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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Revelações por meio dos sonhos


Enfoco este assunto explicitamente pelo fato de que ao estudar sobre os dons (leia-se carisma, no sentido de dádiva),  de Revelação, percebi que em grande parte das Escrituras Deus se manifesta e se revela por meio de sonhos. Isto fica implícito na fala do jovem Eliú quanto este afirma:
Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama.   Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba. Para desviar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela espada (Jó 33. 14 - 18 ACF). 
observe que quando Eliú afirma: Então o revela ao ouvido dos homens, ocorre aqui a expressão hebraica גְלֶה (geelah), que usualmente corresponde ao grego αποκαλυψιν (apokalipsin), que para Robinson, é a revelação da parte de Deus de coisas dantes desconhecidas. Isto posto convém uma definição de sonho. Sei que já falei sobre o assunto (aqui), mas percebo a necessidade de retornar ao mesmo.
 
I) O CONCEITO BÍBLICO E LEXICAL DE SONHO
 
Entende-se o sonho como sendo:
 
  1. Associação de imagens, frequentemente desconexas ou confusas, que se formam no espírito da pessoa enquanto dorme.
  2. No sentido figurativo, pode ser uma ilusão, fantasia, devaneio, utopia.
  3. Alguns escritores bíblicos o definem como sendo uma coisa vã, fútil, que se esvai.
  4. Ideia acalentada, ideal, desejo intenso e vivo.
  5. Visão sobrenatural.
 
Em primeiro lugar os sonhos se constituem a partir de associações de imagens desconexas. Isto se percebe na leitura dos relatos bíblicos referentes aos sonhos. Basta a lembrança da historia de José, que interpretou os sonhos do copeiro, do padeiro, e do Faraó. O primeiro, sonhou com coisas desconexas entre si. Uma videira florescente, com três ramos, em já em frutos, que por sua vez eram espremidos e servidos em um copo, que por sua vez era entregue nas mãos do Faraó. Vale lembrar que o copeiro está na condição de prisioneiro, e não exerce mais esta função.
O padeiro, por exemplo sonhou com um cesto de pão, sobre a cabeça, lugar onde via de regra não se coloca um cesto de pão, pelo menos não em nossa cultura, e aves do céu sobre os cestos. Mais interessante ainda é o sonho do Faraó. Espigas de milho cheias, viçosas sendo devoradas por espigas mirradas, apontam para o caráter aparentemente confuso e desconexo. MacArthur nos informa que na cultura egípcia, e babilônica havia uma ciência de interpretação de sonhos, uma vez que os mesmos eram vistos como revelação do futuro.
A expressão sonhos também pode designar uma ilusão, fantasia, ou devaneio procedente de um desejo intenso associado à escassez ou ausência dos recursos que permitam a realização do referido desejo. Isaias emprega a expressão com esta conotação para repreender as nações que se ajuntam para a peleja contra o povo de Deus. Será também como o faminto que sonha, que está a comer, porém, acordando, sente-se vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, porém, acordando, eis que ainda desfalecido se acha, e a sua alma com sede; assim será toda a multidão das nações, que pelejarem contra o monte Sião (Is 29. 8 ACF).
Assim, o termo também pode ser empregado para se referir a tudo o que fugaz e passageiro. E como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de pelejar contra Ariel, como também todos os que pelejarem contra ela e contra a sua fortaleza, e a puserem em aperto (Is 29. 7 ACF). Os ímpios, por mais que prosperem são considerados desta forma, a eles é dada a seguinte sentença: como o seu próprio esterco, perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está?   Como um sonho voará, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite (Jó 20. 7, 8 ACF). 
Quando o Salmista fala: quando o SENHOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham (Sl 126 . 1 ACF), fica claro aos leitores do texto que ele exprime uma aspiração, um ideal acalentado por parte daqueles que nunca haviam visto a sua pátria, a cidade chamada cidade santa. Creio que seja neste sentido que Martin Luther King empregou o termo no seu mais famoso discurso Eu tenho um sonho.
E em meio a todos estes aspectos do que vem a ser um sonho, há aqueles cujas imagens na verdade são uma representação de símbolos e elementos dos quais Deus se vale para comunicar, ou nas palavras do jovem sábio Eliú, revelar a vontade de Deus para o seu povo. É aqui que se faz mais do que necessário que tanto o sonhador ou o interprete tenham um canal aberto com Deus, para que, sendo o caso de uma revelação, possam perceber qual é a mensagem de Deus.
 
II) REVELAÇÕES POR MEIO DE SONHOS
 
Alguns sonhos são bastante claros, tais como os registrados no Evangelho de Mateus, onde se pode ler a relatos de um anjo que aparece a José e o aconselha a receber Maria por sua mulher, visto que o que está nela fora gerado do Espírito Santo, depois, o orienta sucessivamente em sua fuga para o Egito, bem como em seu retorno (Mt 1. 18 - 22; 2. 13, 19). De igual modo os magos são orientados a irem por outro caminho para sua terra, visto que as intenções de Herodes não são puras (Mt 2. 12).
Estes sonhos merecem uma atenção especial, visto que nos mesmos se percebe uma série de orientações que tocam a vida da criança, no caso Jesus. Eles revelam uma sabedoria prática. A única exceção é o sonho em que o anjo revela que a gravidez de Maria é fruto da ação do Espírito Santo, e que a sua então noiva não fornicara, nem adulterara com outro homem, e ele, José, estava livre para receber sua noiva. Neste caso, não se demonstra uma sabedoria prática, mas a sabedoria de Deus.
Já no caso de José, o que se percebe é o discernimento da procedência dos sonhos (se de Deus, ou não), o significado de cada elemento envolvido, o conhecimento de fatos futuros implícitos no mesmo, e dependendo do caso, uma palavra prática, o que revela sabedoria. O mesmo pode ser dito em relação aos sonhos de Nabucodonosor que Daniel interpretou, visto que em ambos os casos eventos futuros são revelados aos soberanos, mas a fim de que a glória seja dada exclusivamente a Deus a mensagem dos mesmos lhes é vedada. Isto posto, convém que se passe aos textos que trazem tais implicações. O sonho:
E Faraó disse a José: Eu tive um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que quando ouves um sonho o interpretas. E respondeu José a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó. Então disse Faraó a José: Eis que em meu sonho estava eu em pé na margem do rio,  E eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne e formosas à vista, e pastavam no prado. E eis que outras sete vacas subiam após estas, muito feias à vista e magras de carne; não tenho visto outras tais, quanto à fealdade, em toda a terra do Egito. E as vacas magras e feias comiam as primeiras sete vacas gordas; E entravam em suas entranhas, mas não se conhecia que houvessem entrado; porque o seu parecer era feio como no princípio. Então acordei. Depois vi em meu sonho, e eis que de um mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas; E eis que sete espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental, brotavam após elas. E as sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas. E eu contei isso aos magos, mas ninguém houve que mo interpretasse (Gn 41. 15 - 24 ACF)
O que se vê em seguida a esta exposição? Um discernimento da procedência do sonho,  visto que José afirma: O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó (Gn 41. 25 ACF). Aqui se percebe um Deus que mostra o futuro. Após o discernimento da procedência do sonho, os elementos que perfazem o mesmo são interpretados, e um conhecimento a respeito de um período vindouro de prosperidade seguido por um de fome, é revelado (Gn 41. 25 - 32).
Em seguida José dá ao faraó uma palavra de conselho a respeito do que ele tem de fazer. Veja:
previna-se agora de um homem entendido e sábio, e o ponha sobre a terra do Egito.   Faça isso Faraó e ponha governadores sobre a terra, e tome a quinta parte da terra do Egito nos sete anos de fartura, E ajuntem toda a comida destes bons anos, que vêm, e amontoem o trigo debaixo da mão de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem.
Assim será o mantimento para provimento da terra, para os sete anos de fome, que haverá na terra do Egito; para que a terra não pereça de fome. E esta palavra foi boa aos olhos de Faraó, e aos olhos de todos os seus servos
(Gn 41. 33 - 37 ACF).
Ao Faraó   foi revelado um fato futuro, ao passo que a José, foi revelado tanto a procedência do sonho, quanto um conhecimento a respeito de um fato futuro, bem como uma palavra sábia com vistas a orientar o Faraó. Em um outro post desta série falarei a respeito dos sonhos de Nabucodonosor, e de como os mesmos se alinham com  a percepção que Eliú tem dos sonhos como meios pelos quais Deus repreende os homens. Um forte abraço em Cristo, e medite neste estudo.
 
Pr Marcelo Medeiros
 

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