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sábado, 17 de outubro de 2015

Relacionamentos em Ambiente de Trabalho



A lição de Escola Bíblica Dominical do corrente trimestre aborda a temática dos relacionamentos. Na presente o tema será sondado sob a perspectica do ambiente de trabalho. É perceptível que o autor da mesma assume a posição de que o trabalho em si não se constitui como maldição e castigo para o homem. Para fundamentar tal concepção ele recorre ao termo מְלַאכְתֹּ֖ו (mela'khto), que em Gn 2. 2 é traduzido por obra (me aprofundsarei nesta discussão no transcorrer do estudo). 

Há uma sinalização tímida de que os relacionamentos em ambiente de trabalho são complexos em viritude da dinâmica das relações contaminadas pelo pecado. Elas se manifestam nas variadas formas de exploração e de exercício de poder. Outros fatores são destacados por Mário Sérgio Cortella em seu livro Qual é a Tua Obra?

A PERCEPÇÃO CLÁSSICA DO TRABALHO

No mundo clássico havia duas concepções de trabalho. A primeira: a de que haviam atividades mais dignas e outras menos dignas. Assim, o trabalho mais braçal, servil, duro era feito pelos escravos, ou desafortunados, com a finalidade de garantir aos mais abastados o exercício da cidadania e de funções mais elevadas. Na grécia, os ociosos se ocupavam do exercício da cidadania, a saber: dos debates e das discussões na ágora, já os judeus se ocupavam da atividade da leitura e estudo da lei. Para Ben Sirac
A sabedoria do escriba se adquire em horas de lazer, e quem está livre de afazeres torna-se sábio. Como se tornará sábio aquele que maneja o arado, aquele cuja glória consiste em brandir o aguilhão, o que guia bois e o que não abadona o trabalho e cuja conversa é só sobre gado? O seu coração está preocupado com os sulcos que traça e as suas vigílias com as forragens das bezerras (Eclo 38. 24 - 26 Bíblia de Jerusalém). 
O saber em geral se adquire em horas de ócio! Esta é a grande verdade extraída deste texto. Em seguida Ben Sirac examina todas as demais profissões manuais e demonstra como o exercício das mesmas impede a dedicação ao estudo da lei. Por extensão pode-se entender que toda forma de estudo, ou de afazer criativo demanda ócio. 

Aqui preciso fazer uma observação: não se trata de afirmar categoricamente que quem trabalha não possa em hipótese alguma desenvolver habilidades cognitivas, mas que o desenvolvimento de ambas ficará prejudicado pela ausência de exclusividade. Neste aspecto Ben Sirc considera o escriba feliz, uma vez que:
Ele investiga a sabedoria de todos os antigos, ocupa-se das profecias. Conserva as narrações dos homens célebres, penetra nas sutilezas das parábolas. Investiga o sentido obscuro dos provérbios, deleita-se com o segredo das parábolas. Presta serviço no meio dos grandes e é visto diante dos que governam. Percorre países estrangeiros, faz experiência do bem e do mal entre os homens (Eclo 39. 1 - 4 Bíblia de Jerusalém). 
Este tabalho mais prazeroso é chamado de מַּעֲשֵׂ֙נוּ֙ (matseh), ou conforme dito acima de obra, é usualmente empregado para as obras de Deus. Aqui tem-se a segunda percepção clássica de trabalho, o de uma obra. Outro termo a ser considerado é מְלַאכְתֹּ֖ו (mela'khto), usado para a obra de Deus. Voltando a  מַּעֲשֵׂ֙נוּ֙ (matseh), este termo faz referências às obras de arte do santuário (Ex 27. 16; 28. 11, 14, 15, 22, 32; 30. 25, 35; 38. 18; 39. 15, 22, 27, 29). Neste post faço um estudo mais apurado dos termos bíblicos que envolvem trabalho. 

O TRABALHO NA SOCIEDADE INDUSTRIAL

Para Salomão Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu apetite (Ec 6. 7 ACF). O termo empregado aqui é עָמָֽל ('amal), cujo sentido pode ser o mesmo esforço fatigante, tormento, mágoa, aflição; podendo ser empregado como sinônimo de אָ֑וֶן ('ãwen), cuja definição é a de problema, tristeza, mal, ou dano. 

Para Salomão o homem se submete ao sofrimento em razão de sua necessidade consumir. Como o apetite do mesmo não é saciado por meio das necessidades mais básicas (como ocorre com todo animal), este se vê em constate obrigação de estar trabalhando. Na sociedade industrial o consumo é a mola que impulsiona os homens a trabalhar, a despeito das experiências ruins com os diversos ambientes de trabalho. 

Similar percepção fez com que Cortella elaborasse as concepções clássicas de trabalho sob uma nova ótica etimológica. Cortella faz menção ao termo francês tripallium, um instrumento de tortura e observa de maneira perspecaz que este é um instrumento de tortura. Somadas as péssimas condições (que envolvem más conduções, o tempo de deslocamento para o trabalho e as relações de poder no mesmo), não fica difícil entender os motivos. 

Neste ponto da nossa reflexão há que se abrir espaço para o filósofo alemão Arthur Shoppenhauer. Para este os homens que possuíam habilidade mais elevadas, mas que por necessidade econômicas não poderiam exercer as mesmas se viam torturados, quando forçados a trabalharem em uma atividade para a qual além de não posssuírem vocação, lhes vedava o exercício da mesma. 

A superação proposta por Cortella é que os homens, ao invés de verem no trabalho um instrumento de tortura vejam no mesmo uma oportunidade para mostrarem ao mundo a sua obra. O termo aqui empregado pelo filósofo é poiésis, de onde vem a palavra poesia. No Novo Testamento aparece soba forma do verbo fazer cujo equivalente em grego é ποιειω [poieoo]. 

Fazer, ou  ποιειν [poiein] equivale a produzir. A ideia remete à produção de uma árvore. A solução é boa e digna, mas há que se resgatar seriamente o conceito protestante de vocação. Macieiras produzem maçãs, bananeiras, bananas, laranjeiras, laranjas e assim por diante. Os homens são diferentes, tal como as árvores. Aqui há que se lembrar do hit cada um no seu quadrado

RELACIONAMENTOS EM AMBIENTE DE TRABALHO

Os relacionamentos no ambiente de Trabalho são complicados em razão da visão que se tem de trabalho? Sim, mas também o são em razão do acúmulo de desejos, paixões, frustrações e demandas. Não há como se deixar os problemas de casa em casa e deixar os do trabalho no trabalho. Somos uma pessoa inteira tanto em casa quanto no trabalho.

Daí que o autor acertadamente aponta a adoção dos valores cristãos como chave para a construção de relacionamentos saudáveis no ambiente de trabalho. Afinal, convém ressaltar a fala de Tiago, para quem os conflitos nos relacionamentos tem a sua origem nos desejos de nossa carne. Exatamente por este motivo ressaltei no tópico acima a necessidade de uma reflexão do trabalho como meio de satisfação dos desejos.
De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites (Tg 4. 1 - 3 ACF). 
Embora a psicanálise veja a cobiça e a inveja como fatores de criação, convém ressaltar que dentro da cosmovisão bíblica esta pode ser uma força paralisante. Também vi eu que todo o trabalho, e toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo. Também isto é vaidade e aflição de espírito (Ec 4. 4 ACF). Invejar o outro é vaidade e aflição de espírito. O que importa é que cada faça aquilo que lhe vem às mãos para fazer, e o faça de acordo com as suas forças (Ec 9. 10).

Que os mesmos valores que permeiam a vida cristã familiar sejam os norteadores na vida profissional como um todo. Hoje estas idéias estão cada vez mais comuns, por meio do conceito de liderança servidora. Este tem vindo à tona através do livro O Monge e o Executivo de James Hunther. Este é o momento em que se faz necessário voltar aos princípios bíblicos.
E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens (Cl 3. 23 ACF). Este texto está no contexto do ambiente e da vivência familiar (Cl 3. 18 - 22). Daí que se em razão da convivência as pessoas do trabalho não se vêem como uma família, há algo de errado nas relações pessoais. 

E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, é precedido por outro texto de vital importância: E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai (Cl 3. 17 ACF). Ambos podem ser articulados com o dito paulino: Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas (Fp 2. 14 ACF). 

Marcelo Medeiros

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