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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O ministério de profeta


As lições de Escola Bíblica Dominical do corrente trimestre se concentram no estudo a respeito dos dons espirituais e ministeriais. Sendo que neste próximo domingo a abordagem se dará em torno do Ministério do Profeta na corrente dispensação. O entendimento da função do נָּבִיא֙ (nabi) é de fundamental importância para que se alcance um correto entendimento das funções do προφητην (propheten) no Novo Testamento. O profeta bíblico é muito mais do que alguém que adivinha e expõe eventos futuros para as pessoas, e no caso do ministério de profeta, ele á alguém que sob revelação expõe os desígnios e os mistérios de Deus.

I) O MINISTERIO PROFÉTICO NO ANTIGO TESTAMENTO

Esta abordagem já foi feita neste post, mas convém para efeitos do presente estudo que se resgate algumas noções que o mesmo traz. No período dos juízes, em razão de Israel ser composto por uma geração que não conhecera ao Senhor e nem a obra que este havia realizado em Israel, ocorre com frequência o habito de recorrer ao profeta como se este fosse um adivinho. Neste período o profeta é comumente chamado de vidente, (ra'ah [רֹאֶ֑ה]) este é o caso de Samuel, por exemplo (I Sm 9. 9; I Cr 9. 22; 26. 28). Ao lado de Samuel, Hemã (I Cr 25. 5) e Gade (I Cr 21. 9; 29. 29), sendo que exceto Samuel, todos recebem o nome de הַחֹזֶֽה (hozeh).
Com exceção de Samuel, todos estes homens são descritos como conselheiros de Davi, ao que parece. Esta era uma das funções dos profetas da antiga dispensação, aconselhar os reis nas tomadas de decisões, embora nem sempre fossem ouvidos por eles. Isaías, por exemplo, a despeito de ser um profeta da corte, só veio a ser ouvido por Ezequias.
Contudo, os especialistas afirmam que הַחֹזֶֽה é um termo mais elegante que רֹאֶ֑ה, mas com o sentido quase idêntico. Amós é ao mesmo tempo חֹזֶֽה e נָבִ֣יא (na'bi). Este termo indica alguém que é mais do que um vidente, mas um porta voz de Deus, como no caso de Moisés, Isaías, Jeremias, Ezequiel. O caso de Jesus é bem interessante, e creio ser a chave mestra para a compreensão das funções dos profetas no Novo Testamento, visto que nele todos os ministérios se manifestam (aqui).
O profeta do Antigo pacto é mais do que um vaticinador do futuro, na interpretação de Zacarias, por exemplo, este é alguém que chama do povo ao arrependimento, veja:
Portanto dize-lhes: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos, e eu me tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos. E não sejais como vossos pais, aos quais clamavam os primeiros profetas, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Convertei-vos agora dos vossos maus caminhos e das vossas más obras; mas não ouviram, nem me escutaram, diz o Senhor. Vossos pais, onde estão? E os profetas, viverão eles para sempre? Contudo as minhas palavras e os meus estatutos, que eu ordenei aos profetas, meus servos, não alcançaram a vossos pais? E eles voltaram, e disseram: Assim como o Senhor dos Exércitos fez tenção de nos tratar, segundo os nossos caminhos, e segundo as nossas obras, assim ele nos tratou (Zc 1. 3 - 6 ACF). 
Ao mesmo tempo em que chama, convoca o povo ao arrependimento, o profeta igualmente expõe o perigo caso os destinatários não se arrependam.

II) O PROFETA NO NOVO TESTAMENTO

Para Edward Robinson, o profeta, ou προφητην, é alguém que fala por influencia divina, sob inspiração, seja ao vaticinar eventos futuros, ou ao exortar, reprovar, ameaçar indivíduos ou nações, ou seja como embaixador de Deus e interprete de sua vontade para os homens. Sendo que aqui προφητην é um termo correspondente a נָבִ֣יא . Neste caso a compreensão que seja o προφητην se aplica aos profetas supra.
O único profeta do Novo Testamento que vaticina a respeito do futuro é Ágabo, embora o contexto fale, na verdade, de profetas (At 11. 27, 28). É bem provável que tais profetas existissem em abundancia nos dias apostólicos. Mas há que se observar que mesmo quando o profeta vaticinava sobre o futuro, as comunidades cristãs agiam com liberdade diante das profecias dos mesmos. É isto que acontece com Paulo, que mesmo diante de uma profecia de Ágabo a respeito do que lhe ocorreria em Jerusalém, ele sobe de Cesaréia para lá (At 21. 10).
No Novo Testamento, a autoridade por excelência não é o profeta, mas o apostolo, e é para a palavra deles que os cristãos precisam atentar.
vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que a si mesmos se separam, sensuais, que não têm o Espírito (Jd v. 17 - 19 ACF). 
O profeta que ameaça, exorta, é aquele que tem o dom de profecia, mas esta profecia não o coloca em pés de igualdade com o apóstolos e muito menos com o profeta do Antigo Testamento, cujas palavras ganharam peso normativo.
Robinson ainda aponta que o termo προφητην também pode ser empregado para designar  um embaixador enviado pelo próprio Cristo (Mt 10. 41). Mas creio que o próprio Cristo é a chave principal para o entendimento do que seja o profeta da nova dispensação. Cristo vindicou para si mesmo o título de profeta (Mt 13. 52; Mc 6. 4; Lc 4. 24), em todas as ocasiões a vindicação tem a ver com a percepção antecipada de que ele não era, e não seria bem recebido em sua pátria.
Em duas ocasiões Jesus foi reconhecido como profeta (Lc 7. 16; Jo 4. 19). Na fonte de Sicar, Jesus foi percebido como um profeta, e isto pelo fato de ter um conhecimento prévio da vida da mulher, mas também por confrontar o pecado da mesma e indicar a vontade de Deus para mesma (Jo 4. 22 - 24). E creio que esta seja a principal tônica do ministério de profeta.
 
III) O MINISTÉRIO DE PROFETA
 
Já abordei o assunto neste post, mas pretendo voltar ao texto a tecer algumas considerações, para tal convido o leitor a mais uma leitura do texto.
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.
Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor (Ef 4. 11 - 16 ACF). 
O que se percebe deste texto?
  1. Que ao contrario do que ocorria no Antigo Testamento, onde o profeta era quase que o único a perceber a vontade de Deus, sendo por isto mesmo incumbido de transmitir ao povo, o profeta ministro não está sozinho, ele está em companhia dos demais ministros.  
  2. Em nossos dias a principal função do profeta consiste em exortar o povo para a obra do ministério, indicando com isto que a essência do ministério é o serviço, ao invés do entretenimento, do glamour, da fama e tantas outras coisas que tem assolado e distorcido a essência do Evangelho de Cristo.
  3. O profeta reconhece a unidade do corpo de Cristo em meio á diversidade e trabalha para que estas características sejam mantidas.
  4. O profeta ministro trabalha para plena maturidade do cristão. Esta consiste em ser semelhante a Cristo, e jamais se dobrar aos falsos ensinadores, se identificando, neste aspecto com os verdadeiros profetas que lutaram contra os falsos, ainda que não possuidores da mesma autoridade dos mesmos.
O profeta cristão não reduz seu ministério às funções de guru pessoal de uma suposta aristocracia cristã, seu trabalho é chamar o povo para o serviço, invocar a Deus por arrependimento espiritual para que este mesmo povo possa compreender a esperança que sua chamada encerra. Convoco desde já os leitores a que juntos oremos a  Deus para que ele levante tais profetas em nossa geração.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

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