Pesquisar este blog

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Crianças birrentas

Esta é mais uma daquelas imagens que a gente encontra quando abre a nossa pagina no facebook. E ela é extremamente educativa em função do apelo que traz em sua mensagem. Sabemos que crianças precisam de limites, do contrário criaremos monstros. Ao invés de seres humanos plenamente sociáveis, teremos em nossas casas e na sociedade indivíduos individualistas ao extremo, insensíveis e tudo o mais. O mesmo se dá quando o crente é tratado como se fosse um destes pobres menininhos.
Enquanto cursava pedagogia aprendi a necessidade de impor limites aos pequeninos com vistas á eliminação do sentimento de onipotência. A questão é a seguinte: a criança ao ser gerada passa um período de tempo no útero materno. Ali ela é alimentada, não sente necessidade alguma e não tem frustração alguma. Ao nascer ocorre a primeira ruptura, afinal, o pequenino não mais recebe oxigênio, nem alimento pelo cordão umbilical, tendo de fazer o esforço muscular necessário para a respiração, que o ajudará a se manter vivo, e sinalizar através do choro que está com fome. Isto é importante para que o bebê perceba que não possui vida em si mesmo, que não é autossuficiente. Mas o processo não para por aí. Ele precisa receber alguns nãos dos pais para que possa ser educado para algo que ocorre com muita frequência na vida, as frustrações. É neste momento que pais começam a conviver com as birras da turminha.
Agora, convém perguntar: o que se pode aprender mediante a transposição destes ensinos à vida humana em geral? Sim, aos olhos de Deus a humanidade, como um todo, é semelhante a estas crianças, e de um modo análogo precisa ser educada. Tal processo envolve o aprendizado de que não existe a autossuficiência. Neste ponto a leitura dos escritos de C. S. Lewis e Luís Felipe Pondé, me ajudam e muito. A humanidade se assemelha a tais crianças na medida em que assimila a falsa ideia de que o proposito supremo do homem é a felicidade. Mas o que é a felicidade? No entendimento raso do senso comum é o emprego X, ou a saúde Y, ou o casamento em condição tal. Mas a verdade inexorável é que não se escapa do sofrimento, e como a Bíblia é dura em esfregar tal verdade na nossa cara!
Creio mais do que nunca que quando Nietzsche aconselhou que os filósofos deixassem de se preocuparem com questões metafisicas e se concentrassem na vida que tinham, ele na verdade estava fazendo mais do que derrubar paradigmas religiosos. Para este pensador a morte de Deus também é a morte do projeto moderno da razão e de tudo o que fora produzido dentro da cosmovisão cristã de mundo, inclusive a ciência (na dúvida leia Gaia Ciência). Daí o fato de crer que ele estava também combatendo as utopias sociais e científicas. A humanidade aprendeu com os modernos a não esperar pelo céu, mas transformar o mesmo em um projeto social. No tempo presente os projetos sociais deram lugar aos planos aspirações e buscas por projetos pessoais. Neste contexto o paraíso é a saúde perfeita, o casamento ideal, os bens de consumo, o emprego perfeito, que por sua vez é o que garanta a aquisição de tudo isto. Não serei eu a dizer aqui que não desejo tais coisas, mas saiba, que há muito deixei de ver estas coisas como a minha felicidade.
Para Pondé, a despeito do quanto se busque pela felicidade, é a desgraça que nos torna humanos. C. S. Lewis afirma que o proposito de Deus em nossa vida não é nos tornar mais felizes, mas fazer de nós pessoas melhores. Ele prossegue afirmando que todo ato educativo causa desconforto, é o que ocorre, por exemplo, quando a criança ao ser desfraldada aprende a usar o urinol. Mas passado o desconforto vem a alegria da nova aquisição. Daí, a contradição, eu diria paradoxo, de que mesmo sendo um pai amoroso, Deus em sua ação educativa nos permita ao homem por inúmeras frustrações ao longo de sua vida. A intenção dele é educativa, por excelência.
Diante disto, teologias que centram excessivamente os direitos dos filhos de Deus, os decretos, as ordens, são meros gritos de crianças birrentas, cuja percepção da realidade é contaminada pelo sentimento de onipotência. Neste caso a falsa onipotência se traduz na percepção de que a divindade pode ser controlada, para que os desejos mais básicos sejam satisfeitos. Mas Deus não está nem aí para isto. eu sei que é duro, que é amaríssimo.  Afinal, Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados (Hb 12. 11 NVI). É com esta firme expectativa que precisamos seguir em frente.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

Um comentário:

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.