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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O papel vergonhoso dos vereadores evangelicos do municipio do Rio

 

Cresci no Evangelho durante um período em que não era comum ver crente se envolvendo com politica, e os poucos que se envolviam não eram vistos com bons olhos, ao menos esta era a realidade de minha casa e da congregação na qual fui criado. Com o passar do tempo, lá pela década de oitenta do século passado, presenciei a emergência de políticos e mais políticos ditos evangélicos e com os mesmos o surgimento de toda uma teologia que visava justificar a presença dos mesmos no meio politico. Ricardo Mariano que o diga, afinal, este autor se manifesta a respeito desta postura em dois trabalhos, o primeiro, intitulado "A Reação dos Evangélicos ao Novo Código Civil", e o segundo tem por título "Efeitos da Secularização do Estado, do pluralismo e do mercado religioso sobre as Igrejas pentecostais".
No primeiro trabalho o autor destaca a articulação politica dos parlamentares evangélicos com vistas a impedir quaisquer intervenções, sejam boas, sejam más, por parte do Estado na estrutura e funcionamento das organizações evangélicas. Todavia, ressalta o autor, tal intervenção se dá no plano político e no ideológico. Como? Por meio da construção de uma imagem de entidade perseguida, sempre ameaçada pelo governo, e que precisa do aparato político para se defender. O resultado, esta nova classe política vende junto à sua clientela uma imagem de defensores dos interesses do Reino de Deus em um mundo hostil. A impressão que se tem é que tal processo constitui-se um entrave à laicização e à secularização do nosso estado. Retornando ao autor supracitado, nada mais falso do que isto.
Por quê? No segundo trabalho, Mariano responde que as instituições estão organizadas de uma forma secularizada, como se fossem empresas. O apelo às estratégias de marketing, a gestão centralizada (em nada democrática), a venda do sagrado e do miraculoso, como se estes fossem produtos, são fatores indicadores de que tais instituições se encontram secularizadas e assim sendo nada podem fazer para deter o processo de secularização que se instaurou em nossa sociedade, visto que o mesmo é presenciado no interior daquelas. Para justificar e encobrir possíveis discrepâncias aos olhos dos fieis (palavras minhas), tais líderes apelam à Teologia da Prosperidade. A forma com a qual Mariano resume esta teologia, merece nossa atenção.
De acordo com Mariano, o cerne da Teologia da Prosperidade consiste em que o crente, ou cristão tem de ocupar lugares estratégicos na sociedade, a fim de que sua posição seja usada para maior beneficio do Reino de Deus. Cabe aqui a pergunta a respeito do que venha a ser o Reino de Deus, este é uma teocracia, ou a mensagem que Jesus trouxe? Lembremos que Jesus não procurou em momento algum estabelecer uma teocracia. O grande problema de toda boas mentira, é o fundo de verdade que ela possui e o papel de quem faz teologia é, dentre outros, separar a verdade do erro. Assim, cabe aqui a observação de que a primeira parte do pensamento acima exposto se parece muito com a ética protestante do século XVIII e XIX, sendo que não se encontra presente nesta nem a noção de educação como um valor em si, e muito menos a prática da ascese.
A tradição protestante cunhou a noção de que a Educação é um valor em si. Os esforços de Comenius, de Robert Raikes e tantos outros com respeito a alfabetização, visavam uma maior instrução do povo, a fim de que o mesmo pudesse ler e interpretar a Bíblia por si mesmo. Daí que nos países protestantes a Educação seja um valor em si, ao passo que em países de tradição católica esta é um meio para algo, ou se do contrário, é inútil. Já a doutrina da ascese proclamava que o fim do acumulo de riqueza jamais deveria de ser o luxo, ou a ostentação. Ambas concepções estão ausentes nesta teologia da prosperidade, cujo fim é a justificativa do procedimento prodigo de líderes ditos evangélicos. O produto final é uma teologia que justifica o egoísmo, e que por este motivo vai na contramão da visão de Reino de Deus ensinada na Bíblia.
Somando as conclusões do primeiro trabalho com as do segundo, concluo que na mesma proporção em que empresários e diversos setores sociais se fazem representar na esfera política, isto se dá com os políticos evangélicos. O problema começa com o fato de que nem a visão evangélica, nem a teologia de tradição protestante coadunam com a postura politico ideológica. Na verdade é justamente o que falta aos ditos candidatos, um comprometimento político e ideológico afinado com os valores bíblicos, o que somado à falta de conhecimento (por parte de grande parcela dos evangélicos) do que seja de fato o cristianismo resulta em tragédias tais como a que vimos no caso da greve dos professores.
A despeito do caráter legítimo do movimento dos professores no Município do Rio de Janeiro, que lutam por salários melhores e por uma educação melhor, vereadores evangélicos, cujo nome não mencionarei, votaram favoráveis ao prefeito ao invés de levantarem a voz contra a vergonha que se vê. Tal postura, conforme descrevi acima, se alinha com o total descomprometimento com a causa. Melhorias na educação passam inevitavelmente pela valorização da profissão docente. Esta, conforme ouvi de meu professor de Biologia, no ensino médio, é uma profissão de carreira, que o governo transformou em bico, e o fez por meio da política de desvalorização salarial.
O que se espera de um governo minimamente comprometido com a Educação é que este valorize os profissionais (que ingressam na carreira mediante concurso público), da mesma por meio de remuneração e reconhecimento do aperfeiçoamento constante dos mesmos. Uma coisa brilhantemente ignorada pela maioria dos cidadãos de nosso país é que a aparentemente baixa carga horaria dos professores se dá em razão de ser esta uma atividade que demanda constante atualização e estudo. Creio que parte do sofrimento dos professores, tal como acontece com os músicos, se dê em razão de que em nosso país, a educação é tida como um luxo, e somente é valorizada se produz algum tipo de retorno financeiro, e, ou ascensão social. Para maiores informações ver Otaíza de Oliveira Romanelli, Historia da Educação no Brasil. O produto final é a desvalorização de uma profissão fundamental.
Infelizmente esta semana se encerra com a vergonhosa participação dos políticos evangélicos na aprovação de um plano de cargos e salários que não contempla as reivindicações feitas pelos nossos professores. Sim no lugar de votarem com a consciência, votaram com as legendas. Com isto nada mais fizeram do que confirmar o perfil descrito no presente texto. Ao ler a história, vejo reformadores cujo papel foi fundamental para a causa social, e fizeram isto sem necessariamente serem eleitos como políticos. Há, é claro, o exemplo positivo dos puritanos que ao ocuparem vagas no parlamento inglês, se doaram de verdade pelo Reino. Diante de tal realidade, peço a Deus que levante tais homens, porque o Rio de Janeiro, particularmente está precisando.

Marcelo Medeiros, Evangélico morto de vergonha, não do Evangelho, mas dos políticos evangélicos.
 
 

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