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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Lições de 2014



A despeito de, como todo ser humano, planejar, sonhar, desejar, há muito deixei de ver as passagens de ano como o grande momento em que meus sonhos serão realizados, o famoso muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender, para mim é apenas a linda letra de uma canção. Em seu único salmo, Moisés ora a Deus para que este o ensine a contar seus dias, a fim de que alcance um coração sábio, é desta forma que ao invés de contar os anos a partir de realizações, os conto pelas lições aprendidas. 

2014 penso que foi um ano de grandes aprendizados e lições que levarei por toda a minha vida. Aprendi que Deus age de fato em todas as circunstâncias, para o bem daqueles que o amam e são chamados por seu decreto. Aprendi que este tudo, que a Bíblia diz engloba os males e as injustiças (Rm 8.28). 

Aprendi a respeito do valor da oração, de como esta nos ajuda em tempos de aflição, na crescente comunhão e intimidade com Deus, e na percepção de que este é um Pai amoroso, que se compadece de nós como um progenitor se apieda do filho a quem tanto ama (Sl 103. 14, 15; Mt 7.11). 

Aprendi que ele Deus, é o oleiro, e nós como barro, que a despeito da má qualidade é pacientemente moldado pelas mãos soberanas de Deus (Is 64.8), e que neste processo assume as mais variadas formas, ainda que de forma temporária. 

Aprendi que Deus é o meu refúgio e fortaleza, o meu socorro bem presente na hora da angústia (Sl 46. 1ss), ainda que minha percepção seja constantemente tentada a vê-lo como distante, ou ausente em momentos de aflição (Sl 10. 1, 2) (Sl 121.2).

É lugar comum em uma época como esta pensar no ano que virá como sendo o ano da virada, de grandes realizações, dos grandes milagres e de uma forma quase que incessante este ciclo vai se repetindo. Não abro mãos de planejar, mas percebo de forma inconteste que não quero Deus fora de minha vida. 

Na verdade anseio Deus acima dos meus planos, sei que ele é, e será a minha segurança, quando a vida me coloca diante de situações que expõem a minha impotência, insignificância, e plena nulidade. E sei, mais do que nunca que nada pode me afastar do seu amor, e que nele sou mais que vencedor, independente da situação. 

O Deus que cuidou de nós em 2014, não muda em 2015, continua soberano e controlando todas as coisas,todos nós fazemos planos para o ano vindouro, mas em oração peço que a vontade dele sobre os meus caminhos e sobre a minha vida, seja soberana, assim estarei seguro em suas mãos, e fazendo o que ele planejou para o minha vida, e como disse Paulo serei mais que vencedor em, e por Cristo Jesus o meu (nosso) Senhor. 

Desejo um 2015 de vitórias para todos!

Marcelo Medeiros.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Resgatando o Espanto



Li há algum tempo o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. Um dos artigos que me chamou a atenção foi o que o autor comparou os aeroportos com churrascos na lage. De fato o que não falta é gente fazendo selfie momentos antes do embarque. A sugestão de Pondé, é que se em algum momento a pessoa se vir em tal situação, que ao menos a mesma se preocupe em não demonstrar felicidade. Eu gostaria de fazer uma outra proposta. 

Mario Sérgio Cortella pontuou em Não nascemos prontos, que está faltando espanto. O assombro do qual fala o autor é a admiração diante da tecnologia, afinal, o celular, por exemplo é uma invenção que não chega a ter seus vinte cinco anos, e de lá para cá, ele foi acumulando aparelho telefônico, gravador de voz, rádio, câmera fotográfica, internet, televisão digital, entre outras coisas. Com isto o aparelho celular é um exemplo de como a humanidade deveria se assombrar diante de tamanha engenhosidade. 

Concordo com Pondé e com Cortella. Vou explicar. Tome como exemplo as redes sociais, que permitiam a aproximação de pessoas, e a comunicação em tempo real de tamanha eficácia, que praticamente eliminou as correspondências. A primeira delas foi o Orkut, que com a ascensão do Facebook, foi mandada para o lixo, e depois veio o vulgo zap zap, mandando aquele para o espaço. Acredito que sem espanto toda inovação humana corre o risco de não ser devidamente aproveitada, mas ser reduzida a um modismo, e depois descartada como se nenhuma outra contribuição viesse da mesma. 

Cresce cada vez mais, na minha cabeça que o espanto é o remédio para o tédio que apanha o ser humano, quando as coisas se tornam rotineiras. Voltando às viagens de avião, é uma das experiências mais extraordinárias que se possa ter, desde que não seja reduzida a mais uma ocasião para selfies. As aeronaves são máquinas que permitem aos seres humanos em geral fazer aquilo que lhes foi negado por sua natureza biológica (voar), e desta maneira, percorrer distâncias consideráveis em tempo reduzido (aqui já se tem motivo de sobra para espanto). 

Estar em um transporte extremamente rápido, movido a um combustível altamente inflamável, a uma altura absurda, me faz ver que a minha vida não depende de mim mesmo, que ela está nas mãos de outra pessoa, que ela é demasiadamente frágil e pequena, que a terra, tão pequena (quando vista de uma altura de vinte mil pés), é enorme diante da pequenez de cada ser humano. É neste instante que Pascal é evocado. 

Pascal fala da imensidão e vastidão do universo,e ressalta que a única grandeza do ser humano consiste em pensar, a leitura pessoal que faço dos seus pensamentos me leva á conclusão que ser consciente de seu pequenez é a essência da nobreza do homem diante do cosmos, e o misto de emoções proporcionadas por uma viajem de avião, a apreensão no momento da decolagem, o alívio no momento do pouso podem proporcionar profundas reflexões, ou como diria Cortella espanto, diante da vida, da maravilha tecnológica, do cosmos visto da altura em que se está. 

Mas tudo isto pode ser apagado pelo selfie quando este se torna um fim em si mesmo. Outra questão, o auto retrato é uma maravilha também. Há quase um século e meio era necessário se colocar imóvel durante horas para que a posição fosse gravada em uma tela por um pintor, aí veio a máquina de fotografar e facilitou para quem era retratado, depois vieram as câmeras fotográficas, facilitando a quem retratava, mas criando ansiedade para quem era fotografado e desejava saber como havia ficado. Foi então que surgiram os celulares com suas câmeras digitais, viabilizando um auto retrato e a imagem instantânea da mesma, bem como a publicação em rede sociais. Mas ninguém se espanta com isto mais, o modismo banalizou esta maravilha tecnológica e dispensou a arte e o artista.

Mesmo diante de toda esta maravilha, eu fico com a sensação de pousar de avião em meio a uma forte chuva. É incrível estar atravessando uma nuvem com a visibilidade totalmente obstruída, e somente perceber que está chovendo quando ao visualizar a paisagem, ver as gotas de água escorrendo na janela do avião. É algo que beira praticamente ao fascinum e tremendum.

Eu acredito que se você teve paciência para ler este artigo até aqui, talvez esteja se perguntando o que isto tudo tem a ver com churrascos na lage. Eu que venho de comunidades percebo que as mesmas proporcionam visões fantásticas de dois cenários. De um lado a natureza, de outro, das realizações humanas. Ambas são motivo de espanto, mas a despeito toda a maravilha que uma visão da lage proporciona ninguém se espanta, ou sequer frui da beleza seja natural, seja arquitetônica, e este é o grande pecado da geração atual, tanto na lage quanto nos aeroportos. 

Forte Abraço, Marcelo Medeiros.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Deus e a existência do mal



Um dos grandes problemas levantados no debate a respeito da existência de Deus é a realidade do mal. Como pode um deus bondoso e todo poderoso tolerar o mal. Parte do problema tem sido respondido com a afirmação de que é o mal, a tragédia que faz com a que humanidade seja de fato mais humana. 

Ainda assim, parece haver pessoas que não se contentam com o fato de terem de passar por eventos trágicos, o que ocasiona frases como esta da imagem acima. Ao visualizar em uma comunidade de debate no facebook, pensei imediatamente em um homem como Jó. Em um momento este é descrito vivendo em um estado de ventura e de repente ele perde todos os seus bens, posses, o respeito social, e mesmo o direito de reclamar. 

Em boa parte do seu livro Jó aparece chamando Deus para um julgamento, ele chega a afirmar, que se Deus comparecesse para um debate, lhe exporia a sua causa, mas quando este lha aparece em meio de uma tormenta e lhe faz perguntas, atente bem, perguntas, ele, Jó, emudece. Minha conclusão, é de que a frase da imagem é a prova inconteste de que a melhor imagem para descrever a humanidade é a que a compara com crianças birrentas. 

Do conforto de sua casa, escritório, apartamento, etc, qualquer um fala do relâmpago, do trovão e de uma tormenta, mas estar diante da grandeza destes fenômenos é algo que faz qualquer indivíduo sensato se borrar de medo, imagine um encontro com Deus, quem poderia argumentar o que quer que fosse diante dele? Jó emudeceu e constatou que Deus tudo pode e que nenhum dos seus planos podem ser frustrados, de quebra a certeza de que quaisquer conjecturas são como o pensamento de um animal irracional. 

Há um outro homem em quem eu penso quando me vejo diante de tais colocações. Jesus de Nazaré. Ele, mais do que ninguém, se identificou com os sofredores, com os pobres, injustiçados, e em sua resignação diante da morte de cruz ele derrotou e venceu o mal, quando ainda no Getsêmane orou a Deus dizendo, todavia, não se faça a minha, mas a sua vontade. A ressurreição de Cristo é a maior expressão da vitória de Cristo sobre o mal e a abertura de possibilidade da vitória de cada cristão em particular. 

Não é do meu feitio, confesso, mas peço a Deus a sabedoria de Davi, que disse: emudeci, por quando o fizeste (Sl 39. 9 ACF), pois do contrário terei de dizer como Jó: falei do que não entendia, por isto me abomino e me arrpendo no pó e na cinza (Jó 42. 3, 6). 

Marcelo Medeiros

Mensagem de Natal



Segundo o relato do Evangelho de Lucas Cristo nasceu em momento em que foi feito um senso, o que fez com que o casal se deslocasse da Galiléia para Judéia, especificamente Belém. O fato é que em nenhuma estalagem foi encontrado lugar para o casal e Cristo nasceu em uma manjedoura. Brennan Manning pontuou em Convite à Loucura que o poder, os prazeres e o dinheiro constituem distrações que inibem o apetite que o ser humano possa ter em relação a Cristo.

Tome como exemplo o natal. É uma excelente ocasião para as pessoas estarem juntas, para fazerem o que quiserem juntas, enfim, para comunhão. Mas que muitas vezes tem este aspecto ofuscado pela correria pelos presentes, preparativos para a ceia, aquisição de presentes e tudo o mais. Que neste ano haja no seu e no meu coração, um lugar para Cristo. Feliz natal. 

Marcelo Medeiros

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Em tudo foi tentado, mas sem pecado



Neste post pretendo compartilhar com vocês uma percepção a respeito da impecabilidade de Cristo. O texto bíblico diz a respeito de Cristo, que em tudo foi tentado, mas sem pecado (Hb 4. 15). Em uma aula a respeito do tema em questão (carta aos Hebreus), fui indagado a respeito de como ele possa ter sido tentado, uma vez que a fonte da tentação é a concupiscência. 

Paulo afirmou que Cristo veio em semelhança de carne pecaminosa, mas que ele combateu o pecado na carne (Rm 8. 3), para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 8. 4). Mas como Cristo se relacionou com esta questão de estar em um corpo que deseja? 

Meu palpite inicial, foi o de que Cristo, desejou, mas que em momento algum qualquer necessidade que ele tivesse, legítima, ou não, suplantou o seu desejo pelo pai. Sim, para começar a vontade de Jesus era a do pai, sua comida era fazer a vontade do Pai. Brennan Manning afirmava repetidamente em seus livros que o coração de Jesus pulsava no ritmo do coração de Aba. Foi esta disposição que tornou Cristo livre em relação ao pecado. 

A tentação no deserto foi, antes de tudo, uma tentativa por parte do diabo em descredibilizar a experiência que ele teve com o pai às margens do Jordão, quando ao sair das águas, os céus se abriram e o Espírito de Deus veio em forma de pomba sobre o Messias, e junto ao Consolador, uma voz dos céus dizendo: este é o meu filho amado em quem eu me comprazo (Mt 3. 17). Imediatamente o Filho de Deus foi conduzido ao deserto para ser tentado pelo diabo, que não titubeou em colocar a palavra de Deus em dúvida a palavra de Deus e o relacionamento de Cristo com o Pai, tal como ele já havia feito no Éden, com Adão e Eva. 

Ao contrário de Adão e Eva, que se deixaram levar pelo canto da serpente, Jesus não! A maior dor de Cristo foi sua experiência na cruz, porque ali foi o único lugar em que ele se dirigiu ao Pai chamando-o de Deus e por meio da pergunta: porque me desamparaste? Desamparo é a sensação que os homens tem quando em momento do profunda aflição. Pior do que o desamparo e o abandono, foi a quebra de uma comunhão que vinha desde a eternidade e que foi extremamente ansiada pelo Filho em sua vida terrena. Daí o fato de Cristo ser sem pecado. 

A experiência do Jordão e o efeito da voz do Pai, algo que era peculiar a Cristo, fez com que este jamais se guiasse pela opinião pública. a cada milagre, um pedido de que nada fosse dito a ninguém. Nada da doentia necessidade de agradar aos políticos, ou às autoridades religiosas da época, e tudo por quê? Porque para Cristo a opinião do Pai era mais importante do que o frágil, fugaz e volúvel conceito que os homens desenvolvem a respeito dos outros. 

A afirmação do autor aos Hebreus de que Cristo em tudo foi tentado, mas sem pecado, é o indicador de que ele conheceu de perto todas as pressões que fazem os homens pecar, e justamente por este motivo se dispõe a interceder pelos seus irmãos que estão em tentação. O sem pecado sinaliza o novo homem que cada crente há de ser, inteiramente livre do pecado em razão de um sólido relacionamento com o Pai. 

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

sábado, 6 de dezembro de 2014

A Paz Demanda Consenso Absoluto?



Neste momento estou assistindo a um vídeo protagonizado por religiosos, dentre os quais Ed René Kivtz e o filósofo Luís Felipe Pondé. Um assunto que me salta aos olhos é a possibilidade de convivência pacífica entre as religiões. Falo dele porque o momento atual, do politicamente correto, prega o relativismo e a tolerância extremada, chegando ao extremo de considerar intolerante que discorda. 

Minha resposta à pergunta que dá título a este post é um sonoro não. Em primeiro lugar,  é preciso que se pergunte pela conceituação lexical da palavra. Em segundo, recomendo que se faça uma reflexão da definição lexical. Por último, que se perceba que a paz não é a ausência de conflitos, mas a sábia administração dos mesmos. 

Isto fica bem na cara quando, ao pesquisar a palavra no dicionário, se depara com o verbete harmonia. A palavra me faz voltar automaticamente para o mundo musical, onde harmonia é definida como a disposição de notas diferentes simultaneamente tocadas. Dentro da harmonia há os acordes consonantes, feitos a partir de terças e quartas superpostas, e os dissonantes, que são os que acrescentam os intervalos de sétima, maior, ou menor, nona, etc...

A verdade é que não se faz música com uma única nota, nem o samba de uma nota só é de fato de uma nota só. A melodia dá a sensação de que é uma única nota, mas a harmonia, como tem nota! Face á exposição, a paz é algo que demanda a diferença com suas consonâncias e dissonâncias. Desafiando é uma canção da Bossa Nova que, ao meu ver é um dos maiores exemplos de como a harmonia funciona de forma dissonante, sem este fator, a música não expressaria um desafinado que ama a arte em apreço. 

Paz é entender que quem não concorda, que quem distoa tem algo importante a dizer.



Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Cálculo mortal



Uso o nome deste filme de forma analógica. Meu objetivo neste post é falar a respeito de erros teológicos conceituais e das tragédias que os mesmos trazem. O que me motiva a falar deste assunto?! As últimas polêmicas em torno da notícia, mais que badalada da capitulação de defensores da cura gay diante de fracassos. 

O primeiro exemplo é o ex-ativista anti-gay Jonh Smid, que confundiu conversão com uma cruzada contra gays e homossexuais e tal como o Dom Quixote (que via gigantes nos moinhos de vento) ele deu contra a sua natureza e saiu machucado. O único problema é que ao contrário da narrativa de Cervantes, a vida de Smid é real e os efeitos mais dramáticos [aqui]. 

O mesmo pode ser dito em relação em relação ao casal Robertson, que diante da condição homossexual do filho simplesmente aconselharam o mesmo a se apegar as Escrituras e a procurar uma terapia reparadora (que de acordo com a matéria trata-se de uma forma de cura gay), e conforme visto na matéria, não resolveu em nada o problema do filho, que passou a usar drogas e morreu de overdose [aqui]. 

Preciso esclarecer que ao contrário da matéria e da opinião pública, não associo o uso de drogas, por parte do filho do casal Robertson com uma possível rejeição, por parte dos pais, à condição homossexual do filho. Me preocupa o fato de que em momentos históricos mais recrudescedores do que o atual, gays vivessem em sua condição sem tamanho estardalhaço. Não vejo nos pais um único indício de rejeição à pessoa do filho, mas eles erraram em acreditar que uma terapia desse resultado. 

Um erro fatal que evangélicos tem cometido consiste em no afã de ver sua fé publicamente credibilizada, vibrar diante de qualquer testemunho miraculoso de conversão. O resultado é este descrito nas linhas anteriores. Peço ao leitor evangélico que me compreenda. Eu creio na conversão e na salvação de gays e lésbicas, o que não creio é que a mudança de orientação por parte dos mesmo, caso isto ocorra, seja algo como a tecla sap do aparelho televisor. 

Observando a fala de Smid, por exemplo, percebo o quanto este esperou que sua orientação fosse mudada. Na boa! É como eu esperar deixar de gostar de mulher, de me sentir bem em uma conversa com uma, como diria o padre Quevedo esso non ecsiste. Então como fica? Não fica. A conversão é simplesmente uma mudança de direção, por parte do indivíduo. Não é transformação na essência do mesmo. Qualquer pessoa que se converta continua a ter de lidar com seus desejos. O lance da conversão fica por conta da seguinte questão: devo atender aos meus desejos, ou devo amar a Deus sobre todas as coisas. Na verdade este é o grande desafio imposto pelo chamado ao discipulado. 

Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna (Jo 12. 25 NVI). Creio que estas sejam as palavras mais chocantes do evangelho. Hétero, ou homossexual, uma vez chamado a seguir a Jesus, chamado para desejá-lo acima de todo e qualquer objeto de desejo que se possa ter nesta vida. Somente a partir desta realidade é que se pode falar em adolescentes e jovens se preservando para o casamento, ou para o celibato e em homossexuais abandonando a homossexualidade. 

Duas verdades extremamente importantes são colocadas por C. S. Lewis. A primeira no tocante ao fato de ser Deus a fonte de todos os prazeres, mas que estes perdem o sentido quando deixam de serem visto como aquilo que são pálidos reflexos do prazer maior que estar diante de Deus e fruir de sua presença, uma vez que na sua presença há delícias e gozo perpetuamente

A segunda diz em relação ao céu. Para Lewis o sexo no céu será suplantado não por ser pecaminoso, mas porque lá os homens descobrirão um prazer maior. Alguns homens de forma sincera tem descoberto um pálido reflexo deste prazer no celibato, no ministério, no casamento (que é entendido pela Igreja católica como um sacramento), no cuidado com os filhos, mas é algo como o contemplar por um espelho, que neste caso é um pedaço de bronze que nem de longe permite a imagem como ela é. 

Já falei aqui neste espaço a respeito da tendência humana em ver nos prazeres o objeto da felicidade [aqui]. Recorro a este filósofo por saber que não há mal algum em casar e buscar a plenitude sexual (Ec 9. 7 - 9), mas sei que é grande mal o homem procurar estas como se a posse das coisas que buscam devesse torná-los felizes à perfeição, nisto sim, há motivo para classificar tal pretensão com vã; de sorte que em tudo isto, tanto os que criticam como os que são criticados não compreendem a verdadeira natureza do homem (Pascal pensamento 135). 

Voltando à conversão, ela é um ato miraculoso, tal como a criação do mundo e a ressurreição de Cristo. Sem a intervenção divina, não adiantam terapias reparativas, o que tem de ocorrer é a ação de Deus por meio de sua Palavra e de seu espírito. Da mesma forma a mortificação diária a toda forma de pecado, afinal, perdoar, não invejar, não enganar, não se irritar por qualquer coisa, não cobiçar aquela garota, ou aquele menininho que é uma gracinha, enfim, não cobiçar; tudo isto é tão difícil que matar um leão por dia seria mais fácil. 

Este é um caminho que não se faz com regras, mas com a dependência diária da graça de Deus. Vencer a própria natureza, dia após dia demanda um poder que não se encontra na vontade humana. Paulo chamou este poder de lei do Espírito que dá vida, e afirmou que por meio desta o cristão foi liberto da lei do pecado e da morte. Mas cuidado, não há aqui teclas saps, visto que em alguns momentos o crente se dizendo com Paulo: com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado (Rm 7. 25). 

Ainda que a marca do genuíno crente seja uma espiritualidade e santificação crescentes, ele ainda terá tropeços nesta vida, visto que a libertação definitiva do pecado ocorrerá no momento em que Cristo vier buscar a sua Igreja e o corpo mortal, corruptível for transformado em corpo de glória semelhante ao de Cristo, até lá, um forte abraço a todos os que perseveram em crer no Evangelho. 

Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Do mal será queimada a semente



Escrevo este artigo sob a inspiração da brilhante provocação filosófica de Mário Sergio Cortella. O livro Não se desespere, traz um artigo com o tema deste post. E o impacto que o mesmo exerceu sobre mim, pode ser explicado através da profunda admiração que tenho por algumas letras de canções da musica popular brasileira, dentre as quais a canção Juízo Final, composição de Nelson do Cavaquinho em parceria com Elcio Soares, cuja letra segue abaixo:
O sol há de brilhar mais uma vez
A luz, há de surgir nos corações. 
Do mal, será queimada a semente, 
O amor, será eterno novamente

É o juízo final, a história do bem e do mal
quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer. 
O foco de Cortella é a profecia nas palavras: O amor, será eterno novamente, O amor, será eterno novamente. É quando o autor discorre a respeito do conceito de esperança enquanto  expect-ativa (um jogo de palavras que faço para enfatizar o caráter ativo da esperança defendida por Cortella), ao invés da espera passiva. Para o autor em apreço a ação de esperançar demanda decisão na qual o indivíduo se propõe a queimar a semente do mal.
Semente? Sim, pois é potência, é possibilidade, é virtual. Somos capazes, porque humanos e livres, da prática deletéria, da ação maldosa, da agressão danosa. Humanos e livres, pulsões lesivas despontam como cenário e vontade em muitos dos nossos atos e omissões. Semente pode virar planta ou árvore ou fruto ou flor; semente, como o ovo, contém o novo. Semente pode virar praga, ou erva daninha ou veneno ou droga lesiva; semente como ovo pode apodrecer ou ser nefasta. 
Sei que as intenções do autor supra não são estas, mas a mim é impossível ler estas palavras sem fazer associação com aquilo que Pascal disse a respeito da miséria e grandeza que o homem traz em si. Ao mesmo tempo me lembro de Paulo que disse saber que a lei é boa, e o mandamento santo, justo e bom, mas que também sabe que em seu ser não habita bem algum.

Na verdade um olhar atento para a letra de Juízo Final traz revelações ainda mais aterradoras, para que o amor seja eterno novamente (alguma vez ele foi, se foi quando deixou de ser?), é necessário que a semente do mal seja queimada, para que tal ocorra o sol tem de brilhar mais uma vez, a fim de que luz resplandeça nos corações. É aqui que ponho o meu foco. Não é coisa fácil ao homem perceber a maldade potencial que ele traz consigo, e quero expor os motivos nas linhas abaixo. 

Com grande sabedoria Salomão afirmou que todo o caminho do homem é puro aos seus olhos, em outras palavras é fácil enxergar a inveja, o orgulho, a mentira, nos outros, ao passo que em si mesmo, com extrema raridade. Tanto a sociedade secular quanto a religiosa abominar o espírito farisaico. Mas o grande problema de ambas é prestar atenção na essência farisaica que traz em si mesmo. Brennan Manning chama a atenção para este fato no seu clássico O Impostor que Vive em Mim.

Para uma maior compreensão das ideias que passarei a expor nas linhas subsequentes, gostaria de pontuar que os fariseus, não eram somente religiosos. A compreensão que se tem deste importante grupo se resume à esfera religiosa, nada mais enganoso do que isto. Eles também eram um grupo político. Religião e política eram colocadas ao serviço dos interesses deste seguimento que aprendeu a amar as honras pessoais mais do que a glória de Deus.

O processo de secularização produziu o maior dos engôdos, o de que a religião (vista como um grande mal pela mente iluminista), estava suprimida, pelo menos nas mentes mais esclarecidas, quando na verdade a dimensão de religiosidade apenas se deslocou do transcendente para o imanente. Em termos práticos conciliar religião com política não é privilégio exclusivo dos evangélicos, com a diferença de que a religião do homem moderno é institucional, partidária, acadêmica, científica, etc...... . Daí que qualquer um possa ser um fariseu desta nova religião. Feita a explicação, sinto plena liberdade de voltar ao que disse Brennan Manning. 

Mas quando todos, inclusive eu, se tornam fariseus? No momento em que transferem a culpa para os outros, em que buscam o poder da religião, ou o saber acadêmico visando controlar os outros. Grande marco é a famosa parábola do fariseu e do publicano. O primeiro se preocupa em agradecer a Deus pelo fato de não ser como os demais homens, o que inclui o publicano que ora ao lado dele. O publicano se concentra em seus pecados e justamente por este motivo desce justificado. 

Ver o seu próprio pecado é um dos maiores sinais do alcance da graça de Deus na vida de um homem, uma vez que há pecados que sequer são percebidos como tais. É por este motivo que Davi ora a Deus para que este o livre dos pecados que lhe são ocultos (Sl 19. 12 - 14). Dentre os pecados ocultos se situa a soberba, algo que se confunde com o amor próprio, e que segunda leitura que faço de Pascal é a grande responsável pela cultura de hipocrisia que permeia grande parte da moral pública. 

Vencer a dinâmica do auto engano requer iluminação. Para que do mal seja queimada a semente e para que o amor seja eterno novamente há de se deixar ser iluminado pelo sol, que se permitir que a luz brilhe nos corações, é aqui que se fazem mais que pontuais as palavras do apóstolo João,
Amados, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o início; este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. E no entanto é um mandamento novo que vos escrevo - o que é verdadeiro nele e em vós -, pois as trevas passam e já brilha a verdadeira luz. Aquele que diz que está na luz e odeia a seu irmão, está em trevas até agora. O que ama a seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda. Mas o que odeia a seu irmão está nas trevas; caminha nas trevas, e não sabe para onde vai porque as trevas cegaram seus olhos (I Jo 2. 7 - 11 Bíblia de Jerusalém). 
Para que haja uma queima da semente do mal, necessário se faz com que a luz do sol brilhe nos corações. Para João somente o brilho da verdadeira luz abre possibilidade ao verdadeiro amor, aquele que lança fora todo o medo (atenção, este é o nome da semente do mal, visto que os homens o praticam motivados pelo medo).

Forte abraço, Marcelo Medeiros. 
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