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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

31 de Outubro, dia da Reforma Protestante

Hoje é o dia em que se comemora o aniversário da Reforma Protestante, movimento de natureza social, politica e religiosa, que eclodiu na Europa em plena renascença. A despeito das atuações anteriores de Jeronimo Savanarola, Jonh Wyclliffe, Jonh Hüss, sendo que este no momento de sua morte proferiu uma profecia, que dizia: podem queimar o ganso, mas dentro de cem anos Deus levantará um cisne que não poderão queimar. Sua morte se deu em seis de Julho de mil quatrocentos e quinze. Em trinta e um de Outubro de mil quinhentos e dezesseis Martinho Lutero pregou suas noventa e cinco teses contra as vendas de indulgencias da cúria romana.

Este ato foi o começo de um movimento cujas as proporções foram além do aspecto religioso, mas cuja herança doutrinária foi de extrema importância. O legado vital da Reforma é a constante revisão que a Igreja tem de fazer de si mesma, tendo por base os cinco solas. Sola fide, Sola Gratia, Sola Escriptura, Solus Christus, Soli Deo Glória.

O homem é justificando diante de Deus exclusivamente pela graça, tendo por base os méritos de Cristo. A graça é o meio pelo qual somos salvos, independente de quaisquer méritos e deméritos. A Escritura é a suprema regra de fé e de prática dos cristãos. A vida cristã tem como única finalidade a glória de Deus.

A necessidade de revisão e de reforma ocorrem quando no lugar da fé e da graça entram o mérito humano, e no lugar da Escritura a cultura, com isto Cristo deixa de ter o seu papel central e a glória devida exclusivamente à Deus é deslocada para seres humanos frágeis e falhos como nós. É este constante perigo que demanda de nós uma constante Reforma Eclesiástica. Que Deus abençoe o seu povo e nos dê o devido discernimento para prosseguimos em sucumbir às tentações do presente século.

Pr Marcelo Medeiros

O Cuidado com Aquilo que Falamos

Uma pesquisa bíblica a respeito do assunto língua pode produzir a seguinte conclusão: aquele que não peca no falar é realmente homem perfeito, capaz de refrear todo o corpo (Tg 3. 2 Bíblia de Jerusalém) . Salomão afirma: nas muitas palavras não falta ofensa, quem retém os lábios é prudente (Pv 10. 19 Bíblia de Jerusalém). Estes textos demandam sim que tenhamos cuidado com aquilo que falamos, afinal, Jesus disse: toda palavra sem fundamento que os homens disserem, darão contas no dia do Julgamento. Pois, por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado (Mt 12. 36, 37). Neste estudo pretendo abordar a necessidade de cuidado com a língua, bem como os cuidados que devemos ter com a língua.

I) A necessidade de cuidados com a língua
 
Por quais motivos precisamos ter tantos cuidados com o nosso falar? As Escrituras prontamente respondem: nas muitas palavras não falta ofensa, quem retém os lábios é prudente (Pv 10. 19 Bíblia de Jerusalém). A palavra hebraica para ofensa, é פָּ֑שַׁע (pescha), a mesma palavra para transgressão, mal, maldade. Tanto que a Almeida Revista e Corrigida fiel traduz פָּ֑שַׁע (pescha) como pecado literalmente. Este mesmo termo é traduzido pela Bíblia de Jerusalém como falsidade neste texto: Na falsidade dos lábios há armadilha funesta, mas o justo escapa da penúria (Pv 12. 13). A versão Almeida Revista e Corrigida Fiel, traduz este mesmo texto assim: O ímpio se enlaça na transgressão dos lábios, mas o justo sairá da angústia (Pv 12. 13).
O mais importante é que esta palavra é usualmente empregada para a transgressão da lei, tanto que na maioria dos casos em que a LXX traduz פָּ֑שַׁע, o faz por meio do termo ανομια (anomia). O ensino do Novo Testamento é de que:
os que vivem segundo a carne desejam as coisas da carne, e os que vivem segundo o Espírito, as coisas que são do Espírito. De fato, o desejo da carne é morte, ao passo que o desejo do Espírito é vida e paz, uma vez que o desejo carne é inimigo de Deus, pois ele não se submete à lei de Deus, e nem o pode, pois os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm 8. 5 - 8 Bíblia De Jerusalém).
O que fica explicito neste ensino é a verdade de que os problemas oriundos do falar são reflexo de nossa natureza pecaminosa. Em outras palavras pecamos com a língua porque em nosso ser somos essencialmente pecadores. Em um sentido estrito, podemos afirmar que a maioria dos males advindos da língua se dão em razão daquilo que o dono da língua é. Isto pode ser visto em alguns provérbios bíblicos.
Os lábios do insensato provocam querela, sua boca provoca golpes. A boca do insensato, é a sua ruína, e seus lábios armadilha para a sua vida (Pv 18. 6, 7 Bíblia de Jerusalém).  Por sua vez: Nos lábios do prudente há a sabedoria, [...] mas a boca do estulto é perigo iminente (Pv 10. 14, 15 Bíblia de Jerusalém). Seguindo a trilha do pensamento do velho Salomão, percebemos o quanto esta verdade está impressa na mente dos sábios de Israel, ainda que nem tanto formulada, mas latente, de modo que o mesmo afirma: a boca do justo é prata escolhida, o coração dos ímpios vale pouco. Os lábios do justo apascentam a muitos, os estultos morrem por falta de juízo (Pv 10. 20, 21 Bíblia de Jerusalém).
Além das razoes expostas, necessitamos de cuidado com a língua, visto que o que falamos inevitavelmente nos trará consequências. Do fruto da sua boca o homem sacia-se do que é bom, e cada qual receberá a recompensa por suas obras (Pv 12. 14 Bíblia de Jerusalém). E mais: pelo fruto da sua boca o homem se nutre do bem, mas a vida dos traidores é apenas violência (Pv 13. 2 Bíblia de Jerusalém). De modo que: quem vigia a própria boca guarda a sua vida, mas se perde quem escancara os lábios (Pv 13. 3 Bíblia de Jerusalém). Para todos os efeitos, quem guarda a boca e a língua, guarda-se da angústia (Pv 21. 23 Bíblia de Jerusalém).

II) Cuidados a serem tomados

Expressão usualmente definida como: atenção, aplicação a alguma coisa, cuidado, precaução, cautela, diligência, desvelo. Estas são qualidades exigidas quando se usa a língua. E isto se pode verificar tanto na literatura canônica quando na deuterocanônica (segundo cânon). Considerando que o tema de nosso trimestre é a sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa, gostaria de propor ao leitor a leitura de um texto de autoria de um sábio do período interbíblico, Jesus Ben Sirac
Não joeires a todos os ventos, nem te metas em qualquer trilha (assim faz o pecador de palavra dúplice). Sê firme em teu sentimento e seja uma a tua palavra. Sê pronto para escutar, mas lento para dar a resposta. Se sabes algo responde ao teu próximo; se não põe a tua mão sobre a boca. Honra e confusão acompanham o loquaz, e a língua do homem é a sua ruina. Não te faças chamar de caluniador, não armes uma emboscada com a tua língua; porque se para o ladrão existe a vergonha, para o fingido existe uma sentença pior (Eclo 5. 9 - 14 Bíblia de Jerusalém).
Dentre os cuidados recomendados pelo pregador destacamos os seguintes:
  1. A palavra do homem, ou da mulher tem de ser uma só. Afinal, este é o sentido de seja o vosso "sim", sim, e o vosso "não", não. O que passa disso vem do maligno (Mt 5. 37 Bíblia de Jerusalém).
  2. A fim de evitar ao máximo a transgressão por meio do falar, o homem tem de ser mais inclinado à arte do ouvir do que à arte do falar. Que cada um esteja pronto para ouvir, mas lento para falar e lento para encolerizar-se (Tg 1. 19 Bíblia de Jerusalém).
  3. A pessoa que muito fala corre o risco de se ver de uma hora para outra em uma situação de desgraça. Quando acerta com relação ao que fala, tal pessoa é elogiada, mas quando erra pode vir a ser execrada. Daí a recomendação de Sirácida: faze paras as tuas palavras balança e peso; para a tua boca porta e ferrolho. Vela para não dares passo em falso com a língua, cairias diante daquele que te espreita (Eclo 28. 29, 30 Bíblia de Jerusalém).
  4. No dia em que a verdade é descoberta, o caluniador sofrerá vergonha. Língua distinta não combina com o estúpido, menos ainda, com o notável língua mentirosa (Pv 17. 7 Bíblia de Jerusalém). Na Almeida, versa: Não convém ao tolo a fala excelente; quanto menos ao príncipe, o lábio mentiroso. Nosso falar tem de revelar aquilo que somos em nossa essência. Aqui cabe destacar o verbete יֶ֑תֶר (yether), cujo sentido é o de superioridade, sobressalente, nobre, distinto, etc...
As recomendações de Ben Sirac encontram eco na totalidade das Escrituras Sagradas, e por este motivo tem de ser observadas por nós. No ensino de Provérbios a língua e consequência do que somos. O ímpio possui palavras tão suaves como a manteiga, mas no interior há guerra (Sl 55. 21), suas palavras são malicia e engano (Sl 36. 1 - 3). Daí que Davi, em dado momento de sua vida tenha proposto calar-se na presença do ímpio (Sl 39. 1). Que Deus nos dê este discernimento.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Aquilo que é polêmico também pode trazer edificação.

Na apologética ouvi sucessivas vezes a frase: não julgueis, e ao longo de anos de polêmica percebi que existem pessoas intocáveis, cujo comportamento, na prática, está acima do bem e do mal, são os ungidos do Senhor, os mega pregadores, os astros da música gospel. Tais assumem um comportamento que não pode ser criticado ainda que passível de severas repreensões. Uma vez que foi esclarecido que o crente pode julgar, uma vez que não há quem não faça julgamentos e o ato de julgar não nos serve para a estereotipia e discriminação, mas para o discernimento entre o que é ovelha e o que é lobo em pele de ovelha; precisamos meditar em outro pretexto, o da edificação.
Tenho visto críticas honestas e sinceras serem rebatidas com o pretexto de que as mesmas não trazem edificação. O bordão da vez é este: Se não produz edificação, para que comentar (ou postar)? O que ignoram é a questão da edificação. Em primeiro lugar, sobre qual fundamento estamos edificando? Para Paulo, se o fundamento não for Cristo de anda adianta continuarmos na construção, daí a recomendação do apóstolo: veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo (I Co 3. 10, 11 ARCF). 
Em segundo lugar, ainda que o fundamento de nossa iniciativa seja Cristo, precisamos pensar no material que estamos usando para a edificação, afinal,
se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,  A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo (I Co 3. 12 - 15 ARCF). 
O contexto prossegue dizendo que somos o templo do Espirito Santo de Deus. Este somos indica que não o somos em nossa individualidade, mas na coletividade. O convite à revisão do material implica que temos sim de ser polêmicos a respeito de como edificamos, e do nosso projeto de Igreja. Daí a necessidade sim de tocarmos em assuntos polêmicos tais como: musica, doutrina, vestes, costumes, ministérios, ética pastoral. Como pretendo retornar a este texto encerro a minha reflexão por aqui, na esperança de que o post seja instrumentalizado pelo Espírito de Deus a fim de novas posturas seja produzidas.
Creio que um crente que não possui capacidade para debater não deve se lançar nesta atividade, afinal, ao servo de Deus não convém contender. Mas discordo veementemente do silêncio que tenho visto em muitos cristãos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

28/10 Dia do funcionário público


Escrevo este texto não na qualidade de teórico, mas primeiro, na condição de filho de uma funcionaria pública, marido de uma técnico de enfermagem funcionária do município do Rio de Janeiro, e como alguém cujos mais de vinte anos de trabalho são dedicados à causa pública. Logo, o conhecimento que possuo não é o de um observador neutro, mas de alguém que sabe o que é prestar um concurso, ganhar mal pelo que exerce e ainda enfrentar o mal humor do chefe e a falta de educação e de reconhecimento da população em alguns casos.
Antes que o leitor resolva me crucificar, entenda que eu sei que existem funcionários públicos que não funcionam e nem são públicos. Não funcionam porque a estrutura não permite. Em alguns casos, a grande verdade é esta, o SERVIÇO PÚBLICO FOI FEITO PARA NÃO FUNCIONAR, em outras palavras para gerar insatisfação e assim aquecer a máquina das promessas das campanhas políticas. Mas desejo falar de algo mais importante: O Dia do Servidor público.
Não se sei se é do domínio público, mas existem serviços pelos quais o estado se responsabiliza, e de forma tal que, alguns são vistos como atribuição exclusiva do Estado. Tanto que quando se recorre ao uso particular dos mesmos, obtém-se o direito de abater do imposto de renda. Entre os ditos serviços, destacam-se: saúde, educação e a segurança (que não sei se dá abatimento do imposto de renda). Fato é que visando atender tais serviços, e os que se desmembram dos mesmos, o governo contrata mediante concurso uma classe frequentemente chamada pelo nome de servidor(es) público(s). Dentre os mesmos destacamos professores, médicos e policiais, que trabalham na união e no Estado, podendo no caso dos primeiros trabalhar também no município.
Reconheço que o debate em torno do que é público, ou privado ainda permanece em aberto. Na minha singela opinião, que na verdade é mais do que óbvia, todos os que trabalham com o público, ou exercem uma função que visa o bem estar público deveriam de ser considerados como servidores públicos, visto que o serviço dos mesmos, em tese, destina-se ao povo em geral, sendo o caso dos médicos, policiais (civis e militares) e professores o mais flagrante de todos. Mas o servidor da iniciativa pública destaca-se pelo fato de haver prestado concurso e comprovado competência para o exercício da função, e por fazer parte de uma estrutura que não tem o lucro como finalidade.
Infelizmente, em nosso país estes servidores não são devidamente valorizados. Às vezes não se reconhecem naquilo que fazem, com isto o trabalho dos mesmos acaba por se tornar um instrumento de tortura. E, algumas ocasiões enfrentam chefes, sim, eu disse chefes; que nãos os valorizam pelo desempenho no serviço que prestam à população. Estes caciques nasceram no tempo errado e usam a maquina pública como meio para satisfação pessoal (coisa da qual Hobbes falou e muito bem), na verdade como moeda, uma vez que foram beneficiados com o cargo de confiança. Assim o servidor e o serviço, que deveriam serem públicos se tornam privados; afinal, contrariando tudo que se fala nas conferencias sobre gestão e liderança, os chefes buscam funcionários e um serviço que não agrada ao público, mas a si mesmos. Como se não bastasse enfrentam ainda uma política voltada para resultados, como se alguns serviços tais como educação e saúde, por exemplo pudessem ter a sua qualidade mensurada por números na estatística.
Tudo isto é enfrentado por estes funcionários e posso dizer que a maioria que conheço desempenha o ser serviço muito bem. Apenas à título de exemplo, conheço médicos, músicos, e professores que trabalham sem a mínima condição para tal, sem a devida valorização salarial e sem o devido reconhecimento, mas que desempenham a sua função de forma magistral. Se querem melhoria salarial, se desdobram no exercício do encargo e se preparam para prestarem concursos que possibilitarão ascenderem aos cargos de melhor remuneração. VIDA DE SERVIDOR PÚBLICO É MAIS OU MENOS, MAS É ISTO.
Por este motivo quero desejar aos funcionários públicos que com humor, perseverança, zelo, dedicação exercem suas atividades, um feliz dia do servidor público. Gostaria de incluir aqui os que enfrentam no dia-a-dia o mal humor dos chefes que acham que chefiar é tornar a vida do outro um inferno, que entendem que exercício de um cargo de confiança é algo que pode ser feito às expensas da confiança dos subordinados, e do público ainda que mal instruído, formado e educado como o nosso.  Meus parabéns aos que resistem bravamente às políticas de visibilidade estatística cujo único fim é o eleitoreiro, aos que se desdobram no encargo atual e lutam por melhorias estudando para galgarem melhores posições.
 
Parabéns funcionário público. Marcelo Medeiros, funcionário público.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Um ano de Paidéia

 
 
Esta semana fizemos um ano com a graça de Deus. Sim, o nosso blog completa um ano de postagens cuja finalidade consiste em compartilhar o conhecimento de Deus e de Cristo e assim, edificar aos santos. Neste tempo temos alcançado considerável público dentro e fora de nosso país, e o que é mais importante com fidelidade ao chamado de Deus e à sua palavra. Neste dia queremos compartilhar com o leitor nossa alegria por esta conquista, que não é de caráter pessoal, mas espiritual. Deus o abençoe.
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Lição da EBD n° 4: Lidando de forma correta com o dinheiro

 
O tema da lição da nossa semana é: Lidando de forma correta com o dinheiro. O aprendizado implícito na mesma é o de que não nos basta o trabalho e a prosperidade, temos de aprender a administrar nossos recursos com a máxima e devida correção. A expressão lidar é praticamente um verbo em nosso idioma. O que pouco se sabe é que lidar vem de lida, e significa batalhar, combater, pelejar; trabalhar afanosamente; esforçar-se. Por sua vez "forma" indica um molde, um padrão a ser seguido, daí o adjetivo correta para se referir ao modelo em questão. As lições básicas então são: 1) é preciso saber lidar com o dinheiro, 2) existem padrões para se trabalhar com o dinheiro, 3) Existe uma forma acertada para se lidar com o dinheiro.
I) É preciso lidar com o dinheiro
Aqui é necessário entender que além da definição lexical já apontada na introdução, o sentido de lida tem de ser aprofundado. O dicionário define ainda o verbo lidar da seguinte forma: Enfrentar dificuldades ou problemas e achar expedientes necessários para superá-los ou resolvê-los. Esta definição é importante visto que a falta de dinheiro traz problemas, mas a riqueza de recursos também traz problemas. O pobre é odiado até pelo seu próximo, porém os amigos dos ricos são muitos (Pv 14. 20 ARCF). As riquezas granjeiam muitos amigos, mas ao pobre, o seu próprio amigo o deixa (Pv 19. 4 ARCF). Aqui se faz necessária uma pausa, para a reflexão. Os textos acima descrevem a realidade, mas não a forma correta de administrar a vida. Muitos se deixam acomodar pelos favores do príncipe, e cada um é amigo daquele que dá presentes. Todos os irmãos do pobre o odeiam; quanto mais se afastarão dele os seus amigos! Corre após eles com palavras, que não servem de nada (Pv 19. 6, 7 ARCF).

Os textos são claros quem possui poucos recursos também não possui amigos e quem tem abundancia de bens também não tem. No primeiro caso, em função do interesse, no segundo por causa da falsidade. A este respeito Jesus Ben Sirac (um sábio do período Inter bíblico) é mais enfático. Ele diz: Na prosperidade não se pode reconhecer um verdadeiro amigo, não adversidade um inimigo não pode se esconder. Quando um homem é feliz seus inimigos ficam na tristeza, na adversidade até os amigos desaparecem (Eclo 12. 8, 9 Bíblia de Jerusalém).

A lida para com o dinheiro começa com a luta para que este jamais se torne o nosso Senhor, afinal, o dinheiro é um péssimo patrão. Veja este trecho extraído de um artigo de Mário Sérgio Cortella, "dinheiro para quê dinheiro?".
é preciso prestar atenção num dos ensinamentos proferidos por Alexandre Dumas Filho à Dama das Camélias: "Não estimes o dinheiro nem mais nem menos do que ele vale; é um bom servidor e um péssimo amo". (Cortella, 2013, disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1904200119.htm).
O pregador estava certíssimo ao afirmar: Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade (Ec 5. 10 ARCF). Também lidamos com o dinheiro a fim de que o mesmo seja o nosso servo, e em sendo o nosso servo, ele sirva ás causas mais elevadas. Afinal, pensadores das mais diversas áreas do conhecimento reconhecem a força sedutora do dinheiro. Aqui é preciso que se considere mais uma vez o que diz Cortella:
A sedução obsessiva pelo dinheiro é tamanha que a atração que exerce independe de apelos eróticos, como acontece com outras mercadorias na nossa sociedade. O inquietante pensador Millôr Fernandes (no livro "Millôr Definitivo: A Bíblia do Caos") faz uma reflexão extremamente arguta: "É tal a força do dinheiro que, por isso mesmo, é o único veículo de transa social que não utiliza, em sua promoção, imagem de mulher nua ou pelo menos sexy. Você nunca viu papel-moeda com seios, coxas ou bumbuns estampados. Em todo o mundo, as notas só nos mostram escritores barbudos, políticos carecas, santos esquálidos. No máximo, uma rainha Vitória, uma imagem da República bonita, mas machona, ou uma égua acabrunhada montada por um herói oficializado (o que não teve tempo de fugir) (...) Não, o dinheiro não precisa desses reforços afrodisíacos. Formal, careta, feio, sujo, rasgado, colado, ele é sempre mais sexy do que a Marilyn em seus melhores momentos".
Toda propaganda traz consigo o apelo ao sexo como forma de exigência de resposta positiva do cérebro humano, apenas o dinheiro foge à regra. Daí a necessidade que se lide com o dinheiro, que se trabalhe com o mesmo.

II) Formas distorcidas de se lidar com o dinheiro

Há quem lide com o dinheiro como se este fosse seu senhor, e conforme dito acima, o dinheiro é um bom servidor e um péssimo amo. Daí que pessoas que já são possuidoras do mesmo se entreguem à avareza. Para Salomão, O príncipe falto de entendimento é também um grande opressor, mas o que odeia a avareza prolongará seus dias (Pv 28. 16 ARCF). Jesus disse: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui (Lc 12. 15 ARCF). A palavra Hebraica para avareza é בָּ֑צַע (batsa'), cujo sentido pode ser o de algum juízo mediante a guerra e consequentemente o saque, ou a cobiça, conforme vemos no seu emprego em Provérbios. No Novo Testamento, esta palavra é πλεονεξιας (pleonexia), ou πλεονεξιαι (pleonexiai), cujo sentido é o de cobiça por ganho.

É deste sentimento que brotam o suborno, é quando se faz necessário ouvir novamente ao velho Salomão, para quem, O que agir com avareza perturba a sua casa, mas o que odeia presentes viverá (Pv 15. 27 ARCF). O ímpio aceita suborno debaixo do manto para distorcer o direito (Pv 17. 23 Bíblia de Jerusalém). O pregador afirma: Verdadeiramente que a opressão faria endoidecer até ao sábio, e o suborno corrompe o coração (Ec 7. 7 Bíblia de Jerusalém). A lei do suborno em Deuteronômio  versa: Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem receberás peitas; porquanto a peita cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos justos (Dt 16. 19 ARCF).

A palavra hebraica para suborno é a mesma para presente שֹׁ֖חַד (shohad). Neste caso nem sempre o emprego é negativo, sendo considerado como estratégico em alguns casos. Daí que Salomão mesmo tenha afirmado: O presente dado em segredo aplaca a ira, e a dádiva no regaço põe fim à maior indignação (Pv 21. 14 ARCF). Há somente uma ocorrência do termo שַׁלְמֹנִ֑ (shalmon), cujo sentido pode ser tanto o de recompensa quanto o de suborno, sendo este último o mais apropriado em função do contexto.

Outra forma distorcida de se ter o dinheiro consiste em colocar o mesmo como senhor, e a advertência de jesus é bem clara: Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6. 24 NVI). O contexto deixa claro o homem se torna escravo do dinheiro na medida em que se deixa dominar pela ansiedade, envida todos os meios para que uma vez de posse da riqueza o traga segurança. Aqui é preciso que se considere a forma acertada de se lidar com o dinheiro.
III) Lidando com o dinheiro de forma acertada
Jesus ensinou claramente que o dinheiro não deve ser senhor, caso contrário, o aquele que o serve não poderá servir a Deus (Mt 6. 24). O contexto nos indica que o dinheiro se torna senhor do homem quando este não percebe o amor e o cuidado do Pai celeste e se entrega á ansiedade (Mt 6. 25 ss). Para que tal tendência seja vencida, o Reino de Deus há de ser colocado em primeiro lugar (Mt 6. 33). Precisamos considerar que colocar o Reino de Deus em primeiro lugar nada tem a ver com a dedicação ás coisas espirituais. Afinal, é bem possível, ser espiritual com uma mentalidade carnal; daí a plena viabilidade de uma religiosidade voltada ao lucro, é desta forma que os falsos mestres agem (I Tm 6. 3 - 11; II Pe 2. 1 - 3). Buscar o Reino é entregar-se ao cuidado do Pai, e isto, entendendo que a vida humana não consiste na abundancia de bens (Lc 12. 15), pelo contrário, é possível ao homem ganhar o mundo e perder a alma (Mt 16. 26; Mc 8. 36, 37).

Dinheiro é fundamental, mas não é essencial. Esta distinção não é perceptível nos dicionários, mas de acordo com Cortella, as pessoas estão começando a fazer. Afinal,
Essencial é tudo aquilo que você não pode deixar de ter: felicidade, amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, religiosidade. Fundamental é tudo aquilo que o ajuda a chegar ao que é essencial. Por exemplo, trabalho não é essencial, é fundamental. Você não trabalha por trabalhar, você trabalha porque o trabalho lhe permite atingir a amizade, a felicidade, a solidariedade. Dinheiro não é essencial, é fundamental. Sem ele, você passa por dificuldade, mas ele em si, não é essencial (Cortella, Mário Sérgio. Fundamental é chegar ao essencial. In Qual é a tua obra? Petrópolis, Vozes 2011, p. 63, 64).
Sob esta ótica, precisamos considerar que o dinheiro é um excelente escravo, se nós o usamos como meio para alcançar coisas mais importantes, tipo: felicidade, amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, religiosidade. Mas ele passa a ser um péssimo senhor quando nos priva destas coisas, afinal, Salomão mesmo pergunta: Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha? (Ec 3. 9 ARCF), a resposta é: não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida; e também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus (Ec 3. 12, 13 ARCF). Em outras palavras Cortella está em sintonia plena com o Pregador. Afinal, este diz:
Há um mal que tenho visto debaixo do sol, e é mui freqüente entre os homens: Um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja, e Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho lho come; também isto é vaidade e má enfermidade. Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, e os dias dos seus anos forem muitos, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele (Ec 6. 1 - 3 ARCF). 
Uma segunda reflexão de suma importância quando consideramos o que diz a Bíblia em sintonia com a sabedoria atual é que na busca pelo dinheiro o homem pode perder a sua alma. O termo para alma aqui é ψυχην (psichén), que pode ser traduzido por vida. Ou seja, existem pessoas que no afã de uma vida melhor terminam por perder sua própria vida. É o caso de executivos e executivas que a fim de darem contas das demandas de um mercado de trabalho perdem a criação dos filhos, pior se omitem inteiramente da mesma.
Até onde nós vamos? Até onde eu, executivo, vou levar a minha vida ao esgotamento à custa do quê? De ter mais relógios, canetas, carros, de poder consumir mais? Se estou perdendo a minha vida, estou vendendo a minha alma. Alias, os cristãos tem uma frase que muitos executivos deveriam pensar sempre. Diz: de nada adianta um homem ganhar o mundo se ele perder a sua alma. (Cortella, Mário Sérgio. Gestão pessoal, gestão vital. In Qual é a tua obra? Petrópolis, Vozes 2011, p. 59).
Quando aquilo que é meio se torna fim, aquilo que fundamental se transforma no que é essencial, o homem perde a sua alma. Que saibamos lidar de forma acertada com o dinheiro.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

sábado, 19 de outubro de 2013

As lições dos Incríveis


Quando me tornei pai passei por uma das experiências mais inusitadas que um genitor possa passar, a de ter de ver com o meu filho um mesmo filme mais de sessenta vezes. G. K. Chesterton afirma que as crianças possuem uma força vital e que esta mesma os faz repetir incessantemente aquilo que lhes dá prazer. Deixando tais especulações de lado, voltemos para um dos filmes mais assistidos pelos meus dois filhos: Os Incríveis.
A historia narra a trajetória de dois super-heróis que decidem constituir família, o S.r. Incrível e a Mulher elástica. O mais curioso é que ne entrevista inicial, e na fala ente ouvidos de ambos os personagens durante o momento do casamento, ambos deixam claro que não pretendiam encerrar tão cedo a carreira como heróis. Até que um fato inusitado faz com que o casal heroico e vários outros heróis encerrem temporariamente as suas atividades.
O resultado é um homem estressado, frustrado e gordo, além de uma família com sensacionais habilidades, mas que vive tendo de esconder as mesmas, a fim de não serem identificados com heróis em uma sociedade que esquecida de tudo que estes valorosos agentes fizeram por eles. Beto, como é chamado o S.r. Incrível na intimidade do lar, e no convívio com os amigos é o retrato de um homem trabalhador dos dias atuais. Envolvido com um trabalho no qual não sente o mínimo de prazer em estar, e ainda quando age da forma correta se vê assediado moralmente por chefe que está interessando em lucros, independente da ética. Conforme podemos ver a situação do S.r. Incrível é bem diferente da demonstrada no inicio do filme. Mas o problemas não se restringem à pessoa do S.r. Incrível, afinal, ele tem família, e não há problema com chefes de família que não afetem aos demais componentes da mesma.
Diante deste quadro, o filho mais novo assume uma postura rebelde, ele usa sua velocidade para colocar tachinhas na cadeira do professor e driblar o sistema de filmagem. Violeta, é uma adolescente belíssima, mas com profunda insegurança, tanto que usa seus poderes de invisibilidade para se esconder do garoto por quem sente admiração, e quando o Flecha Pera expõe sua paixão pelo rapaz, uma guerra se inicia junto á mesa. De um lado, um homem saudoso pelo passado de glória, do outro uma família precisando de ajuda terapêutica.
O mais curioso é que a obsessão de Beto coloca a ele a toda a sua família em perigo, mas o perigo em que são colocados une e integra o grupo, e ajuda a comunidade de heróis a ser bem vista novamente. Nossa obsessão por trabalho, por liberdade, pelo desenvolvimento dos nossos potenciais, quando na verdade o chefe de família tem de pensar na família, ao invés de em si mesmo, tem colocado nossa família em perigo. Precisamos urgentemente buscar meios de integrar nossas mulheres e filhos em nossos projetos a ajuda-los a ver que são parte de nossa vida, e que sem eles não vivemos, mais do que isto, eles são a razão de trabalharmos mais, de continuarmos na luta, e tudo mais.
Enquanto escrevo este artigo, algo inusitado aconteceu, meu filho, de oito anos, que está sendo alfabetizado agora, se aproximou do computador e leu o que eu havia escrito. Aproveitei, e expliquei a ele que esta é a função da escrita, nos fazer escritores, para que possamos ampliar a nossa voz para além do nosso tempo e espaço (não com estas palavras, é claro, mas com o mesmo sentido). Meu alerta acendeu quando percebi, que posso não ter a mesma sorte do Beto, e como muitos outros Betos que existem por aí afora, perceber tarde demais que joguei fora momentos esplendorosos com a família em troca de dias de glória.
Nosso maior ato de heroísmo é treinar filhos para que sejam eles mesmos em um mundo no qual a liberdade de ser está cada vez mais comprometida. É cada vez mais flagrante a tentativa de igualar as pessoas. Não há espaço para o diferente. Sei o que é isto, afinal, sou pai de um filho especial (leia-se portador de necessidades especiais). Normal, é que segue a norma, logo, normal é o sujeito que devido aos enquadramentos nas normas socialmente estabelecidas, não tem em si o espaço para a criatividade, para o ser, para a autenticidade, e por este motivo é alienado de si mesmo e tende a ser um futuro frequentador de divãs. Existe ajuda psicológica para ajudar a evitar isto também, mas nossa parte como pai é passar para os nossos filhos a coragem que nós tivemos e os caminhos que seguimos para superar as dificuldades que eles terão de passar e se afirmarem em suas potencialidades e individualidades. Estas são as lições que o filme imprimiu em mim.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

Lição da EBD n° 3: Trabalho e prosperidade

Atividade física ou intelectual que visa a algum objetivo; labor, ocupação. Esta é a definição inicial que os nossos dicionários nos dão para trabalho. Já prosperidade, é entendida tanto como abundancia, fartura e riqueza, quanto como progresso, sendo este último o que mais se coaduna com o conceito de prosperidade das Escrituras. Gordon Fee e Douglas Stuartt afirmam que os provérbios embora busquem inculcar a sabedoria nos jovens, por meio de máximas simples, os mesmos não podem, de forma alguma serem lidos como verdades universais. O caráter superficial se pode ver nas afirmações que associam a impiedade com uma vida fracassada. Uma breve leitura de alguns salmos de sabedoria e do livro do Eclesiastes são suficientes para comprovar isto. O mesmo se dá com a perspectiva que Provérbios demonstra a respeito do trabalho e da prosperidade, a relação não é tão lógica assim. O mesmo se dá com relação à prosperidade em Provérbios Salomão dá a entender que a prosperidade é resultado do trabalho feito com pericia, ao passo que em Eclesiastes ele apresenta outra perspectiva. Passemos então à visão da sabedoria a respeito do trabalho.

I ) O trabalho na Filosofia

A visão filosófica a respeito do trabalho não é das mais positivas. A Grécia, berço do pensamento filosófico, foi uma das sociedade nas quais o trabalho era executado exclusivamente por escravos. Neste período se instalou um padrão cultural que foi seguido por sociedades como a romana, e que foi verificável mesmo durante a Idade Média, ainda, os servos faziam os trabalhos e os nobres se dedicavam ao ocio, à discussão, à política.

Sócrates foi o único a ver os que exerciam profissões manuais como os mais sábios. Ao receber o oráculo de que era o homem mais sábio em toda a Grécia, ele dialogou e entrevistou muitos cidadãos, e os que ele considerou como sendo os mais sábios, visto que ao menos sabiam a respeito do seu ofício. Uma leitura, ainda que superficial da filosofia socrática à luz do contexto desta Grécia escravocrata nos mostra o quão ofensivas foram as conclusões do filósofo.

Mário Sérgio Cortella afirma que Platão, ao contrário do seu mestre (Sócrates), entendia que qualquer pessoa que exercesse uma atividade manual iria para um compartimento do inferno inferior aos que exercessem outras atividades. Desta forma, o trabalho foi vilipendiado. No entender de Cortella, a visão judaica de que o trabalho é castigo, foi o fundamento religioso por excelência desta ética que o Ocidente herdou. E é mais do que fato que dentre as mais variadas palavras que o idioma hebraico possui para trabalho, ao menos duas são correlatas à ideia de sofrimento. Em caso de dúvida, observe bem a fala de Elifaz, em que este afirma: Porque do pó não procede a aflição, nem da terra brota o trabalho. Mas o homem nasce para a tribulação, como as faíscas se levantam para voar (Jó 5. 6, 7 ARCF).

No texto supra, necessário se faz considerar que o termo עָמָֽל ('amal), cujo sentido é o de esforço fatigante, tormento, mágoa, aflição; é empregado como sinônimo de אָ֑וֶן ('ãwen), cujo sentido é o de problema, tristeza, mal, ou dano. Curiosamente עָמָֽל ('amal) será empregado por Salomão, caso o leitor o considere autor de Eclesiastes, para o trabalho mesmo (Ec 2. 10, 11), indicando com isto, que nem sempre a teologia bíblica verá o trabalho com algo penoso, vão e inútil.

Aqui cabe considerar o que Salomão, caso o aceitemos como o autor do Salmo 127, em um dos versos ele afirma: Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono (Sl 127. 2 ARCF). A expressão empregada para pão de dores é o termo hebraico עֲצָבִ֑ ('eshebh), que também pode ser o trabalho duro, ou a labuta mesmo, mas que em alguns contextos assume o mesmo significado de עָמָֽל ('amal).

Retornando á filosofia, e particularmente à Cortella, cabe ressaltar que para este filósofo, a guinada com respeito à visão de trabalho vem com a Ética Protestante. Esta vai colocar o trabalho humano como continuidade da criação, e com isto vai conferir ao mesmo uma imagem mais positiva do que a da herança católica medieval. O Pensador alemão Max Weber soube muito bem explicar como funciona esta ética, que se construiu a partir da ascese puritana, da visão positiva do trabalho, e do acúmulo do resultado deste. Feitas as considerações supra passemos à visão teológica do trabalho.
II) Visão teológica do trabalho
A visão consensual é a de que o trabalho foi na verdade instituído antes da queda do homem, visto que este mesmo fora criado para cuidar do jardim (Gn 2. 15), logo, isto é uma ocupação. Ela só se torna enfadonha na medida em que o homem, ao pecar, recebe, de Deus a seguinte sentença:
maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.
Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo.
No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás
(Gn 3. 17 - 19 ARCF). 
Aqui temos a ocorrência do termo עֲצָבִ֑ ('eshebh), indicando que o trabalho outrora feito de forma natural, de agora em diante seria feito com dor. Anos após a expulsão do homem do jardim, nasce Lameque, da descendência de Sete, e este ao ter um filho lhe põe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou (Gn 5. 29 ARCF), mais uma vez é empregado o termo  עֲצָבִ֑ ('eshebh) para trabalho, sendo que neste texto em particular ele vem acompanhado de מַּעֲשֵׂ֙נוּ֙ (matseh), usualmente traduzido como obra.

Das treze ocorrências desta mesma palavra no livro do Êxodo, todas são referências às obras de arte do santuário (Ex 27. 16; 28. 11, 14, 15, 22, 32; 30. 25, 35; 38. 18; 39. 15, 22, 27, 29). Quatro referências em Deuteronômio fazem alusão ao trabalho e á prosperidade decorrente do mesmo (Dt 2. 7; 16. 15; 28. 12; 30. 5), em todas o mesmo termo é empregado מַעֲשֵׂ֣ה. A obra do templo de Salomão também é denominada com o mesmo termo.

Em nossa pesquisa, não identificamos este mesmo termo em Provérbios, e em Eclesiastes, o autor o reserva para se referir às obras de Deus, jamais à ação humana, que é claramente designada de עָמָֽל ('amal). Isto é compreensível se observarmos que na visão de Qoélet, tudo é vaidade, e é a sabedoria que vai ajudar o homem a viver e trabalhar de forma proveitosa. Voltando ao termo מַּעֲשֵׂ֙נוּ֙ (matseh), creio ser ele o termo que melhor expressa a perícia humana.

Na visão dos escritores bíblicos, o trabalho humano pode sim ter o seu devido proveito, ele não é somente sofrimento. Em todo trabalho há proveito, mas ficar só em palavras leva à pobreza (Pv 14. 23 ARCF). Aqui o termo é עֲצָבִ֑ ('eshebh). O trabalho permite, inclusive que o homem dê inicio aos seus projetos. Prepara de fora a tua obra, e aparelha-a no campo, e então edifica a tua casa (Pv 24. 27 ARCF).

Por outro lado, a preguiça é algo que pode levar à penúria. O preguiçoso esconde a sua mão ao seio; e não tem disposição nem de torná-la à sua boca (Pv 19. 24 ARCF). O preguiçoso pode vir minguar diante de seu próprio desejo de consumo, uma vez que a disposição para trabalhar não é compatível coma ânsia de consumo. O desejo do preguiçoso o mata, porque as suas mãos recusam trabalhar (Pv 21. 25 ARCF).
III) Prosperidade na Bíblia e na Filosofia
A prosperidade é entendida em nossos dias como sendo a posse e o usufruto de bens de consumo. Neste caso, ela é sinônimo de riqueza, opulência. Nos tempos bíblicos os homens trabalhavam a fim de ajuntar mantimentos em abundancia e com isto garantir o seu futuro. Tanto Jesus quanto Salomão condenaram tal atitude. Para este, Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade (Ec 5. 10 ARCF). Já Cristo diz: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui (Lc 12. 15 ARCF).

A totalidade do ensino bíblico vai de encontro com o pensamento da Teologia da prosperidade e o pensamento que tem permeado o meio evangélico atual. Não faltam "teólogos" para se apossarem de textos isolados de Provérbios para ensinarem uma teologia maléfica. É neste contexto que a fala dos amigos de Jó, e alguns textos isolados viram um prato cheio.

A prosperidade bíblica é antes de mais nada o êxito no exercício de uma função. sob este aspecto o trabalho de José na casa de Potifar, e sua atividade no cárcere foram prósperos. Em ambas as situações é dito que Deus era com ele. E, é exatamente nisto que consiste o êxito do servo de Deus, ao invés de suas habilidades de gestor, Deus é o autor do triunfo do mesmo nas atividades que exerce (Gn 39. 3, 21- 23).

A fim de que evitemos erros, precisamos ler Provérbios sob o contexto da antiga aliança. A riqueza de procedência vã diminuirá, mas quem a ajunta com o próprio trabalho a aumentará (Pv 13. 11 ARCF). Para Salomão, a prosperidade é a consequência imediata do trabalho, ao menos esta é a visão deste em Provérbios. A pobreza é fruto da ausência de diligência. O que trabalha com mão displicente empobrece, mas a mão dos diligentes enriquece (Pv 10. 4 ARCF).

O contexto de Provérbios nos ensina que a preguiça tem de ser evitada, não que a prosperidade seja consequência inevitável do trabalho, em caso de dúvida, leia:
Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono?
Um pouco a dormir, um pouco a tosquenejar; um pouco a repousar de braços cruzados;
Assim sobrevirá a tua pobreza como o meliante, e a tua necessidade como um homem armado
(Pv 6. 9 - 11 ARCF). 
A lição é que no lugar de se entregar ao sono, ou à preguiça, o homem deve de envidar suas forças no trabalho.  Afinal, A preguiça faz cair em profundo sono, e a alma indolente padecerá fome (Pv 19. 15 ARCF), esta é a lição de Provérbios. Tais textos jamais devem ser lidos como se fossem promessas de prosperidade a todo trabalhador, afinal, existe toda uma ordem de ensinamentos bíblicos a serem considerados antes de tomarmos os textos de Provérbios de forma isolada.
Passei pelo campo do preguiçoso, e junto à vinha do homem falto de entendimento,
Eis que estava toda cheia de cardos, e a sua superfície coberta de urtiga, e o seu muro de pedras estava derrubado.  O que eu tenho visto, o guardarei no coração, e vendo-o recebi instrução. Um pouco a dormir, um pouco a cochilar; outro pouco deitado de mãos cruzadas, para dormir, Assim te sobrevirá a tua pobreza como um vagabundo, e a tua necessidade como um homem armado
(Pv 24. 30 - 34 ARCF). 
A lição deste último texto, por exemplo, é que a indolência conduz inevitavelmente à pobreza, por este motivo, ao invés de se entregar ao sono excessivo, o homem deve cuidar de sua terra, de suas posses, mas esta perspectiva, se choca com a que o mesmo autor demonstra nos Salmos (Sl 127. 2). Aqui o pão de dores é vão visto que Deus dá aos seus enquanto dormem. Por esta mesma razão que o pregador introduz uma perspectiva a partir da qual o trabalho somente é válido se o homem desfruta do mesmo (Ec 2. 24, 26; 3. 13), de nada adianta acumular e não saber para quem vai deixar (Ec 5.  8 - 20).

Na Bíblia, nem o trabalho, nem a prosperidade são fins em si, mas meios para algo. A doutrina apostólica é a de que no lugar de ser pesado para alguém o homem tem de trabalhar para ter para si, e para ajudar ao seu próximo (Ef 4. 28; ITs 4. 11; II Ts 3. 11, 12). Neste sentido, o ser prospero não se resume ao usufruto de bens de consumo, mas em ajuntar tesouros nos céus, por meio da caridade. Ver estudos sobre a Reciprocidade do amor cristão e o Sacrifício que agrada a Deus.

A verdadeira prosperidade consiste em possuir projetos e paulatinamente ir alcançando um por um. Mesmo aos que não enriquecem, estes podem experimentar a prosperidade por meio da fruição de alegria em seu trabalho, ou em sua obra. Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha? (Ec 3. 9 ARCF). A resposta é: Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida; E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus (Ec 3. 12, 13 ARCF). Ainda que o trabalho seja sofrido, ele vem acompanhado de coisas que são dom de Deus.

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros. 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Uma palavra aos professores


Hoje é dia do professor, e quero parabenizar aos incontáveis professores que tive ao longo da minha nada mole vida e que direta, ou indiretamente colaboraram para a minha formação enquanto ser humano, enquanto profissional, enquanto pai de família, pastor, educador, etc... . Educador? Sim, e não é nenhuma novidade para quem lê atentamente o meu perfil, ao acessar este blog, sou educador, e com todo o orgulho que é permitido a um ser humano ter, e devo isto aos professores. Gostaria de narrar em breves palavras como isto ocorreu. 
Me lembro que quando criança tive o sonho de ser mecânico de avião, de ser engenheiro, de ser músico militar, de ser músico civil (este realizado), sonho de me casar, de ter uma família, de me ver realizado com o trabalho que faço. Sonhos, sonhos e mais sonhos. Naquela época era comum as crianças sonharem com a sua futura profissão, ainda que com o passar do tempo tivessem de abrir mão dos seus sonhos. Me lembro que não faltaram pessoas para me dizerem que nenhum dos meus devaneios seria realizado, que tinha de me adequar a realidade. Graças a Deus não ouvi a nenhum destes professores, afinal, todo o conteúdo que possuíam era o da amargura pessoal, do fracasso de suas vidas. Mas longe de mim afirmar que não aprendi nada com eles. Contudo, gostaria de deixar estes professores para outra ocasião.
Ainda criança sonhei em ser professor, pasme, de religião. Algo que na minha ainda inocente mente não tinha nada a ver com a profissão docente. Quando adolescente consegui realizar o meu sonho e na medida em que estudava para me preparar para as aulas, e em que ia construindo e fortalecendo os laços com os educandos, percebi o que era ser professor. Foi apenas uma questão de tempo para me decidir pela profissão docente, e a decisão veio quando movido pela necessidade de possuir um curso superior, escolhi a faculdade que ia fazer. PEDAGOGIA.
No convívio necessário com inúmeros colegas de classe, e com as constantes trocas oriundas dos diálogos com os mais variados profissionais da área da educação e com o suporte das leituras que fui fazendo pude entender mais e mais a respeito das complexidades do exercício da profissão docente. Com isto, também percebi o porquê dos mesmos serem vítimas de tantos preconceitos. A despeito do tratamento indigno que um professor recebe em um país como o nosso, onde as pessoas não vêem a educação como um valor em si mesmo, o professor persiste em aprender e em ensinar, afinal, como disse o nosso mestre Paulo Freire, não há docência sem discência. Mas, como entender uma profissão que demanda constante aperfeiçoamento intelectual?
O caso se agrava ainda mais quando analisamos as matrizes culturais que formaram a nossa nação e percebemos que um dado cultural oriundo da herança escravagista é a visão negativa quanto ao trabalho, tanto o manual, quanto ao intelectual. Assim, nosso governo não entende que o professor que trabalha numa carga horária de dezesseis horas semanais em sala de aula, na verdade trabalha o dobro disto com aperfeiçoamento pessoal. Aos companheiros de classe e de luta, venho dizer que este é o grande ressentimento que as pessoas têm de nós. Trabalhamos mais do que parece e nos satisfazemos com o resultado do nosso trabalho, nos reconhecemos nos educandos que aprendem a ler, interpretar textos, que fazem preciosas aquisições no campo crítico, na criança especial, muitas das vezes estigmatizada, mas que diante da metodologia correta, faz progressos, rompe com os paradigmas. E, é por este motivo, que podendo fazer tantas outras coisas, que tendo capacidade intelectual para sermos aprovados em tantos outros concursos que SOMOS PROFESSORES, e como tais persistimos em nos aperfeiçoar mais e mais. 
É preciso perceber também, que com greve, ou sem greve, representamos uma séria ameaça aos que primam por uma sociedade exclusivamente reprodutora, mas que sabem que a vida de um organismo social depende de sua renovação, e que é justamente neste espaço que padrões dantes consagrados são subvertidos, e que a despeito de qualquer política traçada pelo governo este profissional, o professor, continua ainda a ser o que possui maior autonomia no exercício do seu ofício. 
As considerações feitas acima, são fruto da solidariedade de quem sabe que a classe passa por um momento importante, e neste é travada uma batalha por reconhecimento profissional, por melhorias na educação, pelo fim da meritocracia, etc.. . Aprendi como evangélico a me solidarizar com  quem passa por injustiças e nossa sociedade nao trata os professores de forma justa. Mas também aprendi que há uma esfera de comando divino. E não aprendi a crer em um Deus que sanciona indisciminadamente os atos insanos das autoridades, dos poderosos. Creio em um Deus que é justo, e como tal defende a causa do aflito e do oprimido e ainda conclama o seu povo a proceder da mesma forma. Assim, sendo, disponho deste espaço para manifestar meu compromisso moral com a causa, e rogo a Deus para que neste dia dos professores, ele conceda o mínimo de juízo necessário às nossas autoridades a fim de que as  justas revindicações da classe sejam contempladas, mais do que isto, que nesta luta entre Davi e Golias (falo aqui do governo e da mídia compromissada com o mesmo), os professores saiam vitoriosos, e quiçá fortalecidos.

Feliz dia do mestre, com carinho de um eterno aluno, Marcelo Medeiros.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O que fizemos do legado da Reforma Portestante?

 
Estamos no mês de Outubro e uma das datas comemorativas mais importantes para a cristandade é a Reforma Protestante. Por cristandade aqui não me refiro apenas aos crentes de tradição reformada, De forma alguma! Ao meu entender o movimento politico, social, religioso, em que a Reforma Protestante se constitui afetou decisivamente a cristandade como um todo. Os países que aderiram ao movimento construíram uma ética que possibilitou a criação de um novo modo de produção, o capitalismo. Tanto os países que não aderiram o mesmo, quanto o catolicismo, se remodelaram a fim de poderem concorrer com a nova expressão da fé cristã.
Do lado protestante, a educação pública e universal foi vista como estratégia de consolidação, visto que uma vez alfabetizados os povos poderiam ler a Bíblia, e interpretar a mesma de forma autônoma e crítica. A reação do catolicismo foi, dentre outras, a criação do grupo de maior expressão intelectual, a companhia de Jesus, atualmente conhecidos como jesuítas. Eles instituíram no Brasil um modelo educacional, voltado para alfabetização e a catequese da fé de expressão católica.
A interpretação autônoma das Escrituras, a associação entre estas e a consciência crítica, são o principal legado da Reforma Protestante. Mas, próximos que estamos dos quinhentos anos de Reforma protestante, precisamos perguntar: temos honrado este legado? Da minha perspectiva não. E isto pretendo demonstrar nas linhas abaixo.
Desde criança aprendi a me familiarizar com discussões. Frases como "da discussão nasce a luz", fazem parte da ampla grama de provérbios que aprendi a ouvir, apreciar e idealizar desde criança. Sim, sempre fui excessivamente inquieto, provocador e questionador, e me constitui assim em momento histórico peculiar. Nasci na década de setenta e iniciei a minha educação fundamental na década de oitenta do século passado. O momento histórico era o de transição da ditadura para a democracia. Cresci e me afirmei enquanto sujeito crítico em um ambiente antidemocrático. Filhos não podiam questionar pais e alunos não podiam questionar professores, mas ainda assim aprendi a ser sujeito questionador, a despeito da conjuntura adversa.
Hoje, momento em que, tecnicamente, deveríamos estar vivendo o auge da democracia, me deparo com o pior tipo de ditadura, a do silenciamento, ou da estigmatização  popular. Questões viscerais não podem ser tocadas. Não podemos criticar, e nem mesmo questionar doutrinas dogmaticamente impostas, tradições institucionais, sem fundamento algum na Bíblia Sagrada, e se em nossa análise tocamos em pessoas, despertamos a ira dos santos e piedosos de plantão.
Quando vejo homens de Deus usando e abusando de recursos midiáticos para "evangelizar", líderes afirmando que em nome de Jesus vele até gol de mão, imagino Lutero e Calvino se revirando em seus respectivos túmulos. e isto para não falar de Hüss e Wicliffe, que deram suas vidas para que a Bíblia fosse traduzida em língua vernácula. Como reagiriam diante da apatia de nossa geração para com a mesma? Como eles veriam líderes se colocando como inquestionáveis, ao ponto de um pastor vir às redes de televisão e dizer que mesmo quando um pastor rouba, este não deve ser questionado?
Pior ainda, a Bíblia que foi a base para o julgamento, discussão, e questionamento dos reformadores, que foi o principio norteador para a quebra de paradigmas, hoje é usada para silenciar os que pretendem discutir. Jargões do tipo: Não removas limites antigos, Não vos meteis em questões loucas, por que falar o que não edifica? são sacados de seus respectivos contextos para estigmatizar os crentes de pensamento crítico e silenciar discussões.
A história nos ensina que houve Reforma Protestante justamente porque um monge agostiniano, por nome Martinho Lutero ousou remover limites antigos. Sim, a venda de indulgências e afins era prática antiga do catolicismo quando o nosso ícone da Reforma resolveu pregar as noventa e cinco teses na porta da catedral de Wittenberg. Chamado para se retratar este ousou questionar as autoridades papais, e mais, dispôs-se a retratação, desde alguém o convencesse por meio da consciência e das Escrituras. Tal atitude deixou um importantíssimo legado: a consciência, ao lado das Escrituras são o parâmetro para a formulação de ideias e ideais cristãos legítimos.
E a questão louca da segurança da salvação? Embora a tese da predestinação fosse conhecida em ambiente acadêmico em razão da vitória de Agostinho sobre Pelágio, fato é que nosso mundo sempre foi mais inclinado a acreditar que nossa salvação depende cem por cento de nossos esforços humanos. Aí, novamente vem os reformadores e colocam o dedo na ferida. Se o fizessem hoje ouviriam de muitos Não vos meteis em questões loucas. Ainda que a doutrina em questão tenha de ser lida, relida, e novamente entendida, o fato de não ter de me angustiar com cada espirro que dou, se deve às lutas e reflexões destes homens. Creio que minha salvação é firme e segura em Deus e em Cristo que me amaram antes que eu viesse à existência e que me levarão à salvo para o seu Reino, pensamento que não poderia ter nem expressar em um ambiente no qual para o crente ir para o céu tem de dar uma passada pelo purgatório.
Às vezes temos destruir algo que foi construído de forma errada, para ai sim edificar sobre sólidos e corretos fundamentos. O legado negativo da Reforma foi este: as guerras religiosas aceleraram o processo de secularização da Europa (fato este observável principalmente na França), mas que podemos usar para extrair lições importantes. A principal é esta: a verdade tem de ser falada (mesmo que esta seja indigesta), mas tem de ser dita em amor. Mas de forma alguma o amor, que não se alegra com a injustiça, mas folga com a verdade, pode ser confundido com o silêncio, ou a omissão dos crentes atuais diante das flagrantes distorções do Evangelho.
Não dá mais para ver líderes fazendo o que querem com o Evangelho e se calar em nome de uma pretensa ética, ou de uma suposta edificação. Não dá mais para ver parlamentares evangélicos entrando em nossas igrejas, pedindo votos e demonstrando uma conduta pública que além de contraditória com o Evangelho, é um desserviço à fé em Cristo. Não dá para ver evangelistas defendendo pastores que não demonstram a mínima transparência administrativa. Líderes que disputam qual igreja faz mais milagres, qual possui o maior templo, quem é o maior evangelista do século XX, etc... . A frase eclesia reformata, semper reformata est, é indicador, que em razão de a Igreja ser constituída por homens pecadores, estar sempre sujeita à distorções de sua natureza e propósito. Daí a necessidade de constante revisão teológica e prática. Me despeço rogando a Deus para que o momento presente nos sirva de reflexão e de reavaliação das atitudes a fim de que possamos honrar o legado da Reforma Protestante.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Am 3. 3

 
Resolvi fazer uma breve postagem a respeito deste texto porque tenho percebido que o mesmo é alvo de serias distorções. Não quero com isto dizer que os que fazem uma leitura distorcida o façam por má fé, mas creio que seja justamente pela dificuldade de entender o pensamento do autor e transportar para o momento presente. De forma que o texto diz: Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo? (Am 3. 3 ARCF). O crente lê: "Congregar-se-ão em uma mesma Igreja se não concordarem", ou "se você quiser conviver comigo tem que concordar com tudo o que digo". Este tipo de leitura tem feito do texto uma máxima muito utilizada para aplacar discussões, ou discordâncias. Mas será isto que o texto quer dizer? Com certeza que não.
Em primeiro lugar precisamos ter em mente que há algo de errado quando as pessoas concordam em tudo, e com tudo que a gente diz. Mario Sérgio Cortella diz em sua sabedoria:
bom ter cuidado também com quem concorda com você o tempo todo, em tudo o que você faz. Gente que concorda com tudo o que você faz ou não gosta de você começou a se preparar para derrubá-lo. Porque gente que lhe respeita discorda de você quando tem que discordar. Do contrário, você não consegue crescer. Um concorrente burro te emburrece. Um adversário fraco o enfraquece, porque ele o deixa satisfeito e tranquilo em relação à situação. E essa é uma coisa muito séria.
E,
Cuidado com gente que concorda com tudo o que você faz. Gente assim:
a)      Não gosta de você;
b)      Começou a se preparar para lhe derrubar;
c)       Despreza-lhe;
d)      Não se importa com você;
e)      Todas as alternativas acima
Porque quando você tem verdadeira consideração com a outra pessoa, você a corrige discorda dela. Afinal de contas, nenhum de nos é imune a erro. (do texto a Renovação pelo outro).
O que fica claro aqui é que a discordância é uma forma de nos precaver contra o erro e a ignorância. Isto posto, voltemos ao texto bíblico, afinal de a discordância nos previne quanto ao erro, como ficam as palavras de Amós? A TEB traduz este mesmo texto assim: dois homens andam juntos sem se por de acordo? E a Bíblia de Jerusalém e a Bíblia do Peregrino traduzem respectivamente: caminham duas pessoas juntas sem que antes tenham combinado?, e caminham dois juntos sem ter combinado? A imagem que fica destes texto é a de uma caminhada de dois amigos, que para acontecer demanda acordo.
Acordo jamais deve ser entendido como sendo a concordância destituída de senso critico, algo que advém somente de relações nas quais as pessoas são indiferentes umas as outras. O acordo é a harmonia oriunda do ajuste, do pacto. Somente assim se pode ter e mesma opinião, tal como ocorre na caminhada, ou em qualquer atividade que se faça junto.
Merece o nosso destaque a expressão hebraica que aparece no texto ועָֽדוּ (Ya'adh), cujo significado é, dentre outros, o de uma reunião, ou de um encontro em um tempo estabelecido. Se as pessoas não cumprem os pontos do acordo não tem como se encontrarem, ou se reunirem, e muito menos caminharem juntas.
Mas onde está o erro professor? Agora, prepare-se! Quando lemos o contexto do presente texto, vemos Amós se valendo de uma série de afirmativas de forma a mostrar que nada acontece por acaso. Se duas pessoas não combinarem não se encontram. O leão não brama sem que tenha encontrado uma presa, a queda de uma ave, via de regra é consequência da armadilha que se fez para que a mesma caísse. Quando a trombeta é tocada na cidade as pessoas sabem que, ou é uma convocação, ou é alerta de perigo iminente. TODA AÇÃO TEM UMA REAÇÃO. Nada é por acaso!
Amós está empregando esta sequencia de imagens para dizer que sua ação profética não é obra do acaso, mas é consequência do bramido divino, e o povo rebelde é a presa. Deus está bramando contra o povo, por meio da profecia do boiadeiro e colhedor de sicômoros.
Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas. Rugiu o leão, quem não temerá? Falou o Senhor DEUS, quem não profetizará? (Am 3. 7, 8 ARCF). 
O profeta esteve no conselho divino. Amós emprega o termo segredo, cujo equivalente em Hebraico é סֹ֣וד (sôdh), indicando com isto que ele se encontrou com o Senhor, e é deste encontro que advém sua profecia. É a mesma palavra que o texto bíblico emprega para intimidade (Sl 25. 14) e para plano de guerra (Pv 15. 22). Este é o sentido do texto e a aplicação do mesmo deve de obedecer o sentido que o profeta tinha em mente.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

lição da EBD n° 2: Advertências contra o adultério


Um dos motivos pelos quais os Provérbios (מִ֭שְׁלֵי [mashal[) foram escritos é descrito com as seguintes palavras: Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência. Para dar aos simples, prudência, e aos moços, conhecimento e bom siso (Pv 1. 2, 4 ARCF). Ou seja, a despeito do seu caráter superficial os provérbios são uma fonte de sabedoria. Também temos dito que o proposito da sabedoria (hokmã [חָכְמָ֣ה]) consiste em dar ao que a possui uma capacidade de aplicar os dados do conhecimento para uma vida melhor. Uma das consequências naturais da sabedoria é justamente a aquisição da prudência (ormãh [עָרְמָ֑ה]). E conforme dito, o efeito final da prudência consiste em prever e evitar as inconveniências e os perigos; cautela, precaução. Ao lado da sabedoria e da prudência aparece o temor do Senhor (Yir'ah Yahweh [יְ֭הוָה יִרְאַ֣ת]), que consiste em aborrecer o mal. Mas porque tamanha volta para se falar em advertências contra o adultério? Simples, houve época em nossa sociedade em que adultério era visto como crime, em nossos dias é a prova suprema de masculinidade, ou do poder sedutor das mulheres. O que não falta hoje são pessoas esclarecidas a verem na promiscuidade a expressão máxima da liberdade sexual. Em uma sociedade assim, a pura e simples normatividade não dá contas de responder satisfatoriamente pelas razoes de nós cristãos permanecermos apegados ao preceito não adulterarás.
I) A normatividade da lei
 No decálogo nos deparamos com a seguinte ordem legal: Não adulterarás (Ex 20. 14 ARCF), aqui percebemos o emprego do verbo hebraico na'aph (נְאָֽ֑ף), cujo sentido varia entre o ato do adultério e a apostasia. Este mesmo mandamento é visto ainda na lei da seguinte forma: Nem te deitarás com a mulher de teu próximo para cópula, para te contaminares com ela (Lv 18. 20 ARCF). A sanção da lei era a morte para quem cometesse tal pecado. Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera (Lv 20. 10 ARCF). Neste texto vemos novamente o verbo hebraico na'aph (נְאָֽ֑ף). Até o procedimento para os ciúmes do marido, que não tinha provas quanto à infidelidade de sua mulher é normatizado pela lei (Nm 5. 12 - 31).
Mas bem antes que houvesse lei, o adultério [ na'aph (נְאָֽ֑ף)] já era entendido como sendo pecado. É isto que o texto narrativo da passagem de Jose na casa de Potifar da a entender. Quando a mulher de seu senhor tentou seduzir o jovem hebreu, este respondeu: Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo, e entregou em minha mão tudo o que tem; Ninguém há maior do que eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu és sua mulher; como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus? (Gn 39. 8, 9 ARCF).  O adultério não é apenas um pecado contra o próximo, é um pecado contra Deus. Mas por quê? Para respondermos a este questionamento temos de fazer uma exegese de Lv 18. 20.
O texto diz que o homem que se deita com a mulher do próximo se contamina com ela. Aqui vemos o emprego de um verbo hebraico (tãmé [טָמְאָ]), cujo sentido é o de profanar, contaminar, ou corromper, e neste caso, aos olhos de Deus. Podemos entender que tal ato consiste em tratar com irreverência as coisas sagradas; desrespeitar a santidade de. Ofender; manchar; macular. Para que o leitor não pense que estamos nos atendo exclusivamente ao Antigo Testamento, lançaremos mãos de um texto do Novo em que fica claro que esta ideia de que o adultério macula algo que é sagrado permanece mesmo ali. Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e aos adúlteros, Deus os julgará (Hb 13. 4 ARCF).
O termo venerado, ou digno de honra, ou respeitável, é a tradução do grego τιμιος (Timios), que de acordo com Rienecker e Rogers, indica aquilo que é respeitável. O texto deixa claro que o adultério é um ato de banalização da relação sexual, que no texto é aludida pela palavra leito (do gr κοιτη [koitee]). κοιτη é exatamente a mesma palavra para coito em nosso idioma. Coito é o mesmo que cópula carnal. E o mais curioso é que uma das definições que o nosso dicionário dá para a expressão é: ligação, união. Em cartas de um diabo a seu aprendiz, C. S. Lewis afirma que todo ato sexual cria uma ligação entre o homem e a mulher, Através de uma sátira, o autor deixa claro que o alvo do diabo é fazer com que este aspecto do sexo seja cada vez mais banalizado.
II) A radicalidade da sabedoria
Convém ressaltar que a despeito de tudo quanto afirmamos acima, vivemos em uma sociedade em que o prazer está acima da ética e da moral. Quando o prazer é tudo o que importa, Deus é deixado de lado, e uma vez abandonado, as suas leis perdem efeito e força nos corações humanos. É neste ponto que o temor do Senhor se faz importante. Daí que provérbios comece com o ensino da sabedoria, avance para o temor do Senhor (Yir'ah Yahweh [ יִרְאַ֣ת יְ֭הוָה]), como o princípio da mesma. Existem regras que somente são obedecidas quando uma moral, ou uma ética é internalizada, a internalização dos valores e dos preceitos divinos fazem com que o homem se desvie do pecado. Não é sem razão que Salomão exorta ao seu filho nas seguintes palavras: Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal (Pv 3. 7 ARVF). E, Pela misericórdia e verdade a iniquidade é perdoada, e pelo temor do Senhor os homens se desviam do pecado (Pv 16. 6 ARCF). 
Para que a sabedoria esteja internalizada no íntimo dos homens, é necessário que aquele que a busca atente para as palavras do sábio e se disponha a viver a lei do Senhor. Provérbios tem quatro capítulos nos quais vemos uma advertência contra o adultério (Pv 2. 16 - 19; 5. 1ss; 6. 24 - 35; 7. 5 - 27). Em todos estes textos o ato de evitar o adultério é produto não de uma norma, mas da internalização de um mandamento.
Filho meu, se aceitares as minhas palavras, e esconderes contigo os meus mandamentos,
Para fazeres o teu ouvido atento à sabedoria; e inclinares o teu coração ao entendimento;
Se clamares por conhecimento, e por inteligência alçares a tua voz, Se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, Então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus. Pois quando a sabedoria entrar no teu coração, e o conhecimento for agradável à tua alma, bom siso te guardará e a inteligência te conservará; Para te afastar da mulher estranha, sim da estranha que lisonjeia com suas palavras (Pv 2. 1 - 5, 10, 11, 16 ARCF). 
Digno de destaque neste texto é que a sabedoria torna agradável o conhecimento para a alma, e em decorrência de tal junção, o bom siso (me'ezimah [מְ֭זִמָּה]) guarda o homem. O mais curioso é que na maior parte das vezes, esta mesma palavra é empregada com a ideia de urdidura, plano, estratagema. E a despeito do emprego da mesma em Provérbios com este sentido, o texto em apreço indica que me'ezimah [מְ֭זִמָּה] aqui tem o sentido de prudência, descrição e bom senso (Pv 1. 4; 5. 2).  Daí o apelo: Filho meu, atende à minha sabedoria; à minha inteligência inclina o teu ouvido; Para que guardes os meus conselhos e os teus lábios observem o conhecimento (Pv 5. 1, 2 ARCF). Aqui o termo conselho é me'ezimah [מְ֭זִמָּה].
Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a lei da tua mãe; Ata-os perpetuamente ao teu coração, e pendura-os ao teu pescoço. Quando caminhares, te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo. Porque o mandamento é lâmpada, e a lei é luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida, Para te guardarem da mulher vil, e das lisonjas da estranha (Pv 6. 20 - 24 ARCF)
Note, que particularmente neste caso, a intenção é que o mandamento seja um tipo de voz interior que fala ao individuo. Todavia para que o mandamento fale, este tem de estar atado ao coração. É deste que procedem as fontes da vida (Pv 4. 23). Somente assim o pecado em geral pode ser evitado. Na proporção em que o mandamento é luz e vida, o leito da mulher estranha é morte (Pv 2. 18; 6. 33, 34; 7. 27).
Filho meu, guarda as minhas palavras, e esconde dentro de ti os meus mandamentos.  Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos. Ata-os aos teus dedos, escreve-os na tábua do teu coração.  Dize à sabedoria: Tu és minha irmã; e à prudência chama de tua parenta, Para que elas te guardem da mulher alheia, da estranha que lisonjeia com as suas palavras (Pv 7. 1 - 5 ARCF)
Em todos estes textos o livramento da mulher estranha, ou da adultera advém da aceitação da doutrina que o sábio tem para transmitir. A sabedoria (hokmã [חָכְמָ֣ה]), e a prudência (ormãh [עָרְמָ֑ה]), são as principais responsáveis pela vida impoluta do jovem. Estes são os segredos para se vencer o adultério.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

domingo, 6 de outubro de 2013

Evangélico sim, e com muito orgulho

 
Há dois dias atrás postei aqui um post cuja temática abordava o papel vergonhoso dos vereadores evangélicos no processo de aprovação de uma lei que não contemplava as justas reivindicações dos professores. Ao fim do post fiz questão de me identificar como Evangélico que não se envergonha do Evangelho, mas que cora de vergonha dos políticos que se definem desta forma visando exclusivamente o voto dos evangélicos, mas que na hora de honrarem o Evangelho, aprovam leis injustas, mostrando ausência de compromisso com ideais evangélicos (aqui).  Para a gloria de Deus, me deparei com a notícia de que na próxima terça, haverá um ato de solidariedade aos professores, e que os evangélicos estão encabeçando o movimento. É este tipo de atitude que me dá orgulho de ser evangélico.
 
Marcelo Medeiros, ainda com vergonha dos vereadores evangélicos que em nome da politica partidária venderam as suas consciências, mas com orgulho do Evangelho de Cristo.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O papel vergonhoso dos vereadores evangelicos do municipio do Rio

 

Cresci no Evangelho durante um período em que não era comum ver crente se envolvendo com politica, e os poucos que se envolviam não eram vistos com bons olhos, ao menos esta era a realidade de minha casa e da congregação na qual fui criado. Com o passar do tempo, lá pela década de oitenta do século passado, presenciei a emergência de políticos e mais políticos ditos evangélicos e com os mesmos o surgimento de toda uma teologia que visava justificar a presença dos mesmos no meio politico. Ricardo Mariano que o diga, afinal, este autor se manifesta a respeito desta postura em dois trabalhos, o primeiro, intitulado "A Reação dos Evangélicos ao Novo Código Civil", e o segundo tem por título "Efeitos da Secularização do Estado, do pluralismo e do mercado religioso sobre as Igrejas pentecostais".
No primeiro trabalho o autor destaca a articulação politica dos parlamentares evangélicos com vistas a impedir quaisquer intervenções, sejam boas, sejam más, por parte do Estado na estrutura e funcionamento das organizações evangélicas. Todavia, ressalta o autor, tal intervenção se dá no plano político e no ideológico. Como? Por meio da construção de uma imagem de entidade perseguida, sempre ameaçada pelo governo, e que precisa do aparato político para se defender. O resultado, esta nova classe política vende junto à sua clientela uma imagem de defensores dos interesses do Reino de Deus em um mundo hostil. A impressão que se tem é que tal processo constitui-se um entrave à laicização e à secularização do nosso estado. Retornando ao autor supracitado, nada mais falso do que isto.
Por quê? No segundo trabalho, Mariano responde que as instituições estão organizadas de uma forma secularizada, como se fossem empresas. O apelo às estratégias de marketing, a gestão centralizada (em nada democrática), a venda do sagrado e do miraculoso, como se estes fossem produtos, são fatores indicadores de que tais instituições se encontram secularizadas e assim sendo nada podem fazer para deter o processo de secularização que se instaurou em nossa sociedade, visto que o mesmo é presenciado no interior daquelas. Para justificar e encobrir possíveis discrepâncias aos olhos dos fieis (palavras minhas), tais líderes apelam à Teologia da Prosperidade. A forma com a qual Mariano resume esta teologia, merece nossa atenção.
De acordo com Mariano, o cerne da Teologia da Prosperidade consiste em que o crente, ou cristão tem de ocupar lugares estratégicos na sociedade, a fim de que sua posição seja usada para maior beneficio do Reino de Deus. Cabe aqui a pergunta a respeito do que venha a ser o Reino de Deus, este é uma teocracia, ou a mensagem que Jesus trouxe? Lembremos que Jesus não procurou em momento algum estabelecer uma teocracia. O grande problema de toda boas mentira, é o fundo de verdade que ela possui e o papel de quem faz teologia é, dentre outros, separar a verdade do erro. Assim, cabe aqui a observação de que a primeira parte do pensamento acima exposto se parece muito com a ética protestante do século XVIII e XIX, sendo que não se encontra presente nesta nem a noção de educação como um valor em si, e muito menos a prática da ascese.
A tradição protestante cunhou a noção de que a Educação é um valor em si. Os esforços de Comenius, de Robert Raikes e tantos outros com respeito a alfabetização, visavam uma maior instrução do povo, a fim de que o mesmo pudesse ler e interpretar a Bíblia por si mesmo. Daí que nos países protestantes a Educação seja um valor em si, ao passo que em países de tradição católica esta é um meio para algo, ou se do contrário, é inútil. Já a doutrina da ascese proclamava que o fim do acumulo de riqueza jamais deveria de ser o luxo, ou a ostentação. Ambas concepções estão ausentes nesta teologia da prosperidade, cujo fim é a justificativa do procedimento prodigo de líderes ditos evangélicos. O produto final é uma teologia que justifica o egoísmo, e que por este motivo vai na contramão da visão de Reino de Deus ensinada na Bíblia.
Somando as conclusões do primeiro trabalho com as do segundo, concluo que na mesma proporção em que empresários e diversos setores sociais se fazem representar na esfera política, isto se dá com os políticos evangélicos. O problema começa com o fato de que nem a visão evangélica, nem a teologia de tradição protestante coadunam com a postura politico ideológica. Na verdade é justamente o que falta aos ditos candidatos, um comprometimento político e ideológico afinado com os valores bíblicos, o que somado à falta de conhecimento (por parte de grande parcela dos evangélicos) do que seja de fato o cristianismo resulta em tragédias tais como a que vimos no caso da greve dos professores.
A despeito do caráter legítimo do movimento dos professores no Município do Rio de Janeiro, que lutam por salários melhores e por uma educação melhor, vereadores evangélicos, cujo nome não mencionarei, votaram favoráveis ao prefeito ao invés de levantarem a voz contra a vergonha que se vê. Tal postura, conforme descrevi acima, se alinha com o total descomprometimento com a causa. Melhorias na educação passam inevitavelmente pela valorização da profissão docente. Esta, conforme ouvi de meu professor de Biologia, no ensino médio, é uma profissão de carreira, que o governo transformou em bico, e o fez por meio da política de desvalorização salarial.
O que se espera de um governo minimamente comprometido com a Educação é que este valorize os profissionais (que ingressam na carreira mediante concurso público), da mesma por meio de remuneração e reconhecimento do aperfeiçoamento constante dos mesmos. Uma coisa brilhantemente ignorada pela maioria dos cidadãos de nosso país é que a aparentemente baixa carga horaria dos professores se dá em razão de ser esta uma atividade que demanda constante atualização e estudo. Creio que parte do sofrimento dos professores, tal como acontece com os músicos, se dê em razão de que em nosso país, a educação é tida como um luxo, e somente é valorizada se produz algum tipo de retorno financeiro, e, ou ascensão social. Para maiores informações ver Otaíza de Oliveira Romanelli, Historia da Educação no Brasil. O produto final é a desvalorização de uma profissão fundamental.
Infelizmente esta semana se encerra com a vergonhosa participação dos políticos evangélicos na aprovação de um plano de cargos e salários que não contempla as reivindicações feitas pelos nossos professores. Sim no lugar de votarem com a consciência, votaram com as legendas. Com isto nada mais fizeram do que confirmar o perfil descrito no presente texto. Ao ler a história, vejo reformadores cujo papel foi fundamental para a causa social, e fizeram isto sem necessariamente serem eleitos como políticos. Há, é claro, o exemplo positivo dos puritanos que ao ocuparem vagas no parlamento inglês, se doaram de verdade pelo Reino. Diante de tal realidade, peço a Deus que levante tais homens, porque o Rio de Janeiro, particularmente está precisando.

Marcelo Medeiros, Evangélico morto de vergonha, não do Evangelho, mas dos políticos evangélicos.
 
 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Lição da EBD n° 1: O valor de um bom conselho


Conselho nada mais é do que uma opinião, um parecer sobre o que convém fazer; aviso, advertência, podendo também ser entendido como uma assembleia de pessoas que deliberam sobre certos assuntos, é neste último sentido que se fala em conselho estadual, ou municipal de   educação. A ideia que permeia tais conselhos é a de que cada pensamento se confirma com conselho e com bons conselhos se faz a guerra (Pv 20. 18). O livro de Provérbios, constitui-se como uma literatura voltada para aquisição da sabedoria, e por este motivo, afirma incessantemente o valor dos bons conselhos.
 
I) A sabedoria de Provérbios.
 
Os provérbios são máximas expressas em poucas palavras e que por este motivo se tornaram populares. Rifão, anexim, adágios são palavras sinônimas para provérbios. O Dicionário Aurélio na versão virtual traz ainda as seguintes informações:
O rifão tem estilo vulgar, às vezes com termos baixos; o anexim, sentencioso, contém ironia ou chiste. O adágio, o rifão e o anexim são chamados pelo povo de ditados. Todas as línguas têm seus provérbios. Com frequência os mesmos provérbios com formas diferentes ocorrem entre muitos povos e cm épocas diferentes. Às vezes, provérbios semelhantes têm a mesma origem. Em outros casos não têm provavelmente nenhuma conexão. A Bíblia contém um livro inteiro de provérbios. Estes provérbios são até hoje de uso comum, especialmente em países de maioria protestante.
Na Bíblia há um livro feito apenas de tais sentenças. Ele recebe em nossa língua o nome de Provérbios (hb mashal [מִ֭שְׁלֵי]). A finalidade do mesmo consiste justamente em transmitir lições de modo fácil e que as mesmas permaneçam na mente do ouvinte. Seguindo Gordon Fee e Douglas Stuartt, um grande erro que se pode cometer com os provérbios da Bíblia consiste em deixar de perceber o seu caráter pedagógico e interpretar os mesmos como se fossem leis. Este erro é cometido principalmente pelos que seguem a moral de causa e efeito.
Dois provérbios deixam claro que se não forem acompanhados pela sabedoria, as máximas de nada adiantam. Como as pernas do coxo, que pendem flácidas, assim é o provérbio [וּ֝מָשָׁ֗ל] na boca dos tolos (Pv 26. 7 ARCF). Entenda que no caso do coxo, as pernas perdem a sua principal função, de igual modo o proverbio na boca do tolo, visto que este não possui o sendo para aplicar as lições ali contidas. Como o espinho que entra na mão do bêbado, assim é o provérbio [וּ֝מָשָׁ֗ל] na boca dos tolos (Pv 26. 9 ARCF). Entenda que o bêbado, é por definição alguém cujo o cérebro perturbado pela ação do álcool, de modo que ele não pode socorrer a si mesmo quando um espinho entra em sua pele.
 
II) O propósito, ou finalidade de Provérbios
 
Provérbios é uma coletânea de adágios cujo propósito final é o de transmitir a sabedoria (hokmã [חָכְמָ֣ה]), aqui entendida não como saber, mas como habilidade para aplicar o conhecimento de forma prática. Para maiores informações, ver neste blog, o estudo Sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa. Ao lado da sabedoria temos a instrução (mushar [מוּסַ֣ר]), esta mesma palavra é utilizada em Jó 12. 18 para atadura, mas os autores bíblicos a usam para castigo (Pv 1. 8; 13. 1, 24), correção (Pv 3. 11).
Para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade (Pv 1. 3 ARCF), o final da disciplina aqui é a pratica da justiça, juízo e equidade. O objetivo principal aqui é que o homem de Deus, de posse das sagradas letras que podem nos tornar sábios para a salvação que há em Cristo, se torne plenamente instruído em toda a boa obra (II Tm 3. 14 - 17).
Para dar aos simples, prudência, e aos moços, conhecimento e bom siso (Pv 1. 4 ARCF). A aquisição da prudência (ormãh [עָרְמָ֑ה])é uma das finalidades do ensino dos provérbios. Não é sem razão que a sabedoria clama: Entendei, ó simples, a prudência; e vós, insensatos, entendei de coração (Pv 8. 5 ARCF). Uma vez personificada a sabedoria afirma: eu a sabedoria, habito com a prudência, e acho o conhecimento dos conselhos (Pv 8. 12 ARCF). Em todos estes casos, tem a ver com a capacidade de prever e evitar as inconveniências e os perigos; cautela, precaução.
Mediante leitura dos provérbios, os sábios ouvem a sabedoria dos antigos e adquirem mais e mais conhecimento, ou לֶ֑קַח (leqãh), cujo sentido real é o de um aprendizado recebido por meio da ação de um mestre. O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos (Pv 1. 5 ARCF).
Sem este trabalho anterior, a verdade expressa nos provérbios não pode ser plenamente entendida, afinal, a vida não é feita de regras inflexíveis, do tipo pode, ou não pode. Pelo contrário! O temor, este sim, é o caminho para a sabedoria (Pv 1. 7). Com isto os escritores bíblicos estão nos dizendo que: pela misericórdia e verdade a iniquidade é perdoada, e pelo temor do Senhor os homens se desviam do pecado (Pv 16. 6 ARCF).
O sábios judeus tem toda a razão em afirmar: No temor do Senhor há firme confiança e ele será um refúgio para seus filhos. O temor do Senhor é fonte de vida, para desviar dos laços da morte (Pv 14. 26, 27 ARCF). Mas o que é o temor do Senhor? A sabedoria responde: O temor do Senhor é odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu odeio (Pv 8. 13 ARCF). Não se trata de regras, mas de temer a Deus a fim de que o mal seja evitado, daí o entendimento mais do que comum que o temor do Senhor é o principio da Sabedoria.
 
III) O valor do bom conselho
 
Via de regra a expressão לְעֵצָ֣ה (eshah) é empregada nos livros sapienciais de forma positiva para o conselho oriundo da sabedoria. Mas pode também ser entendido como urdidura, trama, e é estritamente neste sentido que o sábio afirma: Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho [עֵ֝צָ֗ה] contra o Senhor (Pv 21. 30 ARCF). Creio firmemente que a razão de ser de tal afirmativa seja o fato de que ninguém pode surpreender a Deus, pelo contrário! É Ele que aniquila as imaginações dos astutos, para que as suas mãos não possam levar coisa alguma a efeito. Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e o conselho [ לְעֵצָ֣ה] dos perversos se precipita (Jó 5. 12, 13 ARCF). 
Mas o caso de Roboão, mostra que para ouvir o bom conselho é necessário um coração sábio (I Rs 12. 8, 13, 14). E o caso de Absalão, que preferiu o conselho de Husai ao de Aitofel, nos mostra que mesmo quando o conselheiro é astuto, é Deus quem detém o poder de confirmar, ou derrotar o conselho (II Sm 17. 7, 14, 23). Aqui se confirmar as palavras que Elifaz proferiu para Jó: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e o conselho [ לְעֵצָ֣ה] dos perversos se precipita (Jó 5. 12, 13 ARCF). E, Muitos propósitos há no coração do homem, porém o conselho do Senhor permanecerá (Pv 19. 21 ARCF).
Salomão ainda afirma que Quando não há conselhos os planos se dispersam, mas havendo muitos conselheiros eles se firmam (Pv 15. 22 ARCF). Aqui cabe a observação de que a palavra para planos é סֹ֣וד (sôdh), que pode ser compreendida como intimidade (Sl 25. 14), ou planejamento secreto (Pv 15. 22). Em dois casos, o uso do termo indica que por ter intimidade com os seus, Deus lhes revela seus propósitos e segredos íntimos (Sl 25. 14; Pv 3. 32). Para todos os efeitos a sabedoria é mais do necessária para que possamos discernir entre o bom e o mau conselho, entre o conselho que vem de Deus, e o que não vem d'Ele.
O salmista afirma: Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho [ לְעֵצָ֣ה] dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores (Sl 1. 1 ARCF). Jó discorda do conceito de que com os idosos está a sabedoria. Para este a sabedoria está em adquirir os conselhos de Deus. Afinal
Na sua mão está a alma de tudo quanto vive, e o espírito de toda a carne humana.  Porventura o ouvido não provará as palavras, como o paladar prova as comidas? Com os idosos está a sabedoria, e na longevidade o entendimento.  Com ele está a sabedoria e a força; conselho e entendimento tem.  Eis que ele derruba, e ninguém há que edifique; prende um homem, e ninguém há que o solte (Jó 12. 10 - 14 ARCF). 
O bom conselho é muito valioso. Daí o conselho do sábio: Ouve o conselho, e recebe a correção, para que no fim sejas sábio (Pv 19. 20 ARCF). Cada pensamento se confirma com conselho e com bons conselhos se faz a guerra (PV 20. 8 ARCF). Mas os que não ouvem e nem aceitam o conselho da sabedoria comerão dos frutos das suas ações (Pv 1. 25 - 32). Que Deus nos dê mais e mais de sua sabedoria para que possamos filtrar os conselhos, ouvir e colocar em prática os bons conselhos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.
                                                                                                                                                           
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