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sexta-feira, 4 de abril de 2014

E deu dons aos homens

Neste trimestre, os alunos das Escolas Bíblicas Dominicais, cujas denominações utilizam as lições bíblicas da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, estarão estudando a temática dos dons espirituais (servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário [para mais, ver aqui]). É um assunto de grande utilidade e de extrema importância, visto que aos que possuem identidade pentecostal, é comum a crença de que os dons poderosos manifestados no primeiro século de nossa era, são uma realidade para os nossos dias. Em nossa língua a palavra dom, ou dons, vem carregada de significados que muitas das vezes não coadunam com o sentido em que os autores bíblicos a empregaram. Ao lado deste fator linguístico é possível se observar ainda a emergência de teorias que descartam cada vez mais a palavra dom em favor de habilidades adquiridas. Daí a necessidade cada vez maior de um estudo sobre o assunto, visando esclarecer o mesmo ainda mais. Convido o leitor a estudar e a refletir sobre os dons de Deus, o significado da palavra no contexto atual e no bíblico.

DOM, O SENTIDO LEXICAL, VERNACULAR, E BÍBLICO

Aqui colocarei ao leitor algumas definições do vocábulo dom e farei comparações do mesmo com a Teologia Bíblica, sempre no intuito de fornecer elementos que permitam uma maior compreensão do que as Escrituras colocam o que tange à matéria em apreço. Uma consulta ao dicionário Michaelis coloca o estudioso do tema diante das seguintes definições do termo:
  1. Dádiva, presente. 
  2. Merecimento, mérito. 
  3. Dote natural; talento, prenda, aptidão, faculdade, capacidade, habilidade especial para.
  4. Bem que se goza, considerado como uma concessão da Providência. 
  5. Teol Bem espiritual proporcionado por Deus; graça, mercê (aqui).
O primeiro termo vai ser o mais empregado na Bíblia, uma vez que nas Escrituras tudo é dadiva de Deus, até o comer e o beber. Salomão chegou à seguinte conclusão:
Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida; E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus (Ec 3. 12, 13 ARCF). 
Ele também afirmou:
Eis aqui o que eu vi, uma boa e bela coisa: comer e beber, e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, todos os dias de vida que Deus lhe deu, porque esta é a sua porção. E a todo o homem, a quem Deus deu riquezas e bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus (Ec 5. 18, 19 ARCF).  
O segundo termo usualmente relacionado à questão do dom, é o mérito, e creio que é exatamente neste sentido que o uso do termo é combatido academicamente. A questão é que em termos bíblicos o vocábulo dom termina por excluir toda forma de merecimento. Não cabe o homem se gloriar daquilo que ele recebeu. A pergunta de Paulo aos crentes de Corinto é bem emblemática neste sentido: quem torna você diferente de qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse? (I Co 4. 7 NVI). Ter riquezas, carisma, habilidades, não faz uma pessoa digna de elogios, até porque nos seres humanos tais qualidades não são inatas, mas graças temporais.
A terceira definição entende o dom, como sendo a qualidade que torna uma pessoa apta a fazer determinada coisa, a compreendê-la; competência. Neste sentido, dom é sinônimo de aptidão, faculdade, habilidade; inteligência, talento, valor (aqui). Aqui tem de se considerar as observações supra. Ainda que se levem em conta habilidades naturais, estas são vistas nas Escrituras como dons que Deus graciosamente concede aos seus, não cabendo aqui mérito humano.
O quarto entendimento, que atribui ao termo a definição de bem que se goza, considerado como uma concessão da Providência, é interessante, uma vez que a definição lexical para Providencia é: A suprema sabedoria atribuída a Deus, com que ele governa todas as coisas (aqui), ou, a ação pela qual Deus conserva e governa o mundo que criou, dirigindo todos os seres ao fim que se propôs; podendo ser também a disposição antecipada de meios apropriados para se conseguir um fim, evitar um mal ou remediar uma necessidade. Aprofundarei ainda mais este tema na lição a respeito do proposito dos dons espirituais. Mas sempre que se faz referencia aos dons como carismas, esta vem associada ao governo que Cristo exerce em sua Igreja.
Por último, a salvação (Ef 2. 8, 9), a justificação (Rm 5. 15 - 18), a nova natureza (Tg 1. 17, 18), e os bens do Espírito (At 2. 38, 39); são definidos como dons nas Escrituras. Por meio dos mesmos Deus atinge um determinado fim. No caso da salvação, o de fazer do homem um ser criado para as boas obras (Ef 2. 10). Por meio da justificação, ele reconcilia o homem consigo (Rm 5. 8 - 10), ao dispor de uma nova natureza para os seus, Ele habilita o seu povo para vencer as tentações e colocar a palavra de Deus em prática (Tg 1. 12 - 16; 22 - 25). O dom do Espírito Santo é dado ao homem com vistas ao arrependimento para a remissão de pecados, bem como a capacitação do mesmo para o testemunho cristão (At 1. 8).

DOM, O SENTIDO EXEGÉTICO DO TERMO

Os escritores bíblicos empregaram de diversas palavras para se referirem aos dons. Convido ao amigo a ver algumas no presente post. Comecemos pela palavra charisma (χαρισμα), que pode ser traduzida como dom gratuito, como aqui: Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 6. 23 ACF). Uma variação  de χαρισμα, pode ser vista no termo χαρισματα (charismata), sendo possível o entendimento do termo como as potencialidades concedidas pela graça de Deus com vistas à edificação mútua. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé (Rm 12. 6 ACF).
Neste sentido, observa Vincent tanto χαρισμα quanto χαρισματα podem significar uma benção que Deus concede aos pecadores. Isto pode ser percebido na clássica afirmação de Paulo, de que os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento (Rm 11. 29 ACF). Mas se percebe mais ainda neste texto:
Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação (Rm 5. 15, 16 ACF). 
De igual modo, este mesmo termo é empregado com respeito a um dom extraordinário do Espirito Santo visando à capacitação especial do indivíduo. Daí o conselho de Paulo ao seu filho na fé: Não desprezes o dom [χαρισματος] que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério (I Tm 4. 14 ACF).
Outros termos gregos de suma importância são, respectivamente δοσις (dósis) e δωρημα (dooreema), sendo praticamente sinônimas, visto que significam respectivamente dádiva e dom. No primeiro caso, o termo é restrito a uma ocorrência de uso paulino(Fp 4. 15), e em Tiago (Tg 1. 17). Já δωρημα (dooreema) ocorre, por exemplo na expressão δωρεα εν χαριτι (dorean en chariti [dom pela graça]), reforçando sentido do quanto a justiça de Deus que é imputada ao homem pela fé. Mas João emprega a expressão δωρεαν του θεου, para se referir ao dom de Deus, neste caso, a vida eterna, representada pela água (Jo 4. 10). Neste sentido a salvação é dom de Deus (Ef 2. 8). Mas a capacitação para o ministério tabem pode ser conceituada por δωρεαν, é o que vemos Paulo fazer ao falar do dom da graça de Deus (δωρεαν της χαριτος του θεου), que se faz ver em sua vida mediante a operação do poder de Deus.
E DEU DONS AOS HOMENS
Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles (Sl 68. 18 ACF).
De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (I Co 1. 7 ACF).
 Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo (I Co 12. 1 - 4 ACF).
Do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder (Ef 3. 7 ACF).  
Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo (Ef 4. 7 ACF).  
Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (I Pe 4. 10).  
De forma indistinta e indiscriminada, Deus deu dons aos homens. O texto enfatiza e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles. Isto se concretiza na igreja de Corinto, uma vez que na mesma a graça é evidenciada na forma com que vemos presente na Igreja uma variedade de dons, com imaturidade espiritual, e fortes pecados, mas o dom, ou dons, estavam presentes na vida da Igreja.
A despeito da ausência de percepção quanto ao caráter do Evangelho e consequentemente, para com os dons espirituais. Paulo reconhece que a presença dos mesmos é evidencia da presença do Espírito na comunidade. É por meio da graça de Deus que os crente exercem o serviço na comunidade e o papel do dom é decisivo quanto a este serviço.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

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