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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Esboço para uma Cristologia de Filipenses








Em nossos estudos a respeito da carta aos Filipenses pontuamos a ocorrência das palavras alegria e dos derivados da mesma, indicando com isto que seja esta a palavra chave da mesma. O mais curioso de tudo é que ao pesquisar na versão de Bíblia que trago em meu celular a palavra Cristo Jesus (χριστω ιησου) pude identificar por cerca de umas treze vezes a ocorrência desta (Fp 1. 1, 6, 8, 26; 2. 5, 21; 3. 3, 8, 12, 14; 4. 7, 19, 21). Ao passo que quando pesquisamos Jesus Cristo (ιησου χριστου), percebemos seis ocorrências (Fp 1. 2, 11, 19; 2. 11; 3. 20; 4. 23).

Quando procuramos somente pelo nome Cristo (χριστου), encontramos quinze ocorrências (Fp 1. 10, 13, 15, 17, 18, 21, 23, 26, 27; 2. 26, 30; 3. 7, 9, 10, 18). O que podemos concluir é que Cristo é o assunto supremo desta, que à exceção de Filemom, e Colossenses, talvez seja a menor das cartas de Paulo. Nela se estabelecem questões pontuais em Cristologia, cujo ponto mais alto é o hino cristão primitivo. Vejamos o que se diz a respeito de Cristo na carta em apreço.

1) Jesus Cristo é Senhor

Em três ocasiões (Fp 1. 2; 3. 20; 4. 23) Paulo se refere a κυριου ιησου χριστου (kyriou Iesou Christou), indicando com isto que Jesus é Senhor (κυριου). Neste caso, a expressão em apreço nada tem a ver com um simples pronome de tratamento, mas com o nome que a versão grega da Bíblia judaica emprega para se referir ao nome eterno de Deus, Iahweh. Quando a afirmação do senhorio de Cristo não se dá de forma imediata, a mesma ocorre de modo implícito. É o que ocorre quando no começo da carta Paulo se identifica como δουλοι ιησου χριστου (douloy Iesuoi Christoy), servo de Cristo Jesus (Fp 1. 1).

O termo δουλοι indica um escravo, e todo escravo tem um Senhor (κυριου), que no caso do apostolo, é Cristo Jesus. Em todo o Novo Testamento o Senhorio de Cristo é amplamente afirmado pelos apóstolos. Ao mesmo tempo em que reconhecemos em Jesus o nosso Salvador, vemos a Ele como o nosso Senhor, a cujo senhorio nos rendemos.

 

2) Jesus é Salvador

 

O nome de Jesus, tal como ocorre com qualquer nome na cultura judaica foi dado em função da missão específica que ele mesmo teria de realizar. José foi orientado pelo anjo a colocar no bebê que fora gerado pelo Espirito Santo o nome de Jesus (Mt 1. 18 - 23). A justificativa apresentada estava na missão daquele que fora gerado no ventre de Maria, salvar o povo dos seus pecados. O nome ιησου indiretamente aponta para a obra e missão de Cristo, tanto que ele mesmo se identificou com a missão e disse que o Filho do homem veio para buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19. 10).

Em Filipenses Paulo chama Jesus de σωτηρα (sooteera), ou SALVADOR, cuja obra foi começada por ele mesmo (Fp 1. 6), e será aperfeiçoada até o dia em que seremos transformados e neste processo nossos corpos serão conformados à forma do corpo glorioso que Ele tem  (Fp 3. 20, 21). Este dia da redenção é chamado de ημερας ιησου χριστου (hemeras Iesou Christou), dia de Cristo Jesus (Fp 1. 6), ou simplesmente ημεραν χριστου (hemeran Christou), dia de Cristo (Fp 2. 16).

3) Jesus é o Messias

O nome Cristo (χριστου) é a variante do termo Hebraico Há mashiah (מָשִׁ֣יחַ), cujo sentido é o de Ungido. Não é pouca a polêmica em torno da auto identidade de Jesus nos Evangelhos. Alguns teólogos tem afirmado que ele não compreendia a si mesmo como o Messias, mas o fato é que frequentemente os Evangelhos se referem a Ele como sendo o Cristo, Filho do Deus Vivo (ο χριστος ο υιος του θεου του ζωντος). Foi por este nome que Pedro o chamou quando este perguntou aos discípulos o que achavam que ele era (Mt 16. 16). Mesmo os demônios possuíam consciência clara disto (Lc 4. 41).

Marta, irmã de Lázaro confessou: Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo (Jo 11. 27 NVI). O Evangelho de João foi escrito com a finalidade de que os leitores do mesmo cressem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tivessem vida em seu nome (Jo 20. 30).

O autor de Hebreus aplica o texto dos salmos em relação à pessoa de Cristo. Ele diz: Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de alegria (Hb 1. 9 NVI). Jesus foi ungido por Deus com uma unção que o faz superior aos profetas, aos anjos, aos patriarcas, ao próprio Moises.

4) Jesus é  modelo supremo

Escrevendo aos irmãos de Filipo, Paulo pede que eles tenham o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2. 5). O contexto aqui é o mesmo em que o apóstolo pede à comunidade que sejam unidos, que tratem uns aos outros como se superiores a si mesmos, e que busquem não os seus próprios interesses, mas o que é de outrem (Fp 2. 1 - 4).  É em Cristo que Paulo vai buscar este exemplo de desprendimento. O texto segue dizendo que Cristo sendo Deus não se prendeu á sua divindade. Mas que assumiu a forma de servo, e como tal foi obediente até a morte, e morte de cruz.
A morte que Cristo padeceu não era dele, mas nossa. Foi por meio de sua morte que Deus provou o seu amor para com os pecadores (Jo 3. 14 - 17; Rm 5. 8; I Jo 4. 8 - 10), por meio desta ato a cruz se torna o símbolo supremo da fé cristã. A mensagem do Evangelho é a mensagem da cruz (I Co 1. 17, 18), e a vida do crente tem de ser centrada na cruz. Viver de tal forma é dar a vida pelos irmãos (I Jo 3. 16).

5) Jesus é Deus

O termo empregado por Paulo não recebe uma perfeita tradução em nossas versões de Bíblias. Em nossa versão está escrito que subsistindo em forma de Deus, não usurpou ser semelhante a Deus. Mas a melhor versão para este texto é a Nova Versão Internacional, que traduz o texto da seguinte forma:
embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se (Fp 2. 6 NVI).

Isto porque o verbo υπαρχων (huparchon), de υπαρχω é melhor traduzido pelos verbos ser e existir do que pelo subsistir. Logo, mais do que subsistir, cujo sentido predominante em nossa cultura é o de manutenção, sobrevivência, aqui cabe o entendimento de viver e existir. Jesus era, e é Deus. Αρπαγμον de αρπαγμός, é o termo empregado por Paulo, e o sentido mais apropriado do mesmo é agarrar com força. Sendo Deus, Cristo não se agarrou com força a este fato.

Mesmo diante do desafio de Satanás (se tu és o Filho de Deus, manda..., Se tu és do Filho de Deus, lança-te....), ou do próprio desafio dos fariseus, ele jamais usou de sua divindade para provar nada aos seus detratores. Nem após a ressurreição vemos tal padrão no mestre. Em momento algum ele se agarra à divindade. Tudo o que Cristo possui é o testemunho do seu Pai. É deste modo que ele assume a forma de servo.

6) Jesus o Servo Sofredor

Jesus Cristo assume o papel e identidade de Servo. Como? Primeiro, ele esvaziou-se a si mesmo. Aqui o termo para esvaziar-se é o verbo εκενωσεν (ekenooseen), que vem do verbo κενόω (kenóo), cujo sentido pode ser o de humilhar-se, neutralizar-se, ou tornar-se sem reputação. E foi isto que Cristo fez quando abriu mão da glória que tinha junto do Pai antes da fundação do mundo (Jo 17. 3, 5), para se fazer carne e nesta condição habitar entre nós (Jo 1. 14, 15).

Foi assim que ele veio a ser servo. Ele não era servo, mas ele se fez como tal. Assim, μορφην δουλου  (morphé doylou), pode ser traduzido como assumindo a forma de servo, tal como na Almeida Atualizada. O que lhe cabia era a adoração dos anjos (Hb 1. 6), dos homens (Mt 2. 2), e mesmo a confissão justa dos demônios (Mc 1. 38; Lc 4. 41). Mas ele assumiu a afronta dos fariseus, a animosidade dos gadarenos e o escarnio dos seus detratores.

Mais do que isto, ele disse que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 26. 28). Ele se identificou como o עֶ֥בֶד יְהוָֽה (ebed YHWH [servo do Senhor]) do profeta Isaías. E como ele fez isto na prática? Veja: Sabendo disso, Jesus retirou-se daquele lugar. Muitos o seguiram, e ele curou a todos os doentes que havia entre eles, advertindo-os que não dissessem quem ele era. Isso aconteceu para se cumprir o que fora dito pelo do profeta Isaías: Eis o meu servo, a quem escolhi, o meu amado, em quem tenho prazer. Porei sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará justiça às nações. Não discutirá nem gritará; ninguém ouvirá sua voz nas ruas. Não quebrará o caniço rachado, não apagará o pavio fumegante, até que leve à vitória a justiça. Em seu nome as nações porão sua esperança (Mt 12. 15 - 21 NVI).

Paulo afirma que nesta condição Cristo se fez obediente até a morte de cruz. Uma morte que não era sua, mas nossa. Mas que ele assumiu para si a fim de que por meio desta fossemos feitos justiça de Deus. A fim de que fôssemos declarados justos ele assumiu a nossa culpa (I Co 1. 30, 31; II Co 5. 21). Foi desta forma que ele veio a ser o Senhor Justiça Nossa (Jr 23. 5, 6).

7) Jesus é exaltado

Jesus começou humilhando a si mesmo. O verbo aqui no verso oito é εταπεινωσεν (etapeinoosen), de ταπεινόω, cujo sentido é o mesmo de humilhar-se, abater-se. É o ato de assumir uma condição que é inferior á que se tem. Em decorrência de tal ato de humilhação, Deus o elevou e lhe deu um nome superior ao dos anjos, por exemplo (Hb 1. 4, 5). O fato é que Deus glorificou a Cristo, é isto que afirma o autor de Hebreus. Da mesma forma, Cristo não tomou para si a glória de se tornar sumo sacerdote, mas Deus lhe disse: "Tu és meu Filho; eu hoje te gerei" (Hb 5. 5 NVI). Além do nome sobre todo o nome, a ascensão e a entronização de Cristo á direita do Pai (At 1. 10, 11; Rm 8. 31, 32) são indicadores de que sua oração foi atendida e ele foi glorificado com a mesma glória que possuía junto ao Pai antes da fundação do mundo. neste sentido ele é a aplicação prática de que a humildade precede a honra (Pv 15. 33; 16. 18; 18. 12). Que Deus nos capacite, por meio do seu Santo Espírito a seguir o exemplo de Cristo.  

Pr Marcelo Medeiros, em Cristo Jesus, o que se fez pobre para nos enriquecer.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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