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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fotos Com Bandeiras da França Para o Facebook



Uma nova paranóia tem invadido as redes sociais. A ideia de que brasileiros além de manipuláveis tendem a valorizar mais o sofrimento alheio do que o próprio. Neste caso tende-se a dar maior importância aos atentados terroristas ocorridos na França, na última sexta-feira treze do que ao que ocorreu na quinta-feira cinco de novembro do corrente mês. Não faltaram vozes para alardear tal ideia. 

O problema é que como ocorre em todo processo de generalização as pessoas tendem a sempre verem o outro como manipulado, e jamais a si mesmos. Não há como hierarquizar os sofrimentos dos franceses e dos brasileiros. Ambos produto da indiferença humana e do desmazelo político, e que guardadas as devidas proporções pode-se dizer que são igualmente trágicos. 

O caso de Mariana é considerado para mim um genocídio [ambiental e humano], que multa alguma pode reparar. Fruto do risco que engenheiros e a empresa resolveram assumir. O caso da França é emblemático e tem sido repetidamente denunciado na rede facebook, por vários colegas que comungam do pensamento crítico. O islã orquestra paulatinamente a derrocada da civilização ocidental e com a benção dos secularistas de plantão. 

Para mim isto fica claro na medida em que vejo um repórter de uma grande emissora de TV, [que não poupa adjetivos para falar de cristãos, como sendo fundamentalistas, homofóbicos, medievais, controladores], se referirem de forma excessivamente polida em ralação ao islamismo [não que não seja esta a forma correta]. A França, um dos berços da secularização é vítima de uma estratégia bem montada. 

Quem nos garante que em meio a onda de refugiados que invadiu a Europa não vieram terroristas EI infiltrados? E aqui no Brasil? O leitor poderia dizer que há serviço de inteligência, eu responderia com um tudo bem, mas ainda assim a questão permanece. Afinal como explicar umn deputado que nitidamente chama evangélicos de preconceituosos, propor um projeto de ensino de religião islâmica nas escolas públicas? É muita coincidência!

Sei do poder de manipulação do Facebook. Vi de perto quando todo mundo até gente crente pintou a foto do perfil com as cores da bandeira LGBT, mas fiquei na minha. Mas quando as pessoas pintam com as cores da França querem que se ignore o que ocorreu lá. Pior chegam a propor uma incompatibilidade, como se fosse impossível se comover ao mesmo tempo pelo que ocorreu lá em Mariana. Honestamente sou tentado a pensar que apenas por se tratar de um atentado pormovido por radicais do islã. 

Serei o primeiro a me manifestar na rede social facebook, a fim de que o mesmo disponha de uma foto de Mariana para servir de fundo aos perfis dos que desejam manifestar sua solidariedade, mas me faça o favor não venha me dizer que para ser patriota, ou que para valorizar minha nação, eu não deva me importar com o que ocorreu na França. Até porque esta discussão em nada ajudará as reverter os danos ocorridos por lá. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros

sábado, 14 de novembro de 2015

A Abertura do Mar Vermelho dá Lavada de Audiência na Globo




Honestamente não tenho a paciência necessária, e nem o tempo preciso para acompanhar uma única novela que seja. Não, não vejo o simples fato de assistir uma novela como pecado. O pecado ocorre quando coloco a novela, a administração eclesiástica [leia-se ocupações religiosas] acima do meu momento de leitura da Bíblia, meditação, oração e comunhão com Deus. Nem minha atividade de escrita pode ser colocada acima das bases da espiritualidade. 

Daí que entretenimento por entretenimento, vai do discernimento de cada um. Meu incomodo com as novelas eram de natureza mais simples. Primeiro, elas possuem função educativa, como toda expressão artística. Segundo, a educação oriunda das novelas globais é de péssima qualidade. Vou explicar: elas distorcem conteúdos históricos [tal como ocorre em O Caminho das Índias, O Clone] e estereotipam as religões em geral. Terceiro, a estereotipia recorrente nas novelas demonstram seu alto teor ideológico. 

Não bastassem estes apontamentos as novelas de longa data tem servido para relativização dos valores [mediante o uso recorrente de personagens ambíguos nas tramas] e proselitismo ideológico. a alta audiência de Dez Mandamentos foi o grito de cansaço da sociendade em relação á repetição abusiva de uma fórmula que poderia ser considerada como desgastada. Babilônia foi o ápice da apelação. 

[Não digo em razão do beijo gay das atrizes, mas em razão da imbecilização de personagens como o representado por Camila Pitanga, afinal quem disse que mocinhos e mocinhas precisam ser bobos, otários e estarem sempre atrás dos vilões. Todavia é este o expediente usado repetitivamente pela Globo em suas novelas. A isto acrescentaria o cafetão que não deu certo, o oportunista que cedo foi apagado entre outras porcarias.]

Resultado somente Caio Fábio parece não ter gostado de Dez Mandamentos. O Ibope indica clara preferência do público pela trama da Record de Edir Macedo. É isto que se vê no Gospel Prime. Mas não para por aí, ao que parece uma trama sobre Josué está sendo desenvolvida, e uma sobre Jesus está sendo planejada. Sinais de melhoria? Somente o tempo dirá.

A grande verdade é que fosse o povo evangélico mais interessado e aplicado à leitura da Bíblia novelas [porcas e mal feitas como as que temos] não teriam vez com esta significativa parcela do público televisivo. Mas uma coisa é fato: em um momento em que a Bíblia é severamente atacada e descredibilizada, ela ainda exerce fascínio no imaginário popular. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Neil Barreto e Sua Polêmica Afirmação a Respeito do Dízimo


Não é de hoje que tem viralizado no facebook um vídeo em que Neil Barreto afirma categoricamente que quem não é dizimista não tem o direito de usufruir nada do que é proporcionado pelo dízimo dos crentes que são fieis. O pouco que se ouve da fala do Pastor sugere que o mesmo está verberando contra dos que são contrários à prática do dízimo.

Antes de prosseguir com a minha crítica, que não se dirige à pessoa de Neil Barreto, ou à prática do dízimo, preciso explicar algumas questões. Primeiro, não sou e nem posso ser contrário à prática do mesmo. Segundo, creio que este seja um parâmetro mínimo para o exercício da liberalidade. Terceiro, concordo que um crente exerça sua liberalidade para auxiliar no sustento de uma instituição que o abençoa. Por último, discordo veementemente do emprego do dízimo na manutenção estrutural dos templos. Isto tem de ser feito com ofertas.

É isto mesmo leitor! Dízimos são para o sustento dos obreiros e dos necessitados e desamparados dentro da Igreja. Quando se fala em dízimo via de regra se recorre ao texto de Ml 3. 10, mas Nm 18 e Dt 16 são claros quanto à forma de dizimar e a destinação dos recursos coletados do mesmo, as viúvas, os órfãos de Israel e os levitas. Minha questão é: por que isto não é ensinado e praticado com mais frequência? 

Quando o tabernáculo foi construído no deserto a construção do mesmo se deu mediante o emprego dos recursos que os israelitas captarão junto aos egípcios, conforme se pode ver Gn 15. 14 e Ex 12. 35, 36. Tais textos me ensinam que quando Deus é o autor de um detertminado projeto ele mesmo financia este projeto. Este texto coloca a mesma verdade de forma mais clara:
E eu darei graça a este povo aos olhos dos egípcios; e acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, Porque cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda jóias de prata, e jóias de ouro, e vestes, as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egípcios (Ex 3. 21, 22 ACF). 
Deus retirou o povo do Egito com prata e ouro, [que não possuem serventia alguma numa travessia do deserto, mas que servem  para construir um tabernáculo], com vistas ao financiamente do projeto de construção do tabernáculo. Caso ainda haja dúvidas leia ainda Sl 105. 37. 

Não pretendo exercer juízo peremptório, e muito menos denegrir a imagem de qualquer homem de Deus, mas para mim é bastante claro que além da avareza existe muita insatisfação quanto à gerência dos recursos captados mediante contribuição dos fieis, e é aqui que mora insatisfação dos que supostamente sejam contra a arrecadação dos dízimos. 

Se ao crente compete a fidelidade na contribuição, por que a liderança não assume o ônus de ser fiel e bíblica na gerência dos recursos? Obreiros que se desgastam na pregação da palavra se desdobram com o exercício de uma função secular para manterem suas famílias ao passo que observa-se o surgimento de uma elite clerical, bem assalariada, mas que não visita, não evangeliza, não aconselha e é nitidamente preguiçosa no estudo exautivo da Bíblia [para não dizer que são biblicamente analfabetos]. 

Graças a Deus este não é nem de longe o caso de Neil Barreto, cujas mensagens tem alcançado vidas e mais vidas, e nem mesmo minha suscinta discordância quanto à visão do mesmo em relação ao dízimo, denigre, invalida, ou apaga. Minha crítica se dirige à ideia, jamais à pessoa. Mas lamento profundamente o analfabetismo bíblico e a incapacidade crítica de nosso povo. 

E quanto ao dízimo Pastor? Simples, creio na inspiração plenária das Escrituras e embora não tenhamos levitas hoje, temos os que são desamparados e cujas ofertas deveriam ser destinadas em maior profusão. Temos ainda homens que não vendem o que lhes foi dado por Deus, e aos quais significativa parte dos recursos deveria ser destinadas a fim de que permanecessem no exímio desempenho de suas funções (Gl 6. 6; ITm 5. 17, 18). 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

sábado, 7 de novembro de 2015

Atores e Gurus, e seus erros teológicos



Tem causado certo quiproquó a viralização de um vídeo em que atores globais a fim de defenderem o aborto ultrapassam limites de sua competência e fazem incursões históricas, filosóficas e linguísticas, para defender o indefensável: a prática abortista. Segundo as supostas "autoridades" existe um tabú a respeito de gravidez que remonta "Nossa Senhora", cuja gravidez não teve corpo, sexo, desejo, etc...

Mas cabe fazer a pergunta feita pelo autor deste texto: alguém confiaria a tradução de um manuscrito a qualquer destes atores? Tal como o autor do texto em apreço não quero dizer que eles não tenham direito a opinião, mas que a opinião dos mesmos não tem suporte alguem para que sejam autoridade seja para falar de aborto, seja para falar de tabú, ou teologia. 

Há de se observar que a despeito da constante associação entre prostituição, fornicação e idolatria, na Bíblia, o sexo conjugal não tem nenhuma restrição, ele era falado, de forma sublimada, mas foi tema de sucessivas passagens da sabedoria judaica (Pv 5 - 7; Ec 9. 9) e de um livro "O Cântico dos Cânticos". 

Sobre gravidez raríssimas menções, visto que a mesma era vista como mistério, ao ponto de não se saber como os ossos se formavam no ventre da mãe, mas a singular menção coloca a gravidez em pé de igualdade com todos os demais "desígnios divinos". Sim, se pouco se fala é porque se considera a vida e sua origem um mistério. Nada de tabú, entendeu?

Outra questão a ser brevemente considerada é que o nascimento de Jesus foi algo inusitado do ponto de vista da redenção, salvação. Deus gerou a Cristo, por meio de seu espírito no ventre de Maria, a fim de que o mesmo cumprisse a missão de ser o Salvador da Humanidade. A ausência de participação humana cumpre ainda outro propósito: o de esvaziar o homem (gênero humano) de toda altivez, ou mérito.

Sei que é moda não acreditar em nada que não possa ser verificado comprovado por métodos científicos. Fazer esta opção engloba não crer em experiências estéticas, em ética e talvez na própria matemática, mas paciência. Neste ponto sou mais o cético Montaigne, para quem não haveria razão para descrer dos desígnios da providência, uma vez que os mesmos fossem narrados por gente com a devida credibilidade. Em outras palavras o "Nascimento de Jesus" foi um  miligre, ou se preferir, um sinal, como afirma o autor do vídeo abaixo.

Sobre o fato de a mulher ter o direito de fazer o que quiser com o seu corpo, sugiro aqui este texto, onde replico a idéia de Pondé a respeito do assunto. Ok, mas e o erro de tradução Pastor, receve da devida resposta neste vídeo. E você pode conferir ele na íntegra no final da postagem. 

Abraços Marcelo Medeiros


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O Quiproquó do Enem (parte Um)


A canção Yaô feita em parceria por Pixinguinha e Gastão Vianna deu o que falar nas redes sociais. Ela foi tema de uma das questões do Enem. Até aí nada a ver. Como assim Pastor? Sem entrar no mérito da legitimidade, ou ilegitimidade dos meios que o Estado vem empregando para tornar a cultura afro mais popular e aceita, creio que nós cristãos devemos de estar mais preparados para dialogar e entender os motivos dos outros. Fato é que nas universidades teremos de lidar com questões como a proposta pelo Enem, e no lugar de estarmos preocupados com doutrinação anticristã, precisamos estar preparados para responder a quem nos pedir razão da Espernaça que há em nós. 

Mas afinal onde está o problema? No revanchismo perceptível em alguns militantes da causa diria eu. Dúvida? Leia o enunciado desta postagem no facebook. Teve que lê sobre Orixá no enem. A cultura Afro taí, vai ser cada vez mais valorizada! Diante do que pergunto sera?! Não dirijo minha crítica ao ENEM e aos organizadores da questão em si, muito menos à cultura afro, mas ao dono da página e sua forma limítrofe de ver. Me explico nas linhas abaixo. 

Em primeiro lugar cultura negra, ou afro se preferir, não se limita a orixás, ou ao nome deles. Segundo é possivel acertar a questão do ENEM e ainda assim não saber o significado de nenhum destes orixás para a cultura. Terceiro a cultura negra se faz presente em produções culturais tais como o Chôro, o samba, o reagge, e que foram e tem sido apropriadas, na verdade dissociadas dos negros. Quarto revanchismos como o do autor do post em nada contribuem para que se alargue a visão a respeito da cultura afro. Quinto desconfio de toda e qualquer política, ou discurso afirmativo a maioria acaba sendo reducionista e as razões já expûs acima. 

Por último, a cultura afro também se faz presente no estudo da história de reinos e civilizações de grande influência tal como Egito, Etiópia e Sabá, sendo este último uma cultura matriarcal, onde a autoridade do reino era passada de mulher para mulher. Mas creio que este tipo de estudo não interesse muito, afinal, ele retiraria parte do estigma que se tem em relação à cultura afro. É mais interessante alimentar revanchismos entre evangélicos e candamblecistas. 

Marcelo Medeiros. 

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Como Você Gostaria de Ser Lembrado Após a Sua Morte?




Recentemente me fizeram esta pergunta. Como Você Gostaria de Ser Lembrado Após a Sua Morte? Como uma pessoa polêmica, ou legal, educada? Minha sincera opinião é de que não posso contar com a opinião das pessoas para pautar minha conduta, antes devo me conduzir pela minha consciência.

Voltanto a pergunta Deus do céu! Como este tipo de pergunta tosca me faz sofrer. Confesso que fiquei muito embaraçado em responder. Não porque não tivesse uma resposta, mas por causa do nível cultural, filosófico e bíblico da pessoa. Busquei não ferir a mesma. (Não se engane, um dos fardos de ser uma pessoa que tenha leitura básica, e com o mínimo de senso crítico, é o risco de ser constantemente interpretado pelos outros como alguém arrogante, e com isto ferir o ego do outro). Mas aqui neste espaço me sinto livre, não para ferir, mas para expor a minha opinião, que não é nada pessoal, mas bíblico e filosófico.

Minha percepção é que a natureza dos homens, em virtude da queda, é de maneira tal que na verdade pouco se importam com que as demais pessoas realmente pensam deles. O problema se dá quando o pensamento se torna público (é o caso, por exemplo da pessoa que me fez esta pergunta). É isto que faz com que um chefe, ou qualquer pessoa que julgue ter um poder, em função da posição que ocupa, oprima deliberadamente, ou pratique injustiças com o seu subordinado, por exemplo. A única coisa que o para é a força da opinião dos demais.

Uma leitura básica nos escritos de Shoppenhauer, Pascal, Montaigne é reveladora com relação a isto. Para Pascal é o amor próprio que move os homens a construírem uma imagem pública nada condizente com aquilo que de fato são. E pior, quanto menos são, mais buscam parecer ser e ser vistos como exatamente aquilo que nem de longe o são. Pior, exigem que os demais o sejam. Em nossa sociedade isto é usualmente chamado de hipocrisia. Sua fonte: a escravidão natural dos homens em relação à opinião alheia.

Shoppenhauer tem sido meu companheiro de horas de solidão. Com ele tenho aprendido algo do qual sempre desconfiei. Quanto mais se estuda, mais estranho o ser humano tende a ser aos olhos dos demais homens. Sempre me senti um extra-terrestre, e sempre fui tachado das alcunhas mais estranhas possíveis. Coisas que nos ensinam a não dar a mínima para a opinião alheia.

Indo nas fontes da tradição católica (Padre Antônio Vieira), percebo em seu segundo sermão do Advento que aqueles que se humilham e penitenciam de seus pecados são imunizados da tirania da opinião alheia. O julgamento dos homens, diz Vieira condena Cristo, João Batista e acrescento: Estevão. Já o julgamento de Deus absolve Davi, e o ladrão da cruz. Daí que mais importante não é o que os homens pensam de mim neste vida e muito menos após minha morte, mas o que Deus pensa.

Indo as fontes bíblicas (não que Vieira não tivesse sido bíblico nas suas asseverações), percebo que o questinamento faz menos sentido ainda. Primeiro, o mundo decididamente não é justo. Homens como Jesus e Paulo foram tidos como escória deste mundo. Segundo para quem morre como ladrão da cruz e vai para o céu, pouco importa o mau conceito dos homens, o mesmo pode ser dito de alguém que é altamente conceituado, mas que ouve de Deus apartai-vos de mim, pois não vos conheço.

Não quero dizer com isto que não me preocupe em ser ético. Não! minhas decisões são tomadas com base na ação de pensar em como elas afetam outras pessoas. Mas quando se passa pela experiência de ser taxado de louco, ou passar por bullying pelo simples fato de artes, leitura, estudo, e assumir isto publicamente. Nada mais afeta tanto.

Há também aqueles casos em que ser crítico equivale a ser errado aí a opinião dos demais é mandada às favas. honestamente sempre odiei homenagens póstumas. As pessoas tem de serem reconhecidas em vida. Mas ao que parece este não é um hábito nosso. A mim serve de consolo que Deus não é injusto para se esquecer de nossas ações (Hb 6. 9). Cada vez mais desiludido com um mundo que paga aos ímpios como se fossem justos e trata os justos como se ímpios fossem, sigo com a esperança de que Deus dará a cada um segundo a suas obras.

Marcelo Medeiros. 

sábado, 17 de outubro de 2015

Relacionamentos em Ambiente de Trabalho



A lição de Escola Bíblica Dominical do corrente trimestre aborda a temática dos relacionamentos. Na presente o tema será sondado sob a perspectica do ambiente de trabalho. É perceptível que o autor da mesma assume a posição de que o trabalho em si não se constitui como maldição e castigo para o homem. Para fundamentar tal concepção ele recorre ao termo מְלַאכְתֹּ֖ו (mela'khto), que em Gn 2. 2 é traduzido por obra (me aprofundsarei nesta discussão no transcorrer do estudo). 

Há uma sinalização tímida de que os relacionamentos em ambiente de trabalho são complexos em viritude da dinâmica das relações contaminadas pelo pecado. Elas se manifestam nas variadas formas de exploração e de exercício de poder. Outros fatores são destacados por Mário Sérgio Cortella em seu livro Qual é a Tua Obra?

A PERCEPÇÃO CLÁSSICA DO TRABALHO

No mundo clássico havia duas concepções de trabalho. A primeira: a de que haviam atividades mais dignas e outras menos dignas. Assim, o trabalho mais braçal, servil, duro era feito pelos escravos, ou desafortunados, com a finalidade de garantir aos mais abastados o exercício da cidadania e de funções mais elevadas. Na grécia, os ociosos se ocupavam do exercício da cidadania, a saber: dos debates e das discussões na ágora, já os judeus se ocupavam da atividade da leitura e estudo da lei. Para Ben Sirac
A sabedoria do escriba se adquire em horas de lazer, e quem está livre de afazeres torna-se sábio. Como se tornará sábio aquele que maneja o arado, aquele cuja glória consiste em brandir o aguilhão, o que guia bois e o que não abadona o trabalho e cuja conversa é só sobre gado? O seu coração está preocupado com os sulcos que traça e as suas vigílias com as forragens das bezerras (Eclo 38. 24 - 26 Bíblia de Jerusalém). 
O saber em geral se adquire em horas de ócio! Esta é a grande verdade extraída deste texto. Em seguida Ben Sirac examina todas as demais profissões manuais e demonstra como o exercício das mesmas impede a dedicação ao estudo da lei. Por extensão pode-se entender que toda forma de estudo, ou de afazer criativo demanda ócio. 

Aqui preciso fazer uma observação: não se trata de afirmar categoricamente que quem trabalha não possa em hipótese alguma desenvolver habilidades cognitivas, mas que o desenvolvimento de ambas ficará prejudicado pela ausência de exclusividade. Neste aspecto Ben Sirc considera o escriba feliz, uma vez que:
Ele investiga a sabedoria de todos os antigos, ocupa-se das profecias. Conserva as narrações dos homens célebres, penetra nas sutilezas das parábolas. Investiga o sentido obscuro dos provérbios, deleita-se com o segredo das parábolas. Presta serviço no meio dos grandes e é visto diante dos que governam. Percorre países estrangeiros, faz experiência do bem e do mal entre os homens (Eclo 39. 1 - 4 Bíblia de Jerusalém). 
Este tabalho mais prazeroso é chamado de מַּעֲשֵׂ֙נוּ֙ (matseh), ou conforme dito acima de obra, é usualmente empregado para as obras de Deus. Aqui tem-se a segunda percepção clássica de trabalho, o de uma obra. Outro termo a ser considerado é מְלַאכְתֹּ֖ו (mela'khto), usado para a obra de Deus. Voltando a  מַּעֲשֵׂ֙נוּ֙ (matseh), este termo faz referências às obras de arte do santuário (Ex 27. 16; 28. 11, 14, 15, 22, 32; 30. 25, 35; 38. 18; 39. 15, 22, 27, 29). Neste post faço um estudo mais apurado dos termos bíblicos que envolvem trabalho. 

O TRABALHO NA SOCIEDADE INDUSTRIAL

Para Salomão Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu apetite (Ec 6. 7 ACF). O termo empregado aqui é עָמָֽל ('amal), cujo sentido pode ser o mesmo esforço fatigante, tormento, mágoa, aflição; podendo ser empregado como sinônimo de אָ֑וֶן ('ãwen), cuja definição é a de problema, tristeza, mal, ou dano. 

Para Salomão o homem se submete ao sofrimento em razão de sua necessidade consumir. Como o apetite do mesmo não é saciado por meio das necessidades mais básicas (como ocorre com todo animal), este se vê em constate obrigação de estar trabalhando. Na sociedade industrial o consumo é a mola que impulsiona os homens a trabalhar, a despeito das experiências ruins com os diversos ambientes de trabalho. 

Similar percepção fez com que Cortella elaborasse as concepções clássicas de trabalho sob uma nova ótica etimológica. Cortella faz menção ao termo francês tripallium, um instrumento de tortura e observa de maneira perspecaz que este é um instrumento de tortura. Somadas as péssimas condições (que envolvem más conduções, o tempo de deslocamento para o trabalho e as relações de poder no mesmo), não fica difícil entender os motivos. 

Neste ponto da nossa reflexão há que se abrir espaço para o filósofo alemão Arthur Shoppenhauer. Para este os homens que possuíam habilidade mais elevadas, mas que por necessidade econômicas não poderiam exercer as mesmas se viam torturados, quando forçados a trabalharem em uma atividade para a qual além de não posssuírem vocação, lhes vedava o exercício da mesma. 

A superação proposta por Cortella é que os homens, ao invés de verem no trabalho um instrumento de tortura vejam no mesmo uma oportunidade para mostrarem ao mundo a sua obra. O termo aqui empregado pelo filósofo é poiésis, de onde vem a palavra poesia. No Novo Testamento aparece soba forma do verbo fazer cujo equivalente em grego é ποιειω [poieoo]. 

Fazer, ou  ποιειν [poiein] equivale a produzir. A ideia remete à produção de uma árvore. A solução é boa e digna, mas há que se resgatar seriamente o conceito protestante de vocação. Macieiras produzem maçãs, bananeiras, bananas, laranjeiras, laranjas e assim por diante. Os homens são diferentes, tal como as árvores. Aqui há que se lembrar do hit cada um no seu quadrado

RELACIONAMENTOS EM AMBIENTE DE TRABALHO

Os relacionamentos no ambiente de Trabalho são complicados em razão da visão que se tem de trabalho? Sim, mas também o são em razão do acúmulo de desejos, paixões, frustrações e demandas. Não há como se deixar os problemas de casa em casa e deixar os do trabalho no trabalho. Somos uma pessoa inteira tanto em casa quanto no trabalho.

Daí que o autor acertadamente aponta a adoção dos valores cristãos como chave para a construção de relacionamentos saudáveis no ambiente de trabalho. Afinal, convém ressaltar a fala de Tiago, para quem os conflitos nos relacionamentos tem a sua origem nos desejos de nossa carne. Exatamente por este motivo ressaltei no tópico acima a necessidade de uma reflexão do trabalho como meio de satisfação dos desejos.
De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites (Tg 4. 1 - 3 ACF). 
Embora a psicanálise veja a cobiça e a inveja como fatores de criação, convém ressaltar que dentro da cosmovisão bíblica esta pode ser uma força paralisante. Também vi eu que todo o trabalho, e toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo. Também isto é vaidade e aflição de espírito (Ec 4. 4 ACF). Invejar o outro é vaidade e aflição de espírito. O que importa é que cada faça aquilo que lhe vem às mãos para fazer, e o faça de acordo com as suas forças (Ec 9. 10).

Que os mesmos valores que permeiam a vida cristã familiar sejam os norteadores na vida profissional como um todo. Hoje estas idéias estão cada vez mais comuns, por meio do conceito de liderança servidora. Este tem vindo à tona através do livro O Monge e o Executivo de James Hunther. Este é o momento em que se faz necessário voltar aos princípios bíblicos.
E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens (Cl 3. 23 ACF). Este texto está no contexto do ambiente e da vivência familiar (Cl 3. 18 - 22). Daí que se em razão da convivência as pessoas do trabalho não se vêem como uma família, há algo de errado nas relações pessoais. 

E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, é precedido por outro texto de vital importância: E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai (Cl 3. 17 ACF). Ambos podem ser articulados com o dito paulino: Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas (Fp 2. 14 ACF). 

Marcelo Medeiros

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

E Deus os Criou Homem e Mulher



O presente post tem por objetivo dar ao leitor um vislumbre bíblico a respeito da criação do homem e da mulher. Nenhum crente esclarecido nega que a humanidade sofreu e tem sofrido mutações, eu, por exemplo creio assim. A dificuldade está em acreditar que o homem seja produto de um longo processo evolutivo, conduzido por alguma coisa chamada acaso, e que as sucessivas mutações possam dar origens a novas espécies. 

Homem e mulher foram criados como tais à imagem e semelhança de Deus, sendo assim: seres pessoais, racionais, capazes de se relacionar e se comunicarem, criativos e com amplas possibilidade de dominar sob o restante da criação. De igual modo ambos possuem a capacidade e a responsabilidade de cuidar e manter a criação de Deus, visto que os céus são os céus do Senhor; mas a terra a deu aos filhos dos homens (Sl 115. 16 ACF). Este texto é indicativo de que os céus são domínio divino, ao passo que a terra é o domínio humano. 

COMO O HOMEM FOI CRIADO
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1. 26, 27 ACF). 
E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente (Gn 2. 7 ACF).
Destes textos pode-se extrair as seguintes observações:

  1. O homem (leia-se gênero humano) é composto de matéria, neste caso o pó da terra, e espírito, o hálito divino soprado em suas narinas. 
  2. Em consequência o ser humano é um ser vivente, ou como diz o texto alma vivente. 
  3. A criação do homem foi feita mediante deliberação divina a partir de elementos pré-existentes na natureza já criada por Deus, e da própria natureza divina. No primeiro caso o pó, elementos oriundo da porção terra, e no segundo o hálito divino. 
  4. No ato da criação foi conferido ao homem o domínio sobre todos os seres viventes. Esta autoridade tinha por objetivo expressar o domínio de Deus sobre toda a natureza. 
  5. Homem e mulher refletem a imagem de Deus, a ambos é conferido o domínio sobre a natureza, a faculdade de ocupar o espaço e de cuidar do mesmo. 
O pó é indicador de fragilidade. Sucessivas vezes os autores bíblicos afirmam que o homem é pó. A despeito das sucessivas gozações que ateus possam fazer hoje é cada vez mais comum, para se afirmar a insignificância humana, dizer que o homem é poeira cósmica, ou se preferir pó das estrelas. Eu particularmente prefiro ficar com o Padre Antônio Vieira e com o filósofo Blaise Pascal. 

Para Vieira o homem é pó que sente, que pensa, que arrazoa. Todavia na experiência de cada pessoa não há como se afirmar que o pó tenha sentimentos, capacidades intelectuais, cognitivas e volitivas. Daí a descrença comum de que nós sejamos pó. Eu particularmente creio que se o homem mantivesse esta verdasde em mente, não desejaria em hipótese alguma ser Deus, porque se veria constatemente como pó. 

Tanto antes quanto após a queda o homem permanece pó. É assim para lembrar e jamais esquecer-se de sua fragilidade. Após pecar Deus disse: No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás (Gn 3. 19 ACF). Jó no ápice de sua angústia clamou a Deus dizendo: Peço-te que te lembres de que como barro me formaste e me farás voltar ao pó (Jó 10. 9 ACF). 

Deus soprou o seu espírito, o seu hálito no homem, e este veio a ser mais do que pó, um ser vivo. Se a lição do pó é a fragilidade humana, a lição do vento, conforme afirmado pelo professor Adauto Lourenço, é a de que a vida é sustentada por Deus. Davi afirma: Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é como nada diante de ti; na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade (Sl 39. 5 ACF). 

Ruach [ר֣וּחַ] é a expressão para espírito, vento, sopro e fôlego de vida, tem no vocábulo grego πνευμα [pneuma], ou πνευματος [pneumatos] o seu equivalente. Segundo Vieira:
O vento é a nossa vida [..] deu o vento, levantou-se o pó, parou o vento caiu. Deu o vento, eis o pó levantado: estes são os vivos. Parou o vento, eis o pó caído: estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó; os vivos pó levantado, os mortos pó caído; os vivos pó com  vento, e por isto vãos; os mortos pó sem vento e por isto sem vaidade. Esta é a distinção e não há outra (Sermão da Quarta - Feira de Cinzas). 
Já Pascal ao mesmo tempo em que reconhece a fragilidade do homem e sua indgnidade reconhece também a sua grandeza, que consiste dentre outras coisas em pensar. Daí que este mesmo pó, pinte, componha sinfonias, escreva músicas, teologias, filosofias. Mas tudo isto é ação do vento sobre o pó. O mesmo que dá suporte À vida humana, que fez com que os primeiros homens vivessem mais de novecentos anos. 

O primeiro homem foi criado para a imortalidade. Mesmo sendo em parte matéria, e por isto mesmo um ser espacial e temporal, nada me impede de crer que caso não houvesse pecado o homem seria imortal para todo o sempre. Ou seja, teria sua vida sustentada por Deus para todo o sempre. Mas ao transgredir o homem passou a experimentar a morte. 

Um detalhe igualmente observado pelo professor Adauto Lourenço é o de que a expressão hebraica מֹ֥ות תָּמֽוּת [muth th'muth], usualmente traduzida por certamente morrerás, na verdade expressa o morrendo morrerás. A morte é decorrente do processo de envelhecimento, que consiste na falência do organismo em seu processo de renovação celular. A cada minuto milhões e células morrem em nosso organismo, e outras milhões nascem. Com o envelhecimento o número de células que vai nascendo decresce, até que o ser humano morra [aqui e aqui]. 

A CRIAÇÃO DA MULHER

O primeiro texto que fala a respeito da criação da mulher e do homem juntos, sem dar maiores detalhes, o faz em razão de demonstrar que ambos possuem dignidade, por serem à imagem de Deus. Ambos são frágeis. O homem por ser pó, a mulher por ter vindo do homem, que por sua vez, veio do pó. 

Já o segundo texto visa dar maiores detalhes a respeito da criação do primeiro casal. Assim Gn 1 é um relato cosmológico, ao passo que Gn 2 . 4 - 24 é um realto antropológico. O mais curioso é que os termos para homem, e Adão quase que se confundem em língua original, dando a entender que o que está em jogo no texto é a humanidade. 

Sem homem e sem mulher o mundo talvez fosse povoado por seres pessoais (anjos são seres pessoais e o próprio Deus também o é). Mas tanto o homem quanto a mulher se constituem como tais a partir da relação de afinidade e dessemelhança que um possui em relação ao outro. É neste ponto em que a questão do casamento salta aos olhos. 

O CASAMENTO

O mundo caminha inevitavelmente para a aprovação de leis que reconhcem e legalizam a união homoafetiva [aqui]. Tal não seria tamanho problema se não se desse mediante doutrinação ideológica. A ideologia tem sido tal que até estratégias como o fim do dia dos pais tem sido aventadad em alguns municípios do Brasil [aqui]. Face ao exposto é necessário que se revejam as bases do casamento cristão. 

Este estudo é indicador de que antes de protestar contra a união homoafetiva a Igreja tem de ser a comunidade que expressa em termos práticos que o casamento nos moldes divinos é o melhor projeto. Há que se afirmar que O Casamento Bíblico constitui-se pelo caráter heterogâmico, monogâmico e indissolúvel. 

Marcelo Medeiros

sábado, 10 de outubro de 2015

A criação dos céus e da terra



Partindo do que já foi afirmado neste estudo  é possível afirmar que dentre os objetivos do Gênesis pode-se elencar os seguintes: 1) conferir sabedoria para a salvação (II Tm 3. 14, 15), 2) educar o homem em justiça (II Tm 3. 16, 17), 3) produzir esperança (Rm 15. 4), e 4) produzir fé (Rm 10. 17; Hb 11. 3). Em outras palavras embora seja um retrato fiel da criação o livro em apreço não é de teor científico. Tanto que seu conteúdo pode ser acessado somente por fé.

Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente (Hb 11. 3 ACF). É impossível permanecer na verdade sem prévia compreensão, o que demanda crença. Como disse o próprio Senhor no livro de Isaías: se não o crerdes, certamente não haveis de permanecer (Is 7. 9 ACF). 

I) O CRIACIONISMO BÍBLICO, CONSIDERAÇÕES

Para os sábios do período e pré-exílico e interbíblico, a criação revela de Deus de forma inequívoca. O salmista declara:
Os céus contam a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra de suas mãos. O dia entrega mensagem a outro dia e a noite a faz conhcer a outra noite. Não há termos, não há palavras, nenhuma voz que deles se ouça, e por toda a terra sua linha aparece e até os confins do mundo a sua linguagem (Sl 19. 2 - 5a [19. 1 - 4] Bíblia de Jerusalém). 

Já o sábio assevera:
Sim, naturalmente vãos foram todos os homens que ignoraram a Deus e que, partindo dos bens visíveis, não foram capazes de conhecer Aquele que é, e nem considerando as obras, de reconhcer o Artífice. Se fascinados por sua beleza os tomaram por deuses, aprendam quanto lhes é superior o Senhor dessas coisas. E se os assombrou sua força e atividade, calculem quanto mais poderoso é Aquele que as formou (Sab 13. 1, 3 - 5 Bíblia de Jerusalém). 
E Paulo, diz:
o que se pode conhecer de Deus é manifesto entre eles, pois Deus lho revelou. Sua realidade invisível - seu eterno poder e sua divindade - tornou-se inteligivel desde a criação do mundo, através das criaturas (Rm 1. 19, 20 Bíblia de Jerusalém). 
O que estes textos estão dizendo é que a despeito do grau de mistério em Deus, é possível conhecê-lo por meio da sua criação. Este conhecimento é analógico, mas permite una percepção do poder eterno e da divindade divina. Em outras palavras o visível faz clara manifestação do invisível.  O criacionismo bíblico mais do que se perder em uma disputa de teor cosmológico, confere propósito à criação. E o propósito da criação é a glória de Deus conforme visto (Sl 19. 1). 

II) A CRIAÇÃO DO TEMPO, MATÉRIA E ESPAÇO

Toda realidade circundante é conhecida por meio destas propriedades: o tempo, a matéria e o espaço. O primeiro é a medida de duração dos seres sujeitos à mudança da sua substância ou a mudanças acidentais e sucessivas da sua natureza, apreciáveis pelos sentidos orgânicos. Em outras palavras, tempo é uma medida perceptivel aos homens por meio da mudança ocorrida na matéria. 

A criação do tempo é consolidade por meio da mudança: houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia (Gn 1. 5 Bíblia de Jerusalém). E novamente consolidado com a criação dos luzeiros, quando Deus disse: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos (Gn 1. 14 ACF). Aqui a mudança passa a ser sinalizada por meio de elementos da criação, neste caso, o sol e a lua. 

Ao criar a matéria, Deus criou o tempo. Ora a terra estava vazia e vaga e trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas (Gn 1. 2 Bíblia de Jerusalém). A matéria aqui é representada pela presença da terra, e da água. Matéria é tudo o que compõe os corpos físicos, no caso da água, hidrogênio e oxigênio. 

Já o espaço é: uma extensão tridimensional ilimitada ou infinitamente grande, que contém todos os seres e coisas e é campo de todos os eventos. Diz-se que ele é tridimensional por ser constituído de altura, largura e profundidade. Perceba que o texto diz: a terra estava vazia e vaga e trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus agitava a superfície das águas (Gn 1. 2 Bíblia de Jerusalém). Com isto o texto está dizendo que:

  1. O espaço conhecido por terra estava vazio, ou seja não estava ocupado. 
  2. O abismo revela a noção de profundidade. 
  3. A ação do Espírito (palavra equivalente a sopro), se dá na altura, ou seja na superfície das águas. 
  4. Embora não limitado ao espaço e ao tempo, Deus age em ambos. 
Tempo, espaço e matéria são também marcas do Deus triúno. Esta é a percepção do professor Adauto Lourenço. O tempo é divido em passado, presente e futuro (marcas do Deus triuno?). O espaço, conforme visto é dividido em altura,largura e profundidade. E a matéria? Ela existe no estado líquido, sólido, ou gasoso. 

III) A CRIAÇÃO DA LUZ

Um dos maiores embaraços com os quais os crentes tiveram de lidar ao longo dos anos foi ter de explicar a existência da luz independente da criação dos astros, uma vez que de acordo com o relato do Gênesis, a luz foi criada no primeiro dia, a vegetação no terceiro dia e somente no quarto dia foram criados os astros. 

O professor Adauto Lourenço apresenta aqui duas explicações. A primeira: Deus criou todas as coisas para que fossem mantidas e sustentadas por ele. Ou como afirmado corretamente no livro de Jó: estendeu o setentrião sobre o vazio e suspendeu a terra sobre o nada (Jó 26. 7 Bíblia de Jerusalém). Em outras palavras: Deus sustenta a terra sobre o vazio. Este mesmo Deus é poderoso para fazer com que haja luz e vegetação sem astros. 

A segunda explicação é que para o professor em apreço esta referida luz é proveniente de uma radiação chamada radiação cósmica de fundo em micro-ondas. Ela descoberta por Arno Penzias e Robert Woodron Wilson dos laboratórios Bell Telephone. Ela consotitui uma evidência científica. O problema é que cedo ela foi associada à teoria do Bog Band (esta sim aberta à discussão visto ser uma interpretação dos dados). Todavia é possível pensar em luz antes da criação das estrelas. 

IV) A CRIAÇÃO EM SI

A esta altura do estudo, possivelmente o leitor tenha feito a seguinte indagação: por que o criacionismo, ao invés da evolução? a pergunta pode ser respondida por meio das palavras de Sir James no clássico o Evangelho mal trapilho, que segue abaixo:


Sir James Jeans, o famoso astrônomo britânico disse certa vez: “o universo parece ter sido desenhado por um matemático puro”. Joseph Campbell escreveu também sobre “a intuição de uma ordem cósmica matematicamente definível”. Contemplando a ordem da Terra, do Sistema Solar e do Universo estelar cientistas e estudiosos concluíram que o grande projetista não deixou nada para o acaso.A inclinação da terra, por exemplo, de 23 graus, produz as nossas estações. Os cientistas dizem-nos que, se a terra não tivesse a inclinação que tem, os vapores dos oceanos mover-se-iam para norte e sul cobrindo os continentes de gelo. Se a lua estivesse a 80 mil quilômetros da terra, em vez de 320 mil, as marés seriam tão enormes que todos os continentes seriam submergidos pela água – até as montanhas seriam afetadas pela erosão. Se a crosta terrestre fosse apenas três metros mais grossa, não haveria oxigênio, e sem ele toda vida animal morreria. Se os oceanos fossem uns poucos metros mais profundos, o dióxido de carbono e o oxigênio teriam sido absorvidos e nenhuma vida vegetal poderia existir. O peso da terra estimado em seis sextilhões de toneladas (isto é um seis seguido de vinte e um zeros). Ela tem, ainda assim, um equilíbrio perfeito, e gira com facilidade em torno do seu eixo. Ela revolve diariamente à razão de mais de mil e seiscentos quilômetros por hora, ou quarenta mil quilômetros por dia. Num ano isto dá mais de catorze milhões de quilômetros. Considerando o extraordinário peso de seis sextilhões de toneladas, girando a essa fantástica velocidade ao redor do seu eixo invisível, as palavras de Jó 26. 7 assumem significado sem paralelo: “Ele ... faz pairar a terra sobre o nada”. Jó nos convida ainda a meditar sobre “as maravilhas de Deus” (Jó 37. 14). Considere o sol. Cada metro quadrado da superfície do sol emite constantemente um nível de energia de cento e trinta mil cavalos força (isto é aproximadamente 450 motores de oito cilindros [...]. Ainda assim o sol é apenas uma estrela menor nos cem bilhões de astros que compõem a nossa via Láctea [...] quando tentamos apreender mentalmente as quase incontáveis estrelas e outros corpos celestes, encontrados na nossa Via Láctea, apenas, somos levados a ecoar o hino de louvor de Isaías ao poderoso criador: “Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exercito de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome, por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar (MANNING, 2005).



Perceba a impressionante harmonia na criação. De forma que a mesma não é nem pode ser fruto do acaso. Saudações fraternas em Cristo Jesus, Marcelo Medeiros. 

sábado, 3 de outubro de 2015

Gênesis, o Livro da Criação Divina



As Escrituras Sagradas têm por objetivo produzir esperança (Rm 15. 4), fazer o homem sábio para a salvação e educar o mesmo em toda a justiça (II Tm 3. 14 - 17). É isto que tem de ser buscado na mesma. Todavia mediante a leitura da Bíblia é possível que algumas perguntas existenciais sejam respondidas. Gênesis traz respostas para as mesmas ao dizer quem, ou o quê é o homem, de onde ele veio, e qual o seu propósito. 

TEMA, DATA, AUTORIA E LOCAL

A temática de Gênesis é indicada pelo nome que este livro recebe em sua versão hebraica e grega. O termo hebraico בְּרֵאשִׁ֖ית (berisht) indica que o livro trata dos princípios, uma vez que este é o sentido do vocábulo em apreço. Já o termo grego é retirado deste verso: Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus (Gn 2. 4 ACF). A expressão origens é a tradução do termo grego γενέσεως (genéseoos), de onde advém a palavra gênesis. 

Gênesis descreve não a criação em si. Na concepção judaica esta é um ato soberano e poderoso do criador, e o que se afirma é que: Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca (Sl 33. 6 ACF). Lembrando que espírito aqui equivale a sopro, o que indica a ação conjunta do Espírito de Deus na criação. 

A tradição judaica atribuiu a autoria do Gênesis à pessoa de Moisés. Sob esta perspectiva,o livro teria a sua datação aproximada ao século XV a. C. Todavia no Séc. XVIII da corrente era surgiram as famosas teses documentais. De acordo com tais perspectivas o primeiro livro seria resultante de uma série de documentos que recebia e as iniciais JEDP, sendo J (javista), E (eloísta), D (deteronomista) e P (sacerdotal). 

À título de exemplo tome P (sacerdotal) e J (javista), para entender o motivo de dois relatos da criação. Esta tese caiu na academia em detrimento das análises literárias. Ao analisar o texto a maioria dos teólogos percebeu, que a despeito da percepção de um considerável número de fontes no mesmo, é igualmente perceptível que na redação final, os mesmos apresentam mútua dependência. 

Minha conclusão é a de que Moisés reuniu um conjunto de tradições orais para compor ao menos parte significativa do livro de Gênesis. Não vejo razão para crer de modo contrário, a despeito de todas as observações dos teólogos de cunho mais liberal. Todavia não me vejo impedido de crer que este mesmo livro tenha recebido sua redação final no período interbíblico. 

OBJETIVOS DE GÊNESIS

São objetivos do Gênesis: o fortalecimento da fé dos hebreus e a resposta às questões vitais. Sob esta ótica há que se considerar as interpretações do relato da criação. Ele aparece articulado com a criação do povo de Israel. Deus cria a terra por meio de sua Palavra a partir do nada. De igual modo cria o seu povo a partir de uma mulher estéril. Seu poder na criação é demonstração de seu poder redentor.
Assim diz o Senhor, teu redentor, e que te formou desde o ventre: Eu sou o Senhor que faço tudo, que sozinho estendo os céus, e espraio a terra por mim mesmo; Que desfaço os sinais dos inventores de mentiras, e enlouqueço os adivinhos; que faço tornar atrás os sábios, e converto em loucura o conhecimento deles; Que confirmo a palavra do seu servo, e cumpro o conselho dos seus mensageiros; que digo a Jerusalém: Tu serás habitada, e às cidades de Judá: Sereis edificadas, e eu levantarei as suas ruínas; Que digo à profundeza: Seca-te, e eu secarei os teus rios. Que digo de Ciro: É meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz, dizendo também a Jerusalém: Tu serás edificada; e ao templo: Tu serás fundado (Is 44. 24 - 28 ACF). 
O poder de Deus em cumprir sua boa Palavra e restaurar Jerusalém é evidenciado na criação. Se sua palavra fez com que todas as coisas viessem à existência, segue-se que ela é igualmente poderosa para resgatar o povo. Com o mesmo poder Deus decreta que Ciro será libertador do povo, e mais, que dele sairá a ordem para edificar Jerusalém.
Eu fiz a terra, e criei nela o homem; eu o fiz; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens. Eu o despertei em justiça, e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a minha cidade, e soltará os meus cativos, não por preço nem por presente, diz o Senhor dos Exércitos (Is 45. 12, 13 ACF). 
Daí que não seja inviável que esta profeccia tenha sido proferida cerca de duzentos anos antes dos acontecimentos e que o nome de Ciro apareça aqui. Fora a criação, a queda, o dilúvio, as narrativas patriarcais formam o eixo doutrinário do livro.

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A Condição da Criança Quanto à Salvação



Uma pergunta que sempre me é feita nos seminários em que ministro é: uma criança que morre ainda no período da inocência, pode vir a ser condenada? Há pessoas que respondem com um sonoro não, por pressuporem, erradamente, diga-se de passagem, que toda criança é pura e inocente. O mais curioso é que pensam que estão lendo Mt 18. 1 - 4, quando na verdade estão lendo O Emílio de Jean Jaques Rousseau. 

Não há razões para se pressupor que ao dizer que das crianças é o Reino, Jesus o tenha feito em razão de uma suposta pureza. Pelo contrário, a Bíblia é clara em dizer que o coração do homem é mau desde a sua infância (Gn 6. 5; 8. 21). Nas Confissões de Santo Agostinho o pensador em apreço fala a respeito de um caso em que observa inveja em uma criança. (Fato este admitido pela Psicologia, com a ressalva de que dentro deste ramo do saber a inveja não é vista como um pecado). 

Jesus afirma que das crianças é o Reino, e que quem quiser ser o maior no mesmo tem de se fazer como um dos pequeninos pelo fato de que as crianças no seu tempo eram desprezadas, não possuíam autonomia social, portanto eram dependentes dos adultos. Fazer-se como uma criança é assumir total dependência de Deus. 

Recentemente o teólogo reformado Jonh Piper causou na net ao afirmar que "todos os bebês são salvos por Cristo". Para justificar o teólogo não apela jamais à pureza das mesmas, antes ao conhecimento dos mesmos, sendo este um fator preponderante no juízo de Deus (At 17. 30; Rm 2. 14, 15). Neste artigo Piper afirma que pelo mesmo princípio crianças com deficiências mentais também podem ser salvas, visto que as mesmas nasceram sem as condições necessárias para a compreensão do conteúdo da revelação. 

Louvo a Deus pela vida de Piper e rogo que ele seja o sinal de levantamento de toda uma geração de calvinistas, ou reformados que pensam fora da caixa, e com isto evitem as incosistências bíblicas internas a este ramo de conhecimento. 

Minha conclusão inicial é a de que se uma criança morre, antes de poder discernir entre o bem e o mal e ouvir e entender o conteúdo do Evangelho, ela será julgada pelo seu conhecimento, e portanto inocentada. Outra questão é que biblicamente, a vida está nas mãos de Deus (Sl 39. 5, 6, 11). A verdade é que uma criança que morre com poucos dias morre porque Deus assim o permitiu, para não dizer que quis, e o seu querer sempre redunda em algo bom (Rm 8. 28). Mas como disse esta é apenas uma conclusão inicial. 

Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Parábola do Tesouro Escondido


Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.

Outrossim o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a (Mt 13. 44 - 46 ACF). 
Há tanta coisa aqui no mundo,que pertence a quem

achar, ricos tesouros escondidos,são de quem os encontrar,e

eu achei cristo,e ele me achou,e bem mais que isto,ele me

amou, pertenço á ele,sou todo dele,jesus é meu tesouro pelo

amor.

Os homens lutam por riquezas,que um dia vão ter

fim,mas o tesouro duradouro,meu Deus guardou pra mim,e eu

achei cristo,e ele me achou,e bem mais que isto,ele me

amou, pertenço á ele,sou todo dele,jesus é meu tesouro pelo

amor (Édson Coêlho). 
O Reino de Deus, aqui chamado de Reino dos céus é um tema mais que recorrente na pregação de Cristo. Tanto ele quando o Batista conclamam o povo ao arrependimento face á chegada do reino (Mt 3. 2; 4. 17), tanto que as boas novas que o Messias traz são chamadas de notícias do Reino (Mt 4. 23) mas o que vem a ser este? Creio que seja objetivando uma resposta a esta pergunta que Cristo faz do principal tema de sua pregação, o cento do seu ensino. 

No capítulo 13 do Evangelho de Mateus, é possível de se identificar  cinco parábolas que revelam os mistérios do Reino de Deus, inclusive a respeito da natureza do mesmo. Começo com esta por ser, ao meu ver a mais esclarecedora a respeito do principal tema da pregação de Jesus e centro da expectativa dos público a quem tais exposições foram feitas. 

I) O Reino é semelhante

Do momento em que leio a respeito do Reino e percebo que uma das marcas distintas do mesmo é o seu caráter duradouro, ao passo que todas as coisas do mundo passam, percebo que o emprego do termo ομοια (omoia), cuja tradução em nosso idioma é a de semelhante, não pode ser compreendido como constituído da mesma substância. A colocação de que o Reino é semelhante a um tesouro escondido é analógica. 

O texto bíblico afirma categoricamente: as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem,são as que Deus preparou para os que o amam  (I Co 2. 9 ACF), daí que para que as mesmas pareçam minimamente compreensíveis aos homens a linguagem seja acomodada. Afinal, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente  (I Co 2. 14 ACF). 

Logo, tudo que se possa falar das realidades espirituais, incluindo aqui o Reino de Deus há de ser feito por analogia, comparação. Esta linguagem é muito comum nas Escrituras, tome por exemplo o livro de Apocalipse e comprove que para falar do cordeiro que foi morto e reviveu, João diz que viu entre os castiçais um semelhante ao Filho do homem (Ap 1. 13), cujos pés são semelhantes a latão reluzente (Ap 1. 15; 2. 18), ao ver o trono de Deus, e contemplar o que estava assentado sobre ele, o apóstolo amado o descreve assim: na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica (Ap 4. 3). 

Ao descrever a vinda de Cristo, João o faz nas seguintes palavras: olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda (Ap 14. 14). O autor de Hebreus afirma categoricamente que Cristo é o esplendor da glória de Deus (Hb 1. 3), e João descreve tal magnificência dizendo que o seu brilho era como o de uma jóia muito preciosa, como jaspe, clara como cristal (Ap 21. 11). 

Não há como traduzir o inefável em palavras, daí o uso recorrente à analogia. Agora, perceba a analogia que será feita, o Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. O que se pode aprender por meio desta comparação? Desde já quero dizer que tenho o próprio ensino de Cristo como padrão hermenêutico das parábolas, e partindo deste ouso dizer o seguinte: 1) o Reino é de sumo valor, 2) O reino é algo oculto. Logo, o mesmo nada tem a ver com as pretensões dos imaturos discípulos de Cristo, que esperavam a implantação de uma política teocrática, ou a restauração davídica e em consequência desta a expulsão dos romanos da palestina. 

II) Semelhante a um tesouro

A ideia de θησαυρω (theesauroo) nos remete àquilo que foi guardado em depósito, enfim, uma grande riqueza. Ao comparar o Reino de Deus com riquezas que estão ocultas, Jesus está dizendo que o Reino foi guardado em depósito. Mas que tesouros são estes? Para responder a estas perguntas preciso recorrer a Paulo. 

Em primeiro lugar pode-se falar da benignidade de Deus que conduz os homens em geral (o que inclui a mim e a ti), que conduz ao arrependimento. Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? (Rm 2. 4 ACF). 

Em segundo lugar, a riqueza é a forma com a qual Deus se faz conhecido em toda a terra, por meio da misericórdia que ele exerce nos eleitos. Paulo diz que ele suportou com paciência os vasos da ira, para que pudesse dar a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios (Rm 9. 23, 24). 

Em terceiro lugar, é preciso que se considere a riqueza divina por meio do perdão, da quitação das dívidas, e do alto resgate que foi para que os eleitos fossem remidos de sua condição de escravos espirituais, de sua vã maneira de viver, a fim de viver uma vida de santidade. Mas para simplificar quero afirmar que este tesouro é Cristo, sim Cristo, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça (Ef 1. 7 ACF). 

Mais adiante o mesmo Paulo afirma aos crentes de Éfeso, mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef 3. 8 ACF). Daí não ser exagerado que o tesouro do qual o mestre fala seja o próprio Cristo, visto que Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério [...] que é Cristo em vós, esperança da glória (Cl 1. 27 ACF). Mas se Cristo mesmo é o tesouro, por que se diz que escondido? A resposta se acha na natureza divina e humana de Cristo. 

III) Um tesouro escondido

Cristo é o tesouro do qual se fala na parábola em apreço e tanto a sua natureza divina, quando a humana revelam em que sentido ele está escondido. No tocante à natureza divina. Para Pascal, a maior verdade das Escrituras é a que a afirma o caráter oculto de Deus, ou seja, desde que o homem se corrompeu, ele o manteve em um estado do qual somente se livram por meio de Jesus Cristo. 

Daí o próprio Filho afirmar: ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11. 27 ACF). Isaías disse: verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador (Is 45. 15 ACF). Deus se torna acessível ao homem única e exclusivamente em Cristo, mas mesmo em sua revelação por meio de Cristo, ele ainda é o Deus que se esconde. Como? Simples somente aqueles a quem o Pai revela podem saber quem é Cristo. 

Quando perguntou aos seus discípulos que impressão o povo tinha a seu respeito, o povo o teve por algum dos profetas que haviam ressuscitado, ao indagar aos deus discípulos, ele obteve de Pedro a seguinte resposta: tú és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16. 16 ACF). Diante da resposta do líder do colegiado apostólico, Cristo diz: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus (Mt 16. 17 ACF). 

O fato inconteste é que sem a revelação do Pai, Cristo é rocha de escândalo (I Pe 2. 6 - 8) e um motivo de contradição (Lc 2. 34). Todavia, para os que recebem a percepção celeste, Cristo é a pedra angular, a rocha de esquina, rejeitada pelos edificadores, mas para com Deus eleita e preciosa (At 4. 10, 11; I Pe 2. 4). A despeito de tudo isto a alegria do encontro com Cristo sobrepuja quaisquer alegrias terrenas e fazem com que o homem venda tudo o que possui. 

Um detalhe a ser devidamente percebido aqui é que o termo escândalo em nossa língua remete às circunstâncias que ofendem o decoro, ou à moral estabelecida, e de certa forma a vida de Cristo ofendeu o decoro e a moral contemporânea. Isto se deu quando ele comeu com pecadores (Mt 9. 10 - 13), entrou na casa de publicanos (Lc 19. 6 - 10). Mas longe de ser um mestre adocicado, Jesus foi bem austero com os seus discípulos, ao lhes dizer por exemplo que a justiça dos mesmos deveria de exceder em muito a dos escribas e fariseus (Mt 5. 20ss), e que os que tinham parte com ele deveriam comer da sua carne e do seu sangue (Jo 6. 49 - 66). 

Uma vez atento para estes aspectos, o leitor da Bíblia não se admira diante da fala em que Cristo declara bem aventurados os que não se escandalizam nele (Mt 11. 6). O termo σκανδαλον (skandalon), é mais do que o choque moral, ético, cultural, ele significa literalmente tropeço. Sim Cristo é uma rocha de tropeço, como bem colocaram Isaías e Pedro, em citação àquele. A única forma de não tropeçar em Cristo é crer nele. 

IV) A alegria do encontro com Cristo

Sempre fiquei inculcado com o fato do negociente ter de vender tudo o que tem para alcançar aquele terreno. Isto vai de encontro com a lógica de lucro, de acúmulo. Hoje percebo duas verdades, uma cultural e outra teológica. No campo cultural, a sociedade em que Jesus vivia não era capitalista, no teólogico, não há como fruir o reino de Deus sem que se perca alguma coisa. Geiler disse certa vez: a salvação é de graça, mas pode custar a vida. Esta é a dinâmica do Reino presente na maioria dos ensinamentos de Jesus. 

Quem deseja seguir a Cristo tem de estar disposto a abrir mão de sua vida, afinal o mundo tende a ser hostil ao Evangelho e a Cristo e o será em relação aos seus seguidores. Todavia mesmo no texto em que Jesus alerta seus discípulos a respeito do sofrimento que terão de enfrentar, ele fala aos mesmos a respeito da alegria duradoura que se fará em seus corações. 
Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará (Jo 16. 20 - 22 ACF). 
Zaqueu é um exemplo de que a alegria do encontro com Cristo supera, e muito renúncia que o Evangelho demanda. Depois de receber Cristo com alegria o publicano se dispôs a dar metade de seus bens aos pobres e em defraudando alguém restituir quatro vezes mais (Lc 19. 6 - 10). Este desapego se estende às demais áreas.

Este é o sentido da parábola em apreço. Fraternos abraços em Cristo.

Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Quem é que vai Pagar por Isso?



Uma das músicas que me deixou inculcado foi Revanche, de autoria de Lobão e Bernanrdo Vilhena. Na minha leitura ela fala do círculo vicioso que a política brasileira se tornou. Eles, os políticos, fazem as contas, e nós pagamos o ônus. Diante de tal fato fica a pergunta que marca o refrão da letra: quem é que vai pagar por isso, quem é que vai pagar por isso, quem é que vai pagar por isso, quem é que vai pagar por isso

Reconheço que a música vale toda uma reflexão. Mas diante do anúncio da ressurreição da CPMF, claro, com nome diferenta, dos aumentos na alíquota do imposto de renda [sabedores que somos de que neste país, servidor assalariado é descontado em seus proventos, algo bem diferente de renda], salários de servidores parcelados; não é de se estranhar de todo que o povo seja tomado pela mesma revolta que se observa na mulher da imagem acima. 

Nem os servidores, nem o povo são a causa da crise, mas a conta está sendo passada para eles. Então volto à letra de Revanche, que diz: e a gente ainda paga por isso, e a gente ainda paga por isso, e a gente ainda paga por isso. Que Deus nos ajude. 

Marcelo Medeiros. 

A mulher e a Graça de Deus


Creio que somente o verdadeiro Evangelho pode libertar o gênero humano de sua excessiva sensibilidade, a mesma que o faz odiar quem lhe diz a verdade a respeito do seu caráter, a mesma que o faz aborrecer o Evangelho e abraçar os discursos antropocêntricos da atualidade. Nisto incluam-se as mulheres, que como os homens são objeto do amor de Deus e igualmente carentes de sua graça. 

Marcelo Medeiros. 

Amizade e Redes Sociais



Me preocupa de longa data o emprego da tecnologia, principalmente das redes sociais. O advento do Orkut e do Facebook banalizou o termo amizade. Lexicalmente falando, esta é a afeição que promove algum tipo de ligação entre as pessoas. Todavia esta mesma não se dá de forma tão banal, como se possa pensar. Milton Nascimento acertou quando disse que amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Se tem de guardar, é porque é raro, valioso, ao invés de banal.

Não raras vezes vejo as pessoas se dizendo amigas uma das outras, e a base nada tem a ver com o que se vê a respeito da amizade, tanto na literatura sapiencial, quanto na tradição filosófica. Jesus filho de Sirac acreditava que amigos deveriam de serem adquiridos mediante provas, e que não poderia haver pressa em confiar nos mesmos (Eclo 6. 7). Há aqueles que não são fieis na tribulação, os que se tornam verdadeiros inimigos, há os que são companheiros de mesa, mas diante de qualquer adversidade eles se colocam contra nós (Eclo 6. 8 - 11).

Daí que o sábio arremate: amigo fiel não tem preço é imponderável o seu valor. Amigo fiel é bálsamo vital e os que temem ao Senhor o encontrarão. Aquele que teme ao Senhor regra bem as suas amnizades, pois tal como ele é, assim é seu amigo (Eclo 6. 15 - 17 Bíblia de Jerusalém). Nas palavras de Salomão: há amigos que levam à ruína e há amigos mais queridos do que um irmão (Pv 18. 24 Bíblia de Jerusalém). 

Na perspectiva filosófica a amizade é uma afeição que se dá entre iguais. Dizem à boca miúda que esta é a perspectiva aristotélica a respeito da amizade. Para C. S. Lewis, a amizade tem sua causa no companheirismo. Logo, não há possibilidade de verdadeiras relações sem que as pessoas "comam o mesmo pão" [significado de cun panis em latim]. É na companhia de outros consortes que amigos são descobertos. 

Na compnhia de pessoas que surge a verdadeira amizade. Ela não é norteada por interesses secudários. A causa da mesma, a afinidade que é descoberta. Isto pode ocorrer em ambientes virtuais? Sim e não. Possa ser que em um facebook da vida por exemplo se descubra alguém que partilha de uma mesma visão teológica, política, eclesiástica, estética, artítistica. Mas não há ali a garantia de que desta partilha surgirá uma conexão íntima, ou uma relação de semelhança. 

As redes sociais tem como finalidade a troca e compartilhamento de conhecimentos e informações. Esta é a grande dádiva que estas ferramentas trouxeram. Mas em um país com baixo senso crítico, onde as pessoas passam procuração para que outras pensem por elas, este emprego e concepção correm sério risco de jamais serem compreendidos. Sob este prisma, Facebook, Youtube, Instagram, terminam por serem ferramentas de exposição pessoal. Sobrsa narcisismo e falta sabedoria. 

Amigos nada têm a ver com os relacionamentos e conexões que fazemos em rede sociais. Estes são "amigos virtuais", cuja finalidade é o compartilhamento de ideias e informações. Um exemplo, sou calvinista e continuísta, o Facebook, me proporciona a oportunidade de publicar os artigos do meu blog, e me conectar com pessoas que comungam das mesmas perspectivas teológicas que eu. 

São meus amigos? Em princípio não [falo isto daqueles que nunca vi pessoalmente], mas de acordo com a dinâmica podem ser grandes colaboradores e se algum dia comermos o mesmo pão, sentirmos a mesma sensação que os consortes sentem, sejamos amigos mais chegados do que um irmão, aquele tipo que "na angústia se faz irmão". 

Difícil de engolir? Com certeza! Mas é o que a vida tem me ensinado. Amigos de verdade criam uma conectividade tal, que mesmo diante de uma divergência, seja de que tipo for, não se desfaz. Fica ali, dentro do peito, dentro do coração. Isto não tem nada a ver com estar na página de alguém, só por estar, ou porque ela é uma pessoa pública, ou porque possa advir algum favorecimento da "relação". 

Por enquanto, o que cabe é que refletir a respeito da amizade e do uso das redes sociais e pedir a Deus que nos conceda discernimento no tocante a estas coisas. Emn Cristo, 

Marcelo Medeiros. 
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