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domingo, 12 de junho de 2016

Eu inseto? (uma pensata literária)



Franz Kafka é um autor de ascendência judaica, que se notabilizou por livros cuja temática explora a alienação humana, dentre as quais O Processo e A Metamorfose. este último narra a história de um cacheiro viajante por nome Gregor Samsa, que um dia acorda e se depara com uma estranha surpresa: a de se ver transformado em um asqueroso inseto. Em Contra um mundo Melhor Luís Felipe Pondé argumenta que a Evolução na verdade aponta para um futuro sombrio. E em Os Dez Mandamentos Mais Um este autor destaca o pessimismo de Kafka. 

Minha leitura pessoal de A Metamorfose foi diferente. Ela decorre de uma reconstrução de como teria sido a vida do protagonista Gregor Samsa antes de sua transformação, Uma observação inicial é que ele trabalha em um emprego insuportável, tanto em sua relação com seu chefe quanto à situação que o levou a tal. Ao que parece ele tem uma habilidade artesanal, que não é pública. 

Samsa é o tipo de pessoa que carrega o peso do mundo na cabeça. Trabalha com um chefe insuportável para pagar as dívidas de seus pais. Planeja acumular algum capital para comprar sua liberdade (mandar o chefe às favas). Este, um indivíduo insuportável que visita Samsa unicamente para cobrar sua ausência e ao ouvir dos pais deste que a indisposição do protagonista era causa de sua falta, responde que homens como os de sua posição não podem se deixar vencer por leves indisposições. 

A Metamorfose de Samsa não se deu da noite para o dia, mas em um lento processo de desumanização pelo qual ele foi passando. Primeiro ao se submeter a um trabalho que o esgotava e não lhe dava reconhecimento algum. Segundo por ter de se sujeitar a um chefe biltre, que mesmo diante do sério problema dele não hesitou em julgar o mesmo da pior maneira possível, e pior, esqueceu todo o trajeto do mesmo na firma. Por último, por trazer sobre si as pressões da vida de todos os seus familiares. 

A ironia de Kafka se percebe no final do livro, Samsa morre, mas sua morte é um alívio para as pessoas às quais ele se dedicou. Até porque ele não morre sem antes dar muito trabalho aos seus familiares. Ao que parece o autor percebe a ironia de que para nos preparar para a morte de alguém a vida nos sobrecarrega com os cuidados com o mesmo até o esgotamento, que precede a compreensão da necessidade de uma separação. Mas não é isto que nos desumaniza, antes são as relações trabalhistas baseadas em autoritarismo, e o peso do mundo. 

E a saída? Kafka não aponta. Mas gostaria de propor alguma. 1) Entenda que não podes carregar o peso do mundo. 2) Estabeleça relações de amizade sinceras. amizades reais ajudam a aliviar as dores causadas pela vida, principalmente pela desumanização dos ambientes de trabalho. 3) Desenvolva alguma atividade que não lhe seja uma tortura e procure compartilhar isto com alguém. 4) Troque todo o seu jugo, inclusive o existencial pelo jugo de Jesus. 

De minha falha percepção Kafka é produto de uma sociedade que lentamente abriu mãos de questões metafísicas. e quanto tal ocorre, até a evolução fica sem sentido de ser. As esperanças de melhoria decorrentes da mesma vão para o esgoto. Como sugere o próprio Luís Felipe Pondé, ter esperança é a melhor forma de se lidar e ser no mundo.  

Marcelo Medeiros. Forte Abraço. 

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