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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Paulo e a Igreja em Filipos

 
Conforme proposta da editora CPAD, nós estaremos ao longo do presente trimestre estudando a carta de Paulo aos Filipenses. É um documento cristão que faz parte do gênero epistolee (gr επιστολη), cuja principal marca é um estilo similar ao das missivas atuais, sendo que as mesmas se iniciavam com a identificação do remetente e do destinatário, ações de graças por estes, oração pelo bem estar e desenvolvimento do assunto. Neste estudo, que pretendemos ser breve, abordaremos o relacionamento de Paulo com a Igreja de Felipo.
 
Autoria da carta
 
παυλος και τιμοθεος, Paulo e Timóteo (Fp 1. 1). Em razão da introdução da referida carta trazer o nome de Timóteo ao lado do de Paulo, tem sido defendida a ideia de que esta á uma obra de autoria conjunta. O grande problema de tal posicionamento é que na maior parte, se não no todo, da epístola as ideias são colocadas em primeira pessoa. É desta forma que as inflexões verbais aparecem. Em momento algum vemos a voz de Timóteo, o que seria comum diante das menções que Paulo faz á pessoa dele em outros textos como sendo seu verdadeiro filho na fé.
Ainda que, do ponto de vista teológico, não possa descartar inteiramente a possibilidade de coautoria, espero com estas breves considerações trazer alguma contribuição à questão. Creio que a menção do nome de Timóteo, se deva a outras questões. Primeiro, foi em sua segunda viagem que Paulo se encontrou com este jovem, filho de um judia com pai grego (At 16. 1 - 4; 17. 14, 15).
Com o passar do tempo, este veio a ser considerado como τιμοθεω γνησιω τεκνω εν πιστειverdadeiro filho na fé. Esta expressão nos remete á realidade de que se alguém deveria ser herdeiro do legado de Paulo, este deveria ser Timóteo (II Tm 1. 2). A expressão γνησιω, indica aquilo que é verdadeiro, genuíno, em oposição ao que é falso, mas parece ser exclusiva do texto receptus. O texto crítico αγαπητω (agapetoo), traz a expressão cujo sentido é o de ser amado, indicando com isto a verdadeira afeição que o apóstolo tinha por Timóteo.
Desta forma além de contar com Timóteo como colaborador e de precisar da ajuda do mesmo, necessário se faz com que entendamos que Paulo quis preparar a comunidade para recepcionar este obreiro (Fp 2. 19). Minha conclusão momentânea é a de que a autoria é paulina.
 
Contexto histórico cultural
 
Falar dos destinatários requer que se fale do contexto dos mesmos. A cidade de Felipo foi dedicada á mineração, mas em função de fatos históricos de extrema relevância, a mesma foi transformada em uma importante província do Império Romano. Foi nesta cidade que os exércitos de Otaviano derrotaram os exércitos de Marco Antônio e com isto, restaurou a paz no império.
A população da cidade era constituída por militares, legionários e oficiais aposentados que ali fizeram residência fixa. Após vagar por boa parte da região da Frígia e da Galácia, sendo impedidos pelo Espírito Santo de nestas regiões, pregar a Palavra de Deus (At 16. 6). por meio de uma visão da noite o apóstolo recebe a orientação de pregar o Evangelho na Macedônia. Por meio da obediência deste, o Evangelho chega á Europa.
Ali, Paulo encontra a primeira adversidade, visto que ao contrário das cidades pelas quais havia passado, não havia ali uma Sinagoga. Tenney, autor de Tempos do Novo Testamento, lançado pela CPAD, afirma que em Felipo a comunidade judaica não possuía expressão para manter uma sinagoga. Diante de tal dificuldade os judeus realizavam reuniões semanais de oração.
Provavelmente tenha sido em uma destas reuniões que uma mulher temente a Deus (σεβομενη τον θεον), por nome Lídia, ouviu a Palavra e abriu a sua casa para as reuniões da Igreja (At 16. 13 - 15). Desta simples atitude surgiu a primeira igreja na Europa. Todavia, convém ressaltar que a Atitude em apreço não veio do apóstolo, mas de Lídia.  O texto diz claramente que Deus abriu o coração dela para que atendesse ao que Paulo falava.
O termo que Lucas emprega (At 16. 14), dieenoxein (διηνοιξεν),  é o mesmo que ele emprega em seu Evangelho para ação de Cristo em abrir o entendimento dos seus discípulos, para que estes compreendessem as Escrituras (Lc 24. 45). Foi este agir divino que fez com que Lídia prestasse atenção ao que Paulo dizia. Não se trata aqui de maleabilidade humana, por parte de Lídia, mas da fidelidade divina que deu todo o suporte ao apóstolo e á sua comitiva missionária para que este concretizasse a obra para a qual havia sido designado a fazer naquele lugar.
 
Destinatários
 
De acordo com o costume apresentado em todas as suas cartas, Paulo se dirige aos crentes de Felipo pelo nome de santos (Fp 1. 1). Todavia estes não o são em si mesmos, mas em Cristo. Indicando com isto que a santidade dos mesmos é mérito de Cristo, tal coo a justiça (Fp 3. 8ss). Aliás a obra começada em Felipo, é vista por Paulo como sendo de autoria inteiramente divina (Fp 1. 6). E aquele que a começou, ele mesmo irá aperfeiçoar. Deus é apontado no texto como autor e consumador da boa obra.
Estes mesmos crentes demonstraram uma maravilhosa sinergia com Paulo, tanto que quando souberam de sua prisão imediatamente mandaram Epafrodito, a fim de que este levasse um donativo para o apóstolo. Foram estes os crentes que melhor contribuíram na coleta que Paulo fez para os irmãos da Judéia (II Co 8 - 9). Paulo afirma que a despeito de sua pobreza eles insistiram, com rogos, que pudessem participar da graça de contribuir.  
 
Local e Data
 
Este é um dos temas de mais profunda controvérsia. Alguns autores defendem uma data mais recente para a Carta aos Filipenses e com isto atribuem a carta ao período do cativeiro em Cesaréia, ou de Éfeso. (II Co 1. 8) Assim, a epístola em apreço ganha a fama de ser um dos documentos mais antigos, uma das primeiras cartas de Paulo. Neste caso a provável data da carta seria 57 - 59 d. C.
Um segundo entendimento, compartilhado por MacArthur, é o de que o cativeiro do qual Paulo escreve (Fp 1. 12), é o de sua primeira prisão em Roma. A divergência se dá pelo fato de que ao olharmos a carta observamos sentimentos diversos no apóstolo, quanto á sua possível libertação (Fp 1. 21 - 26; 2. 17, 24).  No meu entendimento, para que o cativeiro de Éfeso seja aceito, é necessário que toda expectativa de um possível retorno de Paulo á comunidade fosse abolida desta carta.
À respeito da prisão na Ásia, ele mesmo afirma que ela foi de natureza tal que chegou a desesperar da própria vida e colocar a sua Esperança unicamente em Deus, que ressuscita os mortos (II Co 1. 8, 9), ainda que depois de passado o cativeiro em questão, ele tenha renovado a esperança de que Deus continuaria a livrá-lo de quaisquer perigos (II Co 1. 10, 11).
Outro fator, é o emprego do termo grego πραιτωριω (praitorioon). Este é traduzido pela Almeida Revista a Atualizada como guarda pretoriana, ao passo que a Nova Versão Internacional traduz como guarda do palácio, indicando que o apóstolo não estava em uma prisão de Éfeso, ou em Cesaréia. Neste caso, a data provável da carta seria de 61 - 63 d. C.

Os sentimentos de Paulo pela comunidade

De acordo com o relato de Paulo, ele é grato a Deus pela comunidade de Felipo. O termo grego é a fonte da palavra eucaristia (ευχαριστω), cujo sentido original é o mesmo de ação de graças (Fp 1. 3). Ou seja, Paulo é grato a Deus por cada recordação que tem dos irmãos (Fp 1. 4). Sendo que as recordações lhe trazem alegria (Fp 1. 4; 2. 29). Paulo declara que retém os crentes em seu coração (Fp 1. 7), e o motivo é justamente o fato destes erem participantes de seus sofrimentos no Evangelho, que aqui ele chama de graça (χαριτος).
O sentimento mais forte aqui é a saudade, palavras que em nosso idioma tem o significado de uma recordação suave e melancólica de pessoa ausente, local ou coisa distante, que se deseja voltar a ver ou possuir, ou, nostalgia. Mas que no idioma grego é representada pela palavra epipethoo (επιποθω) cujo sentido é o de recordação, mas também de desejo (Fp 1.8). Este é o mesmo termo empregado pelo apóstolo para o desejo ardente que este tinha de conhecer os irmãos de Roma (Rm 1. 11).
 
A oração de Paulo pela comunidade
Esta é a minha oração: que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus (Fp 1. 9 – 11 NVI).
 
 
Paulo foi alvo do amor e da caridade comunicativa dos crentes de Felipo, mas ele sabe que os mesmos não podem estacionar. Daí que o mesmo tenha orado pedindo a Deus para que o amor, a devoção dos mesmos crescesse mais e mais. Daí a ocorrência da expressão grega μαλλον και μαλλον (mallon kai mallon), dando a entender com isto que o nosso amor deva aumentar mais e mais. Todavia o crescimento deste amor tem de se dar em conhecimento (επιγνωσει [epignooseei]), e percepção (aistheesei [αισθησει]). Aqui fica claro, mais uma vez que o alvo de Paulo é o dia de Cristo. É de suma importância que neste os crentes sejam achados cheios de todo fruto e de toda a justiça.
Que possamos nos espelhar na comunhão e na simplicidade que esta comunidade demonstrou para com este apóstolo. Amém.

 
 
 




 
 

2 comentários:

  1. Pr. Marcelo Medeiros ! Eu e a Lilian não pudemos ir, mais ficamos sabendo que foi muito bom, que Deus continue te Abençoando com todas as sortes de benção a, a Vc e sua Família....estou aguardando o estudo da lição 2 " Esperança em meio à adversidade"...Ananias. a ASS. de DEUS em CENTENÁRIO, em nome Pr. Rivaldo Belmiro, agradece e lhe esperamos outras vezes...

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