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terça-feira, 1 de abril de 2014

Introdução ao Sermão do Monte (discipulado)


Com o advento de modelos de crescimento o tema do discipulado e do trabalho com pequenos grupos vem ganhado cada vez mais espaço nos dias atuais. Tem sido recorrente o discurso de que a finalidade da vida cristã é que cada discípulo seja um reflexo de Cristo. A fala não é nova, ela aparece em C. S. Lewis, Jonh Stott, e até em Brennan Manning. Uma preocupação que me vem à mente, é com relação a questão do conteúdo. Sim, creio que o sermão do Monte traz em si o conteúdo pleno para o discipulado, isto, se o mesmo for aplicado de forma correta.
É necessário o entendimento prévio de que o sermão do monte não é uma coletânea de regras morais, mas um discurso cujo contexto se situa no inicio do ministério de Cristo. Mateus, afirma que Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo (Mt 4. 23 ACF). Em resposta ao tríplice ministério de Cristo (pregação, cura e ensino), uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão (Mt 4. 25 ACF), o seguia. É a estas informações que imediatamente o evangelista coloca Jesus em um monte e os seus discípulos se aproximando do mestre. Conclusão: o sermão do monte tem de ser lido á luz da proclamação do Reino dos céus, ou Reino de Deus, feita pelo Filho de Deus, este é o primeiro ponto a ser observado.
Enquanto proclamação do Reino de Deus, o sermão do Monte traz as boas novas da proximidade do mesmo, bem como o acesso que os indigentes espirituais tem ao mesmo. Brennan Manning é feliz em pontuar que o sermão em apreço não começa com um conjunto de regras, mas com a ditosa promessa de o reinado divino é acessível aos pobres de espírito, aos que sabem que nada podem fazer por si mesmos. Mas como ensino, o mesmo é uma descrição do caráter dos súditos do Reino. Um retorno à pregação de João Batista proporciona a compreensão de que tanto para os que são convictos dos seus pecados, quanto aos que não o são, o arrependimento é condição para o ingresso na dispensação do Reino (Mt 3. 2, 8), Jesus segue este mesmo pensamento (Mc 1. 15). Assim, no contexto da pregação, as bem-aventuranças, por exemplo são a descrição do que o precursor do Messias havia chamado de frutos dignos de arrependimento.
Neste ponto do presente estudo cabem as observações de Martin Lloydd-Jones, para quem as virtudes descritas no sermão do monte somente poderia ser observadas na vida de homens regenerados, nascidos de novo e que jamais os leitores do sermão em apreço poderiam confundir as mesmas com os variados aspectos do temperamento humano, principalmente nos pontos em que a sociedade os tem como positivos. O que quero afirmar aqui é que o arrependimento é o ponto de partida para a pobreza de espírito, para o quebrantamento exigido por Deus, para a mansidão. Sem metanóia (μετανοια), não há a possibilidade de se ter fome e sede de justiça, de exercer a misericórdia para com os demais, de ser pacificador, e muito menos de ter um coração puro.
É de suma importância para o entendimento do texto em apreço que as palavras do ensino do monte foram dirigidas aos discípulos de Cristo. Então, temos aqui o que se exige de um genuíno discípulo de Cristo, que seja um imitador do mestre em todos os aspectos, desde sua pobreza, seu quebrantamento, sua mansidão (Mt 11. 29, 30), sua fome e sede da justiça de Deus (Jo 4. 34), sua compaixão (Mt 9. 35), sua pureza (Hb 7. 26), e principalmente sua disposição em sofrer pelo reino.
Quem quer que espere do Evangelho ao diferente do que Cristo teve neste mundo, precisa meditar nas palavras que Mateus registrou quando disse: Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos? (Mt 10. 24, 25 ACF), e: Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa (Jo 15. 20 ACF).
O discípulo de Cristo é antes de tudo bem aventurado, sal e luz deste mundo, possuidor de uma justiça que excede toda forma de piedade externa, é alguém que não se atém à letra das normas e das regras, mas busca o espírito das mesmas (e justamente aí reside a sua justiça). Ser discípulo de Jesus é ser alguém cuja vida de devoção não é algo a ser publicado, usado como marketing pessoal, mas alguém cuja maior marca em sua relação com Deus é a intimidade. O discípulo sabe que não compensa em nada granjear o mundo inteiro e perder a sua alma. Daí que entre Deus e o dinheiro, ele fique com Deus, em que estão os mananciais da vida. No coração do verdadeiro discípulo de Cristo não há espaço para nenhuma forma de ansiedade, muito menos para julgamentos temerários, apenas sabedoria e discernimento, no tocante à administração dos dons divinos e na clara percepção a respeito dos falsos profetas, na firme disposição para com o cumprimento da vontade de Deus, e na estabilidade (permanência diante das adversidades).
Resumindo: O sermão do Monte não deve jamais ser visto como um conjunto de regras morais a serem levadas ao pé da letra, mas como proclamação da proximidade do Reino de Deus, e neste aspecto ele é tanto a descrição do caráter dos discípulos e súditos do reino do reino quanto o teste de qualidade dos mesmos. É a prova cabal de que ocorreu sincero e verdadeiro arrependimento no coração dos homens de pretendem entrar pela porta estreita.
O que se espera do leitor do referido texto é que ele atenda ao apelo existencial contido no mesmo, e deixe de orientar a vida pelos valores do presente século, e passe a orientar a vida pelos valores do reino de Deus. Não há mais lugar para o orgulho, para a vontade de potencia, para a avareza, enfim, para nada mais que represente a velha natureza.
Os que edificam suas vidas no contexto deste ensino de Jesus estão construindo sua vida sobre a rocha, ao passo que os que apenas ouvem aquilo que Cristo fala, mas não se predispõem a obedecer constroem suas vidas sobre a areia. Além da perda total de todo um investimento, os que desobedecem ao apelo do presente sermão ainda recebem a reprovação no dia do juízo. Afinal, de nada adianta chamar a Cristo de Senhor, mas não fazer a vontade do Pai, que por sua vez é revelada no presente ensino. Minha oração é que Deus conceda a mim e a todos quantos quiserem o espírito a fim de que esta vontade divina seja posta em prática.

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

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