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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Obedecei vossos pastores


Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil (Hb 13. 17 ACF).
Este é o segundo texto de uma serie que pretendo escrever abordando o tema da autoridade espiritual(o primeiro pode ser acessado aqui). Estamos vivendo uma crise de autoridade, de um lado, pastores que vem à público com o claro intento de defender a posição de autoridade de seus confrades e chegam ao desatino de afirmar que ainda que um pastor roube, ele não pode ser nem criticado, nem processado por seus membros, afinal, somente Deus pode tocar nos mesmos. De outro lado, um povo que, no afã de sua liberdade desconhece os limites da autoridade pastoral. Por último, há que se considerar a crescente descredibilidade que lideres e instituições tem fomentado, em função dos crescentes escândalos que tem assolado o reino. Diante de tais questões qual deve ser o nosso entendimento a respeito de um texto como este.
Em primeiro lugar, algo que de imediato foge à percepção de grande parte dos leitores, ou ouvintes deste texto é que ele descreve o perfil de um genuíno pastor. Verdadeiros pastores velam pelas almas dos santos que lhes foram confiadas. O termo empregado aqui αγρυπνουσιν (agripunoiusin), do verbo αγρυπνεω (agripineoo), pode ser traduzido como velar, ou vigiar, ou estar sem sono, por causa de, indicando com isto que a prioridade do verdadeiro pastor é o cuidado das ovelhas, que por sua vez não lhe pertencem.
Em segundo lugar, verdadeiros pastores são tomados por um senso de dever para com as almas que lhe são confiadas, e isto, ao ponto de entenderem que darão contas, pelas vidas que foram entregues aos seus cuidados. Tome como exemplo Paulo, a Bíblia alista uma série de sofrimentos pelos quais ele passou em seu apostolado na fé dos gentios (II Co 11. 23 - 28), mas neste contexto ressalta uma das mais viscerais declarações que o apostolo deu:
Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda.
Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.
Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofreríeis. Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos
(II Co 11. 1 - 5 ACF). 
A segunda carta de Paulo aos Coríntios, foi bem mais do que um documento apologético, Paulo queria mais do que defender sua posição, ele queria expor aos crentes de Corinto, que suas cartas graves e fortes (II Co 11. 10 - 12), bem como os seus sofrimentos eram motivados pelos mais profundo zelo divino.
O único temor que um pastor tem, não é o da perda de cargo, ou de prestigio, afinal, um pastor prega, aconselha e pastoreia, seja por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros (II Co 6. 8 ACF), mas sempre tornando-se recomendável a Deus, e aos homens em todas as coisas, na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido (II Co 6. 4 - 6 ACF). 
O que um pastor, que vela pelas almas teme, é que as ovelhas se desviem da simplicidade de Cristo. Que no lugar do único senhor e salvador da Igreja seja tomado por pregadores sem o mínimo comprometimento com a verdade as Escrituras Sagradas, que astros populares sejam confundidos com ministros de Deus (esta, é alias, a estratégia mais recente do diabo), confundir sacerdócio com carreira artística, e não são poucos os supostos pastores que tem entrado por este caminho.
Em terceiro lugar, um pastor sofre quando mesmo pregando a Palavra com zelo e afinco, ele percebe que o povo recebe, com maior aceitação aquilo que não é bíblico, aí é o momento de fazer o povo ver a verdade, não por meio de imprecações, maldições, pragas, mas por meio de vida, obra e testemunho pessoal. É neste sentido que se encaixam bem das palavras do apostolo Paulo,  penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos (II Co 11. 1 - 5 ACF), e, pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo (I Co 15. 10 ACF).
Penso que diante do aparato mediático atual, da insensibilidade ao outro (as pessoas não percebem o outro diante de si), apenas o que é midiático, a melhor resposta é a graça de Deus na vida do ministro de Deus. Via de regra ela faz com que o homem vá além dos limites e da possibilidade, e quanto mais indigno é o vaso, maior graça é derramada no mesmo. Isto posto, agora posso falar de obediência.
Os verbos correspondentes a obedecer no texto são: πειθεσθε (peithesthe), que vem de πειθω (peitho), cujo sentido é tanto o de obediência, quando o de persuasão. O segundo termo que aparece aqui é υπεικετε (hypeikete), cujo sentido é o de ouvir, e obedecer. Para todos os efeitos a obediência aqui implica na aceitação de uma argumentação solida. 
Se Cristo quisesse do seu povo uma obediência irrestrita a todos os pastores, não teria recomendado aos seus discípulos que atentassem para a vida e os frutos das pessoas, para só então julgar se a mesma era, ou não digna de crédito (Mt 7. 15 - 21), e muito menos inspirado seus servos, os apóstolos a exortarem o povo a ter cuidado com lobos devoradores que entrariam no rebanho (At 20. 28, 29), e muito menos usado Judas, para alertar a respeito daqueles que apascentam a si mesmos (Jd v. 12), e aqui cabe o cuidado de que apascentar a si mesmo é o mesmo que tratar de seus interesses ao invés de tratar do povo de Deus. E não estou só falo aqui com o apoio de exegetas tais como Marvin Richardson Vincent, que entendem neste texto uma condenação aos pastores, que colocam a promoção de seus interesses acima dos interesses de Deus e do rebanho. Para estes a recomendação não é a de obediência, mas de posicionamento em uma santa batalha, da peleja pela fé, que foi dada de uma vez por todas aos santos.
Não há nada melhor do que estar sob a autoridade de um pastor que de fato vela por nossa vida, que cuida de nós. Este sim, é um legítimo representante de Cristo, o sumo pastor. Não há nada melhor do que poder contribuir para com o pastorado deste pastor, e é neste ponto que se precisa considerar a obediência a fim de que os verdadeiros homens de Deus pastoreiem com prazer e alegria. Mas isto nem de longe pode ser equiparado com subserviência. Um forte abraço.
Em Cristo, Marcelo Medeiros.

2 comentários:

  1. Pensei que eu herege por pensar assim e que era rebelde por nao concordar com certas ordens. De fato, o Espirito Santo tem alertado seus filhos. Obrigada Senhor. Continue abençoando nossas vidas amado amigo.

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    1. Paty, herege é quem, por interesse, coloca o personalismo acima da autoridade da Bíblia.

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