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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Rm 13. 1 - 7 e suas implicações políticas (O crente e a Política)



Recentemente me envolvi em uma controvérsia em meu trabalho. Ao interpelar um irmão a respeito da conduta dele, o mesmo saiu com a evasiva de que sua obrigação era a de cumprir as ordens das autoridades, e que pela Bíblia ele era sujeito às mesmas, e assim sendo não se via obrigado a ser agradável a mais ninguém. 

Fiz o hercúleo esforço de lidar com a ignorância (ou má vontade mesmo), do próprio e explicar o básico, ou seja, 

  1. O princípio da obediência á autoridade não é cego, do contrário, Daniel poderia se sentir livre para comer as iguarias do rei (afinal, era uma ordem de uma autoridade constituída). 
  2. Todavia, sendo boa, ou má, fiel, ou ímpia, a legitimidade de uma potestade consiste em desempenhar como ministro de Deus o seu papel de louvor das boas obras e condenação das más. 
  3. É o papel de juízo de Deus sobre as obras dos homens que a autoridade encontra a sua devida legitimidade. 
  4. Somente o exercício do papel de ministro de Deus e de vingador das más obras que legitima a submissão dos crentes às mesmas. 
  5. A autoridade da qual o texto fala aqui não é a eclesiástica, uma vez que o termo εξουσια (exousia) nunca é empregado para o ministério eclesiástico. 
Neste tempo de eleições gostaria de trabalhar em breves linhas este texto a fim de trazer maiores esclarecimentos aos leitores deste blog a respeito de tão precioso texto e das implicações políticas do mesmo. 

A Palavra de Deus recomenda a obediência à autoridade, visto que a εξουσια (exousia) procede de Deus. Com isto Paulo quer dizer que todo poder emana de Deus, e isto é fato. A leitura da Bíblia revela homens com José, por exemplo, saindo da condição de escravo e prisioneiro para poderem trabalhar em prol da preservação do povo de Deus. Ao proporcionalmente inverso se dá com a ascensão de Nabucodonozor, como instrumento de juízo para Jerusalém apóstata (Jr 25. 25), e com Ciro sendo chamado para libertar o povo do cativeiro (Is 45. 1 - 7). 

Assim, é preciso bom senso no que tange à obediência à autoridade, visto que o próprio Daniel e seus amigos desobedeceram as ordens de Nabucodonozor quanto à dieta, e, no caso dos três jovesn, a adoração à estátua que este soberano construiu. Mais tarde Daniel se envolve em outra controvérsia por causa do edito promulgado no período de Dario, o medo. 


O livro de Habacuque é bem claro em afirmar que Deus levantou os caldeus como instrumento de juízo para o povo hebreu (Hc 1. 5 - 10). Todavia, não isentou os mesmos das consequências oriundas do abuso (Hc 1. 11ss; 2. 15 - 19). O mesmo pode-se concluir das palavras do profeta Isaías a respeito da Assíria, 
Ai da Assíria, a vara da minha ira, porque a minha indignação é como bordão nas suas mãos.Enviá-la-ei contra uma nação hipócrita, e contra o povo do meu furor lhe darei ordem, para que lhe roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos pés, como a lama das ruas.
Ainda que ele não cuide assim, nem o seu coração assim o imagine; antes no seu coração intenta destruir e desarraigar não poucas nações. Porque diz: Não são meus príncipes todos eles reis? Não é Calno como Carquemis? Não é Hamate como Arpade? E Samaria como Damasco? Como a minha mão alcançou os reinos dos ídolos, cujas imagens esculpidas eram melhores do que as de Jerusalém e do que as de Samaria,
Porventura como fiz a Samaria e aos seus ídolos, não o faria igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos? 
Por isso acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então castigarei o fruto da arrogante grandeza do coração do rei da Assíria e a pompa da altivez dos seus olhos (Is 10. 5 - 12 ACF). 
Na mesma proporção percebida nesta nação ímpia, grande erro das supostas autoridades do tempo moderno consiste em acreditar que podem fazer o que quiserem sem que sejam questionadas. Tal como ocorreu com a Assíria, se dará com estes. 

É afirmado três vezes que a autoridade, é διακονος (diakonos), um serviçal de Deus no tocante ao exercício da vingança, visto que é chamado de vingador (εκδικος [edikós]). Daí que a autoridade tenha sempre em mente que o poder que lhe foi concedido por Deus jamais pode ser empregado de forma abusiva, do contrário, os princípios do texto supra serão duramente aplicados. 

É exclusivamente neste sentido que se pode afirmar que o crente que se opõe à autoridade resite à ordenação de Deus. Opor-se a Nabucodonozor, era opor-se a Deus, visto que Deus havia submetido até os animais do campo à autoridade deste (Jr 27. 6), mas a submissão não incluía a traição aos preceitos da aliança, o que indica que mesmo a autoridade legítima quando ultrapassa os limites do bom  senso e da justiça, precisa ser resistida. 

Atualmente crentes, pastores tem exercido ativamente sua cidadania, empregando todos os recursos ao seu alcance para produzir reflexão. Críticas tem sido feitas à governos totalitários e corruptos, bem como a forma do brasileiro exercer a cidadania. Mas ainda há um longo percurso a ser feito, a fim de que o evangélicos se posicionem como sal e luz do mundo e exerçam sua influência nesta sociedade. Espero que a presente reflexão de alguma forma contribua. 

Marcelo Medeiros

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