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quarta-feira, 21 de maio de 2014

O ministério de Evangelista

 

A verdade prática da lição que pretendo comentar neste post define o Evangelista como sendo alguém que proclama o pleno evangelho de Cristo com ousadia; sendo um arauto de Deus neste mundo. Tal colocação transmite o seguinte retrato de Evangelista:
  1. Evangelista não é um mero panfletário, muito menos todo e qualquer pregador itinerante, mas alguém que prega o Evangelho pleno, ou seja, em seus aspectos positivos e negativos.
  2. Este Evangelho tem de ser pregado com a ousadia devida (Ef 6. 18 - 20), o que demanda oração.
  3. O pregador, ou κηρυξ (kerix), é alguém que no mundo antigo era incumbido de proclamar em praça pública as decisões judiciais, é a esta figura que se associa a figura do verdadeiro evangelista.
Para uma maior compreensão deste glorioso ministério estarei recorrendo à pessoa de Jesus, o Evangelista por excelência, e Paulo. Para tal começarei com o conceito de Evangelismo.

I) O QUE É EVANGELISMO?

Parece uma pergunta banal, mas não é. Atualmente o evangelismo tem sido praticado na forma de panfletagem. Nada contra os irmãos que por alguma limitação na área da comunicação verbal, ou escrita, ou em ambas; comunicam o evangelho desta forma. O verbo grego ευαγγελιζω (euaggelizoo), e suas variantes possuem o sentido de levar uma boa noticia e no contexto do Evangelho, em particular, anunciar as novas de salvação.
Alguns textos em que as versões de língua portuguesa traduzem por pregar o Evangelho, não verdade trazem ευαγγελιζω. Quando Cristo afirma que o Senhor o ungiu para pregar boas novas aos pobres (Lc 4. 18 NVI), o autor, neste caso Lucas, emprega o verbo supra, sugerindo com isto que a compreensão de Evangelismo é o anuncio das boas novas de Cristo.
Foi neste sentido que Lucas aplicou ευαγγελιζω às atividades dos apóstolos na comunidade primitiva. Segundo o relato todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo (At 5. 42 ACF).  Faço questão de grifar est texto a fim de que fique claro que 1) evangelismo em principio é uma atividade diária, portanto não limitada a um único dia da semana, 2) não se limita aos espaços públicos, podendo ser  realizada nos lares e mesmo em templos, constituindo com isto, 3) uma atividade incessante, 4) que pode ser conciliada com o ensino. Por último, 5) tem como principal conteúdo a pessoa de Cristo.
Quando a perseguição chegou na Igreja, os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a palavra (At 8. 4 ACF). Mais uma vez Lucas emprega o termo ευαγγελιζω para expressar a atividade proclamadora da igreja, que agora não se encontra mais restrita aos apóstolos, mas é abrangente ao povo de Deus perseguido. Estes agora vão por toda a parte proclamado a palavra, indicando que o conteúdo para a Evangelização é a Bíblia.
Deus é o Evangelista supremo nas Escrituras, uma vez que, de acordo com as palavras de Pedro na casa de Cornélio, Deus enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (At 10. 36 ACF). Evangelismo, portanto, é a proclamação das boas novas de salvação por meio de Cristo Jesus, e de como ele reconciliou o homem.
Evangelismo não é fazer propaganda no sentido moderno da palavra, uma vez que a pregação que o acompanha é um desafio ao arrependimento e um chamado concreto à renúncia, para não falar na mais que acertada observação feita por Geisler, de que o Evangelho é de graça, mas pode custar a própria vida, afinal, Jesus foi essencialmente verdadeiro quando disse: quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á (Mt 10. 39 ACF). 
 
I) PAULO COMO EVANGELISTA
 
Na carta aos Coríntios Paulo define sua atividade como a de um Evangelista, afinal, sua pregação do Cristo é frequentemente descrita como ευαγγελιζω. Ele mesmo afirma: Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não seja esvaziada. Cristo, Sabedoria e Poder de Deus (I Co 1. 17 NVI), o verbo que aparece para pregar o Evangelho aqui é: ευαγγελιζεσθαι (euanggelizesthai), que deriva de ευαγγελιζω e possui o sentido descrito acima.
Enquanto evangelista, Paulo define a própria pregação como prioridade ministerial, não permitindo com isto, que sequer o batismo, que é igualmente uma ordenança de Cristo (Mt 28. 19, 20; Mc 16. 15, 16), ou o direito legítimo ao salario pastoral (I Co 9. 1 - 16 [aqui e aqui]) sejam empecilho para o cumprimento de sua missão. Caso o leitor visite os links acima, poderá perceber que Paulo sempre dependeu de alguém que o mantivesse, a fim de que o Evangelho fosse pregado, mas que abriu mãos do sustento da comunidade de Corinto, para que isto não se constitui-se barreira ao Evangelho.
Paulo se sente constrangido no cumprimento da missão de pregar o Evangelho, e isto, ao ponto de dizer: me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho! (I Co 9. 16 NVI). Primeiro pregar é uma compulsão, ou necessidade, este é o sentido do termo αναγκη (anagkee). Segundo, a expressão ουαι δε μοι εστιν εαν μη ευαγγελιζωμαι (uiai de moi estin ean me euggelizomai [Ai de mim se não pregar o evangelho]), indica que omitir-se em coloca o evangelista sob estrita reprovação.
Paulo rejeita inteiramente a retorica grega por julgar que a exposição do conteúdo do Evangelho é suficiente para promover salvação, é o que se pode perceber por meio das palavras abaixo:
Irmãos, quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês receberam e no qual estão firmes.  Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão (I Co 15. 1, 2 NVI). 
gostaria de destacar aqui a expressão Por meio deste evangelho vocês são salvos, que ao meu ver é indicador máximo de que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação do que crê. O verdadeiro Evangelista é alguém que crê que a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas salvação para os que creem (I Co 1. 18).
 
II) JESUS O EVANGELISTA POR EXCELÊNCIA
 
Em seu primeiro discurso na sinagoga de Nazaré, Cristo definiu sua missão na terra a partir de um texto extraído do profeta Isaías.
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor" (Lc 4. 17 - 19 NVI). 
O nome Cristo significa Ungido em grego. Partindo deste pressuposto afirmo que ele foi autorizado por Deus para  pregar boas novas aos pobres. A expressão que a NVI traduz por pregar é traduzida por evangelizar na Almeida Corrigida Fiel, uma vez que o verbo empregado por Lucas é ευαγγελιζω. Mais adiante o mesmo Jesus diz:
É necessário que eu pregue as boas novas do Reino de Deus noutras cidades também, porque para isso fui enviado".  E continuava pregando nas sinagogas da Judéia (Lc 4. 43, 44 NVI). 
A pregação de Jesus nas sinagogas e definida como evangelização, visto que o pregar o Evangelho é a tradução que a NVI emprega para  ευαγγελισασθαι (euanggelizasthai). A sinagoga não é uma Igreja como se pensa. Na época de Cristo a mesma era um espaço de educação pelo qual todos os meninos judeus tinha de passar, e aos sábados os homens se reunião para a leitura da torá. Jesus se valeu deste mesmo espaço para proclamar o Evangelho. Tal como Paulo ele definia sua missão como proposito de vida.
 
III) O MINISTÉRIO DE EVANGELISTA
 
Tanto Jesus quanto Paulo estiveram inteiramente dedicados a pregação do Evangelho e o fizeram se valendo dos mais variados espaços, e creio que seja isto mesmo que um evangelista faz. Mas a obra do Evangelista não se esgota na pregação. O Evangelista dedica tempo no preparo de outras pessoas na pregação do Evangelho. É isto que vemos Jesus fazendo (Mt 9. 35 - 10. 15; Mc 3. 14; Lc 9. 1 - 6), e Paulo também (II Tm 3. 14 - 4. 5).
Neste processo de formação a maturidade doutrinaria é de suma importância, afinal, tanto o evangelista prático, quanto o ministro devem estar solidamente alicerçados na doutrina bíblica, a fim de serem fieis á mensagem que lhes foi confiada é este o conselho que vemos Paulo dando a Timóteo
Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.
Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;
E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.
Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério (II Tm 4. 1 - 5 ACF)
 
O evangelista nos moldes bíblicos é alguém que
  1. Prega a palavra visando agradar única e somente a Deus, a quem vai prestar contas no dia do juízo.
  2. Sua pregação de dá no tempo oportuno (ευκαιρως [eukairos]) e no tempo inoportuno (ακαιρως
  3. [akairos]), ele faz o tempo e a ocasião.
  4. A pregação do evangelista também possui um caráter de ensino e doutrina, do contrário ele não poderia trabalhar no aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério (aqui).
  5. O Evangelista não segue as tendências da moda, ele não faz conchavos, não vende a verdade em busca de aprovação popular, e nem se comporta como um palhaço para tal, antes, tem uma disposição para ser sofredor e cumprir o serviço que lhe foi confiado.
Este é, ao meu ver o perfil bíblico de um verdadeiro evangelista.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

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