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quinta-feira, 29 de maio de 2014

A lei da palmada e o conselho de Salomão


A Bíblia, em tese, é o livro a partir do qual os cristãos elaboram suas regras de fé e prática. E no que tange á criação dos filhos, uma recomendação que a mesma traz é que na educação das crianças a disciplina (castigo, palmada), seja colocada ao lado do diálogo. Na verdade sempre que este não funciona, se recorre àquele.

Na década de noventa, do século passado, Rubém Amonrese, lançou o bombástico Icabode, da mente de Cristo à secularização da Mente, e um dos temas abordados foi a crise da disciplina, que ao meu ver tem de ser interpretada à luz das demais crises abordadas no livro, dentre as quais a crise do sagrado e a da autoridade. Na analise do autor, tudo começou com as modernas teses em psicologia, que propunham novas formas de educação das crianças.

Mas aquilo que era tese se tornou realidade com a controversa lei da palmada. Esta fez mais do que normatizar a forma com que os pais educam seus filhos. Uma vez que entre as punições aos pais infratores constam o encaminhamento a serviços de assistência psicológica, afirmo que a lei criou uma necessidade de profissionais que orientem os pais a fazerem aquilo que antes da lei era de extrema naturalidade (aqui).

Não vejo a lei com bons olhos, porque a acho quixotesca, uma luta contra moinhos de vento. Vou explicar. Parte do problema com as famílias modernas está na difícil conciliação entre sucesso (leia ter acesso a todos os meios de consumo) e qualidade de vida. Há pouco espaço para o diálogo, para as conversas na varanda (varanda? isto hoje é um luxo!), e outras coisas que de acordo com o filosofo Mario Sergio Cortella constituíam condições primordiais para coexistência pacífica em família.

Estamos na era digital. A conversa com pessoas de outros países é cada vez mais veloz, mas isto não tem sido garantia de uma comunicação eficaz entre patrões e empregados, pais e filhos, maridos e mulheres. O que faz com que a educação dos pimpolhos seja cada vez mais difícil.

A pergunta que faço por hora é: o que os especialistas tem a dizer a respeito da educação de um filho, que não atende á conversa? Neste link temos a opinião de um filósofo de que a criança não atende, nem entende à argumentação de um adulto. Daí que a palmada (punição), seja de extrema importância para que a mesma entenda a gravidade do que fez. Mas a lei já foi aprovada, no congresso, e vai para o senado com a promessa de muita discussão. Mas enquanto isto, não dói pensar e perguntar: quais critérios serão adotados para que se faça a correta distinção entre um pai, ou uma mãe que está tentando conter seu filho para que o mesmo não avance o sinal, ou fazendo uma pirraça, e um pai agressor?

Enquanto os formuladores do problema ignoram, ou fabricam respostas, reitero o meu repudio à ação pífia dos criadores da lei, uma vez que os mesmos ao proporem uma suposta garantia aos monstrinhos que nossa sociedade tem criado, pode gerar riscos de más interpretações e injustiças, o que me faz perguntar: que medidas preventivas o estado irá tomar, para garantir o cumprimento da lei?
Marcelo Medeiros

terça-feira, 27 de maio de 2014

Acácio e o menor do poste


 
Desde já antecipo ao leitor que já falei sobre este assunto aqui, aqui, e aqui. Retomo assunto face a este texto, que vi no facebook (aqui), e compartilho com os leitores. Não concordo com quaisquer discursos que enfatizem o mérito, por uma razão simples, todo mundo precisa da ajuda de alguém, do contrario não dá.  Mas discordo do discurso de vitimização, visto que em termos psicológicos, todo mundo teve, em algum momento de matar a fera que traz em si. E mesmo o ato de vontade é um ato de supressão de uma outra vontade.
Para os que não possuem conta no fcebook, segue o texto abaixo, texto este que traz fatos incontestes.
 
Uma explicação bem simples pra vocês.

O rapaz da esquerda como todos se lembram é Acácio. Acácio era pobre, negro e já morou na rua. Dentre todas estas dificuldades nunca precisou roubar, matar ou traficar. Estudou, e virou oficial da Po...
lícia Militar, frutos estes do seu próprio esforço. Foi morto covardemente em serviço. Não houve direitos humanos, não houve indignação da mídia e nem de boa parte da sociedade.

O rapaz da direita também era pobre, negro e como Acácio, nada o impedia de viver uma vida honesta. Mas ele preferiu roubar, não estudar e viver a famosa "vida louca". Foi pego pelos próprios cidadãos - ao cometer um crime - amarrado nu ao poste até que a polícia chegasse. Este rapaz teve o choro da Maria do Rosário (DH), a indignação da sociedade, dos políticos, do DH e se bobear foi até pra ONU.

Aonde eu quero chegar? Eu quero mostrar pra vocês que não existe motivo, razão ou circunstância para você ser um criminoso, vagabundo e delinquente. É opcional! Seja você branco, negro, pobre, rico, cristão e etc.

Cada um tem a opção de escolher o caminho a trilhar na vida. E nós da página não descriminamos ninguém por raça, cor ou religião.

Esclarecido, esquerdista pseudo salvador aglomerador de titica no cérebro?!
 
Marcelo Medeiros, um abraço.

Professores Acordem Mesmo


Em uma das minhas famosas encrencas no facebook visualizei um artigo assinado por Gustavo Loschpe, e que sinceramente me causou indignação, dado o caráter sofistico do escrito (aqui). Não minha opinião nada tem a ver com o autor, que sequer conheço, mas com o texto, que obviamente mescla verdade com fraseologia direitista. Gostaria de começar com os fatores positivos do texto, se que consiga encontrar mais de um.
Não concordo com a imagem de vítima construída em torno da pessoa do professor e creio que seja mais do que necessária a construção de uma cultura que valorize a imagem do profissional de educação. Mas ao que parece minha concordância com o autor para por aí, visto que este propõe uma valorização do profissional em educação a partir dos resultados na mesma. O que ele esquece, não sei se propositalmente, ou não, é que em países de primeiro mundo a educação é um valor em si, e a estima que se tem pelo docente decorre deste fator, o que não ocorre por aqui.
Daí a conclusão mais do que logica, que ainda que o professor se avalie, e decida corrigir nas praticas, e na postura social os erros que o autor aponta, isto não será garantia de que o trabalho dele será valorizado pelos demais setores da sociedade. Uma outra questão, suscitada pelo autor, é a dissociação entre investimento em educação e resultado.
Creio que somente investir em educação não trará mesmo resultados. É preciso mudança na cabeça dos alunos e dos familiares, que eles vejam a educação como importante, tanto na formação para vida profissional (uma demanda do tempo presente), quanto na formação do sujeito em si, que aliás são indissociáveis. Mas cabe somente ao professor, fazer isto? É lógico que não Sr Gustavo! E creio que seja disto que os professores falam quando pedem maior participação da sociedade no processo educativo.
Já que você gosta de ciência e fatos empíricos, convido-o a ver o perfil de adolescentes que a mídia dissemina. Raramente jovens e adolescentes são mostrados estudando, via de regra eles são mostrados em atividades físicas, ou em frivolidades. E os reality shows? Mostram as pessoas malhando, tramando umas contra as outras, mas como Mario Sergio Cortella observou acertadamente, estes programas jamais mostram as pessoas lendo, por exemplo. E o que isto tem a ver? Somos um país em que as pessoas aprendem a ler, mas não são leitoras, aprendem a escrever, mas não são escritoras.
Agora, pelo amor de Deus! não venha me dizer que o salario não altera em nada, que não estimula, não fosse assim, não teríamos pessoas lutando por melhorias salariais. Além do mais, somos uma sociedade democrática, que entende a cidadania como luta por direitos. Se você acha que salários e investimentos em educação não altera o desempenho, experimente escrever em um computador precário, com um internet, tão lenta, que sequer o permita enviar o artigo ao seu chefe! Aí sim, "poderemos" falar se condições matérias influem, ou não.
 
Abraços, Marcelo Medeiros

sábado, 24 de maio de 2014

Lealdade ao pastor? Até onde?

Depois da fragmentações que as denominações sofreram em função da adoção de métodos de crescimento centrados em pequenos grupos, vejo com imensa frequência a ocorrência de discursos centrados na fidelidade e na lealdade dos lideres de célula, ou discipuladores aos seus respectivos pastores. O discurso é ingênuo e maldoso ao mesmo tempo. No primeiro caso por ignorar que somente a conversão e a presença do Espírito de Deus na vida dos homens segura a fera que cada um traz consigo. No segundo caso, porque a fidelidade ao líder precisa estar subordinada à fidelidade da palavra de Deus. Em outras palavras, enquanto o líder é fiel à PALAVRA DE DEUS, ele terá a fidelidade de Deus e de quem é convertido, e creia, ao ministro basta ser fiel, e ter a aprovação de Deus.
Marcelo Medeiros, em Cristo.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O ministério de Evangelista

 

A verdade prática da lição que pretendo comentar neste post define o Evangelista como sendo alguém que proclama o pleno evangelho de Cristo com ousadia; sendo um arauto de Deus neste mundo. Tal colocação transmite o seguinte retrato de Evangelista:
  1. Evangelista não é um mero panfletário, muito menos todo e qualquer pregador itinerante, mas alguém que prega o Evangelho pleno, ou seja, em seus aspectos positivos e negativos.
  2. Este Evangelho tem de ser pregado com a ousadia devida (Ef 6. 18 - 20), o que demanda oração.
  3. O pregador, ou κηρυξ (kerix), é alguém que no mundo antigo era incumbido de proclamar em praça pública as decisões judiciais, é a esta figura que se associa a figura do verdadeiro evangelista.
Para uma maior compreensão deste glorioso ministério estarei recorrendo à pessoa de Jesus, o Evangelista por excelência, e Paulo. Para tal começarei com o conceito de Evangelismo.

I) O QUE É EVANGELISMO?

Parece uma pergunta banal, mas não é. Atualmente o evangelismo tem sido praticado na forma de panfletagem. Nada contra os irmãos que por alguma limitação na área da comunicação verbal, ou escrita, ou em ambas; comunicam o evangelho desta forma. O verbo grego ευαγγελιζω (euaggelizoo), e suas variantes possuem o sentido de levar uma boa noticia e no contexto do Evangelho, em particular, anunciar as novas de salvação.
Alguns textos em que as versões de língua portuguesa traduzem por pregar o Evangelho, não verdade trazem ευαγγελιζω. Quando Cristo afirma que o Senhor o ungiu para pregar boas novas aos pobres (Lc 4. 18 NVI), o autor, neste caso Lucas, emprega o verbo supra, sugerindo com isto que a compreensão de Evangelismo é o anuncio das boas novas de Cristo.
Foi neste sentido que Lucas aplicou ευαγγελιζω às atividades dos apóstolos na comunidade primitiva. Segundo o relato todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo (At 5. 42 ACF).  Faço questão de grifar est texto a fim de que fique claro que 1) evangelismo em principio é uma atividade diária, portanto não limitada a um único dia da semana, 2) não se limita aos espaços públicos, podendo ser  realizada nos lares e mesmo em templos, constituindo com isto, 3) uma atividade incessante, 4) que pode ser conciliada com o ensino. Por último, 5) tem como principal conteúdo a pessoa de Cristo.
Quando a perseguição chegou na Igreja, os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a palavra (At 8. 4 ACF). Mais uma vez Lucas emprega o termo ευαγγελιζω para expressar a atividade proclamadora da igreja, que agora não se encontra mais restrita aos apóstolos, mas é abrangente ao povo de Deus perseguido. Estes agora vão por toda a parte proclamado a palavra, indicando que o conteúdo para a Evangelização é a Bíblia.
Deus é o Evangelista supremo nas Escrituras, uma vez que, de acordo com as palavras de Pedro na casa de Cornélio, Deus enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (At 10. 36 ACF). Evangelismo, portanto, é a proclamação das boas novas de salvação por meio de Cristo Jesus, e de como ele reconciliou o homem.
Evangelismo não é fazer propaganda no sentido moderno da palavra, uma vez que a pregação que o acompanha é um desafio ao arrependimento e um chamado concreto à renúncia, para não falar na mais que acertada observação feita por Geisler, de que o Evangelho é de graça, mas pode custar a própria vida, afinal, Jesus foi essencialmente verdadeiro quando disse: quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á (Mt 10. 39 ACF). 
 
I) PAULO COMO EVANGELISTA
 
Na carta aos Coríntios Paulo define sua atividade como a de um Evangelista, afinal, sua pregação do Cristo é frequentemente descrita como ευαγγελιζω. Ele mesmo afirma: Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não seja esvaziada. Cristo, Sabedoria e Poder de Deus (I Co 1. 17 NVI), o verbo que aparece para pregar o Evangelho aqui é: ευαγγελιζεσθαι (euanggelizesthai), que deriva de ευαγγελιζω e possui o sentido descrito acima.
Enquanto evangelista, Paulo define a própria pregação como prioridade ministerial, não permitindo com isto, que sequer o batismo, que é igualmente uma ordenança de Cristo (Mt 28. 19, 20; Mc 16. 15, 16), ou o direito legítimo ao salario pastoral (I Co 9. 1 - 16 [aqui e aqui]) sejam empecilho para o cumprimento de sua missão. Caso o leitor visite os links acima, poderá perceber que Paulo sempre dependeu de alguém que o mantivesse, a fim de que o Evangelho fosse pregado, mas que abriu mãos do sustento da comunidade de Corinto, para que isto não se constitui-se barreira ao Evangelho.
Paulo se sente constrangido no cumprimento da missão de pregar o Evangelho, e isto, ao ponto de dizer: me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho! (I Co 9. 16 NVI). Primeiro pregar é uma compulsão, ou necessidade, este é o sentido do termo αναγκη (anagkee). Segundo, a expressão ουαι δε μοι εστιν εαν μη ευαγγελιζωμαι (uiai de moi estin ean me euggelizomai [Ai de mim se não pregar o evangelho]), indica que omitir-se em coloca o evangelista sob estrita reprovação.
Paulo rejeita inteiramente a retorica grega por julgar que a exposição do conteúdo do Evangelho é suficiente para promover salvação, é o que se pode perceber por meio das palavras abaixo:
Irmãos, quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês receberam e no qual estão firmes.  Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão (I Co 15. 1, 2 NVI). 
gostaria de destacar aqui a expressão Por meio deste evangelho vocês são salvos, que ao meu ver é indicador máximo de que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação do que crê. O verdadeiro Evangelista é alguém que crê que a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas salvação para os que creem (I Co 1. 18).
 
II) JESUS O EVANGELISTA POR EXCELÊNCIA
 
Em seu primeiro discurso na sinagoga de Nazaré, Cristo definiu sua missão na terra a partir de um texto extraído do profeta Isaías.
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor" (Lc 4. 17 - 19 NVI). 
O nome Cristo significa Ungido em grego. Partindo deste pressuposto afirmo que ele foi autorizado por Deus para  pregar boas novas aos pobres. A expressão que a NVI traduz por pregar é traduzida por evangelizar na Almeida Corrigida Fiel, uma vez que o verbo empregado por Lucas é ευαγγελιζω. Mais adiante o mesmo Jesus diz:
É necessário que eu pregue as boas novas do Reino de Deus noutras cidades também, porque para isso fui enviado".  E continuava pregando nas sinagogas da Judéia (Lc 4. 43, 44 NVI). 
A pregação de Jesus nas sinagogas e definida como evangelização, visto que o pregar o Evangelho é a tradução que a NVI emprega para  ευαγγελισασθαι (euanggelizasthai). A sinagoga não é uma Igreja como se pensa. Na época de Cristo a mesma era um espaço de educação pelo qual todos os meninos judeus tinha de passar, e aos sábados os homens se reunião para a leitura da torá. Jesus se valeu deste mesmo espaço para proclamar o Evangelho. Tal como Paulo ele definia sua missão como proposito de vida.
 
III) O MINISTÉRIO DE EVANGELISTA
 
Tanto Jesus quanto Paulo estiveram inteiramente dedicados a pregação do Evangelho e o fizeram se valendo dos mais variados espaços, e creio que seja isto mesmo que um evangelista faz. Mas a obra do Evangelista não se esgota na pregação. O Evangelista dedica tempo no preparo de outras pessoas na pregação do Evangelho. É isto que vemos Jesus fazendo (Mt 9. 35 - 10. 15; Mc 3. 14; Lc 9. 1 - 6), e Paulo também (II Tm 3. 14 - 4. 5).
Neste processo de formação a maturidade doutrinaria é de suma importância, afinal, tanto o evangelista prático, quanto o ministro devem estar solidamente alicerçados na doutrina bíblica, a fim de serem fieis á mensagem que lhes foi confiada é este o conselho que vemos Paulo dando a Timóteo
Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.
Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;
E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.
Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério (II Tm 4. 1 - 5 ACF)
 
O evangelista nos moldes bíblicos é alguém que
  1. Prega a palavra visando agradar única e somente a Deus, a quem vai prestar contas no dia do juízo.
  2. Sua pregação de dá no tempo oportuno (ευκαιρως [eukairos]) e no tempo inoportuno (ακαιρως
  3. [akairos]), ele faz o tempo e a ocasião.
  4. A pregação do evangelista também possui um caráter de ensino e doutrina, do contrário ele não poderia trabalhar no aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério (aqui).
  5. O Evangelista não segue as tendências da moda, ele não faz conchavos, não vende a verdade em busca de aprovação popular, e nem se comporta como um palhaço para tal, antes, tem uma disposição para ser sofredor e cumprir o serviço que lhe foi confiado.
Este é, ao meu ver o perfil bíblico de um verdadeiro evangelista.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

Fim do dia dos pais e dia das mães?

 
Sim, de acordo com fontes Escolas da Zona Leste de São Paulo substituíram o dia dos pais e dia das mães por um dia de quem cuida de mim. Conforme indicado na matéria a medida não é nada inclusiva, uma vez que nada impede que às tradicionais datas comemorativas seja incluído o dia do cuidador,  ou que as mesmas a englobassem (aqui).  
Particularmente sou filho de mãe solteira, e mais do nuca tenho orgulho de minha mãe, que foi modelo de honestidade, trabalho, caráter, perseverança. Aprendi muito cedo a entender que dadas as condições eu não possuía pai, nem na certidão de nascimento, e por isto nem no Registro Geral, e na de casamento.
Como adulto sei que o maior problema com isto não são as comemorações escolares, mas é ver muito marmanjo de minha idade, que até hoje sabe o que é uma ajuda paterna, ao passo que eu não sei, e nunca coube o que era sequer um modelo de pai e de masculinidade dentro da casa, e é aí que reside o real problema.
Contudo sei que minha frustração me ajudou a ser uma pessoa que corre atrás do que quer, e mais, minha mãe dizia que quem quer tem que correr é na frente, pois quem corre atrás chega atrás. E ao ler esta matéria aprendo outra coisa: não tenho o direito de transformar minha frustração em algo que deva ser estendido a todos. Isto é o que Nietzsche chamava de moral ressentida, e aqui foi transformada em projeto escolar. Mas tenho outra suspeita a respeito destes tipos de projetos.
O dia dos pais e das mães é fruto de organizações cristãs espalhadas pelo mundo. A extinção destas datas do calendário escolar representa a desconstrução de todos e quaisquer resquícios da cosmovisão de mundo cristã. A solução deste problema demanda uma tomada de decisões por parte da Igreja.
Na minha opinião esta tomada de decisão não se trata de militância politica para que a Bíblia seja lida nas escolas publicas, mas de potencialização na pastoral cristã, fortalecimento familiar (seja no modelo tradicional), ênfase no culto doméstico, e acima de tudo o diálogo, que tem sido tão prejudicado na atualidade. Uma coisa é certa simplesmente diabolizar, ou satanizar o PT, criar um clima de apocalipsismo político de nada adianta.
 
Marcelo Medeiros

terça-feira, 20 de maio de 2014

Nova Lição da CPAD



Segundo informações colhidas na rede a CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus) apresentou a capa e o conteúdo de sua mais nova lição de Escolas Bíblicas Dominicais, que trarão como conteúdo a carta de Tiago. A ação arca o retorno a tendência das lições bíblicas dos quatro últimos trimestres de privilegiar a temática bíblica. O estudo é de suma importância dada atualidade da carta em apreço, mas principalmente na formação de cristãos cujo caráter reflita o de Cristo. É com extrema ansiedade que aguardo por tais estudos.
 
Lição 1: Tiago — Fé que se Mostra pelas Obras
Lição 2: O Propósito da Tentação
Lição 3: A Importância da Sabedoria Humilde
Lição 4: Gerados pela Palavra da Verdade
Lição 5: O Cuidado ao Falar e a Religião Pura
Lição 6: A Verdadeira Fé não Faz Acepção de Pessoas
Lição 7: A Fé se Manifesta em Obras
Lição 8: O Cuidado com a Língua
Lição 9: A Verdadeira Sabedoria se Manifesta na Prática
Lição 10: O Perigo da Busca pela Autorrealização Humana
Lição 11: O Julgamento e a Soberania Pertencem a Deus
Lição 12: Os Pecados de Omissão e de Opressão
Lição 13: A Atualidade dos Últimos Conselhos de Tiago
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros

Mais um post fraudulento e desta vez dos abortistas



NOTA EXPLICATIVA:

A imagem original (que trazia um questionamento a respeito da coerência do cristão quanto a luta contra o aborto e associava as críticas à figura de Albert Einstein) foi removida então tive de buscar outra. A julgar pelo conteúdo esta foi mais coerente com o conteúdo do post em apreço. Por meio da mesma mostro que toda crítica desta estirpe é seletiva e incoerente.

Este post me deixou mesmo inflamado. Não pelo conteúdo em si, mas pela desonestidade, e por ser possível constatar por meio do mesmo que nós cristãos estamos em uma guerra cujo lema é o famoso vale tudo. Desta vez defensores da prática do aborto apelam a uma figura de grande peso histórico para reafirmarem sua posição e ridicularizarem cristãos que sejam contrários à prática em questão. Vou apontar algumas desonestidades neste post.

Primeiro, qualquer pessoa que leia o livro Como vejo o mundo de Albert Einstein, chega facilmente à conclusão de que Einstein definitivamente era contrário a crença no deus judaico cristão (aqui). Daí, é possível crer que o gênio da física moderna tenha de fato feito a ironia contra o deus cristão. Mas a pergunta que fica, é: como alguém que afirma defender e praticar a religiosidade dos salmistas, de Francisco de Assis pode ser favorável ao aborto (em caso de dúvida confira a obra supra citada)?

Em segundo lugar os primogênitos mortos no Egito são a maior deposição contra o aborto. Como assim?! Simples é notável que o post critica Iahweh por ter matado os filhos mais velhos dos egípcios, e sabe por quê? Porque neste caso estamos falando de seres humanos, mas por alguma razão o feto não é considerado assim. Mas sabe qual é a maior ao pesquisar a opinião de Pondé, que se diz niilista (alguém que não tem preocupações religiosas ou metafisicas, se preferir), descobri que ser favorável ou contrário ao aborto não tem nada a ver com religião, crer, ou não crer em Deus.

Partindo do que foi escrito acima, minha última observação é que contrariando a lógica uma cosmovisão cristã não orienta as pessoas contra, ou favor do aborto. Exemplo? Edir Macedo, líder de uma das maiores Igrejas neopentecostais se diz favorável ao aborto. Se você tem dúvida, veja a defesa que o mesmo faz da prática (aqui). Mais não para por aí, o filósofo Luís Felipe Pondé é contrário ao aborto, e com uma argumentação ainda mais contundente do que a feita por Macedo (aqui).

Para Pondé, o aborto é um assassinato e pronto, e de minha parte não há nenhuma dificuldade em identificar uma contradição hipócrita num contexto social que defende a preservação de espécies em extinção, mas proclama a defesa do aborto sob pretexto que a toda e qualquer mulher tem o direito de fazer o que quiser com seu corpo.

Forte abraço, Marcelo Medeiros

Decisão complicada ein!?


A nova do momento, ao que parece, é a decisão de um juiz, a respeito de remoção de vídeos ofensivos às religiões afro. Ao que parece o magistrado tomou sua decisão pela não remoção dos vídeos a partir de uma justificativa polemica, a não inclusão das manifestações religiosas em apreço na categoria de religião. Para a escritora deste artigo (aqui), a decisão foi frágil em razão de que a fundamentação do julgamento não se deu a partir da sociologia da religião.
Quero deixar claro, que para mim candomblé, umbanda e demais manifestações afins são religião, ou o mínimo expressão da religiosidade humana e isto, por si só já justifica a iniciativa, por parte do Estado, contra toda forma de ofensa. O problema é que a ofensa é de cunho subjetivo, e salvo engano, o direito brasileiro é de viés positivista. O que coloca qualquer magistrado na berlinda.
Não assisti os vídeos supostamente ofensivos, mas já pensou como seriam os nossos tribunais se os evangélicos (grupo do qual faço parte), embarcassem na mesma onda e resolvessem fazer petições e mais petições judiciais contra todo forma de manifestação crítica, que eles considerassem ofensivas (inclua aqui blogs de professores universitários que deliberadamente ofendem evangélicos, posts e charges de ateus)? Aonde isto iria parar? Ficam as perguntas.
Por ora, o que posso dizer é que toda conduta pública é passível de crítica, mas que a liberdade precisa ser exercida sob a autoridade máxima da consciência. Meu direito á crítica e à opinião não pode violar a liberdade e a consciência religiosa de quem quer que seja. Simples? Sim, porém pontual, e fica a dica.
 
Abraços, Marcelo Medeiros.

sábado, 17 de maio de 2014

Bandido Bom é Bandido morto?


Vi esta imagem em uma comunidade de debates religiosos e filosóficos no facebook (aqui), e confesso que fiquei pensativo com a mensagem da mesma e com os comentários que se seguiram. O Brasil tem vivido um momento de convulsão política e social. Ao lado dos aprofundamentos das mazelas e contradições sociais e econômicas, é possível a verificação de um crescente sentimento de revolta e indignação, principalmente com a criminalidade e a paralela ineficiência dos aparatos estatais na contenção da mesma. Tais fatores tem contribuído e muito para a adesão à lógica do bandido bom é bando morto.
O problema com este tipo de pensamento é uma visão maniqueísta da humanidade, que divide a mesma em mocinhos e bandidos somente. Um exemplo citado por Caio Fábio é a ética do Batman, versus a Ética do Coringa. O primeiro caso consiste na busca da erradicação da violência sem que se corrijam as mazelas sociais que produzem a violência. O segundo consiste em alguma forma de naturalização da violência. Não é incomum a atribuição deste tipo de lógica á Polícia Militar, nem as propostas de desmilitarização das policias da nação para que tal se resolva, o que duvido.
Creio que a resolução deste tipo de problema passa por uma profunda mudança cultural, que não vem porque depende da educação para que ocorra. Esta educação teria de ser iniciativa de estado, mas se este tomar esta iniciativa ficará cada vez mais claro a culpa e o vicio do estado no processo. O padre Vieira, há quase cinco séculos já falava em seus sermões que o verdadeiro ladrão não é aquele que rouba um pão para comer, mas o que se vale de seu cargo político para enriquecer de forma ilícita, e honestamente, na minha perspectiva, que creio ser a mesma da torcida de Flamengo e Corinthians juntas, é aí que está o nosso verdadeiro problema.
Mas simplesmente inverter a lógica não resolve o problema. Todos somos Mr Hyde e Dr Jakyll ao mesmo tempo, o que levanta a questão a respeito do que nos faz as pessoas serem, ou tentarem ser éticas, vencendo com isto a criatura que trazem em si. Creio que esta é a questão, afinal, bandido morto é que nem capim morre um nasce um montão. É na lógica de produção social da marginalidade que a questão tem de ser tratada.
Mas há um outro problema, no fundo, no fundo, o Estado se alimenta desta lógica maniqueísta, afinal que animo podem ter os agentes de segurança em trabalhar contra a criminalidade sabendo que as condições sócio econômicas a alimente e retroalimenta?
 
Marcelo Medeiros

Mete bala mesmo????????????


Depois da polêmica em que apareceu cheirando uma Bíblia, o mais novo pop star do mundo gospel vira noticia ao recomendar que policiais sentem a bala em bandidos, uma vez que segundo a interpretação que o mesmo faz de um texto paulino, a autoridade não traz a espada debalde. Embora a Bíblia aparentemente defenda a pena capital em alguns textos tem de ficar claro que a defesa da mesma não se dá em âmbito pessoal, mas no estatal. Na verdade quando Paulo fala da potestade, está falando do Estado como instrumento divino para a condenação das ás obras e louvor das boas (Rm 13. 1 - 6). A sanção, é sobre a ação do individuo, não sobre o indivíduo em si, mas o nosso pop star se esqueceu deste detalhe e além da péssima exegese bíblica ainda deu lugar ás mais violentas críticas, por parte dos anticristãos.
Meu maior problema com as afirmações do ungido pop não está na péssima qualidade da exegese somente, mas na margem que o mesmo deu para a infeliz associação que se faz entre evangelho e reacionarismo. O problema do pecado, raiz da criminalidade, não se resolve com "bala", do ponto de vista bíblico, teológico e pastoral, este tipo de pensamento é ingênuo, e infelizmente nosso garotão de Cristo caiu nesta. Resultado: nosso louco por cristo foi criticado e o Evangelho achincalhado por tabela (aqui). A recomendação de Pedro é mais do que necessária.
Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, Tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo (I Pe 3. 15, 16 ACF).
Traduzindo: que falem mal de nós por sermos evangélicos, e nunca por nossas más colocações, e desvios de percepção do Evangelho.
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O ministério de profeta


As lições de Escola Bíblica Dominical do corrente trimestre se concentram no estudo a respeito dos dons espirituais e ministeriais. Sendo que neste próximo domingo a abordagem se dará em torno do Ministério do Profeta na corrente dispensação. O entendimento da função do נָּבִיא֙ (nabi) é de fundamental importância para que se alcance um correto entendimento das funções do προφητην (propheten) no Novo Testamento. O profeta bíblico é muito mais do que alguém que adivinha e expõe eventos futuros para as pessoas, e no caso do ministério de profeta, ele á alguém que sob revelação expõe os desígnios e os mistérios de Deus.

I) O MINISTERIO PROFÉTICO NO ANTIGO TESTAMENTO

Esta abordagem já foi feita neste post, mas convém para efeitos do presente estudo que se resgate algumas noções que o mesmo traz. No período dos juízes, em razão de Israel ser composto por uma geração que não conhecera ao Senhor e nem a obra que este havia realizado em Israel, ocorre com frequência o habito de recorrer ao profeta como se este fosse um adivinho. Neste período o profeta é comumente chamado de vidente, (ra'ah [רֹאֶ֑ה]) este é o caso de Samuel, por exemplo (I Sm 9. 9; I Cr 9. 22; 26. 28). Ao lado de Samuel, Hemã (I Cr 25. 5) e Gade (I Cr 21. 9; 29. 29), sendo que exceto Samuel, todos recebem o nome de הַחֹזֶֽה (hozeh).
Com exceção de Samuel, todos estes homens são descritos como conselheiros de Davi, ao que parece. Esta era uma das funções dos profetas da antiga dispensação, aconselhar os reis nas tomadas de decisões, embora nem sempre fossem ouvidos por eles. Isaías, por exemplo, a despeito de ser um profeta da corte, só veio a ser ouvido por Ezequias.
Contudo, os especialistas afirmam que הַחֹזֶֽה é um termo mais elegante que רֹאֶ֑ה, mas com o sentido quase idêntico. Amós é ao mesmo tempo חֹזֶֽה e נָבִ֣יא (na'bi). Este termo indica alguém que é mais do que um vidente, mas um porta voz de Deus, como no caso de Moisés, Isaías, Jeremias, Ezequiel. O caso de Jesus é bem interessante, e creio ser a chave mestra para a compreensão das funções dos profetas no Novo Testamento, visto que nele todos os ministérios se manifestam (aqui).
O profeta do Antigo pacto é mais do que um vaticinador do futuro, na interpretação de Zacarias, por exemplo, este é alguém que chama do povo ao arrependimento, veja:
Portanto dize-lhes: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos, e eu me tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos. E não sejais como vossos pais, aos quais clamavam os primeiros profetas, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Convertei-vos agora dos vossos maus caminhos e das vossas más obras; mas não ouviram, nem me escutaram, diz o Senhor. Vossos pais, onde estão? E os profetas, viverão eles para sempre? Contudo as minhas palavras e os meus estatutos, que eu ordenei aos profetas, meus servos, não alcançaram a vossos pais? E eles voltaram, e disseram: Assim como o Senhor dos Exércitos fez tenção de nos tratar, segundo os nossos caminhos, e segundo as nossas obras, assim ele nos tratou (Zc 1. 3 - 6 ACF). 
Ao mesmo tempo em que chama, convoca o povo ao arrependimento, o profeta igualmente expõe o perigo caso os destinatários não se arrependam.

II) O PROFETA NO NOVO TESTAMENTO

Para Edward Robinson, o profeta, ou προφητην, é alguém que fala por influencia divina, sob inspiração, seja ao vaticinar eventos futuros, ou ao exortar, reprovar, ameaçar indivíduos ou nações, ou seja como embaixador de Deus e interprete de sua vontade para os homens. Sendo que aqui προφητην é um termo correspondente a נָבִ֣יא . Neste caso a compreensão que seja o προφητην se aplica aos profetas supra.
O único profeta do Novo Testamento que vaticina a respeito do futuro é Ágabo, embora o contexto fale, na verdade, de profetas (At 11. 27, 28). É bem provável que tais profetas existissem em abundancia nos dias apostólicos. Mas há que se observar que mesmo quando o profeta vaticinava sobre o futuro, as comunidades cristãs agiam com liberdade diante das profecias dos mesmos. É isto que acontece com Paulo, que mesmo diante de uma profecia de Ágabo a respeito do que lhe ocorreria em Jerusalém, ele sobe de Cesaréia para lá (At 21. 10).
No Novo Testamento, a autoridade por excelência não é o profeta, mas o apostolo, e é para a palavra deles que os cristãos precisam atentar.
vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito (Jd v. 17 - 19 ACF). 
O profeta que ameaça, exorta, é aquele que tem o dom de profecia, mas esta profecia não o coloca em pés de igualdade com o apóstolos e muito menos com o profeta do Antigo Testamento, cujas palavras ganharam peso normativo.
Robinson ainda aponta que o termo προφητην também pode ser empregado para designar  um embaixador enviado pelo próprio Cristo (Mt 10. 41). Mas creio que o próprio Cristo é a chave principal para o entendimento do que seja o profeta da nova dispensação. Cristo vindicou para si mesmo o título de profeta (Mt 13. 52; Mc 6. 4; Lc 4. 24), em todas as ocasiões a vindicação tem a ver com a percepção antecipada de que ele não era, e não seria bem recebido em sua pátria.
Em duas ocasiões Jesus foi reconhecido como profeta (Lc 7. 16; Jo 4. 19). Na fonte de Sicar, Jesus foi percebido como um profeta, e isto pelo fato de ter um conhecimento prévio da vida da mulher, mas também por confrontar o pecado da mesma e indicar a vontade de Deus para mesma (Jo 4. 22 - 24). E creio que esta seja a principal tônica do ministério de profeta.
 
III) O MINISTÉRIO DE PROFETA
 
Já abordei o assunto neste post, mas pretendo voltar ao texto a tecer algumas considerações, para tal convido o leitor a mais uma leitura do texto.
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.
Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor (Ef 4. 11 - 16 ACF). 
O que se percebe deste texto?
  1. Que ao contrario do que ocorria no Antigo Testamento, onde o profeta era quase que o único a perceber a vontade de Deus, sendo por isto mesmo incumbido de transmitir ao povo, o profeta ministro não está sozinho, ele está em companhia dos demais ministros.  
  2. Em nossos dias a principal função do profeta consiste em exortar o povo para a obra do ministério, indicando com isto que a essência do ministério é o serviço, ao invés do entretenimento, do glamour, da fama e tantas outras coisas que tem assolado e distorcido a essência do Evangelho de Cristo.
  3. O profeta reconhece a unidade do corpo de Cristo em meio á diversidade e trabalha para que estas características sejam mantidas.
  4. O profeta ministro trabalha para plena maturidade do cristão. Esta consiste em ser semelhante a Cristo, e jamais se dobrar aos falsos ensinadores, se identificando, neste aspecto com os verdadeiros profetas que lutaram contra os falsos, ainda que não possuidores da mesma autoridade dos mesmos.
O profeta cristão não reduz seu ministério às funções de guru pessoal de uma suposta aristocracia cristã, seu trabalho é chamar o povo para o serviço, invocar a Deus por arrependimento espiritual para que este mesmo povo possa compreender a esperança que sua chamada encerra. Convoco desde já os leitores a que juntos oremos a  Deus para que ele levante tais profetas em nossa geração.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

A triste notícia da semana


Confesso que fiquei tão estarrecido com as imagens desta matéria que me resguardei de escrever algo sobre ela. A história é bem simples, e pode ser conferida na foto abaixo.


  1. Um dos assaltantes, ao que tudo indica, um menor de idade, observa um casal, identifica o alvo, o cordão do rapaz.
  2. O bandido arranca o cordão pelas costas do rapaz, sem dar chance de reação ao mesmo.
  3. O rapaz persegue o menor, e, ao que parece consegue derrubar o mesmo.
  4. Mas é acuado por supostos comparsas que além de darem plena cobertura ao menor, ainda roubam o óculos do mesmo.
 
Minhas perguntas são: a quem vamos culpar por isto? Mais ainda, porque o Globo, e demais jornais não deram cobertura a esta notícia? Seria pelo fato de que a mesma revela o inconteste fato de que mesmo diante da realização de grandes eventos, a nossa segurança é por demais frágil? Onde está aquela mesma população que se revoltou, e com justiça,contra os justiceiros que amarraram o menor em um poste; mas que quase nunca se manifesta contra tais atos? E os direitos humanos? onde estão aqueles nobres e zelosos deputados que de forma prestimosa se articularam para calar a boca de uma jornalista que nada mais fez além de expor a hipocrisia social.
Antes que alguém apareça aqui contestando a reação do rapaz, gostaria de saber qual seria a sua sugestão em termos de reação a atos como este. Devemos nos calar como ovelhas mudas, recuar para que junto com os nossos cordões levam nossas calças? Responda: é este o projeto de sociedade que você defende? Há algo a ser feito para melhorias efetivas ocorram?
Antes que alguém me pergunte se sou favorável a vingança pessoal, vou dizendo que não. A aplicação das penas cabe ao Estado, que biblicamente foi levantado como potestade espiritual para o louvor das boas obras e condenação das más. Mas sei também que este Estado é composto por pessoas caídas, e que volta e meia os valores se invertem. Mas o que fazer quando isto acontece e conforme delineado em Utopia, o estado passa a produzir as engrenagens da violência, conforme exposto acima?
 
Marcelo Medeiros
 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Dons ministeriais uma visão da unidade na diversidade


O conceito de dom, enquanto dádiva com fins de capacitação para o crente em vista do bem estar comum na comunidade, tem sido suficientemente desenvolvido nos posts anteriores (aqui). No presente post me deterei em fazer uma síntese dos dons ministeriais como um todo, e isto, com vistas a proporcionar o professor e aluno da escola bíblica dominical, bem como os demais estudiosos da matéria, subsídios que permitam o aprofundamento na temática.

I) UM APELO À UNIDADE

O texto em que Paulo fala dos dons espirituais começa com um apelo à unidade dos santos. Esta unidade é uma das formas de se responder dignamente ao chamado de Deus, bem como as benção que ele depositou sobre os crentes desde a eternidade (Ef 1. 2 - 6), que culminou com a união de judeus e gentios em um único povo (Ef 2. 11 - 18; 3 . 1- 6). Sob este aspecto, devemos crentes andar de forma digna (αξιος [axios]) da maneira com que foram chamados.
O curioso é que a salvação é inteiramente pela graça de Deus, o andar digno é uma resposta da comunidade à graça que Deus dá. Esta graça, conforme dito nos estudos anteriores se manifesta na salvação? Sim, afinal, está escrito: pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Ef 2. 8 ACF), mas também se manifesta no ministério, visto que do mesmo modo se pode ler que a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo (Ef 4. 7 ACF). É esta mesma graça que se manifesta por meio de dons.
É neste contexto que se pode falar de um andar digno, que corresponda ao que Deus fez em nossas vidas. Esta andar digno se traduz em relacionamentos pautados por humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef 4. 2, 3 ACF).
Tem sido cada vez mais comum o conceito de que unidade não é uniformidade. Viver em união é se relacionar pautado na humildade, na mansidão, longanimidade, no amor sofredor e paciente. E creio aqui que estes são os principais sinais que devem de ser vistos na vida do ministro. Maravilhas e sinais podem ocorrem por meio de falsos profetas (Dt 13. 1 - 4), daí que a vida e o fruto sejam os principais parâmetros para o correto discernimento (Mt 7. 15 - 21).

II) A QUESTÃO DA GRAÇA

Tanto no tocante aos dons de manifestação, quanto no que tange aos ministérios, o conceito de graça é de fundamental importância. Paulo afirma que a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo (Ef 4.7ACF). o devido entendimento deste texto se dá mediante a percepção, por parte do leitor de que Cristo fez tudo pelos crentes, sim, ele mesmo subiu, e ele mesmo desceu. E Paulo explica que tal se deu para que em Cristo ινα πληρωση τα παντα (ina pleorsee ta panta), todas as coisas se cumprissem, ou fossem devidamente cheias (Ef 4. 10).
A graça coloca Cristo no centro dos ministérios, sejam apostólicos, pastorais, de ensino. Cristo é o centro do ministério cristão, não é sem razão que no Apocalipse ele mesmo aparece entre os castiçais, indicando com isto sua centralidade eclesiástica, e no meio das estrelas (que representam os pastores), representando a centralidade pastoral daquele que João frequentemente se refere como sendo o cordeiro que morreu (Ap 1. 12, 13, 20).
Nem pastores, nem profetas e muito menos os apóstolos atuais subiram aos céus, ou sequer desceram aos abismos. Possa ser que algum dia estes subam (por causa do arrebatamento), ou desçam (por causa da condenação), mas somente Cristo subiu e desceu. E somente ele enche todas as coisas, somente ele foi constituído como cabeça da Igreja, que com seus vários membros é o corpo de Cristo, sendo por este motivo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos (Ef 1. 23 ACF).
Não é sem razão que Paulo escrevendo aos irmãos de Corinto, tenha afirmado que há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo (I Co 12. 5). Por ministérios aqui, em grego διακονιων (diakonioon), entenda-se serviço. Este estabelece uma relação entre senhor e servo, e no caso do serviço Cristão, Cristo é o Senhor, e apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, são servos.
Cristo é, ao mesmo tempo, o apostolo de nossa confissão celestial (Hb 3. 1), o profeta por excelência (Dt 18. 18; Lc 7. 16; Jo 4. 19; At 3. 22, 23), o evangelista que nos anunciou a paz (Ef 2. 17), o bom pastor (Jo 10. 11, 14) - a ninguém mais cabe esta titulo, visto pastor algum fez, ou fará um sacrifício similar ao de Cristo - ou o pastor e bispo de nossas almas (I Pe 2. 25), e sumo pastor (I Pe 5. 4), e por fim, o nosso mestre por excelência (Jo 3. 2; 13. 13 - 16). 
Deus dispôs assim, por haver sido do seu agrado que toda a plenitude nele habitasse (Cl 1. 19), e segundo João, nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça (Jo 1. 16). O que qualquer homem possa ter nesta terra é fruto da plenitude da graça de Deus, que esteve abundantemente em Cristo, e que foi repartida com o seu corpo, que é a Igreja, não cabendo ao homem, seja este apostolo, profeta, pastor e mestre se gloriar disto. Conforme exposto supra, este entendimento é necessário para que se compreenda a unidade na diversidade, e vice-versa.

III) UNIDADE NA DIVERSIDADE

Se Deus dispôs o corpo de forma que a uns, ele mesmo designou apóstolos (para mais a respeito desta discussão, ver aqui), profetas, evangelistas, pastores e mestres; como manter a unidade em tamanha diversidade? Primeiro, há de atentar para a observação paulina de que há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo (I Co 12. 5 ACF). Paulo retoma este mesmo conceito quando escreve aos Efésios e afirma: Um só Senhor, uma só fé, um só batismo (Ef 4. 5 ACF).
Destas afirmações pode-se extrair que o Senhorio de Cristo é o ponto de convergência da diversidade ministerial. Se existem apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef 4. 11), tal se dá, porque Cristo desceu as regiões mais inferiores da terra, e subiu às mais sublimes, visando dar dons aos homens (Ef 4. 10).
Em segundo lugar, a finalidade da existência destes ministérios é o que Paulo chama de aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério (Ef 4. 12). Esta εργον διακονιας (ergon diakonias) visa a edificação do corpo de Cristo, cuja marca principal é o conhecimento do Filho de Deus, por parte da comunidade, conhecimento este que se dá quando os crentes são conformados à imagem de Jesus Cristo (Ef 4. 13). Cristo é o ponto de partida e de chegada, sendo com isto a chave para a unidade na adversidade.
Terceiro, os dons são dados, a fim de que não mais sejamos enganados. Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente (Ef 4. 14), o que me leva a crer que antes de qualquer coisa, apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, são defensores da verdade e guardiões do povo de Deus.
Portanto, e por último, cabe a cada um destes obreiros e ministros a incumbência de promover o crescimento e a edificação dos corpo de Cristo, levando todos a seguirem a verdade em amor. Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor (Ef 4. 15, 16 ACF).
Minha conclusão é a de que acima de quaisquer sinais, milagres, e indicadores humanos de sucesso, estes são os verdadeiros sinais de um ministério fundamentado em Cristo. Abraços pentecostais e reformados em Cristo Jesus.

Pr Marcelo Medeiros.

sábado, 10 de maio de 2014

O ministério do Apostolo


O termo ministério na carta aos Efésios é literalmente serviço, diaconia. É neste sentido que os próprios apóstolos, os que foram chamados por Cristo entendiam a sua vida ministerial, e assim se referiam às suas atividades e funções, e creio que este sendo pessoal que os apóstolos tinham precisa ser resgatado em nossos dias, dada a febre apostólica que se vive em nossos dias.
Ao se consultar a respeito da continuidade deste ministério, é possível que o leitor tenha de lidar com as respostas mais dispares, desde o posicionamento pela extinção do referido ministério (aqui), até um posicionamento mais equilibrado como o de Stott, que defende a permanência de apóstolos para os dias atuais (este é o caso, por exemplo de plantadores de Igrejas), desde que se entenda que os mesmos não são equiparados em autoridade aos apóstolos que testemunharam a vida, morte e ressurreição de Cristo (aqui). São estes os fatores que forçam ao estudante da Palavra de Deus a considerar o tema proposto.
 
I) APÓSTOLO, O SIGNIFICADO
 
Creio ser de grande utilidade o estudo a respeito do sentido da palavra apóstolo. O termo grego αποστολος (apostolous), significa basicamente alguém que é enviado, por exemplo, um mensageiro. É com este sentido que o próprio Cristo afirma: Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou (Jo 13. 16 ACF). O termo enviado aqui é literalmente αποστολος (apostolous). É com este sentido que Epafrodito é chamado de αποστολον (apostolon), afinal, este fora enviado pelos Filipenses (Fp 2. 25) para suprir as necessidades de Paulo em sua prisão (aqui).
Necessário se faz com que se considere também os embaixadores enviados de Deus, sendo que neste caso ocorre associação entre estes e os profetas da antiga dispensação. Por isso diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e perseguirão outros (Lc 11. 49 ACF).
Aos apóstolos e profetas foi revelado pelo Espírito[...], que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef 3. 5, 6 ACF). Neste sentido o apostolo é apresentado como alguém que é portador, ou depositário de uma revelação especial, e neste sentido não há mais apóstolos mesmo. Alguns colaboradores com Paulo na implantação de Igrejas também são chamados assim (II Co 8. 23).
Por último, na Bíblia, o apóstolo é alguém que foi comissionado diretamente por Cristo, como é o caso dos doze mais conhecidos, mas que pelo eu se pode ver pelo relato de Atos, outros poderiam, caso tivessem preenchidos os quesitos, necessários, preencher a vaga deixada por Judas, o Iscariotes (At 1. 26). Eles foram chamados de apóstolos primeiramente por Cristo (Mt 10. 2; Lc 6. 13), e por haverem recebido da fonte original, e mais, terem sido testemunhas oculares dos ensinos e milagres de Cristo, a palavra dos mesmos se reveste de autoridade impar (Jd v. 17).
 
II) O APÓSTOLO HOJE
 
Para falar do ministério do apostolo hoje, é preciso que se atente, e bem para as palavras de Jonh Stott, que diz:
Entendemos que já não há apóstolos na igreja. Pode haver ministérios apostólicos, como os que realizam missões, os plantadores de Igreja, os líderes. Estas pessoas exercem ministério apostólico, mas não podemos chamá-las de apóstolos. Ninguém na igreja atual tem uma autoridade comparada a de Paulo, Pedro ou qualquer dos apóstolos de Jesus
Cristo. Eles tinham uma autoridade única para ensinar em nome de Jesus e ninguém tem essa autoridade hoje. Então, se não há apóstolos na igreja contemporânea, como podemos nos submeter aos ensinamentos dos apóstolos? Seus ensinamentos chegaram até nós pela Bíblia (aqui). 
 
Pelo que se pode ver nas palavras de Stott,
  1. Existe uma séria distinção entre ministério apostólico e apostolo mesmo. Afinal, os primeiros foram chamados por Cristo, ao passo que alguns entendem que houve linha de sucessão apostólica.
  2. Os ministros apostólicos são implantadores de Igreja, mas não possuem o mesmo status que os apóstolos de Cristo, do período bíblico possuíam.
É isto que se precisa ter em mente. O ponto nevrálgico desta questão é a Ascenção de modelos eclesiásticos em que a figura do pastor, a fim de se cercar o maior prestigio possível, tem lançado mas de tais títulos. Mas a verdade é que apóstolos mesmo somente Cristo e os seus discípulos. Os verdadeiros apóstolos entenderem seus respectivos ministérios como  uma diaconia, a diaconia da palavra e da oração  (προσευχη και τη διακονια του λογου). Tem sido este o foco e a visão dos atuais apóstolos?
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros.
 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A sabedoria da ternura versus a loucura da brutalidade moderna


Resolvi começar minha leitura de mais um livro de Brennan Manning, o seu maravilhoso sabedoria da ternura. Antes de tecer qualquer comentário a respeito, preciso declarar aqui o quanto é terapêutico ler as palavras deste autor, que ao contrario de tantos em nossos dias não se vende como um super homem, super crente, super pregador, decididamente, ainda que o autor em apreço cite, ele não é seguidor de Nietzsche.
Me identifico com o vaso trincado, do confiança cega, com os maltrapilhos de Jesus, do evangelho maltrapilho, com a sabedoria pascalina impregnada no Impostor que vive em mim. Neste post gostaria compartilhar com os amados algo que li nas paginas iniciais do Sabedoria da Ternura. O texto é este:
Estou ansioso e feliz por registrar que não somente encontrei incontáveis indivíduos que estão preservando as Boas Novas do Cristianismo das armadilhas da religião organizada e das garras da piedade convencional, como também tenho visitado vários bastiões evangélicos - comunidades de fé, grandes e pequenas - fazendo as mesmas coisas.
Esses companheiros vivem absortos em oração e centrados em Jesus. Falhos como todos nós, eles riem muito e com facilidade de si mesmos e de suas pretensões de santidade. Voltam os seus rostos na direção de nosso mundo quebrado com os olhos para o desamparado e uma preocupação preferencial pelos pobres. No culto de domingo não medem o sucesso pelo número de vozes erguidas em louvor, ou dos ritmos variados do ministério de música. A adoração é sincera e alegre, o louvor banhado com gratidão. O ministro, ou sacerdote, pode não ter muita eloquência, um vocabulário rebuscado, ou uma personalidade carismática, mas o fogo silencioso nas suas entranhas é inconfundível, e a pregação vem do coração.
O contexto em que este texto se situa é o de uma serie de relatos de brutalidades e barbáries que a religião convencional comete em nome de algo que ela deveria servir, mas que julga tão somente representar.  Piedade convencional, é um evangelho destituído de graça interior, e que justamente por falta desta o homem adota um formalismo. É justamente este arranjo que violenta o Evangelho, bem como aqueles que são genuinamente apaixonados pelo mesmo.
Somente na oração e na absorção completa por Cristo, a palavra encarnada, que se pode sobreviver em meio a este sistema sem perder a doçura das Boas Novas. E na oração e na contemplação do Cristo que morreu e ressuscitou, que o fogo da adoração é aceso e todas as formas litúrgicas, técnicas baratas de animação de auditório, oratória e eloquência humana, são minimizadas e deixadas de lado. Até a pregação se torna saborosa, independente de quantas articulações textuais e culturais o pregador possa fazer, afinal, vem a pregação do coração para boca e chegam aos nossos ouvidos como poesia, paixão, persuasão e poder.
O culto assim, se expressa em uma vida compromissada com o ideal de Cristo e dos profetas, onde os pobres, os desprezados, os que aparentemente nada tem a oferecer são o centro de nossa atenção, afinal, o que é feito a um destes pequeninos é feito ao próprio filho de Deus. Portanto, o interesse do pelos pobres do qual fala o autor, nada tem a ver com Teologia da Libertação, mas com a libertação de quaisquer amarras da religião institucional, bem como da piedade convencional, que impeçam o florescimento pleno da graça nos corações.
Estas palavras soam como balsamo, afinal, tem sido cada vez mais difícil ver a violência que se faz ao Evangelho e ao Reino, justamente no local onde ele deveria ser defendido. Ver pastores que vendem uma imagem de Espiritualidade mística em suas igrejas e comunidades, mas que em seu ambiente de trabalho se vendem por bem menos do que um prato de lentilhas, negam o espírito do evangelho quando ao invés de serem perseguidos por causa da justiça, perseguem injustamente as pessoas e impiedosamente se calam.
Os brutalizados de Cristo apenas podem confiar, em oração, as vidas a Deus; e como ovelhas, que estão no meio de lobos, aguardarem a manifestação da justiça de Cristo, na esperança de que enquanto esta não se manifesta visivelmente, a voz de muitas águas fale em seus corações tal como falou com João na Ilha de Patmos.  
 
Em Cristo, Marcelo Medeiros, bom dia.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Oito fraudes em um único post

 
Antes que o site saia do ar resolvi postar, claro dando os devidos créditos. O faço porque mais do que nunca percebo que desde que a Rachel Sheherazade fez aquele comentário sobre o menor que por ação de justiceiros foi amarrado nú em um post, tem sido tendência de intelectuais, jornalistas e partidos políticos associarem a prática de justiça com as próprias mãos ao comentário da jornalista em apreço. gostei da análise feita , cuja autoria é atribuída a Luciano Henrique, embora, não goste muito de alguns vícios olavistas, mas digno de leitura e consideração (aqui).
 
Muitos radicais de extrema-esquerda, quando postam nas redes sociais, tem uma meta clara: mentir como o mais frio dos psicopatas. O nível de perfídia de suas mentiras e o grau de sordidez em sua dissimulação tende a ser visto como uma espécie de troféu por aqueles que estão ao seu lado. Esse é o fruto da moral psicopática, o sistema moral de pessoas que tomam a mentira como método.
Uma evidência do nível de falsidade desta gente está em uma página de apoio ao PT no Facebook chamada Política no Face II. Em sua tradicional campanha de ódio e calúnia contra Rachel Sheherazade, agora eles resolveram acusá-la pelo crime cometido contra uma mulher inocente, que foi espancada e morta no Guarujá. Aliás, uma das notícias mais revoltantes dos últimos dias.
Leia com um Engov à mão:
Mais uma inocente morre pela prática de justiçamento (1). Uma mulher foi acusada por engano de agredir crianças, através de uma postagem com uma foto sua na página Guarujá Alerta (http://goo.gl/SlzU1P). Após isso, foi atacada por justiceiros (2), amarrada a um poste (3) e brutalmente agredida até a morte,
sem
direito a defesa. Populares filmaram as agressões que estão no link da postagem. Linchamentos e justiceiros cresceram (4) após a jornazista (5) Rachel Sherazade defender a prática criminosa e ilegal numa TV (6), uma concessão pública (7). Fica a pergunta, e se fosse você o(a) confundido(a) e injustamente acusado(a) de um crime, amarrado(a) ao poste, o que diria para a Barbie Reacionária? (8)

Hora de isolarmos as fraudes intelectuais:
  1. Uso inadequado de termos (justiçamento). Aliás, a figura não foi capaz de perceber que até a distorção o complica, pois o justiçamento era um termo dado à condenação de morte feito por um tribunal revolucionário. Era uma prática de comunistas. Mas não se aplica ao caso, pois não existiu tribunal e nenhum tipo de formalidade. Foi uma ação de turba e só.
  2. Uso inadequado de termos (justiceiros). Também não foi uma ação de justiceiros. Segundo a Polícia, a ação foi tomada por vizinhos. Não existem justiceiros burros a ponto de praticarem ações de execução próximos de suas residências. O petista tentou o truque aqui para tentar confundir o leitor, pois no caso do bandidinho do poste tínhamos de fato justiceiros que agiam de forma organizada e com o apoio de boa parte da população (o que jamais vai existir no caso da morte da mulher do Guarujá). Os casos são completamente diferentes.
  3. Truque emocional ao usar a ênfase na expressão “amarrada ao poste”. O detalhe é que no famoso caso do bandidinho do poste, falávamos de um criminoso confesso (que foi preso de novo semanas depois). No caso do Guarujá, a mulher era inocente… A fraude é clara.
  4. Alegação sem evidências. Segundo o petista, “linchamentos” cresceram após o discurso de Rachel sobre o bandidinho do poste. Mas não apresentaram nenhuma evidência para isso. Na verdade, mesmo que os linchamentos crescessem, ainda não haveria prova de que o crescimento estaria associado ao discurso de Rachel. Muito provavelmente, tal crescimento hipotético estaria associado às provocações lançadas pela extrema-esquerda contra a população após o caso de Rachel Sheherazade. Mas, enfim, não há evidências de aumento de crimes. Mas, se tiver, podemos atribuir a responsabilidade à extrema-esquerda.
  5. “Jornazista”? Apelo de baixíssimo nível. Aliás, Rachel não pode ser nazista, por defender livre mercado. Ao contrário dos petistas…
  6. Denunciação caluniosa. Está mais do que evidente que Rachel não praticou nenhuma incitação ao crime ao compreender os motivos de quem amarrou um marginal confesso a um poste. Mas quando o petista do Política no Face II afirma que ela “defendeu a prática criminosa e ilegal”, abre oportunidade para um baita processo de denunciação caluniosa por parte de Rachel. Se ela quiser, é causa ganha.
  7. Truque de ameaça de censura. Já refutei essa fraude aqui. Ver o item 03, que menciona a fraude “Televisão é concessão pública, portanto o governo pode fazer o que quiser”.
  8. Jogando para a platéia. Por fim, um apelo emocional questionando “Se fosse você o(a) confundido(a) e injustamente acusado(a) de um crime, amarrado(a) ao poste, o que diria para a Barbie Reacionária?”. Eu já sei a resposta no caso do sujeito ser um petista e estiver disposto a mentir feito um psicopata:  com certeza a chamará de “culpada”. E, é claro, só merece ser respondido com um processo no meio das fuças.
A tese da moral psicopática descreve o mais básico fundamento “moral” da esquerda. Por esta base moral, o esquerdista se sente justificado (e incentivado) a mentir em quantidade colossal, desde que ele entenda que sua causa justifica a mentira. É por causa deste sistema moral que eles se tornaram campões em suporte a genocídios pelo mundo. Detalhe: a moral psicopática não diz que todos os esquerdistas são psicopatas. Alguns podem ser histéricos ou mesmo terem editado informações em sua mente por diversos motivos. Mas como o discurso que estes últimos usam é emulado a partir de discursos criados por líderes nitidamente psicopatas, debater com um deles é como se debater com psicopatas.
Alias, pessoas normais estão revoltadas com o que ocorreu com a dona de casa vítima desse crime brutal e intolerável. Psicopatas, ao contrário, tendem a não sentir absolutamente nada, e aproveitam eventos desse tipo para manipular a emoção alheia. Estamos realmente de uma monstruosidade que não encontra limites.
O que importa é o seguinte: quando nos preparamos para “debater” com um esquerdista deste tipo com o mesmo nível de preparo que nos preparamos para enfrentar um psicopata, somos mais precavidos. Talvez por isso tenha sido tão fácil achar oito fraudes intelectuais em um único parágrafo. Realmente, estamos diante de um prodígio.
 
Forte Abraço a todos os leitores.

Caça às bruxas


Uma caçada brutal e cruel, é assim que defino a ação de moradores de Guarujá, que com base exclusivamente em um boato disseminado em um site resolveram fazer justiça com as próprias mãos, e espancaram até a morte a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, tudo em razão de um boato ligando a vítima a supostas mortes de crianças em rituais de magia negra (aqui).
O fato traz à tona a dinâmica do "fazer justiça com as próprias mãos", algo que está ligando a uma séria deturpação do senso de justiça das pessoas. Outro fator a ser seriamente considerado é o hábito de demonizar o outro. Ele ocorre mediante a necessidade de se transferir a culpa dos males do mundo para outra pessoa, por exemplo, não faltou jornalista para insinuar uma possível responsabilidade de Rachel Sheherazade em fatos análogos a este, como se o linchamento fosse algo tão novo, ou que tenha vindo a ocorrer exclusivamente em função do comentário infeliz da jornalista do SBT.
O sistema de transferência de culpa para os terceiros pode ser explicado mediante categorias psicológicas, psicanalíticas e teológicas. Como teólogo que sou me atenho á última. Um dos primeiros efeitos do pecado nas relações interpessoais, foi justamente este, o homem, ao ser indagado de sua condição culpou a mulher, e a mulher a serpente.
Já o fazer justiça com as próprias mãos tem mais a ver com a inercia estatal, e a escalada crescente da violência, algo que ficou implicitamente explícito no comentário da Rachel Sheherazade, o que pode ser constatado pelas notícias vinculadas a violência e que podem ser acessadas nesta página. Até um proeminente jornalista e um pastor do caminho embarcaram nesta canoa furada (para mais repostas à fraude em questão veja aqui).
A morte de tantas outras pessoas inocentes é o produto de uma equação que combina senso de justiça distorcido, ausência de aparato estatal, escalada crescente da violência e inercia dos mecanismos estatais de inibição. Caso você não seja crente pare a leitura por aqui, mas caso o seja, some a isto o pecado e você verá que a lógica dos espancadores é a mesma de quem culpa o outro pelos males do mundo.
 
Marcelo Medeiros.

sábado, 3 de maio de 2014

Dons de elocução


Após a abordagem do conceito de dons (aqui), do proposito dos mesmos (aqui), bem como da divisão dos dons alistados em I Co 12. 8 - 11, necessário se faz com que se concentre nos dons de elocução. O termo é definido da seguinte forma: maneira pela qual nos exprimimos (aqui), sendo esta então uma forma de exprimir as ideias por meio de palavras. São dons de elocução: Variedades de línguas, Interpretação de Línguas, Profecia.
Por meio de tais dons aquilo que Deus revela é expresso para toda a Igreja. A Bíblia é clara em recomendar que se busque o dom de profetizar, uma vez que o que profetiza exorta toda a Igreja, ao passo que o que fala em línguas edifica a si somente. Mas ainda assim, não de pode, nem se deve proibir o falar em línguas.

I) O DOM DA PROFECIA

O conceito lexical de profecia abrange desde o ensinamento, ou exortação moral divinamente inspirado, e falado por algum profeta; a anunciação e a interpretação dos propósitos divinos, até a simples predição de eventos futuros. A profecia bíblica, via de regra se concentra mais nos elementos de ensino, exortação, repreensão, do que na predição de eventos futuros, ao menos esta é a ideia de Gordon Fee e Douglas Stuartt. A seguir faço algumas considerações a respeito da profecia, para então falar do dom de profecia.

i) A profecia no Antigo Testamento

Um exemplo clássico é que Abraão, Isaque, Jacó e José são chamados de profetas (Gn 20. 7; Sl 105. 13 - 15), e destes apenas Jacó e José proferem oráculos de caráter preditivos. O mesmo pode ser dito em relação a Moisés, que passa a maior parte do tempo julgando e instruindo o povo, somente no quinto livro que ele pronuncia alguns oráculos proféticos de caráter preditivo.
Em toda a atuação de Elias, somente no tocante a morte de Jezabel que ele pronuncia um oráculo preditivo, mas sua atuação é de anuncio dos juízos de Deus sobre Israel. O mesmo se dá com os profetas literários. Se eles vivessem vaticinando o futuro, a mensagem dos mesmos não teria a mínima relevância para os seus contemporâneos.
São os profetas escritores que trazem uma profecia diferenciada. Junto da inspiração, vem o selo de autoridade divina para com as palavras dos mesmos de sorte que elas ganham status de palavra de Deus. De igual modo eles vindicam sobre si que estão falando em nome do Senhor, e sob a inspiração do Espírito do Senhor (Is 1. 2; 61. 1, 2; Mq 1. 2; 3. 8). A palavra destes profetas, via de regra, não é  bem aceita em seu tempo, somente depois, de muito tempo, como no caso de Jeremias e Amós, os mesmos foram aceitos como profetas do Senhor (Dn 9. 2; At 15. 15, 16).
Aqui é mais do que justo a menção ao comentário do autor da revista, para quem a igreja deve de ser conduzida pela orientação das Sagradas Escrituras, ao invés de o ser por supostos profetas, visto que não poucos lideres não tomam uma única atitude sem antes consultar um profeta. O que posso afirmar é que nas Escrituras este hábito foi cultivado pelo povo, no período dos juízes, e pelos reis no período monárquico, sendo que em ambas as ocasiões, não havia Escritura, ou texto acessível para o povo se orientar.
Inicialmente tais profetas eram chamados de videntes (ra'ah [רֹאֶ֑ה]). É o caso de Samuel, por exemplo no contexto em que Saul, vai consultá-lo a respeito da jumenta de seu pai, que se perdera (I Sm 9. 9, 11, 18). O texto da a entender que a função do profeta se assemelha a de um adivinho. E a importância desta percepção se deve ao fato de que na atualidade o profeta é visto da mesma forma. Todos querem um profeta que lhes diga o seu futuro, e de preferencia que confirme os desejos do seu coração (Jr 42 - 43).
Voltando ao texto e ao contexto de Samuel, necessário se faz notar que o mesmo não conformou sua vida e ministério ao costume do povo, antes anunciou para Saul, qual era a vontade de Deus para sua vida. Com isto este, que foi ao mesmo tempo vidente e o último juiz de Israel, deixou um maravilhoso legado para os aspirantes a profeta da atualidade.

ii) O profeta no Novo Testamento e o dom de profecia

Jesus afirmou: todos os profetas e a lei profetizaram até João (Mt 11. 13 ACF), dando a entender com isto que a profecia com status de escritura durou somente até João Batista (Lc 16. 16). No Novo Testamento, os sucessores dos profetas são os apóstolos. Logo, a profecia não possui mais o status de escritura, de norma divina, etc...
Os únicos profetas do período apostólico primitivo são as filhas de Felipe (At 21. 9), e ainda assim, é dito não que elas eram profetisas, mas que profetizavam. Neste mesmo texto Lucas registra a chegada de um profeta (προφητης), por nome de Ágabo, que previu a prisão de Paulo em Jerusalém (At 21. 10 - 18). O que faz Paulo, contrariando seu próprio conselho à igreja de Tessalônica (I Ts 5. 20, 21),  ignora a profecia e sobe para Jerusalém, sofrendo todos os males que Ágabo dissera que ele haveria de sofrer. Desobediência gratuita, não! Ele afirmara, independente de profecia: agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer,
Senão o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações
(At 20. 22, 23 ACF). Isto indica claramente que a palavra apostólica, ao invés da profética, era a norma nos tempos do Novo Testamento.
E o dom de profecia? Foi dado a Igreja não para normatizar a conduta da mesma, mas para edificar, consolar a exortar (I Co 14. 3). Mas está sujeita ao exame pessoal uma vez que a recomendação é: Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem (I Ts 5. 20, 21 ACF). O verbo traduzido, por provar, ou examinar aqui é δοκιμαζω (dokimazoo), cujo sentido é o de por, ou colocar á prova. Além de conformada com a sadia doutrina das escrituras sagradas, uma verdadeira profecia tem de edificar, exortar, e consolar, mas jamais nortear a vida pessoal e os rumos da congregação.

II) VARIEDADES E INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS

A habilidade para falar em outras línguas é descrita como um sinal (semeia [σημεια]), que segue os que creem (Mc 16. 17, 18 [aqui]), e como evidencia da descida do Espírito Santo, na descida do Espirito Santo no pentecoste. De acordo com o registro de Lucas,
E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem (At 2. 3, 4 ACF). 
Esta língua não é produto de um caso êxtase, uma vez que os que as ouviam, entendiam os apóstolos falando das grandezas de Deus em sua língua nativa (At 2. 4 - 11). O termo αποφθεγγεσθαι(apophtheggesthai), indica a fala em tom alto e claro, e é empregada na LXX como equivalente para profetizar (Dt 32. 2; I Cr 25. 1; Ez 13. 19; Zc 10. 2). Para todos os efeitos os ouvintes da língua aqui entendem claramente o que está sendo falado. Não há neste relato uma confusão, quanto á mensagem que os apóstolos estão transmitindo.
Outro fator a ser considerado é que a expressão que nossas Bíblias traduzem como língua em At 2. 6 no grego é διαλεκτω (dialektoo), indicando com isto que os discípulos que haviam recebido da parte de Deus a capacidade de falar em outros idiomas e de falar nas variações destes mesmos, afinal, διαλεκτω é a palavra da qual se origina nosso termo dialeto, cujo sentido é o de uma variedade regional (ou social, ou etária) de uma língua. Uma exegese deste texto já deixa claro que as línguas não são para causar confusão, mas para anunciar as grandezas de Deus.
Experiências de derramamento de poder tais como esta se repetem em Samaria (At 8. 15 - 17), na casa de Cornélio (At 10. 43 - 47), e em Éfeso (At 19. 6). Exceto Samaria, em todos se diz que falaram em outras línguas (λαλουντων γλωσσαις), sendo que na casa de Cornélio, ao mesmo tempo em que falavam em línguas, magnificavam a Deus (At 10. 46), ao passo que no pentecostes e em Éfeso, profetizavam (At 19. 6).
Há no pentecostalismo a ideia de que as línguas são evidência do Batismo com o Espírito Santo. Em Batismo na Plenitude do Espírito Jonh Stott afirma que o dom do Espírito é a salvação, indicando com isto que ele se posiciona a favor do conceito tradicional, que entende o Batismo com o Espírito, como sendo a conversão.
O problema com este entendimento é que no caso de Cornélio, por exemplo, Pedro e os demais que estavam com ele tomaram as línguas como evidência de que o dom do Espírito Santo (dorea ton hagios pneumatos [δωρεα του αγιου πνευματος]), havia sido derramado sobre os  gentios. O impasse em torno da questão permanece. Foi, ao que parece, na Igreja de Corinto que Paulo precisou normatizar a questão das línguas, a fim de que as mesmas não fossem confundidas com o êxtase, ou transe estático em que entravam os adeptos de outras religiões.  
O que importa é que o infiel, ao chegar em nossas assembleias veja as manifestações de línguas acompanhadas da interpretação, a fim de que não sejamos julgados como loucos, mas que ele ouça Deus falando por nosso meio, e tenha os segredos do seu coração manifesto, e glorifique a Deus e reconheça que o Senhor está naquele lugar.
De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis. Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?
Mas, se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. E, portanto, os segredos do seu coração ficam manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós.
Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.
E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados (I Co 14. 22- 31). 
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros 
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