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quarta-feira, 26 de março de 2014

Veto á Bolsonaro




De acordo com uma notícia da folha de São Paulo on line, Jair Bolsonaro (PP,RJ) teve a sua proposta de homenagem ao golpe militar de 64 rejeitada na câmara. Para o deputado em questão a homenagem é uma lembrança a uma revolução, ao passo que para os deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB, RN), e para a deputada Luiza Erundina (PSB, SP), foi um retrocesso no processo democrático cujas marcas ainda podem ser vistas na sociedade (aqui).

A leitura da matéria proporciona a passionalidade com que a questão foi decidida, e isto de ambos os lados, uma vez que Bolsonaro é militar, e é mais do que lógico que ele tenha uma percepção diferenciada da instituição que lhe projetou socialmente. Por outro lado, o deputado  Alves (PMDB, RN) sentiu na pele a dureza do regime, uma vez que seu pai foi um dos parlamentares perseguidos pelo governo militar. Mas duas observações precisam ser feitas.

Primeiro, até que ponto vivemos um governo mais democrático do que o que tínhamos durante este período? Podemos nos gloriar de sermos melhores, ou ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais (como cantou Elis Regina)? Segundo qual o caminho para não nos envolvermos no mesmo engodo que George Orwell descreveu no clássico A Revolução dos Bichos, ou no engodo ideológico dos iluministas que pintaram a Idade Média como a Era da Ignorância e descreveram seu período como o século das luzes, quando hoje se sabe que não foi bem assim? João Alexandre pergunta em sua música pra cima Brasil: onde estará a verdade outrora perdida?

Peço ao leitor a licença para mudar de primeira voz do plural para a primeira do singular e dizer que não estou aqui para dizer que a ditadura é o pior dos males, nem o melhor dos governos, mas creio o revisionismo histórico vai trazer à tona muitas verdades que foram perdidas, principalmente pelos que a tinham bem perto dos olhos. enquanto isto, fico com a Elis, visto que
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais
Enquanto isto, pressinto não uma revolução, mas um retorno ao quadro nacional dos primeiros anos de governo republicano. Lembra que tanto o Marechal Deodoro, quando o Floriano eram militares? Não quero dizer com isto que sou favorável a tal modelo, mas que, diante de tamanho medo de que o país se transforme em uma cuba da América do Sul, ou em uma mega versão da Venezuela, tal seja muito bem vista pelos brasileiros e brasileiras, e aí o debate ganha novos contornos. No lugar de uma história, temos uma ideologia que apela a uma interpretação da história. Minha provocação para por aqui. Abraços.  
Marcelo Medeiros 

segunda-feira, 24 de março de 2014

Má vontade para com a Bíblia?

 
No fórum sobre quem escreveu a Bíblia, da revista super interessante, vi uma resposta ao desafio que fiz a um senhor que afirmou ser a mesmo um livro misógino, preconceituoso e coisas afins (aqui). Um senhor escreveu  seguinte,
Marcelo Medeiros Talvez versículos imundos como Deuteronômio22:13-15 - Quando um homem tomar mulher e, depois de coabitar com ela, a desprezar, E lhe imputar coisas escandalosas, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Tomei esta mulher, e me cheguei a ela, porém não a achei virgem; Então o pai da moça e sua mãe tomarão os sinais da virgindade da moça, e levá-los-ão aos anciãos da cidade, à porta (aqui).
Em primeiro lugar, o texto aqui aludido, versa na integra:
Quando um homem tomar mulher e, depois de coabitar com ela, a desprezar, E lhe imputar coisas escandalosas, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Tomei esta mulher, e me cheguei a ela, porém não a achei virgem; Então o pai da moça e sua mãe tomarão os sinais da virgindade da moça, e levá-los-ão aos anciãos da cidade, à porta; E o pai da moça dirá aos anciãos: Eu dei minha filha por mulher a este homem, porém ele a despreza;
E eis que lhe imputou coisas escandalosas, dizendo: Não achei virgem a tua filha; porém eis aqui os sinais da virgindade de minha filha. E estenderão a roupa diante dos anciãos da cidade. Então os anciãos da mesma cidade tomarão aquele homem, e o castigarão.
E o multarão em cem siclos de prata, e os darão ao pai da moça; porquanto divulgou má fama sobre uma virgem de Israel. E lhe será por mulher, em todos os seus dias não a poderá despedir
(Dt 22. 13 - 19 ACF). 
Este texto pretende ser uma forma de evitar que um homem se separasse de uma mulher por qualquer motivo e a fim de se justificar socialmente a difamasse. O pai da moça apresentava as provas a fim de comprovar inocência da moça, e os juízes sendo convencidos da má vontade do antigo marido o puniam e o multavam.
No fórum respondi que: o texto em si não apresenta nada de misógino, se alguma coisa é percebida neste sentido, é apenas má interpretação e má vontade por parte de leitores tendenciosos para com o texto. Para não incorrer no mesmo tipo de erro, admito aqui que a punição para a jovem, caso fosse comprovada sua ausência de castidade pode sim, ser visto como rígido para os padrões da época atual, mas a leitura do texto na dá margem alguma para machismo, misoginia e coisas do tipo.
 
Marcelo Medeiros

sábado, 22 de março de 2014

Quem precisa se converter?


Esta pérola de cartaz aparece em comunidade do facebook, cujo nome é Debates Religiosos e Filosóficos. Confesso que ao ver me lembrei daqueles jogos dos sete erros que vinham no jornal de domingo que minha mãe comprava quase que religiosamente. Minha intenção em compartilhar a imagem é bem simples. Nossa tarefa é a de pregar o Evangelho de Deus e de Cristo Jesus. Dentro deste contexto são recorrentes temas como o arrependimento e a conversão (isto se e tão somente se, o pregador, ou evangelista for fiel ao conteúdo do κηρυγμα [kerigma]). Daí a necessidade de se meditar neste cartaz.
Um segundo aspecto que precisa ser observado com urgência é o quanto o Evangelho e religiosidade cristã tem se feito midiática. Daí a recorrência de testemunhos e mais testemunhos a respeito de conversões de pessoas que foram traficantes, drogadas, que mataram e praticaram inúmeros crimes. Nada contra não fosse uma interpretação que está se tornando cada vez mais recorrente no meio evangélico, a de entender que apenas tais pessoas são alvo da graça e da misericórdia de Deus, e que somente estas precisam da experiência da conversão.
Aqui cabe algumas observações. Primeiro, o pecado não se resume ao ato de matar, roubar e ingerir drogas. O assassinato é pecado, visto ser uma transgressão da lei de Deus, e João afirmou: aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei (I Jo 3. 4 NVI), o mesmo se aplica ao roubo. As drogas são um assunto à parte, visto que não vemos na Bíblia nenhuma proibição quanto ao uso dessubstancias alcoólicas, apenas princípios norteadores, quanto ao uso do vinho, por exemplo. É aqui que o leitor percebe que o conceito de pecado não se limita ao que pode, ou não pode ser feito.
Na Bíblia o pecado vai deste a não aceitação ao Evangelho. Jesus afirmou que não crer nele era pecado (Jo 16. 8), em Paulo, todo ato que não procede de fé é pecado (Rm 14. 22, 23), Salomão afirmou que os pensamentos do tolo são pecado (Pv 24. 9), e que no muito falar não falta transgressão (Pv 10. 19). Estes textos mostram que o pecado é algo muito mais grave do que meras proibições religiosas, e em um debate, ou em um dialogo evangelístico, isto tem de ser colocado.
Segundo, é preciso ver o que é conversão. Neste aspecto os nossos atuais dicionários não nos ajudam, uma vez que eles primam ora, pela mudança ocorrida na química, ora para a mudança de religião. O problema é que quando Deus diz, por meio de um profeta, convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal (Jl 2. 13 ACF), ou converte-te, ó Israel, ao SENHOR teu Deus; porque pelos teus pecados tens caído (Os 14. 1 ACF), o que eles estão pedindo não é uma mudança de religião, ou uma transformação química, mas o retorno à aliança.
O apelo à conversão é muito mais do que o apelo ao abandono das drogas, ou á mudança social, da condição de criminoso á de sujeito socialmente recuperado. Na verdade, para deixar de usar drogas, para deixar de matar, de roubar, sequer é necessário ser crente. O ser crente entra quando a pessoa percebe que não basta deixar de matar, é preciso deixar de odiar, ou melhor não ser orientado pelo ódio nos relacionamentos pessoais, inclusive nas relações com os inimigos.
Qualquer pessoa que tenha lido uma linha mínima de um moralista francês, pode entender que o pecado, tratado por estes filósofos, cujo mais conhecido é Pascal, que a hipocrisia é a essência da natureza humana. Trata-se da constante necessidade que este possui de esconder o que há de vil em sua natureza e de aumentar e potencializar o que há de melhor, e providenciar que tais supostas virtudes sejam conhecidas de todos. Isto é uma forma filosófica de descrever o pecado da hipocrisia. Neste caso a conversão é a volta do homem para o Deus amoroso, que conhece a nossa estrutura e sabe que o pó da terra é a essência humana (Sl 103. 14, 15), é a ruptura para com a lógica de ódio entre a criatura e o criador, e a disposição em viver um novo relacionamento com Deus.
Nos dias atuais o tema da conversão tem de voltar sim às pregações, mas sob a ótica da restauração de relacionamento entre homem e Deus, e a imagem é sim um convite á reflexão a respeito do quão midiático o evangelho tem se tornado, e do quanto o mesmo tem sido reduzido à uma religiosidade de melhora do ser humano C. S. Lewis disse que o fim do Evangelho não é fazer uma humanidade melhor, mas um ser humano totalmente diferente. Esta diferença passa inevitavelmente pela conversão e arrependimento.
 
Marcelo Medeiros, em Cristo

Leia e responda


Ao visitar esta página, vi este comentário:
A Bíblia não passa de um livro escrito por um bando de homens ignorantes (ao extremo), machistas, misóginos, racistas e frustrados sexualmente, e que gostariam que a vida sexual da humanidade inteira fosse um porre, como a deles.
Beleza, mas gostaria de perguntar:
Quem não é ignorante? Nós? Duvido! Em Pascal a única condição epistemológica da humanidade é a ignorância ignorada (a condição em que todos os homens nascem, ou o conhecimento mediano), ou a ignorância sabida dos cientistas. O que há de racista na declaração que de um único homem Deus fez todas as raças? O que há de misógino no elogio da mulher virtuosa em Pv 31. 10 - 31? O que há de machista na declaração de que nem o homem é coisa alguma sem a mulher, nem a mulher é coisa alguma sem o homem? Aonde você vê frustração sexual em Cântico dos Cânticos, por exemplo?
Alguém se habilita a responder? 
 
Marcelo Medeiros

quinta-feira, 20 de março de 2014

Verdadeiro Evangelho versus outros evangelhos


Ao me deparar com esta cartaz fui forçado a refletir sobre a essência do Evangelho, que segundo o apóstolos dos gentios é o poder de Deus para a salvação do que crê. Atualmente existe a inclinação a transformar o Evangelho em ora em uma escola intelectual (isto ainda ocorre com a teologia produzida em ambientes acadêmicos), ou com um movimento que faz do Evangelho uma forma de entretenimento.
O tempo atual é caracterizado pelo que Shaefer chamou de a morte da razão, daí que um evangelho teologicêntrico esteja cada vez mais escasso. Mas a alternativa contrária, também não é das melhores, uma vez que esta proposta substitui a pregação sadia e bíblica, por constantes inovações de púlpito, por exemplo. E estas continuamente associadas às mais variadas formas de entretenimento
Foi contra estas duas tendências que Paulo lutou em suas cartas. Escrevendo ao seu filho na fé, Timóteo, o apóstolo dos gentios afirmou que:
Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, Perversas contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais (I Tm 6. 3 - 5). 
O que está sendo condenado no presente texto? Nada mais do que uma proposta de evangelho que nega as boas novas em sua essência, visto que não se conforma com as palavras de Cristo, e com seu ensino sadio! Este Evangelho descia a mente do homem para as distrações e mineraliza a cruz de Cristo, visto que esta é retirada do centro do Evangelho e da vida cristã. Na verdade a busca contínua por novas questões e por qualquer sabedoria que não se conforme à loucura da cruz, é um delírio vão e presunçoso. É nesta esfera que atuam pregadores que busca a honra pessoal, ao invés da glória de Deus. Que Deus nos conceda o discernimento necessário para separarmos o verdadeiro do falso.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

terça-feira, 11 de março de 2014

Discipulado, objetivo, conteúdo, e metodologia


 
 
O discipulado tem sido um assunto cada vez mais recorrente em nossos dias. Ele tem ganho espaço na mídia referente aos assuntos cristãos e no discurso dos modelos de crescimento em razão de ser compreendido pelos idealizadores de tais modelos como método de fundamental importância para o crescimento da Igreja. Minha preocupação com o tema se dá em razão de ser o discipulado uma ordem de Cristo aos seus discípulos, embora em Mt 28. 19, 20, a ordem seja referente à condução das pessoas à obediência dos ensinos de Cristo, e crescimento sequer seja mencionado. Fato é que o discipulado foi a marca da Igreja primitiva, tanto que o nome usado para se referir aos cristãos primitivos era discípulos e paralelo ao de crentes.

A finalidade dos discipulado bíblico consiste na geração de crentes que obedeçam, guardem ao que Jesus ensinou. Ensinar o Cristo ensinou já se constitui um grande desafio. Agora levar as pessoas à obedecer ao que Cristo ensinou é um desafio maior ainda. Todavia no relato paralelo de Marcos, é possível observar que Cristo cooperava com os seus discípulos na execução da missão que lhes havia concedido. Mas a despeito da cooperação de Cristo com os apóstolos, é possível notar que eles tinham um objetivo (anunciar a Cristo com intuito de levar os homens ao arrependimento e à remissão de pecados), um conteúdo (o ensino de Cristo era matéria do διδαχή [didaché] apostólico), e uma metodologia, uma vez que eles ensinavam todos os dias no templo e nas casas. Na dúvida leia: todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo (At 5. 42). Aqui vemos objetivo, conteúdo (a boa nova do Cristo) e metodologia (ensino diário). Este mesmo paradigma pode ser percebido em Paulo, veja:

O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados;
O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;  Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele.
E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. 
A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, [....] Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; A quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo; E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente (Cl 1. 13- 29 ARCF). 
 
Qual é o objetivo claramente delineado aqui? Apresentar todo o homem perfeito em Jesus Cristo. Não se trata de mera perfeição moral, mas da perfeição decorrente do estar em Cristo. O termo que aparece aqui para perfeito é o grego τέλειον (teleion), cujo sentido varia desde perfeição até a maturidade. Neste aspecto o texto tem de ser lido à luz do contexto de da carta gêmea de Paulo aos colossenses. Aos Efésios Paulo afirma que o propósito da obra do ministério é a edificação do corpo de Cristo, a saber, que alcancemos a estatura de varão perfeito, άνδρα  τέλειον (andra teleion), que equivale a estar conformado a Cristo. Paulo diz: até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo (Ef 4. 13 NVI).

Agora perceba, caro leitor que o amadurecimento na fé depende do conhecimento de Cristo, e que para isto são instituídos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, visando o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério. Uma vez os santos aperfeiçoados o corpo, como um todo, cresce para o pleno conhecimento de Cristo. É aqui que retornamos ao texto de Cl 1. 13 – 29.

É o conhecimento de Cristo, e de sua obra que garante a perfeição almejada pelo próprio Cristo quando aqui na terra (Mt 5. 48), o que nos remete ao conteúdo. O homem perfeito é um homem que foi resgatado do império das trevas para o reino de amor do Filho de Deus, cuja principal marca é o fato de haver sido resgatado dos seus pecados, de sua vã maneira de viver.

O homem perfeito é o homem que sabe que todas as coisas foram criadas em Cristo e para Ele são, e assim sendo o governo de sua vida não lhe cabe mais, mas ao Senhor que o resgatou. Sim o tão ansiado reino de Deus começa agora com o reino de Cristo na vida do cristão, do homem regenerado. Este reino se expressa por meio de uma comunidade cuja maior marca é a reconciliação promovida na cruz, que por sua vez possui duas dimensões. No aspecto vertical ela nos lembra a nossa reconciliação com Deus (Rm 5. 8 – 10), no horizontal, nossa reconciliação com os homens (Ef 2. 13- 16).


Este é o conteúdo ministrado por Paulo, e a julgar pela carta, suficientemente poderoso para que os objetivos (promover a maturidade) sejam alcançados. Mas o grande fato que tem de ser ressaltado aqui é que a totalidade do conteúdo é Cristo. O discipulado não é meramente teológico, mas primordialmente cristocêntrico. Daí que escrevendo aos irmãos de Corinto, Paulo tenha dito: decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado (I Co 2. 2 ARCF). Mas não basta falar de Cristo, quando se faz isto de forma esporádica.

O que precisamos é falar de Cristo em toda a sabedoria. Para isto necessário se faz com que este falar de Cristo se dê por meio de exortação e de ensino, e isto em παση σοφια (pasee Sophia). O termo grego para ensinar é διδασκω (didaskoo), ao passo que para advertir, ou admoestar é νοιθετέω (noithetéoo), que por sua vez é oriundo de duas palavras gregas νοως noous [mente]), e τιθεμι (tithemi), cujo significado é o de colocar. Com isto, o verbo na verdade significa trazer à mente. De posse de tais dados exegéticos é possível a compreensão de que Paulo, na verdade se vale de todos os recursos para que o seu ensinamento não seja esquecido, mas seja constantemente lembrado.

A respeito da sabedoria, vale lembrar que o pentecostalismo, meio do qual faço parte, tem sido invadido por um discurso tendenciosamente anti intelectual, Jonh Stott, afirmava que ao abrir mão de pensar, o homem abre mão de dignidade que o criador lhe conferiu. Retornado ao apostolo Paulo, se observa o mesmo afirmando:

falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória(I Co 2. 6, 7 ARCF).

O termo perfeito aqui é o mesmo empregado por Paulo na carta aos Colossenses. Τελειοις (teleiois) é empregado para maturidade. É claro que esta sabedoria não pode, nem deve, sob hipótese alguma ser reduzida á sabedoria deste mundo, pois a considerar o contexto dos textos aqui citados a identidade da sabedoria aqui é Cristo (I Co 1. 30, 31). Não é sem razão que Paulo ora,
Para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo, Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2. 2, 3 ARCF).

Para o pregador da fé ente os gentios estava claro que a maturidade demanda sabedoria, e que sendo Cristo esta sabedoria, quando mais o conteúdo de Cristo fosse exposto, tanto mais as pessoas seriam amadurecidas na fé. Assim, alem de dispor da ajuda divina para tal, ele ainda se valia dos recursos simbólicos para proclamar a Cristo. Aqui se faz necessária uma outra reflexão. Mais do que uma metodologia, o discipulador tem de contar com o poder de Deus para ser bem sucedido. Neste ponto o leitor pode perceber que retornei à fala inicial. Mas antes de encerrar Este post gostaria de chamar a atenção para a fala final do apostolo no texto base deste estudo. E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente (Cl 1. 29 ARCF).

A primeira observação é que discipular é um trabalho árduo. Ao mesmo tempo em que não nos cabe salvar o mundo, nos cabe fazer de tudo para ganhar os que estão de fora. Daí a propriedade do termo κοπιω (kopioo), cujo sentido é o de um trabalho que conduz á exaustão. Tanto que a mesma palavra pode ser traduzida por cansaço. A segunda observação é que o termo αγωνιζομενος (agonizoomenos), que é uma das conjugações de um verbo (αγωνιζομαι [agonizomai]) cuja equivalência em nossa língua é de: competir, de combater. Ele aparece no texto que Paulo faz a seguinte observação: E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível (I  Co 9. 25 ARCF). A última observação é que este combate é realizado por meio da força (ενεργειαν [energeian]) divina. Em nossas versões ενεργειαν é traduzida por eficácia. Esta é a daquilo que produz o efeito que se espera. Ou seja, a perfeição, ou a obediência ao que Cristo ensinou é garantido pelo poder de Deus.

 

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

 

sábado, 8 de março de 2014

Dia internacional da mulher


Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão".  Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1. 26, 27 NVI). 
Aprendi desde cedo o valor da mulher, e aprendi com a prática. Fui criado e educado por duas maravilhosas mulheres e graças a Deus me casei com uma excepcional. Das primeiras recebi educação e formação moral, além do belíssimo exemplo de superação. Se vivo até hoje, a despeito das dificuldades, devo á formação que recebi das mesmas. Confesso, que a figura paterna material me faltou, mas elas deram conta e como deram! Quando chega esta data, é nelas que penso. Com relação à minha esposa ela é simplesmente minha parceira, e incentivadora, em tudo! Não vejo mundo e nem a vida sem ela. Daí minha inspiração para escrever hoje.
O relato javista da criação mostra Deus criando o homem e a mulher à sua imagem e semelhança. Com isto fica implícito que a despeito das diferenças físicas e psíquicas, ambos foram criados em igualdade de dignidade e importância. Mas sacerdotal aponta questões ainda mais cruciais. Ele mostra o homem sozinho e Deus decidindo criar a mulher na condição de um auxiliar que lhe esteja à altura, ou que lhe assista. O que vou falar, falo de cadeira, a mulher é a melhor parceira que o homem pode ter, o que mostra o quanto Deus sabe das coisas. Mas o pecado distorceu esta realidade e criou um ambiente de rivalidade presente na primeira prestação de contas após a desobediência do homem. O avanço do pecado se dá de forma simultânea com a escalada da opressão. E com isto a mulher passa a viver todas as formas de opressão.
Deus rompe com a logica do pecado ao se valer da mulher para que esta desse à luz ao salvador. Assim, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei,   a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos (Gl 4. 4, 5 NVI). E com Cristo e em Cristo a verdadeira libertação feminina, uma vez que nele não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus (Gl 3. 28 NVI).
Cristo traz de volta a primeira impressão do primeiro homem ao ver a mulher que Deus lhe criara. Ambos se veem como parte um do outro, e na verdade o são. E como disse Paulo: a mulher não é independente do homem, nem o homem independente da mulher. Pois, assim como a mulher proveio do homem, também o homem nasce da mulher. Mas tudo provém de Deus (I Co 11. 11, 12 NVI).
Foi lindo ler e reler as historias das revoluções feministas, mas confesso que estou cada vez mais cético com cada revolução de que vejo, ou tomo conhecimento, na minha opinião elas redundam em maior escravidão ainda. Em Cristo Jesus ocorre a revolução do amor, que nos faz perceber que simplesmente não somos nada sem estas mulheres que Deus criou. E não se trata simplesmente do fato delas satisfazerem este, ou aquele padrão de feminilidade, mas de serem o que Deus projetou, um auxiliar á altura.
 
MULHERES, MEUS PARABÉNS, em cristo, Marcelo Medeiros.

As Leis civis entregues por Moisés aos israelitas


Já elaborei um post a respeito do decálogo e na ocasião afirmei que o mesmo é um resumo de um complexo código de aproximadamente seiscentos e treze (ou seiscentos e dezoito, na opinião de alguns) mandamentos, estatutos e leis que Deus mesmo deu ao povo (aqui). Tais leis vão, na verdade, desde uma legislação a respeito de altares, passando pela escravidão, violência, propriedade, até o testemunho falso. No presente estudo farei uma síntese destes mandamentos, que são uma parte da lei que visa legislar sobre a vida civil e religiosa do povo.
Apenas um aviso a exiguidade do tempo com que se ministra uma aula de Escola Bíblica Dominical, associada a amplitude do assunto, demanda, por parte de professores que a exposição da temática seja feita de forma breve. Daí a razão deste post ser bem compacto.
 
1) Leis acerca dos altares 
Diga o seguinte aos israelitas: Vocês viram por si mesmos que do céu lhes falei: não façam ídolos de prata nem de ouro para me representarem. Façam-me um altar de terra e nele sacrifiquem-me os seus holocaustos e as suas ofertas de comunhão, as suas ovelhas e os seus bois. Onde quer que eu faça celebrar o meu nome, virei a vocês e os bençoarei. Se me fizerem um altar de pedras, não o façam com pedras lavradas, porque o uso de ferramentas o profanaria. Não subam por degraus ao meu altar, para que nele não seja exposta a sua nudez (Ex 20. 22 - 26 NVI). 
Visava resguardar o povo de ser tentado pela excessiva admiração aos elementos da natureza e com isto fazer com que os mesmos se tornassem deuses, ou de representar a Deus por meio por meio de ídolos de prata, e mesmo de ouro. De certa forma esta lei é uma ampliação dos dois primeiros mandamentos, onde se lê:
Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam (Ex 20. 3- 5 NVI). 
 
2) Leis acerca da escravidão
Se você comprar um escravo hebreu, ele o servirá por seis anos. Mas no sétimo ano será liberto, sem precisar pagar nada (Ex 21. 2 NVI).
Um problema grave com esta lei é a tendência de se ler a mesma com a ótica histórica moderna. Assim, quando alguns críticos, principalmente os da fé, e ateus como Sam Harris leem tais leis é a de verem tal escravidão com a mesma ótica da que fora praticada na modernidade, por meio do trafico de escravos africanos, quando na verdade são fenômenos de períodos históricos diferentes.
Nos tempos bíblicos haviam duas formas de se fazer escravos. A primeira era mediante a guerra, os derrotados eram  feitos de escravos, este é o caso da menina que servia na casa de Naamã (II Rs 5. 2). Mas também as pessoas que estivessem endividadas e sem condições de pagar dívidas poderiam se vender como escravas, conforme se pode ver no texto abaixo, mas não poderiam ser tratados com desumanidade, pelo contrário!
 Se alguém do seu povo empobrecer e se vender a algum de vocês, não o façam trabalhar como escravo. Ele deverá ser tratado como trabalhador contratado ou como residente temporário; trabalhará para quem o comprou até o ano do jubileu. Então ele e os seus filhos estarão livres, e ele poderá voltar para o seu próprio clã e para a propriedade dos seus antepassados. Pois os israelitas são meus servos, a quem tirei da terra do Egito; não poderão ser vendidos como escravos. Não dominem impiedosamente sobre eles, mas temam o seu Deus (Lv 25. 39 - 43 NVI). 
Duas coisas precisam ficar claras. Primeiro a escravidão não foi ordenada por Deus, Ele simplesmente a regulamentou, tal como ocorreu com o divórcio. O que nos faz pensar que a origem da mesma seja o sentimento de denominação presente no coração humano desde a queda e acentuado nos dias do diluvio. Segundo, a levar em conta os mandamentos que regulam a prática, percebemos que ao contrário do que ocorreu na Grécia antiga e em Roma, a escravidão não foi um modo de produção em Israel. Nas demais civilizações boa parte do trabalho era escravo, o que garantia o ócio de uma classe que se via livre para debater os assuntos pertinentes à cidade. Esta diferença precisa ser vista.
 
3) Leis a respeito da integridade física
Mas, se houver danos graves, a pena será vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,   queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão (Ex 21. 23 - 25 NVI). 
Duas considerações precisam ser feita aqui. Primeiro: esta lei, ao contrário de ser um incentivo á vingança, é um fator limitador da mesma. Ela foi feita de forma a não permitir exageros, por parte de indivíduos que tenham sido ofendidos, agredidos, ou cujos familiares tenham sido vitimas de tais lesões. Segundo, a lei traz consigo o principio justo da retribuição, que por sua vez tem de ser exercido pelo Estado. Com isto o alvo aqui é a preservação da integridade física dos filhos de Israel.
Estes princípios norteiam a administração de justiça contra todo o tipo de agressão, desde a que é praticada contra pai e mãe, até o prejuízo causado por animais em seres humanos. Por exemplo, quando um boi feria um ser humano o mesmo era apedrejado até a morte, mas se testemunhas afirmassem em juízo que o animal era agressivo e com isto configurasse que o dono do mesmo fora omisso, o dono também poderia morrer, caso a vida do mesmo não fosse resgatada.
 
4) Leis a respeito da propriedade
Se alguém roubar um boi ou uma ovelha e abatê-lo ou vendê-lo, terá que restituir cinco bois pelo boi e quatro ovelhas pela ovelha. Se o ladrão que for pego arrombando for ferido e morrer, quem o feriu não será culpado de homicídio, mas se isso acontecer depois do nascer do sol, será culpado de homicídio. Um ladrão terá que restituir o que roubou, mas se não tiver nada, será vendido para pagar o roubo.
Se o que foi roubado for encontrado vivo em seu poder, seja boi, seja jumento, seja ovelha, ele deverá restituí-lo em dobro. Se alguém levar seu rebanho para pastar num campo ou numa vinha e soltá-lo de modo que venha a pastar no campo de outro homem, fará restituição com o melhor do seu campo ou da sua vinha. Se um fogo se espalhar e alcançar os espinheiros, e queimar os feixes colhidos ou o trigo plantado ou até a lavoura toda, aquele que iniciou o incêndio restituirá o prejuízo.
Se alguém entregar ao seu próximo prata ou bens para serem guardados e estes forem roubados da casa deste, o ladrão, se for encontrado, terá que restituí-los em dobro. Mas se o ladrão não for encontrado, o dono da casa terá que comparecer perante os juízes para que se determine se ele não lançou mão dos bens do outro.
Sempre que alguém se apossar de boi, jumento, ovelha, roupa ou qualquer outro bem perdido, mas alguém disser: ‘Isto me pertence’, as duas partes envolvidas levarão o caso aos juízes. Aquele a quem os juízes declararem culpado restituirá o dobro ao seu próximo.
Se alguém der ao seu próximo o seu jumento, ou boi, ou ovelha ou qualquer outro animal para ser guardado, e o animal morrer, for ferido ou for levado, sem que ninguém o veja,  a questão entre eles será resolvida prestando-se um juramento diante do Senhor de que um não lançou mão da propriedade do outro. O dono terá que aceitar isso e nenhuma restituição será exigida.
Mas se o animal tiver sido roubado do seu próximo, este terá que fazer restituição ao dono. Se tiver sido despedaçado por um animal selvagem, ele trará como prova o que restou dele; e não terá que fazer restituição. Se alguém pedir emprestado ao seu próximo um animal, e este for ferido ou morrer na ausência do dono, terá que fazer restituição. Mas se o dono estiver presente, o que tomou emprestado não terá que restituí-lo. Se o animal tiver sido alugado, o preço do aluguel cobrirá a perda (Ex 22. 1 - 15 NVI).
Aqui temos um conjunto de leis que visam proteger a propriedade. Há que se perceber que a tônica em caso de roubo, ou de quaisquer prejuízos é a da correta restituição do que foi roubado, ou nos casos em que o bem estava sob a tutela de outrem e por descuido do que estava com a responsabilidade pelo bem alheio houve prejuízo. Uma ressalva são os casos em que animais são dilacerados por outros animais, ou que os bens sob tutela foram roubados.
 
5) Leis sociais
Não maltratem nem oprimam o estrangeiro, pois vocês foram estrangeiros no Egito.
"Não prejudiquem as viúvas nem os órfãos; porque se o fizerem, e eles clamarem a mim, eu certamente atenderei ao seu clamor. Com grande ira matarei vocês à espada; suas mulheres ficarão viúvas e seus filhos, órfãos
(Ex 22. 21  - 24 NVI).
Este é um dos aspectos da lei mais repetidos pelos profetas. Em sua maioria os mesmos enfatizam que a justiça é a correta forma de adoração a Deus (veja aqui).  Para Stott, a tradição evangélica e reformada enfatizaram suficientemente bem que Deus é justificador daquele que tem a fé em Jesus, mas ainda precisa resgatar o conceito de um Deus que é justo, e como tal defende a causa dos aflitos.
Ele defende a causa dos oprimidos e dá alimento aos famintos. O Senhor liberta os presos, o Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor protege o estrangeiro e sustém o órfão e a viúva, mas frustra o propósito dos ímpios (Sl 146. 7 – 9 NVI). 
E nós, como temos nos posicionado? 
 
6) Sobre a conduta justa
Não faça declarações falsas e não seja cúmplice do ímpio, sendo-lhe testemunha mal-intencionada.
Não acompanhe a maioria para fazer o mal. Ao testemunhar num processo, não perverta a justiça para apoiar a maioria, nem para favorecer o pobre num processo.
Se você encontrar perdido o boi ou o jumento que pertence ao seu inimigo, leve-o de volta a ele.
Se você vir o jumento de alguém que o odeia caído sob o peso de sua carga, não o abandone, procure ajudá-lo.
Não perverta o direito dos pobres em seus processos.
Não se envolva em falsas acusações nem condene à morte o inocente e o justo, porque não absolverei o culpado.
Não aceite suborno, pois o suborno cega até os que têm discernimento e prejudica a causa do justo
(Ex 23. 1 - 8 NVI). 
Não dirás falso testemunho contra o teu próximo (Ex 20. 16 ARCF). Este é o nono mandamento do decálogo. E ele aparece aqui sob a proibição de se fazer declarações falsas em juízo, principalmente quando tal consiste em uma atitude de apoio aos ímpios. A justiça nem sempre é democrática, daí que a maioria não deva ser acompanhada, caso tal seja uma perversão do direito.
Uma questão que precisa ficar clara é que o procedimento justo elimina toda e qualquer forma de retaliação pessoal. Note, que a mesma lei que afirma: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,   queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão (Ex 21. 23 - 25 NVI), também traz consigo uma proibição à retaliação pessoal, ao estipular que se socorra o boi do próprio inimigo
Em nossa cultura, a justiça é representada por meio da deusa grega Têmis, sendo representada com os olhos vendados e com uma balança nas mãos. Tal representação se dá em razão de uma compreensão de justiça que se eleva acima das paixões (aqui). No meio hebreu, o próprio Deus vindicou para si esta imparcialidade ao afirmar: Pois o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno (Dt 10. 17 ARCF). Assim, Deus não julga nem em favor do pobre, pelo simples fato de ser pobre, e muito menos pelo poderoso, por ser poderoso, mas pela causa da justiça. E assim, pede do seu povo: Não farás injustiça no juízo; não respeitarás o pobre, nem honrarás o poderoso; com justiça julgarás o teu próximo (Lv 19. 15 ARCF).
O proposito divino em formular tais leis não se esgota na esfera religiosa, mas com isto de quer dizer que a santidade do povo deve abranger a vida civil e social do mesmo. Tal compreensão falta em nossos dias dado ao conceito cada vez mais abstrato e escapista da espiritualidade evangélica brasileira e principalmente a pentecostal. Mas a Bíblia nos convida ver um Deus que faz justiça ao aflito e ao engajamento na construção de uma sociedade mais justa.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

quinta-feira, 6 de março de 2014

Uma palavra a respeito de retiros


O carnaval tem sido um período emblemático em nossa cidade. Falo isto em razão de ser um período de grandes deslocamentos. De um lado os que se deslocam para os grandes centros em busca dos famosos e tradicionais blocos carnavalescos, de outro os que fogem da agitação, e assim aproveitam o feriado para estarem com a família. No meio de ambos os que por falta de opção ficam na cidade em meio ao caos que se instala no trânsito dado o fechamento de ruas, desvio do tráfego de veículos, enfim, da reorganização da cidade para o atendimento dos foliões. Que opinião posso emitir como cristão a respeito deste assunto?
Primeiro entendo que seja louvável por parte de cristãos aproveitarem o feriado para período de descanso, seja este feito em casa, ou por meio de uma viagem, afinal este é o principio da ordenança sabática: que o homem tenha uma época, na verdade mesmo uma fase para descanso. É pertinente aqui a observação de que até para a terra Deus ordenou um descanso sabático, que se dava de sete em sete anos.
Assim, se o crente poder viajar, que viaje, afinal, conforme dito acima a cidade do Rio de Janeiro, no afã de atender aos turistas e de organizar toda uma estrutura para os foliões acaba por se tornar um lugar insuportável para quem fica. Na ausência de opção, ficar dentro de casa, sem se quer colocar a cara na janela é a melhor opção. O leitor me perdoe, mas esta é a minha opinião. Não tem nada a ver com o ser crente, mas com a certeza de que se não sou alegre pelo simples fato de ser pai, de estar em família, nada mais me fará uma pessoa contente. Detesto esta coisa de separar um período do ano para ser alegre e viver em um inferno o resto dos trezentos e sessenta dias.
(Retomando o raciocínio) É aí que entra a Igreja. Segundo, creio que tanto para quem fica, quanto para quem vai, a Igreja pode criar atividades de suma importância. Quando criança fui criando em uma comunidade na qual raramente as pessoas viajavam, ou saíam em período de carnaval. Enquanto o mundo estava na folia, os crentes estavam orando e estudando a Bíblia (e como sinto falta destes estudos! Não somente pelo estudo em si, mas pela oração, pelas experiências proporcionadas aos que participavam de tais encontros).
O próprio retiro (nunca estive em um!), precisa ser repensado. Ouço com extrema frequência anúncios de tais reuniões e não percebo um foco voltado para a espiritualidade, para estudo, oração, e sem querer ser judicioso, percebo nisto uma mudança paradigmática. Vivemos um evangelho de entretenimento, e o retiro é apenas mais uma opção neste mercado, mais uma opção de passa/tempo. Como se o tempo fosse algo que pudéssemos desperdiçar. Como se vida não valesse à pena ser vivida em sua totalidade e acelerássemos o controle remoto para que aquele tempo passasse.
Quero esclarecer que não entendo que a alegria e a busca pela espiritualidade sejam mutuamente excludentes. De forma alguma! Mas a Igreja precisa orar, e com urgência por um avivamento, a fim de que possamos experimentar algo novo nesta área. Não se trata de mais uma inovação, mas de renovação, do velho com um novo olhar e com uma perspectiva diferente, ou de abertura para o que jamais fora experimentado. Do contrário, seremos como o mundo, aguardando um período específico para ser alegre e feliz.
Não é demais lembra a frese de Pascal que o vazio do coração humano é do tamanho de Deus, e algo do tamanho de Deus precisa ser colocado ali, do contrário, o homem não acha satisfação. Ou então, a frase de Santo Agostinho:  Vós o incitais para que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós. Tanto no primeiro quanto no último é recorrente a ideia de que somos um fragmento da criação, que sequer somos completos em nós. Daí o sacrifício que as pessoas fazem para se divertirem nesta época, e a capacidade de superação de obstáculos, por parte das mesmas, para atingir tal fim. Mas quando passa tudo como dantes no reino de Abrantes.
Gostaria de pontuar que a ideia do retiro deveria ser a do homem ficar só, e de acordo com Pascal, isto é tudo o que homem evita fazer (isto dá uma tese, afinal Brennan Manning pode nos dar testemunhos maravilhosos desta nossa deficiência. Foi o que Jacó fez quando deixou a família e transpôs sozinho o vau de Jaboque e passou a noite lutando com Deus), afinal o homem não quer se ver de frente com a sua miséria, com aquilo que ele é. E é aí que entram os passatempos, afinal, se forem tirados, o que temos, um reles mortal.
Mas o Evangelho tem a finalidade de colocar o homem de frente com sua miséria e de expor Deus como a solução para a mesma. O papel da Igreja é pregar o Evangelho. Mas em nossos dias este papel tem se expandido da proclamação para a criação de meios que viabilizem a proclamação do Evangelho, e para isto, tanto o retiro, quanto as reuniões de estudo e oração na Igreja são de fundamental importância.
 
Marcelo Medeiros, em Cristo, nossa alegria.

sábado, 1 de março de 2014

Um lugar de Adoração a Deus no Deserto


No decorrer desta série de estudos foi possível perceber que ainda no Egito, Deus deu a Moisés a ordem que se apresentasse ao Faraó e lhe dissesse: assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: Deixe o meu povo ir para que me preste culto (Ex 9. 1 NVI). A Almeida traduz por servir, mas cuja conotação é a mesma de culto. Daí entendemos que o povo de Israel foi liberto por Deus do jugo da servidão no Egito, a fim de ser um povo adorador. O tabernáculo cumpre dupla função. Primeiro, a de concretizar o projeto divino de que o povo o adorasse. Segundo, e por último, servir e memorial da presença de Deus no meio do seu povo. Neste estudo proponho uma breve reflexão a respeito do tabernáculo. Para tal começo aqui uma breve abordagem a respeito do proposito de Deus na construção do tabernáculo, e do mesmo enquanto local de representação da presença de Deus no meio do seu povo.

I) O tabernáculo dentro do propósito de Deus

Tão logo chamou Moisés, Deus deixou claro que o estava fazendo a fim de ser adorado pelo povo ao qual estaria enviando o referido líder. Deus lhe disse: Eu estarei com você. Esta é a prova de que sou eu quem o envia: quando você tirar o povo do Egito, vocês prestarão culto a Deus neste monte (Ex 3. 12 NVI). E na mesma ocasião lhe disse: Depois você irá com elas ao rei do Egito e lhe dirá: O Senhor, o Deus dos hebreus, veio ao nosso encontro. Agora, deixe-nos fazer uma caminhada de três dias, adentrando o deserto, para oferecermos sacrifícios ao Senhor nosso Deus (Ex 3. 18 NVI).
O leitor pode notar que nestes dois textos fica evidente que o proposito da obra de libertação do povo da servidão egípcia consiste em fazer do mesmo um povo adorador. Isso fica patente quando Deus ordene que Moisés se apresente ao Faraó e lhe diga as seguintes palavras: Israel é o meu primeiro filho, e eu já lhe disse que deixe o meu filho ir para prestar-me culto (Ex 4. 22, 23 NVI).
Daí para a frente em todas as ocasiões em que Moisés se apresenta a Faraó, ele usa esta fórmula: Deixe o meu povo ir para celebrar-me uma festa no deserto (Ex 5. 1 NVI), ou: O Deus dos hebreus veio ao nosso encontro. Agora, permite-nos caminhar três dias no deserto, para oferecer sacrifícios ao Senhor, o nosso Deus; caso contrário, ele nos atingirá com pragas ou com a espada (Ex 5. 3 NVI). Sendo que neste último texto fica evidente que é Deus quem vai ao encontro dos seus adoradores. a recusa, por parte do monarca egípcio acarretou nas dez pragas cujo clímax foi a morte dos primogênitos.
Mas o plano de Deus não se esgota aqui, não bastasse escolher um povo para a adoração, Deus ainda determinou um centro móvel para que a mesma ocorresse, o Tabernáculo. Não sendo isto suficiente, ele ainda proveu os recursos para que cada peça do mesmo fosse construída e que o mesmo fosse levantado. E esta provisão se deu por meio das riquezas que cada israelita pegou de um egípcio na noite em que por mão poderosa Deus os tirou de lá.
E farei que os egípcios tenham boa-vontade para com o povo, de modo que, quando vocês saírem, não sairão de mãos vazias. Todas as israelitas pedirão às suas vizinhas, e às mulheres que estiverem hospedando em casa, objetos de prata e de ouro, e roupas, que vocês porão em seus filhos e em suas filhas. Assim vocês despojarão os egípcios (Ex 3. 21, 22 NVI). 
Os israelitas obedeceram à ordem de Moisés e pediram aos egípcios objetos de prata e de ouro, bem como roupas. O Senhor concedeu ao povo uma disposição favorável da parte dos egípcios, de modo que lhes davam o que pediam; assim eles despojaram os egípcios (Ex 12. 35, 36 NVI).
O mais interessante em tudo isto foi o fato de que séculos antes Deus havia revelado a Abraão que seria assim.
Saiba que os seus descendentes serão estrangeiros numa terra que não lhes pertencerá, onde também serão escravizados e oprimidos por quatrocentos anos. Mas eu castigarei a nação a quem servirão como escravos e, depois de tudo, sairão com muitos bens (Gn 15. 13, 14 NVI). 
Os bens com os quais Israel saiu do Egito foram empregados na construção do tabernáculo.  E duas gerações antes de todos os fatos envolvendo a descida ao Egito, Deus já havia revelado à Abraão como tais fatos se dariam. Quando o povo foi liberto e a aliança de mandamentos foi celebrada no Sinai, o Senhor ordenou que se construísse o tabernáculo.

II) Uma breve descrição do tabernáculo

Na carta aos Hebreus nós temos uma descrição do tabernáculo. A mesma não é plena, uma vez que não se fala nem do pátio, ou átrio, local no qual se encontravam o altar, e a pia de bronze, mas é uma descrição bem resumida e que nos ajuda na formação de uma imagem bastante viva da tenda da presença de Deus.
Ora, a primeira aliança tinha regras para a adoração e também um tabernáculo terreno. Foi levantado um tabernáculo; na parte da frente, chamada Lugar Santo, estavam o candelabro, a mesa e os pães da Presença. Por trás do segundo véu havia a parte chamada Santo dos Santos, onde se encontravam o altar de ouro para o incenso e a arca da aliança, totalmente revestida de ouro. Nessa arca estavam o vaso de ouro contendo o maná, a vara de Arão que floresceu e as tábuas da aliança. Acima da arca estavam os querubins da Glória, que com sua sombra cobriam a tampa da arca. A respeito dessas coisas não cabe agora falar detalhadamente (Hb 9. 1 - 5 NVI). 
O  que se pode perceber aqui é que o tabernáculo é instituído em meio a uma aliança que Deus mesmo faz com seu povo. Esta aliança possui regras quanto à adoração a Deus, e é neste contexto de adoração e de aliança que surge o tabernáculo. Daí que cada elemento constituinte da tenda sagrada seja um componente da adoração.
A pia de bronze lembrava ao povo a necessidade de purificação constante, afinal, sempre que os filhos de Arão se aproximavam para ministrar, eles se lavavam, como o Senhor tinha ordenado a Moisés (Ex 40. 32 NVI). Ainda no antigo Testamento os salmistas entenderam que tal purificação era decorrente da ação da palavra de Deus (Sl 119. 9, 11).
O altar era lugar de sacrifício, portanto, apontava para a necessidade de consagrar a Deus todos os bens que ele no concede. O lugar santo propicia reflexão a respeito da separação necessária entre o sagrado e o profano, embora ambos estejam em uma mesma dimensão. A mesa com os pães da presença, ou preposição aponta para a comunhão, uma vez que somente quem tem em comum poderia comer com o outro. Assim, fica explicitada a comunhão entre Deus e os que representavam o povo, no caso o sacerdote.
O incensário representava a vida de oração necessária ao povo e aos sacerdotes. Não foi sem razão que o salmista orou: Seja a minha oração como incenso diante de ti, e o levantar das minhas mãos, como a oferta da tarde (Sl 141. 2 NVI). Dentro do santo dos santos havia somente a arca, que por sua vez revelava tanto a aliança de Deus com Israel, quanto a presença deste no meio do povo, visto que Deus é descrito como aquele que está assentado entre os querubins (Sl 80. 1ss). É aqui que precisamos meditar a respeito da mensagem contemporânea do simbolismo do tabernáculo.
 
III) O tabernáculo hoje
 
A palavra tabernáculo é a mesma para tenda. Assim, em Hebraico, temos o termo מִּשְׁכָּ֑ן (mishkah), que indica uma tenda, podendo ser a habitação de um pastor. Não é sem razão que o salmista indica o pastor de Israel como morando acima dos querubins (Sl 80. 1). Com isto se evidencia que a finalidade da tenda da congregação era a de simbolizar a presença de Deus no meio do povo. Estabelecerei a minha habitação entre vocês e não os rejeitarei. Andarei entre vocês e serei o seu Deus, e vocês serão o meu povo (Lv 26. 11, 12 NVI). Neste texto e nesta versão מִשְׁכָּנִ֖י é traduzido por habitação, em bora seja usual empregar tabernáculo.
Esta palavra teve o seu pleno cumprimento quando Cristo se fez carne, ou seja, tabernaculou, armou a sua tenda entre nós. João afirma: Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade (Jo 1. 14 NVI). A palavra para viveu é o verbo εσκηνωσεν (eskenoosen), que significa armar uma tenda, visto que a palavra grega para tenda, ou tabernáculo é σκηνης (skenees). Cristo é o tabernáculo divino. Esta realidade foi devidamente captada pelo autor de Hebreus, quando este afirmou:
O mais importante do que estamos tratando é que temos um sumo sacerdote como esse, o qual se assentou à direita do trono da Majestade nos céus e serve no santuário, no verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem (Hb 8. 1, 2 NVI). 
Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo (Hb 10. 19, 20 NVI).   
Mas reservo o assunto a respeito de Cristo e do tabernáculo para outra ocasião. Deus o abençoe, em Cristo.

Pr Marcelo Medeiros 
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