Marcelo Medeiros 

Diagnóstico do presente



Publico esta frase do Augustus Nicodemus Lopes, por acreditar, em parte, nas afirmativas da mesma. Creio que esta seja um fiel diagnostico do tempo presente, um tempo marcado pelo comichão nos ouvidos daqueles que seguem suas próprias concupiscências, ao invés de se proporem a seguir Jesus Cristo.
Concordo que haja muito show, e que as nossas liturgias sejam bastante centradas na música, e para a nossa infelicidade, em um tipo de musica que não exalta e nem enleva o povo, e sequer prepara o coração do mesmo para o momento da ministração da Palavra. E é justamente por este motivo que temos apelos e mais apelos emocionalistas no momento da liturgia, mas não temos louvores, uma vez que a condição para os mesmos seja a busca pela genuína doutrina bíblica. Sem crentes compromissados com a palavra, na verdade não há nem louvor, nem adoração.
Louvor e adoração de fato existem quando pessoas que conhecem ao verdadeiro Deus, se reúnem para ouvir a sua santa Palavra. Verdadeiros adoradores são os que após ouvirem a palavra e serem confrontados em seus pecados são impulsionados a proclamarem o Cristo, tal como fez uma mulher de vida duvidosa em Samaria. Tirando isto, é tudo emocionalismo e superficialidade mesmo.
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Lições da páscoa

 
A páscoa foi instituída em Israel em função da libertação do povo de Israel da terra do Egito. O termo הַפָּ֑סַח (pescha), de passagem é uma menção à passagem do destruidor sobre o Egito, quando os primogênitos egípcios morreram e os israelitas foram poupados. A celebração da referida data serviu e ainda serve de memorial ao povo a respeito do que Deus fez pelo mesmo.
Os três elementos constituintes da pascoa são o cordeiro pascal, que deveria de ser imolado e comido, bem como o pão sem fermento (visto que em função da pressa com que o povo tinha de celebrar, e sair, não daria tempo para que o pão levedasse), e as ervas amargas a fim de que o povo se lembrasse do sofrimento no Egito. O cordeiro, lembra que a redenção espiritual somente se dá por meio de sacrifício de sangue. O pão sem fermento aponta para a pureza. E as ervas para as lições do sofrimento.
Vivemos em uma cultura que por ter rejeitado crenças metafisicas busca de qualquer maneira trazer o paraíso para a terra. Deste modo, a ciência, a religião, tudo é usado para amenizar o que não tem remédio, o sofrimento humano. Por mais incomodo que seja, este ainda é o meio para que o ser humano se torne humano de fato. Daí a necessidade de que o sofrimento não seja esquecido, mas continuamente trazido á memoria.
Quando Jesus celebrou a sua última pascoa, ele ordenou aos seus discípulos que sempre que fizessem aquele ato, o fizessem em memoria dele. Sua vida, exemplo, ensino, sofrimento, morte, e posteriormente a ressurreição deveriam estar na mente dos discípulos. Creio juntamente com Stott, que a fé cristã ainda é a que melhor explica o sofrimento e mais aponta para a vitória sobre o mesmo. Afinal, a morte injusta de Cristo, e sua vitória sobre a morte ainda são o melhor sinal de esperança para nós. A alternativa budista me é sedutora, mas não visceral. Ali o que resta é a crença de que o mal é uma ilusão, quando sabemos que não é, e cruzar as pernas diante de um calmo lago esperando por iluminação. Há momentos em que gostaria que a vida fosse assim, mas não é. Daí minha clara preferencia pelo nazareno dilacerado, sangrando dizendo: Está consumado!
Sabe, ele ainda em vida havia dito que quando fosse levantado no madeiro haveria de atrair todos para ele, e eu mesmo com minha tendência a negar e fugir do sofrimento, fui seduzido pelo Cristo crucificado e conquistado pelo ressurreto. Sou um dentre os despojos que ele conquistou quando triunfou na cruz, e desta condição não quero sair. Sou todo dele, pertenço a ele, Jesus é o meu tesouro pelo amor. Tal como ocorreu com a pascoa judaica, quando os primogênitos passaram a ser herança de Deus, e como tais resgatados, sou possessão divina. Nisto está toda a minha liberdade e toda a minha esperança.
 
Em Cristo Marcelo Medeiros

Os dez mandamentos do Senhor


Após sucessivas experiências do povo com Deus, o Senhor estabelece uma aliança, um pacto, um acordo com o povo de Israel. Lemos no texto bíblico que Em Mara o Senhor lhes deu leis e ordenanças, e os colocou à prova, dizendo-lhes: Se vocês derem atenção ao Senhor, ao seu Deus e fizerem o que ele aprova, se derem ouvidos aos seus mandamentos e obedecerem a todos os seus decretos, não trarei sobre vocês nenhuma das doenças que eu trouxe sobre os egípcios, pois eu sou o Senhor que os cura (Ex 15. 25, 26 NVI). Se avançarmos na leitura do texto de Êxodo na íntegra, veremos a ocorrência de mandamentos e mais mandamentos que Deus vai entregando ao povo a fim de que o mesmo sob orientação de sua palavra desfrute o bem do Senhor. Neste estudo pretendo fazer uma breve exegese do texto em que se baseia a lição da Escola Bíblica Dominical, visando uma maior compreensão do que sejam mandamentos no sentido judaico do termo, bem como o contexto em que os mesmos foram entregues. Pretendo ainda explorar o sentido de cada mandamento e as implicações do mesmo no relacionamento do crente com a lei.
 
I) O fundamento hermenêutico e exegético
 
No texto bíblico supra observamos a ocorrência de três termos: 1) חֹ֥ק (Hoq), que pode ser ordenança, limite, decreto, estatuto; 2) מִשְׁפָּ֖ט (mispath), o sentido aqui pode ser o de ordenança, mas também o de julgamento; 3) מִצְוֹתָ֔יו (mitsvat, ou mitsvain), usualmente empregado para mandamentos. O termo pode significar uma orientação , tal como as que Deus deu a Abraão. É neste sentido que se afirma: Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado [מִצְוֹתַ֖י], os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis (Gn 26. 5 ARCF). O mesmo se aplica em relação à recusa do povo em atender as orientações do Senhor quando á coleta do maná, e a reserva do mesmo para o dia de sábado (Ex 16. 28).
De fundamental importância para o nosso estudo é a compreensão de que os mandamentos não são dados visando serem um fardo para o povo de Israel. O Senhor mesmo o diz: Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre (Dt 5. 29 ARCF). Aqui fica implícito que a razão de ser do mandamento: o bem do povo como da posteridade do mesmo, mas o argumento não se esgota aqui. Não bastasse o bem do povo Deus ainda diz:
Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.
Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal; Porquanto te ordeno hoje que ames ao Senhor teu Deus, que andes nos seus caminhos, e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, para que vivas, e te multipliques, e o Senhor teu Deus te abençoe na terra a qual entras a possuir
(Dt 30. 11 - 16 ARCF). 
O texto em apreço nos coloca diante do fato de que não existe nos mandamentos divinos uma única ordenança que se constitua como um jugo para o homem. Por meio do preceito Deus coloca a sua vontade de forma acessível ao povo. O texto nos coloca diante de um dilema, uma vez que por meio de uma leitura parcial temos aprendido a crer, de forma errônea que a lei se constituía um fardo pesado para o povo, quando este texto nos coloca diante de uma outra realidade, a de que o mandamento nem é difícil, e nem pesado.
Este pensamento não é compatível, por exemplo, com as declarações de Davi, que afirma: Eu me apressarei e não hesitarei em obedecer aos teus mandamentos (Sl 119. 60 NVI).  Eu amo os teus mandamentos mais do que o ouro, mais do que o ouro puro (Sl 119. 127 NVI), e: Dirige-me pelo caminho dos teus mandamentos, pois nele encontro satisfação (Sl 119. 35 NVI). Estas declarações não são compatíveis com o judaísmo rabínico posterior, que desenvolveu o conceito de justiça do direito. Não Davi sabe que é pobre e necessitado (Sl 40. 17; 86. 1). A palavra pobre do hebraico עָנִ֖י (ani), assim como o grego πτωχοι (ptochós), indica o homem totalmente confiante em Deus, logo, dependente do favor divino, que sabe que precisa contar com a graça do mesmo.
Se há algo que tem me tomado inteiramente em teologia é a compreensão de que a lei de Deus somente pode ser obedecida por corações voltados para Deus, e que o amam inteiramente. Não foi sem razão que antes de pedir ao povo que guardasse seus mandamentos, o Senhor lhes ordenou que o amassem de todo o coração (Dt 6. 5), indicando com isto que tudo o que precisavam para obedecer aos mandamentos e leis era um coração circuncidado.
Davi percebe isto como ninguém, e com os olhos em sua total pobreza ele clama a Deus: Ensina-me o teu caminho, Senhor, para que eu ande na tua verdade; dá-me um coração inteiramente fiel, para que eu tema o teu nome (Sl 88. 11 NVI). Ele sabe que para andar na verdade de Deus, ele precisa ser ensinado pelo próprio. Mais do que isto, seu coração precisa ser renovado para que possa amar a Deus e temer o seu nome. Isto é consciência da dependência de Deus, que é o fundamento da doutrina da graça ainda no Antigo Testamento.
O problema no qual a lei vai se esbarrar é o coração humano, que se mostra mau e predisposto a não fazer aquilo que Deus de fato quer. Paulo vai expressar esta verdade nos seguintes termos:
Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; [...] a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo (Rm 8. 5 - 7 NVI). 
Esta é a verdadeira razão da impotência humana no que tange à guarda da lei, visto que não exista ser humana que não possa afirmar como Paulo: nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo (Rm 7. 18, 19 NVI). Mas na medida em que o homem recebe um novo coração e com este o Espírito de Deus em sua vida ele é capacitado por Deus para a obediência dos mandamentos (Ez 36. 26 - 31).
Aqui há de se compreender que a obediência da lei se estende ao cristão pelo fato de a mesma ser eterna e de Jesus ter afirmado que não veio para revogar a mesma, mas para a levar à plenitude. Com isto, o mesmo Cristo afirmou que nem um til, ou iota (י), as menores letras do alfabeto hebraico perderiam a sua validade. Mas ele também deixou claro que o cumprimento da lei se estende para além da relação legalista dos escribas e fariseus. O cumprimento da lei, por parte do crente demanda a superação de todo justiça aparente, sendo possível somente para homens que sabem que dependem da graça do Senhor, para que este os conceda um coração puro e disposto a obedecer em tudo (Mt 5. 3, 9, 17 - 20). Contudo, esta obediência não se trata de desempenho no cumprimento da mesmo visando a nossa salvação. A lei não salva ninguém.
Uma última leitura exegética da lei, de extrema importância para a nossa compreensão a respeito do relacionamento entre o crente e lei, é o contexto aliancista. Com isto queremos dizer que a despeito do caráter eterno da lei, ela foi dada em meio a uma aliança que Deus estabeleceu com Israel. Ouçam, ó Israel, os decretos e as ordenanças que hoje lhes estou anunciando. Aprendam-nos e tenham o cuidado de cumpri-los. O Senhor, o nosso Deus, fez conosco uma aliança em Horebe (Dt 5. 1, 2 NVI). Estritamente sob este aspecto o crente está desobrigado da lei, no sentido de que esta não mais é a base da aliança que Deus fez conosco em Cristo (Jr 31. 31 - 35).
 
II) Os dez mandamentos
 
A lei não se resume aos dez mandamentos. Sabe-se que estes são, na verdade, um resumo da lei, que na verdade é um código de seiscentos e dezoito leis, estatutos e ordenanças. Assim o decálogo é de caráter didático, visando a memorização, por parte do povo, dos princípios básicos que norteiam a conduta do povo eleito. Assim, temos princípios de conduta do homem para com Deus, e para com o seu próximo. Não foi sem razão que a tradição rabínica resumiu os dez mandamentos em dois (e neste aspecto, Cristo consentiu com eles), a saber:
Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mt 22. 37 - 40 NVI).
Note que Cristo diz que estes são os maiores mandamentos, e depois afirma que toda lei e os profetas dependem destes mandamentos. Paulo vai além explicando que: estes mandamentos: "Não adulterarás", "não matarás", "não furtarás", "não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei (Rm 13. 9, 10 NVI). No tocante a este texto, gosto da tradução da Bíblia de Jerusalém que diz: aquele que ama cumpriu plenamente a lei, visto que traduz melhor a expressão grega πληρωμα ουν νομου (pleroma oin nomon). Assim, vamos aos dez mandamentos.
Convém considerar que antes de ordenar o que o povo poderia, ou não fazer, Deus arroga para si o direito exclusivo sobre Israel. Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão (Ex 20. 2 NVI). Como redentor do povo, ele tem direitos exclusivos sobre o mesmo, assim a adoração ao Senhor tem de ser restrita. Daí a ordem: Não terás outros deuses além de mim (Ex 20. 13 NVI). O segundo mandamento não é uma restrição á fabricação de imagem. Este é um ponto que os católicos percebem e exploram muito bem. O próprio Deus restringiu imagens dele, mas autorizou que se confeccionasse imagens de querubins. Indicando com isto que a essência do mandamento é que não se adore a nenhuma imagem, conforme entendemos da segunda edição da lei em que lemos:
No dia em que o Senhor lhes falou do meio do fogo em Horebe, vocês não viram forma alguma. Portanto, tenham muito cuidado, para que não se corrompam e não façam para si um ídolo, uma imagem de qualquer forma semelhante a homem ou mulher, ou a qualquer animal da terra ou a qualquer ave que voa no céu, ou a qualquer criatura que se move rente ao chão ou a qualquer peixe que vive nas águas debaixo da terra. E para que, ao erguerem os olhos ao céu e virem o sol, a lua e as estrelas, todos os corpos celestes, vocês não se desviem e se prostrem diante deles, e prestem culto àquilo que o Senhor, o seu Deus, distribuiu a todos os povos debaixo do céu (Dt 4. 15 - 19 NVI). 
Esta é base do segundo mandamento. Os evangélicos podem admirar uma escultura, e a arte em geral, podem ter consigo uma foto de uma pessoa querida, mas jamais poderão se prostrar diante de quaisquer destas formas de representação sem que com isto se comprometa a identidade evangélica e a integridade espiritual, visto que um mandamento está sendo violado. O terceiro envolve a questão da profanação com o nome de Deus na medida em que se vale do nome do mesmo em juramentos, com vistas a dar credibilidade à nossa palavra.  Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão (Ex 20. 7 NVI).
O quarto mandamento é na verdade um memorial, afinal no lugar do famoso  não (heb. לֹֽא [lo]), vemos o verbo זָכֹ֛ור֩ (zakar), que aqui constitui-se como apelo à lembrança. A ideia de um dia separado para descanso, vai além da ausência de atividade laborativa, engloba a total confiança em Deus e o espaço para reflexão de que na verdade todas as coisas procedem dele. Ele é o criador e o mantenedor da vida.
A honra de pai e de mãe, do hebraico כַּבֵּ֥ד (kebed), vai bem além da obediência reverente, bem como do pudor, e da distinção para com os mesmos. Honrar aqui é manter, sustentar os mesmos em sua velhice, afinal naqueles idos tempos não havia previdência social. Assim, na velhice quando não mais podiam arar a terra, poderiam e deveriam ser amparados por seus filhos.
Os demais mandamentos implicam na honra que temos para com o próximo e tem no amor a motivação para a guarda dos mesmos. A lei passou por sucessivos resumos ao longo da progressão da revelação no Antigo e no Novo Testamento. No deuteronômio, guardar a lei é sinônimo de amar a Deus sobre todas as coisas (Dt 6. 5 - 12). Nos salmos a guarda da lei pode se sintetizada desta forma:
Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos. Ele receberá bênçãos do Senhor, e Deus, o seu Salvador lhe fará justiça (Sl 24. 3 - 5 NVI).  
ser limpo de mãos, puro de coração, não se entregar á vaidade, isto é guardar a lei, na íntegra. Mas este texto trabalha a justiça a partir da ótica de relacionamento entre o homem e Deus. Miquéias, profeta que exerceu sua atividade no Reino norte, já traz a justiça de uma perspectiva que considera Deus e os homens. Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus (Mq 6. 8 NVI). Em ambos os casos a demanda fica por conta de um coração puro.
 
CONCLUSÃO
 
Paulo desenvolveu um pensamento de que a justiça de Deus prenunciada pela lei e pelos profetas foi cumprida em Cristo nos corações dos que ao recebem. Embora nossa justiça não seja oriunda da lei, a mesma ainda permanece como parâmetro, ou como evidência de que fomos realmente salvos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Atriz global abandona o lesbianismo


Ao ver o meu mural no facebook, me surpreendi com estra matéria interessante. Ao acessar este link me deparei com um texto provocativo, que faz análise nua e crua de uma realidade, a de que nem toda pessoa que vive um relacionamento homossexual o faz por uma questão de um possível determinismo genético. Na verdade fatores culturais e  emocionais entram em ação. A julgar a matéria como verdadeira a atriz se sentia impedida de ter relacionamentos com homens em função de traumas de infância, visto que foi abusada, e por insegurança, visto quem em função das medidas não se sentia segura para seduzir um homem.
O mais interessante é que tão logo a atriz se separou, de sua companheira e sócia, com que morou dez anos, ela se relacionou com vários homens, mas a reorientação de Claudia, que nada tem a ver com uma possível conversão religiosa, mas com uma nova postura psíquica e cultural; não teve na mídia o mesmo espaço que o casamento gay de Daniela Mercury, por exemplo, o que aponta de forma inteligente a ditadura gay que se tenta estabelecer neste pais. Ainda no mesmo site acessamos informações em que Walcir Carrasco afirma ter sido pressionado pelo grupo LGBT, após se declarar como bissexual.
em entrevista à folha de São Paulo a atriz declarou:
Não tinha sensualidade, era muito mais gorda do que sou hoje. Não tinha forma nem vaidade. Achava que não tinha cacife para seduzir um homem. Como tinha de ser amada, me joguei nas mulheres”, declarou a atriz numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
O que gostaria de ressaltar aqui é que atualmente a terminologia opção sexual, tem sido substituída por orientação sexual. Não se trata de uma questão semântica apenas, mas de questão de ideologia sexista, visto que o grupo LGBT tem como principal justificativa do comportamento homoafetivo a predisposição, seja psíquica, seja genética. As declarações de Cláudia contribuem para que se desminta este tipo de mito. Possa ser que de fato existam homossexuais cuja orientação é algo que procede de berço, mas por que acreditar que este seja o caso de toda forma de homossexualidade? Claro que não! Existe sim casos em que se aprende a ser o que é, não é á toa, que mesmo mudando a terminologia os defensores pró homossexualidade caíram em uma terminologia que pressupõe aprendizagem, orientação. Que fique claro, no caso da atriz, foi insegurança quanto à feminilidade, algo que precisa ser levando em conta caso se queira sim discutir o assunto de forma séria.
 
Marcelo Medeiros

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Dilma bolada Out


A notícia do momento é a possibilidade de Jefferson Monteiro retirar a pagina Dilma bolada do ar, caso a comissão de Direitos Humanos e Minorias seja assumida por Bolsonaro. A informação pode ser conferida aqui. O curioso nisto tudo é que o portal O Globo deu outra explicação para a possibilidade de Dilma Bolada sair do ar. A desculpa? O ano eleitoral e a possibilidade de que as charges ali sejam usadas por adversários da presidenta para minar suas investidas ao segundo mandato (aqui).
Se existe um direito que ele tem, e qualquer cidadão tem, é o de tirar e colocar paginas no ar, afinal somos um pais em que a carta magna prevê o direito à liberdade de expressão. Curioso no fato apenas o modo de se exercer a cidadania, usando uma página, infelizmente curtida por mais de um milhão de pessoas como moeda de troca política. Digo infelizmente porque o apreço social por este tipo de entretenimento talvez revele uma patologia de nossa geração, que é o apreço pelo picante sem conteúdo, pela vulgaridade e pela superficialidade.
É fácil se simpatizar por causas homoafetivas, difícil é um comprometimento político com as causas sociais e trabalhistas. A fala de um estudante de publicidade com acesso e aceitação na rede tem maior peso do que a de um professor, por exemplo. Sobre a possível nomeação do Bolsonaro, há que se perguntar porque esta comissão está sendo frequentemente assumida por parlamentares que não possuem a mínima empatia com o público a que a mesma se destina. Sei que não é a presença, ou a ausência de empatia que determina a qualidade do trabalho de um parlamentar (em tese ao menos não deveria ser assim). Mas os militantes não entendem desta maneira, e por este mesmo motivo criam embaraços, como ocorreu com Feliciano. Resultado, não ocorrem avanços na comissão.
Minha questão aqui não é com o Bolsonaro. A despeito do ódio que os militantes dos direitos humanos das minorias possuem contra ele, o papel do mesmo foi de suma importância no debate face às estratégias que os militantes LGTB estavam adotando para a implementação de leis que criminalizassem a homofobia, ao ponto de criminalizar o direito de expressão. Minha discordância é com a política de distribuição de comissões. O que ficou patente no caso de Marcos Feliciano, que enquanto assumia a CDHM, criou estardalhaço e ruído na mídia. O barulho não seria de todo ruim se os mensaleiros e outros parlamentares de conduta suspeita não tivessem assumido a Comissão de Constituição e Justiça (aqui). Em outra ocasião o mesmo barulho em torno da pessoa do Pastor Deputado foi suscitada para encobrir escândalos (aqui). A questão para mim, não é Feliciano, ou Bolsonaro (por quem tenho sim simpatia), e ,muito menos Jefferson, mas o que o PT quer esconder desta vez, e que papel o criador do Dilma Bolada, ou a impressa tem nisto tudo.
 
Marcelo Medeiros

O oportunismo como forma de compensação


Acabo de acessar três artigos do blog belverede, todos de autoria do Eliseu Antônio Gomes, em que ele critica a falta de talento de uma nova classe artística que arroga para si o título de humoristas, quando na verdade tudo o que fazem é produzir vídeos e piadas irritantes e ofensivas para religiosos (este é a visão do autor). Exemplo? Fabio Porchat, que após ameaças de morte, por parte de internautas, foi procurar a própria policia que havia escrachado em um show, e o grupo portas dos fundos, que insiste no achincalhamento de cunho religioso (aqui, aqui, e aqui). Revelando o profundo mau gosto dos citados.

A esta altura, o leitor, inteligente como é deve estar se perguntando: se algum blogueiro já escreveu, por que você insiste neste assunto Marcelo? Minha resposta é muito simples, não creio que o problema deste pessoal seja a mera falta de talento. Não! Creio que o problema seja o oportunismo associado a um gosto grotesco por parte do nosso povo.

O caso de Fabio Porchat (integrante do grupo porta dos fundos, mas que também segue carreira solo), é bem simples, não consigo achar graça em tudo o que ele fala, ou faz. Ele é muito diferente de um Mussum, por exemplo, ou de um Zacarias, antigos componentes do grupo os trapalhões, que apenas com as expressões faziam qualquer pessoa rir. Também não é o humor inteligente de Jô Soares e Agildo Ribeiro, por exemplo, muito menos a criatividade de um Chico Anysio (que mesmo sem ter graça era interessante pela capacidade de criação de personagens e de temáticas, como é o caso da Escolinha do Professor Raymundo).

No caso do grupo Porta dos fundos (um nome bem simbólico, teria ele alguma conexão com a forma com que o grupo ascendeu no cenário artístico? é um caso a se pensar e pesquisar). Algumas temáticas abordadas por eles são interessantes, como o achincalhamento que eles fizeram com a atual presidenta durante a primeira onda de manifestações. Mas em relação ao Porchat e ao Porta dos fundos, não quero me deter no talento dos mesmos e nas comparações com os humoristas clássicos, mas em um aspecto comum, a seleção das temáticas.

Nos dias atuais a dificuldade de sobrevivência dos artistas tem sido dura por demais, falo por experiência própria, afinal, não fosse musico militar, por exemplo, dificilmente sobreviveria em um país que trata a arte como sub emprego, ou coisa de desocupado, um Estado em que o ministro da educação pergunta para quê museu. E creia, não se tratava de mera ignorância, mas de um lapso freudiano mesmo haja vista que a cultura e tudo o mais que possa despertar o pensamento crítico não se enquadra na pauta do atual governo. Diante disto o que resta aos novos artistas é a apelação ao que apesar da ausência de conteúdo artístico possa chocar, ou seja o assunto do momento.

Assim, quando as manifestações estavam em alta o grupo Porta dos Fundos investiu na temática, e o vídeo foi bem acessado. Mas o assunto do momento é a Religião, e dentro do cenário religioso não há quem cause mais polemica do que católicos e evangélicos (os cristãos), em razão de suas posições quanto ao aborto, união civil entre iguais, tratamento psicológico para gays que se sentem em conflito com a sua sexualidade.

Meu problema com este tipo de manifestação artística é que a mesma é feita com base na estereotipia, que por sua vez mais do que achincalhar, acaba por criar um falso modelo, mas que fica si, inculcado na mente dos que assistem a produção. A religiosidade é reduzida a um comportamento desprovido de originalidade e de adequação à situação presente, e caracterizado pela repetição automática de um modelo anterior, anônimo ou impessoal. É como se todo crente fosse desprovido de capacidade criadora e na sua pratica religiosa apenas fizesse aquilo que as gerações passadas fizeram, o que é mais do que falso, tanto para quem vive, quanto para quem estuda a religião. Neste caso, a despeito da liberdade de expressão, o humor do Porta dos Fundos é um desserviço à população e a educação, visto que promove sim o preconceito.

O que fazer, proibir o Porta dos Fundos de se expressar contra evangélicos e religiosos em geral? De forma alguma! Neste mundo o crente tem de estar preparado para ser o melhor cidadão possível (não falo isto a partir de uma ótica das aparências), e ainda assim ser mal falado. O que não pode acontecer jamais é que façam estereotipia do cristão e estejam certos, pois a exatidão dos mesmos é sinal de algo vai muito mal com quem é cristão.

Sobre Porchat, ele está sendo ameaçado na internet em função de um vídeo em que encena um inversão, na qual dois cidadãos humilham dois policiais (vi o vídeo e achei a mensagem bem simbólica [aqui]). O vídeo recebeu repostas calorosas nas redes sociais, e pesa sobre o blog do soldado (aqui). O vídeo em questão é duplamente humilhante, primeiro pelo revanchismo, segundo, por não pontuar que policiais são humilhados pela sociedade em função da desumanização que sofrem. São vistos não como seres humanos, mas como máquinas de segurança publica, pior, são visto como peças substituíveis numa engrenagem, (já falei sobre o assunto [aqui]). Isto é a mais flagrante desumanização, com o agravo de que não se pode processar a sociedade em tribunal por tal ofensa dado o caráter subjetivo da mesma, e do aspecto positivo do nosso direito. Resultado o humorista vai depender da própria policia que esculachou no vídeo. Seria cômico se não fosse trágico.

Para não me afastar da proposta do post, afirmo que  o aludido humorista foi na onda do momento, que é criticar a polícia, mas não o fez com inteligência, mas de forma ofensiva, e o humor azedou, e muito. Isto não é questão de talento, mas de oportunismo claro, e os efeitos do oportunismo são contrários ao do humor. Mas quando se falta humor, é ao oportunismo que se recorre.
Marcelo Medeiros

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Não podendo comprar é legitmo roubar?


Li recentemente uma matéria em que a senadora Ana Rita (PT-ES), afirma que s furtos não devem ser vistos como um problema criminal, mas social, uma vez que muitos dos casos são motivados pela equação entre os estímulos da propaganda, a incitação ao alto consumo e a dificuldade da pessoa em lidar com sua inadequação financeira (aqui). Mais uma vez os líderes, os intelectuais de plantão se demonstram ótimos na analise do problema, mas inadequados em prover uma solução para o mesmo. Sei que não sou parâmetro, e sei do relativismo de nossa sociedade. Mas tenho dificuldades com tal ideia. Sou de uma época em que batalhava-se pelo que se quisesse ter, e se não pudesse ter paciência. Mas o assunto não se esgota aí. A proposta foi recebida com suspeita pelo público, e queira o leitor, ou não, quem a interpretasse como o reflexo de uma política de protecionismo à marginalidade. Temo pelo possa vir adiante. Descriminalização de crimes e criminalização de direitos, como o da liberdade de expressão? Confuso!
Contudo, ao ver a situação sob o prisma intelectual, vislumbro uma hipótese significativa para a interpretação e reflexão sobre o fato. Este tipo de ação trágica se explica. É o estado querendo resolver aquilo que se resolve exclusivamente a partir do foro intimo do individuo. É por causa dos valores que o sujeito traz consigo que ele supera a dificuldade financeira e a excessiva exposição dos estímulos da propaganda. O que faz um homem ser ético?! Isto é um dilema, parece que desde os dias de Sócrates e Platão, até os dias atuais. O que é ética? Fico com o Cortella, que diz ser a ética um conjunto de valores que orientam a conduta do individuo (o texto na íntegra pode ser acessado aqui). Neste mesmo textos, os antiéticos e os aéticos, o autor afirma que mesmo bandido tem ética, porque eles tem um conjunto de princípios que os permitem julgar.
É neste ponto que a questão recai sobre a educação, e quando falo em educação, não falo da especializada, mas do fenômeno que ocorre quando seres humanos transmitem saberes, valores e conhecimentos uns aos outros na dinâmica das relações sociais. É o que ocorre na família, na Igreja, na sala de aula, no recreio, no bobs, mac donalds, cinema, na sala de estar, no quarto, na área, nos estádios, etc.... Para julgar o papel da educação na formação de valores que irão constituir a ética do sujeito, ou o tecido ético social, há de se ir para além das salas de aula. Necessário se faz com que se capte os valores que a sociedade transmite aos indivíduos. Desde a Grécia antiga, a busca pela felicidade foi de suma importância no desenvolvimento dos valores que constituem a ética. Mas os gregos antigos entendiam que a felicidade estava na vida bem ordenada. Na proposta platônica esta se dava a partir da justiça, da prudência, ou sabedoria, fortaleza, ou valor, e temperança. Sei que existem muitas outras visões a respeito do assunto, mas não posso me deter nas mesmas neste post.
O que quero afirmar aqui é que na minha leitura, percebo que a busca da felicidade de alguma forma se subordina à busca do sumo bem. Na concepção aristotélica existem varias formas de bens e eles variam tanto quanto os seres, mas mesmo neste pensador se percebe a busca pelo bem supremo, que por sua vez norteia outras formas de bem. Creio ser isto o que falta em nossos dias. E não é para menos, visto que a cultura atual é a de massificação. Com a cultura de massa a individuação perde o seu espaço, na verdade, ser individuo hoje é uma verdadeira via crucis. Daí que a alternativa viável para grande parte das massas seja o enquadramento neste, ou naquele papel. Ou o homem consumista, ou o trabalhador eternamente frustrado, ou o playboy, ou o adolescente que comete furtos.
Algum setor de nossa sociedade tem de começar com este processo de desconstrução, e o mais indicado seria a Igreja. Disse seria porque na verdade a própria Igreja tem sido engolida neste processo e como tal se tornado mais um produto atraente do mercado, mas ainda assim, é de lá que vem algumas vozes da resistência. E defender a moderação em uma sociedade hedonista, que em consequência de tal hedonismo incentiva demasiadamente o consumo e caminha para minimização dos delitos; é um trabalho hercúleo. Na verdade, é um trabalho para homens regenerados, que assumem seu papel como sal e luz e com o seu comportamento evitam a degeneração de nossa sociedade.
 
Marcelo Medeiros.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Lição da CPAD, para o segundo trimestre de 2014


De acordo com o editor do blog belverede as lições do segundo trimestre de Escola Bíblica Dominical irão focar os dons espirituais. O autor é o Pastor Elinaldo Renovato. Com esta lição se quebra uma cadeia de lições com temas bíblicos e inicia uma discussão de teor temático. Contudo, o estudo é de suma importância, uma vez que a despeito de sermos uma denominação pentecostal, cujo crescimento, notadamente se deu a partir da ênfase nos carismas, hoje vivenciamos uma crise paradigmática e teórica, o que nos força a estudar o assunto.
Outro excelente aspecto da lição é trazer lições que permitem a discussão de temas atuais tais como apostolado, dom de profecia e ministério profético. Acima de tudo, creio que esta lição vai abrir nossos olhos para um modelo mais orgânico de Igreja, centrado no serviço a Deus e aos homens, literalmente.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Campanha adote um bandido


A frase da jornalista do SBT Raquel Sheherazrd, provocou um mal estar tremendo em nossa sociedade. Os motivos já disse aqui neste espaço. O comentário da mesma desmascarou a complacência de uma sociedade contraditória que busca a paz sem a correção das mazelas sociais e num ataque de crise de consciência transforma menores infratores em vitimas e agentes da lei em algozes, contribuindo para o enfraquecimento do poder do estado e para o levante de ações paralelas, como a dos "justiceiros" que amarraram a pobre vítima ao post.
Creio firmemente que a justiça com a própria mão à moda Charles Bronson não resolve o problema. Mas quem pode negar que a mesma seja uma consequência inevitável de uma equação cujos componentes são as ondas de violência e a ineficiência do Estado? Embora entenda e respeite a opinião de Raquel Sheherazard, creio que como cristã lhe tenha escapado a percepção de que por trás de tal dinâmica opera o pecado, ou caso você seja um secularista, a ambivalência humana.
O motivo de escrever este post aqui é que tem crente afirmando por aí que um cristão não poderia afirmar o que ela afirmou uma vez que Cristo levou um marginal para casa, o ladrão da cruz. Minha observação aqui é a seguinte: a grande ironia desta observação é que Jesus não levou um bandido qualquer levou um bandido que se reconhecia merecedor da tortura que estava sofrendo. Além do mais em nossos dias os bandidos não se reconhecem como errados e ainda por cima ninguém os leva para casa, nossa sociedade apenas sente dó.
Não creio em caridade feita para qualquer pessoa. Até porque a mesma caridade que é descrita como sofredora, é igualmente amante da justiça e da verdade. Creio que parte de uma possível solução para os problemas referentes à violência em nosso pais, passa pelo reconhecimento sim da natureza pecaminosa que os homens trazem. Mas falarei a este respeito em outro post.
 
Marcelo Medeiros, em Cristo.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Nova Polêmica envolvendo Rachel Sheherazade

 
Não faz sequer uma semana que postei aqui uma critica ácida à hipocrisia social, que produz a lógica dos dois pesos duas medidas. Me espanto diante da revolta e da comoção nacional, bem com da ênfase excessiva que a mídia dá à violência contra o menor, que não é qualquer tipo de menor, mas especificamente um menor infrator. Embora reconheça que mesmo estes tem seus direitos garantidos na constituição, me pergunto porque tamanho comprometimento social (se é que possamos chamar assim com a causa da violência contra os mesmos), e a ausência da mesma quando um trabalhador, um representante do Estado, é igualmente vitimado. Confesso que fico estupefato diante de tal contradição. Expus meu espanto aqui.
Volto a este assunto após a polemica suscitada pelo comentário de Rachel Sheherazade, jornalista do SBT ao fato relacionado com a exposição e vexação pública do menor que sob pretexto de o mesmo estar cometendo furtos e outros delitos em uma área nobre do Rio de Janeiro. A jornalista em tese disse mais que o obvio, no lugar de prestar queixa contra os seus agressores, o menos preferiu fugir, ação plenamente compreensível se observarmos que o mesmo já tem passagens na delegacia. O motivo? furtos.
O comentário da jornalista, é que ação dos agressores é compreensível dada à realidade da violência, a omissão e ineficiência do estado frente às ondas crescentes de criminalidade, este é o resultado mais do que esperado. Minha citação embora seja uma paráfrase expõe a compreensão mais do que obvia das palavras da jornalista. Ainda que ao final do vídeo ela tenha caído em desgraça quanto ao comentário, no total esta é a essência da opinião da jornalista.
Embora não concorde em tudo com o que Rachel Sheherazade fale em seus comentários, entendo que neste em particular ela errou apenas quando disse que a ação dos agressores que amarraram o menor era justificável, ao passo que o termo correto é compreensível, e passo a explicar o porquê. Sabemos que a natureza humana é ambivalente. Ao mesmo tempo em que é capaz de praticar ações nobres, o ser humano traz em si o potencial para a igualmente cometer os atos mais hediondos. Como cristão que sou acredito nesta ambivalência e mais ainda afirmo o caráter paradoxal do ser humano. Neste paradoxo não há necessariamente preto e branco, mas zonas cinzentas. Em termos práticos, sabemos o que é a justiça, mas o nosso senso de justiça pode ser maculado, distorcido e na aplicação da mesma (o que em si é uma usurpação, visto que no estado de direito a aplicação das penas é uma atribuição exclusiva do mesmo). Mas o mesmo pode ser dito do menor, que para sobreviver apela ao furto. Conclusão, violência gera violência! Ainda que a ação seja ilegítima, não se faz necessário um QI elevadíssimo para entender que ela é mais do que natural, do contrario sequer teríamos leis que coibissem tais ações. Foi com esta ótica que li e entendi o comentário da jornalista. Creio que não seria difícil à assessoria de imprensa do referido canal fazer tal alegação, mas no lugar de explicar, os diretores tiraram o corpo fora.
Gostaria de extrair algumas lições do fato. Em primeiro lugar, já não é de hoje que Rachel Sheherazade é tachada de reacionária, ultraconservadora, fascista, elitista, escravocrata (veja alguns comentários neste artigo aqui). Embora não concorde com tudo o que ela fale, e ainda, entenda que boa parte de suas opiniões são rasas, logo destituídas de profundidade, reconheço que uma coisa é apontar a superficialidade, os lapsos, conforme feito acima; ou as idiossincrasias em seus comentários, outra é estereotipar a apresentadora simplesmente pelo fato de sua opinião não se coadunar com a aquilo que Pondé chama de praga politicamente correto. Infelizmente a estereotipia tem sido a arma mais recorrente dos ditadores da praga PC. Pior do que isto somente o suposto caso de um professor universitário, ou de alguém usando a sua conta no twitter, que desejou que ela fosse abraçada por um tamanduá após ser estuprada.
Segundo, fatos como este trazem á tona, que a despeito de nossa constituição garantir a liberdade de expressão a logica que rege as nossas conversações ainda é profundamente marcada pelo legado histórico da ditadura. É proibido, mas expressamente proibido pensar diferente, do contrario, nos iremos estereotipar você. Infelizmente é esta a mensagem que leio em todos estes acontecimentos. É a intolerância dos defensores da tolerância e a ditadura dos autocratas que se ocultam atrás do discurso pró liberdade.
Terceiro, me enojo diante da vitimização que se faz á figura de menores infratores tal como no caso do que fora amarrado. É como se ninguém soubesse que inúmeros jovens que ingressam no trafico, bem como em outras modalidades de crime, estão com sua sina selada. Qual? a de uma morte prematura! E sabe o que me espanta? A desconfiança de que algum sociólogo percebeu isto, fez algum trabalho sobre o tema, mas que, nem de longe, ganhou repercussão na mídia. O bando que amarrou o menor em um poste não pode ser tratado como heróis à moda Charles Bronson, e nem o menor como vítima do bando. Ali ambos são algozes, são feras, cada um á sua maneira, mas é isto que são. Sei que estou indo na contramão da cartilha do politicamente correto, mas o menos infrator é tão vítima da sociedade quanto cada um de nós o é. A diferença é que alguns escolhem o caminho do estudo, outros prestam concurso para algum cargo público, alguns valentes tentam conciliar vida acadêmica e profissão, outros escrevem, e assim vão aprendendo a viver de modo a demonstrar o valor de ideais nem sempre compreendidos e aceitos por nosso sociedade tão complacente.
A condescendência é definida como sendo a atitude de uma pessoa que concorda com alguma coisa fazendo sentir que poderia recusar. É esta a suspeita, quase improvável que tenho comigo. Creio que na verdade todos se recusam a aceitar o estilo de vida delinquente, mas por alguma razão que desconheço, quando este colhe o que plantou, todos são transigente com a atitude do mesmo. Enquanto isto outros tipos de violência vão sendo mais do que naturalizados.
Encerro este post com a reflexão a respeito da frase: adote um menor infrator. Creio que ela feriu mais ainda por ter esfregado na nossa cara, a nossa impotência diante de tais mazelas sociais. Temos muito assistencialismo, mas pouca assistência social. A diferença entre ambos é que o primeiro é uma medida que visa aplacar a crise de consciência dos que de alguma forma se entendem como reesposáveis (diretos, ou indiretos) pela criação de feras que furtam e feras que fazem justiça com as próprias mãos. Este é o caso dos nossos corruptos, por exemplo. O segundo caso é a intervenção direta nos fatores sociais e econômicos que produzem a marginalidade. Honestamente, vivemos em uma sociedade cada vez mais individualista, e via de regra ninguém quer pensar sobre isto. E os poucos que pensam são excelente na analise do problema e deficientes em apontar soluções. Este é o caso, por exemplo, de quem afirma que isto (ultrajar e agredir um menor infrator) não se pode fazer. É claro que não! Mas o que você sugere? Uma dica, culpar a Rachel Sheherazade não vale.
 
Marcelo Medeiros
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