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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Lição da EBD n° 4: Lidando de forma correta com o dinheiro

 
O tema da lição da nossa semana é: Lidando de forma correta com o dinheiro. O aprendizado implícito na mesma é o de que não nos basta o trabalho e a prosperidade, temos de aprender a administrar nossos recursos com a máxima e devida correção. A expressão lidar é praticamente um verbo em nosso idioma. O que pouco se sabe é que lidar vem de lida, e significa batalhar, combater, pelejar; trabalhar afanosamente; esforçar-se. Por sua vez "forma" indica um molde, um padrão a ser seguido, daí o adjetivo correta para se referir ao modelo em questão. As lições básicas então são: 1) é preciso saber lidar com o dinheiro, 2) existem padrões para se trabalhar com o dinheiro, 3) Existe uma forma acertada para se lidar com o dinheiro.
I) É preciso lidar com o dinheiro
Aqui é necessário entender que além da definição lexical já apontada na introdução, o sentido de lida tem de ser aprofundado. O dicionário define ainda o verbo lidar da seguinte forma: Enfrentar dificuldades ou problemas e achar expedientes necessários para superá-los ou resolvê-los. Esta definição é importante visto que a falta de dinheiro traz problemas, mas a riqueza de recursos também traz problemas. O pobre é odiado até pelo seu próximo, porém os amigos dos ricos são muitos (Pv 14. 20 ARCF). As riquezas granjeiam muitos amigos, mas ao pobre, o seu próprio amigo o deixa (Pv 19. 4 ARCF). Aqui se faz necessária uma pausa, para a reflexão. Os textos acima descrevem a realidade, mas não a forma correta de administrar a vida. Muitos se deixam acomodar pelos favores do príncipe, e cada um é amigo daquele que dá presentes. Todos os irmãos do pobre o odeiam; quanto mais se afastarão dele os seus amigos! Corre após eles com palavras, que não servem de nada (Pv 19. 6, 7 ARCF).

Os textos são claros quem possui poucos recursos também não possui amigos e quem tem abundancia de bens também não tem. No primeiro caso, em função do interesse, no segundo por causa da falsidade. A este respeito Jesus Ben Sirac (um sábio do período Inter bíblico) é mais enfático. Ele diz: Na prosperidade não se pode reconhecer um verdadeiro amigo, não adversidade um inimigo não pode se esconder. Quando um homem é feliz seus inimigos ficam na tristeza, na adversidade até os amigos desaparecem (Eclo 12. 8, 9 Bíblia de Jerusalém).

A lida para com o dinheiro começa com a luta para que este jamais se torne o nosso Senhor, afinal, o dinheiro é um péssimo patrão. Veja este trecho extraído de um artigo de Mário Sérgio Cortella, "dinheiro para quê dinheiro?".
é preciso prestar atenção num dos ensinamentos proferidos por Alexandre Dumas Filho à Dama das Camélias: "Não estimes o dinheiro nem mais nem menos do que ele vale; é um bom servidor e um péssimo amo". (Cortella, 2013, disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1904200119.htm).
O pregador estava certíssimo ao afirmar: Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade (Ec 5. 10 ARCF). Também lidamos com o dinheiro a fim de que o mesmo seja o nosso servo, e em sendo o nosso servo, ele sirva ás causas mais elevadas. Afinal, pensadores das mais diversas áreas do conhecimento reconhecem a força sedutora do dinheiro. Aqui é preciso que se considere mais uma vez o que diz Cortella:
A sedução obsessiva pelo dinheiro é tamanha que a atração que exerce independe de apelos eróticos, como acontece com outras mercadorias na nossa sociedade. O inquietante pensador Millôr Fernandes (no livro "Millôr Definitivo: A Bíblia do Caos") faz uma reflexão extremamente arguta: "É tal a força do dinheiro que, por isso mesmo, é o único veículo de transa social que não utiliza, em sua promoção, imagem de mulher nua ou pelo menos sexy. Você nunca viu papel-moeda com seios, coxas ou bumbuns estampados. Em todo o mundo, as notas só nos mostram escritores barbudos, políticos carecas, santos esquálidos. No máximo, uma rainha Vitória, uma imagem da República bonita, mas machona, ou uma égua acabrunhada montada por um herói oficializado (o que não teve tempo de fugir) (...) Não, o dinheiro não precisa desses reforços afrodisíacos. Formal, careta, feio, sujo, rasgado, colado, ele é sempre mais sexy do que a Marilyn em seus melhores momentos".
Toda propaganda traz consigo o apelo ao sexo como forma de exigência de resposta positiva do cérebro humano, apenas o dinheiro foge à regra. Daí a necessidade que se lide com o dinheiro, que se trabalhe com o mesmo.

II) Formas distorcidas de se lidar com o dinheiro

Há quem lide com o dinheiro como se este fosse seu senhor, e conforme dito acima, o dinheiro é um bom servidor e um péssimo amo. Daí que pessoas que já são possuidoras do mesmo se entreguem à avareza. Para Salomão, O príncipe falto de entendimento é também um grande opressor, mas o que odeia a avareza prolongará seus dias (Pv 28. 16 ARCF). Jesus disse: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui (Lc 12. 15 ARCF). A palavra Hebraica para avareza é בָּ֑צַע (batsa'), cujo sentido pode ser o de algum juízo mediante a guerra e consequentemente o saque, ou a cobiça, conforme vemos no seu emprego em Provérbios. No Novo Testamento, esta palavra é πλεονεξιας (pleonexia), ou πλεονεξιαι (pleonexiai), cujo sentido é o de cobiça por ganho.

É deste sentimento que brotam o suborno, é quando se faz necessário ouvir novamente ao velho Salomão, para quem, O que agir com avareza perturba a sua casa, mas o que odeia presentes viverá (Pv 15. 27 ARCF). O ímpio aceita suborno debaixo do manto para distorcer o direito (Pv 17. 23 Bíblia de Jerusalém). O pregador afirma: Verdadeiramente que a opressão faria endoidecer até ao sábio, e o suborno corrompe o coração (Ec 7. 7 Bíblia de Jerusalém). A lei do suborno em Deuteronômio  versa: Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem receberás peitas; porquanto a peita cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos justos (Dt 16. 19 ARCF).

A palavra hebraica para suborno é a mesma para presente שֹׁ֖חַד (shohad). Neste caso nem sempre o emprego é negativo, sendo considerado como estratégico em alguns casos. Daí que Salomão mesmo tenha afirmado: O presente dado em segredo aplaca a ira, e a dádiva no regaço põe fim à maior indignação (Pv 21. 14 ARCF). Há somente uma ocorrência do termo שַׁלְמֹנִ֑ (shalmon), cujo sentido pode ser tanto o de recompensa quanto o de suborno, sendo este último o mais apropriado em função do contexto.

Outra forma distorcida de se ter o dinheiro consiste em colocar o mesmo como senhor, e a advertência de jesus é bem clara: Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6. 24 NVI). O contexto deixa claro o homem se torna escravo do dinheiro na medida em que se deixa dominar pela ansiedade, envida todos os meios para que uma vez de posse da riqueza o traga segurança. Aqui é preciso que se considere a forma acertada de se lidar com o dinheiro.
III) Lidando com o dinheiro de forma acertada
Jesus ensinou claramente que o dinheiro não deve ser senhor, caso contrário, o aquele que o serve não poderá servir a Deus (Mt 6. 24). O contexto nos indica que o dinheiro se torna senhor do homem quando este não percebe o amor e o cuidado do Pai celeste e se entrega á ansiedade (Mt 6. 25 ss). Para que tal tendência seja vencida, o Reino de Deus há de ser colocado em primeiro lugar (Mt 6. 33). Precisamos considerar que colocar o Reino de Deus em primeiro lugar nada tem a ver com a dedicação ás coisas espirituais. Afinal, é bem possível, ser espiritual com uma mentalidade carnal; daí a plena viabilidade de uma religiosidade voltada ao lucro, é desta forma que os falsos mestres agem (I Tm 6. 3 - 11; II Pe 2. 1 - 3). Buscar o Reino é entregar-se ao cuidado do Pai, e isto, entendendo que a vida humana não consiste na abundancia de bens (Lc 12. 15), pelo contrário, é possível ao homem ganhar o mundo e perder a alma (Mt 16. 26; Mc 8. 36, 37).

Dinheiro é fundamental, mas não é essencial. Esta distinção não é perceptível nos dicionários, mas de acordo com Cortella, as pessoas estão começando a fazer. Afinal,
Essencial é tudo aquilo que você não pode deixar de ter: felicidade, amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, religiosidade. Fundamental é tudo aquilo que o ajuda a chegar ao que é essencial. Por exemplo, trabalho não é essencial, é fundamental. Você não trabalha por trabalhar, você trabalha porque o trabalho lhe permite atingir a amizade, a felicidade, a solidariedade. Dinheiro não é essencial, é fundamental. Sem ele, você passa por dificuldade, mas ele em si, não é essencial (Cortella, Mário Sérgio. Fundamental é chegar ao essencial. In Qual é a tua obra? Petrópolis, Vozes 2011, p. 63, 64).
Sob esta ótica, precisamos considerar que o dinheiro é um excelente escravo, se nós o usamos como meio para alcançar coisas mais importantes, tipo: felicidade, amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, religiosidade. Mas ele passa a ser um péssimo senhor quando nos priva destas coisas, afinal, Salomão mesmo pergunta: Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha? (Ec 3. 9 ARCF), a resposta é: não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida; e também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus (Ec 3. 12, 13 ARCF). Em outras palavras Cortella está em sintonia plena com o Pregador. Afinal, este diz:
Há um mal que tenho visto debaixo do sol, e é mui freqüente entre os homens: Um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja, e Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho lho come; também isto é vaidade e má enfermidade. Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, e os dias dos seus anos forem muitos, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele (Ec 6. 1 - 3 ARCF). 
Uma segunda reflexão de suma importância quando consideramos o que diz a Bíblia em sintonia com a sabedoria atual é que na busca pelo dinheiro o homem pode perder a sua alma. O termo para alma aqui é ψυχην (psichén), que pode ser traduzido por vida. Ou seja, existem pessoas que no afã de uma vida melhor terminam por perder sua própria vida. É o caso de executivos e executivas que a fim de darem contas das demandas de um mercado de trabalho perdem a criação dos filhos, pior se omitem inteiramente da mesma.
Até onde nós vamos? Até onde eu, executivo, vou levar a minha vida ao esgotamento à custa do quê? De ter mais relógios, canetas, carros, de poder consumir mais? Se estou perdendo a minha vida, estou vendendo a minha alma. Alias, os cristãos tem uma frase que muitos executivos deveriam pensar sempre. Diz: de nada adianta um homem ganhar o mundo se ele perder a sua alma. (Cortella, Mário Sérgio. Gestão pessoal, gestão vital. In Qual é a tua obra? Petrópolis, Vozes 2011, p. 59).
Quando aquilo que é meio se torna fim, aquilo que fundamental se transforma no que é essencial, o homem perde a sua alma. Que saibamos lidar de forma acertada com o dinheiro.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

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