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quinta-feira, 17 de abril de 2014

O primeiro sonho de Nabucodonosor (a estátua), e a revelação da sabedoria de Deus


O presente estudo é uma continuação de uma série que tenho postado aqui neste blog com a clara intenção de aprofundar a questão da revelação e a natureza dos dons concernentes ao processo de iluminação sobrenatural (aqui).  Neste pretendo abordar primeiro sonho de Nabucodonosor, bem como a interpretação que Daniel dera ao mesmo, e a Teologia implícita no texto. Começarei com a contextualização do fato em si.
 
I) O CONTEXTO
 
Segundo MacArthur, os egípcios e os babilônios desenvolveram uma ciência chamada oniromancia, que consiste na interpretação dos sonhos. E há de se perceber o seguinte: os únicos personagens que a Bíblia mostra interpretando sonhos estão dentro destes respectivos contextos, e nos mesmos se percebe a afirmação de que cabe a Deus a interpretação dos sonhos. Foi assim tanto com José, quanto com Daniel.
Diante dos sonhos enigmáticos, tanto do copeiro, quanto do padeiro, José afirmou: Não são de Deus as interpretações? Contai-mo, peço-vos (Gn 40. 8 ACF). Embora estivesse ansioso para sair do cárcere, e tivesse diante da maio oportunidade de sua vida, quando indagado pelo Faraó, a respeito de suas habilidades em interpretação de sonhos, José não titubeou em afirmar: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó (Gn 41. 16 ACF).
De igual modo, é perceptível, da parte de José, a ideia de que quem está á frente dos acontecimentos é Deus, e como soberano, em um ato de graça revelou ao Faraó os acontecimentos futuros. O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó (Gn 45. 25 ACF). E mais uma vez ele diz: o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó (Gn 41. 28 ACF). Na percepção de José o sonho foi repetido duas vezes a Faraó, é porque esta coisa é determinada por Deus, e Deus se apressa em fazê-la (Gn 41. 32 ACF).
Aqui se observa a emergência de uma teologia que será continuamente reafirmada pelos profetas. Deus tem o controle e o conhecimento de fatos futuros, e segundo a sua vontade revela aos homens a fim de que os mesmos possam conhecer sua vontade e de acordo com a mesma alinharem suas vidas. Em Daniel esta mesma teologia aparece de forma ainda mais radical.
O livro de Daniel narra um fato ocorrido na corte babilônica. Nabucodonosor teve um sonho e chamou os magos, os caldeus e demais sábios na intepretação. Sendo que, por algum motivo ele omitiu qual era o conteúdo do sonho, o que inviabilizou quaisquer tentativas de interpretação por parte dos especialistas (Dn 2 1 - 11). Para MacArthur esta foi uma forma astuciosa do soberano babilônico agir, seja como for, de imediato, temos uma confissão dos intérpretes,
Não há homem na terra que possa fazer o que o rei está pedindo! Nenhum rei, por maior e mais poderoso que tenha sido, chegou a pedir uma coisa dessas a nenhum mago, encantador ou astrólogo. O que o rei está pedindo é difícil demais; ninguém pode revelar isso ao rei, senão os deuses, e eles não vivem entre os mortais (Dn 2. 10, 11 NVI).
Percebe-se aqui que os próprios intérpretes reconhecem que o que o rei pede, o conhecimento do sonho em si, está na esfera de saber dos deuses, não na dos homens. Em resposta o rei decreta a morte de todos os sábios, magos, astrólogos, caso os mesmos não declarem o sonho e a interpretação do mesmo. Daniel se apresenta para interpretar, mas o faz confiante não em suas habilidades naturais, mas em Deus e por este motivo pede aos seus amigos que orem por ele, e Deus lhe concede a interpretação (Dn 2. 17 - 30).
O Deus de Daniel revela coisas profundas e ocultas; conhece o que jaz nas trevas, e a luz habita com ele (Dn 2. 22 NVI), Ele revela os mistérios. Ele mostrou ao rei Nabucodonosor o que acontecerá nos últimos dias (Dn 2. 28 NVI), e no final, a glória é dada a ele exclusivamente, visto que até Nabucodonosor exclama: Não há dúvida de que o seu Deus é o Deus dos deuses, o Senhor dos reis e aquele que revela os mistérios (Dn 2. 47 NVI).
Não se vê aqui, em um único momento Daniel vindicando maior autoridade, maior credibilidade para, ou para os seus amigos, uma vez que ele mesmo reconhece: Quando estavas deitado, ó rei, tua mente se voltou para as coisas futuras, e aquele que revela os mistérios te mostrou o que vai acontecer. Quanto a mim, esse mistério não me foi revelado porque eu tenha mais sabedoria do que os outros homens, mas para que tu ó rei, saibas a interpretação e entendas o que passou pela tua mente (Dn 2. 29, 30 NVI). 
 
II) O CONTEÚDO DO SONHO
 
Partindo do pressuposto de que os acontecimentos futuros são ordenados pelo próprio Deus, com vistas a manifestar a sua sabedoria, não é demasiado difícil entender que o Senhor, segundo a sua soberana e graciosa vontade, revele aos seus o que há de acontecer. Eu gostaria de reservar a interpretação dos elementos da estátua com que Nabucodonosor sonhou para um outro estudo, a respeito da Escatologia de Daniel.
No momento quero me ater à mensagem implícita ao sonho. Não creio que Deus tenha dado este sonho ao rei com a pura e simplória intenção de satisfazer a curiosidade do rei a respeito do futuro. Não! Mas como fazer tais incursões sem com isto ferir o sentido exegético e hermenêutico do texto? Como fazer exegese, ao invés de eixegese, com tal pressuposto?
Simples. Creio que a chave hermenêutica de todo o sonho de Nabucodonosor é a percepção de Daniel a respeito de Deus como sendo Aquele que muda as épocas e as estações; destrona reis e os estabelece. Dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos que sabem discernir. Revela coisas profundas e ocultas; conhece o que jaz nas trevas, e a luz habita com ele (Dn 2. 21, 22 NVI). É com este foco que as demais informações podem e precisam ser lidas.
Tu, ó rei, és rei de reis. O Deus dos céus te tem dado domínio, poder, força e glória; nas tuas mãos ele colocou a humanidade, os animais selvagens e as aves do céu. Onde quer que vivam, ele fez de ti o governante deles todos. Tu és a cabeça de ouro.
"Depois de ti surgirá um outro reino, inferior ao teu. Em seguida surgirá um terceiro reino, reino de bronze, que governará sobre toda a terra. Finalmente, haverá um quarto reino, forte como o ferro, pois o ferro quebra e destrói tudo; e assim como o ferro a tudo despedaça, também ele destruirá e quebrará todos os outros.
Como viste, os pés e os dedos eram em parte de barro e em parte de ferro. Isso quer dizer que esse será um reino dividido, mas ainda assim terá um pouco da força do ferro, embora tenhas visto ferro misturado com barro.
Assim como os dedos eram em parte de ferro e em parte de barro, também esse reino será em parte forte e em parte frágil.
E, como viste, o ferro estava misturado com o barro. Isso quer dizer que se procurará fazer alianças políticas por meio de casamentos, mas essa união não se firmará, assim como o ferro não se mistura com o barro.
"Na época desses reis, o Deus dos céus estabelecerá um reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro povo. Destruirá todos esses reinos e os exterminará, mas esse reino durará para sempre. Esse é o significado da visão da pedra que se soltou de uma montanha, sem auxílio de mãos, pedra que esmigalhou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. "O Deus poderoso mostrou ao rei o que acontecerá no futuro. O sonho é verdadeiro, e a interpretação é fiel
" (Dn 2. 37 - 45 ACF). 
A sabedoria que está sendo colocada ao alcance de todos os atores envolvidos na trama, bem como dos leitores do texto, o que inclui você e eu, não se limita ao conhecimento de eventos futuros, mas é a de que a despeito do quanto se tenha em matéria de poder, tudo é passageiro, somente o Reinado de Deus, manifesto no controle providencial de todas as coisas permanece para sempre.
 
Em Cristo Marcelo Medeiros.

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