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sábado, 11 de outubro de 2014

Firmeza do caráter moral e espiritual de Daniel



Conforme visto neste estudo, a função do livro de Daniel consiste em ser um estímulo à fidelidade do judeu em um ambiente estranho e hostil à sua fé, e conforme já dito ali, faz uso do estilo literário apocalíptico. No presente post proponho uma síntese da descrição que o livro faz do caráter deste hebreu, bem como dos desafios que ele teve de enfrentar. 

DEFINIÇÕES

O termo firmeza remete ao leitor aos seguintes vocábulos: constância, firmeza, estabilidade, durabilidade, ao que se pode acrescer, resolução, decisão. A primeira verdade que emerge deste processo é a de que Daniel era homem de decisão. A maior decisão que ele propôs em si, foi a de não se contaminar com as iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia. A decisão de Daniel extrapolava a mera dieta da lei. Na verdade a resolução do mesmo era pela aliança, e ele teve de vencer a pressão da ordem do rei, de Aspenaz, dos demais companheiros, da diversidade em que viviam, etc.... .

De acordo com especialistas o vinho era fonte de alegria (e isto é claramente afirmado nos salmos e na sabedoria judaica [Sl 104. 15; Ec 9. 7]), mas havia um problema com o vinho e com as demais manjares, eram oferecidos aos ídolos e continham elementos proibidos pela lei, tais como os alimentos que eram considerados como imundos. 

O caráter, por sua vez, tem a ver com a índole moral do sujeito, abrangendo a herança religiosa do mesmo. A firmeza de Daniel está em fatos tais como o nome que ele recebeu (Beltessazar), sem contudo deixar que sua identidade fosse sequer esvaziada. Mesmo recebendo um nome babilônico, que fazia referência ao deus da Babilônia, Bel. Daniel sabia que era um judeu, e se portou como tal a despeito das pressões que sofreu neste ambiente hostil. 

Além da escolha por não se contaminar com as iguarias do rei Daniel e seus amigos passaram por outra provações, por exemplo:
  1. Tiveram seus nomes mudados. Daniel (דָּנִיֵּ֣אל [Deus e o meu juiz]), teve o seu nome mudado para Beltessazar (בֵּ֣לְטְשַׁאצַּ֗ר [provavelmente o príncipe de Bel]). Contudo nunca o esvaziaram da percepção do juízo divino. 
  2. Ananias (חֲנַנְיָה֙ [dádiva de Deus]), foi chamado de Sadraque (שַׁדְרַ֔ךְ [ou comandante de Aku]). Mas este nunca perdeu a percepção do favor de Deus. 
  3. Misael (מִֽישָׁאֵ֣ל[que é igual a Deus?]), teve o seu nome mudado para Mesaque ( מֵישַׁ֔ךְ [quem é como Aku]). 
  4. Nem a mudança do nome de Azarias (וְלַעֲזַרְיָ֖ה [aquele a quem Deus ajuda]), para o estranho nome Abdenego ( עֲבֵ֥ד נְגֹֽו׃ [servo de Nego, ou Nebo]) fez com ele se esquecesse da ajuda do único e verdadeiro Deus. 
  5. A pressão de atender ao pedido do rei de ter o seu sonho interpretado a fim de não ver os seus amigos e os demais sábios morrerem (Dn 2). Para mais ver aqui.
  6. Viu a difícil situação dos seus companheiros quando foram ameaçados de serem lançados, e sucessivamente lançados na fornalha de fogo ardente, por se recusarem a se prostrar diante da estátua que ele Nabucodonozor tinha feito (Dn 3). 
  7. Teve a experiência de saber que os vasos da casa do Senhor foram profanados em um banquete marcado pela orgia (Dn 5). 
  8. Foi para a cova dos leões por causa da inveja dos rivais no Reino, e por não fazer concessões políticas e religiosas (Dn 6). 

Tais traços fazem de Daniel um exemplo a ser seguido, um daqueles de quem o autor de Hebreus disse: O mundo não era digno deles [....] Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé (Hb 11. 38, 39 NVI). A fé é o segredo da preservação da identidade de Daniel, da manutenção de sua fé mesmo em meio ao juízo, à infidelidade do povo eleito, e tudo mais. O pretendo colocar aqui é que a fé foi o grande diferencial na vida de Daniel, pois em meio a tantas desgraças, ele permitiu a este expoente da fé uma visão distinta da história. 

O LEGADO DA FÉ

Creio que a firmeza do caráter proceda das convicções pessoais. Vejo isto na vida de Jesus que tentado por Satanás não cedeu em sua crença a respeito da fidelidade divina, visto que se agarrou ciosamente à voz que ouviu dos céus no momento do batismo (Mt 3. 17; 4. 3, 4). Vejo também na vida de Paulo, que mesmo estando preso, abandonado, sozinho, traído, ousou dizer: Por essa causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia (II Tm 1. 12 NVI). 

O princípio que emerge deste último texto é o de que a firmeza advém das convicções que o homem traz consigo. O exame do contexto de Daniel, bem como a leitura de seu contemporâneo Ezequiel, possibilita a percepção de um dado importante. Na época deste circulava um provérbio no meio do povo: pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram? (Ez 18. 4 ACF). O dito  מֹֽשְׁלִי [mashal], era uma forma indireta de acusar Deus de estar cometendo injustiça. Daniel percebeu a história de uma forma diferente. Veja na confissão que o mesmo faz:
E eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza. E orei ao Senhor meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; Pecamos, e cometemos iniquidades, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos;

E não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas rebeliões que cometeram contra ti (Dn 9. 3 - 7 ACF). 
Perceba que não há uma única linha de acusação, ou ressentimento contra Deus, mas a clara percepção de que mesmo estando em juízo vê Deus como clemente compassivo, misericordioso, fiel, ao mesmo tempo em que percebe o próprio pecado. Tal compreensão é de suma importância no momento das provações. 

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros. 

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