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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Lição da EBD n° 5: As virtudes dos salvos em Cristo


A palavra virtude pode ser compreendida como disposição constante de praticar o bem e evitar o mal. Este é o significado que encontramos, por exemplo, no Aurélio online. No Michaelis online vemos: excelência moral, probidade, retidão, propriedade, eficácia, qualidade própria para produzir certos resultados. Tais definições nos levam a refletir a respeito do texto base de nossa lição semanal (Fp 2. 12 - 17). Façamos algumas considerações a respeito de nossa salvação e do nosso progresso.

O conceito de virtude face ao conceito de graça

Nossa salvação é exclusivamente pela graça de Deus (Ef 2. 8, 9). Foi ele quem começou a boa obra em nós, e será ele mesmo o aperfeiçoador daquilo que ele mesmo começou (Fp 1. 6). Sendo que o verbo επιτελεσει (epitelesei), de επιτελεω (epiteléoo), cujo sentido é o de completar, levar a seu objetivo, levar até o fim, indicando com isto que do inicio ao fim de nossa caminhada a salvação é obra exclusiva de Deus.
Diante desta realidade não nos cabe pensar em virtude como qualidade própria para produzir certos resultados. Até porque não há um único homem justo nesta terra, que faça o bem e nunca peque, este é o veredito do pregador (Ec 7. 20). O julgamento do salmista a respeito deste mesmo assunto é de que não há uma única pessoa justa, e que todos juntamente se extraviaram (Sl 14. 2, 3). O mesmo é dito pelo apóstolo Paulo, na sentença: todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3. 23).
A verdade é que não temos uma disposição constante de praticar o bem e evitar o mal. Pelo contrário nossa inclinação é constantemente má, perversa (Gn 6. 5; 8. 21). De forma antropomórfica Isaias descreve o espanto divino com a total ausência de um único ajudador humano no plano da salvação. Para o profeta, Deus viu que não houve ninguém, admirou-se porque ninguém intercedeu; então o seu braço lhe trouxe livramento e a sua justiça deu-lhe apoio (Is 59. 16 NVI).
Face ao que nos é dito pela Bíblia, que Deus nos livre do pensamento arrogante e blasfemo de pensar que nossa salvação seja produto de uma única obra nossa, como disse Paulo, não por obras, para que ninguém se glorie (Ef 2. 9 NVI). Logo,  não foi por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt 3. 5 NVI).
 
Crescendo mais e mais
 
Embora a salvação seja exclusivamente pela graça de Deus, como dito acima, nossa resposta à graça que nos é oferecida, é a de crescer mais e mais. Paulo sabe que foi Cristo quem começou a boa obra na comunidade (Fp 1. 6), mas de igual modo ele ora para que o amor dos crentes de Felipo cresça mais e mais (μαλλον και μαλλον [mallon kai mallon]), em todo o conhecimento e percepção (Fp 1. 9). E qual é a finalidade deste crescimento? O apóstolo mesmo responde, para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo,  cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus (Fp 1. 10, 11 NVI).
O crescimento tem por alvo: 1) um maior discernimento, cuja finalidade é a aprovação de coisas superiores, 2) um caráter puro e irrepreensível até o Dia de Cristo, 3) a plenitude do fruto do Espírito, sendo que neste último caso, Paulo faz questão de enfatizar que este se dá por meio de Jesus Cristo e para a glória de Deus.
Assim, Deus começa e conclui a obra, mas este concluir engloba um crescimento paulatino em discernimento (aisthesei [αισθησει] somente aqui em todo o NT), era aplicada ao senso de percepção do mundo exterior, passando a ser empregada para a percepção moral interior. É esta percepção que nos conduz a sermos irrepreensíveis. O termo απροσκοποι (aproskopoi) é usado para aquilo que não serve de causa de tropeço. Paulo o emprega em sua carta aos Coríntios ao pedir que os cristãos não fossem motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gregos, nem para a igreja de Deus (I Co 10. 32 NVI). Ser irrepreensível aqui, na verdade é o mesmo que não dar motivo de escândalo aos que estão de fora.
A salvação, que é exclusivamente pela graça, se torna cada vez mais evidente em nossa vida na medida em que praticamos as obras de justiça que Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Ef 2. 8 - 10). Antes de sermos salvos não havia em nós a mínima predisposição ao bem, mas agora que fomos alcançados pela graça, nós podemos desenvolver a nossa salvação com temor e tremor.

Desenvolvendo a salvação

Paulo pede ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor (Fp 2. 12 NVI). O verbo κατεργαζεσθε (katergazesthe), de κατεργαζομαι, pode ser traduzido como trabalhai (ARC), ou desenvolvei (AC). Muitos são os crentes que influenciados pela teologia do perfeccionismo wesleyano, tem interpr
etado este texto como sendo uma ordem a fim de que o crente trabalhe pela sua salvação. Algo que de acordo com a Bíblia, é simplesmente inviável.
O termo κατεργαζομαι pode ser entendido como o ato de realizar, de completar um trabalho até o término do mesmo. Mas ele precisa ser entendido à luz do contexto da carta em apreço onde é Deus quem começa e leva a obra da salvação até o fim (Fp 1. 6 - 11). O contexto imediato nos dá esta visão, visto que no período abaixo o apóstolo Paulo afirma: é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele (Fp 2. 13 NVI). Entendemos com este texto que em meio ao nosso trabalho εργα (erga), Deus atua (ενεργων [energon]). É ele quem nos dá poder para que possamos trabalhar a nossa salvação com temor e tremor. Esta atuação se dá mediante o eterno propósito de Deus (θελειν [thelein]). O termo que nossas Bíblias empregam para traduzir a vontade de Deus aqui é ευδοκιας (eudokias), cujo sentido é o de boa vontade, beneplácito, podendo ser aqui entendido como aprovação, consentimento. Se realizamos qualquer progresso que seja em nossa vida cristã, tal se dá mediante o eterno beneplácito de Deus.

A salvação em termos práticos

A salvação, em termos práticos, se dá quando fazemos todas as coisas sem murmuração. O termo γογγυσμων (goggosmon), pode ser traduzido por reclamações, mas indica um queixume em tom de zum-zum-zum, uma murmuração em voz baixa. E o termo que as nossas Bíblias traduziram por contendas, na verdade é διαλογισμων (dialogismon), cujo sentido é empregado para discussões em tons de crítica, questionamentos e criticismo interior.
Elucida, e muito, que saibamos que foi esta a palavra empregada pelos tradutores do Antigo Testamento para se referirem á prática dos judeus na peregrinação do deserto. Não se trata somente de uma reação emocional contra aquilo que Deus faz, mas da incredulidade que se manifesta na resistência crítica.
Face ao contexto entendemos que diante da ordem em imitar a Jesus como exemplo humildade e de vida; de servir ao nosso irmão colocando as necessidades do mesmo como prioridade, de considera-lo superior a nós mesmos, não cabe contestação. Nosso Papel aqui é o de reconhecimento do nosso Senhor e Mestre, e de disposição em imitá-lo em tudo.
É este padrão de comportamento que revela ao mundo que somos filhos de Deus. Para que ele seja alcançado temos de reter firmemente a Palavra de vida, a fim de que todo o nosso esforço e todo investimento divino feito em nós não seja vão. Que Deus nos abençoe mais e mais mediante o seu operar em nossas vidas.

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

 
 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Padre Paulo Ricardo e suas falácias


Tenho de começar esclarecendo que nada tenho contra quem quer que seja, católico, protestante, evangelicalista, espírita, etc.... . Minha proposta de pregação do Evangelho se amolda à teologia de John Stott, logo, tenho extrema predisposição ao diálogo. Mas o que vi no vídeo com o referido Padre, foi demais. Logo em um momento, no qual o sumo pontífice romano se apresenta como um dos mais carismáticos de todos os papas e com abertura ao diálogo, ele me surge com a infeliz ideia de criticar os protestantes e logo no aspecto em que eles acertam.
A Bíblia, livro sagrado comum a protestantes e evangélicos afirma que há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, e ele é Cristo (I Tm 2. 5), que os mortos nada sabem nem podem fazer pelos vivos (Ec 9. 1, 2; Is 8. 19), logo se há uma ajuda esta é a dos santos vivos, que exortam, consolam, admoestam e fortalecem uns aos outros na fé (Fp 2. 1 - 4). Logo, Maria nada de especial tem a fim de que se confira a mesma o status de medianeira, uma vez que a Bíblia diz que é por Cristo que temos acesso ao Pai, em um espírito (Ef 2. 18 - 22).
Se como cristãos bíblicos somos orgulhosos, mal do qual toda humanidade sofre, estamos em companhia de Paulo que fez tais afirmações e juntos com os demais apóstolos nos deixou o legado escriturístico que nos permite pensar da maneira que pensamos. Padre Paulo Ricardo você comete duas incoerências.
A primeira de acertadamente reconhecer que é orgulhoso e assim o sendo pode pertencer a uma religião humilde. Na verdade nem você, nem sua religião o são, visto que pretendem se igualar a Cristo. A segunda consiste em desrespeitar o texto bíblico de forma flagrante a fim de enquadrar na Bíblia a sua teologia da igreja. Sim, você afirma que o Cristo que é mediador entre Deus e os homens é o Cristo total, e inclui com isto a Igreja. O que você esquece de perceber, sob os aplausos dos seus fãs é que nem a Igreja protestante, nem a católica se entregaram como preço para redenção dos nossos pecados conforme lemos (I Tm 2. 6). 
A respeito da intercessão dos santos a gente fala depois, mas quero dizer que quando Jesus se manifestou a Paulo, então Saulo, no caminho de Damasco, identificando-se com os seus santos e como sendo um com eles, ele estava falando é claro dos santos vivos, afinal, Paulo se dirige aos crentes por meio deste nome, santos. Santos que são gerados por meio da viva palavra de Deus (Tg 1. 18; I Pd 1. 22, 23), ao invés de o serem por Maria como você insistentemente afirma. Um abraço que fraterno em Cristo.
 
 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Questionar é melhor do obedecer cegamente

Pode parecer estranho esta frase como título de uma postagem de autoria de um pastor, mas é isto aí mesmo. Minha percepção a respeito da obediência é que ela é equivalente à fé. Quem crê, obedece, ao menos é isto que vemos nos grandes heróis da fé apresentados pelo autor da carta aos hebreus (Hb 11. 7 - 12). Percebo com maior clareza que quanto mais destituída de senso crítico é uma pessoa, mais desobediente ela tende a ser.
Me lembro aqui de uma parábola em que Cristo falou a respeito de dois filhos, um que perguntado pelo pai se ai para a lavoura prontamente respondeu que sim, e NÃO FOI. Outro que igualmente questionado responde negativamente, MAS DEPOIS, DE PONDERAR, FOI. A pergunta do mestre foi fulminante. Quem cumpriu a vontade do Pai? Mesmo que apelemos ao contexto da parábola, ainda assim a lição fica. A obediência que Deus requer nem sempre se enquadra em nosso molde.
Ao longo da minha vida tenho visto uma tendência horrorosa no meio religioso, a de confundir desobediência com questionamento crítico. É como se a única atitude possível em uma pessoa que obedece fosse a subserviência. Complicado, confesso. O problema é que os exemplo de obediência da Bíblia não enquadram neste molde.
O que dizer de nosso pai na fé, o velho Abraão, que depois de receber a promessa de que seria pai de um grande nação (Gn 12. 3), resolveu questionar a Deus a medida em que o tempo ia passando e o único herdeiro que tinha em sua casa era o damasceno Eliezer (Gn 15. 2ss)? O que dizer de Gideão, que mesmo diante de tantas provas dadas por Deus a respeito do seu chamado e das garantias de vitória, ainda fez mais provas com Deus (Jz 6. 11ss)?
O exemplo de Maria ainda é mais impactante. Ela viu um anjo vindo entregar uma mensagem de Deus para ela, mas ainda assim resolveu perguntar como uma menina, que não conhecia homem algum poderia dar à luz a um filho (Lc 1. 35ss). Estes textos, por si só já nos mostram que a obediência, tal como a fé, não está na falta de pensamento crítico, mas no aquietar do coração diante da resposta de Deus.
Aqui cabe notar que estes homens e mulheres questionaram ao próprio Deus, diante de uma experiência fantástica, será que homens não podem ser questionados à luz da Bíblia? O obediência cega é um dos mais cômicos problemas em nosso meio. Ao ver alguém que obedece cegamente, me lembro imediatamente do filme "Sim Senhor", com Jim Carrey, onde o personagem representado por este ator passa a dizer sim para tudo e para todos após participar de um palestra de motivação.
Por outro lado é necessário destacar que a obediência às Escrituras sagradas tem sido um dos maiores desafio do nosso cristianismo atual. Frases claras tais como: fazei todas as coisas sem contendas e nem murmurações, cada um considere os outros superiores a si mesmo, são cada vez mais ignoradas e varridas para baixo do tapete do nosso inconsciente.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Esboço para uma Cristologia de Filipenses








Em nossos estudos a respeito da carta aos Filipenses pontuamos a ocorrência das palavras alegria e dos derivados da mesma, indicando com isto que seja esta a palavra chave da mesma. O mais curioso de tudo é que ao pesquisar na versão de Bíblia que trago em meu celular a palavra Cristo Jesus (χριστω ιησου) pude identificar por cerca de umas treze vezes a ocorrência desta (Fp 1. 1, 6, 8, 26; 2. 5, 21; 3. 3, 8, 12, 14; 4. 7, 19, 21). Ao passo que quando pesquisamos Jesus Cristo (ιησου χριστου), percebemos seis ocorrências (Fp 1. 2, 11, 19; 2. 11; 3. 20; 4. 23).

Quando procuramos somente pelo nome Cristo (χριστου), encontramos quinze ocorrências (Fp 1. 10, 13, 15, 17, 18, 21, 23, 26, 27; 2. 26, 30; 3. 7, 9, 10, 18). O que podemos concluir é que Cristo é o assunto supremo desta, que à exceção de Filemom, e Colossenses, talvez seja a menor das cartas de Paulo. Nela se estabelecem questões pontuais em Cristologia, cujo ponto mais alto é o hino cristão primitivo. Vejamos o que se diz a respeito de Cristo na carta em apreço.

1) Jesus Cristo é Senhor

Em três ocasiões (Fp 1. 2; 3. 20; 4. 23) Paulo se refere a κυριου ιησου χριστου (kyriou Iesou Christou), indicando com isto que Jesus é Senhor (κυριου). Neste caso, a expressão em apreço nada tem a ver com um simples pronome de tratamento, mas com o nome que a versão grega da Bíblia judaica emprega para se referir ao nome eterno de Deus, Iahweh. Quando a afirmação do senhorio de Cristo não se dá de forma imediata, a mesma ocorre de modo implícito. É o que ocorre quando no começo da carta Paulo se identifica como δουλοι ιησου χριστου (douloy Iesuoi Christoy), servo de Cristo Jesus (Fp 1. 1).

O termo δουλοι indica um escravo, e todo escravo tem um Senhor (κυριου), que no caso do apostolo, é Cristo Jesus. Em todo o Novo Testamento o Senhorio de Cristo é amplamente afirmado pelos apóstolos. Ao mesmo tempo em que reconhecemos em Jesus o nosso Salvador, vemos a Ele como o nosso Senhor, a cujo senhorio nos rendemos.

 

2) Jesus é Salvador

 

O nome de Jesus, tal como ocorre com qualquer nome na cultura judaica foi dado em função da missão específica que ele mesmo teria de realizar. José foi orientado pelo anjo a colocar no bebê que fora gerado pelo Espirito Santo o nome de Jesus (Mt 1. 18 - 23). A justificativa apresentada estava na missão daquele que fora gerado no ventre de Maria, salvar o povo dos seus pecados. O nome ιησου indiretamente aponta para a obra e missão de Cristo, tanto que ele mesmo se identificou com a missão e disse que o Filho do homem veio para buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19. 10).

Em Filipenses Paulo chama Jesus de σωτηρα (sooteera), ou SALVADOR, cuja obra foi começada por ele mesmo (Fp 1. 6), e será aperfeiçoada até o dia em que seremos transformados e neste processo nossos corpos serão conformados à forma do corpo glorioso que Ele tem  (Fp 3. 20, 21). Este dia da redenção é chamado de ημερας ιησου χριστου (hemeras Iesou Christou), dia de Cristo Jesus (Fp 1. 6), ou simplesmente ημεραν χριστου (hemeran Christou), dia de Cristo (Fp 2. 16).

3) Jesus é o Messias

O nome Cristo (χριστου) é a variante do termo Hebraico Há mashiah (מָשִׁ֣יחַ), cujo sentido é o de Ungido. Não é pouca a polêmica em torno da auto identidade de Jesus nos Evangelhos. Alguns teólogos tem afirmado que ele não compreendia a si mesmo como o Messias, mas o fato é que frequentemente os Evangelhos se referem a Ele como sendo o Cristo, Filho do Deus Vivo (ο χριστος ο υιος του θεου του ζωντος). Foi por este nome que Pedro o chamou quando este perguntou aos discípulos o que achavam que ele era (Mt 16. 16). Mesmo os demônios possuíam consciência clara disto (Lc 4. 41).

Marta, irmã de Lázaro confessou: Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo (Jo 11. 27 NVI). O Evangelho de João foi escrito com a finalidade de que os leitores do mesmo cressem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tivessem vida em seu nome (Jo 20. 30).

O autor de Hebreus aplica o texto dos salmos em relação à pessoa de Cristo. Ele diz: Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de alegria (Hb 1. 9 NVI). Jesus foi ungido por Deus com uma unção que o faz superior aos profetas, aos anjos, aos patriarcas, ao próprio Moises.

4) Jesus é  modelo supremo

Escrevendo aos irmãos de Filipo, Paulo pede que eles tenham o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2. 5). O contexto aqui é o mesmo em que o apóstolo pede à comunidade que sejam unidos, que tratem uns aos outros como se superiores a si mesmos, e que busquem não os seus próprios interesses, mas o que é de outrem (Fp 2. 1 - 4).  É em Cristo que Paulo vai buscar este exemplo de desprendimento. O texto segue dizendo que Cristo sendo Deus não se prendeu á sua divindade. Mas que assumiu a forma de servo, e como tal foi obediente até a morte, e morte de cruz.
A morte que Cristo padeceu não era dele, mas nossa. Foi por meio de sua morte que Deus provou o seu amor para com os pecadores (Jo 3. 14 - 17; Rm 5. 8; I Jo 4. 8 - 10), por meio desta ato a cruz se torna o símbolo supremo da fé cristã. A mensagem do Evangelho é a mensagem da cruz (I Co 1. 17, 18), e a vida do crente tem de ser centrada na cruz. Viver de tal forma é dar a vida pelos irmãos (I Jo 3. 16).

5) Jesus é Deus

O termo empregado por Paulo não recebe uma perfeita tradução em nossas versões de Bíblias. Em nossa versão está escrito que subsistindo em forma de Deus, não usurpou ser semelhante a Deus. Mas a melhor versão para este texto é a Nova Versão Internacional, que traduz o texto da seguinte forma:
embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se (Fp 2. 6 NVI).

Isto porque o verbo υπαρχων (huparchon), de υπαρχω é melhor traduzido pelos verbos ser e existir do que pelo subsistir. Logo, mais do que subsistir, cujo sentido predominante em nossa cultura é o de manutenção, sobrevivência, aqui cabe o entendimento de viver e existir. Jesus era, e é Deus. Αρπαγμον de αρπαγμός, é o termo empregado por Paulo, e o sentido mais apropriado do mesmo é agarrar com força. Sendo Deus, Cristo não se agarrou com força a este fato.

Mesmo diante do desafio de Satanás (se tu és o Filho de Deus, manda..., Se tu és do Filho de Deus, lança-te....), ou do próprio desafio dos fariseus, ele jamais usou de sua divindade para provar nada aos seus detratores. Nem após a ressurreição vemos tal padrão no mestre. Em momento algum ele se agarra à divindade. Tudo o que Cristo possui é o testemunho do seu Pai. É deste modo que ele assume a forma de servo.

6) Jesus o Servo Sofredor

Jesus Cristo assume o papel e identidade de Servo. Como? Primeiro, ele esvaziou-se a si mesmo. Aqui o termo para esvaziar-se é o verbo εκενωσεν (ekenooseen), que vem do verbo κενόω (kenóo), cujo sentido pode ser o de humilhar-se, neutralizar-se, ou tornar-se sem reputação. E foi isto que Cristo fez quando abriu mão da glória que tinha junto do Pai antes da fundação do mundo (Jo 17. 3, 5), para se fazer carne e nesta condição habitar entre nós (Jo 1. 14, 15).

Foi assim que ele veio a ser servo. Ele não era servo, mas ele se fez como tal. Assim, μορφην δουλου  (morphé doylou), pode ser traduzido como assumindo a forma de servo, tal como na Almeida Atualizada. O que lhe cabia era a adoração dos anjos (Hb 1. 6), dos homens (Mt 2. 2), e mesmo a confissão justa dos demônios (Mc 1. 38; Lc 4. 41). Mas ele assumiu a afronta dos fariseus, a animosidade dos gadarenos e o escarnio dos seus detratores.

Mais do que isto, ele disse que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 26. 28). Ele se identificou como o עֶ֥בֶד יְהוָֽה (ebed YHWH [servo do Senhor]) do profeta Isaías. E como ele fez isto na prática? Veja: Sabendo disso, Jesus retirou-se daquele lugar. Muitos o seguiram, e ele curou a todos os doentes que havia entre eles, advertindo-os que não dissessem quem ele era. Isso aconteceu para se cumprir o que fora dito pelo do profeta Isaías: Eis o meu servo, a quem escolhi, o meu amado, em quem tenho prazer. Porei sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará justiça às nações. Não discutirá nem gritará; ninguém ouvirá sua voz nas ruas. Não quebrará o caniço rachado, não apagará o pavio fumegante, até que leve à vitória a justiça. Em seu nome as nações porão sua esperança (Mt 12. 15 - 21 NVI).

Paulo afirma que nesta condição Cristo se fez obediente até a morte de cruz. Uma morte que não era sua, mas nossa. Mas que ele assumiu para si a fim de que por meio desta fossemos feitos justiça de Deus. A fim de que fôssemos declarados justos ele assumiu a nossa culpa (I Co 1. 30, 31; II Co 5. 21). Foi desta forma que ele veio a ser o Senhor Justiça Nossa (Jr 23. 5, 6).

7) Jesus é exaltado

Jesus começou humilhando a si mesmo. O verbo aqui no verso oito é εταπεινωσεν (etapeinoosen), de ταπεινόω, cujo sentido é o mesmo de humilhar-se, abater-se. É o ato de assumir uma condição que é inferior á que se tem. Em decorrência de tal ato de humilhação, Deus o elevou e lhe deu um nome superior ao dos anjos, por exemplo (Hb 1. 4, 5). O fato é que Deus glorificou a Cristo, é isto que afirma o autor de Hebreus. Da mesma forma, Cristo não tomou para si a glória de se tornar sumo sacerdote, mas Deus lhe disse: "Tu és meu Filho; eu hoje te gerei" (Hb 5. 5 NVI). Além do nome sobre todo o nome, a ascensão e a entronização de Cristo á direita do Pai (At 1. 10, 11; Rm 8. 31, 32) são indicadores de que sua oração foi atendida e ele foi glorificado com a mesma glória que possuía junto ao Pai antes da fundação do mundo. neste sentido ele é a aplicação prática de que a humildade precede a honra (Pv 15. 33; 16. 18; 18. 12). Que Deus nos capacite, por meio do seu Santo Espírito a seguir o exemplo de Cristo.  

Pr Marcelo Medeiros, em Cristo Jesus, o que se fez pobre para nos enriquecer.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

E aos poucos morre a arte


De acordo com site do G1 o cantor e compositor Dominguinhos, um dos maiores músicos de expressão de nosso país morreu após seis anos de luta contra um agressivo câncer de pulmão. Embora saiba que a morte não é nem o fim de sua existência, e muito menos do seu legado artístico musical, meu coração está de luto por tamanha perda em nosso cenário cada vez mais empobrecido.
Quando criança tive a oportunidade de ver e me inspirar em músicos como Sivuca, Hermeto Pascoal, Chiquinho do Acordeão, Toquinho e Altamiro Carrilho, sendo que este foi decisivo na escolha do meu instrumento musical, a flauta. Hoje o que temos são músicos de gibi, cuja habilidade e arte é pífia. Discursos da antropologia cultural à parte, sou forçado a concordar com Adorno há uma digressão no ouvir.
Nossa pátria cada vez mais corrupta abunda com os seus a lelec lec lec lec lec lec lec, e seus camaros amarelos. Eu acredito que isto seja sintomático. Creio que seja sim o sintoma de uma desconstrução, que começou lenta, mas que avança cada vez mais. Creio que seja o prenuncio de um novo tempo, um tempo em que teremos um mundo sem arte, sem prazer estético e sem memoria por parte das pessoas, algo bem no estilo Admirável Mundo Novo.
Quando criança ouvi muita coisa ruim sim, mas os fuscões pretos daquela época voltam na versão de um outro carro e agora agonizado por dois. Como estudante de Teologia que sou, sei que a morte não é o fim, nem da pessoa e muito menos do legado que a mesma deixa. Mas quando o poeta, o musicista, o instrumentista, enfim, o artista morre e o mensaleiro fica, quem perde é a nação, e aos poucos morre a arte.

sábado, 20 de julho de 2013

Jesus, o modelo ideal de Humildade

 
Quando afirmamos que Jesus é o modelo de humildade, o que estamos querendo dizer em termos práticos é que ele é o parâmetro, que ele nos serve de objeto de imitação. Em seu discurso de despedida, ele disse aos seus discípulos amados: dei-vos o exemplo, para que como, para que como eu vos fiz, também vós o façais (Jo 13. 15 Bíblia de Jerusalém). O termo aqui para exemplo é
υποδειγμα (hupodeigma), cujo significado é o mesmo de modelo e ilustração, sendo que esta última palavra define a imagem empregada no texto de um livro com fins de aprendizado do conteúdo do próprio. O ato de Cristo no momento da ceia teve exatamente esta função, a de ilustrar aos seus discípulos o comportamento que os mesmos deveriam de ter uns para com os outros. Nesta lição veremos Jesus como modelo ideal de humildade.
 
Jesus como modelo
 
Escrevendo aos filipenses Paulo roga aos irmãos desta comunidade a que tenham fortes sentimentos de compaixão uns pelos outros, a que nutram profunda comunhão e que vivam unidos (Fp 1. 27 - 2. 4). O segredo da unidade da fé, dentre outras virtudes é a humildade (Ef 4. 1 - 3; Fp 2. 3). Já fizemos em nosso blog, um estudo sobre o tema em apreço. Para exemplificar a humildade para os irmãos de Felipo, o autor da carta apela ao exemplo maior da tradição cristã, o Filho de Deus, que sendo Deus como o Pai, aniquilou-se a si mesmo a fim de colocar-se como servo daqueles a quem ele veio salvar (Mt 20. 26 - 28).
É neste ponto que Paulo pede aos destinatários de sua missiva: tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus (Fp  2. 5 Bíblia de Jerusalém). O termo para sentimento aqui, é o verbo φρονεισθω (phroneisthoo), que vem de φρονεω (phroneoo), que por sua vez, pode ser traduzido tanto como pensar, quanto por sentir.
Em nossos léxicos o sentimento é definido tanto como a aptidão para sentir as sensações afetivas comuns, quanto como conhecimento imediato, intuição. Isto indica que a disposição de Cristo em humilhar-se a si mesmo foi um ato que envolveu emoções e o consciente divino, foi uma disposição de mente e de coração. Paulo apela para esta disposição a fim de que os crentes de Filipo e nós que lemos seus escritos, tenhamos em Cristo o modelo supremo de nossas vidas.
O exemplo de Cristo tem ampla base na tradição bíblica do novo testamento. Aos crentes de Roma Paulo escreveu: Nós os fortes devemos carregar as fragilidades dos fracos e não buscar a nossa própria satisfação. Cada um de nós procure agradar ao próximo, em vista do bem para edificar. Pois também Cristo não buscou a sua própria satisfação [...] (Rm 15. 1 - 3 Bíblia de Jerusalém). Jesus é modelo.
Escrevendo aos irmãos de Corinto a respeito da coleta para os pobres de Jerusalém, ele afirmou: com efeito conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza (II Co 8. 9 Bíblia de Jerusalém). Fazer-se pobre aparece no texto grego como um verbo (επτωχευσεν [eptooceusen]) cuja origem pode ser ligada à palavra πτωχοι (ptoochoi). Esta palavra era usada para designar mais do que pessoas socialmente desfavorecidas, mas aqueles que estavam á beira da indigência, e cuja sobrevivência dependia de ajuda dos demais. Jesus é o modelo.
 
Jesus, o modelo ideal
 
Esta palavra é extremamente traiçoeira, uma vez que a mesma pode ser empregada para designar aquilo que é fantástico, quimérico, logo distante da realidade. Quando assumimos este sentido, e ao mesmo tempo apresentamos Cristo como exemplo de qualquer coisa, inevitavelmente nos deparamos com a seguinte fala: mas ele era Deus. Concordo, pois somente Deus poderia amar como ele amou, se esvaziar de si mesmo como ele o fez; assumir a forma de servo, abrir mão de todo poder e influência, pior, não usar nada disto em beneficio próprio,  mas exclusivamente em benefício dos demais. Em Cristianismo Puro e Simples C. S. Lewis assume esta posição, mas ele coloca que diante do exemplo de Cristo, o que nos resta é imitá-lo.
Lewis propõe que por meio da disciplina e da graça podemos imitar o exemplo de Cristo até que sejamos uma cópia do mesmo. Neste caso o sentido de ideal tem de ser repensado, não como algo quimérico, ou distante da realidade, mas como algo de caráter concreto. Não cabe aqui o entendimento de ideal como algo que o espírito imagina, mas que não pode ser alcançado.
Aqui o ideal é portador da suprema perfeição. Esta palavra é compreendida em nossa cultura como sendo a total isenção de defeitos. Assim, designamos como perfeito aquilo que é impecável, que é absoluto. Com relação a Cristo a perfeição tem este sentido, visto que ele em tudo foi tentado, mas sem pecado (Rm 8. 3; Hb 4. 16), de forma que o autor da Carta aos Hebreus o chama de santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, mais elevado do que os céus, e que não precisa de expiação pelos próprios pecados (Hb 7. 26, 27). É neste sentido que Cristo é o modelo ideal.
John Stott destaca em vários dos seus escritos que o alvo supremo da vida cristã é fazer com que o crente seja semelhante a Cristo. É neste sentido que Cristo afirmou: dei-vos o exemplo, para que como, para que como eu vos fiz, também vós o façais (Jo 13. 15 Bíblia de Jerusalém). O texto diz que ele é o nosso exemplo e como tal deve ser imitado. Tal não seria exigido dos discípulos se fosse inviável. Mais do que isto, ler obras de Shakespeare, ou Wilde, não garante que seremos bons escritores como estes o foram, mas podemos seguir o exemplo de Cristo, porque ele nos deixou o seu Espirito, a fim de nos guiar, conduzir em toda a verdade (Jo 14. 26).
 
Modelo de Humildade
 
Humildade é uma palavra cujo entendimento é muito obscurecido em nossa cultura. Primeiro ela foi entendida como pobreza, depois como auto depreciação. Este último engano foi o que mais males trouxe para a compreensão do tema. Pessoas que demonstram um mínimo de segurança, de inteligência são prontamente taxadas como orgulhosas, curiosamente ninguém mais faz esta conexão entre riqueza e arrogância.
A leitura de Brennan Manning e de Blaise Pascal lançou luz na sobre este tema. Por meio desta autores pode entender que a humildade nada tem a ver com o auto desprezo. Na verdade a pessoa que busca desenvolver humildade por estes métodos acaba doente da alma. Pascal vai ainda mais longe, ele identifica que a fonte do nosso orgulho esta na distorção do nosso amor próprio, e que a própria busca por parecer ser humilde aos olhos dos demais, é em si, prova de orgulho. C. S. Lewis afirma que o homem humilde sequer pensa em si mesmo, quiçá na imagem que as pessoas tem dele!
Sem citações diretas aos autores mencionados, vou passar ao exemplo do Evangelho. Em que momento Cristo se auto deprecia? Pelo contrário! Se olharmos atentamente o contexto do texto que encabeça o presente post, veremos que Cristo disse aos seus discípulos: Vós me chamais de mestre e Senhor, e dizeis bem, pois Eu o Sou (Jo 13. 13 Bíblia de Jerusalém). Ele também disse: quem me vê, vê o Pai (Jo 14. 9 Bíblia de Jerusalém).
Jesus não se desprezou, nem se diminuiu diante de ninguém. Pelo contrário ele não hesitou em escandalizar os seus conterrâneos nazarenos com a sabedoria das suas palavras (Mc 6. 2, 3). Todavia, o texto bíblico é claro em apontar insistentemente que ele se fez pobre πτωχοι (ptoochoi), e que assumiu forma de servo δουλου (doyloy). Em outras palavras ele se fez de pobre e de escravo (II Co 8. 9; Fp 2. 7).
Nas sociedades contemporâneas a de Cristo ambos eram tidos por desprezados (Tg 2. 6). Humilde é a pessoa desprezada. E Cristo foi desprezado (Is 49. 7; 53. 3; Mc 9. 12). Desde o seu nascimento, à família, até a sua morte, e morte de cruz ele se identificou com tudo o que é sinônimo de ignominia, de desonra. É este exemplo que somos convidados a seguir.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.
 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O comportamento dos salvos em Cristo

 
 
Chamamos de comportamento a maneira de se comportar ou de se conduzir; conjunto de ações de um indivíduo observáveis objetivamente. Comportar, por sua vez é o mesmo que conduzir-se adequadamente, portar-se. Logo, quando as Escrituras dizem: deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo (Fp 1. 27 ARCF), o que vemos é a descrição de um padrão de comportamento.  

Um modo digno de acordo com o Evangelho 


Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados (Ef 4. 1 ARCF). Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho (Fp 1. 27 ARCF). Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus (Cl 1. 10 ARCF).
Nas cartas de Efésios e Colossenses, o termo empregado é andar do verbo grego περιπατέω (peripatéo), cujo emprego é feito no sentido figurado visando expressar o modo de vida, o comportamento. Na carta aos Filipenses, o verbo empregado é πολιτευεσθε (politeuesthe), cujo sentido é mesmo de agir como cidadão, indicando com isto o emprego figurado de cidadania (πολιτευμα [politeuma]), visto que Filipo era uma cidade que concedia cidadania romana aos seus moradores, para indicar aos crentes possuíam uma cidadania superior (Fp 3. 20). O que entendemos aqui é que em função do Evangelho de Cristo, o comportamento dos crentes de Filipo tem de ser superior aos dos cidadãos romanos que habitam na cidade.
O modo digno (αξιως [axioos]), pode ser entendido como merecedor, uma vez que o termo αξιως aparece em (Mt 10. 10; 38), com este sentido. Mas que ser humano é merecedor do Evangelho? Daí a necessidade de que se entenda αξιως aqui como aquilo que convém; que é apropriado, acomodado, conforme. Sendo que neste caso cabe aqui a compreensão do que é análogo, idêntico, semelhante. Em outras palavras o modo digno do Evangelho é um modo que reflete o padrão de conduta de Cristo (Fp 2. 5 – 11).

 Vivendo de modo digno do Evangelho

Viver de modo digno do Evangelho é viver em unidade. As expressões num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica (Fp 1. 27), são indicadores desta unidade, reforçados pela unidade de sentimentos (φρονυμος [phronimos]), pelo mesmo amor, por uma unidade de mentalidade (συμψυχοι [sumpsychoi]). Os termos empregados demonstram que a unidade começa no interior.
Viver de modo compatível com o Evangelho de Cristo é entender que se o perseguiram, perseguirão a nós. Sim a graça de Deus que nos oferece o Evangelho nos dá junto com o mesmo os sofrimentos de Cristo. Estes não podem jamais serem confundidos com as lutas que passamos nesta vida. Sofrer por amor a Cristo é sofrer oposição franca e aberta (Fp 1. 28). Viver de forma análoga ao Evangelho de Cristo envolve ter bons exemplos para seguir. O modelo é Cristo e os apóstolos que se identificaram com ele (Fp 1. 29).
Paulo possui autoridade para afirmar: Tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e agora ouvis estar em mim (Fp 1. 30 ARCF). o termo empregado para combate aqui é αγωνα (agoona), cujo sentido é o de conflito, luta, competição. É esta palavra que dá origem ao termo agonia, cujo significado básico é o de: angústia; estertor, inquietação, sofrimentos morais intensos, desejo veemente de conseguir alguma coisa; ânsia. E de fato Paulo tem anseios tanto de estar com Cristo quanto de ver o progresso espiritual dos filipenses. 
 
Cooperando na mútua edificação
 
Muito se fala em consolidação. Mas qual é o sentido deste termo, e como esta se dá? Consolidar, é o mesmo que tornar firme, seguro, sólido. Paulo pede que os irmãos exerçam a sua cidadania de modo digno do Evangelho, e completa dizendo: quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica (Fp 1. 27 NVI). 
O termo empregado para firme aqui é στηκετε (stekete). O sentido desta pode ser tanto o de ficar firme, quanto o de manter o terreno e a posição. A ideia  é a de que cada pessoa tenha um comportamento similar ao do soldado que defende a sua posição em flanco de batalha. E como isto se dá? Por meio da mútua consolação, da admoestação, da comunhão e da unidade da fé.
Consolação em Cristo, ou παρακλησις εν χριστω (paraklesis em Christo), aqui significando o ânimo e o conforto que nos é oferecido em Cristo. O termo παρακλησις é empregado por Simeão com relação a Jesus quando este é apresentado no templo (Lc 2. 25). Aqui entendemos que a consolação não é exercida por meio de meras palavras, mas pelo exemplo de Cristo.

Exortação, ou Consolação de Amor. O termo aqui é παραμυθιον αγαπη (paramithyon tes ágapes). Podendo ser consolação de amor, ou encorajamento em amor, indicando com isto que motivados pelo amor precisamos encorajar uns aos outros. Tal se dá na medida em que pelo amor que demonstramos encorajamos uns aos outros.
Comunhão no Espírito. É o resultado da participação que os fiéis tem da vida no Espírito de Deus, que é o responsável pela animação do corpo de Cristo. A palavra empregada para profunda afeição e compaixão, é uma palavra largamente empregada para as entranhas, significando com isto que nossas atitudes e emoções devem de ser motivadas por sentimentos profundos. a superficialidade de forma alguma poderá dominar a nossa vida.
Nossa vida tem de estar consagrada à humildade, pois este é um dos mais importante princípios do Reino de Deus, onde aquele que desejar ser o maior, tem de ser o menos e o serviçal de todos (Mt 20. 26 - 28), e a rivalidade tem de se dar na mútua estima, ao invés de o ser por meio da ambição por primazia (Rm 12. 10, 16).
O interesse e o bem estar do outro, do próximo, tem de estar acima do interesse pessoal (Fp 2. 4). Foi este sentimento que houve em Cristo, que abandonou as prerrogativas divinas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20. 26 - 28). Afinal de contas é nisto que se resume o amor, na dedicação que se presta ao objeto do amor. O termo αγαπη, tem no grego clássico o sentido de devoção, afinal de contas, o amor não procura os seus interesses (I Co 13. 4).

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros







 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Deus procura adoradores


Mais uma que vi e tive de me manifestar. Desde muito tempo tenho ouvido falar frases do tipo que vemos no cartaz acima, e antes que você me pergunte qual o problema implícito na mesma, gostaria de fazer alguns esclarecimentos. Primeiro, esta frase é frequentemente usada como jargão cuja finalidade é tão somente levar as pessoas a responderam aos apelos dos ministros de cântico no memento da liturgia. Assim, quando se pensa em adoração, se pensa nas respostas dadas aos apelos motivacionais durante o culto. Nada mais falso do que isto.
Segundo, ao assumir tal conceito mecanizado de adoração, estes "teólogos" do entretenimento, reduzem a mesma á esfera comportamental behaviorista, onde as ações do individuo se restringem a responder um determinado padrão imposto, e isto nada tem a ver com adoração, e muito menos a que se faz em Espírito e em verdade.
Por último, ela faz uma falsa separação entre a pregação do evangelho, ou mesmo do exercício ministerial e a adoração. Como se fosse possível ser pastor e pregador do Evangelho sem ser adorador. Embora seja possível ser músico e até mesmo cantor sem ser adorador, o primeiro caso é inviável. visando trazer maior luz sobre o ensinamento convido o leitor a uma breve leitura da Bíblia.
É necessário entender que no contexto geral da Teologia Bíblica Deus procura homens. Este é um padrão que se repete desde o Éden. Quando Adão, que fora criado para adorar pecou, sua reação natural não foi a de buscar Deus, pelo contrário!, ele se escondeu de Deus. Foi este quem disse: Adão, onde estás? (Gn 3. 9).
No próprio diálogo entre Cristo e a mulher samaritana percebemos que foi o mestre quem provocou a situação. Mas é preciso que perguntemos: nesta busca, como Deus aborda o homem? No caso da mulher samaritana a abordagem não se deu por meio de um convite á adoração, mas no solícito pedido de água, ou seja, o Deus Eterno veio à mulher em forma de fraqueza de carne.
Em segundo lugar diante da recusa da mulher em atender, este não respondeu com aspereza, mas com o oferecimento de agua da vida, ou seja, de algo que poderia ir ao âmago das necessidades profundas da mulher. De inicio a oferta não foi entendida, primeiro a mulher achou que Cristo não poderia lhe satisfazer as necessidades uma vez que ele se apresentara a mulher não em sua condição divina, mas em fraqueza de carne. Depois por puro preconceito contra as origens étnicas do salvador encarnado.
Foi neste momento que Jesus a confrontou. Ele lhe disse: vai buscar o seu marido!, ela lhe respondeu: não tenho marido. Neste momento ele disse à mulher disseste bem porque já tiveste cinco, e o que está contigo agora é não é teu. Diante do novo confronto a mulher apela para a polemica do lugar da adoração. É neste momento que temos a famosa resposta de Jesus. Afinal, o lugar não interessa, o que interessa a Deus é a atitude interior do adorador, e que este faça o que faz sabedor do que está praticando (Jo 4. 22- 24).
Diante das colocações feitas por nosso Senhor, a mulher responde com o claro reconhecimento de que os ensinamentos que tivera com ele são característicos da era messiânica, e que aquele judeu moribundo que estava diante dela só poderia ser o messias. Uma vez convencida de que é ele o Cristo, ela sai proclamando a toda cidade que achara aquele de quem falavam as Escrituras. Aqui é o momento de pararmos e pensarmos um pouco.
Primeiro Jesus se apresenta para a mulher como um judeu que precisa de agua para dessedentar a própria sede. Segundo, diante da recusa da mulher, ele lhe oferece o dom da vida eterna, representado por meio da metáfora da água da vida. Terceiro, a mulher duvida de que ele tenha meios para tal, uma vez que sequer pode matar a sua sede. Quarto, Jesus sinaliza para ela que não apenas pode matar sua sede mas que se esta não beber da água que lhe oferece continuará com a mesma vida miserável. Por último, quando a mulher entende a mensagem de Jesus, ela sai pregando, e os efeitos de sua mensagem são visíveis na aceitação de todos os da cidade.
Este ensinamento deixa claro que não existe adoração genuína sem ligação com vida eterna, salvação, compreensão da mensagem do Evangelho, convite á salvação. É neste contexto que adoração tem de ser pensada, e nunca dentro da esfera estímulo/resposta.
Para que fique claro que adoração não possui a mínima relação com os cultos estimulo/resposta, observemos o texto e percebamos que: 1) a atitude de procurar veio de Cristo, ele foi ao encontro da mulher; 2) as respostas iniciais da mulher ao solícito pedido de Cristo, bem como ao oferecimento do dom de Deus, são negativas; 3) é Cristo quem insiste na aproximação com a mulher, insiste até as últimas consequências para que esta entenda o teor de sua mensagem; e, 4) quando esta entende a oferta de Cristo sai pela cidade proclamando que havia encontrado aquele de quem falavam as Escrituras. Em outras palavras a mulher poderia ficar ali adorando, contemplando o Cristo, estendendo as mãos aos céus em gratidão, tal como fazemos em nossos cultos, e nunca compartilhar a mensagem do Evangelho, mas não, ela foi e falou.
Daí que o ser pastor, ou pregador é indissociável da verdadeira adoração. Esta é definida em nossos dicionários como sendo um amor extremado. Mas no caso do nosso amor a Deus, ele é uma reposta do amor dele por nós, visto que ele nos amou primeiro (I Jo 4. 9, 10). Não há verdadeira adoração sem que tenhamos clara percepção da altura, largura, cumprimento e profundidade deste amor (Ef 3. 16 - 20). Somente assim seremos cheios da plenitude de Deus, e livres de todas e quaisquer apelações emotivas adoraremos em espírito e verdade.
 
Em Cristo Jesus, Pr Marcelo Medeiros.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O problema não é a doutrina

 

Escrevo este breve post, porque percebei que a carta a um pastor zeloso deu o que falar. Um amigo meu observou como o denominacionalismo tem contribuído para fomentar ainda mais a discórdia e a falta de unidade. Imediatamente expliquei ao mesmo que o alvo do texto em questão era o movimento que prima pela unidade, ainda que com o sacrifício de posições doutrinárias, e que brigas de caráter pessoal não podem ser confundidas com a tarefa apologética.
Mas a questão do denominacionalismo ficou latente. Diante desta nova questão cabe afirmar o seguinte: as diferenças doutrinárias quanto à salvação, por exemplo, são fruto de fatores históricos, ou melhor uma percepção histórica que cada grupo desenvolveu a respeito do assunto, e na minha percepção não são o maior empecilho á unidade do corpo de Cristo.
Conversando com um pastor amigo meu, falei com ele que o que nos divide é menor que o que nos deveria unir. Grandes divisões são feitas em torno de assuntos secundários, muitos dos quais a Bíblia sequer dedica mais de um capitulo, e se a regra hermenêutica fosse seguida, jamais se formaria doutrina com base em tais textos. Mas um fator que não pode deixar de ser observado é o péssimo habito que temos de nos dividir não em questões doutrinarias, mas em questões personalistas.
O único problema doutrinário da Igreja de Corinto que me vem a mente é a questão da ressurreição, uma vez que a questão dos dons de línguas era mais litúrgica. Todavia, a causa maior da dissensão entre os mesmos era que um era de Paulo, outro de Apolo, outro de Cefas, e alguém que se dizia mais espiritual era de Cristo. Note que eram personalidades que dividiam a preferencia de grupos específicos dentro da comunidade.
Hoje alguns são de R. R. Soares, outros de Edir Macedo, outros de Eli Soriano, outros de Miguel Ângelo, de Silas Malafaia, de Ezequiel Teixeira, de Marco Antônio Peixoto, de Marco Feliciano, de Manoel Ferreira, e tantos outros nomes que poderiam ser colocados ao lado destes. Digo isto, com a clara percepção de que a autoridade da Bíblia este sendo deixada de lado pelo personalismo midiático. Tanto que quando um jovem pastor resolve tirar uma foto polemica, poucos são os que julgam o caso pela ótica bíblica, é quando entra a seguinte frase, "mas ele é um pastor muito usado por Deus!".
Aqui fica claro que estar na mídia e ser associada a tudo que representa poder, ser influente, vestir-se bem, e outras coisas mais, se tornaram o referencial supremo do que é ser usado por Deus, quando na verdade nenhuma destas coisas são indicadores reais de vida com Deus. Esta somente pode ser aferida por meio de ampla observância, afinal identificamos os frutos na medida em que os conhecemos.
Daí, me preocupa ver gente que se incomoda com divergências doutrinárias, mas que ovaciona determinados lideres, que bajula famosos evangelistas, que faz clara tietagem para cantores evangélicos, que tratam os que deveriam serem vistos por toda a comunidade dos fiéis como meros instrumentos de Deus, ou servos por meio dos quais viemos a crer. O personalismo é hoje o maior inimigo da UNIDADE.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Carta a um pastor zeloso

 
 
Rio de Janeiro, 10 de Julho de 2013

Estimado Pastor vi a tua preocupação com as guerras que ocorrem em ambiente virtual e a sua indignação pelo simples fato de que a maioria das pessoas envolvidas em tais querelas, não são tão zelosas pela prática evangelística, pelo discipulado, pela consolidação, enfim, com o ide de Cristo. Também pude perceber o teu zelo pela unidade do corpo de Cristo, que ao teu entender se dá por meio do discipulado. De imediato venho dizer que de certo modo compactuo com teus ideais. Como? Simples.
Entendo que Cristo nos chamou para a paz em um só corpo. De igual modo, vejo no discipulado, no evangelismo, na consolidação (algo no qual muito se fala, mas pouco se compreende dentro dos limites bíblicos), a manifestação suprema da missão da Igreja, dai a minha anuência inicial à tua fala. Outro fator que é preciso ressaltar é o uso que muitos crentes dão ás mídias e ás redes sociais. Brigas pessoais, questiúnculas que se resolveriam com dialogo vão parar, por exemplo, no facebook, e isto sim, eu vejo como um atitude anticristã.
Todavia, necessário se faz com que façamos a clara distinção entre as briguinhas de caráter individual, e o uso que se faz das redes sociais para a manifestação e defesa de opinião, principalmente se esta tem o seu apoio nas Escrituras Sagradas. Aqui, creio serem válidas as palavras de Paulo aos irmãos de Corinto: importa que hajam dissenções entre vós, para que os que são fieis se manifestem (I Co 11. 19). Rogo a tua paciência, a fim de que faças um exame contextual deste texto e comigo percebas que a despeito de Paulo pedir unidade para a igreja de Corinto desde o inicio da carta, ele percebeu que um mínimo de dissensão é bom para que haja a manifestação dos que são fieis.
É digno de nota que o termo que a Bíblia grega emprega é dokimoi (δοκιμοι), o mesmo termo para aprovados. em outras palavras somente mediante algum tipo de dissensão que podemos ver quem é, ou não pela verdade. Neste ponto o conflito passa a ser inevitável, visto que a verdade bíblica e os posicionamentos produzem um confronto que nos retiram de nossa zona de conforto.
Particularmente creio que o projeto divino de unidade nada tem a ver com o sacrifício da verdade. Afinal, no mesmo texto em que Paulo nos exorta a manter o vínculo da unidade (Ef 4. 1 - 3), ele nos admoesta a SEGUIR A VERDADE EM AMOR, indicando com isto que ambas são inseparáveis (Ef 4. 15).  Não há como seguir a verdade em amor sem falarmos a verdade uns para com os outros (Ef 4. 25). De igual modo, creio que a ira deva ser deixada de lado, e que devamos com temor e tremor expor a razão do esperança que há em nós (Ef 4. 26; I Pe 3. 15). Mas o debate, jamais deve ser abandonado. Me despeço rogando a Deus para que ele ilumine os olhos do teu entendimento para que percebas a clara diferença entre as questões aqui tratadas.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.
 
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