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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Não podendo comprar é legitmo roubar?


Li recentemente uma matéria em que a senadora Ana Rita (PT-ES), afirma que s furtos não devem ser vistos como um problema criminal, mas social, uma vez que muitos dos casos são motivados pela equação entre os estímulos da propaganda, a incitação ao alto consumo e a dificuldade da pessoa em lidar com sua inadequação financeira (aqui). Mais uma vez os líderes, os intelectuais de plantão se demonstram ótimos na analise do problema, mas inadequados em prover uma solução para o mesmo. Sei que não sou parâmetro, e sei do relativismo de nossa sociedade. Mas tenho dificuldades com tal ideia. Sou de uma época em que batalhava-se pelo que se quisesse ter, e se não pudesse ter paciência. Mas o assunto não se esgota aí. A proposta foi recebida com suspeita pelo público, e queira o leitor, ou não, quem a interpretasse como o reflexo de uma política de protecionismo à marginalidade. Temo pelo possa vir adiante. Descriminalização de crimes e criminalização de direitos, como o da liberdade de expressão? Confuso!
Contudo, ao ver a situação sob o prisma intelectual, vislumbro uma hipótese significativa para a interpretação e reflexão sobre o fato. Este tipo de ação trágica se explica. É o estado querendo resolver aquilo que se resolve exclusivamente a partir do foro intimo do individuo. É por causa dos valores que o sujeito traz consigo que ele supera a dificuldade financeira e a excessiva exposição dos estímulos da propaganda. O que faz um homem ser ético?! Isto é um dilema, parece que desde os dias de Sócrates e Platão, até os dias atuais. O que é ética? Fico com o Cortella, que diz ser a ética um conjunto de valores que orientam a conduta do individuo (o texto na íntegra pode ser acessado aqui). Neste mesmo textos, os antiéticos e os aéticos, o autor afirma que mesmo bandido tem ética, porque eles tem um conjunto de princípios que os permitem julgar.
É neste ponto que a questão recai sobre a educação, e quando falo em educação, não falo da especializada, mas do fenômeno que ocorre quando seres humanos transmitem saberes, valores e conhecimentos uns aos outros na dinâmica das relações sociais. É o que ocorre na família, na Igreja, na sala de aula, no recreio, no bobs, mac donalds, cinema, na sala de estar, no quarto, na área, nos estádios, etc.... Para julgar o papel da educação na formação de valores que irão constituir a ética do sujeito, ou o tecido ético social, há de se ir para além das salas de aula. Necessário se faz com que se capte os valores que a sociedade transmite aos indivíduos. Desde a Grécia antiga, a busca pela felicidade foi de suma importância no desenvolvimento dos valores que constituem a ética. Mas os gregos antigos entendiam que a felicidade estava na vida bem ordenada. Na proposta platônica esta se dava a partir da justiça, da prudência, ou sabedoria, fortaleza, ou valor, e temperança. Sei que existem muitas outras visões a respeito do assunto, mas não posso me deter nas mesmas neste post.
O que quero afirmar aqui é que na minha leitura, percebo que a busca da felicidade de alguma forma se subordina à busca do sumo bem. Na concepção aristotélica existem varias formas de bens e eles variam tanto quanto os seres, mas mesmo neste pensador se percebe a busca pelo bem supremo, que por sua vez norteia outras formas de bem. Creio ser isto o que falta em nossos dias. E não é para menos, visto que a cultura atual é a de massificação. Com a cultura de massa a individuação perde o seu espaço, na verdade, ser individuo hoje é uma verdadeira via crucis. Daí que a alternativa viável para grande parte das massas seja o enquadramento neste, ou naquele papel. Ou o homem consumista, ou o trabalhador eternamente frustrado, ou o playboy, ou o adolescente que comete furtos.
Algum setor de nossa sociedade tem de começar com este processo de desconstrução, e o mais indicado seria a Igreja. Disse seria porque na verdade a própria Igreja tem sido engolida neste processo e como tal se tornado mais um produto atraente do mercado, mas ainda assim, é de lá que vem algumas vozes da resistência. E defender a moderação em uma sociedade hedonista, que em consequência de tal hedonismo incentiva demasiadamente o consumo e caminha para minimização dos delitos; é um trabalho hercúleo. Na verdade, é um trabalho para homens regenerados, que assumem seu papel como sal e luz e com o seu comportamento evitam a degeneração de nossa sociedade.
 
Marcelo Medeiros.

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