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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A vitória do Medo



As últimas eleições foram o que de mais vergonhoso vi em toda a minha vida. O grande vitorioso foi o medo. Não digo isto em razão da vitória apertada da atual presidente Dilma, mas pelo fato de que vencendo um, ou outro, ganharia o receio. Se Aécio vencesse, o triunfo seria do temor de que o Brasil se tornasse uma ditadura, do cerceamento da liberdade de expressão, e o mais fundado de todos os temores, o da consecução de um projeto partidário de poder. Todos estes temores foram vencidos não pela coragem de mudar (que também foi derrotada pelo temor), mas pelo receio da volta de um fantasma, o do PSDB. 

A despeito do fantástico trabalho feito por Fernando Henrique Cardoso (no tocante à estabilização da moeda), a imagem dos tucanos ficou excessivamente desgastada com as privatizações arbitrárias, diga-se de passagem, e algumas como no caso da vale do Rio Doce, inexplicáveis. Isto somado à política de arroxo salarial, marginalização do funcionalismo público, cortes verticais de gastos públicos (onde quem paga as contas é sempre quem está em baixo), e a imagem nada boa que o candidato tucano deixou em seu último governo no estado de Minas Gerais, reforçaram o medo. Estes sim, são os fatores que conduziram nossa presidenta á reeleição. 

Estou penalizado com as lideranças evangélicas, algumas que aprendi a ver com extrema admiração, mas que infelizmente não conseguiram captar isto. Ficam associado valores cristãos à figura do Aécio, como se este não fosse capaz de aprovar as leis que tanto temor causam aos conservadores. Outros, associam os programas sociais (um mérito indiscutível dos governos do PT), à fé cristã, como se a graça comum, (real causa dos governantes deempenharem sua função como ministros de Deus para a condenação das más obras e louvor das boas), não fosse passível de ser derramada sobre os tucanos. 

A eleição veio confirmar algo interessante, permanece a tendência das pessoas se absterem do segundo turno. Seria isto uma prova de que o povo brasileiro está fortalecendo cada vez mais as suas convicções políticas? Se for este o caso ao menos nesta parcela o medo está sendo vencido. Para todos os efeitos entendo cada vez mais a fala de Cristóvão Buarque quando em artigo para o Jornal O Globo desejou um feliz 2015 aos leitores da coluna [aqui].

Marcelo Medeiros

Deus é gay? Claro que não!



Fui surpreendido pela postagem de um amigo em uma rede social que me interpelava a respeito da colocação de Frei Beto a respeito do comportamento de Jesus diante da condição homossexual. Para mim, este é uma questão bem simples, uma vez que não existem registros canônicos a respeito da relação do mestre, ou mesmo dos apóstolos com tais grupos. Mas Frei Beto faz incursões ousadas, e parcialmente acertadas a respeito da misericórdia de Deus para com os pecadores, o problema ao meu ver é com a conclusão que o mesmo tira,chegando ao ponto de propor uma leitura do Evangelho pela ótica gay.

Mesmo reconhecendo a minha insignificância epistemológica face a intelectualidade de Frei Beto, confesso que não pude resistir à tentação de fazer algumas provocações. Se o Evangelho, conforme propõe nosso ícone é produto de uma variante de leituras, sendo a de Marcos aramaica, a de Mateus judaica, a de João gnóstica, e a de Lucas grega, como explicar que de uma variante de leituras surja um Jesus receptivo para com os gentios, compassivo para com os pecadores, e plenamente capaz de transitar entre todas as classes sociais, incluindo fariseus e publicanos?

Desde já pretendo deixar claro que não ignoro que os evangelistas organizaram o seu material a partir de fontes diferentes, e destinavam suas publicações a públicos distintos, mas o Jesus refletido nestas produções é o mesmo. Para se comprovar basta ver a famosa crítica que ele fez aos fariseus quando estes o censuraram por comer com publicanos e prostitutas. Nos três evangelhos sinóticos este incidente aparece ligado ao perdão dos pecados e à cura do paralítico, à purificação de um leproso (elemento excluído d convívio social na sociedade judaica, mas que Jesus não exitou em tocar para que este fosse curado), a questão que os fariseus suscitam sobre as relações de Jesus, e a resposta do mesmo. 

Em todos os Evangelhos vemos a seguinte resposta de Cristo: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu nào vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento (Mt 9. 12, 13 ACF). Ou, os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento (Mc 2. 17 ACF). O que os evangelistas fizeram nada tinha a ver com a produção de um evangelho pessoal, eles apenas organizaram os resultados de forma a gerar uma leitura que atingisse o público. É assim que ao fazer o relato do fato para o público judeu, Mateus empregue uma citação dos profeta e Marcos, que escreve para os romanos omita. 

Uma segunda provocação está na analogia que Cristo faz de si mesmo com os médicos, e do seu público com doentes. Os pecadores são doentes e precisam de médico. Algo que o homem moderno em geral e consequentemente os gays recusam admitir. A questão que talvez o inclusivistas não percebam é o Cristo que acolhe os pecadores manda os mesmos abandonarem seus respectivos pecados. Sim, o Jesus que não condenou a prostituta, ou adúltera, foi o mesmo que disse à ela: vai e não peques mais (Jo 8. 11). E agora José, como fica?

Marcelo Medeiros. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

I Tm 2. 1 - 8 e sua aplicação atual



Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.
Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo.
Para isso fui designado pregador e apóstolo mestre da verdadeira fé aos gentios. Digo-lhes a verdade, não minto. Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões (I Tm 2. 1 - 8 NVI). 
Creio que a ordem paulina de orar pelos que estão em eminência, alcança neste momento crucial da nação brasileira sua maior relevância. Vou explicar. O Brasil está há exatos quatro dias de um pleito eleitoral que decidirá se o PT vai prosseguir com seu projeto de consolidação no poder, ou se teremos alternância no mesmo, e só. Se você sonha com mudança a escolha é a seguinte: ore, e muito, ou então desista. Exagero meu?! Creio que não.

A verdade nua e crua é que quem votar em Aécio, na verdade votará contra o projeto de perpetuação de poder do PT. E quem votar em Dilma, supostamente estará votando na continuidade dos programas sociais, e cosequentemente confirmando sua aversão à política dos tucanos (privatizações, arrocho salarial, e coisas do tipo). Ambas escolhas são demasiadamente difíceis, visto que nenhum dos dois é o nome ideal. Prefiro Marina com seus erros e acertos e Cristóvão Buarque a qualquer um dos dois.

Da minha perspectiva nenhum dos candidatos que disputam o segundo turno das eleições representam o anseio popular de mudança, ou a aspiração cristã de uma sociedade pautada na vida e na piedade. Tanto um quanto o outro podem ser enquadrados na antropologia bíblica que afirma o vazio existencial humano e o pecado (tendência ao mal e à corrupção), como parte integrante da essência humana.

Se o governo do PT foi marcado pela corrupção, é besteira votar no candidato do PSDB, achando que de em um passe de mágica ela irá desaparecer do cenário nacional. Sim, mas é assim que os militantes de Aécio parecem estar vendo. Com isto, os mesmos se esquecem das privatizações à preço de banana, e do mensalão do PSDB, que foi varrido para debaixo do tapete. 


Todavia os últimos debates demonstraram que a população não está preparada para uma nova política, pautada na discussão dos reais problemas de nossa nação. Esta sim, caro leitor, é a essência da democracia. Era isto que há mais de dois mil anos era feito pelos cidadãos atenienses. Eles se reuniam em assembleias com o fim de deliberar a respeito dos problemas da pólis e por meio da discussão propor soluções para mesma. 


A solução? Creio que está na graça comum, da qual tanto falo aqui e na posição do cidadão crente como sal e luz da terra. A graça comum é tratada na Teologia como sendo o meio pelo qual Deus freia a maldade humana, por meio do Estado (que é um ministro de Deus para a condenação das más obras e louvor das boas obras [aqui]), e das leis, que visam frear a pecaminosidade. Creio que somente a graça comum irá ajudar que o candidato eleito supere as mazelas partidárias em prol do bem comum, que a nação deixe a prática salvacionista e se posicione no sentido de cobrar o cumprimento das promessas de campanha. 

Outra questão, crentes precisam orar mesmo e muito para que a cultura política brasileira mude e agir como sal, superando os dilemas de esquerda e direita, uma vez que uma sociedade cristã, ou influenciada pela fé cristã e pelo evangelho, traz elementos de ambos os lados. O exercício cristão da cidadania prima pela equidade social, e também pela liberdade de expressão, por exemplo, algo que não se vê no quadro atual. Daí a necessidade de ser sal e influenciar de fato. 

Forte Abraço em Cristo, Marcelo Medeiros. 

Desastre à vista



Falei na semana passada a respeito da dura missão que cristãos de matriz católica, evangélica e protestante teriam ao tratar da questão homossexual, visto que teriam diante de si um paradoxo, a conciliação entre a doutrina, que afirma ser pecaminosa a condição humana em geral, o que inclui a homossexualidade. A única exceção seria excluir os homossexuais do gênero humano, mas sabemos que são humanos,  e, justamente por este motivo pecadores (aqui). 

Me permita explicar. O ponto mais duro da pregação cristã é a doutrina do pecado. Ela tem sofrido os mais cruéis ataques. Alguns alegam que sua ênfase produz, ou exacerba a culpa, provocando comportamento depressivo (como se o mecanismo da culpa estivesse atrelado exclusivamente à religião). O resultado mais funesto é que Igrejas cuja preocupação primordial é o bem estar do público que a frequenta, elas removeram definitivamente a pregação e junto com esta, a exposição do que é pecado. 

Em contrapartida os proponentes da causa homossexual foram bem eficazes em associar o discurso religioso com a depressão, mal estar e crimes (eu não quero com isto dizer que tenham sido honestos, ou verdadeiros, mas que aos poucos tem alcançado o seu objetivo em naturalizar o comportamento entre os jovens). Resultado, é mais fácil ser criminalizado por homofobia, ainda que a mesma não seja tipificada como crime, do que por racismo. 

Quando escrevi a respeito da reunião que ocorreu no vaticano, percebi uma euforia por parte imprensa e a preocupação (por parte da cúria romana) com um olhar mais misericordioso para com estes. O problema conforme dito acima é a rejeição, por parte dos mesmos, de sua condição pecadora. 

A bomba no mundo gospel veio por conta das declarações do Pr Brian Houston, que disse que as uniões entre iguais estão sendo discutidas no concílio. Para quem não o conhece, o ministro supra é líder de uma Igreja que tem figurado como ícone na música de expressão contemplativa (usualmente chamada de louvor e adoração. O assim chamado ministério, tornou-se conhecido por meio de uma das suas mais proeminentes figuras Darlene Zschech, autora de maravilhosos hits que embalaram os momentos iniciais de reuniões evangélicas, que segundo fontes deixou a igreja hillsong em 2010, e passou a integrar o ministério Unlimited (aqui). 

O problema é que lendo a matéria (aqui) percebi, que a grande preocupação do ministério é com a quantidade de jovens que lotam, ou enchem as suas reuniões, o que ao meu ver turva a percepção dos líderes a respeito do assunto. Um outro ponto de similar relevância é que mesmos os defensores da causa reconhecem a pouca relevância teológica da igreja em apreço, e veem como único ponto positivo de sua decisão, a influência que os mesmos tem junto aos milhares de jovens que são atraídos pelas canções. 

Ainda não tem nada decidido, mas começo a ver aqui a fragilidade filosófica e teológica do movimento neo pentecostal e das estratégias de marketing que o mesmo tem lançado mãos para atrair multidões. Se a finalidade é lotar as reuniões e os templos a decisão desta entidade tem de se dar em favor da cultura mesmo, jamais pelo impopular evangelho bíblico, e aqui vejo a primeira derrocada de um dos ramos do evagelicalismo. Minha pergunta é: aonde vamos parar?

Marcelo Medeiros

Rm 13. 1 - 7 e suas implicações políticas (O crente e a Política)



Recentemente me envolvi em uma controvérsia em meu trabalho. Ao interpelar um irmão a respeito da conduta dele, o mesmo saiu com a evasiva de que sua obrigação era a de cumprir as ordens das autoridades, e que pela Bíblia ele era sujeito às mesmas, e assim sendo não se via obrigado a ser agradável a mais ninguém. 

Fiz o hercúleo esforço de lidar com a ignorância (ou má vontade mesmo), do próprio e explicar o básico, ou seja, 

  1. O princípio da obediência á autoridade não é cego, do contrário, Daniel poderia se sentir livre para comer as iguarias do rei (afinal, era uma ordem de uma autoridade constituída). 
  2. Todavia, sendo boa, ou má, fiel, ou ímpia, a legitimidade de uma potestade consiste em desempenhar como ministro de Deus o seu papel de louvor das boas obras e condenação das más. 
  3. É o papel de juízo de Deus sobre as obras dos homens que a autoridade encontra a sua devida legitimidade. 
  4. Somente o exercício do papel de ministro de Deus e de vingador das más obras que legitima a submissão dos crentes às mesmas. 
  5. A autoridade da qual o texto fala aqui não é a eclesiástica, uma vez que o termo εξουσια (exousia) nunca é empregado para o ministério eclesiástico. 
Neste tempo de eleições gostaria de trabalhar em breves linhas este texto a fim de trazer maiores esclarecimentos aos leitores deste blog a respeito de tão precioso texto e das implicações políticas do mesmo. 

A Palavra de Deus recomenda a obediência à autoridade, visto que a εξουσια (exousia) procede de Deus. Com isto Paulo quer dizer que todo poder emana de Deus, e isto é fato. A leitura da Bíblia revela homens com José, por exemplo, saindo da condição de escravo e prisioneiro para poderem trabalhar em prol da preservação do povo de Deus. Ao proporcionalmente inverso se dá com a ascensão de Nabucodonozor, como instrumento de juízo para Jerusalém apóstata (Jr 25. 25), e com Ciro sendo chamado para libertar o povo do cativeiro (Is 45. 1 - 7). 

Assim, é preciso bom senso no que tange à obediência à autoridade, visto que o próprio Daniel e seus amigos desobedeceram as ordens de Nabucodonozor quanto à dieta, e, no caso dos três jovesn, a adoração à estátua que este soberano construiu. Mais tarde Daniel se envolve em outra controvérsia por causa do edito promulgado no período de Dario, o medo. 


O livro de Habacuque é bem claro em afirmar que Deus levantou os caldeus como instrumento de juízo para o povo hebreu (Hc 1. 5 - 10). Todavia, não isentou os mesmos das consequências oriundas do abuso (Hc 1. 11ss; 2. 15 - 19). O mesmo pode-se concluir das palavras do profeta Isaías a respeito da Assíria, 
Ai da Assíria, a vara da minha ira, porque a minha indignação é como bordão nas suas mãos.Enviá-la-ei contra uma nação hipócrita, e contra o povo do meu furor lhe darei ordem, para que lhe roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos pés, como a lama das ruas.
Ainda que ele não cuide assim, nem o seu coração assim o imagine; antes no seu coração intenta destruir e desarraigar não poucas nações. Porque diz: Não são meus príncipes todos eles reis? Não é Calno como Carquemis? Não é Hamate como Arpade? E Samaria como Damasco? Como a minha mão alcançou os reinos dos ídolos, cujas imagens esculpidas eram melhores do que as de Jerusalém e do que as de Samaria,
Porventura como fiz a Samaria e aos seus ídolos, não o faria igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos? 
Por isso acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então castigarei o fruto da arrogante grandeza do coração do rei da Assíria e a pompa da altivez dos seus olhos (Is 10. 5 - 12 ACF). 
Na mesma proporção percebida nesta nação ímpia, grande erro das supostas autoridades do tempo moderno consiste em acreditar que podem fazer o que quiserem sem que sejam questionadas. Tal como ocorreu com a Assíria, se dará com estes. 

É afirmado três vezes que a autoridade, é διακονος (diakonos), um serviçal de Deus no tocante ao exercício da vingança, visto que é chamado de vingador (εκδικος [edikós]). Daí que a autoridade tenha sempre em mente que o poder que lhe foi concedido por Deus jamais pode ser empregado de forma abusiva, do contrário, os princípios do texto supra serão duramente aplicados. 

É exclusivamente neste sentido que se pode afirmar que o crente que se opõe à autoridade resite à ordenação de Deus. Opor-se a Nabucodonozor, era opor-se a Deus, visto que Deus havia submetido até os animais do campo à autoridade deste (Jr 27. 6), mas a submissão não incluía a traição aos preceitos da aliança, o que indica que mesmo a autoridade legítima quando ultrapassa os limites do bom  senso e da justiça, precisa ser resistida. 

Atualmente crentes, pastores tem exercido ativamente sua cidadania, empregando todos os recursos ao seu alcance para produzir reflexão. Críticas tem sido feitas à governos totalitários e corruptos, bem como a forma do brasileiro exercer a cidadania. Mas ainda há um longo percurso a ser feito, a fim de que o evangélicos se posicionem como sal e luz do mundo e exerçam sua influência nesta sociedade. Espero que a presente reflexão de alguma forma contribua. 

Marcelo Medeiros

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O Evangelho (Grupo Logos).



Desde criança sou apreciador de música, tanto que me profissionalizei como músico. Algo que aprendi a admirar na música evangélica eram aqueles discos de bandas, grupos e conjuntos que quando via a letra na contra capa vinham com as respectivas fundamentações bíblicas. O Grupo Logos, foi um destes movimentos musicais com papel determinante em minha formação como crente em Cristo Jesus. 

Neste post eu gostaria de compartilhar a letra de uma canção de um dos maiores CD's deste grupo: O Evangelho, e junto com a mesma algumas impressões que tenho tido da leitura de Paul Washer. A letra da canção diz: 
Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser ...

Mas o verdadeiro evangelho exalta a Deus
Ele é tão claro como a água que eu bebi
E não se negocia sua essência e poder
Se camuflado a excelência perderá!

Refrão
O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.

O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só ...
A menos que, Jesus que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.

Mostra ainda a justiça de um Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu

É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará.

Refrão
O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.

Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.
Uma observação inicial é que a mudança no Evangelho não é somente uma mudança de centro, o homem no lugar de Deus, por exemplo, mas também na amalgamação do Evangelho com a cultura humana, tornando a mensagem do messo inviável. No lugar do apelo apostólico ao arrependimento é cada vez mais comum estratégias de marketing e entretenimento. 

O grande problema é que um Evangelho superficial produz crentes superficiais. Somente quando o homem se vê diante de sua real condição espiritual é que se pode falar em reais possibilidades de mudanças, do contrário, jamais. E é isto que a Bíblia mostra nos sucessivos relatos de encontros entre os homens e Deus nas Escrituras. 

Algo lindo do Evangelho é que ele esmaga o orgulho humano, mas ao mesmo tempo produz a verdadeira libertação da qual o homem tanto precisa. Ao desobrigar o homem de toda religiosidade baseada em desempenho, a boa nova aponta para a liberdade sob o reinado e senhorio de Cristo, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. 

Estes são apenas alguns dos conteúdos do Evangelho que precisam ser recuperados pela Igreja da atualidade: A depravação do homem, a necessidade de arrependimento, a sujeição ao senhorio de Cristo. Todavia, é necessário o entendimento de que vinhos novos não cabem em odres velhos, daí a revisão para com o que se tem pregado e oferecido como Evangelho, mas na verdade não é. 

Forte Abraço, em Cristo, Marcelo Medeiros. 

Firmando posição



Recentemente escrevi um artigo a respeito de algumas inovações litúrgicas que retiram a Palavra de Deus do centro do culto e consequentemente da vida dos cristãos. E como é de práxis, recebi um longo post, supostamente baseado em Mt 7. 1 - 4 como resposta, como se Jesus estivesse interessado na falta de discernimento, por parte do povo de Deus na atualidade (aqui, aqui e aqui).

Critiquei e permaneço um crítico das ações inovadoras, tais como substituir a pregação por apresentação de peças, por shows, lutas, apresentações de misturas de artes marciais, porque não as vejo como práticas bíblicas e a Igreja que as adota, implicitamente está deixando de confiar no poder da Palavra de Deus no tocante a atração de pecadores.

Não creio em metodologias de crescimento que constituem um convite à irreflexão, que buscam amalgamar pregação, e marketing, que relegam a conversão a um segundo plano. Estas na verdade são uma forma de transformar o templo, dedicado aos cultos em casas de espetáculo. Creio menos ainda em discipulados feitos por pessoas que nada sabem do Evangelho (perceba que não falo de Teologia, mas de Evangelho, o conteúdo básico do discipulado). 

Não, não, não, e não! Não creio que pessoas que não gastam o seu tempo em leitura da Bíblia e em oração possam ser ganhadoras de almas e por uma razão bem simples: o estilo de vida das mesmas demonstra total ausência de paixão pelo Evangelho. Paixão aqui é a palavra que encontro para o fogo que o mundo precisa ver nos Evangélicos. 

Daí que na falta deste fascínio pelo Evangelho de Cristo e pela piedade proporcionada pela oração, muitos líderes ao invés de lembrarem de onde caíram (se é que alguma vez tenham estado de pé), escolhem um tipo de Evangelho em que a Igreja se parece ao máximo com o mundo (algo do tipo somos crentes e fazemos as mesmas coisas que vocês, até o nosso local de culto é parecido com espaço de lazer de vocês). E confesso minha admiração pela criatividade com que se apegam ao texto de Atos 2, que diz que a Igreja contava com a simpatia do povo. 

O que estes se esquecem é que a mesma Igreja que contava com a simpatia do povo, era uma Igreja ortodoxa, visto que perseverava na doutrina dos apóstolos (At 2. 42), na comunhão (que não se esvaziava no dizer estou contigo, mas se expressava em partilha de bens), no partir do pão e nas orações. Nesta mesma comunidade dos candidatos ao batismo ouviam a seguinte recomendação apostólica: salvai-vos desta geração perversa

Já fui um admirador de obreiros que com criatividade propunham fórmulas de crescimento para a Igreja, mas confesso que na medida em que percebi que tais inovações vem acompanhadas de um pacote de heresias e de negações às mais fundamentais doutrinas bíblicas peguei aversão pelas mesmas. 

Este é o mesmo repúdio que sinto por cada conferência, palestra e programa novo que criam, que inventam. Tais empreendimentos apenas servem para mostrar que o meio evangélico tem se tornado um fértil mercado e que "crescimento" tem sido a palavra da moda. Daí que líderes e mais líderes optem pela participação nestes conferências ao invés de optarem pela oração e pela leitura diária da Palavra. 

Permaneço fazendo deste um espaço de discernimento por acreditar que o fato de ser pecador (I Jo 1. 8 - 10), não deve embotar o meu intelecto e muito menos me privar do julgamento de tudo quanto é forma de erro e de mentira. Aliás, a carte de João foi escrita visando justamente isto, proporcionar aos crentes discernimento entre a  verdade e o erro (I Jo 4. 1), quem fala como o mundo e é ouvido pelo mundo é quem é do mundo (I Jo 4. 5). 

Um forte abraço cristão evangélico a todos, Marcelo Medeiros. 

Professores dando Aula em Ritmo de Funk



Uma das coisas que mais abomino na vida é o seguinte discurso: os salários dos profissionais de educação precisam ser melhorados para que os melhores homens se sintam atraídos pelo exercício da profissão docente. Não é que os professores não mereçam ganhar mais, de forma alguma! É que ao meu ver este discurso traz implícita a noção de que o magistério não é exercido pelos melhores. Algo do que duvido. No programa de pós graduação latu sensu pode perceber que isto está bem longe da verdade. Sim, as melhores exposições monográficas que vi ali eram justamente as dos que de alguma forma eram ligados à docência. 

Alguns dos trabalhos de conclusão de curso que presenciei eram ensaios acadêmicos que visavam refletir, criticar e superar a prática docente nos ambientes nos quais os profissionais exerciam suas respectivas práticas. Enfim, tem professor fazendo de tudo e algo mais para que os alunos aprendam, desde ensinar cantando pagode e samba, mesmo que desafinado (não estou falando da música de Tom Jobim), e até introduzindo funk na aula. 

O vídeo que está bombando nas redes sociais é o de um professor de química que ensina a matéria por meio do funk(aqui e aqui). Antes de falar da prática do mesmo, uma palavrinha sobre o funk. De-tes-to. O funk é um parasita que se alimenta do discurso do politicamente correto e da inclusão e sem que se perceba se torna hegemonia. Sim tudo o que ouço está ligado a funk, carnaval, festa junina, festa de aniversário, festa de criança, tudo é funk. 

Uma das grandes sacadas da Pedagogia Escola Nova (ou Pedagogia Escolanovista, ou escolanovismo, como o leitor quiser) é a percepção de que o aluno tem de ser o maior interessado, e que sem o interesse por parte do mesmo, não ocorre real aprendizado. Uma ideia que ocorreu a Leibniz mas que por não ter a menor intenção de acontecer passou batida. Em sua crítica ao empirismo inglês ele deixou escapar que ainda que o conhecimento se aprenda por meio da experiência, contudo a inclinação a determinado tipo de conhecimento é inata. Resultado um insigth maravilhoso como este ficou encoberto pela nuvem do inatismo. 

Em sua crítica à filosofia de Tales de Mileto Nietzsche traz esta verdade à tona. Para este filósofo a palavra sábio vem de sabor, saborear, indicando antes de tudo o gosto pelo conhecimento. Sim, sapiência tem a ver com sabor, paladar. Esta idéias me ocorreram enquanto assitia este vídeo, daí o fato de ver a metodologia com cautela. Sim, retornando a Nietzsche, ele diz que a proposição de Tales, revela gosto pelo conhecimento, o que me leva a indagação a respeito dos fatores que constituem o gosto. 

Retornando ao vídeo, tenho de observar que a aula, se é que possa ser chamada assim, é divertidíssima, com certeza. Mas em um primeiro momento me senti tentado a falar a respeito da eficácia da metodologia de aprendizagem e agora abandono tal iniciativa simplesmente por perceber que para que tal ocorra, é necessário que educandos tenham aquela faculdade que os permita apreciar a beleza de uma teoria científica (isto é o que, ao me apropriar de Leibniz, Nietzsche e companhia, chamo de gosto, o paladar, a percepção do sabor). 

Mas como se dá a construção deste paladar epistemológico, se dá mediante a convivência entre educadores e educandos, e a percepção que estes tem a respeito daqueles. Creio que o segredo do fascínio que o professor exerce não é o funk, este é um mero intruso em algo maior, que graças a Deus ele não pode destruir, a fascinação que o professor tem pelo conhecimento que pretende ensinar. 

O depoimento de uma das ex alunas do professor, indica que o fascínio tem sido devidamente bem exercido, visto que para Paola Pugian a influência do professor em apreço foi decisiva para escolha de sua graduação, a de química. Minha opinião é por mais fascínio, e menos funk. Uma observação o vídeo que acessei é o de uma aula em um curso preparatório para o vestibular, possivelmente frequentado por quem tem um capital cultural considerável. 



Um abraço, Marcelo Medeiros. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Hoje é Dia do Professor



Professor, palavra cuja definição esta intrinsecamente ligada à arte da docência, do ensino, mas cuja atividade vai além da mesma. Na medida em que se toma a consciência de que a Escola não ocupa mais (se é que alguma vez ocupou!),  o lugar central na distribuição dos saberes, é comum que alguém sugira que a profissão docente é condenada à caducidade. 

A primeira observação a ser feita é que distribuição de saberes é algo que acontece dentro e fora da escola. O pai, a mãe, os vizinhos, as demais crianças, jovens e todos com quem as pessoas livremente se relacionam transmitem saberes. A transmissão de saberes não é e nunca foi a missão precípua dos grandes mestres. Platão, por exemplo, não acreditava nisto. Para Sócrates o mestre era um parteiro do conhecimento. Para Platão alguém que desfazia os efeitos das águas do rio Leté (esquecimento). 

Se é assim, por que então exaltar a profissão docente. Por uma simples razão: o professor antes de ser quem ensina, é quem professa. Sócrates tinha a convicção de que nada sabia, Platão a convicção de que era possível se elevar acima dos sentidos e alcançar o conhecimento, e foi com base nestas convicções que eles desenvolveram suas atividades. 

Cortella, um apaixonado pela educação exalta o exemplo de professores que mesmo esmagados pela ausência de reconhecimento, pela supressão dos direitos mais básicos, insistem nesta atividade em razão de crerem que em algum sentido o que eles fazem contribui para que as pessoas melhorem, e com isto façam do mundo um lugar melhor, e isto, não tem preço. 

O professor, enquanto professante é alguém que vive no paradoxo que explicitar sua principal motivação em prosseguir na tarefa docente baseando a mesma em suas convicções políticas e sociais, bem como lutar por um maior reconhecimento da arte que ele desenvolve, do papel em instilar nas novas gerações a sede por conhecimento, e a plena consciência do papel do docente na formação para a vida e para a cidadania. Afinal ele também entende que tem de deixar um ambiente de trabalho melhor para os professores que virão, e deste modo ele sabe que o show do bom artista tem de continuar. A todos os professores que se identificam com este ideal, Feliz dia dos professores. 

Um abraço, Marcelo Medeiros. 

Marina Silva e seu Apoio à Aécio



Não me sinto bem nem com Aécio, nem com Dilma, ambos me forçam a escolher entre o projeto de poder de um partido e a continuidade da polarização. Acho ridículas as críticas à atual chefe de estado, como se a corrupção tivesse começado com o governo do PT. Tal como entendo ser digno de riso a apresentação da presidente, como sendo a única forma de perpetuação do legado Lula, como se nada de bom tivesse sido realizado na era FHC. Mesmo sendo Marina até o fim, jamais vi na mesma a tábua de salvação para o Brasil, mas tão somente uma nova forma de se fazer política, por sinal rejeitada por um povo que se mostrou não preparado para tal.

Aécio e Dilma representam uma velha polarização que precisa ser superada. Dura missão epistemológica esta, visto que a imprensa prefere reforçar estereótipos, trazendo para a política a lógica do mais puro estilo BBB e A Fazenda. Daí que nos debates prevaleçam as acusações e jamais a discussão em torno das ideias. Vence quem consegue ser melhor na baixaria, que transmite maior imponência (critério, que ao meu ver fez com que Marina perdesse).

Sendo coerente com sua proposta de uma nova política Marina se define por Aécio, algo que de acordo com uma carta da candidata supra [aqui], reflete a superação de um modo de fazer política que difere da segurança das alianças politicamente viciadas (em outras palavras, teria sido muito fácil para Marina se aliar ao PT, ela poderia [note que eu disse poderia] se sentir em casa). Mas a candidata preferiu outro rumo.

A escolha da mesma por Aécio representa uma decisão alternância de poder. A eleição de Lula é um exemplo citado pela autora. Mesmo diante do indiscutível sucesso de Fernando Henrique Cardoso no que tange á consecução de seu plano de estabilidade econômica, a população entendeu claramente que aquele era o momento de colocar um outro partido à frente do poder. Diante do ocorrido, Lula deu prosseguimento ao plano econômico de FHC, usando do legado do mesmo para colocar em prática seus projetos sociais e de distribuição de renda. 

A despeito do discurso adotado pelo PT, segundo Marina, não há porque pensar que Aécio não vá levar em frente os legados do governo anterior. Outros pontos poderiam ser destacados dentre os quais as propostas, mas paro por aqui visto que o que move as pessoas neste pleito eleitoral é o debate em torno da corrupção do PT, do prosseguimento dos projetos sociais, bem como das conquistas na área social. Independente de quem entrar, resta à Igreja o firme dever de orar para que a nação e os cristãos em si tenham paz e possam viver a vida de conformidade com a piedade. 

Marcelo Medeiros

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Vaticano se Reúne Para tratar Questão Homossexual



Confesso que recebi com extrema preocupação a notícia veiculada pela Folha on line a respeito de uma decisão do vaticano com relação a um novo olhar para com a questão da homossexualidade e das uniões homoafetiva [ver aqui]. A matéria coloca que homossexuais tem dons a oferecer à comunidade e imediatamente indaga a possibilidade de que as uniões deste gênero sejam reconhecidas. Mas a leitura do texto traz um pouco mais de tranquilidade, uma vez que ali é a questão é colocada da seguinte forma: A Igreja deveria aceitar o desafio de encontrar um espaço fraternal para os homossexuais sem abdicar da doutrina católica sobre família e matrimônio

Da minha perspectiva, não há problema algum no reconhecimento de que homossexuais tem dons e qualidades a oferecer. Já abordei este tema sob a ótica da graça comum, e que você, caro leitor, poderá conferir neste post. Todavia o grande problema é o paradoxo do olhar mais misericordioso e compassivo, sem a concessão doutrinária. Digo isto, porque sob o discurso da tolerância, o mundo atual tem sido cada vez mais hostil à concepção de pecado, ao exclusivismo cristão e à certeza. Logo, a questão vai para além do debate a respeito da homossexualidade. 

Já expressei aqui a minha opinião com respeito ao assunto. E confesso que mais do que a simples preocupação com a regulamentação da união civil entre iguais, ou a criminalização da homofobia, meu alerta se acende em relação à atual política de consenso, que trava o direito à qualquer opinião contrária. Um exemplo é o caso de Levy Fidelix, cujas palavras nada ofensivas foram interpretadas como homofobia, provocando ação da própria OAB [aqui]. 

No seu Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, o filósofo Luís Felipe Pondé já criticava esta tendência com o nome de praga PC (politicamente correto). O maior sinal desta infecção é o fato de as pessoas falarem de si mesmas como se fossem anjos. Neste ambiente, um grupo que esfregue na cara de todo mundo que não há ninguém que possa se dizer, ou se chamar de bom, não terá outra reação que não a rejeição. O problema, ao que tudo indica, é que em todo o mundo os homossexuais saíram na frente, assegurando para si o direito de serem intocáveis à qualquer forma de crítica. 

Tanto o Vaticano quanto os cristãos protestantes e evangelicalistas possuem um desafio à frente. O tema tem de ser seriamente debatido, e a verdade tem de sobressair e ser afirmada em amor, independente do quanto o mundo atual seja predisposto a não ouvir. O Vaticano (assim creio eu), não é unânime a respeito do problema e a proposta do Papa Francisco vai abrir brechas para que os militantes da causa gay, que lá estão infiltrados possam fazer de tudo e algo mais para  minar o que se pretende preservar, que é a doutrina tradicional a respeito da família. 

Para os protestantes, evangélicos o desafio será o de produzir uma reflexão própria a fim de sair da sombra do catolicismo e, pior, vencer a má vontade do mundo atual no tocante a qualquer possibilidade de diálogo com a doutrina cristã e, principalmente com cristãos, por mais bem intencionados que sejam. Todos os cristãos se veem diante do desafio de produzir uma prática que concilie o amor e a misericórdia com a fidelidade doutrinária. 

Forte Abraço a todos os leitores, Marcelo Medeiros

sábado, 11 de outubro de 2014

Firmeza do caráter moral e espiritual de Daniel



Conforme visto neste estudo, a função do livro de Daniel consiste em ser um estímulo à fidelidade do judeu em um ambiente estranho e hostil à sua fé, e conforme já dito ali, faz uso do estilo literário apocalíptico. No presente post proponho uma síntese da descrição que o livro faz do caráter deste hebreu, bem como dos desafios que ele teve de enfrentar. 

DEFINIÇÕES

O termo firmeza remete ao leitor aos seguintes vocábulos: constância, firmeza, estabilidade, durabilidade, ao que se pode acrescer, resolução, decisão. A primeira verdade que emerge deste processo é a de que Daniel era homem de decisão. A maior decisão que ele propôs em si, foi a de não se contaminar com as iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia. A decisão de Daniel extrapolava a mera dieta da lei. Na verdade a resolução do mesmo era pela aliança, e ele teve de vencer a pressão da ordem do rei, de Aspenaz, dos demais companheiros, da diversidade em que viviam, etc.... .

De acordo com especialistas o vinho era fonte de alegria (e isto é claramente afirmado nos salmos e na sabedoria judaica [Sl 104. 15; Ec 9. 7]), mas havia um problema com o vinho e com as demais manjares, eram oferecidos aos ídolos e continham elementos proibidos pela lei, tais como os alimentos que eram considerados como imundos. 

O caráter, por sua vez, tem a ver com a índole moral do sujeito, abrangendo a herança religiosa do mesmo. A firmeza de Daniel está em fatos tais como o nome que ele recebeu (Beltessazar), sem contudo deixar que sua identidade fosse sequer esvaziada. Mesmo recebendo um nome babilônico, que fazia referência ao deus da Babilônia, Bel. Daniel sabia que era um judeu, e se portou como tal a despeito das pressões que sofreu neste ambiente hostil. 

Além da escolha por não se contaminar com as iguarias do rei Daniel e seus amigos passaram por outra provações, por exemplo:
  1. Tiveram seus nomes mudados. Daniel (דָּנִיֵּ֣אל [Deus e o meu juiz]), teve o seu nome mudado para Beltessazar (בֵּ֣לְטְשַׁאצַּ֗ר [provavelmente o príncipe de Bel]). Contudo nunca o esvaziaram da percepção do juízo divino. 
  2. Ananias (חֲנַנְיָה֙ [dádiva de Deus]), foi chamado de Sadraque (שַׁדְרַ֔ךְ [ou comandante de Aku]). Mas este nunca perdeu a percepção do favor de Deus. 
  3. Misael (מִֽישָׁאֵ֣ל[que é igual a Deus?]), teve o seu nome mudado para Mesaque ( מֵישַׁ֔ךְ [quem é como Aku]). 
  4. Nem a mudança do nome de Azarias (וְלַעֲזַרְיָ֖ה [aquele a quem Deus ajuda]), para o estranho nome Abdenego ( עֲבֵ֥ד נְגֹֽו׃ [servo de Nego, ou Nebo]) fez com ele se esquecesse da ajuda do único e verdadeiro Deus. 
  5. A pressão de atender ao pedido do rei de ter o seu sonho interpretado a fim de não ver os seus amigos e os demais sábios morrerem (Dn 2). Para mais ver aqui.
  6. Viu a difícil situação dos seus companheiros quando foram ameaçados de serem lançados, e sucessivamente lançados na fornalha de fogo ardente, por se recusarem a se prostrar diante da estátua que ele Nabucodonozor tinha feito (Dn 3). 
  7. Teve a experiência de saber que os vasos da casa do Senhor foram profanados em um banquete marcado pela orgia (Dn 5). 
  8. Foi para a cova dos leões por causa da inveja dos rivais no Reino, e por não fazer concessões políticas e religiosas (Dn 6). 

Tais traços fazem de Daniel um exemplo a ser seguido, um daqueles de quem o autor de Hebreus disse: O mundo não era digno deles [....] Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé (Hb 11. 38, 39 NVI). A fé é o segredo da preservação da identidade de Daniel, da manutenção de sua fé mesmo em meio ao juízo, à infidelidade do povo eleito, e tudo mais. O pretendo colocar aqui é que a fé foi o grande diferencial na vida de Daniel, pois em meio a tantas desgraças, ele permitiu a este expoente da fé uma visão distinta da história. 

O LEGADO DA FÉ

Creio que a firmeza do caráter proceda das convicções pessoais. Vejo isto na vida de Jesus que tentado por Satanás não cedeu em sua crença a respeito da fidelidade divina, visto que se agarrou ciosamente à voz que ouviu dos céus no momento do batismo (Mt 3. 17; 4. 3, 4). Vejo também na vida de Paulo, que mesmo estando preso, abandonado, sozinho, traído, ousou dizer: Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia (II Tm 1. 12 NVI). 

O princípio que emerge deste último texto é o de que a firmeza advém das convicções que o homem traz consigo. O exame do contexto de Daniel, bem como a leitura de seu contemporâneo Ezequiel, possibilita a percepção de um dado importante. Na época deste circulava um provérbio no meio do povo: pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram? (Ez 18. 4 ACF). O dito  מֹֽשְׁלִי [mashal], era uma forma indireta de acusar Deus de estar cometendo injustiça. Daniel percebeu a história de uma forma diferente. Veja na confissão que o mesmo faz:
E eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza. E orei ao Senhor meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; Pecamos, e cometemos iniquidades, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos;

E não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas rebeliões que cometeram contra ti (Dn 9. 3 - 7 ACF). 
Perceba que não há uma única linha de acusação, ou ressentimento contra Deus, mas a clara percepção de que mesmo estando em juízo vê Deus como clemente compassivo, misericordioso, fiel, ao mesmo tempo em que percebe o próprio pecado. Tal compreensão é de suma importância no momento das provações. 

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros. 

Daniel, nosso contemporâneo



Em razão da pressa, bem como da necessidade de estar conciliando demandas familiares e acadêmicas, publicarei este estudo da forma mais resumida possível. Um grande problema que vejo com relação ao estudo do livro de Daniel, se dá em relação aos frequentes abusos exegéticos que este livro sofre. Sempre que alguma agitação ocorre no cenário mundial as pessoas tendem a interpretar as visões do livro como sendo referência a algum evento atual. Isto ocorreu em meados de 2001 em decorrência da queda das torres gêmeas do World Trade Center, e está ocorrendo neste exato momento em decorrência da propagação do ebola. Tal fato demanda um estudo sério do livro de Daniel. 

AUTORIA 

Há controvérsias a respeito de quando o livro de Daniel tenha sido escrito. fazer esta definição é de suma importância para a definição da autoria. Os autores críticos, partindo do pressuposto de que qualquer vaticínio a respeito do futuro seja inviável coloca o livro no sec. II a. C. Embora a teoria crítica tenha, do ponto de vista exegético os seus aspectos positivos, discordo quanto a este pressuposto. 

Do ponto de vista Hermenêutico, vejo que os fatos desenvolvidos durante a dinastia dos Selêucidas, e registrados no livro deuterocanônico de Macabeus, são bem mais robustos enquanto explicação para as visões registradas no livro em apreço, particularmente nos capítulos 2, 7, 8, e 11. É justamente aí que me afino com esta exegese. Mas discordo com o pressuposto de quem é inviável a predição do futuro. 

Do ponto de vista humano ele é sim, mas do prisma divino não, uma vez que para Deus não há nada impossível (Lc 1. 37; 18. 27). A profecia bíblica parte de um pressuposto de que Deus conhece o futuro e revela este futuro aos seus. Este pressuposto se encontra no livro em apreço. Daniel afirma a respeito de Deus: Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dele são a sabedoria e a força; E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz (Dn 2. 20 - 22 ACF). 

Em outras palavras a Bíblia é o registro da revelação de Deus ao homem, sendo que este mesmo Deus conhece o futuro e usa os sonhos, ou visões noturnas como instrumento de comunicação de sua vontade, vedando o segredo dos mesmos aos descrentes, e ampliando o conhecimento aos fieis. Com isto fica claro que nem as artes mágicas, nem os encantamentos das nações são o suficiente para desvendar os mistérios do futuro [aqui e aqui]. 

Ao solapar este pressuposto a teoria crítica coloca em xeque a pressuposição revelacional das Escrituras, e mais o faz a partir de um fundamento questionável. É mais do que certo que não é comum ver pessoas fazendo previsões do futuro e acertando de forma inquestionável e infalível, mas isto não quer dizer que seja impossível um Deus que revela o futuro. Na verdade, não está no plano das possibilidades humanas determinar o que é, ou não possível. 

E é justamente por este motivo a minha predileção da autoria de Daniel. Afirmar que o livro seja produto de pseudonímia não seria problema algum caso o ônus desta afirmativa não fosse o solapar dos pressuposto que afirma um Deus agindo na história em favor do seu povo, e revelando esta mesma história aos seus profetas. 

Atribuir a autoria a um autor que usou de pseudonímia, que viveu durante a ocorrência dos fatos registrados em forma de visão solapa também a interpretação crítica de que o livro é um escrito em tempos de perseguição e aflição, uma vez que a consolação aqui proposta se baseia em uma mentira. Sim a posição crítica coloca o livro como mera obra de ficção. Conforme dito supra, tenha razões para não aceitar tal pressuposto. 

O CONTEXTO HISTÓRICO

Do ponto de vista crítico as histórias do livro de Daniel se desenrolam durante a era dos Selêucidas, no período dos Macabeus. Já expus supra o meu problema com o prisma crítico, mas tenho de expor aqui a argumentação dos mesmos. Um dos maiores argumentos dos mesmo em prol de uma data mais próxima são as incoerências históricas. 

Há pouco tempo nada se sabia de Belsazar, e como lidar com a ausência de menção à pessoa de Nabônido, filho de Nabucodonozor. Hoje se sabe que aquele tenha sido o provável rei que passou pelo problema da loucura narrada no capítulo quatro do livro. Hoje se sabe que Nabônido teve um filho por nome Bel-Saar-Usur, cujo nome pode ser transliterado da seguinte forma: que Bel proteja o rei. 

O significado deste nome associado ao registro de que em uma festa este rei levou os vasos da casa do Senhor para que fossem profanados dá um novo sentido ao livro, e um colorido à narrativa. A festa se torna um palco para o duelo entre Bel e Jeová, sendo este o vitorioso do embate, uma vez que o rei sacrílego é julgado durante o banquete. 

Todavia o problema de Dário ainda se apresenta como insolúvel. Várias hipóteses foram levantadas com a finalidade de solucionar a ausência de menção a um rei vassalo da Média no trono da Babilônia. A mais aceita é a de Shea. Esta hipótese foi publicada no Brasil e difundida por meio de um livro da melhoramentos intitulado E a Bíblia Tinha Razão. De acordo com a mesma Dario é ninguém menos do que Gubaru da crônica de Nabônides (que exerceu a co regência com Cambises-Ciro). A suposição ainda que não conclusiva, do contrário não seria suposição, tem sido mantida como explicação viável. 

Os reformado são unânimes em afirmar que não há necessidade de dúvidas quanto as informações prestadas no livro em apreço, e que a história de Daniel se dá em meados de 605 a. C. e segue com o desaparecimento da supremacia babilônica em 539 a. C. 

ESTILO

A narrativa e as visões de Daniel não se parecem em nada com o estilo literário dos profetas. Os profetas falam: Assim diz o Senhor (II Rs 3. 16, 17; 4. 43; 9. 6, 12; I Cr 21. 10; II Cr 34. 23), ou veio a mim a palavra do Senhor dizendo (Jr 1. 4, 11, 13; 2. 1; 13. 8; 16. 1; 18. 5; 24. 4; Ez 11. 14). Daniel, ao contrário do profeta comum, é um visionário, o que o aproxima bastante do estilo dos apocalipsista. 

Há muito a ser dito a respeito deste gênero literário, mas para fins de melhor compreensão preciso manter o meu foco no principal. A principal diferença entre a profecia e a apocalíptica está no uso de profecias antigas como meio de desvendamento do futuro e no emprego de visões e simbolismos para a transmissão da mensagem. O apocalipse é um estilo literário típico de tempos de perseguição. Fato é que mesmo dentro do contexto babilônico as condições de Daniel e de seus amigos nem sempre são descritas como sendo favoráveis (Dn 2; 3). 

Para todos os efeitos a mensagem por meio de visões (Dn 2. 19, 31; 7. 2; 8. 1, 2; 10. 1, 7, 8) e as constantes explicações (Dn 8. 15 - 17; 9. 23, 24; 10. 14, 16) a respeito do teor das mesmas são marcas distintivas do estilo literário conhecido como Apocalipse. Ao que parece o livro emprega חָזֹ֖ון  (hazon) nas seguintes passagens (Dn 1. 17; 8. 1, 2, 13, 17, 26; 9. 21, 24; 10. 16). Nestes o sentido é o de visão mental, sonho, revelação, ou mesmo o de uma figura mental quando alguém está acordado. 

O termo חֶזְוָ֥א (hezev) é usado para expressar um sinal, ou visão. Já מַּרְאָ֔ה (maranh) expressa uma visão tal como a que se tem diante de um metal polido, como no caso do bronze (Dn 10. 7, 8, 16), podendo ser aplicada o sonho de Faraó (Gn 46. 2), ou às visões que Deus dava aos profetas da antiga dispensação (Nm 12. 6). 

A mensagem de Daniel é bem simples: o povo aguarda a restauração do Reino, mas o que virá após o cativeiro não é nada bom, e a visão das setenta semanas deixa isto bem claro. Israel terá que viver sob a dominação estrangeira por um bom tempo, e o Messias em quem depositam suas esperanças será morto, o santuário será invadido e haverá guerra até o fim (Dn 9. 26). Creio que foi com este sentido que Cristo se apropriou das mensagens proféticas descritas no livro em apreço. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Dilema de Marina



Marina Silva apareceu no cenário nacional com um proposta diferente de fazer política, o que agradou muita gente, fato este expresso por meio de sugestiva e expressiva votação. Opondo-se a volta do já manjado PSDB e do já desgastado PT, ela foi angariando adesões à sua proposta. Um problema que ela enfrentou e que seus adversários (destaco aqui Luciana Genro, que ao meu ver teve como único propósito de sua candidatura a divisão de possíveis votos dos opositores de Dilma, garantindo com isto a permanência da mesma), souberam explorar foi o mar de boatos e falsas acusações face ao destino dos programas sociais, de sua posição quanto às minorias, e até sua participação no governo do PT.

Às portas do segundo turno das eleições seus adversários percebem a importância de tê-la como aliada [aqui e aqui], este posicionamento embora necessário representa um dilema para uma candidata que à semelhança do seu eleitorado não encontra no quadro político atual quem o represente.

Apoiar Dilma representaria ir de encontro com um dos pontos mais nevrálgicos que Marina tão bem falou a [perpetuação no poder]. Anuir ao candidato tucano representa assumir um dos polos em uma polarização que precisa ser superada [PT X PSDBB]. Isto para não falar em outros aspectos. Os tucanos constituem sua campanha política sobre o legado de FHC, e os escândalos de corrupção do PT. Petistas fazem sua campanha a partir da herança dos projetos sociais desenvolvidos por Lula, e no medo de que o retorno dos tucanos seja uma interrupção. Tais fatores apontam para o dilema que o brasileiro terá diante de si na última urna. 

De acordo com a matéria, Marina superou o seu dilema. Ela optou ser coerente com a proposta de mudança, com a não perpetuação de um partido no poder, optou por Aécio, que ao que parece será a alternativa de significativa parcela de seus eleitores. Quem sabe uma vitória de Aécio não seja uma boa lição para PT e PSOL?

Marcelo Medeiros. 

Brasil entre a cruz e a espada



Uma matéria do Estadão publicada no facebook [aqui] aponta empate técnico entre Aécio e Dilma, com relativa vantagem numérica do tucano sobre Dilma. Do meu ponto de vista Aécio não é e nem foi alternativa à Dilma, ele seria uma alternância no poder, que inviabilizaria, ou melhor retardaria o processo de cubanização do Brasil, e só. 

As eleições do corrente ano apresentam características bem peculiares. Em meio aos mais variados rumores conspiracionistas, ameaças de retrocesso nos programas sociais, enfim diante da soma de todos os medos o povo brasileiro irá comparecer às urnas no último domingo do corrente mês a fim de decidir entre Dilma e Aécio. 

Aécio soube, e bem, associar a sua imagem à de Fernando Henrique Cardoso, artifício usado no último debate na rede Globo, o que arrancou aplausos dos expectadores presentes. FHC, tem como mérito o fato de haver estabilizado a moeda, o que permitiu que Lula desenvolvesse os programas sociais, que por sua vez viabilizaram o que eu chamaria de pontapé na distribuição de rendas e possíveis correções de mazelas e injustiças sociais. E Dilma? Bem, na ausência de um nome forte do PT, ela pegou carona na herança de FHC e Lula. 

Contudo, não se trata de uma escolha entre a direita e a esquerda, entre o avanço e o retrocesso, entre a volta da inflação e a continuação com os programas sociais, entre o governo dos pobres e o governo dos ricos. Não! A escolha é conforme delineado acima entre a perpetuação do PT no poder, e a interrupção da cadeia de poder. O medo é que ocorra o mesmo que na Venezuela, onde a permanência de Chaves permitiu a emergência de uma ditadura. Algo muito parecido está acontecendo aqui, basta ver o ocorrido com Levi Fidélix [aqui]. 

Forte abraço Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Quem vota em Dilma é ignorante?



Existem mil e uma formas de explicar o voto em Dilma, destas quase todas são ponderáveis, menos o apelo a qualquer forma de preconceito étnico racial. Mas infelizmente a imagem de um dos maiores intelectuais está sendo associada ao preconceito. Sim, FHC, quem diria teve suas palavras distorcidas, pela mídia ao atribuir a força de Dilma nas urnas com a ausência de discernimento por parte do povo (entendida pela imprensa como ignorância). 

Para o ex-presidente não é o fato de serem pobres que faz as pessoas votarem em Dilma, mas a ausência de discernimento. Pronto, foi o suficiente para que o discurso do mesmo fosse associado ao preconceito étnico, particularmente contra o nordestino [aqui]. Tudo por uma colocação que poderia ter sido feita de outra forma. 

Na verdade a força de Dilma está ligada ao medo. Não posso afirmar, por exemplo que pessoas como a professora e filosofa Marilena Chauí, e Leonardo Boff, sejam ignorantes. Mas por alguma razão que ignoro, eles resolveram apoiar um discurso bem similar ao dos simpatizantes do PSDB às vésperas da eleição de Lula. Sim, o medo do retrocesso em programas sociais tem sido o carro chefe da propaganda de Dilma, tal como o medo do retorno da inflação foi no período em que Lula se elegeu, em 2002. 

A questão da grande massa, é o medo da mudança. É algo tipo: precisamos mudar, mas para mudar para pior, deixa como está. Meu único espanto é com a associação de intelectuais do calibre de Boff e Chauí, que em tese não são nada sugestionáveis, e pior, assumem que o Brasil está em um ponto ao qual não pode retroceder [aqui]. 

Minha questão é: se o Lula não retrocedeu em nada no processo iniciado por FHC, por que devo acreditar que qualquer outro candidato que entrar seria um retrocesso? A grande diferença é que faltou aos tucanos um nome que fizesse frente a Lula, e houve alternância no poder, o que não ocorre agora, quando há nomes fortes (ainda que nenhum desfrute de minha simpatia), mas o medo de retroceder não permite a alternância de poder, e aí a democracia corre o sério perigo de ser democracia apenas na forma, e não no conteúdo. 

Creio que a despeito do bolsa família, dos programas cuja eficácia é contestável, a maior herança da perpetuação do PT no poder é o processo de morte de toda e qualquer ideia que seja contrária, e o caso Levy Fidélix [aqui] e Rachel Sheherazard [aqui, aqui, e aqui] foram lições impressionantes. É isto que me faz ver a perpetuação do PT como algo nocivo à democracia. Não vejo Aécio como alternativa viável, mas começo a pensar na alternância, e na ausência da mesma, que Deus nos livre de que isto aqui se torne outra Venezuela. E que intelectuais entendam que a alternância no poder faz parte do processo democrático. 

Marcelo Medeiros

Bolsa Família Uma Filha com Muitos Pais



Cresci ouvindo o ditado popular filho feio não tem pai. Depois de adulto tive a oportunidade de assistir Mamma Mia, um musical que foi adaptado para o cinema, estrela por ninguém menos do que Maryl Streep, que além de representar ainda canta. A história se desenvolve em torno do dilema vivido por Sophie (Amanda Seyfreid) filha de Donna (Streep), que viveu sem conhecer seu pai e gostaria de realizar este desejo no dia do seu matrimônio. A graça é que todos os três possíveis candidatos se sentem felizes com a possibilidade de serem pai de tão adorável jovem. E é justamente aqui que vejo a conexão entre a comédia e a política. 

O que seria uma questão constrangedora, um coroa descobrir que tem uma filha, da qual fora privado de se relacionar por quase, ou mais de duas décadas, é mostrado no filme como algo empolgante. Algo muito parecido acontece com a história do bolsa família. Tucanos e petistas arrogam para si a criação deste programa, que por sua vez é alvo de calorosas discussões. De um lado os contrários ao programa, de outro os favoráveis. 

Quem é contrário ao bolsa família alega que os impostos da classe mais trabalhadora, são revertidos para o sustento de quem não trabalha, de quem à semelhança de um parasita usa dos mais variados artifícios para garantir sua parcela neste programa. Quem é favorável alega que os impostos são coletados com a finalidade de serem usados como recursos para financiar tais programas, e que os mesmos podem servir de fator de distribuição de renda tal como no caso das quotas universitárias. Que ambos os lados me perdoem pela abordagem superficial das respectivas posições, mas preciso tecer as minhas considerações, e na medida do possível ser o mais imparcial. 

E,m primeiro lugar, é mais do que fato que impostos são cobrados a fim de serem revertidos em saúde, educação, segurança e também na correção de mazelas sociais, e é justamente neste ponto que programas como estes ganham espaço. O problema é que o bolsa família se esgota em sua função social como mera medida paliativa, e só. Afirmar que o bolsa família contribui para a distribuição de renda já é demais da conta. Fazer deste programa uma plataforma política, transformar o mesmo em carro chefe para reeleição, faz com que qualquer eleitor com o mínimo de consciência possível desista de votar em tal candidato. 

Como cristão sei que a medida paliativa é mais que necessária, mas sei que há algo errado quando quem precisa e usa hoje, nunca se torna autônomo, ou independente do ponto vista econômico, e é aqui que entram os programas de geração de emprego, e o comprometimento político em fazer cumprir o que diz a constituição no tocante à renda mínima do trabalhador. Ser pai, ou mãe do bolsa família é fácil, difícil é educar esta criança para que ela cumpra o seu real papel. 

Marcelo Medeiros

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Debate Entre Presidenciáveis



Assisti o show de baixaria que foi o último debate entre presidenciáveis antes do processo eletivo do corrente ano. Houve de tudo, menos apresentação de propostas. Mas minha opinião a respeito de tal situação não se esgota aqui. Um primeiro fator a ser considerado é a incrível coincidência na escolha do tema (feita por sorteio garantiu o moço de fala polida), mas que, por exemplo colocou Luciana Genro em aberto confronto com Levy Fidélix em duas ocasiões, pelo menos. 

O confronto entre Eduardo Jorge e Levy Fidélix, foi, ao meu ver uma revanche. O assunto da homofobia foi novamente explorado, e a tentativa de marcar o candidato supra com o estigma da mesma ficou clara. ficou nítido que a emissora que promoveu o último debate investiu na polarização entre Dilma e Aécio. Proposital, ou não, e isto não vem o caso, há que se destacar que a configuração do debate ajudou na criação de um clima favorável ao confronto e desfavorável à apresentação de propostas. 

Outro fator irritante foi a acusação mútua de corrupção, praticamente feita por todos e a todos os candidatos. Foi como se entrada da Luciana Genro, ou do Eduardo Jorge fosse capaz de mudar o quadro. Falo isto porque embora deteste corrupção, reconheço que ela faz parte da constituição humana. Aqui me referendo a Hobbes, para quem o homem é o lobo do homem, e sempre que tiver oportunidade usará de um cargo público, ou do poder em benefício próprio sim. A saída conforme pontuou um dos presidenciáveis é a criação de mecanismos (que seriam totalmente desnecessários, caso a natureza humana não fosse corrupta) que inibam a mesma.

Mas a minha percepção mais pontual é que a emissora foi coerente com sua proposta. Sim! E não torça a cara. Não dá para esperar nada melhor de uma emissora que faz de um reality show como o Big Brother o seu carro chefe das programações. A maioria dos eleitores possuem a lógica do mesmo e julgam os candidatos com o mesmo critério que julgam os confinados, o resultado é um debate ruim, com abundantes ataques pessoais, baixíssima argumentação, e rala exposição de propostas. 

Descreio que tal debate possa melhorar sem que se façam melhorias pontuais na educação. Enquanto a grande massa se ocupar com programas exibidos na TV, cujo conteúdo é aparentemente afirmativo, e isto tiver maior peso do que a educação formal, no processo educativo, vai ser assim mesmo, e os candidatos sabem disto quando vão lá para debater, e jogam ao gosto do freguês. 

Forte Abraço, Marcelo Medeiros. 
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