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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O oportunismo como forma de compensação


Acabo de acessar três artigos do blog belverede, todos de autoria do Eliseu Antônio Gomes, em que ele critica a falta de talento de uma nova classe artística que arroga para si o título de humoristas, quando na verdade tudo o que fazem é produzir vídeos e piadas irritantes e ofensivas para religiosos (este é a visão do autor). Exemplo? Fabio Porchat, que após ameaças de morte, por parte de internautas, foi procurar a própria policia que havia escrachado em um show, e o grupo portas dos fundos, que insiste no achincalhamento de cunho religioso (aqui, aqui, e aqui). Revelando o profundo mau gosto dos citados.

A esta altura, o leitor, inteligente como é deve estar se perguntando: se algum blogueiro já escreveu, por que você insiste neste assunto Marcelo? Minha resposta é muito simples, não creio que o problema deste pessoal seja a mera falta de talento. Não! Creio que o problema seja o oportunismo associado a um gosto grotesco por parte do nosso povo.

O caso de Fabio Porchat (integrante do grupo porta dos fundos, mas que também segue carreira solo), é bem simples, não consigo achar graça em tudo o que ele fala, ou faz. Ele é muito diferente de um Mussum, por exemplo, ou de um Zacarias, antigos componentes do grupo os trapalhões, que apenas com as expressões faziam qualquer pessoa rir. Também não é o humor inteligente de Jô Soares e Agildo Ribeiro, por exemplo, muito menos a criatividade de um Chico Anysio (que mesmo sem ter graça era interessante pela capacidade de criação de personagens e de temáticas, como é o caso da Escolinha do Professor Raymundo).

No caso do grupo Porta dos fundos (um nome bem simbólico, teria ele alguma conexão com a forma com que o grupo ascendeu no cenário artístico? é um caso a se pensar e pesquisar). Algumas temáticas abordadas por eles são interessantes, como o achincalhamento que eles fizeram com a atual presidenta durante a primeira onda de manifestações. Mas em relação ao Porchat e ao Porta dos fundos, não quero me deter no talento dos mesmos e nas comparações com os humoristas clássicos, mas em um aspecto comum, a seleção das temáticas.

Nos dias atuais a dificuldade de sobrevivência dos artistas tem sido dura por demais, falo por experiência própria, afinal, não fosse musico militar, por exemplo, dificilmente sobreviveria em um país que trata a arte como sub emprego, ou coisa de desocupado, um Estado em que o ministro da educação pergunta para quê museu. E creia, não se tratava de mera ignorância, mas de um lapso freudiano mesmo haja vista que a cultura e tudo o mais que possa despertar o pensamento crítico não se enquadra na pauta do atual governo. Diante disto o que resta aos novos artistas é a apelação ao que apesar da ausência de conteúdo artístico possa chocar, ou seja o assunto do momento.

Assim, quando as manifestações estavam em alta o grupo Porta dos Fundos investiu na temática, e o vídeo foi bem acessado. Mas o assunto do momento é a Religião, e dentro do cenário religioso não há quem cause mais polemica do que católicos e evangélicos (os cristãos), em razão de suas posições quanto ao aborto, união civil entre iguais, tratamento psicológico para gays que se sentem em conflito com a sua sexualidade.

Meu problema com este tipo de manifestação artística é que a mesma é feita com base na estereotipia, que por sua vez mais do que achincalhar, acaba por criar um falso modelo, mas que fica si, inculcado na mente dos que assistem a produção. A religiosidade é reduzida a um comportamento desprovido de originalidade e de adequação à situação presente, e caracterizado pela repetição automática de um modelo anterior, anônimo ou impessoal. É como se todo crente fosse desprovido de capacidade criadora e na sua pratica religiosa apenas fizesse aquilo que as gerações passadas fizeram, o que é mais do que falso, tanto para quem vive, quanto para quem estuda a religião. Neste caso, a despeito da liberdade de expressão, o humor do Porta dos Fundos é um desserviço à população e a educação, visto que promove sim o preconceito.

O que fazer, proibir o Porta dos Fundos de se expressar contra evangélicos e religiosos em geral? De forma alguma! Neste mundo o crente tem de estar preparado para ser o melhor cidadão possível (não falo isto a partir de uma ótica das aparências), e ainda assim ser mal falado. O que não pode acontecer jamais é que façam estereotipia do cristão e estejam certos, pois a exatidão dos mesmos é sinal de algo vai muito mal com quem é cristão.

Sobre Porchat, ele está sendo ameaçado na internet em função de um vídeo em que encena um inversão, na qual dois cidadãos humilham dois policiais (vi o vídeo e achei a mensagem bem simbólica [aqui]). O vídeo recebeu repostas calorosas nas redes sociais, e pesa sobre o blog do soldado (aqui). O vídeo em questão é duplamente humilhante, primeiro pelo revanchismo, segundo, por não pontuar que policiais são humilhados pela sociedade em função da desumanização que sofrem. São vistos não como seres humanos, mas como máquinas de segurança publica, pior, são visto como peças substituíveis numa engrenagem, (já falei sobre o assunto [aqui]). Isto é a mais flagrante desumanização, com o agravo de que não se pode processar a sociedade em tribunal por tal ofensa dado o caráter subjetivo da mesma, e do aspecto positivo do nosso direito. Resultado o humorista vai depender da própria policia que esculachou no vídeo. Seria cômico se não fosse trágico.

Para não me afastar da proposta do post, afirmo que  o aludido humorista foi na onda do momento, que é criticar a polícia, mas não o fez com inteligência, mas de forma ofensiva, e o humor azedou, e muito. Isto não é questão de talento, mas de oportunismo claro, e os efeitos do oportunismo são contrários ao do humor. Mas quando se falta humor, é ao oportunismo que se recorre.
Marcelo Medeiros

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