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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Obedecei vossos pastores


Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil (Hb 13. 17 ACF).
Este é o segundo texto de uma serie que pretendo escrever abordando o tema da autoridade espiritual(o primeiro pode ser acessado aqui). Estamos vivendo uma crise de autoridade, de um lado, pastores que vem à público com o claro intento de defender a posição de autoridade de seus confrades e chegam ao desatino de afirmar que ainda que um pastor roube, ele não pode ser nem criticado, nem processado por seus membros, afinal, somente Deus pode tocar nos mesmos. De outro lado, um povo que, no afã de sua liberdade desconhece os limites da autoridade pastoral. Por último, há que se considerar a crescente descredibilidade que lideres e instituições tem fomentado, em função dos crescentes escândalos que tem assolado o reino. Diante de tais questões qual deve ser o nosso entendimento a respeito de um texto como este.
Em primeiro lugar, algo que de imediato foge à percepção de grande parte dos leitores, ou ouvintes deste texto é que ele descreve o perfil de um genuíno pastor. Verdadeiros pastores velam pelas almas dos santos que lhes foram confiadas. O termo empregado aqui αγρυπνουσιν (agripunoiusin), do verbo αγρυπνεω (agripineoo), pode ser traduzido como velar, ou vigiar, ou estar sem sono, por causa de, indicando com isto que a prioridade do verdadeiro pastor é o cuidado das ovelhas, que por sua vez não lhe pertencem.
Em segundo lugar, verdadeiros pastores são tomados por um senso de dever para com as almas que lhe são confiadas, e isto, ao ponto de entenderem que darão contas, pelas vidas que foram entregues aos seus cuidados. Tome como exemplo Paulo, a Bíblia alista uma série de sofrimentos pelos quais ele passou em seu apostolado na fé dos gentios (II Co 11. 23 - 28), mas neste contexto ressalta uma das mais viscerais declarações que o apostolo deu:
Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda.
Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.
Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis. Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos
(II Co 11. 1 - 5 ACF). 
A segunda carta de Paulo aos Coríntios, foi bem mais do que um documento apologético, Paulo queria mais do que defender sua posição, ele queria expor aos crentes de Corinto, que suas cartas graves e fortes (II Co 11. 10 - 12), bem como os seus sofrimentos eram motivados pelos mais profundo zelo divino.
O único temor que um pastor tem, não é o da perda de cargo, ou de prestigio, afinal, um pastor prega, aconselha e pastoreia, seja por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros (II Co 6. 8 ACF), mas sempre tornando-se recomendável a Deus, e aos homens em todas as coisas, na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido (II Co 6. 4 - 6 ACF). 
O que um pastor, que vela pelas almas teme, é que as ovelhas se desviem da simplicidade de Cristo. Que no lugar do único senhor e salvador da Igreja seja tomado por pregadores sem o mínimo comprometimento com a verdade as Escrituras Sagradas, que astros populares sejam confundidos com ministros de Deus (esta, é alias, a estratégia mais recente do diabo), confundir sacerdócio com carreira artística, e não são poucos os supostos pastores que tem entrado por este caminho.
Em terceiro lugar, um pastor sofre quando mesmo pregando a Palavra com zelo e afinco, ele percebe que o povo recebe, com maior aceitação aquilo que não é bíblico, aí é o momento de fazer o povo ver a verdade, não por meio de imprecações, maldições, pragas, mas por meio de vida, obra e testemunho pessoal. É neste sentido que se encaixam bem das palavras do apostolo Paulo,  penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos (II Co 11. 1 - 5 ACF), e, pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo (I Co 15. 10 ACF).
Penso que diante do aparato mediático atual, da insensibilidade ao outro (as pessoas não percebem o outro diante de si), apenas o que é midiático, a melhor resposta é a graça de Deus na vida do ministro de Deus. Via de regra ela faz com que o homem vá além dos limites e da possibilidade, e quanto mais indigno é o vaso, maior graça é derramada no mesmo. Isto posto, agora posso falar de obediência.
Os verbos correspondentes a obedecer no texto são: πειθεσθε (peithesthe), que vem de πειθω (peitho), cujo sentido é tanto o de obediência, quando o de persuasão. O segundo termo que aparece aqui é υπεικετε (hypeikete), cujo sentido é o de ouvir, e obedecer. Para todos os efeitos a obediência aqui implica na aceitação de uma argumentação solida. 
Se Cristo quisesse do seu povo uma obediência irrestrita a todos os pastores, não teria recomendado aos seus discípulos que atentassem para a vida e os frutos das pessoas, para só então julgar se a mesma era, ou não digna de crédito (Mt 7. 15 - 21), e muito menos inspirado seus servos, os apóstolos a exortarem o povo a ter cuidado com lobos devoradores que entrariam no rebanho (At 20. 28, 29), e muito menos usado Judas, para alertar a respeito daqueles que apascentam a si mesmos (Jd v. 12), e aqui cabe o cuidado de que apascentar a si mesmo é o mesmo que tratar de seus interesses ao invés de tratar do povo de Deus. E não estou só falo aqui com o apoio de exegetas tais como Marvin Richardson Vincent, que entendem neste texto uma condenação aos pastores, que colocam a promoção de seus interesses acima dos interesses de Deus e do rebanho. Para estes a recomendação não é a de obediência, mas de posicionamento em uma santa batalha, da peleja pela fé, que foi dada de uma vez por todas aos santos.
Não há nada melhor do que estar sob a autoridade de um pastor que de fato vela por nossa vida, que cuida de nós. Este sim, é um legítimo representante de Cristo, o sumo pastor. Não há nada melhor do que poder contribuir para com o pastorado deste pastor, e é neste ponto que se precisa considerar a obediência a fim de que os verdadeiros homens de Deus pastoreiem com prazer e alegria. Mas isto nem de longe pode ser equiparado com subserviência. Um forte abraço.
Em Cristo, Marcelo Medeiros.

sábado, 26 de abril de 2014

Campanha Igreja orando, Deus agindo


Por acaso este foi um daqueles sábados em que assisti o programa Vitoria em Cristo e tive conhecimento de uma campanha idealizada por um punhado de pastores do brasil, e fomentada, por ninguém mais ninguém menos do que Silas Malafaia, um dos pastores que possuem maior projeção midiática no Brasil, o que por si só já garante a popularidade da campanha em nosso solo pátrio. Mas confesso que me preocupo, com a ausência de ação política e social, por parte dos cristãos em nosso país. Na verdade me pergunto pela ação influenciadora dos mais de trinta milhões de evangélicos deste país. Falo da ação do crente como sal e luz da terra, claramente delineada por Cristo no seu famoso ensino do monte.
Nas palavras do pastor, é necessário agir com mais cidadania neste país (aqui e aqui). Ser cidadão é muito mais do que votar, consiste em participar das decisões politicas de sua cidade, ou país, bem como lutar por direitos individuais, do grupo do qual se faz parte, as também se posicionar de forma contrária a todo tipo de injustiça, seja contra a classe que nos representa, seja contra outra classe. Este tipo de participação é um legado da reforma protestante, que está perdido, mas que deve e precisa ser resgatado.
A oração do povo de Deus pela nação, tem de passar pela confissão contrita de pecados. Falo aqui principalmente do pecado de omissão que tem a tingido a nós todos, de nossa conformidade com o presente século, de igual modo, e preciso que se interceda por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade (I Tm 2. 2 ACF), mas esta intercessão não se faz pelo mero pedido de bênçãos, ou de sabedoria sobre o ministro, mas por meio de confissão de pecados e suplicas pela graça comum, uma vez que o alvo da intercessão pelos políticos é: ou salvação dos mesmos pela graça, ou, e a vida sossegada e tranquila por parte do povo de Deus.
É de posse destes pressupostos bíblicos que abraço a campanha, orando pela nação, mas orando pelo povo de Deus, a fim de que o mesmo seja sal e luz neste mundo, nesta geração corrompida e perversa, mas para a qual é preciso que o povo de Deus seja luzeiro do mundo.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

Dons de poder


Os dons são dadivas por meio das quais Deus manifesta a sua graça na Igreja, é importante que este conceito seja mantido, a fim de que distorções sejam evitadas. No Evangelho não há espaços para a logica do mérito (aqui), logo, mesmo os dons de poder são meios pelos quais Deus evidencia seu poder com vistas à glorificação do seu nome, somente.
Uma importante questão levantada pelo autor da lição na introdução da mesma, pode ser colocada nestes termos: se na igreja do primeiro século foram verificados tantos sinais, por quais motivos nos tempos atuais tais sinais não são vistos com a mesma abundancia com que se podiam ver nos primeiros tempos?
uma resposta significativa para este questionamento é que vem da teologia de fundo cessacionista, a saber, que os milagres são característicos da era apostólica, e passado o tempo dos apóstolos, eles cessaram. O problema deste tipo de pensamento é que ele se baseia em algo que a Bíblia não fala, seja de forma implícita, seja de forma explícita.
Em outras palavras, em texto algum da Bíblia se lê qualquer afirmação a respeito do desaparecimento dos dons espirituais após o encerramento da era apostólica. Mas nos dias atuais é possível a constatação de que estes sinais estão se tornando cada vez mais escassos. Por quais motivos? Esta é uma pergunta que precisa ser respondida.

I) OS MILAGRES NO QUADRO GERAL DA BÍBLIA SAGRADA

O consenso do ponto de vista teológico é o de que milagres são meios de evidenciar a verdade em um período da revelação. Por exemplo, ao enviar Moisés ao Egito com vistas a libertar o povo, Deus concedeu sinais a Moisés a fim de que o mesmo se tornasse digno de crédito aos olhos do povo (Ex 4. 8, 9 [aqui e aqui]). Sendo que neste ultimo link ainda se pode observar que um dos propósitos divinos com os milagres é a divulgação da nome do Senhor. Isto se comprova por meio de duas ocasiões em que Deus mesmo afirma que está endurecendo o coração do Faraó a fim de que seu nome seja glorificado na terra.
Porque eu já poderia ter estendido a mão, ferindo você e o seu povo com uma praga que teria eliminado você da terra. Mas eu o mantive de pé exatamente com este propósito: mostrar-lhe o meu poder e fazer que o meu nome seja proclamado em toda a terra (Ex 9. 15, 16 NVI). 
e,
Diga aos israelitas que mudem o rumo e acampem perto de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar. Acampem à beira-mar, defronte de Baal-Zefom. O faraó pensará que os israelitas estão vagando confusos, cercados pelo deserto. Então endurecerei o coração do faraó, e ele os perseguirá. Todavia, eu serei glorificado por meio do faraó e de todo o seu exército; e os egípcios saberão que eu sou o Senhor (Ex 14. 2 - 4 NVI).  
Ainda que de inicio os sinais sejam uma forma para que se confirme que a chamada de Moisés realmente procede Deus, na verdade, eles são uma demonstração de que na verdade, os sinais são o cartão de apresentação de Deus. Isto fica claro no transcorrer da revelação divina, uma vez que os salmistas não titubeiam em afirmar que Deus realizou em pleno Egito sinais e maravilhas, contra o faraó e todos os seus conselheiros (Sl 135. 9 NVI), e que Ele mostrou os seus prodígios no Egito, as suas maravilhas na região de Zoã (Sl 78. 43 NVI).
Dentro do quadro do Evangelho é possível a percepção de algumas verdades a respeito dos milagres. Para tal, partirei de um texto controverso, que é o de Marcos, digo controverso, por não constar na maior parte dos manuscritos, mas que creio ser verídico.
E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porãoas mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém (Mc 16. 15 - 20 ACF). 
Neste texto é possível observar:
  1. Uma ênfase na pregação, uma vez que a ordem de Cristo é que se pregue o Evangelho a toda a criatura.  
  2. Uma preocupação, por parte de Cristo com a salvação, com o destino final das criaturas as quais o Evangelho é ofertado.
  3. A promessa de sinais seguindo os que creem no Evangelho. Estes mesmos sinais são os sinais da presença do Reino de Deus entre os ouvintes (Mt 11. 5ss).
  4. Após ordenar a pregação do Evangelho, Jesus é recebido á direita de Deus, indicando com isto sua posição de autoridade (Sl 110. 1, 2; At 1. 10, 11; 7. 58).
  5. Os discípulos cumprem imediatamente a palavra de Cristo e saem pregando o Evangelho.
  6. Em resposta à obediência dos discípulos, o senhor coopera com os mesmos. Aqui aparece um termo similar ao verbete συνεργον (synergon), palavra que dá origem ao vocábulo sinergia, que se pode entender como sendo o concurso de diversos órgãos na realização de uma função  indica alguém que ajuda outro em suas funções.
  7. No texto aparecem, respectivamente as palavras σημεια (semeia) e σημειων (semeion), palavras que são empregadas na Bíblia como equivalente do hebraico הָאֹ֣ת (hoth) e suas variantes o significado do mesmo é marco, um símbolo, e que na teologia bíblica são milagres que visam comprovar a mensagem de Deus para o seu povo.
  8. Ao longo do Novo Testamento os termos  σημεια (semeia) e σημειων (semeion), são associados a outro termo, τερασ (teras), cujo sentido é o de uma obra prodigiosa, e que tem no hebraico מֹופְתַ֖ (môpheth) seu correspondente.
A conclusão imediata é de que os sinais são o meio pelo qual Deus coopera com os seus mensageiros na tarefa da pregação do Evangelho, confirmando com isto a mensagem que os mesmos estão proferindo. Ao longo do Novo Testamento é possível sim ver a vindicação de sinais e prodígios como marcas de um ministério apostólico autentico. É o que Paulo, por exemplo, faz ao afirmar: Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas (II Co 12. 12 ACF).
Mas é um erro o entendimento de que os sinais são restritos à presença apostólica, uma vez que escrevendo aos irmãos da Galácia, Paulo pergunta: Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, o faz pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? (Gl 3. 5 ACF). Tanto a presença do Espírito quanto a realização de maravilhas é creditada ao Senhor, ao invés de ser aos apóstolos.
Deste breve estudo, e dos demais indicados supra, a conclusão que emerge é a de que os milagres visam:
  1. Exaltar a Deus acima dos demais deuses das nações, e não é sem razão que coloco aqui esta como a primordial das razoes, uma vez que esta é a principal e possui ampla fundamentação bíblica.
  2. Confirmar uma determinada revelação.
  3. Despertar a fé das pessoas às quais determinadas revelações são conferidas, embora isto nem sempre funcione.
  4. No novo testamento, os milagres e sinais visam conferir crédito á mensagem pregada. Assim, onde estiver a palavra, em tese, os milagres estarão também.
Mas convém observar que nem sempre os milagres se manifestam como forma de credibilizar a verdade. Isaías foi autorizado a dar um sinal para Ezequias como forma de confirmar a mensagem profética a respeito de sua cura (Is 37. 7, 8), algo que não se vê na maioria absoluta dos profetas. E o próprio Cristo decidiu, livremente, não fazer sinais em determinados momentos.
 
II) O CONCEITO DE PODER
Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus (I Co 1. 18 ACF).
Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus (I Co 1. 24 ACF).
E a minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus (I Co 2. 4, 5 ACF). 
Para Paulo a própria pregação e o próprio Evangelho, por si sós, são o poder de Deus em ação em prol da salvação do homem. Em todos estes textos o termo que mais aparece é o grego δυναμει (dinamei) e variantes. O termo indica, entre outros, feitos poderosos, milagres (Mt 7. 22; 11. 20, 21, 23; 13. 54, 58; 14. 2; At 2. 22; I Co 12. 10).
Os sinais e maravilhas do Espírito de Deus acompanham a pregação do Evangelho, embora seja respeitada a livre e soberana ação de Deus. O que se quer dizer com isto? Sendo um proposito divino operar um milagre, não há teologia que possa engessar tal disposição divina. Ainda que se alegue a ausência de sinais em Corinto, por exemplo, a própria pregação do Evangelho, em meio às mais cruéis adversidades é, por si só, um dos maiores milagres. É exclusivamente a partir desta ótica que entendo o pensamento de pascal, para quem a sobrevivência da fé era um milagre. É sob estes aspectos que tecerei breves considerações sobre os dons de poder.
 
III) DONS DE PODER
 
São dons de poder: fé, operação de maravilhas, e dons de curas. Não se tratam de privilégios concedidos a alguns, mas de dadivas da graça de Deus, que manifestam o agir do mesmo em meio á pregação do Evangelho, visando a glória do próprio Deus. É o caso, por exemplo da fé que Paulo visualizou em um jovem e por meio da mesma afirmou o poder de Cristo, para lhe dar a saúde (At 14. 9). Cristo tributou esta fé tanto ao centurião romano que teve o seu servo curado (Mt 8. 10, 13), e na mulher siro fenícia que buscava a cura de sua filha (Mt 15. 28). Esta mesma fé esteve presente na vida de Abraão 
(Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem. O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência.
E não enfraquecendo na fé, nào atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara.
E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, E estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer
(Rm 4. 17 - 21 ACF). 
Como esta fé não pode ser encontrada na natureza humana, a definição mais própria do que venha a ser o dom da fé, é a habilidade de crer em Deus, ou em suas promessas, sem nenhuma dúvida humana, descrença e raciocínio. Esta fé, se manifestou nos dias apostólicos na pessoa de Estevão, que a Bíblia define como homem cheio de fé e do Espírito Santo. O termo para cheio de fé é πληρη πιστεως (plere pisteos), cujo sentido é o mesmo de pleno (no sentido de plenitude), de fé e do Espírito Santo.
Os dons de curas, χαρισματα ιαματων (charismata iamatoon), indicam, na verdade a capacidade de curas especificas por parte de determinadas pessoas no tocante a enfermidades específicas. Este dom se manifestou em Pedro, que em duas ocasiões diferentes ministrou curas sobre a vida de pessoas que possuíam enfermidades que comprometiam a capacidade física de andar (At 3. 11, 16; 9. 33, 34), e isto ocorre de uma forma tal que o povo que vivenciou tais experiências passou a fazer uma prática, ao meu ver espúria, a de colocar enfermos para que ao passar a sombra de Pedro, os mesmos fossem curados (At 5. 15, 16).
De igual modo, maravilhas são vistas nos ministério de Paulo, e isto ao ponto do mesmo afirmar: Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras; Pelo poder dos sinais e prodígios, e pela virtude do Espírito de Deus; de maneira que desde Jerusalém, e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo (Rm 15. 18, 19 ACF).
Um breve exemplo da presença do dom de operação de maravilhas (ενεργηματα δυναμεων [energmata dinameon]) na vida do apostolo em questão pode ser visto nos sinais que ele, pelo poder de Deus, operou na Ilha Malta, por ocasião de um naufrágio, quando o mesmo chegou a ser mordido por uma víbora (At 28. 5, 6). Contudo, no entendimento do apostolo em questão, as maravilhas não se esgotam aí, mas compreendem a obediência, por parte dos ouvintes, na pregação do Evangelho. É neste contexto que as maravilhas e os prodígios são considerados. 
Encerro afirmando que creio nos dons como uma realidade presente e atual, a despeito do caráter soberano com que os mesmos se manifestam, afinal, um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer (I Co 12. 11 ACF), mas cabe a cada um de nós buscar sim, tais dons, a fim de que em nossa era, a graça de Deus se manifeste de forma visível e Cristo seja glorificado por meio do seu corpo, que é a igreja.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

sábado, 19 de abril de 2014

Dons de Revelação


Na carta de Paulo aos irmãos de Corinto, são alistados, inicialmente nove dons (I Co 12. 8 - 10), que são divididos em dons de revelação, dons de poder, e dons de elocução verbal. A despeito do autor da lição da Escola Bíblica creditar a divisão e classificação ao teólogo Stanley Horton, a mesma pode ser vista em uma obra cercada de controvérsia como o é a Bíblia de Estudo Dake, para quem os mesmos podem ser classificados da seguinte forma: 1) dons de revelação, ou dons de saber, 2) dons de poder, ou dons em ação, 3) dons de inspiração, ou elocução verbal.
Para fins de introdução ao assunto, irei enumerar os mesmos dons. Assim, são dons de revelação: Palavra da Sabedoria, Palavra do conhecimento (ou da ciência), Discernimento de Espíritos. Os dons de poder são: Fé, Dons de curas, Operação de Maravilhas. Reitero que tais divisões já podem ser vistas na Bíblia de Estudo Dake, daí a minha dificuldade em creditar a referida classificação a um autor específico . Gostaria de avançar com leitor neste estudo, e em tempo passar aos conceitos que nos interessam.

I) CONCEITOS PERTINENTES AO ESTUDO

A respeito do significado de dom, o leitor pode ver neste estudo. Desde já ressalto que na opinião de Vincent, a expressão χαρισμα, que pode ter em χαρισματα (charismata) uma das suas variantes, pode ser usada pelos autores bíblicos tanto para designar as bênçãos da salvação, que Deus, por meio de Cristo concede aos pecadores, quanto um dom extraordinário do Espirito Santo, que reside e trabalha no individuo.
Além do conceito de dom, é de fundamental importância que se explore o conceito de revelação. A terminologia original para revelação é αποκαλυψιν (apokalipsin), cujo sentido, para Robinson, é o de um revelar da parte de Deus de coisas dantes desconhecidas. Escrevendo aos crentes de Roma, Paulo afirma:
Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto, Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé (Rm 16. 25, 26 ACF). 
Em outras palavras, a pregação de Cristo não é algo novo, inovador, ele subordina-se, na verdade amolda-se á revelação do mistério (μυστηριου), que desde os tempos eternos esteve oculto. Este μυστηριου é algo que dada à ausência de obviedade não se encontra no mesmo nível percepção humana. E de fato, os agir de Deus quase sempre se dá a partir de um nível superior ao dos pensamentos humanos. É o que se percebe nos lábios do profeta quando Deus fala por meio deste:
Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.  Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos (Is 55. 8, 9 ACF). 
Se os pensamentos divinos  se dão em um nível de operação que está acima do humano, daí que seja plenamente compreensível a necessidade de revelação, bem como a definição que a própria Teologia faz da mesma. A apokalipsis bíblica equivale ao ato pelo qual Deus fez saber aos homens os seus mistérios (perceba a presença desta palavra na conceituação lexical), sua vontade, a princípio no momento da criação, depois por Moisés e os profetas, e finalmente por Jesus Cristo (aqui). E, ou, conjunto de verdades sobrenaturais manifestadas por Deus ao homem através da inspiração e iluminação (perceba mais uma vez a presença desta palavra na conceituação lexical) ou pelo ensino oral, comunicado aos patriarcas, profetas, apóstolos e santos (aqui).
As definições lexicais apontam para duas categorias de revelação. Uma que, ao mesmo tempo em que começa, se encerra em Jesus Cristo e nos seus apóstolos, e outra que avança a partir da revelação de Cristo e dos apóstolos, e por isto mesmo se constitui como uma compreensão maior do que já fora revelado. É nesta segunda categoria que se enquadram os dons de revelação. O que até agora fora dito pode ser resumido da seguinte forma:
  1. O objeto da revelação sãos os mistérios de Deus.
  2. Daí que a mesma se dê em um nível mais elevado do que o da percepção humana.
  3. A revelação do que é norma de conduta e prática se dá por meio da natureza, dos Escritos canônicos e por Jesus Cristo.
  4. As revelações atuais são uma compreensão cada vez mais aprofundada do mistério que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo (Ef 3. 9 ACF).
  5. Sim, nas Escrituras mistério é o que já está revelado, uma vez que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência; descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo (Ef 1. 8, 9 ACF). 
  6. É nesta categoria de revelação que os dons de revelação se enquadram.
Este é o ponto em que convém explorar os significados de sabedoria, conhecimento e discernimento.

II) SABEDORIA, CONHECIMENTO E DISCERNIMENTO

Ao contrário que versam os léxicos, a sabedoria bíblica não tem correlação alguma com a erudição e o saber intelectual. Na verdade ela tem mais a ver com a habilidade nos afazeres da vida. Este é o sentido inicial de חָכְמָתֶ֑ (hokemah), ou σοφια (sophia), e foi com este sentido, que Davi disse a Salomão: faze pois, segundo a tua sabedoria, e não permitas que suas cãs desçam à sepultura em paz (I Rs 2. 6 ACF), quando deu a este orientações a respeito de derrotar oponentes e com isto, consolidar o seu reino.
Robinson afirma que este tipo de sabedoria aparece ainda na ordenação da vida cristã. De sorte que tiago instrui: se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente (Tg 1. 5 ACF), e depois o mesmo ressalta que esta sabedoria é evidenciada na vida cristã por meio de obras em mansidão de sabedoria (Tg 3. 13 ACF), indicando com isto que a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia (Tg 3. 17 ACF).
Com isto Tiago faz uma distinção clara entre dois tipos de sabedoria, uma que vem do alto, e outra que é terrena, animal e diabólica (Tg 3. 15 ACF). A primeira se manifesta em mansidão e sabedoria, ao passo que a segunda se limita às contendas e debates que nada mais fazem do que promover invejas e ruins suspeitas. Para todos os efeitos a fala de Tiago abre o espaço para uma nova compreensão do que vem a ser a sabedoria de Deus. Neste sentido, חָכְמָתֶ֑ (hokemah) passa a ser um profundo conhecimento natural e moral.
Todavia, há a sabedoria divina, da qual Paulo fala na antífona que se lê na sua carta aos crentes de Roma. Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! (Rm 11. 33 ACF). Esta é a sabedoria que, dado seu caráter insondável, somente pode ser atingida pelo homem por meio de revelação. É neste ponto que entram os dons de revelação. Aqui cabe a observação de que ao lado da sabedoria aparece o conhecimento de Deus, outro objeto dos dons de revelação.
O conhecimento divino opera em um nível de profundidade e radicalidade infinitamente superior ao dos homens, permita-me uma explicação. O homem pode sondar e perscrutar todos os objetos da natureza, pode de posse da confiança de um animal, fazer do mesmo um objeto de estudo. Pode sistematizar os dados que colhe da observação de outros seres humanos, sendo que neste caso, o pesquisador conhece apenas aquilo que o outro lhe permite saber. É daí que nasce o conhecimento humano. Este consiste na sistematização (ou organização), dos dados da cultura (o saber que uma geração passa para a outra), da experiência, e em alguns casos na comparação com teorias passadas e elaboração de novas.
O conhecimento divino opera em outra categoria, uma vez que os apóstolos e profetas perguntam: Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? (Rm 11. 34, 35 NVI). A fala de Isaias é ainda mais contundente: Quem guiou o Espírito do Senhor, ou como seu conselheiro o ensinou? Com quem tomou ele conselho, que lhe desse entendimento, e lhe ensinasse o caminho do juízo, e lhe ensinasse conhecimento, e lhe mostrasse o caminho do entendimento? (Is 40. 13, 14 ACF).
No caso do conhecimento divino, é mais do que sabido, por meio destas passagens que Deus não aprendeu nada de ninguém. Além do mais, o conhecimento de Deus engloba seu conhecimento em profundidade dos pensamentos e intentos humanos (Jr 11. 20; 17. 9, 10), da real natureza de todas as coisas (Is 40. 22), e ainda acontecimentos futuros (Is 40. 21).
O discernimento é o exercício da capacidade de julgar, com vistas e emissão de uma opinião. Mas em determinados casos o critério de avaliação humana não é suficiente, o que demanda uma percepção supra natural a fim de que o julgamento possa ser feito de forma concisa. É neste ponto que se vê a necessidade de dons de discernimento de espíritos. Feitas as considerações supra, posso abordar livremente os dons de revelação.

III) OS DONS DE REVELÇÃO

O consenso é de que os dons da Palavra da sabedoria, Palavra do Conhecimento e discernimento de espíritos, são dons de revelação, e isto por um simples motivo, eles não são produtos de uma experiência acumulada, ou de um conhecimento advindo da leitura e da reflexão, e muito menos de um conjunto de critérios que permita aos homens saber com certeza a motivação espiritual, por trás de cada manifestação. Não! Tais manifestações são produto de uma iluminação divina, excelente, que manifestam a sabedoria e o conhecimento de Deus.

i) Palavra da sabedoria

Não se trata de um falar sábio proveniente dos dias (Jó 12. 12), uma vez que esta mesma sabedoria é subvertida pela sabedoria de Deus (Jó 12. 13). Mas de um conselho prático em razão de um conhecimento revelado. Isto se aplica ao caso de José, aconselhando o Faraó a constituir um administrador sobre o Egito (aqui e aqui).
A Palavra da sabedoria pode ser vista no conselho de Jetro a Moisés (Ex 18. 19 - 24 [aqui]), no sábio conselho de Eliseu para a mulher sunamita (II Rs 8. 1, 2), bem como o pedido de Daniel ao rei Nabucodonosor que se convertesse ao Senhor, a fim de o mesmo em se convertendo, não viesse a ser afligido pelos males que vira em sonho, e que claro, não foi colocado em prática pelo rei (Dn 4. 27).
No Novo Testamento tal sonho se faz ver na palavra de Tiago no concilio de Jerusalém, o primeiro para decidir a questão dos gentios (At 15. 14 - 22). Este conselho revelou aquilo que Paulo vai chamar de sabedoria de Deus em unir judeus e gentios em um só corpo (Ef 3. 3 - 9).

ii) Palavra do Conhecimento
 
Consiste em uma palavra de ensinamento cujo teor é um conhecimento cujo acesso não está no nível humano, mas no divino. É o caso, por exemplo, do conhecimento divino, que abrange os atos e intenções dos coração humano (Jr 17. 10), e o futuro. Enquadro como palavra da ciência, ou do conhecimento, as explicações que tanto Daniel, quanto José dão a respeito do futuro (algo que está restrito à esfera divina), de Babilônia e Egito, respectivamente (aqui e aqui).
O mesmo se pode ver na palavra que Pedro deu a respeito da identidade de Cristo (Mt 16. 16 - 18), uma vez que o conhecimento da pessoa de Jesus depende de revelação. E isto pelos motivos elencados na Escritura Sagrada. Isaías se refere ao Filho de Deus como aquele que
foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum (Is 53. 2, 3 ACF). 
O próprio Jesus disse que ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11. 27 ACF). 

iii) Discernimento de Espiritos

Consiste na capacidade de perceber qual o espírito está agindo em uma determinada manifestação. José, por exemplo soube que o sonho de Faraó era uma revelação da parte de Deus com respeito ao futuro, o mesmo se deu em relação a Daniel e Nabucodonosor.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O primeiro sonho de Nabucodonosor (a estátua), e a revelação da sabedoria de Deus


O presente estudo é uma continuação de uma série que tenho postado aqui neste blog com a clara intenção de aprofundar a questão da revelação e a natureza dos dons concernentes ao processo de iluminação sobrenatural (aqui).  Neste pretendo abordar primeiro sonho de Nabucodonosor, bem como a interpretação que Daniel dera ao mesmo, e a Teologia implícita no texto. Começarei com a contextualização do fato em si.
 
I) O CONTEXTO
 
Segundo MacArthur, os egípcios e os babilônios desenvolveram uma ciência chamada oniromancia, que consiste na interpretação dos sonhos. E há de se perceber o seguinte: os únicos personagens que a Bíblia mostra interpretando sonhos estão dentro destes respectivos contextos, e nos mesmos se percebe a afirmação de que cabe a Deus a interpretação dos sonhos. Foi assim tanto com José, quanto com Daniel.
Diante dos sonhos enigmáticos, tanto do copeiro, quanto do padeiro, José afirmou: Não são de Deus as interpretações? Contai-mo, peço-vos (Gn 40. 8 ACF). Embora estivesse ansioso para sair do cárcere, e tivesse diante da maio oportunidade de sua vida, quando indagado pelo Faraó, a respeito de suas habilidades em interpretação de sonhos, José não titubeou em afirmar: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó (Gn 41. 16 ACF).
De igual modo, é perceptível, da parte de José, a ideia de que quem está á frente dos acontecimentos é Deus, e como soberano, em um ato de graça revelou ao Faraó os acontecimentos futuros. O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó (Gn 45. 25 ACF). E mais uma vez ele diz: o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó (Gn 41. 28 ACF). Na percepção de José o sonho foi repetido duas vezes a Faraó, é porque esta coisa é determinada por Deus, e Deus se apressa em fazê-la (Gn 41. 32 ACF).
Aqui se observa a emergência de uma teologia que será continuamente reafirmada pelos profetas. Deus tem o controle e o conhecimento de fatos futuros, e segundo a sua vontade revela aos homens a fim de que os mesmos possam conhecer sua vontade e de acordo com a mesma alinharem suas vidas. Em Daniel esta mesma teologia aparece de forma ainda mais radical.
O livro de Daniel narra um fato ocorrido na corte babilônica. Nabucodonosor teve um sonho e chamou os magos, os caldeus e demais sábios na intepretação. Sendo que, por algum motivo ele omitiu qual era o conteúdo do sonho, o que inviabilizou quaisquer tentativas de interpretação por parte dos especialistas (Dn 2 1 - 11). Para MacArthur esta foi uma forma astuciosa do soberano babilônico agir, seja como for, de imediato, temos uma confissão dos intérpretes,
Não há homem na terra que possa fazer o que o rei está pedindo! Nenhum rei, por maior e mais poderoso que tenha sido, chegou a pedir uma coisa dessas a nenhum mago, encantador ou astrólogo. O que o rei está pedindo é difícil demais; ninguém pode revelar isso ao rei, senão os deuses, e eles não vivem entre os mortais (Dn 2. 10, 11 NVI).
Percebe-se aqui que os próprios intérpretes reconhecem que o que o rei pede, o conhecimento do sonho em si, está na esfera de saber dos deuses, não na dos homens. Em resposta o rei decreta a morte de todos os sábios, magos, astrólogos, caso os mesmos não declarem o sonho e a interpretação do mesmo. Daniel se apresenta para interpretar, mas o faz confiante não em suas habilidades naturais, mas em Deus e por este motivo pede aos seus amigos que orem por ele, e Deus lhe concede a interpretação (Dn 2. 17 - 30).
O Deus de Daniel revela coisas profundas e ocultas; conhece o que jaz nas trevas, e a luz habita com ele (Dn 2. 22 NVI), Ele revela os mistérios. Ele mostrou ao rei Nabucodonosor o que acontecerá nos últimos dias (Dn 2. 28 NVI), e no final, a glória é dada a ele exclusivamente, visto que até Nabucodonosor exclama: Não há dúvida de que o seu Deus é o Deus dos deuses, o Senhor dos reis e aquele que revela os mistérios (Dn 2. 47 NVI).
Não se vê aqui, em um único momento Daniel vindicando maior autoridade, maior credibilidade para, ou para os seus amigos, uma vez que ele mesmo reconhece: Quando estavas deitado, ó rei, tua mente se voltou para as coisas futuras, e aquele que revela os mistérios te mostrou o que vai acontecer. Quanto a mim, esse mistério não me foi revelado porque eu tenha mais sabedoria do que os outros homens, mas para que tu ó rei, saibas a interpretação e entendas o que passou pela tua mente (Dn 2. 29, 30 NVI). 
 
II) O CONTEÚDO DO SONHO
 
Partindo do pressuposto de que os acontecimentos futuros são ordenados pelo próprio Deus, com vistas a manifestar a sua sabedoria, não é demasiado difícil entender que o Senhor, segundo a sua soberana e graciosa vontade, revele aos seus o que há de acontecer. Eu gostaria de reservar a interpretação dos elementos da estátua com que Nabucodonosor sonhou para um outro estudo, a respeito da Escatologia de Daniel.
No momento quero me ater à mensagem implícita ao sonho. Não creio que Deus tenha dado este sonho ao rei com a pura e simplória intenção de satisfazer a curiosidade do rei a respeito do futuro. Não! Mas como fazer tais incursões sem com isto ferir o sentido exegético e hermenêutico do texto? Como fazer exegese, ao invés de eixegese, com tal pressuposto?
Simples. Creio que a chave hermenêutica de todo o sonho de Nabucodonosor é a percepção de Daniel a respeito de Deus como sendo Aquele que muda as épocas e as estações; destrona reis e os estabelece. Dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos que sabem discernir. Revela coisas profundas e ocultas; conhece o que jaz nas trevas, e a luz habita com ele (Dn 2. 21, 22 NVI). É com este foco que as demais informações podem e precisam ser lidas.
Tu, ó rei, és rei de reis. O Deus dos céus te tem dado domínio, poder, força e glória; nas tuas mãos ele colocou a humanidade, os animais selvagens e as aves do céu. Onde quer que vivam, ele fez de ti o governante deles todos. Tu és a cabeça de ouro.
"Depois de ti surgirá um outro reino, inferior ao teu. Em seguida surgirá um terceiro reino, reino de bronze, que governará sobre toda a terra. Finalmente, haverá um quarto reino, forte como o ferro, pois o ferro quebra e destrói tudo; e assim como o ferro a tudo despedaça, também ele destruirá e quebrará todos os outros.
Como viste, os pés e os dedos eram em parte de barro e em parte de ferro. Isso quer dizer que esse será um reino dividido, mas ainda assim terá um pouco da força do ferro, embora tenhas visto ferro misturado com barro.
Assim como os dedos eram em parte de ferro e em parte de barro, também esse reino será em parte forte e em parte frágil.
E, como viste, o ferro estava misturado com o barro. Isso quer dizer que se procurará fazer alianças políticas por meio de casamentos, mas essa união não se firmará, assim como o ferro não se mistura com o barro.
"Na época desses reis, o Deus dos céus estabelecerá um reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro povo. Destruirá todos esses reinos e os exterminará, mas esse reino durará para sempre. Esse é o significado da visão da pedra que se soltou de uma montanha, sem auxílio de mãos, pedra que esmigalhou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. "O Deus poderoso mostrou ao rei o que acontecerá no futuro. O sonho é verdadeiro, e a interpretação é fiel
" (Dn 2. 37 - 45 ACF). 
A sabedoria que está sendo colocada ao alcance de todos os atores envolvidos na trama, bem como dos leitores do texto, o que inclui você e eu, não se limita ao conhecimento de eventos futuros, mas é a de que a despeito do quanto se tenha em matéria de poder, tudo é passageiro, somente o Reinado de Deus, manifesto no controle providencial de todas as coisas permanece para sempre.
 
Em Cristo Marcelo Medeiros.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Revelações por meio dos sonhos


Enfoco este assunto explicitamente pelo fato de que ao estudar sobre os dons (leia-se carisma, no sentido de dádiva),  de Revelação, percebi que em grande parte das Escrituras Deus se manifesta e se revela por meio de sonhos. Isto fica implícito na fala do jovem Eliú quanto este afirma:
Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama.   Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba. Para desviar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela espada (Jó 33. 14 - 18 ACF). 
observe que quando Eliú afirma: Então o revela ao ouvido dos homens, ocorre aqui a expressão hebraica גְלֶה (geelah), que usualmente corresponde ao grego αποκαλυψιν (apokalipsin), que para Robinson, é a revelação da parte de Deus de coisas dantes desconhecidas. Isto posto convém uma definição de sonho. Sei que já falei sobre o assunto (aqui), mas percebo a necessidade de retornar ao mesmo.
 
I) O CONCEITO BÍBLICO E LEXICAL DE SONHO
 
Entende-se o sonho como sendo:
 
  1. Associação de imagens, frequentemente desconexas ou confusas, que se formam no espírito da pessoa enquanto dorme.
  2. No sentido figurativo, pode ser uma ilusão, fantasia, devaneio, utopia.
  3. Alguns escritores bíblicos o definem como sendo uma coisa vã, fútil, que se esvai.
  4. Ideia acalentada, ideal, desejo intenso e vivo.
  5. Visão sobrenatural.
 
Em primeiro lugar os sonhos se constituem a partir de associações de imagens desconexas. Isto se percebe na leitura dos relatos bíblicos referentes aos sonhos. Basta a lembrança da historia de José, que interpretou os sonhos do copeiro, do padeiro, e do Faraó. O primeiro, sonhou com coisas desconexas entre si. Uma videira florescente, com três ramos, em já em frutos, que por sua vez eram espremidos e servidos em um copo, que por sua vez era entregue nas mãos do Faraó. Vale lembrar que o copeiro está na condição de prisioneiro, e não exerce mais esta função.
O padeiro, por exemplo sonhou com um cesto de pão, sobre a cabeça, lugar onde via de regra não se coloca um cesto de pão, pelo menos não em nossa cultura, e aves do céu sobre os cestos. Mais interessante ainda é o sonho do Faraó. Espigas de milho cheias, viçosas sendo devoradas por espigas mirradas, apontam para o caráter aparentemente confuso e desconexo. MacArthur nos informa que na cultura egípcia, e babilônica havia uma ciência de interpretação de sonhos, uma vez que os mesmos eram vistos como revelação do futuro.
A expressão sonhos também pode designar uma ilusão, fantasia, ou devaneio procedente de um desejo intenso associado à escassez ou ausência dos recursos que permitam a realização do referido desejo. Isaias emprega a expressão com esta conotação para repreender as nações que se ajuntam para a peleja contra o povo de Deus. Será também como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede; assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião (Is 29. 8 ACF).
Assim, o termo também pode ser empregado para se referir a tudo o que fugaz e passageiro. E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto (Is 29. 7 ACF). Os ímpios, por mais que prosperem são considerados desta forma, a eles é dada a seguinte sentença: como o seu próprio esterco, perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está?   Como um sonho voará, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite (Jó 20. 7, 8 ACF). 
Quando o Salmista fala: quando o SENHOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham (Sl 126 . 1 ACF), fica claro aos leitores do texto que ele exprime uma aspiração, um ideal acalentado por parte daqueles que nunca haviam visto a sua pátria, a cidade chamada cidade santa. Creio que seja neste sentido que Martin Luther King empregou o termo no seu mais famoso discurso Eu tenho um sonho.
E em meio a todos estes aspectos do que vem a ser um sonho, há aqueles cujas imagens na verdade são uma representação de símbolos e elementos dos quais Deus se vale para comunicar, ou nas palavras do jovem sábio Eliú, revelar a vontade de Deus para o seu povo. É aqui que se faz mais do que necessário que tanto o sonhador ou o interprete tenham um canal aberto com Deus, para que, sendo o caso de uma revelação, possam perceber qual é a mensagem de Deus.
 
II) REVELAÇÕES POR MEIO DE SONHOS
 
Alguns sonhos são bastante claros, tais como os registrados no Evangelho de Mateus, onde se pode ler a relatos de um anjo que aparece a José e o aconselha a receber Maria por sua mulher, visto que o que está nela fora gerado do Espírito Santo, depois, o orienta sucessivamente em sua fuga para o Egito, bem como em seu retorno (Mt 1. 18 - 22; 2. 13, 19). De igual modo os magos são orientados a irem por outro caminho para sua terra, visto que as intenções de Herodes não são puras (Mt 2. 12).
Estes sonhos merecem uma atenção especial, visto que nos mesmos se percebe uma série de orientações que tocam a vida da criança, no caso Jesus. Eles revelam uma sabedoria prática. A única exceção é o sonho em que o anjo revela que a gravidez de Maria é fruto da ação do Espírito Santo, e que a sua então noiva não fornicara, nem adulterara com outro homem, e ele, José, estava livre para receber sua noiva. Neste caso, não se demonstra uma sabedoria prática, mas a sabedoria de Deus.
Já no caso de José, o que se percebe é o discernimento da procedência dos sonhos (se de Deus, ou não), o significado de cada elemento envolvido, o conhecimento de fatos futuros implícitos no mesmo, e dependendo do caso, uma palavra prática, o que revela sabedoria. O mesmo pode ser dito em relação aos sonhos de Nabucodonosor que Daniel interpretou, visto que em ambos os casos eventos futuros são revelados aos soberanos, mas a fim de que a glória seja dada exclusivamente a Deus a mensagem dos mesmos lhes é vedada. Isto posto, convém que se passe aos textos que trazem tais implicações. O sonho:
E Faraó disse a José: Eu tive um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que quando ouves um sonho o interpretas. E respondeu José a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó. Então disse Faraó a José: Eis que em meu sonho estava eu em pé na margem do rio,  E eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne e formosas à vista, e pastavam no prado. E eis que outras sete vacas subiam após estas, muito feias à vista e magras de carne; não tenho visto outras tais, quanto à fealdade, em toda a terra do Egito. E as vacas magras e feias comiam as primeiras sete vacas gordas; E entravam em suas entranhas, mas não se conhecia que houvessem entrado; porque o seu parecer era feio como no princípio. Então acordei. Depois vi em meu sonho, e eis que de um mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas; E eis que sete espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental, brotavam após elas. E as sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas. E eu contei isso aos magos, mas ninguém houve que mo interpretasse (Gn 41. 15 - 24 ACF)
O que se vê em seguida a esta exposição? Um discernimento da procedência do sonho,  visto que José afirma: O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó (Gn 41. 25 ACF). Aqui se percebe um Deus que mostra o futuro. Após o discernimento da procedência do sonho, os elementos que perfazem o mesmo são interpretados, e um conhecimento a respeito de um período vindouro de prosperidade seguido por um de fome, é revelado (Gn 41. 25 - 32).
Em seguida José dá ao faraó uma palavra de conselho a respeito do que ele tem de fazer. Veja:
previna-se agora de um homem entendido e sábio, e o ponha sobre a terra do Egito.   Faça isso Faraó e ponha governadores sobre a terra, e tome a quinta parte da terra do Egito nos sete anos de fartura, E ajuntem toda a comida destes bons anos, que vêm, e amontoem o trigo debaixo da mão de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem.
Assim será o mantimento para provimento da terra, para os sete anos de fome, que haverá na terra do Egito; para que a terra não pereça de fome. E esta palavra foi boa aos olhos de Faraó, e aos olhos de todos os seus servos
(Gn 41. 33 - 37 ACF).
Ao Faraó   foi revelado um fato futuro, ao passo que a José, foi revelado tanto a procedência do sonho, quanto um conhecimento a respeito de um fato futuro, bem como uma palavra sábia com vistas a orientar o Faraó. Em um outro post desta série falarei a respeito dos sonhos de Nabucodonosor, e de como os mesmos se alinham com  a percepção que Eliú tem dos sonhos como meios pelos quais Deus repreende os homens. Um forte abraço em Cristo, e medite neste estudo.
 
Pr Marcelo Medeiros
 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Vitória da censura e derrota da constituição


Segundo informações postadas em uma pagina que atribuem a Rachel Sheherazade, no Facebook (aqui), os comentários do SBT passam a ser de inteira responsabilidade do canal. Com isto as opiniões dos jornalistas passa a ser moderada pela assessoria do canal. A ação, por parte da direção do canal se deu após as representações feitas por partidos políticos com vistas a processarem a jornalista em questão por crime de ódio. Cabe ressaltar que a ação não veio do Ministério Público, mas de partidos políticos como o PSOL, PC do B, blá, blá, blá, blá, blá, blá.
A mensagem está dada. A constituição de oitenta e oito ainda não foi mudada, mas a opinião, antes livre, agora é livre somente quando amoldada às politicas de maquiagem adotada pelos partidos eu agora estão no poder. O quadro de traição dos ideais de esquerda descrito por Orwell no clássico a Revolução dos Bichos, bem como o cerceamento da opinião descrito em 1984 estão aí diante dos olhos de quem quiser conferir.
Na minha opinião esta só pode ser a ação de quem entende que estamos no melhor dos mundos possíveis. E não há como negar! Para alguns, de fato estamos na melhor das democracias possíveis. é dispensável a observação de que os partidos envolvidos na manobra são os mesmos que estão aliados ao partido de uma família cujo estado que governam possui o maior índice de miséria. Será este o projeto de país que querem empurrar pela nossa goela abaixo? Se é, tenho de admitir que começar pela censura é o caminho.
Minha pergunta é onde estão Silas Malafaia, Marcos Feliciano, Marisa Lobo, gente por quem Rachel Sheherazade, muito provavelmente, no uso, e diga-se de passagem, muito bom uso, de suas faculdades mentais, colocou a sua cabeça á prêmio ao emitir opiniões que iam de encontro á cartilha que a imprensa seguia? Para refrescar a memória do leitor, lembre-se de que enquanto boa parte da imprensa falava em cura gay, e se preocupava em colocar sobre Marisa e Feliciano a pecha de homofóbicos, ela foi a única esclarecer que não se tratava de um descriminação quanto aos homossexuais, mas da garantia de tratamento para os que não se adequavam á sua sexualidade. Esta foi uma das opiniões que com certeza provocaram a fúria dos esquerdistas tupiniquins bem como o rótulo de fascista que alguns universitários de nosso país colocam nela.
Se há representações contra Rachel Sheherazade, por suas opiniões serem consideradas homofóbicas, onde estão as representações dos cristãos em prol do exercício da liberdade civil, por parte da jornalista. Não, a mordaça não foi colocada na boca de uma apresentadora, mas em todo um seguimento da sociedade, que até e prove o contrário, não sai por aí amarrando meninos em postes e fazendo justiça com as próprias mãos, e muito menos faz parte de linchamentos publico, seja de negros, gays, e quaisquer minorias, mas que reconhece que nosso estado de direito não garante o direito de todos, que o mesmo se afunda na ineficiência dos sistemas de inibição da corrupção, bem como na falta de equidade na distribuição das leis. O que me resta é a pergunta feita pelo bonequinho que aparecia no filme O gênio maluco: Mas o que está acontecendo? A verdade foi lançada por terra. é isto que está acontecendo.
 
Marcelo Medeiros.

No beco onde explode a violência


A notícia da morte de um jovem negro, supostamente portador de deficiência mental, por espancamento associada a um relatório da ONU que coloca onze cidades brasileiras entre as trinta mais violentas do mundo trouxe extremo alarme ao meu coração. Não é de hoje que , na condição de cristão e cidadão, tenho me incomodado com este assunto. Como crente me pergunto onde tenho falhado no que tange à missão de preservar e influenciar este mundo, como cidadão me pergunto o que posso fazer de forma efetiva para que tais vitimas não continuem nesta condição, para que meu discurso em prol do oprimido não se esgote em palavras momentâneas, afinal, não me cabe amar apenas de palavra, mas em obra e em verdade.

Há que se perguntar em meio a este contexto pelo papel do Estado, visto que segundo a noticia a policia chegou apenas duas horas depois. O leitor atento da Bíblia sabe que não cabe ao ser humano a retaliação pelo mal, uma vez que a Deus pertence a vingança (Rm 12. 19), mas que o Estado, biblicamente falando, é sim, um instrumento de justiça para louvor das boas obras e condenação das más, e é exclusivamente neste condição que se aplica a recomendação apostólica de obediência ao poder estatal (Rm 13. 1 - 5). Mas o que acontece quando a maldade humana se soma à omissão, flagrante injustiça, ou ineficiência do mesmo? Quando agentes da lei morrem e não se faz menção à morte dos mesmos, antes se trata do fato como se natural fosse (aqui)?

A despeito de qualquer tentativa de associação do fato com discursos acalorados (aqui e aqui), quero lembrar que linchamentos sempre ocorreram, e desconfio que da mesma forma que jovens negros morrem nas mãos de uma turba enfurecida, também morrem nas mãos dos traficantes nas cadeias, mas infelizmente tais dados não são dispostos na mídia. Embora não esteja aqui para repetir aquele velho lema: culpa do governo! Infelizmente o Estado falhou sim na distribuição da justiça e na criação de meios que garantam uma condição digna, bem como desenvolvimento humano, o que na minha opinião não resolveria o problema (aqui), mas amenizaria e teríamos um Estado cumpridor do seu papel bíblico.

Nesta falha nem os direitos humanos escapam. O papel dos representantes dos mesmos tem sido ressaltado na mídia no sentido de defender os direitos das minorias, infelizmente quando estas já são vítimas do Estado. Em outras palavras, aqui os Direitos humanos além de não se manifestarem de forma igualitária, ainda chegam com aquele atraso, uma vez que o estrago já foi feito, como no caso do rapaz. Há de se pensar em direitos humanos com u papel mais ativo, e mais igualitário.

De igual modo me pergunto pela Igreja deste rapaz, ou da mãe do mesmo, que além de se dizer cristã, invocou a justiça divina quanto ao fato ocorrido. Creio que não precisaríamos estar comentando este assunto aqui caso algo tivesse sido feito. Sei que Deus pode ter lá os seus planos e mesmo o jovem tendo sido linchado ele poderia ter dado uma mãozinha, como no caso do policial, mas mesmo os milagres bíblicos se dão na cooperação do homem com Deus.

A música O Beco, sucesso com o grupo Paralamas do Sucesso, demonstra que violência não é novidade alguma em nosso país. Violência sempre esteve ao lado (falo no sentido de conviver), da miséria, da religião, e dos nossos prazeres fugazes. A novidade é que somos a sexta economia mundial, mas temos um dos piores quadros em educação, saúde e segurança, além de um baixíssimo IDH (índice de desenvolvimento humano), e esta contradição tem sido fator preponderante para o crescimento da violência, uma vez que fica cada vez mais evidente que os meios que a população empregava para amenizar não estão funcionando. É algo para se pensar
Marcelo Medeiros

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Atenção alunos da Escola Dominical!

 

Em razão da riqueza de detalhes da temática da revista de Escola Bíblica Dominical sobre dons de revelação, venho comunicar aos leitores e demais seguidores deste blog que não escreverei apenas um estudo sobre a revelação, mas uma série de Estudos sobre o tema. Isto farei, visando colocar ao alcance dos irmãos e demais amigos e leitores o maior número possível de Estudos e informações sobre o assunto. Desde já manifesto aos amados que conto com as vossas orações.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

sábado, 12 de abril de 2014

O legado de Moisés



Legado, e a parte da herança deixada pelo testador a quem não seja herdeiro por disposição testamentária nem fideicomissário. Em termos culturais, a língua, os costumes e as tradições que passam de uma geração para a outra. Estudar a respeito do legado de Moisés, equivale a estudar a tradição que ele legou ao seu povo e consequentemente aos cristãos.

I) SUA INFUÊNCIA NO JUDAÍSMO
 
A influência de Moisés se faz sentir no judaísmo em função de ser o mesmo o homem a quem Deus encarregou de libertar o povo de Israel, de lhes conduzir á terra, mas acima de tudo por ter sido o seu legislador, aquele cuja vida e obra lhes deu como legado uma lei. Também é perceptível a influencia de Moisés como profeta, no sentido de ser um porta voz de Deus para o povo.
Foi a Moisés que Deus confiou a missão de libertar o povo de Israel, uma vez que a palavra que Iahweh dera para Abraão estava por se cumprir, e o povo já havia passado seus quatrocentos anos na terra do Egito. Muito antes de todos estes fatos ocorrerem Deus já os havia anunciado ao seu servo Abraão, bem como o contexto de juízo em que a libertação do povo se daria (aqui). Foi com fins de cumprir tais propósitos que Deus preparou e chamou Moisés (aqui).
Em toda a Bíblia Moisés será reconhecido como aquele por meio de quem Deus deu a lei ao povo. Deus ordenou que Moisés subisse ao Horebe para de lá transmitir para ele suas leis mandamentos e estatutos. Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar (Ex 24. 12 ACF), sim, ele mesmo, deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus (Ex 31. 18 ACF).
Assim sendo, é possível o entendimento comum ao do Evangelista, quando este diz: a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (Jo 1. 17 ACF). Em outra ocasião Jesus perguntou aos seus oponentes: Não vos deu Moisés a lei? (Jo 7. 19 ACF). Em ambos textos fica claro que Jesus atribuía a Moisés algum papel na mediação da entrega da lei.
O papel de Moisés como profeta pode ser visto no testemunho que a própria Escritura dá a respeito do seu papel, a afirmar:
E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face; Nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra.
E em toda a mão forte, e em todo o grande espanto, que praticou Moisés aos olhos de todo o Israel (Dt 34. 10 - 12 ACF). 
Em outras palavras este foi o homem a quem Deus escolheu, e preparou para ser o instrumento por meio do qual os sinais divinos seriam feitos na terra do Egito com o fim de, por meio destes mesmos exaltar o seu nome em toda a terra (aqui).  
 
II) O EXEMPLO DE VIDA

Moisés é descrito como alguém que renunciou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo os sofrimentos que aguardavam o povo de Deus e futuramente ao Messias, do que desfrutar do gozo do pecado. Este é o retrato feito pelo autor da carta aos Hebreus.
Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, Escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa (Hb 11. 24 - 26 ACF). 
Neste texto é possível perceber que o exemplo de vida de Moisés tinha como fundamento a fé que ele desenvolveu em Deus. É digno de nota, que de acordo com o autor da carta em apreço, que foi pela fé que os antigos alcançaram testemunho (Hb 11. 2 ACF). Neste ponto o legado de Moisés atinge aos cristãos da era atual, uma vez que ao falar dos servos de Deus da antiga aliança, dentre os quais Moises, o autor sacro afirma: E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados (Hb 11. 39, 40 ACF). Neste sentido, Moisés se faz exemplo de vida para nós e sua história constitui-se um convite para que caminhemos tendo em mira os seus exemplos.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

O propósito dos dons espirituais



No ultimo post sobre o assunto coloquei que dom é uma dádiva, que dentro da Teologia cristã não cabe a compreensão de dom como potencial inato, e que os dons de Deus abrangem tanto o chamado para a salvação quanto a capacitação do salvo para a obra de Deus.  Tanto χαρισμα quanto χαρισματα podem significar uma benção que Deus concede aos pecadores, quanto as ferramentas dadas aos salvos em Cristo para a realização da  obra do ministério (aqui). Hoje proponho, com base na revista da Escola Bíblica Dominical, das Casas Publicadoras das Assembleias de Deus, uma reflexão sobre o proposito dos mesmos, inclusive a salvação.

OS DONS ESPIRITUAIS

Wayne Grüden propõe em sua Teologia Sistemática a existência de vinte e dois dons, embora nem todos sejam espirituais, afetam a vida cristã.  Estes são os dons:

  1. palavra da Sabedoria
  2. palavra do conhecimento
  3. discernimento de espíritos
  4. interpretação de línguas (I Co 12. 8 - 10)
  5. apostolo
  6. profeta
  7. mestre
  8. milagres
  9. variedades de curas
  10. socorros
  11. administração
  12. línguas (I Co 12. 8 - 10, 28)
  13. Evangelista
  14. Pastor - mestre (Ef 4. 11)
  15. serviço
  16. encorajamento
  17. contribuição
  18. liderança
  19. misericórdia (Rm 12. 6 - 8)
  20. Casamento
  21. celibato (I Co 7. 7).
Estes são os dons segundo a perspectiva de Grüden, ao que poderíamos incluir a salvação que sucessivas vezes é chamada de dom de Deus (Jo 4. 10; Rm 6. 23; Ef 2. 8 - 10), o que elevaria a lista para vinte e três. Mas o que importa diante de tudo isto não é a quantidade, mas o propósito dos mesmos. Considerando o sentido de dom, enquanto dadiva graciosa, posso afirmar que o sentido primário dos mesmos consiste em revelar a graça de Deus. Paulo afirma que a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo (Ef 4. 7 ACF).
Escrevendo aos irmãos de Corinto o mesmo diz: pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo (I Co 15. 10 ACF). É comum que se pense em produtividade a partir da ação humana, mas no Reino de Deus, o crente produz á partir da ação do próprio Deus na vida dele. Seguem abaixo alguns desdobramentos desta conclusão.

CONSIDERAÇOES NEGATIVAS A RESPEITO DOS DONS NA LIÇÃO DA EBD

Se o dom é dádiva, se é fruto da graça de Deus, não cabe a Igreja alguma criar uma elite espiritual. Um outro problema pertinente à Igreja de Corinto era o partidarismo, que conforme já foi falado neste espaço, não era de natureza doutrinaria apenas, mas personalista (aqui e aqui). Dons não são dados á Igreja visando a promoção pessoal de quem os possui. Com esta verdade em mente o apostolo Paulo argui os crentes de Corinto da seguinte forma: quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? (I Co 4. 7 ACF).
Aqui é necessário recorrer mais uma vez ás palavras de Brennan Manning, para quem a graça anula a adulação por pregadores e evangelistas famosos, afinal, se alguém supostamente possui algo, não é seu, mas é dadiva da graça. Foi esta verdade que Paulo colocou para os crentes de Corinto em forma de pergunta retorica. A lição que fica, é que os dons não indicam espiritualidade, uma vez que mesmo admitindo que a igreja de Corinto era plena nos dons de Deus (I Co 1. 7), ele se refere aos crentes da mesma como carnais (I Co 3. 1).
Dom não é indicador de maturidade espiritual. Note o que Paulo diz: E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo (I Co 3. 1). Também não é sinal de superioridade espiritual, pelo contrário! No corpo não frases do tipo: ninguém é insubstituível! E em casos de dúvida, leia:
E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; E os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra. Porque os que em nós são mais nobres não têm necessidade disso, mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela;
Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros (I Co 12. 21 - 25 ACF). 
  1. O dom espiritual aponta para a mutua necessidade que os crentes possuem uns dos, e em relação aos outros.
  2. Mesmo os crentes mais insignificantes podem e devem de serem honrados.
  3. Deus distribui os dons de uma forma tal que aqueles que aos olhos da comunidade são os menos honrados, e mais, carecem da mesma, sejam mais honrados.
  4. O dom estabelece a lógica da graça, a saber: nada é por mérito, mas pode favor divino.
  5. O dom manifesta o cuidado mútuo dos crentes.
Isto posto, passemos às considerações positivas a respeito do propósito dos dons espirituais na lição de Escola Bíblica Dominical.
 
CONSIDERAÇOES POSITIVAS A RESPEITO DOS DONS NA LIÇÃO DA EBD
 
Após uma abordagem negativa a respeito do proposito dos dons, o autor imediatamente passa para uma abordagem positiva, ao afirmar o proposito dos dons como instrumento de edificação. É o que Paulo dá a entender quando afirma: Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação (I Co 14. 26ACF). O único propósito dos dons na vida da Igreja é a edificação.
A verdade é que Cristo mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo (Ef 4. 11, 12 ACF). Aqui é afirmado que a finalidade dos dons é a edificação do corpo de Cristo, e como s dá esta edificação? Por meio da obra do ministério que os santos exercem. Mas para que os santos estejam preparados para tal, necessário se faz com que os apóstolos, profetas, evangelistas e pastores mestres preparem os santos para a obra do ministério, conforme se lê no texto.
Para uma maior compreensão a respeito do que vem a ser a edificação, proponho uma reflexão a respeito das imagens que Paulo usa a imagem do edifício. Veja:
Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito (Ef 2. 19 - 22 ACF). 
Pedro vai empregar esta mesma imagem, ao afirmar: Vòs também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais /agradáveis a Deus por Jesus Cristo (I Pd 2. 5 ACF).  O propósito da edificação é a concretização da união dos povos que Deus resgatou em um único povo (Ef 2. 11 - 14). É neste ambiente comunitário que Deus habita.
Sim, pois, o proposito da edificação é que a comunidade dos fiéis seja o Templo do Senhor. É neste sentido que a Bíblia afirma: Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (I Co 3. 16 ACF), e: vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo (II Co 6. 16 ACF).
Aqui se torna evidente uma outra finalidade dos dons, a de manifestar a presença de Deus no meio dos fieis.
Mas, se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. E, portanto, os segredos do seu coração ficam manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a   Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós (I Co 14. 24, 25 ACF). 

Este é o proposito dos dons espirituais.  

terça-feira, 8 de abril de 2014

A salvação e a missão cristã

 
Neste último domingo tive a grata satisfação de rceber o convite para ministrar a Palavra de Deus em uma de nossas congregações, em um culto de missão. Ao meditar no texto que escolhi para pregar, pude perceber a profunda conexão que há entre o chamado para a salvação e a missão cristã, e o quanto isto é explicito em toda, mas em toda a Bíblia mesmo.
Posso começar pelo pai da fé, Abraão, que ao ser chamado por Deus, este lhe disse: em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12. 3 ACF), indicando com isto que o seu chamado individual teria consequências universais. Paulo, mesmo entendeu que tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão (Gl 3. 8, 9 ACF).
Ao exemplo de Abraão, ainda pode ser somado o de José, cujo sonho em nada lembra as aspirações individualistas dos tempos modernos, mas que eram um sinal claro da parte de Deus que os fatos estavam sendo conduzidos de forma tal, para que uma vez este nomeado grão vizir no Egito, toda a sua família viesse a ser preservada.
Ao ler o Evangelho percebo Jesus chamando as pessoas ao arrependimento (Mt 4. 17), mas em meio ao chamado para a mudança de mente, Jesus lhes diz: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens (Mt 4. 19 ACF). E qual foi a resposta dos discípulos? Eles deixaram logo as redes, seguiram-no (Mt 4. 20). O último exemplo a que gostaria de recorrer é o de Paulo de Tarso, antes Saulo, ou Saul. Quando Cristo aparece para este no caminho de Damasco, ele já tinha em mente o chamado de Paulo. Tanto, que ao revelar para Ananias o chamado de Paulo à salvação, Deus lhe disse: este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.
E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome
(At 9. 15, 16 ACF).
A percepção de que o chamado para a salvação também é um chamado para a missão me coloca diante de outro dilema, o da renúncia. Todos os que se encontraram com Cristo e foram afetados por mensagem, e por seu chamado, deixaram algo para trás. Isto pode ser visto no confronto entre Cristo e a mulher samaritana, ela deixou o cântaro. É aqui que se revela que o seguir a Jesus é um chamado para o sofrimento. E que o maior inimigo de missões no mundo moderno é a ênfase na felicidade e no conforto. O convite de Jesus é para o seguir e levar a cruz, estamos dispostos?
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